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09-08-21

Aula 2
Dopamina e ingestão
alimentar

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CONTEÚDO:
Introdução 04
Dopamina e valor hedônico 05
Fome hedônica e fome real 06
Obesidade e controle alimentar 08
Conclusão 09
Estudo avaliado
.
INTRODUÇÃO

Fatores genéticos, sociais e ambientes influenciam a epidemia da obesidade que acontece atualmente. A genética pode
contribuir pela variabilidade de 45 a 85% do IMC, embora não haja desassociação dos outros fatores ou cause inevitabilidade
do ganho de peso ou emagrecimento, na maioria dos casos.

A regulação do apetite também exerce uma grande importância. O hipotálamo reconhece peptídeos como leptina,
colecistoquinina (CKK), grelina, insulina, orexina, neuropeptídeo y (NPY), além de glicose, aminoácidos e ácidos graxos,
todos regulando consumo alimentar. No entanto, há evidências de que diversos circuitos do cérebro regulam o consumo
alimentar.

O sistema límbico (núcleo accumbens, a amigdala e o hipocampo), as regiões corticais (córtex orbitofrontal, o girus
cingulado e a insula), e neurotransmissores como dopamina, serotonina, opioides e canabinodeis, estão envolvidos no
sistema de recompensa alimentar.

Um modelo para obesidade proposto inclui um excesso calórico induzido por um desbalanço entre as regiões acima,
aumentando o comportamento de motivação e recompensa e diminuindo o comportamento inibitório. Este modelo inclui os
circuitos de recompensa, motivação, aprendizado e inibição. Em indivíduos vulneráveis a altas quantidades de alimentos
palatáveis, ou mesmo drogas de adição, há um reforço do valor do objeto (alimento ou droga) e um enfraquecimento dos
circuitos de controle.
DOPAMINA E VALOR HEDÔNICO

Certos alimentos, especialmente os ricos em açúcares e gorduras, geram grandes recompensas, aumentando o aprendizado
e condicionamento, tornando-as mais propensas a serem consumidas em indivíduos mais vulneráveis quando há maior
disponibilidade. Este mecanismo pode ser inclusive uma adaptação evolutiva à falta de nutrientes e calorias durante algumas
eras da humanidade.

A dopamina (DA), os canabinoides, a serotonina, e os opioides estão envolvidos na regulação alimentar. A DA é um


neurotransmissor chave, que atua através da sua projeção da área tegmental ventral (VTA) para o núcleo accumbens (NAc),
conforme explicado no ebook anterior. Suas projeções também passam pelo estriado dorsal, cortical, hipocampo, amigdala e
hipotálamo lateral.

Porém, o efeito da DA é mais do que adicionar valor hedônico. Uma vez que há exposição a recompensa, mesmo que não
esperada, há disparos da VTA para o NAc. Com a repetida exposição, há o condicionamento de maior valor para o alimento,
aumentando a liberação de DA para o NAc, ou seja, há uma maior predição de recompensa. Outras áreas, como o Cortex
Orbito Frontal e a amigdala também atuam no condicionamento de recompensa. Quando pacientes sem obesidade foram
expostos a pistas alimentares, houve uma menor atividade no Orbito Frontal, associada a redução do desejo alimentar.

A DA é também envolvida na motivação para determinados comportamentos. O seu papel é no desejo, no querer (wanting) e
não no gostar (liking), afinal podemos desejar algo mesmo sem propriamente gostar. A motivação é necessária para
sobrevivência, na busca por alimentos e hidratação. Camundongos com mutação na síntese de DA morreram de fome
justamente pela falta de motivação para comer.
FOME HEDÔNICA E FOME REAL

Já o gostar, ainda mais quando pensamos em comportamento hedônico, envolve outros neurotransmissores, como opioides,
canabinóides e GABA. Eles também atuam nas regiões envolvidas com recompensa como Núcleo acumbens, córtex orbito
frontal, insula (área primaria para sabores) e pálido ventral. A sinalização dos opioides na amigdala é implicada também nas
propriedades afetivas atribuídas ao alimento. Por fim, foi visto que o açúcar ou mesmo alimentos palatáveis aumenta a
síntese de opioides nos animais expostos. Sobre os endocanabinóides, a ação maior é no receptor CB1, conforme foi falado
em ebooks anteriores. Esta ação também é envolvida nos mecanismos de recompensa alimentar e até no gasto energético,
atuando no NAc, hipotálamo e tronco cerebral.

Também há evidências sobre os reguladores periféricos do balanço energético, como leptina, insulina, orexina, grelina e PYY.
Eles não estão apenas associados a mecanismos de saciedade, mas também à funções cognitivas, se projetando para
regiões límbicas.

A insulina demonstrou atenuar resposta do sistema límbico frente ao estímulo alimentar em pacientes saudáveis, atuando
não apenas na saciedade mas também num melhor controle das regiões ligadas a recompensa.

A leptina, que é sintetizada no adipócito, age no receptor hipotalâmico diminuindo ingestão alimentar e também atenuando
resposta nos sistemas de recompensa. Pacientes com deficiência congênita de leptina demonstraram maior ativação de DA
no NAc e caudado em resposta ao estimulo visual de alimentos, associando com o querer alimentar, mesmo após estarem
alimentados. Esta ativação mesolimbica não ocorreu após 1 semana de tratamento com leptina. Outro estudo, com pacientes
com deficiência congênita de leptina, demonstrou que o tratamento farmacológico com o peptídeo reduziu ativações ligadas
a fome aumentou a inibição frente à exposição alimentar, ativando o córtex pré frontal.
FOME HEDÔNICA E FOME REAL

O PYY, liberado pelo intestino, também


reduz a ingestão alimentar e é um dos
grandes sinalizadores pós bariátrica
metabólica na saciedade. Foi visto que
quantidades maiores de PPY no plasma
regulavam negativamente a ativação do
córtex orbito frontal, diminuindo o valor
dado ao alimento.

A grelina, produzida no estomago, não


apenas regula a glicemia, mas também é
ligada a maior fome e ativação do estímulo
alimentar em regiões de recompensa,
como amigdala, orbito frontal, insulina
anterior e estriado. Ou seja, também está
envolvida no comportamento hedônico.

Todos esses sinais juntos mostram que a


periferia também regula a questão
hedônica, ficando difícil desassociar a
fome hedônica da fome real, já que ambas
agem de maneira similar e o aumento de
‘fome real’ pode também levar a maior
fome hedônica.
OBESIDADE E CONTROLE ALIMENTAR

Há cada vez mais estudos demonstrando desbalanço em funções cognitivas nos pacientes com obesidade, quando
pensamos em atenção e memória. Os efeitos adversos incluem maior prevalência de déficit de atenção e hiperatividade,
Alzhimer e outras demências causadas por atrofia no córtex. Os estudos com ressonância magnética demonstraram
associação negativa entre IMC e matéria cinzenta no cérebro, além de piora de função cognitiva. Outros estudos, avaliando
o metabolismo da glicose através da tomografia demonstraram que pacientes eutroficos tinham melhor ativação no córtex
pré frontal. Por fim, o IMC também é associado negativamente com os valores de N-acetil-aspartato, um marcador de
integridade neural, no córtex pre frontal e cingulado anterior.

Juntando os dados dos últimos dois parágrafos com estudos sobre comportamento alimentar, é possível aferir que
pacientes com obesidade preferem recompensas imediatas a tardias, por mais que as tardias possam ser melhores. Ou
seja, mesmo com a chance de sofrer perdas maiores no futuro, há a predição pelo imediato, como numa falha ao teste de
marshmallow (veja mais em https://www.youtube.com/watch?v=OKNu1qjgXaA).

Disfunções no córtex orbito frontal são associadas com menor habilidade em modificar o valor reforçador de um alimento,
ou seja, piora na capacidade de diminuir o valor de recompensa e de controle alimentar, gerando um comportamento de
hiperfagia. Estas disfunções podem aumentar o esforço para adquirir o alimento que é o objeto de recompensa, como ficar
em filas longas para comer um sorvete. No contexto atual, também temos a facilidade de alimentos sempre presentes em
gondolas de mercados por exemplo, levando a um comportamento impulsivo de simplesmente pegar o alimento, gerado
principalmente por disfunções no córtex orbito frontal e cingulado anterior.

É preciso diminuir o valor condicionado aos alimentos extremamente palatáveis e adicionar valor a outros objetos, como
resultados, mudanças no estilo de vida, valorização de conquistas, entendimento da necessidade de autocontrole, elogio de
pares, sabendo que o próprio emagrecimento altera peptídeos da periferia envolvidos na saciedade e controle hedônico,
tornando ainda mais difícil a manutenção dos resultados.
CONCLUSÃO

O abuso crônico de drogas que atuam de maneira dopaminérgica causa adaptações nas concentrações de AMPc (sinaliza
ação intracelular), aumenta produção de dopamina via tirosina hidroxilase, expressão de receptores dopaminérgicos e
disparo de dopamina pela área ventral tegmental. No entanto, mesmo camundongos com knockout de receptores
dopaminérgicos ainda foram capazes de desenvolver adição à cocaína, dado que o efeito dela também envolve
transportadores serotoninérgicos e noradrenergeticos.

Um recente estudo demonstrou também um aprendizado mais rápido e aumento nas vitorias em jogo de azar em resposta
ao estímulo de DA na forma de L-DOPA. O aumento na recompensa, sendo monetária, fez com que os participantes apenas
notassem os símbolos vencedores do jogo. Tais resultados podem explicar a razão dos participantes com Parkinson
tratados com L DOPA se tornarem mais predispostos ao vicio em jogos de azar. Os mesmos valores altos de DA podem ser
vistos em outros comportamentos aditivos, como sexo e exercícios em excesso, já que o neurotransmissor é a forma como o
cérebro reforça o comportamento.

Recompensas inesperadas resultam em um valor maior de DA, reforçando o aprendizado quanto à recompensa. O consumo
de alimentos palatáveis, o acasalamento, o uso de cocaína etc., produzem consequências hedônicas que iniciam o
aprendizado, tornando cada vez mais ele consolidado em busca do objetivo. No entanto, não podemos desassociar também
outros processos como a própria fome na busca de alimentos, além das pistas ambientares. Reparem que a DA é um
mecanismo necessário e de fortalecimento de recompensas, nem sempre de vício, ou de gostar de algo (sendo desejo
diferente de gostar), mas sim fortalecido pelo aprendizado e que pode ficar cada vez mais sensível, principalmente com o
uso de drogas de adição. Estas refletem efeitos muito mais fortes na liberação, ação e feedback da DA no núcleo
accumbens do que alimentos palatáveis.
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