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Assinado em 19-02-2021, por

Natacha Castelo Branco Carneiro, Juiz de Direito


Processo: 3440/12.9TBGMR-C
Referência: 171902636

Tribunal Judicial da Comarca de Braga


Juízo de Execução de Guimarães - Juiz 2
Rua dos Cutileiros - Creixomil 4835-044 Guimarães

Atento disposto no artigo 6ºB, nº 6, al. b), da Lei nº 1-A/2020, de 19.03. com as

alterações introduzidas pela Lei nº 4-B/2021, de 01.02. estão suspensos quaisquer actos

a realizar em processo executivo, pelo que se encontram suspensos os actos

respeitantes à venda, incluindo do imóvel identificado nos autos.

Todavia, entendendo-se que não se mostra necessária a realização de novas

diligências, nos termos do disposto na al. d) do referido preceito legal, profere-se a

seguinte decisão:

LUÍSA MARIA FERNANDES DE LEMOS DA COSTA e MANUEL MARTINS

DA COSTA, com os sinais dos autos, vieram deduzir a presente oposição à penhora por

apenso à execução que lhe foi movida por INTRUM PORTUGAL, UNIPESSOAL, LDA.,

melhor identificada nos autos.

Alegam para o efeito, que aufere uma pensão mensal de reforma, no valor de €

504,26 e € €425,85, respectivamente, tendo sido penhorado um 1/3 da sua pensão, não

sendo admissível a penhora de uma vez que não respeita o valor do salário mínimo

nacional.

Mais alegam que os subsídios de férias e Natal de valor inferior ao salário

mínimo nacional também são impenhoráveis.

Termina pedindo que a oposição seja julgada procedente, ordenando-se o

levantamento da penhora, na parte impenhorável e a restituição dos montantes

indevidamente penhorados.

Notificada a exequente para deduzir oposição à matéria do incidente, a mesma

veio dizer que a penhora efectuada não é excessiva, devendo ser penhorado o valor da

pensão auferida pelos executados que excede o montante do salário mínimo nacional, não

tendo sido penhorado nenhum valor da pensão de reforma do executado.

Termina, peticionando, que seja julgada improcedente a oposição à penhora.

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Oficiado ao Centro Nacional de Pensões apurou-se que no ano de 2020, o

executado auferiu uma pensão mensal líquida no montante de € 446,84, tendo-lhe sido

penhorado o valor de € 258,68, no mês de Julho de 2020. No que respeita à executada,

apurou-se que a mesma é pensionista de velhice do Centro Nacional de Pensões,

recebendo, na presente data, uma pensão mensal no valor de 541,74€. sendo que nos

meses de Julho e Dezembro 2020 foi descontado o valor de € 347,82, perfazendo o

total de € 695,94 deduzido para o processo em 2020.

O tribunal é competente.

Não existem nulidades ou excepções que importe conhecer e que obstem ao

conhecimento da causa.

A questão a decidir consiste em saber se existe excesso na penhora da pensão

auferida pelo executado.

II Fundamentação de facto

Factos provados

Com interesse para a decisão da causa, consideram-se provados, os seguintes

factos:

1. Os presentes autos estão apensos à acção de processo executivo nº

3440/12.9TBGMR, intentada a 20.09.2012, em que actualmente INTRUM PORTUGAL,

UNIPESSOAL, LDA., designada como exequente, reclama a entrega por LUÍSA MARIA

FERNANDES DE LEMOS DA COSTA e MANUEL MARTINS DA COSTA José Manuel

Carvalho Costa Leitão, entre outros, designados como executados, o valor de € 8.975,77.

2. Nos autos de execução identificados em 1), para pagamento da quantia

exequenda, e por auto de penhora datado de 30.06.2020, para pagamento da quantia

exequenda de € 8975,77 €, acrescida de despesas prováveis de 8728.91€, no valor total

de € 17704,68, foi efectuada a penhora de 1/3 da pensão auferida pelos executados

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LUÍSA MARIA FERNANDES DE LEMOS DA COSTA e MANUEL MARTINS DA COSTA

(conforme auto de penhora junto a fls. da execução apensa).

3. Em 2020, o executado MANUEL MARTINS DA COSTA auferiu a pensão

mensal líquida no valor de € 446,84, tendo-lhe sido penhorado o valor de € 258,68, no

mês de Julho de 2020.

4. Em 2020, a executada LUÍSA MARIA FERNANDES DE LEMOS DA COSTA

auferiu a pensão mensal ilíquida no valor de € 541,74, correspondendo ao valor líquido de

€ 504,26, sendo que nos meses de Julho e Dezembro 2020 foi descontado o valor de €

347,82, perfazendo o total de € 695,94.

5. O presente apenso deu entrada em Juízo em 08.07.2020.

***

III Fundamentação de direito

A lei processual prevê expressamente a penhorabilidade dos vencimentos, salários

e pensões aliás em conformidade com a regra a que estão sujeitos à execução todos os

bens que constituem o património do devedor e, nos termos da lei substantiva,

respondem pela dívida (artigos 601º, do Código Civil, 735º e 738º, nº 1, todos do Código

de Processo Civil).

Este último preceito acolhe a impenhorabilidade relativa dos salários ou de outras

prestações periódicas, subtraindo à penhora dois terços do montante desses proventos,

tendo como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais e

como limite mínimo, quando o executado não tenha outros rendimentos, o montante

equivalente a um salário mínimo nacional.

Mas, no citado art.º 601º prevêem-se duas limitações à regra da

exequibilidade de todo o património do devedor: a de os bens serem insusceptíveis de

penhora e a da autonomia patrimonial da separação de patrimónios.

O artigo 728º, do NCPC prevê, precisamente, uma dessas limitações à regra da

exequibilidade de todo o património do devedor, estabelecendo:

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1. São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos, salários,

prestações periódicas pagas a título de aposentação ou qualquer outra regalia social,

seguro, indemnização por acidente, renda vitalícia, ou prestações de qualquer natureza

que assegurem a subsistência do executado.

3. A impenhorabilidade prescrita no nº 1 tem como limite máximo o montante

equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão como limite

mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento, o montante a um salário mínimo

nacional.

Menciona este preceito os bens parcialmente penhoráveis, tendo subjacentes

considerações que se prendem com a dignidade da pessoa humana.

O Tribunal Constitucional começou a considerar inconstitucionais as normas que

consentiam a penhora de uma parcela do vencimento do executado, que não fosse

titular de outros bens penhoráveis suficientes para pagar a quantia exequenda, na

medida em que privasse aquele da disponibilidade de um rendimento mensal equivalente

ao salário mínimo nacional, começando-se, então, a considerar-se este impenhorável.

Neste sentido, o Acórdão nº 96/2004, de 11 de Fevereiro, entre outros, tivesse

julgado inconstitucional, por violação dos art.ºs 1º, 59º, nº 2, al. a) e 63º, nº 1 e 3, da

Constituição, a norma que resultava da conjugação do disposto na al. a) do nº 1 e do nº

2 do art.º 824º do C.P.C., na redacção emergente da reforma de 1995/1996, na parte em

que permite a penhora de uma parcela do salário do executado, que não é

titular de outros bens penhoráveis para satisfazer a dívida exequenda, e na medida em

que priva o executado da disponibilidade do rendimento mensal correspondente ao

salário mínimo nacional.

Em caso de colisão ou conflito entre o direito do credor a ver realizado o seu

direito e o direito dos trabalhadores, pensionistas e outros beneficiários de regalias

sociais em receberem um rendimento que lhes garanta uma sobrevivência condigna, o

legislador optou pelo sacrifício do direito do credor, na medida do necessário e, se tanto

for indispensável, mesmo totalmente, neste caso, para evitar que o devedor se

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transforme num indigente a cargo da colectividade. Amâncio Ferreira,

Curso de Processo de Execução, pág. 205.

Por tais motivos, como refere Lebre de Freitas, uma vez determinado o

montante impenhorável, há que confrontá-lo com valores dependentes do salário mínimo

nacional à data de cada apreensão, coincidente com a data do vencimento da prestação.

(…) Quando os 2/3 sejam inferiores ao valor de um salário mínimo nacional, a parte

impenhorável do rendimento eleva-se, coincidindo com o valor deste, desde que se

verifiquem dois requisitos: o executado não ter outro rendimento; o crédito exequendo

não ser de alimentos. O primeiro requisito entronca na própria razão de ser da

salvaguarda constituída pelo actual artigo 728º: trata-se de garantir a satisfação das

necessidades vitais do executado, que, sendo de outro modo garantidas, não carecem da

mesma protecção; por isso mesmo, é preciso que o outro rendimento existente subsista

(= não seja penhorado) e que, adicionado ao montante impenhorável, perfaça ou exceda o

valor de um salário mínimo nacional. Código de Processo Civil Anotado, Volume 3º, págs.

357 e 358.

No caso, entendemos, na esteira da jurisprudência dominante, que as quantias

correspondentes ao subsídio de férias ou de natal não podem deixar de se considerar

como um rendimento que o executado aufere e, por isso, na medida em que excedam o

equivalente ao salário mínimo nacional, podem ser penhoradas - Neste sentido,

pronunciou-se o recente o ac. da RG de 18.04.2013, in www.dgsi.pt.

Sucede que resulta dos autos que o executado aufere o rendimento mensal de €

464,70, ou seja, um rendimento inferior relativamente ao salário mínimo nacional (€

600,00, no ano de 2019), pelo que temos de computar todo o rendimento auferido pelo

executado, incluindo os subsídios auferidos, dividindo o referido rendimento por doze

meses.

Assim sendo, considerando que o executado aufere o rendimento anual líquido

de € 6255,76 – o executado, e € 7059,64 – a executada, e o valor anual do salário

mínimo é de € 7200,00, facilmente se conclui que tem de ser ordenado o levantamento

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das penhoras efectuadas nas pensões e restituição aos executados dos montantes dos

subsídios já penhorados nos autos.

Decisão:

Pelo exposto, julgo procedente o presente incidente, ordenando o levantamento

das penhoras efectuadas na execução apensa, bem como a restituição aos executados

dos valores penhorados na execução apensa respeitante a subsídios.

Custas do incidente pelo exequente/oponida, fixando-se a taxa de justiça, no

mínimo legal.

Notifique e comunique ao Sr. agente de execução.

Valor do incidente: o da execução.

Guimarães, ds

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