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Patologia Clínica Veterinária

Eduardo Conceição de Oliveira


Caxias do Sul
2022
Análises Clínicas

Áreas:
Hematologia
Bioquímica
Citologia
Urinálise

Livro: Thrall et al. 2014.


Objetivo geral:

Apresentar os principais exames de


análises clínicas disponíveis na medicina
veterinária, fornecendo ao aluno o
conhecimento de metodologias que
auxiliam o diagnóstico clínico de
enfermidades de animais domésticos.

Preparação de futuros Veterinários.


Objetivo específicos:
1) Desenvolver a capacidade de coletar
amostras conforme exame
2) Fornecer o conhecimento teórico que
possibilite solicitar exames de análises
clínicas conforme o caso clínico
3) Analisar e interpretar exames utilizando
casos clínicos
4) Relacionar os resultados obtidos com o
histórico da enfermidade e sinais clínicos
Objetivo específicos:

- Desenvolver a capacidade de
diagnóstico e direcionar o diagnóstico a
partir da identificação de anormalidades
apresentadas nos exames
Alguns livros disponíveis:
Patologia Clínica Veterinária

 Princípios gerais de exames e diagnósticos


laboratoriais
 Hematopoiese
 Hemograma
 Anemia regenerativa e arregenerativa
 Líquidos cavitários
 Policitemia.
 Interpretação de leucogramas
 Diagnóstico das anormalidades de hemostasia
 Alterações bioquímicas por sistemas
 Urinálise em animais domésticos
Patologia Clínica Veterinária

Um grande número de exames laboratoriais


30 a 50 exames – reduzir e direcionar
Diagnóstico clínico é baseado:

• Histórico clínico
• Fisiologia (Patofisiologia)

• Conhecimento das doenças:


- conhecer um maior número de enfermidades
-sinais clínicos
Patologia Clínica Veterinária

Atenção!!!!

•Valor encontrado acima do normal pode não


significar uma alteração
Principalmente levemente aumentados
Pode estar pouco aumentado e num novo exame se
apresenta normal

• Fosfatase alcalina em animais jovens – pode estar


elevada pelo crescimento óssea, porém deve ser
considerada normal nesta faixa etária.
Patologia Clínica Veterinária

Poodle e outras raças pequenas podem apresentar


hematócrito elevado (50%)

Normal é de 36 – 55%

Porém pode estar anêmico com hematócrito 40%

Considerar o histórico de exames anteriores.


Patologia Clínica Veterinária

Atenção!!!!

Cuidar laboratórios diferentes

Podem usar valores de referências diferentes


Regulagem de equipamentos ou
metodologias diferentes

Cuidar com laboratórios humanos


Patologia Clínica Veterinária

O laboratório dever realizar análises


periódicas

• Com a utilização de amostras controles


comerciais
• Utilizar amostra do próprio laboratório

• O resultado deve ser igual


• Não pode ter variações dos resultados para
baixo ou para cima.
Patologia Clínica Veterinária

Devem ser considerados quando os


resultados não apresentarem correlação com
estado clínico do paciente.

•Erros pré-analíticos: mais comum (erros de


coleta e manuseio)
•Erros analíticos (metodologia ou interferência de
substâncias que interferem a análise)
•Pós-analíticos (digitação, erros de programas)
Universidade de Caxias do Sul
Medicina Veterinária
Patologia Clínica Veterinária

Eduardo Conceição de Oliveira


Caxias do Sul
2022
▪ Metabolismo de carboidratos
▪ Metabolismo de lipídios
▪ Metabolismo de proteínas
▪ Armazena vitaminas e ferro
▪ Degradação de substâncias
▪ Produção de fatores de coagulação
▪ Sistema imune (atuação de células de
Kupffer)
Doenças hepáticas – provoca lesão em
hepatócitos e/ou provoca colestase (acúmulo
de bilirrubina).
Podemos ter uma doença hepática com ou sem
insuficiência hepática.
Insuficiência hepática – perda da capacidade
de síntese e degradação de substâncias.

Doenças hepáticas primárias – tóxicas, tumores,


inflamação, cirrose.
Doenças secundárias que lesionam o fígado–
alteração cardíaca, pancreatite e inflamação
intestinal.
Diferentes órgãos ou tecidos apresentam as
mesmas enzimas.
A elevação de enzimas séricas indica a lesão
celular ou maior produção enzimática.
O teste enzimático não avalia a função do
órgão.
Dados obtidos devem ser analisados junto
com a clínica, com outros dados
laboratoriais e exames complementares.
Testes diagnósticos de doença hepática ou
de insuficiência hepática:

• Atividade sérica de enzimas que indicam


lesão de hepatócitos
• Atividade sérica de enzimas que indicam
colestase
• Testes que avaliam a função hepática
1. Enzimas de extravasamento – são
liberadas após degeneração celular ou
necrose de hepatócitos.
Aumento ocorre em poucas horas após
liberação de enzimas contidas no citosol ou
organelas.
2. Enzimas de indução – aumento pela maior
produção.
Aumento ocorre mais lentamente (em alguns
dias).
Nem sempre o aumento sérico é proporcional
ao grau e extensão da lesão.
Podemos ter uma degeneração hepática
elevando mais a atividade enzimática que
uma necrose hepática.

Na degeneração – ocorre a atividade de


extravasamento mais a atividade de indução
diante da lesão.
Sigla = ALT
TGP = transaminase glutâmico-pirúvica
(anteriormente denominada)

Enzima de extravasamento presente no


citoplasma.
Em cães e gatos a maior concentração de ALT
está no fígado.
ALT não é uma enzima hepatoespecífica, pois
ocorre em outros órgãos.
Várias doenças hepáticas provocam aumento
de ALT em cães e gatos:
❑ Hipóxia
❑ Lipidose hepática
❑ Tumores hepáticos
❑ Hepatites
❑ Toxinas bacterianas
❑ Intoxicações medicamentosas
(anticonvulsivantes)
Lesões agudas – aumento de ALT

Processo de regeneração de hepatócitos –


manutenção do aumento de ALT por longo
tempo pela maior atividade celular, dura o
tempo da recuperação hepática.

Lesões crônicas – variação nos valores de ALT, é


uma análise mais difícil:
❑ Pode ocorrer picos de aumento de ALT
❑ ALT normal
❑ ALT levemente aumentada
Pode correr por degeneração ou necrose de
hepatócitos
A ALT está presente nos músculos esqueléticos e
músculo cardíaco.
Apresenta-se em menor concentração nos músculos,
porém como a área muscular é grande, aumento
sérico acentuado de ALT pode ser identificado na
lesão muscular.
Na determinação de lesões musculares ocorre aumento
moderado de ALT.

Para descartar ou confirmar uma lesão muscular –


pesquisar a atividade de CK (creatina quinase) que
é mais específica de tecido muscular.
Em equinos e ruminantes a concentração de
ALT em hepatócitos é baixa.
A atividade sérica de ALT não é útil na
determinação de alterações hepáticas em
equinos e ruminantes.
Normalmente não é incluída na obtenção do
perfil bioquímico de grandes animais.
ALT pode aumentar em casos:

• Hiperadrenocorticismo (elevação de cortisol)


• Administração de corticoides
• Uso de medicamentos anticonvulsivantes –
discreto aumento
Sigla= AST
Conhecida anteriormente por transaminase
glutâmico-oxalacêtica (TGO)

Não é uma enzima hepatoespecífica.


Está presente no fígado e também em
músculos esqueléticos e músculo cardíaco.

Está presente no citoplasma e na mitocôndria


de hepatócitos.
Em cães e gatos com lesões hepáticas ocorre
aumento da atividade sérica de AST.
Porém o aumento de AST é menor que ALT.
A meia-vida da AST é menor – podendo dificultar
o diagnóstico de lesões hepáticas em cães e
gatos.

Pode aumentar por:


• Uso de corticoides
• Lesão muscular (para confirmar testar CK).
• Em felinos com lipidose hepática – aumento de
AST foi mais sensível que ALT
Teste recomendado em equinos e ruminantes
para detectar lesão hepática.
Aumenta em diferentes doenças hepáticas
que provocam degeneração e necrose de
hepatócitos.

Aumento ocorre também em lesão muscular


(medir junto a atividade de creatina quinase
- CK).
Lesão hepática aguda e grave – resultado
mais confiável pelo maior aumento de AST

Lesão hepática leve e crônica – AST pode se


apresentar normal ou levemente aumentada
Sigla = SDH
Enzima de extravasamento presente no
citoplasma de hepatócitos.
Enzima hepatoespecífica – porque é muito
pouco detectada em outros tecidos
Indica necrose e degeneração de hepatócitos.

Encontrada em alta concentração em


hepatócitos de cães, felinos, equinos e
ruminantes.
Não é um teste superior na detecção de lesão
hepática em cães e gatos- melhor é a ALT.

É recomendado em equinos e ruminantes na


detecção de lesão aguda – teste mais
específico.
Mais recomendado que a AST.

A atividade sérica reduz com o tempo (mandar


logo o material em refrigeração para análise)
O valor sérico pode voltar ao normal em 4 dias
após a lesão.
Colestase = acúmulo de bilirrubina no fígado.

Testes enzimáticos são utilizados para


detecção da colestase:
• Fosfatase alcalina (FA=ALP)
• Gama-glutamiltransferase (GGT)
sigla = FA (=ALP)

É uma enzima de indução presente na


membrana celular.

Observada em vários tecidos e órgãos:


Fígado, ossos, placenta, intestino, pâncreas e
rins.
Aumento corre por doenças hepatobiliares.

Teste mais sensível para a detecção da


colestase em cães.

Menos sensível na detecção da colestase em


felinos, equinos e ruminantes.
Aumento da fosfatase alcalina pode estar
associado a elevação de:
1. Bilirrubina total
2. Presença de bilirrubinúria
3. Ácidos biliares

Doenças que dificultam o fluxo biliar:


lipidose hepática, hepatites, doenças
pancreáticas e intestinais.
Pode ocorrer por elevação da atividade
osteoblástica, e sem alteração hepática:

• Crescimento ósseo em animais jovens


• Tumores ósseos
• Cicatrização de faturas ósseas
• Hiperparatireoidismo em cães
• Hipertireoidismo em felinos
Pode ocorrer por indução de medicamentos
ou doenças em cães:

• Hiperadrenocorticismo (cortisol elevado)


• Administração de corticoides
• Uso de anticonvulsivantes (ex. fenobarbital)
Outras causas:

• Neonatos (durante a ingestão de colostro)


• Doenças crônicas
• Neoplasias hepáticas
• Neoplasias mamárias
• Lactação e gestação
Sigla = GGT
É uma enzima de indução – eleva na
colestase.
Porém na lesão de hepatócitos, também
ocorre seu aumento sérico.
Em equinos e ruminantes a GGT é mais
sensível que a fosfatase alcalina na
detecção da colestase.
Em cães e gatos é um bom teste na detecção
de colestase, porém é menos sensível na
detecção de doença hepática.

Aumenta também com a ingestão de colostro


– não significa que tenha colestase, mas
libera em animais neonatos
São utilizados testes que fornecem o valor de
substâncias que são removidas ou substâncias
que são sintetizadas pelo fígado.
▪ Bilirrubina
▪ Ácidos biliares
▪ Amônia
▪ Colesterol
▪ Albumina
▪ Ureia
▪ Glicose
▪ Fatores de coagulação
Metabolismo normal da bilirrubina

Teste da função hepática


Hiperbilirrubinemia = aumento da concentração
sérica de bilirrubina

Causas:
• Destruição de eritrócitos – pela hemólise ocorre
liberação de hemoglobina que posteriormente
será transformada em bilirrubina
• Lesão hepática - não ocorre a conjugação da
bilirrubina pelos hepatócitos
• Alteração excreção da bilirrubina pelo sistema
biliar.

Teste da função hepática


Testes:

▪ Bilirrubina total
▪ Bilirrubina não conjugada (indireta)
▪ Bilirrubina conjugada (ou direta)

Teste da função hepática


Teste diagnóstico para avaliar:

• Função hepática
• Colestase
• Alterações na circulação portal

São produzidos no fígado a partir de colesterol.


Na vesícula biliar são armazenados e ocorre
concentração no conteúdo biliar.
Os ácidos biliares provocam a emulsificação da
gordura no trato digestivo.

Teste da função hepática


Três mecanismos patológicos do fígado
resultam em aumento da concentração
sérica de ácidos biliares.
1. Alteração da circulação portal – o sangue
não passa pelo fígado, impedindo a
remoção de ácidos biliares pelos
hepatócitos.
2. Redução da massa funcional do fígado –
menor quantidade de hepatócitos para
remover ácidos biliares.

Teste da função hepática


3. Menor excreção de ácidos biliares na bile –
pode ocorrer pela colestase ou qualquer
obstrução pós-hepática do fluxo biliar.

Exemplos: tumores, cálculos, inflamação ou


tumefação de hepatócitos (impede a saída
pelos canalículos biliares).

Teste da função hepática


É absorvida pelo intestino.
Chega até ao fígado pela circulação portal
onde é transformada em ureia e proteínas.

Ocorre aumento sérico de amônia em:


I. Redução acentuada do número de
hepatócitos (redução maior que 60%)
II. Alteração do fluxo sanguíneo no fígado
(desvio portossistêmico).
III. Intoxicação por ureia em bovinos.

Teste da função hepática


A ureia é sintetizada nos hepatócitos a partir
da amônia.

Na insuficiência hepática pelo menor número


de hepatócitos, ocorre menor taxa de
conversão da amônia em ureia.

▪ Redução da ureia.
▪ Elevação da amônia

Teste da função hepática


Fígado é local da síntese da albumina.
Hipoalbuminemia é constatada somente
quando ocorre perda de 60 a 80% da função
de hepatócitos.

É mais observada em caninos quando ocorre


grande perda de hepatócitos.
Em equinos somente 20% dos casos de
hepatopatia crônica grave ocorre
hipoalbuminemia.

Teste da função hepática


O fígado tem participação fundamental no
metabolismo de glicose.

No fígado normal ocorre:


Transformação da glicose em glicogênio
(reserva de energia)
Síntese de glicose através da gliconeogênese
Síntese de glicose através da glicogenólise

Teste da função hepática


Animais com insuficiência hepática
podemos ter:
▪ Glicemia aumentada: ocorre após a
alimentação, glicemia prolongada pela
menor capacidade de absorção de glicose
pelos hepatócitos, através do
armazenamento em glicogênio
▪ Glicemia reduzida: menor capacidade de
gliconeogênese e glicogenólise

Teste da função hepática


A bile é a principal via de excreção do
colesterol.
Alteração no fluxo biliar aumenta a
concentração de colesterol.
No fígado ocorre a síntese de colesterol.
Na insuficiência hepática ocorre menor
síntese de colesterol.

Podemos ter resultados variados: normal,


hipocolesterolemia ou hipercolesterolemia.

Teste da função hepática


Teste da função hepática
Shunt portossistêmico

Enzimas de extravasamento (ALT e AST): normal


ou levemente aumentadas.
Fosfatase alcalina: normal
Aumento sérico de ácidos biliares, pois não
correm a remoção pelos hepatócitos.

Com o agravamento da lesão ocorre insuficiência


hepática: hipoglicemia, hipoproteinemia,
redução de colesterol e da ureia. Ocorre
aumento de amônia.
O aumento enzimático vai depender da
extensão da lesão hepática.
Lesão difusa – elevação acentuada de ALT,
AST e ALP (fosfatase alcalina)
Alteração na função hepática
Aumento de ácidos biliares
Lesão discreta – aumento menor de enzimas
ALT e AST
FA (ALP) – geralmente normal
Ácidos biliares – normal
Sem alteração na função hepática
Exemplos: abscessos hepáticos, infartos ou
neoplasias hepáticas localizadas.
Enzimas de extravasamento: levemente a
moderadamente aumentadas.
Enzimas de indução (colestase): normalmente
sem alterações.

Testes da função hepática: normais


Aumento de enzimas de extravasamento
(ALT, AST).
Aumento de FA (ALP): leve a acentuado.

Aumento de bilirrubina sérica.


Aumento da concentração de ácidos biliares.
Ocorre hipoglicemia
Se a causa for diabetes mellitus – ocorre
hiperglicemia.
Colangite, colangio-hepatite e obstrução de
ductos biliares: altera o fluxo biliar,
provocando colestase.
Aumento discreto de ALT e AST
Aumento acentuado de FA (ALP)

Aumento moderado a acentuado de bilirrubina.


Aumento de ácidos biliares.

Testes da função hepática – normais, com a


progressão da doença podem ficar alterados.
Perda de mais de 60 a 80% de hepatócitos.

Enzimas ALT e AST: normais, levemente ou


moderadamente aumentadas

Enzima FA (ALP): aumentadas pela colestase


Ácidos biliares e bilirrubina: aumentados

Testes da função hepática: alterados.


Os testes bioquímicos podem sugerir três
categorias:
I. Lesão hepatocelular
II. Colestase
III. Insuficiência hepática

Diagnóstico de hepatopatias: histórico, sinais


clínicos, exames bioquímicos, testes
adicionais (ecografia, raio-x e biópsias)

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