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ONCOLOGIA CLÍNICA-CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS

NEOPLASIA
Proliferação celular descoordenada (capacidade de proliferação aumentada), maior que a morte
celular programada (apoptose), originando o aumento de volume.
- Benigna: normalmente, de crescimento lento, pouco invasivas e de baixo potencial metastático
- Maligna: normalmente, de crescimento rápido, altamente invasivas e de alto potencial metastático
 invasivo: capacidade do tumor de invadir as estruturas adjacentes a sua origem
 metástase: capacidade de disseminação das células tumorais (via sanguínea ou linfática) para tecidos distantes
Em algum momento do desenvolvimento dessa célula, agentes carcinogênicos irão promover alteração na composição
do material genético, alterando o grau mitótico e aumentando o tempo de vida celular.

CARCINOGÊNESE
Células neoplásicas são mutadas pelos agentes carcinogênicos, que promovem um crescimento celular
do tipo exponencial (crescimento ascendente, chamada de cinética de crescimento Gompertziano).
A detecção clínica da neoplasia (seja por palpação, inspeção ou visualização através de exames de
imagem) se dará quando a massa neoplásica atingir cerca de 1 cm de diâmetro. Neste caso, a neoplasia
já terá no mínimo 109 (1 bilhão) de células neoplásicas.
O momento de detecção clínico da neoplasia, dependendo do tipo de neoplasia, está próximo do
momento do óbito pela neoplasia, que está entre 1012 (1 trilhão) de células neoplásicas.

INCIDÊNCIA
- Em animais, a frequência é até duas vezes superiores aos humanos (cerca de um a cada cinco cães)
- Maioria dos acometidos, está entre os cães maiores de 10 anos de idade (gatos tem menor incidência de neoplasias,
sendo mais comum em felinos acima de 11 anos)

NOMENCLATURA
- Classificado a partir da origem celular e do caráter da neoplasia (maligna ou benigna):
células epiteliais (maligna – carcinoma; benigna – glandular – adenomas)
 carcinoma de glândula mamária (maligno), adenoma de glândula mamária (benigno)
células mesenquimais (maligna – ...sarcoma; benigna – ...oma)
 hemangioma (benigno), hemangiossarcoma (maligno)
células redondas (toda neoplasia de células redondas, irá terminar com o sufixo ...oma)
 linfoma (maligno), mieloma (maligno), TVT (benigno), leucemia (maligno)

AVALIAÇÃO CLÍNICA
- Resenha e anamnese (predisposição entre as espécies e raciais)
 espécies: cães (carcinomas e sarcomas) e gatos (sarcomas, carcinomas de células escamosas)
 raças: cães de grande porte: predisposição racial a osteossarcoma (diagnóstico em casos de claudicação), cães
bernese (predisposição genética a sarcoma histiocítico pulmonar), daschund e boxer (mastocitoma), golden
retriever (linfoma), gatos de raça branca (carcinoma de células escamosas)
 idade: jovens (linfoma, TVT), idosos (carcinomas, sarcomas)
 sexo: fêmeas (carcinomas mamários e ovarianos), machos (carcinomas prostáticos, neoplasias testiculares)
 vacinação: felinos (sarcoma de aplicação)
 habitat: incidência solar em animais despigmentados (carcinoma de células escamosas)
- Estadiamento clínico (TNM) – realizado juntamente com o diagnóstico (estadiamento do paciente, não do tumor!)
o T (“tumor”): avaliar o tumor do animal (presença do tumor, e o tamanho do tumor, se houver)
o N (“nódulos linfáticos”): avaliar os linfonodos regionais adjacentes, que são chamados de linfonodos satélite,
por palpação ou punção do linfonodo (aumento de volume e se estão moveis ou não)
o M (“metástases”): presença de metástases à distância (realizado com o auxílio de exames de imagem)

DIAGNÓSTICO DAS NEOPLASIAS


- Citologia (avalia as células neoplásicas): utilizado para identificar qual a origem do tumor
 PBA (punção biópsia aspirativa): utilizar uma agulha fina, para coleta de conteúdo celular,
presente no tumor, movendo-se a agulha em diferentes ângulos e profundidades. Após, retira-se a
agulha, e o material coletado é colocado na lâmina, e realiza-se o squash (colocar uma lâmina
sobre a outra para espalhar o material)
 Imprint: realizado em casos de neoplasias ulceradas, consiste na colocação da lâmina
diretamente na superfície da neoplasia, fazendo com que sejam reveladas as células de
superfície e algumas inflamatórias (caso as lesões estejam contaminadas, pode prejudicar a
visualização)
 Fluidos corporais: pode-se analisar, se há ou não a presença de células neoplásicas (urina, líquido pleural,
líquido abdominal, líquido pericárdico)
- Histopatologia (avalia a neoplasia em nível tecidual): utilizado para verificar o caráter de malignidade do tumor
 Biópsia excisional: retirada de toda a área de tumor (nestes casos, prioriza-se retirar com margem cirúrgica)
 Biópsia incisional: retirada de apenas uma parte do tumor (uma área com a neoplasia, e outra sem)
- punch: instrumento cortante que permite uma retirada mais profunda de tecido
- Hematologia e bioquímica sérica: leucemias, linfoma, síndrome paraneoplásica
- Exame radiográfico (tumor de mama, osteossarcoma) endoscopia e colonoscopia, ultrassonografia (bexiga, fígado)
- Tomografia e ressonância magnética (sistema nervoso e outras estruturas internas)

DOR ONCOLÓGICA
- Causas: invasão tumoral nos tecidos adjacentes (lipoma, sendo neoplasia benigna, porém altamente invasiva), medida
terapêutica (cirurgia, radioterapia), síndrome paraneoplásica (quando uma neoplasia produz uma substância que irá
reagir no organismo, provocando um efeito paralelo à neoplasia, como, por exemplo, linfoma, que produz uma
proteína similar ao paratormônio, que irá promover uma maior reabsorção de cálcio, e uma hipercalcemia, ou ainda a
neuropatia periférica, que é mediada por um processo inflamatório por citocinas produzidas por alguns tipos de
neoplasias, como neoplasias pulmonares, mamárias, entre outras, cursando com claudicação em um dos membros),
inflamação (mastocitoma, que faz a liberação de grânulos de histamina e heparina dos mastócitos, e carcinoma
inflamatório de glândula mamária
- Sinais de dor crônica: caquexia, limitação de atividades normais anteriormente, vocalização, apatia ou agressividade
(mudanças de comportamento), distúrbios de micção ou defecação (lugares diferentes do de costume), pelagem mal
cuidada (gatos que param de fazer o grooming, que é a autolimpeza), claudicação, auto-traumatismo
- Tratamento da dor: consiste em 3 formas
 tratar a neoplasia (causa da dor): quimioterapia, cirurgia, radioterapia
 tratar a transmissão e percepção da dor: anti-inflamatórios, analgésicos, opioides
 diminuir sofrimento (medidas paliativas): uso de rampas, carpetes e colchões, melhorar nutrição
- Dependendo da origem da dor (compressão nervosa, processo inflamatório, crescimento excessivo da neoplasia),
estabeleceremos o tipo de fármaco para tratar a dor
- Ex.: dor por osteossarcoma (neoplasia mesenquimal maligna óssea – possui diferentes graus de dor, conforme os
sinais clínicos e evolução clínica da neoplasia):
 fase inicial da dor: somente AINEs (dor discreta é resultante do crescimento ósseo da neoplasia)
 crescimento tumoral(compressão nervosa – dor neuropática): anticonvulsivante (visa tratar a transmissão da
dor, não convulsão, como a gabapentina, que é útil na dor neuropática), opióide (tramadol ou fentanil na forma
de adesivos) – caso não há como controlar a dor de forma caseira, internar (utilizar morfina)
 proliferação e hipertrofia óssea: bifosfanatos (diminuem ou inibem a lise óssea, e potencial analgésico)
 destruição óssea: analgésicos neuroaxiais, radioterapia analgésica
- Anti-histamínicos (clemastina, prometazina): utilizar quando a causa da dor é a liberação de histamina (origem
inflamatória, como nos mastocitomas)
- Anti-eméticos (metoclopramida) e estimulantes de apetites: quando a dor é causada por neoplasia gastrointestinal
(podendo usar protetores de mucosa, quando houver ulceração, como o sucralfato)
- Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, mitarzapina): utilizados em casos de dor crônica (efeito demorado)
- Alternativos: acupuntura, fisioterapia, bloqueios locais, ozonioterapia
Exemplo de protocolo para paciente com dor crônica:
Analgésico não opioide (dipirona) + AINE (meloxicam) + opioide (tramadol) - pode associar com antidepressivo em dor crônica (amitriptilina)
- meloxicam (AINE preferencial COX-2, sendo usado no máximo por 5 dias, pois após, já apresenta efeitos colaterais – melhor para uso em
neoplasias viscerais – caso seja em sistema osteoarticular, ou por compressão nervosa, utilizar AINEs seletivos COX-2

- Não utilizar corticoide: diminui a inflamação, porém aumenta à resistência a quimioterapia

TRATAMENTO
- Suporte nutricional: pode ser feito enteral (via oral) ou parenteral (intravenoso)
 caso o animal não consegue se alimentar, realizar sondagem nasogástrica (não necessita de anestesia, somente
lubrificar com lidocaína, porém sai fácil) ou faringostomia (necessita de anestesia, porém mais difícil de sair)
 dieta que diminui o crescimento neoplásico: pouco carboidrato (neoplasia se nutre de carboidrato), com mais
proteína e mais lipídeos
 ciproeptadina ou mitarzapina: estimulante de apetite (quando o animal está com hiporexia, ou apetite seletivo)
 fluidoterapia (tratar a desidratação do animal)
 omêga 3 (diminui a vascularização do tumor, o crescimento tumoral e riscos de metástases) – não administrar
o complexo junto com ômega 6, pois este tem efeitos opostos no tumor
 glicosaminoglicanos (condroitina): diminuem a inflamação e crescimento tumoral
 antioxidantes (vitamina C, E, selênio, carotenoides): aumentam o metabolismo de proteínas e o sistema imune
- Cirurgia oncológica (na maioria dos casos, é a medida inicial do tratamento oncológico)
 ressecção curativa: retirada da neoplasia como um todo, necessitando de um cuidado para
realizar juntamente a ressecção da margem cirúrgica (tecido ao redor que aparenta estar
normal, tanto nas laterais, quanto na profundidade)
 - margem cirúrgica: em torno de 3 cm além dos bordos da neoplasia (remover ramificações microscópicas) –
realizar a histopatologia para verificar se a margem cirúrgica foi respeitada ou se foi comprometida
 algumas vezes, devido a alta retirada de margem cirúrgica, pode-se realizar anaplastia (cirurgia reconstrutiva)
ou a utilização de retalhos
 sarcomas de tecidos moles, carcinomas e melanomas: são muito agressivos (margens maiores)
 após remoção do tumor, fazer a biópsia do linfonodo sentinela que se apresentar alterado (esvaziamento
linfático, com o uso de corante, para visualizar o linfonodo que drena a região)
 ressecção paliativa: não irá tratar totalmente a neoplasia, porém visa promover um conforto e melhor
qualidade de vida ao paciente (citorredutiva – reduz o tamanho da neoplasia)
- Quimioterapia: injeção de medicamentos (quimioterápicos) que possuem ação antineoplásica, agindo lesando o
DNA da célula neoplásica (age no ciclo mitótico, impedindo a sua replicação e divisão). Pode ser usado como terapia
única (como no linfoma e TVT), ou adjuvante (combinado com outros métodos, como cirurgia, radioterapia, etc.)
 tem como objetivo a cura (TVT) ou melhorar a qualidade de vida do paciente
 - quimioterápicos mais conhecidos: vincristina (utilizado no TVT), doxorrubicina (linfoma), cisplatina (ótima
ação em cães, porém nefrotóxica em gatos)
 princípios de quimioterapia: calculada em m2 (converter o peso do animal em kg para área de superfície
corporal do animal em m2 )
Fórmula: volume (ml) = dose (mg/m2 ) x peso (m2 )
concentração (mg/ml)

 alguns quimioterápicos, são vesicantes (como a vincristina), e caso saiam o espaço vascular, promovem uma
necrose extravascular nos tecidos moles adjacentes (realizar uma única perfuração na veia, para não
extravasar)
- sinais de extravasamento: edema, dor (vocalização, lambedura, mordedura), inflamação, descamação,
claudicação, vermelhidão, necrose, úlcera
 por serem fármacos que lisam o DNA celular (principalmente de células lábeis, que são as de rápida divisão,
como as do sangue, folículo piloso, da pele e do sistema gastrointestinal e as da própria neoplasia), isto gera
efeitos colaterais (problemas gastrointestinais, anemias, queda de pelos)
 cuidado com o preparo, administração e descarte (realizar o uso de equipamentos de proteção individual)
 toxicidade aos quimioterápicos: em torno de 75% dos cães apresentam efeitos colaterais leves (hiporexia
discreta, vômito e diarreia ocasional). Em torno de 20% dos cães apresentam efeitos colaterais moderados
(vômito e diarreia mais intensa, sendo necessário o uso de medicamentos, como anti-eméticos, protetor de
mucosa). Em torno de 5% apresentam efeitos colaterais graves (necessitam ser hospitalizados).
- efeitos citotóxicos e embriotóxicos: alopecia, mielossupressão, leucopenia (abaixo de 2500 neutrófilos, é
indicado suspender a quimioterapia e realizar antibiótico profilático, para diminuir chances de infecção),
nefrotoxicidade, hepatotoxicidade, cardiotoxicidade, cistite hemorrágica, anafilaxia, etc
 avaliar entre os benefícios e os efeitos colaterais (se os benefícios são superiores)
- Radioterapia: utilização de raios isótopos diretamente na lesão (considerado um tratamento local, não possuindo
efeitos sistêmicos, como a quimioterapia) – teleterapia é a mais usada (radiação a longa distância), também possuindo
a braquiterapia (radiação a curta distância). Age em diferentes meios, interagindo diretamente (lesionando o DNA) ou
indiretamente (produz radicais livres na célula, que irão lesioná-la) – alguns necessitam de tomografia antes da seção.
Animal deve estar sobre anestesia geral (não se mexer durante a sessão).
 curativa: em casos de sarcomas de tecidos moles e linfomas localizados (remoção da neoplasia)
 adjuvante: associada a outras terapias
 paliativa: analgésica (mais realizada em osteossarcoma)
- Eletroquimioterapia: uso de quimioterapia convencional injentável ou intralesional, potencializada por pulsos
elétricos (diretamente na neoplasia, com o uso de ponteira que emite uma corrente elétrica), induzindo a eletroporação
(formação de poros na membrana celular), fazendo com que o quimioterápico entre com maior facilidade na célula, e
tenha maior ação intracelular. Utilizado em neoplasias de pele e cavitários. Possui menos efeitos adversos, e maior
efetividade (principalmente em fibrossarcomas, melanomas e carcinomas). Quimioterápicos utilizados são bleomicina
(poucos efeitos colaterais) e cisplatina (nefrotóxica)
- Criocirurgia: tratamento por congelamento, por instrumento (criocautério) onde há nitrogênio liquido, que se aplica
diretamente na lesão, que desidrata a célula por congelamento rápido, formando cristais de água no interior, e
promovem o rompimento das células, por descongelamento lento. Quanto maior o teor de água do tecido, melhor a
ação (muito utilizados em neoplasias de pele, como carcinoma de células escamosas
- Imunoterapia: estimulação de anticorpos (autovacinação)
- Terapias alternativas: acupuntura (ponto DH8 – estimula imunidade e diminui respostas a quimioterapia, servindo
como um adjuvante), ozonioterapia (também pode ser utilizado como adjuvante)

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