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Manual da Raiva – Profilaxia e Vigilância Epidemiológica

I. INTRODUÇÃO

Apesar da raiva ser uma doença pouco comum no homem, a sua distribuição

é mundial. Alguns países da Europa e Ásia já se encontram livres da doença.

Em Moçambique, registam-se casos da doença em todo o país, com maior

incidência nas províncias do Norte.

1. CLASSIFICAÇÃO

A raiva classifica-se em:

(1) Raiva Urbana

(2) Raiva Rural ou Silvestre

A raiva urbana ocorre principalmente entre cães, por vezes entre outros

animais de estimação, enquanto que a raiva silvestre ou rural, é uma doença

de animais selvagens carnívoros e morcegos.

2. DESCRIÇÃO DA DOENÇA

A raiva é uma encefalomielite aguda de origem viral, invariavelmente fatal. É

uma doença primária dos animais que pode ser transmitida ao Homem.

O início da doença caracteriza-se por:

- sensação de angústia;

- cafaléias;

- febre;

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- mal estar geral;

- alterações sensoriais indefinidas, muitas vezes referidas à região da

mordedura do animal.

A doença evolui com manifestações de parésia ou paralisia. O espasmo dos

músculos da deglutição na tentativa de engolir a saliva leva o paciente a ter:

- medo da água (hidrofobia);

- salivação abundante (sialorréia);

- delírio;

- convulsões.

Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia muscular,

levando a alterações cárdio-respiratórias, retenção urinaria e

obstipação intestinal.

Sinais típicos da Raiva:

 Excitabilidade

 Sialorréia

 Hidrofobia

 Fotofobia

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O paciente mantém-se consciente, com períodos de alucinações até a

instalação do quadro comatoso e evolução para a morte.

A duração da doença é geralmente de 2 a 7 dias, por vezes mais longa. A

morte surge frequentemente por paralisia respiratória.

2.1. Agente etiológico

O agente causador da raiva é o vírus da raiva humano, da família

Rhabdoviridae , do género Lyssavírus.

2.2. Reservatório

Os animais conhecidos sendo os reservatórios mais importantes e

responsáveis pela raiva silvestre, são:

- manguço (macaco);

- gato selvagem;

- cão selvagem;

- raposa.

No entanto, outros animais selvagens podem ser também infectados, como

por exemplo, os morcegos.

No País, o reservatório mais importante da raiva urbana e mesmo rural

parece ser o cão. No entanto há registos de raiva humana causados por

animais selvagens.

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2.3. Modo de transmissão

Existem duas formas de transmissão do vírus da raiva:

(1) de animal a animal;

(2) do animal ao Homem directamente, mediante inoculação do vírus

contido na saliva do animal infectado, principalmente através da

mordedura e mais raramente pela arranhadura ou lambidela.

O ciclo de transmissão entre animais selvagens é mal conhecido em

Moçambique. Ocasionalmente os animais selvagens podem infectar os

animais que entram em contacto com o Homem, nomeadamente:

i. cão doméstico, como acontece na maioria dos casos

ii. outros animais domésticos como o gato, a vaca e cabritos.

Nos animais, o vírus pode ser transmitido de mãe para filho. Mais

raramente, o homem (sobretudo os caçadores e as pessoas que trabalham no

mato) pode entrar em contacto directo com animais selvagens.

No tocante à transmissão homem-homem, pouco se conhece; na literatura

foram descritos apenas 2 casos de raiva inter-humana que ocorreram após o

transplante da córnea. No página 5, é apresentado um esquema sobre o

modo de transmissão (esquema 1).

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2.4. Período de incubação

O período de incubação é variável, oscilando desde alguns dias (geralmente,

mais de 10 dias) até 1 ano (excepcionalmente até 7 anos), sendo a média de

45 dias, no homem. No cão o período de incubação varia de 10 dias a 2

meses no cão.

Esquema 1: Ciclos epidemiológicos da transmissão da raiva

Morcegos
Hematófagos
Carnívoros Raposas Cão
(Raposas)

Outros
animais Outros animais Homem Gato Homem
domésticos

Quirópteros
(Morcegos) Outros
animais
Cão

Silvestre Rural Urbana

2.5. Período de transmissibilidade

O período de transmissibilidade da doença no cão e na maioria dos animais

que mordem é:

(i) de 3 a 5 dias antes do início dos sinais clínicos

(ii) durante a evolução da doença.

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2.6. Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito utilizando-se as seguintes técnicas:

(1) Clínico-epidemiológico

(2) Laboratorial por imunoflorescência directa de:

- amostra da saliva (esfregaço);

- impressão da córnea;

- raspado da mucosa lingual e outros tecidos.

(3) Determinação de IgM específica no soro, secreção lacrimal ou

salivar

Um exame negativo não exclui a possibilidade de infecção.

A autópsia é de extrema importância para a confirmação do

diagnóstico.

No país o diagnóstico é clínico-laboratorial.

É também possível confirmar o diagnóstico no cão.

3. GRUPOS DE RISCO

As crianças correm um maior risco de serem mordidas por animais do que

os adultos.

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Em geral, as pessoas que correm maior risco de contrair a raiva são as que

mais frequentemente estão em contacto com os animais infectados, tais

como:

- os médicos veterinários;

- os estudantes de veterinária;

- os trabalhadores dos serviços de veterinária;

- os encarregados de captura de animais domésticos ou selvagens;

- os caçadores.

4. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA DOENÇA NO PAÍS

Analisando o perfil epidemiológico da doença, podem ser identificados 2

períodos distintos (Gráfico 1):

- entre 81 e 94, caracterizado pela notificação apenas de casos da

doença, ou seja, de óbitos.

- a partir de 1995, caracterizado pela notificação de todos os casos

suspeitos, facto que originou “um aumento brusco no número de casos

notificados”, que não é acompanhado pelo número de óbitos (casos de

doença). Este aumento poderá estar relacionado com a recomendação

dada pelo Gabinete de Epidemiologia; qualquer caso de mordedura que

exigisse a administração da vacina anti-rábica, deveria ser notificado

como caso suspeito de raiva, como forma de melhor se planificar a

aquisição e controlo do soro anti-rábico.

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Gráfico 1: Casos e suspeitos de raiva, 1981, 2000

1987
2000

1800
1601 1632 1658
1600
Casos e suspeitos

1400

1200

1000 922

800

600
357
400

200 44
5 11 7 9 16 21 12 16 37 13 20 10 8
0
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00

Ano

Fonte: MISAU/Gabinete de Epidemiologia

Analisando a situação da doença por província, entre 1995 e 2000 (Gráfico

2), verificou-se que das províncias com notificação, Maputo Cidade e Niassa

foram as que apresentaram menor número de casos, enquanto que Manica

foi a Província com mais casos em 95 e 96 (cerca de 33% e 40%,

respectivamente). Em 1997, foi a Província de Gaza com 21%; em 98 e 99 a

Zambézia, com 52% e 53%, respectivamente; e, em 2000 Nampula, com 73%

dos casos.

Embora, não haja evidências é provável que os casos notificados na Cidade

de Maputo sejam provenientes da Província de Maputo (arredores da

Cidade). Por outro lado, o baixo número notificado na Cidade de Maputo

poderá estar relacionado com a diminuição da população canina vadia,

situação inversa à da Província de Nampula.

Dados do censo canino levado a cabo entre 92 e 96, mostraram que em

Nampula a população de caninos aumentou de 6.200 para 13.667, enquanto

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que em Maputo (Cidade e Província) este foi de 4.032 para 8.483. Por outro

lado, neste período, as acções de vacinação mostraram que o total de cães

vacinados em Maputo (Cidade e Província) foi de 22.364, contra os 6.602 em

Nampula.

Gráfico 2: Casos (óbitos) por Província, 1995-2000

C. Delgado 13 0 14 0

Niassa 070
04

Nampula 27 27 18 35 23 73

Zambezia 7 20 7 52 32 8

Tete 0

Manica 33 40 404

Sofala 13 0 18 4 9 0

Inhambane 70 18 9 18 4

Gaza 07 21 0 18 4 95 96 97 98 99 2000

Map. Prov 0

Map. Cidade 04

Fonte: MISAU/Gabinete de Epidemiologia

É de salientar que Tete e Maputo Província não notificaram casos (Gráfico

2), facto que poderá estar relacionado com (a) falta de notificação e/ou (b)

por a população não procurar os cuidados de saúde.

Para além dos aspectos anteriormente citados, é de referir a importância

dos municípios na coordenação multisectorial (Saúde, Faculdade de

Veterinária, Agricultura e ONGs), não só com vista à actualização do registo

da população canina e do número de mordeduras, mas também, no controle

de cães vadios. A produção de vacinas e consequente vacinação dos animais

são actividades igualmente importantes.

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II. RAIVA NOS ANIMAIS E QUADRO CLÍNICO

1. GENERALIDADES

É muito difícil definir o período de transmissão e a duração da doença nos

animais selvagens. Sabe-se no entanto, que o período de transmissão nos

animais domésticos começa entre 2 a 5 dias antes do início da doença e

continua até à morte do animal.

A duração da doença, nos animais domésticos, varia entre 1 a 10 dias,

podendo atingir 6 meses em situações raríssimas.

O período de incubação do vírus da raiva no cão varia entre 10 dias a 2

meses.

O período de transmissão nos animais domésticos,

começa entre 2 a 5 dias antes do início da doença e,

continua até a morte do animal.

O período de incubação do vírus da raiva no cão,

varia entre 10 dias a 2 meses.

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2. QUADRO CLÍNICO

Nos animais, a doença pode manifestar-se sob duas formas:

(1) Paralítica;

(2) Furiosa.

Nos restantes animais domésticos, os sinais de raiva são semelhantes aos

dos cães, mas em geral, as formas paralíticas são mais frequentes do que as

formas furiosas.

A doença, manifesta-se inicialmente com uma mudança de comportamento.

O cão esconde-se em esquinas escuras e excita-se facilmente.

Depois de 1-3 dias, o cão torna-se agressivo, com tendência a morder

objectos, animais, o homem, incluindo o próprio dono; nesta altura

apresenta-se com sialorréia (abundante salivação) e hidrofobia.

Na última fase da doença, o cão tem convulsões e paralisia dos músculos.

Às vezes a paralisia é o sinal mais importante da doença, sendo a fase de

excitação muito curta ou ausente. O cão morre entre 1 a 3 dias após o

início desta fase.

Nos animais selvagens é difícil descrever os sinais de raiva; mas com base

em dados experimentais e epidemiológicos sabe-se que as manifestações

são similares às dos cães.

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III. RAIVA NO HOMEM E QUADRO CLÍNICO

1. GENERALIDADES

A raiva humana é praticamente 100% mortal e, portanto, é fundamental que

qualquer profissional de saúde seja capaz de identificar precocemente os

seus sinais e sintomas.

A raiva humana é uma doença rara e fatal,

mas pode ser PREVENIDA!

2. PERÍODO DE INCUBAÇÃO

O período de incubação da raiva humana varia entre 2 a 8 semanas (média

45 dias) mas, pode ser mais curto (10 dias) ou mais longo (1 ano ou mais). A

sua duração depende (i) do tipo e (ii) da localização da lesão infectante.

Nas crianças este período pode ser mais curto do que nos adultos. O

período de incubação depende da:

- gravidade da lesão;

- localização da lesão; ()

- quantidade de vírus inoculado;

- riqueza de inervação no local da mordedura;

- distância da lesão em relação ao cérebro;

- protecção proporcionada pela roupa da vítima.


()
: A localização da lesão é um aspecto particularmente importante, independentemente do grupo etário.

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3. QUADRO CLÍNICO

O vírus da raiva afecta essencialmente o sistema nervoso, pelo que não se

encontra no sangue, podendo, no entanto, ser encontrado em diversos

órgãos na altura da morte do paciente.

A doença tem duas fases distintas, nomeadamente:

 Fase Inicial

 Fase de Excitação

3.1. Fase Inicial

A Fase Inicial da doença caracteriza-se por:

- sensação de angústia;

- mal estar geral;

- alterações da sensibilidade referidas no local da lesão ou ferida.

3.2. Fase de Excitação

Esta fase é caracterizada por:

- aumento da sensibilidade à luz (fotofobia) e ao ruído;

- dilatação das pupilas;

- aumento da salivação;

- início de espasmos dos músculos da deglutição;

- violentas contracções musculares (hidrofobia).

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Muitos doentes têm espasmos à simples vista de um líquido,

não conseguindo engolir saliva.

Às vezes observam-se espasmos dos músculos respiratórios e contracções

generalizadas.

A fase de excitação pode durar até a morte, ou pode ser mais curta e

ser substituída por uma fase de paralisia generalizada e morte.

Lembre-se que os sinais típicos da Raiva são:

 Excitabilidade

 Sialorréia

 Hidrofobia

 Fotofobia

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IV. BIOSSEGURANÇA E TRATAMENTO DO DOENTE COM RAIVA

1. BIOSSEGURANÇA

O pessoal de saúde que atende um doente com raiva deve observar as

seguintes normas de biossegurança:

 uso de aventais, luvas e máscaras;

 desinfecção concomitante de todos os objectos contaminados com a

saliva do doente;

 desinfecção dos aventais, luvas e máscaras;

 “vacinação pré-exposição”, do pessoal da enfermaria que costuma

tratar os doentes com raiva;

 “vacinação pós-exposição”, em caso de contacto (i) com feridas

abertas e (ii) mucosas contendo a saliva do doente.

2. TRATAMENTO DO DOENTE COM RAIVA

2.1. Generalidades

Como mencionado anteriormente, esta é uma doença 100% fatal; não existe

um tratamento específico para a raiva humana. O tratamento é

fundamentalmente sintomático.

Os cuidados clínicos têm por objectivo aliviar o sofrimento do doente.

Aconselha-se uma sedação muito pesada com drogas disponíveis. Não é

aconselhável o uso de antibióticos e de líquidos por via endovenosa, que

seria apenas um desperdício de medicamentos. Isto porque uma vez

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instalado o quadro clínico o doente evolui para a morte. Em raríssimos casos

é possível a recuperação do doente mediante cuidados intensivos

extremamente sofisticados.

O doente deve ser submetido a um isolamento rigoroso numa tenda ou

quarto escuro e silencioso enquanto durar a doença.

O paciente deve ser imediatamente isolado num local

escuro e silencioso.

Não são permitidas visitas e,

sempre que possível, deve ser sempre tratado pelo mesmo enfermeiro.

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V. PREVENÇÃO DA RAIVA HUMANA

1. Tratamento da ferida

A lavagem imediata das feridas com água abundante e sabão é a medida

mais importante para a prevenção da raiva humana, pois esta constitui a

porta de entrada do vírus.

Esta recomendação deve ser incluída em todos os programas de educação

sanitária, para que as pessoas mordidas façam uma primeira lavagem

imediatamente após a mordedura, antes de chegar à unidade sanitária mais

próxima.

A ferida deve ser lavada com abundante água e sabão, antes mesmo da

pessoa afectada se dirigir à Unidade Sanitária.

Na unidade sanitária, qualquer caso de mordedura ou outra lesão provocada

por animais, deve ser sujeita a (i) lavagem e (ii) infiltração.

1.1. Lavagem da ferida

O tratamento local da ferida só tem importância se for aplicado

imediatamente após a exposição.

- lavar a ferida com sabão, durante pelo menos 5 minutos;

- eliminar completamente o sabão, com abundante água;

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- desinfecção da ferida com álcool a 40-70%, ou com tintura de iodo,

ou 0,1% de solução de amónio quaternário;

- não deve suturar a ferida, a não ser que seja absolutamente

necessário para parar uma hemorragia ou para suporte dos tecidos.

Caso a sutura seja efectuada, os pontos devem estar bem afastados

de modo a não interferir com a drenagem e o sangramento

espontâneo. Os bordos da ferida devem ser cuidadosamente

retirados com uma tesoura e/ou bisturi.

1.2. Infiltração

É sempre aconselhável infiltrar profundamente os tecidos à volta da ferida

com imunoglobulina anti-rábica (IgAR: 19-a-3 do Formulário Nacional de

Medicamentos, IV Ed. 1999), quando disponível, na dose de 10 U.I/Kg de

peso. O restante aplicar na região do músculo deltóide (braço).

Não suturar a ferida,


retirar as bordas e infiltrar com Imunoglobulinas

2. IMUNIZAÇÃO

A imunização, dada a sua complexidade de tópicos, é abordada num capítulo

à parte - CAPÍTULO VI (página 20).

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3. OUTROS PROCEDIMENTOS RECOMENDADOS

3.1. Profilaxia antitetânica

Deve-se fazer profilaxia antitetânica de acordo com as normas correntes,

dado que a porta de entrada do vírus da raiva pode ser também porta de

entrada para o bacilo do tétano.

A vacinação antitetânica deve ser registada e deve-se entregar um cartão

de vacinação ao doente.

3.2. Administração de antibióticos

O uso de antibiótico restringe-se apenas aos casos em que a ferida está

infectada. No quadro 1, é apresentado o tratamento, segundo a idade.

Quadro 1: Esquema de tratamento com antibiótico, segundo a idade

Idade Antibiótico* Dose

Adultos Fenoximetilpenicilina 4 tomas diárias x 5 dias

500mg

Crianças Fenoximetilpenicilina 4 tomas diárias x 5 dias

25mg/Kg de peso

* opção: amoxicilina na mesma dosagem

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VI. IMUNIZAÇÃO

A imunização deve ser aplicada a todos os casos de pessoas mordidas por

animais suspeitos de serem raivosos, pois previne o aparecimento da

infecção.

No país, a vacina administrada é a “RABIES VACCINE (HDC)- RABIVAC”,

preparada a partir do vírus da raiva inactivado e cultivado em meio de

células diplóides Humanas, HDC.

1. DOSAGEM

A administração da vacina é intramuscular (IM) e a dose não varia


consoante a idade, ou seja, é igual nos adultos e nas crianças (Quadro 2).

A imunização deve ser feita sempre que haja uma lesão,

leve ou grave, provocada por um animal suspeito.

A vacinação anti-rábica é muito cara.

Para maximizar os recursos existentes, todos os casos de mordedura animal

devem ser notificados no BES,

bem como,

trabalhar em estreita colaboração com os serviços de veterinária locais.

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Quadro 2: Imunização de indivíduos sem imunização ou com imunização inadequada

Opção A Opção B Opção C

Profilaxia pré exposição Profilaxia pós exposição Profilaxia concomitante

pós exposição

1 injecção de RABIVAC IM Aplicar RABIVAC seguindo a


1 injecção de RABIVAC
nos dias: opção B+ 1x20IU/kg de peso
IM nos dias:
D0, D7, D28, +1ano de Ig concomitantemente
D0, D3, D7, D14, D30;
com a primeira dose de
se necessário no D90 RABIVAC, ou até 7 dias

depois da primeira dose de

RABIVAC no fim

2. IMUNIZAÇÃO PÓS - EXPOSIÇÃO

A imunização pós –exposição deverá ser iniciada imediatamente depois da

suspeita de contaminação, por exemplo, mordedura de um animal infectado.

A imunização depende de aspectos como:

(i) tipo de ferida;

(ii) condições do animal.

No quadro 3 é explicado de forma resumida em que casos é que a imunização

deve ser aplicada.

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Quadro 3: Orientações para a aplicação de imunização pós-exposição

Estado do animal
na altura do durante os 10
Tipo de lesão ataque dias da Tratamento
observação do
animal
S/ferida ou contacto --- ---
indirecto Desnecessário

Lambidela em pele não --- ---


Desnecessário
lesada
Iniciar a vacinação
Sinais de raiva logo que comecem os
Normal primeiros sinais no
Localização: positivos
animal

Lambidela na pele iniciar a vacinação


lesada, imediatamente;
Sinais de raiva suspender a vacinação
Suspeita
ferida pequena, ou não confirmados, se o animal estiver
de raiva
animal normal normal ao 5º dia de
escoriações observação

Raiva ou
S/informação vacinar imediatamente
Desconhecido
administração de soro
anti-rábico logo que
Confirmados aparecem os primeiros
normal sinais de raiva no
sinais de raiva
animal seguida de
vacinação
Ferida grande,
iniciar a administração
arranhões, lambidela de soro anti-rábico
na Suspeita Sinais de raiva imediatamente;
de raiva não confirmados parar se o animal
mucosa estiver normal após o
5º dia de observação

Administração
Raiva, ou imediata de soro anti-
S/informação rábico seguida de
Desconhecido
vacinação

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2.1. Tipos de imunização

A imunização pode ser classificada como (a) primária e (b) secundária,

consoante o nível de imunidade do indivíduo.

A. Imunização primária

Serão sujeitos à imunização primária, independentemente da idade, todos os

indivíduos:

- sem imunização prévia;

- com imunização inadequada;

- com estado imunitário desconhecido.

Imunidade inadequada inclui indivíduos que:

 receberam a vacina com o dobro da potência

 receberam a vacina com potência inferior a 2,5 IU/ml

 não completaram o calendário vacinal anti rábico

 receberam a vacina de forma irregular

 se esteja em dúvida quanto ao seu estado vacinal

Neste caso, o paciente deverá receber uma única dose da vacina RABIVAC

nos dias (quadro 2, opções “B” e “C”):

- D0 (dia “0”);

- D3 (dia “3”);

- D7 (dia “7”);

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- D14 (dia”14”);

- D30 (dia “30”).

Se for necessário, poderá administrar-se outra dose aos 90 dias (opcional). No total são 5

injecções, mais a opcional.

B. Imunização secundária

Os indivíduos que tenham imunização adequada, ou seja, que tenham feito a vacinação

completa, estão sujeitos à imunização secundária.

No quadro 4 são apresentadas o número de doses, em função do período de

tempo em que o paciente foi imunizado.

Se for necessário, o tratamento poderá ser completado com VAT e


antibióticos para controlo de uma sobreinfecção da ferida, como descrito no
ponto 3 do capítulo anterior (“Outros procedimentos recomendados”).

Lembre-se que, em todos os casos de ferida provocada por animal com raiva

ou suspeito de raiva, após contacto com a saliva destes animais e afecção

das mucosas ou ferida na pele necessita de tratamento profiláctico (quadro

2, opção C).

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Quadro 4: Período de imunização e número de doses para indivíduos com

imunização adequada, pós-exposição

Vacina com potência


Calendário vacinal
≥ 2,5 IU/dose,

administrada com
N° de doses Dia(s) de aplicação
intervalo:

≤1 ano 2 D0, D3

> 1 ano - < 5 anos 2 D0, D3, D7

≥ 5 anos ou vacinação Variável * VER QUADRO 2

incompleta OPÇÕES “B” e “C

* depende do tipo de exposição

3. MONITORIZAÇÃO DOS GRUPOS DE RISCO E IMUNIZAÇÃO


PROFILÁCTICA (PRÉ – EXPOSIÇÃO)

A imunização antes da exposição é recomendada a todos os grupos de risco

de contaminação. Como o próprio nome diz, este tipo de imunização é feita

antes da exposição.

No quadro 2 (opção “A”), é apresentado o esquema de administração.

A monitorização dos indivíduos que estão em constante risco é feita através

da medição da concentração dos níveis de anticorpos no seu soro.

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Se a concentração de anticorpos for menor a 0.5 IU/L, deve-se

administrar uma dose da vacina, como reforço; experiências demostraram

que uma dose de reforço é necessária a cada 2-5 anos.

3.1. Modo de administração

O Liofilisado deve ser reconstituído imediatamente antes de aplicar, usando


o diluente apropriado e agitando cuidadosamente.

A vacina deve ser administrada igualmente de forma IM, no músculo

Deltóide (braço) ou apertando a região anterolateral do braço nas crianças

pequenas. Não aplicar na região glútea (nádega).

A vacina é aplicada na região do músculo deltóide (braço).

NUNCA DEVE SER APLICADA NA REGIÃO GLÚTEA (NÁDEGA)

4. ASPECTOS ADVERSOS DA IMUNIZAÇÃO

Neste ponto serão abordadas contra-indicações da vacina, bem como a sua interacção com

outras drogas.

4.1. Contra-indicações da vacina

Existem algumas contra-indicações e precauções na administração desta

vacina, nomeadamente:

- não pode ser administrada por via endovenosa;

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- se o indivíduo já tiver feito o tratamento, não há contra-indicação;

- se o indivíduo já tiver sido vacinado, particular atenção deve ser dada

aos casos de sensibilidade à Estreptomicina, Neomicina e/ou

Clortetraciclina, dado que a vacina contém alguns elementos destes

medicamentos.

Não foram demostrados quaisquer efeitos colaterais

em mulheres grávidas ou em lactentes.

4.2. Interacção com outras drogas

Deve-se perguntar sempre ao doente se está a fazer medicação com corticoesteróides ou

outros imunodepressores antes de se administrar a vacina.

O tratamento com corticoesteróides e imunodepressores

pode interferir com a vacinação.

O efeito da vacina pode ser prejudicado ou potenciado em indivíduos imunodeprimidos.

4.3. Efeitos secundários

A vacina pode provocar:

- pequena irritação;

- endurecimento no local da injecção;

- dor;

- febre superior a 38C;

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- linfadenopatia;

- artrite;

- sintomas gastrointestinais;

- cefaleias.

5. CONSERVAÇÃO DA VACINA

A vacina deve ser conservada na geleira a uma temperatura entre +2ºC e

+8ºC. Deve ser usada imediatamente após a sua reconstituição. Nunca usar

depois de expirado o prazo de validade.

Conservar a vacina a um temperatura de +2-°C +8°C.

Utilize a vacina, logo após a sua reconstituição.

ATENÇÃO AO PRAZO DE VALIDADE.

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VII. CONTROLO DA RAIVA

1. RAIVA RURAL OU SILVESTRE

Apesar de ser extremamente complicado o controlo da raiva em animais

selvagens, o objectivo deste controlo é a redução da população da espécie

animal responsável pela manutenção do ciclo de transmissão.

As técnicas de controlo mais comuns são:

- a caça;

- o uso de armadilhas;

- envenenamento.

2. RAIVA URBANA

2.1 Generalidades

O controlo da raiva nas cidades é baseado no controlo da infecção nos

animais domésticos, principalmente nos cães.

Qualquer animal com dono deve ser obrigatoriamente vacinado. O controlo

desta actividade é da responsabilidade dos serviços de veterinária.

Os animais sem dono devem ser eliminados mediante envenenamento ou

captura. Para qualquer programa de controlo da raiva nas cidades é

necessária a participação da comunidade, a qual deve ser solicitada

mediante uma campanha apropriada de sensibilização e educação sanitária.

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2.2. Procedimentos

2.2.1. Suspeita de um caso de raiva animal

Sempre que suspeite que um animal tem raiva deve-se:

- Evitar agarrá-lo ou manipulá-lo;

- Avisar de imediato o serviço de veterinária, a autoridade local e/ou a

polícia;

- Procurar capturar o animal e mantê-lo em observação durante 10 dias;

- Caso isto não seja possível, o animal deve ser abatido, assim como

outros animais eventualmente mordidos por ele.

Se (i) o animal adoecer ou morrer durante o período de observação ou (ii)

for abatido por não ser possível a sua captura, deve-se envidar esforços

para confirmar ou excluir a hipótese de se tratar de um caso de raiva.

2.2.2. Diagnóstico de raiva nos animais

Sempre que possível o diagnóstico de raiva nos animais deve ser

laboratorial utilizando as seguintes técnicas:

- pesquisa de corpúsculo de Negri no cérebro do animal;

- uma prova de imunofluorescência;

- inoculação num outro animal e;

- isolamento do vírus.

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Para tal, o cérebro do animal suspeito deve ser entregue ou enviado para

um serviço de veterinária.

Se o animal for pequeno, o mesmo pode ser enviado completo.

Se o animal for grande, basta enviar a cabeça,

tendo o cuidado de não a traumatizar no abate ou durante o corte.

2.2.3. Conservação da cabeça do animal

O animal ou a cabeça devem ser enviados dentro de um saco plástico, numa

caixa isotérmica com gelo ou acumuladores. Como alternativa, pode-se

enviar só o cérebro dentro de um frasco com parafina.

O envio deve ser acompanhado por uma Ficha de Registo (ponto 3) que

contém informação relacionada com:

(i) identificação e descrição completa do animal.

(ii) identificação da residência do dono caso exista.

(iii) a descrição dos sinais importantes da doença.

(iv) as circunstâncias de mordedura e da captura.

A caixa contendo o animal, a cabeça ou o cérebro deve ser fechada, selada e

identificada com um aviso; só deverá ser aberta à chegada, nos serviços de

veterinária.

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AVISO:

Contém material infectado.

Não abrir a caixa!

2.2.4. Resultado laboratorial

Nem sempre será possível fazer-se o diagnóstico laboratorial; nestes casos

o diagnóstico deverá necessariamente ser clínico, efectuado por um técnico

veterinário com experiência.

Se o animal permanece são, durante o período de observação de 10 dias,

o diagnóstico de raiva poderá ser excluído.

Contudo, pode acontecer que o animal esteja no período de incubação; neste

caso, as pessoas ou animais mordidos antes do início do período de

observação não necessitam da "vacinação pós-exposição", dado que foram

mordidos antes do período de transmissão.

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3. FICHA DE REGISTO

Como mencionado no ponto anterior, a amostra (cérebro, cabeça ou animal

completo), deverá ser acompanhada por uma Ficha de Registo (página 34),

que é composta por 4 partes, nomeadamente:

(a) Identificação do doente, tipo e circunstâncias da exposição.

(b) Descrição do animal e da sua situação após a exposição.

(c) Tratamento local da lesão e descrição da profilaxia específica com

RABIES VACCINE-RABIVAC.

(d) Situação do doente 12 meses após a exposição.

Estas fichas devem ser conservadas numa pasta de arquivo ou livro de

registo, na unidade sanitária onde se efectua a profilaxia. Podem ser

utilizadas para:

- análise estatística dos dados;

- planificar a aquisição de material;

- avaliação dos resultados;

- avaliação da qualidade do trabalho efectuado.

Nas unidades sanitárias autorizadas, deve-se manter um rigoroso controlo

do stock, no tocante a (i) entradas, (ii) saídas, (iii) utilização do IgAR e (iv)

vacina anti-rábica, através dos mesmos métodos utilizados nas vacinas do

PAV.

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FICHA DE INVESTIGAÇÃO DE CASO DE MORDEDURA POR ANIMAL


CASO Nº______
Data da notificação___/___/___ Data da investigação___/___/___ Data da agressão___/___/___

1. IDENTIFICAÇÃO DA VÍTIMA
Nome da vítima:________________________________________________Sexo____Idade______anos
Residência no Bairro:_____________________________________Quarteirão_______Casa número_____
Av./Rua:______________________________Localidade___________________Perto de ______________
Telefone_________________Celular__________________Centro de Saúde_________________________
Área de Saúde__________________________Distrito___________________Província_______________

2. DADOS SOBRE A LESÃO


Tipo de agressão Localização da lesão Tipo de lesão
Arranhão ou rasgadura Cabeça
Lambidela na pele sã  Face 
 
Lambidela na pele com ferida Pescoço 1. Profunda 
 
Lambidela da mucosa com ferida Tórax  2. Superficial 

Mordedura única Abdómen  3. Sem lesão 

Mordeduras múltiplas  Braço 
Sem contacto  Antebraço  O animal mordeu
Mão  1. Legítima defesa 
Nádega  2. Expontâneo 
Coxa  3. Com provocação 
Perna  4. Sem provocação 
Pé 

3. TRATAMENTO DA (S) FERIDA(S) Avaliação da(s) lesão(ões)


Água e sabão  Leve 
Desinfectante 
Sutura  Grave 

4. DADOS SOBRE O ANIMAL Espécie de animal


Doméstico  Vádio  S/inf  Cão  Gato  Macaco  Morcego 
Se é vadio Cão polícia  Burro  Outro 
Em que bairro se deu a agressão____________________________________________________________
Rua/Av._______________________________________________________________________________

Se é Doméstico Estado vacinal do animal


Nome do dono_____________________________ Data da última vacina___/___/___ tipo de vacina_____
Bairro______________R/Av._________________ _________________Lote nº_____Validade___/___/__
Quarteirão_____Nº da casa_______ Tel:________ Distrito_________________Província_____________

Observação do Animal Situação da animal após 10 dias


Impossível fazer  Ao domicílio  São  Raivoso 
Foi possível observar  Num canil  Morto  Não sabe 


É necessário vacinar a pessoa agredida? SimNão 
Tipo de vacina____________________________ IgAR/____/___/___ VAT___/___/___/ Antibiótico___
OBSERVAÇÕES_________________________________________________________________________
O INVESTIGADOR:____________________________________________________________________
CARGO:__________________________________________ Data:____/___/____

Formatted

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Trimestralmente, juntamente com o relatório das vacinas do PAV, deve-se

enviar à Direcção Provincial de Saúde e ao Ministério da Saúde – Gabinete

de Epidemiologia, um mapa com:

- as doses de vacina em stock no início do trimestre;

- as doses recebidas;

- as doses utilizadas;

- as doses inutilizadas;

- stock no final do trimestre.

Juntamente com este relatório deve ser enviada a requisição das doses

de vacina consideradas necessárias para o trimestre seguinte.

As Farmácias Central e Provincial não devem aviar as vacinas sem a

autorização prévia do Gabinete de Epidemiologia do Ministério da Saúde ou

dos Médicos Chefes Provinciais.

4. CERTIFICADO DE VACINAÇÃO

Qualquer pessoa vacinada contra a raiva quer antes, quer depois da

exposição, deve receber um certificado (página 35) com:

(i) identificação;

(ii) as datas e doses de vacina utilizadas;

(iii) tipo de vacina;

(iv) lugar de vacinação (US);

(v) nome e qualificação do profissional que administrou a vacina.

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CERTIFICADO DE VACINAÇÃO ANTI-RÁBICA

Nome:___________________________________________________

Idade:_____anos Sexo___________Profissão_____________________

Morada: Cidade______________Bairro____________nºcasa_________

Vila_______________Localidade____________Povoação____________

Distrito________________Província___________________________

Data em sofreu a agressão __/__/__

Data que se apresentou à US __/__/__

Tipo de vacina aplicada (nome)_________________________

Vacinação:

Data da 1º dose ____/____/____

Data da 2º dose ____/____/____

Data da 3º dose ____/____/____

Data da 4º dose ____/____/____

Data da 5º dose ____/____/____

Unidade Sanitária__________________________________________

Nome do profissional de saúde________________________________

Categoria_________________________________________________

Atenção: Guarde bem este cartão, ele é muito importante; não o perca; não o suje;
não o rasgue.

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Deve recomendar-se à pessoa vacinada que conserve cuidadosamente o

certificado e que o apresente em caso de posterior vacinação de reforço ou

exposição a um animal raivoso ou suspeito.

Um animal é considerado suspeito,

se mesmo não tendo sido provocado,

tenha mordido numa reacção de defesa.

Todos os trabalhadores da saúde devem saber quais são as Unidades

Sanitárias do seu Distrito, Província ou Cidade onde se efectua a vacinação

anti-rábica, para que possam orientar prontamente os casos.

Nas capitais provinciais as vacinas são administradas nos CHAEMs.

Lembre-se que:

O paciente deve receber o tratamento local da ferida

antes de ser transferido.

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VIII. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

1. GENERALIDADES

Apesar dos casos de raiva humana serem esporádicos, deve-se estar sempre

atento e fazer-se:

(1) Vigilância dos casos de raiva humana;

(2) Vigilância da exposição humana à raiva;

(3) Vigilância da população animal (serviços de veterinária).

2. OBJECTIVOS

A vigilância epidemiológica da raiva tem os seguintes objectivos:

(1) Eliminação do ciclo urbano da raiva, através de campanhas de

vacinação de rotina de animais, mantendo elevadas taxas de

cobertura (≥ a 75%) dos animais domésticos.

(2) Impedir a ocorrência de casos de raiva humana através do

tratamento profilático a indivíduos expostos.

3. NOTIFICAÇÃO DA RAIVA

A raiva é um doença de notificação obrigatória, quer pela "via rápida", quer

através do BES.

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3.1. Definição de caso

Considera-se caso de raiva, quando após a presença de mordedura de um

animal (geralmente cão ou macaco e mais raramente do homem), o indivíduo

apresenta irritação no local da ferida associada a um estado de ansiedade, mal

estar geral, febre, cefaleias, excitabilidade e, hidrofobia (medo de água).

Sem intervenção médica, a doença tem a duração média de 2 a 6 dias,

levando à morte por paralisia respiratória, dependendo da localização da

ferida.

NOTA: Esta definição foi adaptada pelo MISAU para que o controlo da vacina seja
mais eficaz.

3.2. Medidas de controlo

Para que haja um controlo efectivo da raiva, as medidas aplicadas não

dependem apenas do sector de saúde; envolvem igualmente os Municípios e

os serviços de veterinária.

As medidas de controlo da raiva são as seguintes:

- registo e licenciamento de todos os cães;

- captura e eliminação de animais sem dono ou vadios;

- manutenção de altas coberturas vacinais (≥ a 75%) de animais através

de vacinação de rotina ou de campanhas;

- captura e observação clínica durante 10 dias dos animais domésticos

que tiverem mordido alguém, ou que sejam suspeitos.

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As actividades acima referidas são de responsabilidade dos serviços de

veterinária do Distrito, Província ou Cidade (Municípios).

- envio imediato da cabeça intacta do cão, conservada em gelo (não

congelar) para o laboratório no Maputo.

- promoção de cooperação com as entidades responsáveis pelos animais.

- tratamento do ferimento.

A lavagem imediata da ferida suspeita com água abundante e sabão é a

medida mais importante para a prevenção da raiva humana,

dado que esta constitui a porta de entrada do vírus da raiva.

Deve-se incluir esta recomendação em todos os programas de educação

sanitária, para que todas as pessoas mordidas façam esta lavagem em casa,

imediatamente depois da mordedura, sem esperar a chegada à unidade

sanitária mais próxima.

- profilaxia a todos os indivíduos expostos com vacinas e soro;

- notificação obrigatória do caso à unidade sanitária competente;

- preenchimento da ficha de registo e envio da cópia aos serviços locais

de veterinária;

- informar aos serviços de veterinária local.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Abram S. Benenson. Controlo das doenças transmissíveis no Homem,

Organização Pan-Americana da Saúde 1983, XII Edição, 1980.

- David L. Longworth (2000). Infectious Diseases; Pennsylvania.

- Ministério da Saúde. Doenças Infecciosas e Parasitárias;, Fundação


Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia, Brasil, 1999.

- World Health Organization. Recommended Strategies for the

Prevention and Control of Communicable Diseases. WHO Department

of Communicable Disease Control, Prevention and Eradication, 2001.

- Barreto A, Gujral L, Matos CS. Análise Epidemiológia dos dados de


VE, Moçambique, 1981-2001. MISAU, Direcção Nacional de Saúde.
Gabinete de Epidemiologia, 2002.

- World Health Organization. Communicable Disease Surveillance KIT,


1997. WHO.

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