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CURSO LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Xantopsia; uma breve analise do amarelo na arte

Ian Flávio Costa

INTRODUÇÃO

O presente e breve texto tenta discutir a respeito de algumas obras de


arte que apresentam a predominância da cor amarela. Fenômeno esse que pode ter
inúmeros motivos, desde a degradação química dos pigmentos utilizados na
produção da peça, o amarelamento comum de tecidos e telas que corrompem a
coloração original, a utilização proposital da cor com intenção de representar algum
significado simbólico, ou até mesmo ao surgimento de condições clínicas nos
artistas.

No geral, este texto fará uma breve análise do amarelo na história da arte.
E de forma despretensiosa, tentará apresentar e analisar algumas obras a fim de
entender a escolha da cor como objeto central da obra; aspectos simbólicos e/ou
condições da peça.

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Os usos do amarelo até o medievo

A cor amarela é um dos primeiros pigmentos utilizados pela humanidade


na produção de imagens. Primeiramente produzido a partir da argila e por sua
grande disponibilidade, o amarelo ocre foi bastante utilizado pelos povos do
paleolítico, como pode-se comprovar nas famosas figuras da caverna de Lascaux,
na França, que datam de cerca de 17.300 anos.
1 Pintura de um cavalo na caverna de Lascaux. França.

Simbolicamente, tanto para os povos pré-históricos quanto para os povos


antigos (eu diria se estender até o fim do medievo), a cor amarela, como
representação do dourado, possuía um valor além de estético, um valor espiritual.
Pois a adoração primitiva do Sol fazia crer que o astro regia a vida como uma
espécie de divindade, sendo assim, há uma grande devoção histórica ao Sol e
muitas representações simbólicas do mesmo ao redor do mundo. Para alguns povos
era comum representa-lo utilizando o ouro pela ideia de que o material imitava seu
brilho.

Os Egípcios associavam a cor amarela ao ouro e acreditavam que os


deuses eram feitos de ouro. Eles utilizavam extensivamente a coloração em tumbas
e representações pictóricas sagradas na tentativa de exaltar essa semelhança entre
o divino e ouro. Vale ressaltar que os egípcios foram um dos primeiros povos a
manipular o ouro e utilizar em suas obras e esculturas, reconhecendo o valor de tal
material.
2 Túmulo KV62, a tumba de Tutancâmon com o sarcófago e a múmia do faraó.

Assim como nas demais representações anteriores que se utilizavam da


cor amarela como representação do divino (ou a semelhança do ouro), a Arte
medieval também nos traz alguns usos da cor amarela com o mesmo propósito.
Ainda que o medievo esteja pautado nas relações de dominação eclesiástica, com
normas expressas contra a opulência e ostentação; as obras de arte da época, em
grande parte, traziam o uso do dourado para representar cenas e/ou figuras
sagradas. Mas aqui o ouro não representa a riqueza material. Assim como os
antigos, o ouro representa uma espécie de riqueza espiritual, a fé.

3 Basílica de São Vital em Ravena, Itália


1.2 Reações naturais como causas do amarelamento

É imprescindível afirmar que com o passar do tempo muitos materiais que


compõem as obras de arte, sejam pinturas, esculturas, etc., sofrerão modificações
relacionadas a intempéries, oxidação de componentes ou desgaste dos materiais.
Muitos pigmentos, principalmente os fabricados manualmente até os fins do século
XIX, ainda eram produzidos a base de metais e componentes ácidos, como urina de
vaca entre outros aditivos. Tais composições acabavam por gerar reagentes não só
tóxicos como também rapidamente corrosivos. Com o tempo, por conta da
acidificação do Ph das tintas, redução e/ou oxidação, fazendo com que muitas obras
ganhassem um tom amarelado.

Os processos químicos de redução e oxidação se dão a partir de


reagentes metálicos capazes de ganhar ou perder elétrons, respectivamente. Esse
fenômeno químico que ocorre em reagentes comuns na composição de pigmentos
como o manganésio, o magnésio, o cobalto, alumínio, entre outros, gerando
colorações diversas, mas comumente algo no espectro do marrom-amarelado.

Muitos artistas modernos, com os avanços da ciência química aplicada a


arte, começaram por conta própria a experimentar certas composições e reproduzir
efeitos de oxidação propositais para criação de obras com essas características
amareladas.

4 cores resultado da oxidação de diferentes metais (ferro e cobre).


1.3 Problemas clínicos

A Xantopsia em arte caracteriza a predominância da cor amarela por


questões propositais e/ou naturais relacionadas a oxidação ou desgaste das obras.
No entanto, o termo xantopsia (do grego xanthós, "amarelo" + ópsis "vista") diz
respeito a uma perturbação visual onde o olho doente passa a perceber espectros
de luz (cores) com a tonalidade amarela. As causas podem variar entre
predisposição genética de pigmentação sanguínea (icterícia) ou por causa externa,
que é o caso da intoxicação causada pela ingestão medicinal de dedaleiras – uma
família de plantas indicadas para o tratamento de insuficiência cardíaca.

O caso mais conhecido é o do artista Van Gogh, que parecia apreciar a


cor amarela utilizando-as frequentemente em suas obras. Porém, Van Gogh sofria
de crises maníaco-depressivas, o que o fazia ter alucinações, visões, entre outros
sintomas de perturbação mental e sensorial. Assim muito da arte de Van Gogh pode
analisada por esse aspecto, no entanto, o que justifica o uso excessivo do amarelo
em suas obras é o fato de que Dr. Paul Gachet, seu médico particular, o receitava o
uso de chás de dedaleira; muito comum na época para tratamentos de crises
depressivas. Van Gogh então pode ter desenvolvido Xantopsia pela intoxicação de
dedaleira e ter transferido às suas pinturas apenas os tons que percebia; no caso, o
amarelo.

5 Retrato do doutor Gachet (1890); Van Gogh


2 METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa sobre arte foi aplicada para analisar alguns


aspectos específicos de obras a fim de se observar o uso da cor amarela de forma
predominante nas obras, baseando-se em textos e pesquisas online e em obras que
comprovem essas tais observações a respeito do uso dessa cor.

3 RESULTADOS ALCANÇADOS E/OU ESPERADOS

Esperava-se com o presente texto analisar brevemente a presença da


com amarela de forma predominante em certas obras e períodos históricos, suas
possíveis simbologias e interpretações. Questões do uso do amarelo caso ocorresse
por questões estéticas, desgaste (amarelamento), ou limitações físicas.

De modo geral, pode-se afirmar que a pesquisa histórica e parte das


opiniões embasadas em pesquisa e analise das próprias obras é satisfatória e
atendo aos requisitos propostos pelo tema. Pode-se perceber que o amarelo,
presente em predominância, em determinadas obras, traz consigo bastante
significado cultural e simbólico dos os movimentos artísticos de algumas épocas e
em outros casos específicos um contexto particular válido a qualquer pesquisa mais
aprofundada sobre o tema.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como uma breve análise histórica da predominância do amarelo em


algumas obras de arte, podemos perceber que essa cor, presente desde os
primórdios da produção artística nos acompanha até hoje, trespassando o tempo
com inúmeros significados a depender da cultura e do contexto na qual está
inserida. Seja por caráter estético, pela deterioração causada pelo tempo, ou por
uma infeliz enfermidade, a predominância do amarelo em obras de arte expressa
parte do sentimento humano de retratar a realidade como a percebe e/ou a significa,
como no caso do uso religioso; e de a ressignificá-la com o passar o tempo, na
tentativa de interpretar seus vários empregos e simbolismos.
Como toda cor em arte, o amarelo possui sua própria história e seus
próprios significados. O uso dessa cor em predominância causa espanto e
admiração a primeira vista, mas talvez seja como os egípcios e os medievais a
interpretavam e tenha algum valor de expressão do divina sempre viva e brilhante.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A química e a Arte, Química nas Taipas. Disponível em:


<https://quimicanastaipas.wordpress.com/a-quimica-e-a-arte/> Acesso em:10/2022

Cor amarela na história e na arte; Hisour arte cultura exposição. Disponível em:
<https://www.hisour.com/pt/yellow-color-in-history-and-art-26664/>. Acesso em:
10/2022.

História da Cor na Arte – Dourado, TV CriaArte. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=GAacadRu2RA> Acesso em: 10/2022

Ouro no Egito Antigo, Moacir Führ. Novembro de 2018. Disponível em:


<https://apaixonadosporhistoria.com.br/artigo/110/ouro-no-egito-antigo#:~:text=O
%20Egito%20é%20uma%20terra,palavra%20egípcia%20para%20o%20ouro).>
Acesso em: 10/2022.

Rede dor São Luiz; Xantopsia. Disponível em:


<https://www.rededorsaoluiz.com.br/doencas/xantopsia>. Acesso em: 10/2022

Uma breve história do amarelo na arte; Equipe Editorial ArteRef, 22 de dezembro de


2016. Disponível em: <https://arteref.com/pintura/uma-breve-historia-do-amarelo-na-
arte/> Acesso em: 10/2022.

Wikipédia; Xantopsia. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Xantopsia>.


Acesso em: 10/2022

BBC, Por que Van Gogh usava tanto amarelo em suas pinturas, segundo a ciência,
Raúl Rivas González. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54948162>. Acesso em: 10/2022

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