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| Parasitologia

Prof. Dra. Livia Mattos Martins


Gênero Leishmania e Leishmaniose
Informações chave (Segundo a WHO):
• Existem 3 formas principais de leishmaniose – visceral (também conhecida como
calazar, que é a forma mais grave da doença), cutânea (a mais comum) e mucocutânea.
• A leishmaniose é causada por parasitas que são transmitidos pela picada de
flebotomíneos fêmeas infectadas.
• A doença afeta algumas das pessoas mais pobres e está associada à desnutrição,
deslocamento populacional, moradia precária, sistema imunológico fraco e falta de
recursos financeiros.
• A leishmaniose também está ligada a mudanças ambientais, como desmatamento,
construção de barragens, esquemas de irrigação e urbanização.
• Estima-se que 700.000 a 1 milhão de novos casos ocorram anualmente.
• Apenas uma pequena fração dos infectados por parasitas causadores de leishmaniose
acabará por desenvolver a doença.
Leishmania sp.
Classificação:
Filo Sarcomastigophora
Sub-filo Mastigophora
Ordem Kinetoplastida
Família Trypanosomatidae
Gênero Leishmania

Características gerais
Protozoário flagelado
Dois hospedeiros obrigatórios → heteróxeno

- Hospedeiro invertebrado: lúmen do trato digestivo de fêmeas de insetos hematófagos


conhecidos como flebotomíneos (Diptera: Psychodidae da subfamília Phlebotominae, gênero
Phlebotomus ou Lutzomyia).

- Hospedeiro vertebrado: células do sistema mononuclear fagocitário (SMF), principalmente


macrófagos, de uma grande variedade de mamíferos. Comumente roedores e canídeos e
eventualmente o homem.
•Polimórfico: Promastigota
Paramastigota Inseto
Promastigota metacíclico
Amastigota Hospedeiro mamífero
• Reprodução por divisão binária

Macrófago com
amastigotas
Ciclo de vida
Espécies do gênero Leishmania de acordo com
a classificação de Lainson e Shaw, 1987.
Subgênero Leishmania Subgênero Viannia
L. (Leishmania) L. (V.) braziliensis*
donovani L. (V) guyanensis*
L. (L.) infantum L. (V) panamensis *Espécies encontradas parasitando
L. (L.) chagasi* L. (V) peruviana humanos no Brasil.
L. (L.) archibaldi L. (V) lainsoni* **Espécies exclusivamente de animais.
L. (L.) tropica L. (V) naiffi*
L. (L.) aethiopica L. (V) shawi*
L. (L.) major L. (v.) colombiensis
L. (L.) gerbilli** L. (V) lindenberg*
L. (L.) mexicana*
L. (L.) amazonenses*
L. (L.) venezuelensis
L. (L.) enriettii"
L. (L.) aristidesi
L. (L.) pifanoi
L. (L.) gamhami
L. (L.) hertigi**
L. (L.) deanei**
A espécie infectante é
importante para o fenótipo
da
patologia desenvolvida em
indivíduos
imunocompetentes

A expressão diferencial ou
presença/ausência de genes
provavelmente causa as
diferenças nas patologias
observadas
O complexo Leishmania braziliensis
e as Leishmanioses Tegumentares
Americanas (LTA).
Leishmaniose tegumentar americana (LTA)
• Lesões cutâneas de vários tipos, muitas vezes com lesões secundárias
na região nasal ou bucofaringea.
• Dependendo da espécie e da resposta imune do indivíduo infectado a
doença pode se manifestar por um espectro de formas clínicas:
• Leishmaniose cutânea (LTC)
• Leishmaniose cutaneomucosa (LCM)
• Leishamniose cutânea difusa (LCD)
Leishmaniose cutânea
• Na área do local da picada observa-se além da destruição celular, outras
modificações histológicas:
• Hiperplasia histiocitária
• Edema e infiltração celular
• Alterações vasculares
• Hiperplasia do epitélio
• A evolução pode apresentar cursos diferentes: desde a completa regressão,
à evolução lenta sem ulceração.
• Porém frequentemente a inflamação cutânea progride para necrose
formando uma úlcera.
• Causada por diferentes espécies de Leishmania
Leishmaniose cutânea
Leishmaniose cutâneomucosa
• Independente do curso da lesão cutânea há uma forte tendência para
a formação de metástase na mucosa nasal.
• Propagação se dá provavelmente por via hematogênica.
• Nódulos com tendência a ulceração localizados próximos ao septo
nasal.
• Pode-se progressivamente perfurar o septo e as partes moles
contíguas, com o processo se estendendo à faringe e laringe.
• O agente etiológico é a L. braziliensis
Leishmaniose cutâneomucosa
Leishmaniose difusa
• Caracteriza-se pela formação de lesões difusas não ulceradas por toda
a pele, contendo grande número de amastígotas.
• Associado a deficiência imunológica do paciente
• Provocada por parasitos do complexo mexicana, cujo agente
etiológico no Brasil é L. amazonensis.
Leishmaniose difusa
Leishmaniose tegumentar do velho mundo
• Semelhante a LTA em sua apresentação clínica e diagnóstico.
• Causada pelas espécies:
• L. (L.) tropica;
• L. (L.) major;
• L (L.) aethiopica.
• Vetores:
• Phlebotomus papatasi, P. sergenti, P. chabaudi, e P. peifiliewi, entre outros.
Distribuição mundial
Número de casos registrados no Brasil
Total de casos
Total de casos - Sudeste
30000 2500

25000 2000

20000 1500

15000 1000

10000
500

5000
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo

Fonte: TabNet, DATASUS


Distribuição no Brasil
Distribuição no Brasil
Casos no Brasil por região
12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

1 Região Norte 2 Região Nordeste 3 Região Sudeste 4 Região Sul 5 Região Centro-Oeste

Fonte: TabNet, DATASUS


O complexo Leishmania donovani
e a Leishmaniose visceral
(Calazar)
• Causada por Leishmania donovani (África Oriental, Índia e China) e
Leishmania infantum (Mediterrâneo, África Ocidental e central,
Oriente Médio e China).
• No Brasil Leishmania chagasi (= L. donovani)
Formas clínicas
• Forma assintomática: Adultos jovens e crianças maiores; evolução
lenta e sintomas discretos. Geralmente sem diagnóstico →
subnotificação.
• Forma aguda: Evolução rápida e fatal (entre 20 e 40 dias) →
especialmente em lactentes, crianças menores de 2 anos ou mais
velhas e subnutridas.
• Forma sub-aguda: Frequentemente entre crianças → evolução entre
10 e 15 meses, podendo levar a morte.
• Formas crônicas: Evolução lenta durante anos, com fases de recaída e
remissão. Em crianças maiores e adultos. Fase mais responsiva aos
tratamentos.
Os diferentes tipos de Leishmaniose na clínica

• Enfermidade crônica
- Caracterizada por:
• febre irregular e de longa duração
• hepatoesplenomegalia
• linfoadenopatia
• Anemia com leucopenia
• Hipergamaglobulinemia
• Emagrecimento
• Edema
• Caquexia e morte se não for tratado, dentro de 2 anos
Distribuição mundial

• 50 000 to 90 000 novos casos


por ano
• 90% dos novos casos: Brazil,
China, Ethiopia, Eritrea, India,
Kenya, Somalia, South Sudan,
Sudan and Yemen.
Casos no Brasil por Região
3000

Distribuição no Brasil 2500

2000

1500

1000

500

0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

1 Região Norte 2 Região Nordeste 3 Região Sudeste


4 Região Sul 5 Região Centro-Oeste 0 Ignorado/Exterior

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de


Agravos de Notificação - Sinan Net

Fonte: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO.


UNA-SUS/UFMA. Vigilância e controle da Leishmaniose Visceral São Luís, 2017. 3
Distribuição no Brasil

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net


Diagnóstico - LTA
• Suspeita clinico-epidemiológica associada a intradermorreação de
Montenegro (IDRM) positiva e/ou demonstração do parasito no exame
parasitológico direto em esfregaço de raspado da borda da lesão, ou no
inprint feito com o fragmento da biopsia; em histopatologia ou
isolamento em cultura.
Diagnóstico - LTA
• Imunofluorescência
• não deve ser utilizada como critério isolado para diagnostico de LTA.
Mas pode ser usada como ferramenta adicional no diagnostico
diferencial com outras doenças, especialmente nos casos sem
demonstração de qualquer agente etiológico.
• ELISA
Diagnóstico diferencial - LTA
• Recomenda-se a confirmação do diagnostico por método
parasitológico, antes do inicio do tratamento, especialmente naqueles
casos com evolução clinica fora do habitual e/ou má resposta a
tratamento anterior.

• Forma cutanea- Ulceras traumaticas, ulceras vasculares, ulcera tropical,


paracoccidioidomicose, esporotricose, cromomicose, neoplasias
cutaneas, sifilis e tuberculose cutanea.
• Forma mucosa- Hanseniase virchowiana, paracoccidioidomicose, sifilis
terciaria, neoplasias
Diagnóstico diferencial - LTA

As Leishmanias são vistas nas formas amastigotas


Diagnóstico - LV
• Clinico-epidemiológico e laboratorial.
• Exames imunológicos e parasitológicos
• Exames sorológicos
• imunofluorescência e Elisa (esse ultimo não disponível no SUS).
• Exames parasitológicos
• Encontro de formas amastigotas do parasito, em material biológico
obtido preferencialmente da medula óssea, do linfonodo, ou do baço.
• Maior sensibilidade (90 a 95%): punção esplênica.
• Mais seguro: punção da medula óssea
Diagnóstico - LV
• Exames inespecíficos: São importantes devido as alterações que
ocorrem nas células sanguíneas e no metabolismo das
proteínas.
• Hemograma: diminuição de hemácias, leucopenia, com
linfocitose relativa, e plaquetopenia. A anaeosinofilia e
achado típico, não ocorrendo quando há associação com
outras patologias, como a Esquistossomose ou a
Estrongiloidíase.
• Dosagem de proteínas: ha forte inversão da relação
albumina/ globulina
Tratamento
Leishmaniose canina
• Cães são reservatórios para a Leishmaniose.
• Cães assintomáticos: ausência de sinais clínicos sugestivos da infecção
por Leishmania.
• Cães oligossintomáticos: presença de adenopatia linfóide, pequena
perda de peso e pêlo opaco.
• Cães sintomáticos: todos ou alguns sinais mais comuns da doença
como as alterações cutâneas (alopecia, eczema furfuráceo, úlceras,
hiperqueratose), onicogrifose, emagrecimento, ceratoconjuntivite e
paresia dos membros posteriores.
Vetores da Leishmaniose no Braisil
• Lutzmyia whitimani
• L. pessoai
• L. migonei LTA
• L. intermedia
• Outros

• L. longipalpis → LVA
Ecologia dos flebotomíneos:
Desenvolvimento e comportamento

• 40-70 ovos por desova, agrupados em lugares humidos, eclodem depois 6-17 dias
• Larvas se nutrem de matéria orgânica por mais 15-70 dias, depois pupa (7-14 dias)
• Adultos são ativos no crepúsculo ou a noite, durante o dia permanecem em lugares
tranquilos: tocas, arvores ocas, currais, moradias
• Não sobrevivem bem em ambientes que não tenham pelo menos um mes T acima
de 20°C
“Mosquito palha”

fêmea macho
Medidas preventivas
• Dirigidas ao homem
• uso de repelentes, mosquiteiros de malha fina, telas em portas e janelas, bem
como evitar se expor nos horários de atividade do vetor (crepúsculo e noite).
• Dirigidas ao vetor
• Limpeza de quintais e terrenos, limpeza periódica de abrigo de animais
domésticos, mantendo-os afastados do domicilio,
• eliminação de resíduos sólidos orgânicos e destino adequado dos mesmos
• poda de arvores
• Medidas educativas
• Divulgação à população sobre a ocorrência de LV e LTA visando a adoção de
medidas preventivas.
Para estudar:
• REY, L. Parasitologia. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008,
Capítulos 5 e 6. (observando os tópicos dados em aula). DISPONÍVEL
NA MINHA BIBLIOTECA
• NEVES, D. P., Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo: Atheneu,
2004Capítulos 7, 8 e 10 (observando os tópicos dados em aula).

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