Você está na página 1de 20

Epistemologia e ciência administrativa:

uma análise de pesquisas


fenomenológicas sobre a liderança
Doutorando Vicente Reis Medeiros - PUCRS
Dra. Ana Clarissa Matte Zanardo Santos - PUCRS
Dra. Caroline Capaverde - PUCRS
Dr. Eder Henriqson - PUCRS
INTRODUÇÃO

Epistemologia: estudo crítico da ciência; visa determinar sua origem lógica, seu valor
e seu alcance (Japiassu, 1979)
Ciência administrativa e o clássico Sociological Paradigms and Organizational Analysis

Estudos de liderança: abundância, múltiplas perspectivas, inúmeras teorias e


nomenclaturas
Mainstream segue paradigma funcionalista com abordagem positivista (Avolio,
Walumbwa & Weber, 2009; Ford, 2010; Tal & Gordon, 2016)

Como se caracterizam os estudos a partir do paradigma interpretativo, sobretudo,


pela perspectiva fenomenológica?
Continuum subjetivo-objetivo de suposições ontológicas
Morgan, G., & Smircich, L. (1980). The Case for Qualitative Research. Academy of Management Review, 5(4), 491-500.

Abordagens Abordagens
subjetivistas objetivistas

Realidade como Realidade como Realidade como Realidade como Realidade como Realidade como
uma projeção da uma construção um discurso um campo um processo uma estrutura
imaginação social simbólico contextual de concreto concreta
humana informação
Paradigmas que orientam a produção científica na análise organizacional
Burrell, G., Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organizational analysis. London: Heinemann.

F
Modelo conceitual da pesquisa qualitativa
Klenke, K. (2014). In: David D. Day. The Oxford Handbook of Leadership and Organizations. New York: Oxford University Press.
REFERENCIAL TEÓRICO

Estudos de liderança: longevidade e múltiplas perspectivas (House & Aditya,


1997; Day & Antonakis, 2012; Tal & Gordon, 2020)

Críticas: isolamento, atalhos metodológicos, conceituação desleixada (Ashford &


Sitkin, 2019); primazia de pressupostos funcionalistas e excesso de positividade
(Alvesson & Einola, 2019); campo sobrecarregado com análises quantitativas e
positivistas convencionais que dominam a pesquisa na área (Avolio, Walumbwa,
& Weber, 2009; Ford, 2010; Tal & Gordon, 2016).

Teorias contemporâneas: a) teorias dos traços; b) teorias comportamentais;


c) teorias contingenciais; d) teorias neocarismáticas (Fagundes & Seminotti, 2009).
REFERENCIAL TEÓRICO

Continuum subjetivo-objetivo (Morgan & Smircich, 1980)

Paradigmas de Burrell & Morgan (1979):

Paradigma Funcionalista Paradigma Interpretativo



ênfase empiricista compreender a experiência


observador independente subjetiva dos indivíduos
padrões universais de ciência realidade como processo
impõe ordem e regulação ao emergente e extensão da
mundo consciência humana
teorias construídas a partir do
ponto de vista do participante
rejeitam visão de mundo
funcionalista
REFERENCIAL TEÓRICO

Estudos de liderança pela perspectiva funcionalista

A liderança é reificada e se buscam traços, comportamentos, situações e


habilidades (Alvesson & Spicer, 2012)

Diferenças individuais são negadas, contexto é ignorado e pouca consideração à


influência que podem receber

Tendência em focar em diretores ou papeis executivos com forte discurso


moralizante (Crevani, Lindgren & Packendorff, 2010)

Fórmula de liderança com lista de comportamentos a serem praticados,


obtendo conformidade a traços, competências e comportamentos específicos
(Ford, 2010)
REFERENCIAL TEÓRICO

Fenomenologia e Edmund Husserl (1859-1938)

Consciência, intencionalidade, epoché: objeto como objeto-para-um-sujeito


(Zilles, 2008)

Paradigma interpretativo (Burrell & Morgan, 1979)

Fenomenologia como filosofia e como método (Gill, 2014)


PERCURSO DE ANÁLISE

Inspiração no modelo de Wolfswinkel, Furtmueller & Wilderom (2013): grounded


theory como método

5 etapas: definição, busca, seleção, análise e apresentação

Critérios: a) estudos empíricos; b) fator de impacto dos periódicos; c) tipologia de


métodos fenomenológicos de Gill (2014)

Scopus: Business, management and accounting

phenomenology + leadership (título do artigo, resumo e palavras-chave)

Parameshwar (2005); Ramachandaran, Krauss, Hamzah, & Idris (2017); Bradley-


Cole (2021); Ilac (2018)
RESULTADOS

Spiritual leadership through ego-transcendence: Exceptional responses to


challenging circumstances. The Leadership Quarterly, 2005

Fenomenologia transcendental, fenomenografia e outras abordagens


qualitativas

Analisou 504 eventos a partir de oito autobiografias e duas biografias de líderes


globais

"(...) I assimilated the beauty of each subject's life, whole" (p. 694).
"(...) I mindfully searched out data that I may have missed in the first reading" (p. 694).
"I asked myself questions such as: What do I find challenging given my everyday
consciousness that Gandhi did not given his consciousness?" (p. 694).
"(...) I opened myself to the 'total ground of data' in the ten autobiographies and posed
myself such questions as: What data seemed important initially but not later as it met
successive layers of data?" (p. 694).
"I had to be very vigilant (...)" (p. 694).

Framework integrativo de respostas excepcionais a circunstâncias desafiadoras.


Fonte: Parameshwar (2005).
RESULTADOS

Effectiveness of the use of Spiritual Intelligence in Women Academic Leadership


Practice. International Journal of Educational Management, 2017

"Qual é a eficácia do uso da inteligência espiritual nas práticas de liderança de


mulheres acadêmicas?"

Investigação fenomenológica com nove acadêmicas líderes

Três temas principais que resultaram a partir da análise: a) funcionários


inspirados pela visão; b) aumento da credibilidade e sustentabilidade de longo
prazo da instituição; c) valores morais elevados e questões éticas reduzidas.
RESULTADOS

Friend or fiend? An interpretative phenomenological analysis of moral and


relational orientation in authentic leadership. Leadership, 2021

Campo da liderança autêntica: insuficiente desafio empírico e confusão


conceitual

Heidegger e os conceitos de "ser verdadeiro" e "cuidado"

Explora como os líderes dão sentido à autenticidade e descreve de que modo os


gerentes percebem e atribuem autenticidade a seus líderes

Abordagem analítica foi desenhada para alcançar entendimento hermenêutico


em vez de encontrar explicações causais
Mapa temático: como os dois temas principais contribuem para a atribuição de
autenticidade de um líder ao seu próprio líder na prática.
Fonte: Bradley-Cole (2021).
RESULTADOS

Exploring social enterprise leadership development through phenomenological


analysis. Social Enterprise Journal, 2018

Liderança em empresas sociais

Liderança é vista como um processo social complexo em que cultura, contexto e


sua natureza moldam o seu entendimento

Método fenomenológico de Amedeo Giorgi (2006)


Framework de desenvolvimento de liderança de empresa social.
Fonte: Ilac, 2018.
CONCLUSÃO

Artigos consideram que parte do conhecimento repousa na


experiência subjetiva dos indivíduos e abrem espaço para que
os participantes reflitam e formalizem o significado de
determinado fenômeno em suas práticas
Atitude de permanecer aberto para “ouvir os dados” e redefinir
a rota de pesquisa na medida em que os dados apontarem
para uma direção mais profícua
Espaço para os participantes refletir e compartilhar a expressão
da sua liderança
Fenomenologia ainda é incipiente nos estudos de liderança, o
que denota oportunidade para a pesquisa na área
Ideia da fenomenologia é "voltar às coisas mesmas"
Referências
Alvesson, M., & Spicer, A. (2012). Critical leadership studies: the case for critical performativity. Human Relations, 65(3), 367-390.
DOI: 10.1177/0018726711430555.
Alvesson, M.; & Einola, K. (2019). Warning for excessive positivity: Authentic leadership and other traps in leadership studies.
The Leadership Quarterly, 30, 383-395. https://doi.org/10.1016/j.leaqua.2019.04.001.
Ashford, S. J.; & Sitkin, S. B. (2019). From problems to progress: A dialogue on prevailing issues in leadership research. The
Leadership Quarterly, 30, 454-460. https://doi.org/10.1016/J.LEAQUA.2019.01.003.
Avolio, B. J., Walumbwa, F. O., & Weber, T. J., (2009). Leadership: Current Theories, Research, and Future Directions. Annual
Review of Psychology, 60, 421-449. doi: 10.1146/annurev.psych.60.110707.163621.
Bradley-Cole, K. (2021). Friend or fiend? An interpretative phenomenological analysis of moral and relational orientation in
authentic leadership. Leadership, 17(4), 401-420. doi: 10.1177/17427150211016163.
Burrell, G., Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organizational analysis. London: Heinemann.
Crevani, L., Lindgren, M., & Packendorff, J. (2010). Leadership, not leaders: On the study of leadership as practices and
interactions. Scandinavian Journal of Management, 26, 77-86. doi:10.1016/j.scaman.2009.12.003.
Day, D. V., & Antonakis, J. (2012). Leadership: Past, present, and future. The nature of leadership, 3-25.
Fagundes, P. M., & Seminotti, N. (2009). A dimensão coletiva da liderança. Cadernos IHU Ideias, 7(120).
Ford, J. (2010). Studying Leadership Critically: A Psychosocial Lens on Leadership Identities. Leadership, 6(1), 47-65. DOI:
10.1177/1742715009354235.
Gill, M. J. (2014). The Possibilities of Phenomenology for Organizational Research. Organizational Research Methods, 17(2), 118-
137. DOI: 10.1177/1094428113518348.
House, R. J., & Aditya, R. N. (1997). The social scientific study of leadership: quo vadis? Journal of management, 23(3), 409-473.
Ilac, E. J. D. (2018). Exploring social enterprise leadership development through phenomenological analysis. Social Enterprise
Journal, 14(3), 268-288. doi: 10.1108/SEJ-12-2017-0065.
Japiassu, H. (1979). Introdução ao pensamento epistemológico. 3. ed. Rio de Janeiro: F. Alves.
Klenke, K. (2014). In: David D. Day. The Oxford Handbook of Leadership and Organizations. New York: Oxford University Press
Morgan, G., & Smircich, L. (1980). The Case for Qualitative Research. Academy of Management Review, 5(4), 491-500
Parameshwar, S. (2005). Spiritual leadership through ego-transcendence: Exceptional responses to challenging circumstances.
The Leadership Quarterly, 16, 689-722. doi: 10.1016/j.leaqua.2005.07.004.
Referências
Ramachandaran, S. D., Krauss, S. E., Hamzah, A., & Idris, K. (2017). Effectiveness of the use of Spiritual Intelligence in Women
Academic Leadership Practice. International Journal of Educational Management, 31(2). http://dx.doi.org/10.1108/IJEM-09-2015-
0123.
Tal, D., & Gordon, A. (2016). Leadership of the present, current theories of multiple involvements: a bibliometric analysis.
Scientometrics, 107, 259-269. DOI 10.1007/s11192-016-1880-y.
Tal, D., & Gordon, A. (2020). Leadership as an Autonomous Research Field: A Bibliometric Analysis. Society, 57, 489-495.
https://doi.org/10.1007/s12115-020-00522-2.
Wolfswinkel, J. F., Furtmueller, E., & Wilderom C. P. M. (2013). Using grounded theory as a method for rigorously reviewing
literature. European Journal of Information Systems, 22, 45-55. https://doi.org/10.1057/ejis.2011.51.
Zilles, U. (2008). A fenomenologia husserliana como método radical. In: Husserl, E. A crise da humanidade europeia e a filosofia.
3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS.

Você também pode gostar