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Centro de Ciências Jurídicas e

Econômicas (CCJE/UFES)
Departamento de Ciências
Contábeis (DCC)

Introdução aos paradigmas


em Estudos
Organizacionais
Prof. Dr. Vitor Correa da Silva
1
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• A discussão sobre os paradigmas em estudos organizacionais
se iniciou com o trabalho de Gibson Burrell e Gareth Morgan,
em 1979.
• Os autores sugeriam que o campo de teoria organizacional
seria formado por uma série de posições epistemológicas e
ontológicas de base, as quais formariam algumas posições
metateóricas a priori no desenvolvimento científico em
análise organizacional (CALDAS, 2007).
➢ Ontologia: Entendimento sobre o Ser e sua relação com o mundo.
➢ Epistemologia: Entendimento sobre o conhecimento, sua validade,
e suas formas de aquisição.
➢ Metateoria: Formas e métodos de analisar e discutir teorias. 2
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• Segundo Caldas (2007), Burrell e Morgan propuseram uma
categorização dos campos paradigmáticos e sobrepuseram
dois eixos:
➢ O primeiro representaria os pressupostos metateóricos sobre a
natureza da ciência, opondo a ciência “objetivista” à ciência
“subjetivista”.
➢ O segundo simbolizaria as premissas metateóricas sobre a
natureza da sociedade, contrastando uma sociologia da
“regulação” a uma sociologia da “mudança radical”.
• Assim, tem-se os quatro principais paradigmas da análise
organizacional. O sentido de paradigma é o de uma visão
implícita ou explícita da realidade (MORGAN, 2007). 3
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO

4
Fonte: Caldas (2007).
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• O paradigma funcionalista se baseia na pressuposição de que
a sociedade tem existência concreta e real e um caráter
sistêmico orientado para produzir um estado de coisas
ordenado e regulado.
• Os pressupostos ontológicos estimulam a crença na
possibilidade de uma ciência social objetiva e isenta de
conotações de valor, em que o cientista se distancia da cena
que ele está analisando com o rigor e a técnica do método
científico.
• A perspectiva funcionalista é fundamentalmente reguladora e
prática, e está interessada em compreender a sociedade de
maneira que produza conhecimento empírico útil (MORGAN,
5
2007).
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• O paradigma interpretativista aponta que o mundo social
possui uma situação ontológica duvidosa, e que a realidade
social não existe em sentido concreto, mas é produto da
experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos.
• Semelhante à abordagem funcionalista, ela se baseia na
pressuposição de que há uma ordem e um padrão implícito no
mundo social; no entanto, vê a tentativa funcionalista de
estabelecer uma ciência social objetiva como um fim
inatingível.
• A ciência é considerada uma rede de jogos de linguagem,
baseada em conceitos e regras subjetivamente determinados,
que os praticantes da ciência inventam e seguem (MORGAN,
6
2007).
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• O paradigma humanista radical, tal como o paradigma
interpretativista, enfatiza que a realidade é socialmente criada,
mas vincula sua análise a algo como uma patologia da
consciência que aprisiona as pessoas.
• A realidade é influenciada por processos psíquicos e sociais
que controlam as mentes dos seres humanos de maneira a
aliená-los em relação às potencialidades inerentes à sua
verdadeira natureza de humanos. Vê-se, por exemplo, o
capitalismo como algo essencialmente totalitário.
• O humanista radical está interessado em descobrir como as
pessoas podem associar pensamento e ação (práxis) como um
meio para transcender sua alienação (MORGAN, 2007).
7
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• O paradigma estruturalista radical, assim como a do
humanista radical, fundamenta-se na visão de que a sociedade
é uma força potencialmente dominadora.
• No entanto, ela está vinculada a uma concepção materialista
do mundo social e vê a realidade como uma coisa que existe
independentemente de como é percebida pelas pessoas.
• O estruturalista radical está interessado em compreender essas
tensões intrínsecas e a maneira como os detentores do poder
na sociedade procuram controlá-las por meio de vários modos
de dominação.
• Põe-se a ênfase sobre a importância da práxis como meio de
transcender esta dominação (MORGAN, 2007). 8
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• Para Burrel e Morgan, o desconhecimento dessa realidade
paradigmática inconsciente e indiscutida, bem como a
aceitação tácita quase hegemônica do paradigma funcionalista,
estariam aprisionando e limitando o desenvolvimento da área.
• A intenção seria a de, em primeiro lugar, sugerir que o campo
cresceria em reflexividade e riqueza se os distintos paradigmas
pudessem se reconhecer e eventualmente dialogar.
• Em segundo lugar, desvendar caminhos metateóricos pouco
explorados e promissores, além do funcionalismo dominante,
especialmente os referenciais críticos e interpretativos
(CALDAS, 2007).
9
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Surgimento da discussão dos paradigmas em EO
• Apesar disso, alguns críticos indicaram que o modelo de
paradigmas simultâneos gerou polarização e segregação, de
maneira que ao evidenciar diferenças elementares, Burrell e
Morgan promoveram a segregação das perspectivas.
• Muitos críticos apontaram também a excessiva ortodoxia da
“incomensurabilidade paradigmática”, além do banimento do
diálogo como consequências negativas do trabalho de Burrell
e Morgan (CALDAS, 2007).

10
Referências
Bibliográficas

1. CALDAS, M. P. Paradigmas em estudos organizacionais: uma introdução à


série. In: CALDAS, M. P.; BERTERO, C. (org.). Teoria das organizações.
São Paulo: Atlas, 2007. p. 3-11.
2. MORGAN, G. Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria
das organizações. In: CALDAS, M. P.; BERTERO, C. (org.). Teoria das
organizações. São Paulo: Atlas, 2007. p. 12-33.

vitor_correa@msn.com
11
Centro de Ciências Jurídicas e
Econômicas (CCJE/UFES)
Departamento de Ciências
Contábeis (DCC)

Teoria da Contingência

Prof. Dr. Vitor Correa da Silva


1
Teoria da Contingência
Assuntos abordados
➢ Introdução à Teoria da Contingência;
➢ Origens da Teoria da Contingência Estrutural;
➢ Modelo Teórico da Contingência Estrutural;
➢ Paradigma da Pesquisa da Teoria da Contingência Estrutural;
➢ A fase de Ciência Normal: Replicação e Generalização;
➢ Dinâmica da Causalidade;
➢ Dinâmicas de Estratégia e Estrutura;
➢ Teoria da Escolha Estratégica;
➢ Adequação e Desempenho;
➢ O desafio de Outros Paradigmas;
➢ Reflexões Sobre o Paradigma da Teoria Contingencial Estrutural;
➢ Conclusão. 2
Teoria da Contingência
Introdução à Teoria da Contingência
• A teoria da contingência estabelece que não há uma estrutura
organizacional única que seja altamente efetiva para todas as
organizações.
• A otimização da estrutura varia de acordo com determinados
fatores contingenciais, tais como: i) estratégia, ii) tamanho,
iii) incerteza com relação às tarefas e; iv) tecnologia.
• Assim, para ser efetiva, a organização precisa adequar sua
estrutura a seus fatores contingenciais e, assim, ao ambiente.
• A pesquisa contingencial é uma das correntes mais fortes da
teoria administrativa no estudo da estrutura organizacional
(DONALDSON, 1999).
3
Teoria da Contingência
Introdução à Teoria da Contingência
• Não há uma definição precisa e absoluta sobre Estrutura
organizacional. Alguns possíveis aspectos considerados:
➢ Relacionamentos de autoridade e subordinação representados
no organograma;
➢ Comportamentos requeridos pelos regulamentos da
organização;
➢ Padrões adotados na tomada de decisão, como
descentralização, padrões de comunicação, etc.
• Cada pesquisa foca em determinado aspecto da estrutura, sem
pretender esgotar o tema (DONALDSON, 1999).
4
Teoria da Contingência
Origens da Teoria da Contingência Estrutural
• Até os anos 1950, a produção acadêmica sobre a estrutura
organizacional era dominada pela Escola Clássica de
Administração.
• A premissa básica era a de que havia uma única estrutura
organizacional que seria altamente efetiva para organizações
de todos os tipos (the best way):
➢ Tomada de decisão e planejamento concentrada no topo da
hierarquia (top-down);
➢ Operação previamente especificada pela gerência sênior;
➢ Estudo do trabalho e adoção de procedimentos similares
(DONALDSON, 1999). 5
Teoria da Contingência
Origens da Teoria da Contingência Estrutural
• A partir da década de 1950, houve tentativas para aproximar
as duas abordagens dominantes em Administração na época, a
Escola Clássica e a Escola de Relações Humanas.
• Assim, teóricos contingenciais realizaram estudos com base
nas decisões em pequenos grupos e liderança, de forma a
aplicar a ideia de contingência a estruturas organizacionais.
• Tarefas de baixa incerteza (menor inovação) são mais
eficientes com estruturas mais centralizadas e maior controle.
• Tarefas com maior incerteza (maior inovação) são mais
eficientes com estruturas participativas e menor controle.
• Conclusão: A incerteza da tarefa é o coração do conceito de
6
contingência (DONALDSON, 1999).
Teoria da Contingência
Origens da Teoria da Contingência Estrutural
• Assim, fortaleceu-se a ideia de que a contingência determina
a estrutura como uma forma de adaptação ao ambiente.
• Principais contribuições de Burns e Stalker, conforme
Donaldson (1999):
➢ Ambiente estável (baixo grau de mudança tecnológica e no
mercado competitivo): Estrutura mecanicista (centralização da
tomada de decisão e maior burocratização das tarefas);
➢ Ambiente instável (alto grau de mudança tecnológica e no
mercado competitivo): Estrutura orgânica (descentralização da
tomada de decisão e menor burocratização das tarefas)

7
Teoria da Contingência
Origens da Teoria da Contingência Estrutural
• Principais contribuições de Woodward, conforme Donaldson
(1999):
• A tecnologia explica a estrutura mais que o tamanho:
➢ Tecnologia de operação simples (produtos singulares,
manuais/artesanais ou fabricados): estrutura orgânica;
➢ Tecnologia de operação complexa (produção em massa e
uso de equipamentos sofisticados): estrutura mecanicista.
➢ Porém, o avanço da tecnologia leva, primeiramente, a uma
estrutura mecanicista e, num segundo momento, à uma
estrutura orgânica, que seria o futuro da administração.
8
Teoria da Contingência
Origens da Teoria da Contingência Estrutural
• Principais contribuições de Lowrence e Lorsh (os primeiros a
usar o nome “teoria da contingência”), conforme Donaldson
(1999):
• Taxas elevadas de mudanças ambientais podem afetar setores
da organização de forma diferente.
• Por exemplo, o setor de P&D, por enfrentar níveis de
incerteza maior, poderia ser estruturado de forma mais
orgânica, enquanto o setor de produção mais mecanicista.
• Neste sentido, é preciso promover um nível maior de
integração a partir de equipes de projetos, por exemplo, além
de buscar a resolução de conflitos na organização.
9
Teoria da Contingência
Modelo Teórico da Contingência Estrutural
• Cada organização terá uma estrutura mais eficiente que outras
a depender das contingências, conforme a seguinte premissa:
• Ambiente Contingências Estrutura
Contingencias internas ou externas?
• Embora não seja equivocado definir certas contingências
como externas, uma análise mais parcimoniosa leva a
considerar somente fatores internos como contingências.
• Exemplo: Se o ambiente exige um alto grau de inovação da
organização, então ela irá desejar aumentar seu grau de
inovação e, assim, buscará uma estrutura mais orgânica. A
estrutura é causada pelo desejo (DONALDSON, 1999).
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Teoria da Contingência
Modelo Teórico da Contingência Estrutural
Tipo de organização Estrutura mais eficiente
Pequena hierarquia e centralização no executivo
Organização Pequena principal, pouca delegação de autoridade e pouca
especialização dos empregados.

Maior hierarquia (gerentes intermediários), alguma


Organização Grande autoridade delegada as gerentes intermediários e
maior especialização dos empregados.

• O aumento da especialização torna o trabalho mais rotineiro, o


que possibilita a formalização burocrática. Porém, a inovação
gera incerteza para as tarefas, o que dificulta tal formalização.
• Assim, cada setor pode necessitar de uma estrutura mais
adequada às suas tarefas, por exemplo: P&D estruturado mais
organicamente que a Produção (DONALDSON, 1999). 11
Teoria da Contingência
Modelo Teórico da Contingência Estrutural
• À medida que as empresas se diversificam de um único
produto/serviço para múltiplos produtos/serviços, a estrutura
funcional deixa de responder à complexidade das decisões.
• A estrutura multidivisional reduz a complexidade à medida
que cada divisão decide sobre seus produtos e mercados. Isto
leva ao aprimoramento das decisões e ao aumento da
velocidade decisória.
• O centro conserva o controle global, tratando as divisões
como centros de lucros e criando um staff corporativo para
monitorar o desempenho divisional e planejar a estratégia
corporativa (DONALDSON, 1999).
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Teoria da Contingência
Paradigma da Pesquisa da Teoria da Contingência Estrutural
• Do ponto de vista paradigmático, a Teoria da Contingência
Estrutural se encaixa no Funcionalismo sociológico.
• O funcionalismo sociológico explica a estrutura social por
suas funções, que são suas contribuições para o bem-estar da
sociedade. Assim, a estrutura organizacional é moldada de
forma a prover a organização de efetivo funcionamento:
• Portanto, o funcionalismo estrutural entende que as variações
na estrutura organizacional são identificadas e explicadas por
funcionarem eficazmente em determinada situação.
• Assim, a estrutura ajusta-se ao que há de contingente, que,
porsua vez, ajusta-se ao meio ambiente. Adequação (fit) é a
premissa básica (DONALDSON, 1999). 13
Teoria da Contingência
Paradigma da Pesquisa da Teoria da Contingência Estrutural
• Inicialmente, o método utilizado na pesquisa contingencial
seguiu as seguintes características (DONALDSON, 1999):
➢ Estudo comparativo entre organizações diferentes (com
diferentes unidades da mesma organização, se houver
interesse);
➢ Cada fator contingencial (tamanho; inovação) e estrutural
(centralização; burocratização das tarefas) é medido
(quantitativamente ou em categorias ordenadas);
➢ Cruzamento de escores (tabulação cruzada ou correlação) em
um par de fatores contingenciais e estruturais para verificar se
há associação e testar determinada hipótese entre a
contingência e a estrutura. 14
Teoria da Contingência
Paradigma da Pesquisa da Teoria da Contingência Estrutural
➢ Compara-se as organizações que estão em conformidade com
a associação prevista com as organizações “desviantes”. Caso
as primeiras apresentem melhor desempenho, tem-se uma
adequação entre a contingência e a estrutura.
• Com o passar dos anos, as pesquisas tornaram-se mais
sofisticadas em quatro aspectos (DONALDSON, 1999):
1) Aprimoramento da definição operacional dos conceitos.
2) Maior preocupação com a confiabilidade das medidas.
3) Múltiplos fatores, e não apenas um, explicando a estrutura.
4) Uso de métodos estatísticos mais sofisticados.
15
Teoria da Contingência
Paradigma da Pesquisa da Teoria da Contingência Estrutural
Crítica:
• A principal crítica ao paradigma da pesquisa da teoria da
contingência gira em torno da falta de uma análise individual.
• Na análise contingencial, a organização é vista como entidade
coletiva despersonalizada, desconsiderando-se aspectos dos
atores humanos, como crenças, valores, interesses e poder.
• Contudo, alguns atores defendem a teoria da contingência a
partir da perspectiva de que a análise em nível organizacional
é indispensável à teoria organizacional.
• Fenômenos-chave, como centralização e desempenho,
carecem dessa análise organizacional (DONALDSON, 1999).16
Teoria da Contingência
Paradigma da Pesquisa da Teoria da Contingência Estrutural
“Coração” do Paradigma da Pesquisa da Teoria da
Contingência estrutural:
• Segundo Donaldson (1999), o “coração” do paradigma da
pesquisa da teoria da contingência estrutural é constituído por:
➢ Funcionalismo adaptativo;
➢ Modelo de adequação da contingência;
➢ Método comparativo.
• Esses aspectos constituem o pano de fundo em que os
pesquisadores trabalham.

17
Teoria da Contingência
A fase de Ciência Normal: Replicação e Generalização
• Por volta de 1970, o paradigma contingencial estava
estabelecido e as pesquisas posteriores puderam “navegar”
nessa tradição contribuindo para a evolução da teoria.
• Réplicas e tentativas de generalização constituem boa parte
da pesquisa de ciência normal na literatura contingencial.
• De um modo geral, o principais resultados dos estudos
pioneiros foram confirmados, em termos de contingência-
estrutura, por exemplo: Tamanho é a principal contingência
para a estruturação burocrática das atividades organizacionais;
• Alguns desses aspectos generalizam-se globalmente e não só
em nações anglo-saxônicas (DONALDSON, 1999).
18
Teoria da Contingência
Dinâmica da Causalidade
• A maioria dos estudos considerou a relação entre a
contingência e a estrutura num mesmo período de tempo
(estudos cross-section).
• Corrigiu-se isso a partir da adoção da teoria da adaptação
estrutural para readquirir adaptação (structural adaptation to
regain fit - SARFIT) (DONALDSON, 1999):
➢ A adequação entre a contingência e um ou mais aspetos da
estrutura leva a um maior desempenho.
➢ A alteração na contingência leva uma perda de desempenho
(inadequação).
➢ Adaptações são feitas na estrutura para uma nova adequação e
o desempenho é restaurado. 19
Teoria da Contingência
Dinâmica da Causalidade
• Ciclo da adaptação (SARFIT):
➢ Adequação (maior desempenho);
➢ mudança da contingência;
➢ Inadequação (menor desempenho);
➢ adaptação estrutural;
➢ nova adequação (maior desempenho).
• Esse modelo estrutural sustenta a grande maioria dos achados
dos estudos contingenciais e permitiu uma análise mais
adequada sobre os reais caminhos da causalidade ao longo do
tempo (DONALDSON, 1999).
20
Teoria da Contingência
Dinâmicas de Estratégia e Estrutura
• A relação entre estratégia e estrutura é a teoria funcionalista de
que há uma adequação entre certas estratégias (diversificação;
concentração) e certas estruturas (divisional; funcional).
• Estruturas adequadas à estratégia elevam o desempenho. A
adequação, portanto, ocorre antes do desempenho, sendo a sua
causa.
• Esse aspecto reforça que a contingência causa a estrutura,
porém isto só ocorre em longo prazo, sendo o curto e o médio
prazo marcados por diversas inadequações.
• Alguns estudos encontraram evidências empíricas neste
sentido reforçando o modelo SARFIT (DONALDSON, 1999).
21
Teoria da Contingência
Teoria da Escolha Estratégica
• A despeito de certa evidência empírica, o determinismo
(contingência-estrutura) tem sido muito criticado.
• Argumenta-se que a escolha dos gestores advém de fontes
diversas (análise no nível da ação administrativa), como
percepções, valores, interesses e poder (teoria da escolha
estratégica).
• Assim, uma organização “inadequada” pode ter uma queda de
desempenho, mas isso pode não ser relevante para os gestores,
e eles podem conservar a “inadequação” por um longo tempo.
• Isso porque os gestores podem adotar estruturas inapropriadas
por uma espécie de “capricho” e não conforme à contingência
(DONALDSON, 1999). 22
Teoria da Contingência
Teoria da Escolha Estratégica
• A teoria da escolha estratégica defende, portanto, que a análise
no nível individual pode explicar a estrutura mais que a
contingência, sendo ela uma crítica à teoria da contingência
• Porém, alguns estudos sugerem que uma inadequação
estrutural é tolerável até certo ponto, pois pode levar a um
desempenho insatisfatório, levando à readequação.
• Assim, Donaldson (1999) advoga que os indivíduos escolhem,
mas na verdade, são atores humanos que acionam um sistema
chegando a um resultado benéfico para a organização,
condizente com a teoria da contingência estrutural.

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Teoria da Contingência
Adequação e Desempenho
• A partir de 1980, buscou-se aperfeiçoar a mensuração
operacional da adequação (contingências-estruturas).
• Isso gerou uma perspectiva multidimensional, de modo que as
variáveis estruturais podem ter várias contingências (mas não
muitas), como tamanho, estratégia e incerteza da tarefa.
• Assim, segundo Donaldson (1999), um próximo passo da
pesquisa contingencial seria esclarecer com exatidão quais as
poucas contingências que se aplicam a cada diferente aspecto
da estrutura.
• Esse modelo multivariado seria útil para estabelecer as
medidas de adequação multivariada e seu impacto no
desempenho. 24
Teoria da Contingência
O desafio de Outros Paradigmas
• Novas abordagens/teorias organizacionais surgiram a partir da
década de 1970 juntando-se à teoria da contingência, como:
➢ Teoria da Dependência de Recursos;
➢ Teoria Institucional;
➢ Teoria da Ecologia Populacional;
➢ Teoria da Agência;
➢ Teoria dos Custos de Transação.
• Porém, Donaldson (1999) entende que essas teorias
complementam a teoria da contingência estrutural, sendo esta
a principal teoria explicativa da estrutura organizacional.
25
Teoria da Contingência
Reflexões Sobre o Paradigma da Teoria Contingencial Estrutural
• Donaldson (1999) argumenta que os incentivos da carreira
acadêmica premiam mais a criação de novos paradigmas do
que a perseverança no estudo dos paradigmas mais antigos.
• Além disso, Donaldson (1999) também questiona o fato de
que alguns pesquisadores, ao usarem perspectivas de outros
paradigmas (teorias) no paradigma da teoria contingencial,
questionam esta última, como se isso representasse um avanço
na análise organizacional.
• Assim, ao obterem resultados inesperados em relação ao
paradigma contingencial, questionam este, ao invés de buscar
solucionar o problema dentro do paradigma, como se faria na
prática da “ciência normal”.
26
Teoria da Contingência
Conclusão
• Conforme Bertero (1999), a origem da preocupação com a
estrutura procurava responder à pergunta: Qual a forma
correta, ou qual a melhor maneira de organizar?
• Antes da teoria contingencial, a resposta era em termos
absolutos, após, a resposta dependeria das contingências, o
que não pode deixar de ser visto como um amadurecimento.
• Atualmente, as duas grandes contingências continuam
relevantes na análise organizacional: tamanho e meio
ambiente.
• Assim, conclui-se que a Teoria da Contingência Estrutural
explica boa parte da literatura organizacional sobre estratégia
e mudança organizacional (BERTERO, 1999). 27
Referências
Bibliográficas

1. BERTERO, C. O. Nota técnica: teoria da contingência estrutural. In: CLEGG,


S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de estudos organizacionais.
São Paulo: Atlas, 1999, p. 132-134. v. 1.
2. DONALDSON, L. Teoria da contingência estrutural. In: CLEGG, S. R.;
HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de estudos organizacionais. São
Paulo: Atlas, 1999, p. 105-131. v. 1.

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28
Centro de Ciências Jurídicas e
Econômicas (CCJE/UFES)
Departamento de Ciências
Contábeis (DCC)

Teoria Institucional

Prof. Dr. Vitor Correa da Silva


1
Teoria Institucional
Assuntos abordados
➢ Introdução à Teoria Institucional;
➢ As origens da Teoria Institucional;
➢ Principais implicações da Teoria Institucional;
➢ Ambiguidades na Teoria Institucional;
➢ Dependência de Recursos versus Processos Institucionais;
➢ Processos de Institucionalização;
➢ Implicações Para a Pesquisa;
➢ Considerações Complementares;
➢ Conclusões. 2
Teoria Institucional
Introdução à Teoria Institucional
• Trabalhos sob a ótica da teoria institucional têm investigado
vasta gama de fenômenos, como: expansão de políticas de
pessoal específicas, redefinição da missão organizacional e de
suas estruturas, até a formulação de políticas nacionais e
internacionais por organizações governamentais.
• Porém, há ainda pouco consenso sobre a definição de
conceitos-chave, mensurações ou métodos das pesquisas sobre
a teoria institucional.
• Estudos de caso e métodos quantitativos são costumeiramente
utilizados, com predominância dos primeiros (TOLBERT;
ZUCKER, 1999).
3
Teoria Institucional
As origens da Teoria Institucional
• Dentro do campo da Sociologia, a análise organizacional
somente passou a ser um assunto de interesse próprio a partir
da década de 1950.
• Os primeiros estudos consideravam que a estrutura
organizacional refletia esforços racionais dos decisores no
sentido de maximizar a eficiência, a coordenação e o controle.
• Na década de 1960, houve o incremento da variável ambiente
na determinação da estrutura. Ainda assim, manteve-se a
perspectiva funcionalista/econômica para explicar a estrutura
organizacional.
• A teoria contingencial representa boa parte destes estudos
(TOLBERT; ZUCKER, 1999). 4
Teoria Institucional
As origens da Teoria Institucional
• Assim, a influência de processos sociais, como a imitação ou
a conformidade normativa, que poderiam limitar o processo
decisório autônomo, era amplamente ignorada.
• A partir da década de 1970, alguns trabalhos começaram a
alterar essa perspectiva a partir do seguinte postulado:
➢ As estruturas formais podem ser revestidas de significados
socialmente compartilhados, além das funções “objetivas”.
• Explicar a estrutura das organizações sob esse novo ponto de
vista permitiu explorar um amplo espectro sobre as causas e as
consequências da estrutura (TOLBERT; ZUCKER, 1999).

5
Teoria Institucional
Principais implicações da Teoria Institucional
• Segundo Tolbert e Zucker (1999), autores como Meyer e
Rowan foram fundamentais para essa nova forma de análise
organizacional.
• Embora a noção de que as organizações possuíam aspectos
simbólicos já existisse, eles contribuíram para o entendimento
que a própria estrutura pudesse ser vista com propósitos
simbólicos.
• Ressaltando, desta forma, as limitações de cunho mais
racional da estrutura.

6
Teoria Institucional
Principais implicações da Teoria Institucional
• Tolbert e Zucker (1999), apontam três principais implicações a
partir desta perspectiva:
1) As organizações adotam práticas e procedimentos
institucionalizados na sociedade como forma de se legitimar,
independente da eficácia imediatas delas.
2) O sucesso organizacional vai além da sua eficiência produtiva
e passa também pelo fato da organização se tornar isomórfica
no ambiente.
3) Pode haver uma fraca relação entre comportamento dos
indivíduos no dia-a-dia e as estruturas formais (normas
desrespeitadas, decisões não implementadas, sistemas de
avaliação subvertidos), contrariando a lógica racional. 7
Teoria Institucional
Ambiguidades na Teoria Institucional
• A perspectiva da teoria institucional desvincula a estrutura
formal da ação (comportamento), definindo implicitamente
estruturas institucionais como aquelas que estão sujeitas a tal
desvinculação (TOLBERT; ZUCKER, 1999).
• Porém, tem-se uma ideia de estrutura institucionalizada
relativamente incoerente com a perspectiva anterior, qual seja:
➢ Estrutura institucionalizada é a que é considerada, pelos
membros de um grupo social, como eficaz e necessária,
servindo como uma força causal dos comportamentos.
• Entende-se que a crença na eficácia de tais estruturas está
sujeita a controvérsias, porém elas ainda assim são vistas
como servindo a um útil propósito . 8
Teoria Institucional
Dependência de Recursos versus Processos Institucionais
• Segundo Tolbert e Zucker (1999), tem havido uma confusão
entre as teorias institucional e a de dependência de recursos.
• Esta última defende que os gestores buscam negociar com o
ambiente e, muitas vezes alterá-lo, para garantir à organização
o acesso aos recursos necessários (voluntarismo gerencial).
• A teoria institucional é muitas vezes criticada por apontar uma
falta desse voluntarismo (determinismo).
• No entanto, sabe-se que os decisores organizacionais podem
ter mais ou menos poder discricionário: algumas vezes esse
poder decisório é bastante amplo, às vezes, não (TOLBERT;
ZUCKER, 1999).
9
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
• A teoria institucional compreende a institucionalização como
um processo central na criação e perpetuação de grupos
sociais duradouros.
• Assim, quando a institucionalização é alta, a transmissão de
uma ação, a manutenção desta ação ao longo do tempo e sua
resistência à mudança também são altas.
• Assim, quanto mais institucionalizadas as rotinas, mais
prontamente elas são transmitidas aos novos empregados.
• Desse modo, a transmissão é relacionada à institucionalização
(TOLBERT; ZUCKER, 1999).

10
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
• A pesquisa tem apontado três processos sequenciais de
institucionalização:
1) Habitualização;
2) Objetificação e;
3) Sedimentação.
• Eles representam níveis de institucionalização, implicando,
deste modo, que alguns padrões de comportamento social
estão mais sujeitos do que outros à avaliação crítica,
modificação e mesmo eliminação em função desses níveis
(TOLBERT; ZUCKER, 1999).
11
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
1) Habitualização:
• O processo de habitualização envolve a geração de novos
arranjos estruturais em resposta a problemas ou conjuntos de
problemas organizacionais específicos.
• Este fenômeno resulta na formalização de tais arranjos em
políticas e procedimentos de uma dada organização, ou um
conjunto de organizações que encontrem problemas iguais ou
semelhantes. Esta é a fase de pré-institucionalização.
• Frequentemente ocorre simultaneamente à adoção de
processos em outras organizações. Daí pode resultar imitação
(TOLBERT; ZUCKER, 1999).
12
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
1) Habitualização:
• No estágio de pré-institucionalização, algumas organizações
podem adotar uma dada estrutura, mas serão poucas e,
provavelmente, variarão quanto à forma de implementação.
• Tais estruturas não serão objeto de qualquer tipo de
teorização formal, e o conhecimento da estrutura entre os que
não a adotaram será limitado, em termos de operação e
também de propósito.
• Esses tipos de estruturas tendem a ser relativamente menos
permanentes, por vezes durando apenas o período de duração
de uma gestão. (TOLBERT; ZUCKER, 1999).
13
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
2) Objetificação;
• Representa o movimento em direção a um status mais
permanente e disseminado acerca da difusão da estrutura.
• A objetificação envolve um certo grau de consenso social
entre os decisores da organização a respeito do valor da
estrutura e da crescente adoção pelas organizações com base
nesse consenso.
• Assim, a objetificação da estrutura é, em parte, consequência
do monitoramento que a organização faz dos competidores.
Isto acontece porque outras organizações terão “pré-testado”
a estrutura (TOLBERT; ZUCKER, 1999).
14
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
2) Objetificação;
• Desse modo, quanto mais organizações adotarem a estrutura,
maior probabilidade terão os decisores de percebê-la como
favorável considerando seus custos e benefícios.
• A objetificação e difusão da estrutura também podem ter
como indutores agentes conhecidos como “champions”:
Conjunto de indivíduos com interesse material na estrutura,
como consultores, por exemplo.
• São bem-sucedidos quando identificam problemas comuns a
determinadas organizações e apresentam o arranjo estrutural
que soluciona tais problemas com bases lógicas e/ou
empíricas (TOLBERT; ZUCKER, 1999). 15
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
2) Objetificação;
• Estruturas que se objetificaram e foram amplamente
disseminadas podem ser descritas como estando no estágio
de semi-institucionalização.
• Nesse estágio, é comum que os adotantes sejam bastante
heterogêneos. O ímpeto da difusão deixa de ser simples
imitação para adquirir uma base mais normativa, refletindo a
teorização implícita ou explícita das estruturas.
• À medida que a teorização se desenvolve, a tendência é
diminuir a variação na forma que as estruturas tomam em
diferentes organizações (TOLBERT; ZUCKER, 1999).
16
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
2) Objetificação;
• Apesar de tais estruturas sobreviverem mais tempo que as do
estágio pré-institucional, nem todas duram indefinidamente.
• Frequentemente, são chamadas de “moda” ou “mania”. Isto
ocorre porque elas possuem uma história relativamente curta.
• Assim, apesar de terem adquirido certo grau de aceitação, os
adotantes monitorarão (na sua própria organização, e em
outras) a eficácia dessas estruturas.
• Somente quando uma estrutura atinge o grau de
institucionalização total é que ela estará menos propensas a
avaliação. (TOLBERT; ZUCKER, 1999). 17
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
3) Sedimentação;
• A institucionalização total envolve sedimentação, um
processo caracterizado pela sobrevivência da estrutura por
várias gerações de membros da organização.
• A sedimentação pode enfrentar resistência de atores que são
afetados adversamente pelas estruturas. Além disso, pode
também criticada pela falta de resultados associados à ela.
• Assim, a total institucionalização da estrutura depende de
fatore conjuntos como: i) baixa resistência de grupos de
oposição; ii) promoção e apoio cultural dos grupos de
defensores e; iii) correlação positiva com os resultados
desejados (TOLBERT; ZUCKER, 1999). 18
Teoria Institucional
Processos de Institucionalização
3) Sedimentação;
• A reversão , isto é, a desinstitucionalização, provavelmente
requererá uma grande mudança no ambiente de modo que
atores sociais, cujos interesses estejam em oposição à
estrutura, possam se opor a ela ou explorar suas fraquezas.

• Fonte: Tolbert e Zucker (1999) 19


Teoria Institucional
Implicações Para a Pesquisa
• Segundo Tolbert e Zucker (1999), a implicação mais
importante para estudos baseados na teoria institucional é:
➢ A necessidade de desenvolvimento de medidas mais diretas e
melhor documentação das institucionalização das estruturas.
• Isto porque os resultados associados a uma dada estrutura,
provavelmente, dependerão do estágio ou nível de
institucionalização em que se encontrar.
• Assim, ainda que o desenvolvimento de indicadores
adequados para essa medição seja uma tarefa controversa, este
problema não é exclusivo do construto institucionalização.

20
Teoria Institucional
Implicações Para a Pesquisa
Métodos sugeridos:
• Survey: Avaliar a percepção e a necessidade de permanência
de determinada estrutura; Relacionar o grau de
institucionalização com o grau de certeza subjetiva associada;
Desenvolver indicadores para medição da institucionalização.
• Pesquisa documental: Avaliar a documentação histórica e as
mudanças culturais ligadas à institucionalização.
• Estudo de Casos: Comparar o desenvolvimento e a
propagação de diferentes estruturas e de estruturas iguais num
mesmo setor ou em setores diferentes. (TOLBERT; ZUCKER,
1999).
21
Teoria Institucional
Implicações Para a Pesquisa
Temáticas interessantes:
➢ Identificação dos determinantes das mudanças no nível de
institucionalização das estruturas;
➢ Efeito do status social das forças opositoras à adoção de uma
estrutura;
➢ Impacto da variedade das organizações para as quais uma
dada estrutura seria teoricamente relevante;
➢ O número ou tamanho dos grupos de champions no nível de
institucionalização e no alcança de determinadas estruturas;
➢ O grau pelo qual a adoção de uma estrutura está vinculada a
mudanças que envolvam altos custos para as adotantes;
➢ A força da correlação entre a adoção de uma estrutura e os
resultados desejados. 22
Teoria Institucional
Implicações Para a Pesquisa
• Por fim, Tolbert e Zucker (1999) indicam que seria importante
considerar os contextos ou condições sob os quais as teorias
institucional, de dependência de recursos e a contingencial,
poderão trazer insights úteis para estudos organizacionais.
• Poderia ser útil reunir estudos empíricos da teoria institucional
aos estudos de contextos em que não existam grandes atores
tentando compelir as organizações a adotarem uma estrutura.
• Assim como, focalizar a teoria institucional em análises em
que os benefícios materiais associados à estrutura não sejam
prontamente calculáveis, ou seja, quando as abordagens
contingenciais orientadas para a eficiência não sejam tão
relevantes.
23
Teoria Institucional
Implicações Para a Pesquisa
• Neste sentido, Tolbert e Zucker (1999) argumentam que as
duas perspectivas sobre a análise organizacional devem ser
complementares e não vistas como opostos, quais sejam:
➢ Ator-racional: os indivíduos estão constantemente envolvidos
em cálculos dos custos e benefícios das diferentes alternativas
de ação e o comportamento segue critérios de maximização de
utilidade.
➢ Modelo institucional: contrariamente ao primeiro, pressupõe
que indivíduos “sobre socializados” aceitam e seguem normas
sociais, sem qualquer reflexão ou resistência comportamental,
sem questioná-las, unicamente baseados em seus interesses
particulares.
24
Teoria Institucional
Considerações Complementares
• A Teoria Institucional constitui o resultado da convergência
de perspectivas das ciências políticas, da sociologia e da
economia.
• Assim, ela incorpora em suas proposições a ideia de
instituições e de padrões de comportamento, de normas e de
valores, de crenças e de pressupostos, nos quais encontram-se
imersos indivíduos, grupos e organizações.
• Há grande mérito nessa perspectiva ao compreender os
aspectos técnicos e institucionais das estruturas
organizacionais como facetas de uma mesma dimensão
(MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 1999).
25
Teoria Institucional
Conclusões
• A teoria institucional oferece uma extensão importante e
distintiva ao repertório de perspectivas e abordagens para
explicar a estrutura organizacional.
• Apesar da noção de racionalidade limitada ter se tornado
básica na pesquisa organizacional, as implicações disso não
são exploradas em profundidade pela maioria das teorias.
• Assim, a teoria institucional oferece um quadro de referência
que pode ser útil na abordagem de várias questões relevantes
sobre as organizações e suas estruturas (TOLBERT;
ZUCKER, 1999).

26
Referências
Bibliográficas

1. MACHADO-DA-SILVA, C. L; GONÇALVES, S. A. Nota técnica: A teoria


institucional. In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de
estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1999, p. 218-225. v. 1.
2. TOLBERT, P. S.; ZUCKER, L. G. A Institucionalização da teoria institucional.
In: CLEGG, S. R.; HARDY, C.; NORD, W. R. Handbook de estudos
organizacionais. São Paulo: Atlas, 1999, p. 194-217. v. 1.

vitor_correa@msn.com
27
Centro de Ciências Jurídicas e
Econômicas (CCJE/UFES)
Departamento de Ciências
Contábeis (DCC)

Teoria Crítica e Abordagens


Pós-modernas para Estudos
Organizacionais
Prof. Dr. Vitor Correa da Silva
1
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Assuntos abordados
➢ Introdução;
➢ Definindo Tentando Definir a Teoria Crítica e o Pós-modernismo;
➢ Fontes Teóricas e Distinção;
➢ Respostas ao Modernismo;
➢ Diferenças relevantes para outros paradigmas;
➢ Explorando a Teoria Crítica (Crítica Ideológica e Ação
Comunicativa);
➢ Contribuição dos Estudos Críticos da Organização;
➢ Explorando o Pós-modernismo;
➢ Comparativo: Teoria Crítica x Pós-modernismo;
➢ Relevância Conjunta da Teoria Crítica e do Pós-Modernismo. 2
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Introdução
• Segundo Alvesson e Deetz (1999), comparada à maioria das
outras perspectivas de pesquisa para os estudos de gestão, a
maior parte das diversas teorias críticas e posições pós-
modernistas ainda são relativamente novas.
• O pós-modernismo e a teoria crítica merecem ser estudados
não porque são novos, mas porque proporcionam caminhos
únicos e importantes para compreender as organizações.
• Comparados à outras ciências, os pesquisadores de estudos
organizacionais foram relativamente tarde para os textos de
teoria crítica (fim dos anos 1970) e de pós-modernismo (fim
dos anos 1980). Talvez devido ao caráter dogmático e
excludente da tradição dominante de pesquisa (modernista).
3
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Introdução
• A administração num discurso modernista trabalha na base
do controle, da crescente racionalização e colonização
progressiva da natureza e das pessoas, enquanto trabalhadores,
consumidores potenciais ou sociedade.
• A mudança da manufatura para o setor de serviços tem
alterado o objeto de controle administrativo tem sido cada vez
menos o poder trabalhista e o comportamento, e cada vez mais
o poder da mente e a subjetividade dos empregados.
• Essas novas condições sociais propiciaram trabalhos da teoria
crítica e pós-modernistas com análises bastante inovadoras e
instrutivas (ALVESSON; DEETZ, 1999).
4
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Definindo Tentando Definir a Teoria Crítica
• À teoria crítica são atribuídos trabalhos que levam a uma
posição basicamente crítica ou radical na sociedade
contemporânea.
• As principais pesquisas abordam temas como a investigação
da exploração, repressão, injustiça, relações de poder
assimétricas (geradas por classe, sexo ou posição),
comunicação distorcida e falsa consciência.
• A maioria dos trabalhos se baseia prioritariamente, mas não
exclusivamente, em conceitos da Escola de Frankfurt de
pesquisadores como Adorno, Horkheimer, Marcuse e
Habermas (ALVESSON; DEETZ, 1999).
5
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Definindo Tentando Definir o Pós-modernismo
• O pós-modernismo é mais difícil de ser delimitado. O termo
tem sido usado para descrever um período histórico de
mudanças sociais e um conjunto de abordagens filosóficas.
• Em teoria das organizações, essas abordagem emergiram a
partir dos trabalhos de Derrida e Foucault, em particular, e
em menor grau de Baudrillard, Deleuze, Guattari, entre outros.
• Bem mais do que com teoria crítica, este é um amplo grupo de
pesquisadores e posições, com programas de pesquisa bastante
diferentes.
• Mesmo assim, o trabalho deles compartilha características e
movimentos semelhantes (ALVESSON; DEETZ, 1999).
6
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Definindo Tentando Definir o Pós-modernismo
• Seus temas incluem foco na natureza construída das pessoas e
da realidade, enfatizando a linguagem como um sistema de
distinções que são centrais no processo de construção.
• Argumentam contra as grandes narrativas e os sistemas
teóricos de larga escala, como o marxismo ou o
funcionalismo, enfatizando a relação poder/conhecimento e o
papel das exigências técnicas nos sistemas de dominação.
• Enfatizam o caráter fluido e hiper-real do mundo
contemporâneo e o papel dos meios de comunicação de
massas e das tecnologias de informação, e apontando a
narrativa/ficção/retórica como central para o processo de
pesquisa (ALVESSON; DEETZ, 1999).
7
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Fontes Teóricas e Distinção
• Tanto autores críticos quanto pós-modernos posicionam seus
trabalhos em torno de quatro desenvolvimentos específicos do
pensamento ocidental:
1) A relação poder/conhecimento que surge com o
perspectivismo de Nietzsche;
➢ Todo conhecimento reivindica como referência primária as
comunidades sociais eivadas de relações de poder específicas,
em lugar de um mundo de essências ou objetos de
conhecimento (ALVESSON; DEETZ, 1999).

8
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Fontes Teóricas e Distinção
2) Um “construcionismo” não dualista devido à experiência e à
linguagem que surge com a hermenêutica fenomenológica e
com o estruturalismo linguístico:
➢ Situou todas as perspectivas dentro de contextos
sociais/históricos/linguísticos específicos: a
intersubjetividade que precede qualquer subjetividade ou
objetividade é estruturada em formas inteligíveis
(ALVESSON; DEETZ, 1999).

9
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Fontes Teóricas e Distinção
3) Uma teoria de conflito social historicamente embasada em
Marx:
➢ Posicionou as perspectivas social/histórico/linguísticas
dentro de divisões sociais materialmente produzidas, e negou
qualquer desenvolvimento histórico unitário homogêneo.
(ALVESSON; DEETZ, 1999).
4) Um sujeito humano complexo, que vem de Freud.
➢ Forneceu um sujeito complexo, guiado por conflitos e
frequentemente alienado, em lugar de uma pessoa
consciente, unitária, autônoma, desafiando, assim, qualquer
pretensão a uma racionalidade simplória e a uma identidade
clara e fixa (ALVESSON; DEETZ, 1999). 10
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Fontes Teóricas e Distinção
• Apesar desses quatro pensamentos serem utilizados pela teoria
crítica e pelo pós-modernismo, tal uso não é idêntico, ou seja,
alguns aspectos são mais relevantes para uma que para a outra.
• De um modo geral, ambas compreendem que as pessoas, as
realidades e as relações sociais como constructos não
essenciais, estruturados sob condições específicas de poder e
contestação, e preenchidos com opacidades, contradições e
supressão de conflito.
• Estes diferentes conceitos proporcionam as ferramentas
historicamente específicas para encontrar os discursos
dominantes da época (ALVESSON; DEETZ, 1999).
11
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Respostas ao Modernismo
• Como a teoria crítica e o pós-modernismo contrapõem-se ao
modernismo, é importante situá-lo. O modernismo iniciou-se a
partir do iluminismo.
• O iluminismo prometeu um sujeito autônomo
progressivamente emancipado pelo conhecimento adquirido
por meio dos métodos científicos.
• Notou-se o crescimento da razão sobre a autoridade e os
valores tradicionais.
• O inimigo do iluminismo eram as trevas, a tradição, a
ideologia, a irracionalidade, a ignorância e a autoridade
hierárquica baseada na tradição (ALVESSON; DEETZ, 1999).
12
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Respostas ao Modernismo
• O iluminismo proclamou uma linguagem transparente (livre
da bagagem da ideologia tradicional) e uma verdade de
representações.
• Além de uma positividade e um otimismo na aquisição de um
conhecimento cumulativo, que conduziria à melhoria
progressiva da qualidade de vida.
• No contexto organizacional, o termo “modernista” é utilizado
para atrair a atenção para a instrumentalização das pessoas e
da natureza. (ALVESSON; DEETZ, 1999).

13
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Respostas ao Modernismo
• O modernismo organizacional é modelado pelo positivismo
por outros modos “racionais” de desenvolver um
conhecimento técnico-científico para alcançar resultados
previsíveis, medidos por produtividade e resolução técnica de
problemas, conduzindo à “boa” vida econômica e social.
• Esta última definida, principalmente, pela acumulação de
riquezas por parte de quem investe na produção e pelo
consumo por parte dos consumidores.
• O tratamento da racionalização e da burocratização em Taylor
e Weber foram claramente calcados na lógica modernista e no
raciocínio instrumental (ALVESSON; DEETZ, 1999).
14
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Respostas ao Modernismo
• A teoria crítica e a pós-modernista abrem novas discussões.
• Em particular, a teoria crítica mostrou como o próprio
modernismo estava baseado em mitos, tinha adquirido uma
autoridade arbitrária, subordinado a vida social à racionalidade
tecnológica e protegido os interesses de um novo grupo
dominante.
• A teoria crítica e o pós-modernismo descrevem o
desenvolvimento ocidental como progressivo e instrumental,
gradualmente destruindo uma sociedade tradicional, com
ganhos vantajosos, mas também com grandes custos
(ALVESSON; DEETZ, 1999).
15
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Respostas ao Modernismo
• A teoria crítica têm focado suas análises na reificação, na
universalização de interesses de segmentos sociais, na
dominação da racionalidade instrumental e da hegemonia.
• O ponto central é a crítica de dominação e os modos pelos
quais aqueles subjugados participam ativamente da própria
subjugação.
• Ao intelectual politicamente astuto está determinado um papel
ativo na produção de um entendimento esclarecido.
• A esperança é incluir grupos marginalizados na construção da
sociedade visando produzir um futuro para todos.
(ALVESSON; DEETZ, 1999).
16
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Respostas ao Modernismo
• Os pós-modernistas questionam o discurso histórico de
progresso e seu adiamento infinito da promessa social de que
mais tecnologia, mais conhecimento e uma racionalidade
desenvolvida irão, de alguma maneira, realizar a promessa.
• Fortalecem a prática de desconstrução e do resgate de
conflitos suprimidos e de grupos marginalizados.
• O intelectual não tem nenhuma posição privilegiada ou
conhecimento especial, e só pode agir de modo circunstancial
e local.
• Como não possui projeção do futuro, defende a resistência e
leituras alternativas como postura política primária, em vez de
reforma ou revolução (ALVESSON; DEETZ, 1999) 17
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Diferenças relevantes para outros paradigmas
• Alvesson e Deetz (1999) apontam os estudos críticas e pós-
modernos com claras diferenças para os demais paradigmas da
pesquisa em estudos organizacionais, principalmente, a partir
do consenso/dissenso com o discurso dominante coerente.

18
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica
• A meta central da teoria crítica tem sido criar sociedades e
lugares de trabalho livres de dominação, de modo que todos
possam ter igual oportunidade para contribuir para o
saciamento das necessidades humanas.
• Teóricos críticos consumam ter um programa de trabalho
político claro, focado nos interesses de grupos específicos
identificáveis, tais como mulheres, trabalhadores, negros, etc.
• Porém, a teoria crítica não chega a ser anti-administração,
ainda que veja as ideologias e práticas administrativas como
expressões de formas contemporâneas de dominação.
• A teoria crítica divide-se em crítica ideológica e ação
comunicativa (ALVESSON; DEETZ, 1999). 19
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
• A crítica ideológica é muito influenciada por Marx. A análise
recai sobre a ideologia, dado que os trabalhadores parecem não
perceber sua exploração na relação de dominação.
• Há também uma análise não apenas classista, mas também
sobre como o controle cultural-ideológico opera em relação a
todos os empregados, incluindo níveis de gerência.
• Os acadêmicos de administração são vistos como agentes que
apoiam técnicas de dominação administrativas.
• Quatro temas são recorrentes na crítica ideológica: i)
Naturalização da ordem social; ii) Universalização de
interesses; iii) Primazia da racionalidade instrumental e; iv)
Hegemonia (ALVESSON; DEETZ, 1999). 20
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
Naturalização da ordem social:
• Na naturalização, uma formação social é abstraída do conflito
histórico da qual se origina e é vista como concreta (natural).
Assim, as organizações e seus processos são objetos
“naturais” e respostas funcionais para “necessidades”.
• A crítica ideológica vê as organizações como construções
histórico-sociais e investiga como são formadas, mantidas e
transformadas por processos internos e externos a elas.
• Assim, discute-se a divisão de trabalho entre administração e
trabalhadores, homens e mulheres, e assim sucessivamente,
indicando as relações de poder que as resultam e as
sustentam. (ALVESSON; DEETZ, 1999). 21
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
Universalização de interesses:
• O discurso dominante equipara os interesses da corporação a
interesses específicos, como o dos trabalhadores, dos
fornecedores etc., isto é, interesses gerenciais universalizados.
• Na crítica ideológica, as vantagens gerenciais são produzidas e
reproduzidas por meio de práticas ideológicas na sociedade e
nas próprias corporações.
• Estudos críticos exploram como a articulação dos interesses é
distorcida pelo papel dominante do dinheiro e confronta
produtividade e consumo com valores suprimidos, como
autonomia e criatividade (ALVESSON; DEETZ, 1999).
22
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
Primazia da racionalidade instrumental:
• A racionalidade técnica é instrumental, ou seja, atua com
enfoque no controle por meio do desenvolvimento de cadeias
de meios e fins.
• Em oposição, a racionalidade prática, conceituada por
Habermas, focaliza o processo de compreensão e
determinação mútua dos fins a serem atingidos, em lugar do
controle dos meios de realização e de metas.
• À medida que a racionalidade técnica domina, ela reivindica
para si todo o conceito de racionalidade, tornando as demais
irracionais. Neste sentido, ela é alvo de questionamento pelos
estudos críticos. (ALVESSON; DEETZ, 1999). 23
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
Hegemonia:
• Gramsci vê a hegemonia como uma rede de arranjos que
produzem a estrutura mais profunda da vida cotidiana. No
trabalho, esse arranjo é formado por contratos e sistemas de
recompensa, além da defesa de valores e visões específicas.
• O sistema hegemônico cria um senso comum e sustenta um
modo normal de ver o mundo. Assim, os próprios desejos do
homem podem ser frutos de um sistema que atua contra ele.
• Alguns trabalhos críticos tem apontado que os próprios
empregados traçam estratégias para a própria subordinação,
perpetuando sistemas de dominação que impedem sua
autonomia (ALVESSON; DEETZ, 1999). 24
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
Críticas à Crítica Ideológica:
• Segundo Alvesson e Deetz (1999), as críticas mais comuns são:
➢ Reativa: a maioria dos estudos explica, depois do fato, por que
algo não aconteceu, em vez de fazer declarações preditivas e
testáveis sobre o futuro.
➢ Elitista: conceitos como "falsas necessidades" e "falsa
consciência", sugerem uma fraqueza de raciocínio das mesmas
pessoas a que ela pretende dar poder.
➢ Simplistas: como se um grupo (racional, autônome e reflexivo)
montasse um sistema para dominar controlando ideias e
protegendo seus interesses. 25
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Crítica Ideológica
Respostas às Críticas à Crítica Ideológica:
• Segundo Alvesson e Deetz (1999), a Crítica Ideológica tem
buscado responder a esses questionamentos da seguinte forma:
➢ Defendendo mais a pesquisa empírica.
➢ Refreando declarações sobre o que as pessoas deveriam fazer,
mas enfatizando a problematização da dominação.
➢ Tratando ideologias como dominantes sem vê-las como simples
instrumento ou no interesse de um grupo de elite, mostrando
que elites podem sofrer os efeitos do conjunto de ideias
hegemônicas.
26
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Ação Comunicativa
• A ação comunicativa é fortemente influenciada por Habermas.
• Habermas separa dois processos de aprendizagem e formas
de racionalidade históricos, o tecnológico-científico-
estratégico, associado ao mundo do sistema, e o
comunicativo-político-ético, associado ao mundo vivido.
• Assim, ele defende uma melhoria sistemática do mundo
vivido por meio de uma racionalidade que foca na criação e
recriação de padrões de significado.
• Neste sentido, a partir de uma ação comunicativa, pode-se
alterar o sentido das coisas, diminuindo o código do dinheiro e
valorizando uma reflexão de valores (ALVESSON; DEETZ,
1999). 27
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando a Teoria Crítica – Ação Comunicativa
• Para Habermas, o entendimento é dependente da
comunicação não distorcida, da presença da discussão livre
baseada na boa vontade, argumentação e diálogo.
• Dentre as críticas a ação comunicativa, tem-se: foco
demasiado na possibilidade de racionalidade; crença excessiva
na possibilidade de consenso; excesso de confiança na clareza
e no potencial da racionalidade da linguagem e da interação
humana; crença num modelo de indivíduo potencialmente
autônomo e esclarecido; visão muito benigna e benevolente da
espécie humana; crença de que o conhecimento e a
argumentação podem mudar o pensamento e a ação humana
(ALVESSON; DEETZ, 1999).
28
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Contribuição dos Estudos Críticos da Organização
• Segundo Alvesson e Deetz (1999), as principais contribuições
dos estudos críticos no contexto organizacional chamam a
atenção para os seguintes aspectos:
➢ Condições de trabalho constrangidas (criatividade, variação,
desenvolvimento, significação) a valores instrumentais;
➢ Desenvolvimento e reforço das relações sociais assimétricas
entre especialistas;
➢ Preconceitos diversos (gênero, raça, orientação sexual, etc.);
➢ Controle do intelecto de empregados e congelamento de sua
realidade social;
29
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Contribuição dos Estudos Críticos da Organização
➢ Controle da agenda político-ética geral da sociedade por
intermédio de meios de comunicação de massa e lobbies.
➢ Defesa do consumismo e do código do dinheiro como
parâmetro para valores e tomada de decisão política,
individual e coletiva.
➢ Destruição do meio ambiente pelo desperdício e poluição.
• Sob o disfarce de tecnocracia, a racionalidade instrumental
tem pretensões de neutralidade e independência com relação
às esferas do interesse próprio e da política (ALVESSON;
DEETZ, 1999).

30
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando o Pós-modernismo
• Apesar da dificuldade em definir o pós-modernismo, Alvesson
e Deetz (1999) compreendem que ele pode ser compreendido
pelo seguinte conjunto de ideias interrelacionadas:
➢ A centralidade do discurso;
➢ Identidades fragmentadas;
➢ A crítica da filosofia da presença;
➢ A perda dos fundamentos das grandes narrativas;
➢ A conexão poder/conhecimento;
➢ Hiper-realidade;
➢ Pesquisa como resistência e indeterminação. 31
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando o Pós-modernismo
A centralidade do discurso:
• Entende-se que a experiência do mundo é estruturada por
meio de discursos que conduzem os indivíduos.
• À medida que a pessoa aprende a falar esses discursos, eles
posicionam o indivíduo no mundo de modo particular, antes
do indivíduo ter qualquer possibilidade de escolha.
• Visto que os discursos estruturam o mundo, eles ao mesmo
tempo estruturam a subjetividade da pessoa, provendo-a com
um a identidade social particular e um modo de ser no mundo.
• Assim, a pessoa é sempre socialmente construída, e não um
ser “próprio”, natural (ALVESSON; DEETZ, 1999). 32
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando o Pós-modernismo
Identidades fragmentadas:
• Como o pós-modernismo rejeita a noção do indivíduo
autônomo, autodeterminado, a identidade é uma produção
social que visa reforçar o masculino, a racionalidade e o
controle.
• Em sociedades contemporâneas, heterogêneas, globais, há
muitos discursos e, assim, a fragmentação da identidade é
inevitável. Uma vez que a sociedade se torna mais
fragmentada, as estabilizadoras das identidades são perdidas.
• Essa posição sugere uma boa possibilidade de liberdade e
oportunidade para que grupos marginalizados entrem no
discurso (ALVESSON; DEETZ, 1999). 33
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Explorando o Pós-modernismo
A crítica da filosofia da presença:
• A ciência normativa trata a presença dos objetos como não
problemática e crê que a linguagem serve para reapresentá-los.
• Para os pós-modernos. aquilo do qual o mundo é feito só se
torna objeto para quem ele pode ser um tal objeto. Assim,
práticas linguísticas e não linguísticas “produzem” o objeto.
• Exemplo: Um trabalhador é um objeto (também um sujeito),
mas nem Deus nem a natureza fizeram um trabalhador.
• A “essência” do trabalhador não são as propriedades que o
“objeto” possui, mas um conjunto de sistemas relacionais que
o construíram (ALVESSON; DEETZ, 1999). 34
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Explorando o Pós-modernismo
A perda dos fundamentos das grandes narrativas:
• Uma posição é sempre resultado de seus embasamentos.
• O embasamento pode ser metafísico, como a natureza humana
no humanismo, ou uma narrativa da história, como a luta de
classes no Marxismo.
• Os pós-modernistas identificam que : i) as grandes narrativas
são usadas para apoiar uma visão dominante e; ii) tem havido
um crescimento da descrença nas grandes narrativas.
• Neste sentido, há um espaço para o desenvolvimento de
narrativas de caráter mais local e situacional (ALVESSON;
DEETZ, 1999). 35
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Explorando o Pós-modernismo
A conexão poder/conhecimento:
• Para os pós-modernistas, o poder reside na própria formação
discursiva para produzir formas particulares de sujeitos.
• Assim, o poder se sustenta em demarcações que fornecem
comportamentos normativos reivindicadas pelo conhecimento.
• Por exemplo, o especialista em RH e o conhecimento em RH
pode ser usado para “determinar” e subordinar empregados.
• Tal conhecimento também pode ser utilizado por empregados
para a autovigilância e autocorreção de atitudes e
comportamentos com relação a normas e expectativas
estabelecidas pelo outros (ALVESSON; DEETZ, 1999). 36
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Explorando o Pós-modernismo
Hiper-realidade:
• Os pós-modernistas veem os sistemas linguísticos ou
representacionais como autorreferentes. Eles produzem o
mesmo mundo que parecem representar com precisão.
• Por exemplo, os sistemas de informação têm a capacidade de
construir rapidamente imagens que substituem, mais do que
representam, um mundo exterior.
• Assim, sinais só se referem a outros sinais; imagens são
imagens de imagens. O mundo não é uma ficção (que teria
uma realidade), ele é um imaginário, não tem nenhum oposto,
nenhum exterior (ALVESSON; DEETZ, 1999).
37
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Explorando o Pós-modernismo
Pesquisa como resistência e indeterminação:
• O papel de pesquisa pós-moderna é muito diferente dos papéis
mais tradicionais atribuídos à ciência social. Ele busca abrir a
indeterminação que a ciência social moderna têm fechado. O
resultado é um tipo de conhecimento “antipositivo”.
• Os métodos primários são a desconstrução e as leituras como
formas de resistência.
• O ponto da ciência social não é entender certo, mas desafiar
suposições orientadoras, significados e relações fixos e
reabrir a capacidade formativa dos seres humanos em relação
a outros e ao mundo (ALVESSON; DEETZ, 1999).
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Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Comparativo: Teoria Crítica x Pós-modernismo
• Alvesson e Deetz (1999) veem a teoria crítica como uma
perspectiva elite/a priori. Nela o discurso produz o
pesquisador como um agente mais forte, com intuições
privilegiadas.
• Na teoria crítica, a pesquisa é entendida como uma agenda
política.
• Por outro lado, o Pós-modernismo é visto como uma
concepção local/emergente que vê os próprios agrupamentos
sociais como construções, o poder e a dominação como
dispersos.
• Para o pós-modernista, a própria agenda de pesquisa é vida
como dominadora. 39
Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Comparativo: Teoria Crítica x Pós-modernismo

Fonte: Alvesson e Deetz (1999). 40


Teoria Crítica e Abordagens Pós-modernas para EO
Relevância Conjunta da Teoria Crítica e do Pós-Modernismo
• Segundo Alvesson e Deetz (1999), a teoria crítica e o pós-
modernismo podem e devem contribuir conjuntamente para
os estudos organizacionais.
• Sem considerar temas pós-modernos, a teoria crítica se torna
pouco reflexiva em relação ao elitismo cultural e às condições
modernas de poder.
• Sem incorporar alguma medida de pensamento de teoria
crítica, ou algo semelhante, que proveja direção e relevância
social, o pós-modernismo se torna esotérico.
• Assim, a tem-se a necessidade de ambos. A questão não deve
ser “qual deles”, mas o equilíbrio, escolhendo os momentos
certos para cada um. 41
Referências
Bibliográficas

1. CALDAS, Miguel P.; BERTERO, Carlos Osmar. Teoria das organizações.


São Paulo: Atlas, 2007..

vitor_correa@msn.com
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