1) Raimundo Nonato matou sua noiva e seu chefe depois de flagrá-los se beijando no restaurante, violando a regra de Íria de não beijar clientes.
2) Para caracterizar um homicídio privilegiado, deve haver uma "violenta emoção em resposta a atual e injusta provocação da vítima".
3) Existe um debate sobre se um homicídio cometido sob forte emoção devido a uma traição recente pode realmente ser considerado um homicídio "doloso", ou intencional.
1) Raimundo Nonato matou sua noiva e seu chefe depois de flagrá-los se beijando no restaurante, violando a regra de Íria de não beijar clientes.
2) Para caracterizar um homicídio privilegiado, deve haver uma "violenta emoção em resposta a atual e injusta provocação da vítima".
3) Existe um debate sobre se um homicídio cometido sob forte emoção devido a uma traição recente pode realmente ser considerado um homicídio "doloso", ou intencional.
1) Raimundo Nonato matou sua noiva e seu chefe depois de flagrá-los se beijando no restaurante, violando a regra de Íria de não beijar clientes.
2) Para caracterizar um homicídio privilegiado, deve haver uma "violenta emoção em resposta a atual e injusta provocação da vítima".
3) Existe um debate sobre se um homicídio cometido sob forte emoção devido a uma traição recente pode realmente ser considerado um homicídio "doloso", ou intencional.
Raimundo Nonato: matou sua noiva e seu chefe. Íria, uma prostituta que inicia o namoro em troca da boa comida feita por Raimundo, possui uma única regra no ofício: não beijar na boca. Giovanni, chef de renome, dono de importante restaurante, contrata Raimundo porque percebe o seu dom e o seu potencial. Mas o triângulo é aperfeiçoado quando Giovanni encontra Íria, e os dois são por Raimundo flagrados no restaurante: comida, sexo e… beijo na boca! Os fatores preponderantes do homicídio privilegiado, cujo “privilégio” se justifica na diminuição da pena, são, alternativamente: o relevante valor social, o relevante valor moral e o domínio de violenta emoção em resposta a atual e injusta provocação da vítima.
No homicídio passional é comum entender que a traição,
principalmente no contexto sexual – mais que no amoroso ou sentimental – revela com precisão a ideia de “injusta provocação da vítima”. Ao trair a confiança do parceiro, o traidor (vítima) se dirige ao traído (algoz) de maneira provocativa e injusta: é provocativo (desafiador, ultrajante, ofensivo, abusivo) estar com outro, o verdadeiro “inferno” de Sartre; é injusto romper a equidade do casal originário (o outro acresce o peso do prato da balança do traidor). A “atualidade” da resposta (homicídio) delimita e distingue o privilégio da premeditação ou da vingança. Se a resposta não ocorre no imediato instante em que o algoz é provocado, retira- se-lhe o privilégio, e provavelmente estaremos diante de um homicídio qualificado.
Mas a maior problemática para o homicídio privilegiado está
no elemento dolo. Ora, é o dolo, no homicídio, aintenção de matar, a figura volitiva que desencadeia um comportamento criminoso (matar). A questão que merece ser colocada é a seguinte: se o privilégio na violenta emoção é caracterizado pela ausência de planejamento, de premeditação, de vingança, porquanto preenchido pela instantaneidade da resposta à injusta provocação, e – mais ainda – se a violenta emoção, em resposta a tal provocação, configura um pequeníssimo (e intensíssimo) momento de perda completa das razões, das faculdades cognitivas, das calculabilidades, capaz de retirar por completoqualquer intenção do algoz (tanto positiva: o perdão ou a indiferença, quanto negativa: o homicídio), como pretender ser o homicídio privilegiado por domínio de violenta emoção em resposta a atual e injusta provocação da vítima um homicídio doloso? (pois, desprovido de intenção e tomado pelo momento de uma cena atordoante, o traído/algoz meramente e instintivamente reage a uma ação atual, injusta e provocativa do traidor/vítima).