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PROPÓSITO
Obter conhecimento e informações básicas sobre estrutura, nomenclatura, propriedades, métodos de
obtenção e
reações de ácidos carboxílicos, bem como de seus derivados, com ênfase nos mecanismos
das reações, é importante
para prever as características e a obtenção de compostos orgânicos dessa
classe com aplicações nos setores
químico e farmacêutico.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 3
Reconhecer as reações que envolvam a substituição do hidrogênio alfa (Hα) por eletrófilos e os
princípios
mecanísticos gerais da condensação de Claisen e da descarboxilação aplicada ao ácido malônico
INTRODUÇÃO
Os ácidos carboxílicos e seus derivados estão entre os mais comuns de todas as
moléculas, tanto no
laboratório quanto nas rotas biológicas, sendo comumente encontrados na
estrutura de diversas
biomoléculas essenciais à vida. Além disso, estão presentes no nosso
cotidiano quando se trata das
indústrias farmacêutica, química e de alimentos.
Neste tema, você terá a oportunidade de reconhecer as principais reações que envolvem os ácidos
carboxílicos e
derivados, assim como de descrever os princípios mecanísticos de cada tipo de reação.
Abordaremos também alguns
exemplos de reações e suas aplicações no nosso cotidiano.
MÓDULO 1
Na imagem a seguir, você pode ver a representação de fórmulas químicas das prostaglandinas dos tipos
D, E e F.
Fonte: chromatos/Shutterstock
Prostaglandinas dos tipos D, E e F
Na natureza podemos encontrá-los nas plantas e nas frutas. O ácido oxálico, por exemplo, é um ácido
dicarboxílico tóxico que pode estar presente no espinafre. Mas não se assuste! A sua concentração no
espinafre é
muito baixa para representar qualquer perigo; além disso, o ácido oxálico é um ótimo
removedor de manchas e
ferrugens. Nas frutas, podemos encontrar os ácidos cítrico, málico e tartárico,
cujos sabores são acentuados e
estão presentes em limões, maçãs e uvas, respectivamente.
Como explicado por COSTA et al., 2003, na indústria alimentícia, utilizamos, por exemplo, o glutamato
monossódico – para acentuar o sabor de uma série de produtos –, o ácido benzóico – como preservativo
de
alimentos – e o ácido acético, presente no vinagre – usado na alimentação e no preparo de ketchup,
picles e
molhos.
Como podemos ver, a compreensão das propriedades e reações dos ácidos carboxílicos é fundamental
para
entendermos a Química Orgânica, uma vez que eles estão presentes em muitos processos
industriais e classes de
produtos bioativos, além de serem utilizados como intermediários na síntese de
outros compostos.
GRUPO CARBOXILA
Na química orgânica, ácidos carboxílicos têm um grupo funcional formado pela presença de uma carbonila
e de
uma hidroxila (-COOH), denominado grupo carboxila (figura 1).
ÁCIDOS CARBOXÍLICOS
Os ácidos carboxílicos podem reagir com bases, perdendo um próton para formar sais de carboxilato.
Essa reação ocorre pela quebra heterolítica da ligação O-H, ficando os elétrons no átomo de oxigênio
(figura 2).
Saturados
Ácido Ácido
HCO2H 8 101 ∞ 3,75
metanoico fórmico
Ácido
Ácido etanoico CH3CO2H 17 118 ∞ 4,76
acético
Ácido Ácido
CH3CH2CH2CO2H -6 163 ∞ 4,81
butanoico butírico
Ácido 3- Ácido
(CH3)2CHCH2COOH -29 177 5,0 -
metilbutanoico isovalérico
Ácido Ácido
CH3(CH2)4CO2H -3 205 1,08 4,84
hexanoico caproico
Ácido Ácido
CH3(CH2)8CO2H 31 269 0,015 4,84
decanoico cáprico
Insaturados
Ácido 2- Ácido
CH2=CHCO2H 14 141 8 -
propenoico acrílico
Ácido Ácido
C6H5CO2H 122 250 0,34 4,19
benzoico benzoico
Ácidos graxos
Ácido Ácido
CH3(CH2)14CO2H 63 219 0,0007 6,46
hexadecanoico palmítico
Ácido Ácido
CH3(CH2)16CO2H 70 383 0,0003 -
octadecanoico esteárico
Ácidos dicarboxílicos
Ácido Ácido
HO2C-CO2H 189 - 9,0 -
etanodioico oxálico
Ácido Ácido
HO2C-CH2-CO2H 136 - 74 -
propanodioico malônico
De acordo com a tabela 2, é possível observar que ácidos carboxílicos de baixo peso molecular são
líquidos e miscíveis com água devido à solvatação pela formação de ligações de hidrogênio com o
solvente;
já seus homólogos superiores são sólidos em temperatura ambiente e insolúveis em água, pois
na medida em
que aumenta o tamanho da cadeia hidrocarbônica, a solubilidade em água diminui.
ÁCIDOS GRAXOS
Dentre os homólogos superiores, estão os ácidos graxos (C12-C20), amplamente encontrados na
natureza sob a
forma de ésteres do glicerol, sendo conhecidos como triglicerídeos. Os ácidos graxos
podem apresentar cadeias
saturadas, sólidos em temperatura ambiente, ou insaturadas de configuração
cis , em geral óleos e
gorduras, como os ácidos oleico, linoleico e linolênico.
Na figura 3, é possível observar que, nos ácidos graxos insaturados, a presença de uma ligação dupla
cis impede a formação de uma rede cristalina estável, proporcionado os baixos pontos de fusão desses
compostos.
IUPAC
QUEBRA HETEROLÍTICA
Cisão/Quebra heterolítica: é a ruptura eletronicamente desigual da ligação entre dois átomos, onde
apenas um deles (geralmente o mais eletronegativo) fica com o par de elétrons.
DÍMEROS CÍCLICOS
Para nomear compostos com cadeias ramificadas e/ou com ligações múltiplas (dupla ou tripla),
devemos numerar a cadeia principal, e o carbono do grupo -COOH sempre será a posição 1, veja a
seguir
na figura 5.
Quando o grupo -COOH estiver ligado a um anel, ele será considerado um substituinte da cadeia
principal
e, nesses casos, o carbono do grupo -COOH será ligado ao C1 e não será numerado nesse
sistema.
Por exemplo, um ciclobutano contendo COOH como substituinte é chamado de ácido
ciclobutanocarboxílico. Já os ácidos carboxílicos aromáticos são nomeados como derivados do anel
aromático
correspondente e pode-se utilizar prefixos orto- (o-) , meta-
(m-) e para- (p-) para designar
a posição dos substituintes. Veja
alguns exemplos na figura 6.
Fonte: 8photo/Freepik
COGUMELOS
Fonte: 8photo/Freepik
TOMATE
Fonte: Freepik/Freepik
IOGURTE
Fonte: Freepik/Freepik
CERVEJA
Fonte: Freepik/Freepik
VINHO
Fonte: Freepik/Freepik
MAÇA
Fonte: azerbaijan_stockers/Freepik
UVA
Outra opção de nomenclatura para designar as posições dos substituintes na cadeia principal é a
utilização das
letras gregas alfa (α), beta (β), gama (γ), delta (δ), épsilon (ε) e ômega (ω).
A letra α (alfa) é a primeira a ser utilizada no carbono adjacente à carboxila, seguida pelas demais, β, γ, δ
e
ε. Já a posição ω será sempre o carbono mais afastado da carboxila, independentemente do número de
carbonos da
cadeia principal.
Já os ácidos dicarboxílicos, também chamados de diácidos, apresentam dois grupos –COOH. Para
os
ácidos alifáticos, a nomenclatura deve ser realizada pela adição do sufixo –dioico ao nome do alcano
da cadeia
principal (cadeia que possui os dois grupos –COOH), precedido pela palavra ácido. A cadeia
principal será
numerada a partir do grupo –COOH que permitir a menor numeração para os substituintes.
Para os ácidos cíclicos,
consideram-se as carboxilas substituintes da estrutura cíclica.
Como o próprio nome diz, a propriedade principal dos ácidos carboxílicos é a acidez. Os ácidos
carboxílicos são
ácidos de Brønsted-Lowry que se dissociam levemente em água para gerar o hidrônio,
H3O+, e
os ânions carboxilatos, RCO2-.
mostrando serem ácidos muitos mais fracos do que os ácidos inorgânicos, porém,
muito mais fortes que
A constante de acidez (Ka) é proporcional à concentração dos íons formados. Portanto, quanto maior
o valor de Ka mais ionizado é o ácido; consequentemente, maior a sua força. Logo, quanto mais
forte
o ácido, maior o valor de Ka, menor o valor de pKa e mais fraca a sua base conjugada.
Segundo a teoria Brønsted-Lowry, ácidos são espécies (íons ou moléculas) doadoras de prótons (H+) e
bases são espécies aceptoras de prótons. Um ácido reage com uma base, levando à formação de um
ácido conjugado
da base e uma base conjugada do ácido.
Em ambos os casos, a acidez é decorrente do fato de a base conjugada do ácido ser estabilizada por ter
sua carga
negativa em um átomo de oxigênio fortemente eletronegativo. Entretanto, o etanol dissocia-se,
produzindo um íon
etóxido, no qual a carga negativa está localizada em um átomo eletronegativo,
enquanto o ácido acético gera um
íon acetato, no qual a carga negativa está deslocalizada sobre dois
átomos de oxigênio equivalentes. Sendo
assim, o íon acetato é mais estável do que o íon etóxido, devido
ao efeito de ressonância.
O íon acetato apresenta duas estruturas canônias de mesma energia, distribuindo a carga negativa entre
dois
átomos eletronegativos, enquanto no etóxido um único átomo de oxigênio porta a carga negativa
(figura 8). O
efeito de ressonância torna o íon acetato mais estável que o íon etóxido, possuindo uma
energia mais baixa e
sendo mais favorecido no equilíbrio de dissociação.
No fenolato, três das formas canônicas mostram a carga negativa situada em átomos de carbono, que
apresentam
menor contribuição, ou seja, são menos eletronegativos e suportam menos a carga negativa.
Como a dissociação de um ácido carboxílico é um processo de equilíbrio, qualquer fator que estabilize o
ânion
carboxilato irá favorecer o deslocamento do equilíbrio no sentido da dissociação, aumentando a
acidez.
Utilizaremos como base, para discussão deste tópico, os compostos da figura 10, a seguir.
Observe na figura que os compostos que têm o cloro como substituinte apresentam um menor valor de
pKa em
relação aos seus correspondentes sem o substituinte cloro. No ácido α-clorobutírico, por exemplo,
o caráter
eletronegativo do cloro é o responsável por “puxar” elétrons da ligação C-Cl. O carbono, por sua
vez, puxa
elétrons do carbono da carboxila, que irá puxar elétrons dos átomos de oxigênio, estabilizando o
carboxilato.
Sendo assim, quanto maior o número de átomos de cloro em um mesmo carbono, menor será
o pka do composto e,
consequentemente, maior a acidez.
Entretanto, observe: à medida que o átomo de cloro se afasta da posição α, os valores de pKa
aumentam,
pois o efeito indutivo é transmitido por meio das ligações σ adicionais, diminuindo a
sua
intensidade.
Como pôde ser visto na figura 9, o ácido α-fluoracético é o mais ácido entre os ácidos α-substituídos por
halogênios. Esse fato é decorrente do maior efeito polar do flúor sobre a estabilização do carboxilato, ou
seja,
quanto maior a eletronegatividade do substituinte, maior a acidez do composto.
NH2, N(CH3)2 ), tanto a reatividade quanto a acidez irão diminuir em relação ao ácido benzoico sem
substituintes. Por outro lado, substituições por grupos retiradores de elétrons (CF3, NO2, CN, CHO, Cl)
Os fatores estéricos e eletrônicos são de extrema importância na determinação da reatividade dos ácidos
carboxílicos e seus derivados.
Como consequência dessas diferenças de reatividade, podemos dizer que um derivado ácido mais reativo
pode ser
convertido diretamente em um menos reativo, mas o inverso geralmente é mais difícil e, quando
possível, requer
reagentes especiais.
Assista agora o vídeo sobre Nomenclatura e reatividades dos ácidos carboxílicos e derivados.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
2. Escolha a alternativa que apresenta os nomes sistemáticos IUPAC dos compostos a seguir:
De acordo com o sistema IUPAC, os ácidos carboxílicos derivados de hidrocarbonetos de cadeia aberta
devem ser nomeados substituindo-se o sufixo -o da maior cadeia hidrocarbônica que contém a carboxila
pelo sufixo -oico, precedido da palavra ácido. Para nomear compostos com cadeias ramificadas e/ou com
ligações dupla ou tripla, devemos numerar a cadeia principal, e o carbono do grupo -COOH sempre será a
posição 1. Já em sistemas aromáticos, quando o grupo -COOH estiver ligado a um anel, ele será
considerado um substituinte da cadeia principal, e o carbono do grupo -COOH será ligado ao C1 e não
será numerado nesse sistema.
MÓDULO 2
diferentes. A reação
SN2 ocorre em uma única etapa e o nucleófilo ataca por trás, ou seja, pelo lado
diretamente oposto
ao grupo abandonador; já na substituição nucleofílica de acila, a reação ocorre em
duas etapas, envolvendo a
formação de um intermediário tetraédrico.
REAÇÃO SN2
Na figura 2, temos um exemplo de uma reação de substituição nucleofílica de acila a partir de um cloreto
de
ácido.
Fonte: Garsya/Shutterstock
Fonte: totojang1977/Shutterstock
Fonte: Shaiith/Shutterstock
SAIBA MAIS
A presença da base, como, por exemplo, a piridina, será importante para a remoção do próton do álcool
adicionado à carbonila.
Podemos observar, também, que as substituições em grupos carbonil trigonais passam por um
intermediário
tetraédrico e depois para um produto trigonal.
Como podemos observar no mecanismo de reação, o ácido carboxílico irá atacar o enxofre do cloreto de
tionila por
este ser eletrofílico, uma vez que apresenta um átomo de oxigênio e dois cloros ligados a ele,
formando um
intermediário instável e altamente eletrofílico. A reprotonação do intermediário instável irá
proporcionar-lhe
maior eletrofilicidade para que ocorra a reação, mesmo com um nucleófilo fraco Cl-.
Uma vez preparado, o cloreto de ácido ou cloreto de acila, o mais reativo dentre os derivados de ácidos
carboxílicos, reage facilmente e com bons rendimentos com vários nucleófilos, podendo ser convertido aos
derivados menos reativos.
Sendo assim, devido a sua reatividade, na maioria dos casos a melhor rota sintética para um
anidrido,
amida ou éster envolverá a síntese inicial do cloreto de acila do ácido e,
posteriormente, a conversão ao
derivado ácido desejado (figura 4).
Além das reações representadas na figura 4, os cloretos de acila podem reagir com água ou com base
aquosa –
reação denominada hidrólise –, mas essas reações normalmente são pouco realizadas, pois
regeneram o ácido
carboxílico, destruindo a utilidade do reagente cloreto de acila. Nesse caso, a utilização
da base tem como
objetivo remover o ácido clorídrico formado e evitar que ele provoque reações laterais
(figura 5).
A reação de cloretos de ácidos com álcoois, denominada alcoólise, provavelmente é o método mais
comum para
preparação de ésteres em laboratório. As reações são geralmente realizadas na presença de
piridina ou
hidróxido de sódio (NaOH) para reagir com o ácido formado, assim como ocorre na hidrólise.
Nesse caso, a escolha do álcool a ser utilizado irá influenciar na velocidade da reação, pois álcoois com
grupos mais volumosos tornam a reação consideravelmente mais lenta, devido ao impedimento estérico,
resultando em uma ordem de reatividade: álcool primário > álcool secundário > álcool terciário. Na figura 6,
podemos observar que é possível esterificar um álcool na presença de um álcool mais impedido. Nesse
caso, o
álcool secundário é mais impedido e menos reativo, enquanto o álcool primário é menos impedido
e mais
reativo.
Para a síntese de amidas, podemos reagir o cloreto de ácido com amônia ou aminas; entretanto, apenas
aminas
mono- e dissubstituídas podem ser utilizadas. Assim como nas reações anteriores, para a síntese
de amidas ocorre
a formação de HCl, sendo necessário neutralizá-lo. Para isso, são utilizados dois
equivalentes de aminas: um
para reagir com o cloreto de ácido e outro para neutralizar o HCl, formando o
sal de cloreto de amônio. Contudo,
dependo do valor agregado da amina, pode-se utilizar um equivalente
de uma base barata, como, por exemplo, o
hidróxido de sódio.
Reações de esterificações de Fischer são caracterizadas pela síntese de ésteres a partir de ácidos
carboxílicos e álcoois. Elas ocorrem muito lentamente, pois os ácidos carboxílicos não são reativos
o
suficiente para sofrerem diretamente uma adição nucleofílica, porém atingem o equilíbrio em poucas horas
quando uma pequena quantidade de ácido forte, HCl ou H2SO4, é adicionada ao meio.
O ácido inorgânico é responsável por protonar uma pequena porcentagem de átomo de oxigênio do grupo
carbonila,
tornando-a extremamente suscetível ao ataque, mesmo por um nucleófilo fraco como o álcool.
O álcool realiza o
ataque nucleofílico, formando o intermediário tetraédrico instável. Note que nenhum dos
grupos de saída (R, HO,
RO) do intermediário é muito bom; sendo assim, a ajuda está novamente no
ácido que irá protonar o oxigênio (OH),
convertendo-o em um bom grupo de saída (água). A perda de um
próton e a expulsão de H2O regeneram o
catalisador ácido e geram o éster como produto.
Uma vez que a posição de equilíbrio controla a quantidade de éster formada, ela será favorecida quando
um
excesso de álcool for utilizado como solvente. Entretanto, a formação de um ácido carboxílico será
beneficiada
quando um excesso de água estiver presente. Você poderá ver na figura 8.
Assim, o resultado a ser obtido dessa reação irá depender das condições escolhidas.
A primeira etapa da reação é a ativação da carbonila por meio da protonação, ocorrendo o ataque
nucleofílico
pela água, formando o intermediário tetraédrico.
A protonação do –OR’ irá convertê-lo em um bom grupo abandonador e com isso ocorre a expulsão do
álcool e a
formação do ácido carboxílico.
REAÇÕES DE ÉSTERES
Como vimos no tópico anterior, os ésteres podem sofrer hidrólise catalisada por ácido, formando um ácido
carboxílico, mas, também, sofrem hidrólise promovida por base, denominada saponificação (figura 9).
No refluxo de um éster em hidróxido de sódio aquoso, o íon hidróxido ataca a carbonila do éster para
formar o
intermediário tetraédrico. Então, a perda do íon alcóxido irá gerar um ácido carboxílico que será
desprotonado
pelo alcóxido formado, originando o íon carboxilato. O íon carboxilato, por ser pouco reativo,
faz com que a
hidrólise de um éster promovida por base seja uma reação essencialmente irreversível. Por
fim, a protonação do
íon carboxilato pela adição de um ácido em uma etapa separada forma o ácido
carboxílico.
No exemplo acima, podemos deslocar o equilíbrio para a direita, destilando da mistura o metanol – álcool
de
menor ponto de ebulição.
SAIBA MAIS
SÍNTESE DA ASPIRINA
SÍNTESE DO TYLENOL
Os anidridos de ácidos carboxílicos reagem com álcoois para formar ésteres, sem a necessidade de um
catalisador
ácido, como ocorre na esterificação (figura 11). O uso de um ácido forte pode ocasionar
reações laterais,
dependendo de quais outros grupos funcionais estejam presentes na molécula.
Um exemplo clássico desse tipo de reação é a síntese da aspirina (ácido acetilsalicílico) pela acetilação do
ácido o -hidroxibenzoico (ácido salicílico) com o anidrido acético.
Outra reação clássica utilizada pela indústria farmacêutica é conversão de anidrido acético em amida para
a
formação do Tylenol (acetominofeno). Nessa reação a p-hidroxianilina reage com o anidrido acético na
presença
base, em que o grupo -NH2, mais nucleofílico que o -OH, ataca a carboxila do anidrido.
As amidas podem ser sintetizadas utilizando-se vários métodos que envolvem a substituição nucleofílica
de acila
a partir de cloretos de ácidos, ésteres, anidridos (como visto nos itens anteriores), ácidos
carboxílicos e sais
carboxilatos.
REAÇÕES DE AMIDAS
Assim como os cloretos de ácidos e ésteres, as amidas também sofrem hidrólise; entretanto, as condições
necessárias são mais severas, normalmente necessitam de condições forçadas de aquecimento, e ácido
ou base
forte. A hidrólise ocorre quando as amidas em solução aquosa ácida ou básica são aquecidas,
formando ácidos
carboxílicos mais amônia ou amina. As etapas da hidrólise são reversíveis com o
equilíbrio deslocado no sentido
do produto.
Os mecanismos para a hidrólise ácida e básica estão descritos na figura 16. Na hidrólise ácida, a água
age como
um nucleófilo e ataca a amida protonada; posteriormente, ocorre a transferência de um próton
do oxigênio ao
nitrogênio, tornando-o um melhor grupo abandonador. Já a hidrólise básica é mais difícil de
ocorrer, pois o íon
amideto (-NH2) é um grupo abandonador fraco, dificultando a eliminação.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
1. Como você poderia preparar os seguintes compostos usando uma reação de substituição
nucleofílica de acila de um cloreto ácido?
O cloreto de ácido reage facilmente– e traz bons rendimentos– com vários nucleófilos, podendo ser
convertido aos derivados menos reativos. A reação de cloretos de ácidos com álcoois, denominada
alcoólise, é o método mais comum para a preparação de ésteres em laboratório. Para a síntese de
amidas, podemos reagir o cloreto de ácido com amônia ou aminas;
entretanto, apenas aminas mono - e
dissubstituídas podem ser utilizadas.
Reações de esterificações de Fischer são caracterizadas pela síntese de ésteres a partir de ácidos
carboxílicos e álcoois.
MÓDULO 3
Reconhecer as reações que envolvam a substituição do hidrogênio alfa (Hα) por eletrófilos e os
princípios
mecanísticos gerais da condensação de Claisen e da descarboxilação aplicada ao ácido
malônico
Antes de discutirmos melhor este assunto, vamos entender sobre a acidez dos hidrogênios α?
Ligações C-H em alcanos são pouco ácidas, pois o átomo de carbono não estabiliza o carbânion gerado,
mas a
presença de certos grupos funcionais, como ésteres e amidas, em posição adjacente à ligação C-H,
irá influenciar
muito no valor de pKa. Ou seja, quanto maior for a habilidade desses grupos em estabilizar a
carga negativa da
base conjugada por ressonância, maior será a acidez dos hidrogênios.
Na figura 1, podemos observar a forma de ressonância em que o oxigênio fica com a carga negativa –
enolatos – é
a que mais contribui para a dissociação da ligação C-Hα, pois o oxigênio é mais
eletronegativo do que o carbono.
Nesse caso, em que o hidrogênio α está entre duas carbonilas, o enolato
será duplamente estabilizado, tornando-o
mais estável.
Sendo assim, em ésteres e amidas terciárias, é possível gerar os respectivos enolatos por meio do
tratamento com
base, sendo que a posição do equilíbrio irá depender da força da base utilizada. A seguir,
analisaremos as
reações de condensação de Claisen e a síntese do éster malônico, que envolvem,
justamente, a substituição do
hidrogênio α.
As reações de condensação de carbonila, de maneira geral, são muito encontradas nas rotas metabólicas
para
biossíntese de carboidratos, lipídeos, proteínas, ácidos nucleicos, entre outros, e têm grande
importância, pois
são um dos poucos métodos gerais para a formação de ligações carbono-carbono,
possibilitando assim a construção
de moléculas maiores a partir de precursores menores. (McMurry, 2011)
No mecanismo de condensação, uma base alcóxido é utilizada para retirar um átomo de hidrogênio alfa
(hidrogênio
ácido) de uma molécula de éster, gerando um íon enolato nucleofílico.
A base alcóxido utilizada para formar o enolato deve ter o mesmo grupo alquila que o
éster (etóxido
para um éster de etila), pois, caso contrário, pode ocorrer a transesterificação que
resultaria em mistura de
cetoésteres ao final do processo.
O íon enolato, em uma reação de adição nucleofílica, irá atacar o carbono da carbonila de uma segunda
molécula
de éster, formando um intermediário alcóxido tetraédrico. O intermediário tetraédrico expulsará o
íon etóxido,
resultando na substituição do alcóxido pelo grupo derivado do enolato – formação do
acetoacetato de etila.
Entretanto, o equilíbrio global para o processo é desfavorável e pouco produto seria obtido se o processo
envolvesse apenas essas duas etapas. Mas o íon etóxido é básico o suficiente para converter o produto
β-
cetoéster em seu respectivo ânion (base mais fraca) estabilizado por ressonância (etapa altamente
favorável),
deslocando assim o equilíbrio e completando a reação.
O álcool formado na reação, à medida que se forma, pode ser retirado por destilação, ajudando
ainda mais o
equilíbrio no sentido do produto desejado.
Por fim, ocorre a protonação do íon enolato pela adição de um ácido aquoso em uma etapa separada,
formando o
produto de condensação de Claisen.
Entretanto, a reação pode ocorrer se uma base mais forte o suficiente para converter o éster em seu
enolato –
como, por exemplo, trifenilmetaneto de sódio – for utilizada. A reação do enolato com uma
segunda molécula de
éster formará o β-cetoéster com bom rendimento (figura 4). A segunda etapa da
reação também poderia ser tratada
com um cloreto de acila.
1 - A base retira o próton ácido do carbono α de um dos dois grupos ésteres, gerando o íon enolato.
4 - O íon enolato estável é então protonado pela adição de um ácido aquoso ao final da reação para
gerar o β-cetoéster cíclico neutro.
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
No exemplo a seguir (figura 6), podemos formar dois compostos β-cetoéster cíclico diferentes a partir de
um
mesmo éster. Na primeira reação, a 2-carboetoxiciclopentanona é sintetizada a partir do adipato de
etila por
refluxo em etanol na presença de etóxido de sódio e, por fim, o íon enolato é tratado com ácido
aquoso. Já na
segunda reação, o íon enolato formado é tratado com iodeto de etila, levando à formação
da
2-etil-2-carboetoxiciclopentanona.
A condensação cruzada de Claisen ocorre entre dois ésteres diferentes; entretanto, um deles não deve
conter
átomo de hidrogênio α e, consequentemente, será incapaz de formar um íon enolato e sofrer
autocondensação.
Esse tipo de reação, porém, é limitado ao caso – além das restrições entre os tipos de ésteres – em que a
adição do éster capaz de gerar o enolato é feita lentamente ao meio reacional contendo o éster não
enolizável
e a base. Dessa forma, será garantido um excesso do éster não enolizável durante a reação,
evitando a
autocondensação de Claisen do éster enolizável.
Os três primeiros são mais eletrofílicos do que a maioria dos ésteres; sendo assim, são capazes de
realizar a
acilação em um enolato de forma mais rápida do que o éster que está sendo enolizado. Os
oxalatos são muito
reativos, pois cada grupo carbonila torna o outro mais eletrofílico. Nos formiatos, o
átomo de hidrogênio os
torna muito eletrofílicos, pois não há a conjugação σ e o impedimento estérico dos
ésteres simples. Já os
carbonatos são bastante úteis na introdução do grupo CO2R em um enolato. Por
remanescente, de
maneira que o processo de alquilação, sob condições básicas, pode ser repetido para
formar um éster malônico
dialquilado, se desejado, conforme mostra a figura 13.
A descarboxilação não é uma reação geral de ácidos carboxílicos; pelo ao contrário, ela só pode ocorrer
em
compostos que apresentam um segundo grupo carbonila na posição β do ácido. Isto é, apenas os
ácidos malônicos e
os β-cetoácidos sofrem perda de –CO2 sob aquecimento. Usando esse método, os β-
Neste item iremos mostrar dois exemplos da síntese de éster malônico que fazem uso de dialoalcanos.
Na síntese do ácido glutárico, dois equivalentes em quantidade de matéria do sal de sódio do éster
malônico
reagem com um dialoalcano. Nesse caso, ocorrerão duas alquilações consecutivas,
originando um
tetraéster. Em seguida, ocorrerá a hidrólise e a descarboxilação do tetraéster,
fornecendo um ácido
dicarboxílico.
No segundo exemplo, veremos que a síntese do éster malônico também pode ser usada na
preparação dos
ácidos cicloalcanocarboxílicos, a partir de um dialoalcano. Veja a seguir como isso
acontece:
1ª ETAPA
Utilizar um equivalente em quantidade de matéria do sal do éster malônico para reagir com um equivalente
de um
dialoalcano, fornecendo um éster haloalquilmalônico.
2ª ETAPA
Etapa de alquilação: ocorre de maneira intramolecular, gerando um produto cíclico.
3ª ETAPA
Ocorre a hidrólise e a decarboxilação para fornecer o produto, ácido ciclopentanocarboxílico.
Esse método é frequentemente utilizado para preparar anéis de três, quatro, cinco e seis membros;
entretanto, o
rendimento diminui para anéis maiores.
Como mencionamos no início do módulo, as reações de condensação de carbonila, de maneira geral, são
muito
encontradas nas rotas metabólicas, como, por exemplo, a formação de ácidos graxos utilizando a
condensação de
Claisen para a formação de ligações C-C. A maioria dos ácidos graxos naturais é
constituída por um número par de
átomos de carbono, reforçando a ideia, apresentada em 1893 e
ESTRUTURA DA ACETIL-COENZIMA A
Hoje, sabe-se que a biossíntese de ácidos graxos começa com a acetil-coenzima A, um tioéster da
coenzima A (figura 18).
TRANSFERÊNCIA DE GRUPO
Antes de a síntese de ácidos graxos começar, porém, devemos observar a transferência dos grupos acila
da
acetilCoA e MalonilCoA para outros grupos tiois presentes no sistema enzimático responsável pela
biossíntese
de ácidos graxos (figura 19).
Essa sequência de reações é repetida até que o tioéster apresente uma quantidade apropriada de
carbono,
lembrando que a cada repetição há um aumento de dois carbonos na cadeia principal. Por fim,
esse tioéster
sofrerá transesterificação com o glicerol para formar óleos, gorduras e fosfolipídeos
essenciais ao metabolismo.
Neste módulo vimos que, assim como a condensação de Claisen, a descarboxilção representa um papel
importante nas
rotas metabólicas, principalmente na síntese de ácidos graxos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Carbonato de dietila; para garantir o excesso do éster enolizável, evitando a condensação cruzada com
o fenilacetato de etila
C) Carbonato de dietila; para garantir o excesso do éster não enolizável, evitando a reação do íon enolato
com o seu respectivo éster (autocondensação do fenilacetato de etila)
D) Fenilacetato de etila; para garantir o excesso do éster não enolizável, evitando a reação do carbonato
de dietila com o íon enolato
E) Fenilacetato de etila; para evitar o excesso do éster não enolizável, evitando a reação do íon enolato
com o seu respectivo éster (autocondensação do fenilacetato de etila)
GABARITO
1. A seguinte condensação de Claisen cruzada ocorre melhor quando um dos reagentes de partida
está em excesso. Qual reagente seria? Por quê?
Esse tipo de reação deve ser realizado com excesso do éster não enolizável para que não ocorra a
condensação de Claisen do íon enolato com o seu respectivo éster. Dessa forma, há garantia de que
ocorra a condensação cruzada de Claisen– reação do carbonato de dietila com o íon enolato oriundo do
fenilacetato de etila.
O éster malônico é convertido em seu íon enolato mediante tratamento com bases moderadas, como
alcóxidos de sódio ou potássio. O íon enolato reage rapidamente com haletos de alquila reativos, gerando
ésteres do ácido α - alquilmalônico. Em seguida, por meio da hidrólise, ocorre a transformação de ésteres
de ácidos malônicos nos respectivos derivados de ácidos malônicos, que são rapidamente
descarboxilados, gerando ácidos monocarboxílicos.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, abordamos as principais reações envolvendo ácidos carboxílicos e seus derivados, e
discutimos os
princípios mecanísticos de cada uma, destacando sua importância no entendimento da
Química Orgânica.
Por fim, apresentamos as principais fontes e rotas metabólicas desses compostos. Ao concluir o estudo
deste
tema, você deve ter percebido que os ácidos carboxílicos e seus derivados apresentam rotas e usos
bastantes
diversificados e participam da rotina dos laboratórios e indústrias.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
CLAYDEN, J.; GREEVES, N.; WARREN, S. Organic chemistry. 2. ed. New York: Oxford University Press,
2012.
COSTA, P.; FERREIRA, V.; ESTEVES, P.; VASCONCELLOS, M. Ácidos e base em Química Orgânica.
Porto Alegre: Bookman, 2005.
COSTA, P.; PILLI, R.; PINHEIRO, S.; VASCONCELLOS, M. Substâncias carboniladas e derivados.
Porto Alegre: Bookman, 2003.
MCMURRY, J. Química Orgânica. 7. ed. vol. 2. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Química Orgânica. 8. ed. vol.2. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
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CONTEUDISTA
Gabriela de Andrade Danin Barbosa
CURRÍCULO LATTES