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Em trecho retirado do livro Novum Organon de Francis Bacon é

apresentado aforismos a respeito dos conceitos da relação do homem com a


natureza e como se dá o alcance a verdade. Bacon defende a seguinte
concepção de conhecimento científico, que este vem a partir das
observações de fatos e do trabalho da mente. O homem para obter o
conhecimento da verdade, que está na própria natureza, necessita conhecer
o funcionamento desta, e a partir daí, para dominá-la, construir instrumentos
tanto do intelecto (raciocínio, lógica, método) quanto das mãos (tecnologias,
ferramentas), que ampliam nosso conhecimento. Porém este conhecimento e
dominação é limitado, devemos obedecer às leis da Natureza, senão não
chegamos a lugar nenhum. Segundo Bacon, a maneira correta para
investigação e descoberta da verdade é a chamada indutiva, que parte das
observações dos fenômenos mais particulares, recolhendo os dados dos
axiomas presentes nestes, e a partir daí, de forma processual e gradativa,
alcança os princípios mais gerais possíveis.

Entretanto há diversos obstáculos que ocupam nosso intelecto


impossibilitando o conhecimento da verdade. Estes são chamados por Bacon
de ídolos. São as noções falsas que temos da natureza e do mundo, e que
mesmo depois de “descobertas” podem ressurgir no próprio conhecimento
científico. O nome ídolo, é conhecido por algo ou alguém que é endeusado
(falso deus), seguido por um conjunto de pessoas, e encarado como verdade
absoluta. Podemos assim, associar o ídolo com uma espécie de cegueira ou
embaçamento da realidade. Bacon classifica os ídolos em quatro gêneros, os
ídolos da tribo (associado aos sentidos e percepções da própria natureza
humana, que muitas vezes distorcem a realidade); os ídolos da caverna
(estes se referem ao individual de cada ser humano que por meio de
características próprias, de falsas informações adquiridas através da
educação, de princípios ou da relação com outros homens, mudam nossos
ânimos e nossa percepção do mundo, bloqueando também a verdade); os
ídolos do foro e os ídolos do teatro (em relação as doutrinas filosóficas e
ideológicas presentes tanto nas fabulações, na religião e no senso comum,
como na própria ciência através de falsos axiomas e princípios
conservadores, que acabam por obstruírem o acesso ao conhecimento
verdadeiro).

Os ídolos do foro, que serão foque deste trabalho, são ligados a


linguagem e a comunicação entre os seres humanos. Bacon se refere,
primeiramente, a uma linguagem vulgar, de uso instrumental, a linguagem
proveniente do comércio, dos mercados, e que são usadas de maneira
incorreta e impropria, bloqueando totalmente o conhecimento da verdade. A
linguagem também acaba por empurrar os conceitos para a abstração geral.
Esta não é precisa e nem transparente, o que dificulta traduzir pensamentos,
conceitos e opiniões para palavras, criando um bloqueio da comunicação
entre os humanos. Além disso, segundo Bacon, fazemos mal uso das
palavras, assim, junto da linguagem o pensamento também se “rebaixa”, o
que obstrui ainda mais o acesso a verdade. Porém, Bacon diz que não é
apenas a linguagem denominada de vulgar, popular, do dia – dia, que serve
de obstáculo, a própria linguagem utilizada por pessoas especializadas em
determinadas áreas do conhecimento (chamadas por Bacon de Doutos) não
conseguem alcançar a possibilidade de conhecimento verdadeiro.

Os ídolos do foro descrito por Bacon se referem a sociedade do início


do século XVII, hoje em dia algumas coisas mudaram, mas muitas
permanecem semelhantes. Podemos facilmente identificar ídolos do foro
concretos na atualidade, e não são poucos, como: o negacionismo, as redes
sociais, fake News, publicidade, televisão, notícias etc. Em foque, trago as
Redes sociais como estudo de caso para compreender o que seria estes
ídolos do foro atuais e por que estes bloqueiam o conhecimento verdadeiro.

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