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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Anna Gabriela Melo Silva


Isabela Natiele G. Padilha

O CONTO DA AIA
RELAÇÃO ENTRE INDIVÍDUO E SOCIEDADE

CONTAGEM
2018
O CONTO DA AIA

O Conto da Aia é um romance distópico escrito por Margaret Atwood, em 1985. A história de
Atwood é vista como uma alegoria da condição da mulher como cidadã e indivíduo em uma
sociedade machista.

A história se passa em um futuro não tão distante e tem como cenário uma república chamada
Gilead, onde não existem mais jornais, revistas, livros ou filmes, tudo fora queimado. O exorbitante
nível de poluição passou a afetar, além do meio ambiente, a fertilidade dos seres humanos. O
planeta entra em uma crise populacional, a taxa de mortalidade infantil se torna consideravelmente
maior do que a de natalidade. Devido a isso, surge um grupo radical que muda o sistema de governo
para uma teocracia totalitária, que tem como base a escravização de mulheres férteis seguindo
princípios bíblicos.

Vendo, pois. Raquel que não dava filhos a Jacob, teve Raquel inveja da sua irmã, e disse a
Jacob: Dá-me filhos, ou senão eu morro.

Então se acendeu a ira de Jacob contra Raquel e disse: Estou eu no lugar de Deus, que te
impediu o fruto de teu ventre?

E ela lhe disse: Eis aqui a minha serva, Bilha; Entra nela para que tenha filhos sobre os
meus joelhos, e eu, assim, receba filhos por ela. — GÊNESIS, 30:1-3.

O Conto da Aia traz especifica série de críticas e reflexões sobre as funções e estereótipos da
mulher dentro da sociedade. Em um momento da história, o dinheiro de todas as mulheres é retirado
de suas contas e transferido para as contas dos maridos e elas são proibidas de trabalhar, isso mostra
o quanto os direitos das mulheres ainda são frágeis nas mãos daqueles que detém o poder,
principalmente quando este é alcançado pelo uso da força.

A dinâmica da sociedade é mudada silenciosamente para que as pessoas não possam se dar conta do
que está por vir. De uma hora para outra, as mulheres férteis começam a ser caçadas e submetidas a
um treinamento que funciona como uma espécie de lavagem cerebral. É ensinado às aias a
sacralização do corpo, passa a ser proibido que, não só as aias, como as outras mulheres, usem
roupas que deixem partes do corpo à vista, como braços e pernas.

As aias que não cumprem com a expectativa de reprodução são enviadas, juntamente com àquelas
consideradas Não-mulheres (mulheres inférteis, homossexuais, viúvas, adúlteras e feministas), às
colônias, lugares onde o nível de radiação é fatal, sendo condendas a trabalhos forçados. Já as aias
que quebram as regras são condenadas a ter o mesmo fim que “criminosos” comuns: fuzilamento e
exposição no Muro, que funciona como uma galeria, onde corpos de “criminosos” são
constantemente expostos para que sirva que exemplo à todos os cidadãos.

Ao serem designadas para uma família, as aias passam a usar um uniforme vermelho e branco e
perdem seus nomes, passam a ser chamadas pelo nome do Comandante da casa, como a
protagonista, que recebe o nome de Offred (Of Fred), se tornando, assim, uma propriedade. Offred,
em vários momentos do livro, demonstra sua extrema insatisfação quanto ao sistema que é
submetida, mas, ao mesmo tempo, está tão imersa nessa nova realidade que, ao se lembrar das
coisas que fazia antes, entra em conflito consigo mesma:

Eu costumava pensar em meu corpo como um instrumento de prazer, ou um meio de


transporte, ou um implemento para a realização da minha vontade. Eu podia usá-lo para
correr, para apertar botões, deste ou daquele tipo, fazer coisas acontecerem. Havia limites,
mas meu corpo era, apesar disso, flexível, único, sólido, parte de mim (p. 90).

Essa nova realidade atormenta àqueles que estão submetidos a ela. Todos passam a ter obrigações,
essas que, muitas das vezes, só são cumpridas na esperança de que o novo sistema prospere e, claro,
evitando punições severas; sistema esse que, além de roubar a liberdade dos indivíduos, rouba
também a identidade. Ao terem seus corpos e mentes roubados, as mulheres passam a (des)construir
sua identidade; as reflexões de Offred acerca do que vivera no passado e de como vive no presente
explicitam essa (des)construção.

Minha nudez já é estranha para mim. Meu corpo parece fora de época. Será que realmente
usei trajes de banho, na praia? Usei, sem pensar, entre homens, sem me importar que
minhas pernas, meus braços, minhas coxas e costas estivessem à mostra, pudessem ser
vistas. Vergonhoso, impudico. Evito olhar para baixo, para meu corpo, não tanto porque
seja vergonhoso ou impudico mas porque não quero vê-lo. Não quero olhar para alguma
coisa que me determine tão completamente (p. 78).

Pode-se relacionar a situação das aias no livro com o que as mulheres vivenciam na atualidade em
questão ao aborto. São muitas as situações nas quais mulheres são impedidas de decidir o que fazer
com o próprio corpo, e, na pior das hipóteses, existe uma terceira pessoa decidindo por elas.

Mais do que propor uma discussão sobre a redução da mulher a um papel reprodutivo, o livro
questiona nossas noções de família, violência, o papel da religião nos caminhos que traçamos como
indivíduos e como sociedade, os múltiplos significados do sexo, além do controle sobre o próprio
corpo, poder e papéis considerados como femininos num momento crucial de avanço de
retrocessos. O Livro tem como objetivo reforçar a reflexão sobre até que ponto estamos dispostos a
manter uma cultura que prega a submissão e a objetificação da mulher.
REFERÊNCIA

ATWOOD, Margaret. O Conto da Aia. Trad. Ana Deiró. Rio de Janeiro: Rocco, 2017.

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