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As Perturbações

de Aprendizagem
Específicas
refletidas nas
Emoções

Ana Márcia Vaz Serra Fernandes


As P.A.E. refletidas nas Emoções
Aspetos relacionados com as  Como fazer?
 1. Caracterizar o perfil
PAE:  2. Desenvolver o
autoconceito
 1 - Perceção do controlo
 3. Melhorar a autoestima
pessoal  4. Promover as habilidades
sociais
 2 - Ansiedade
 5. Dar ênfase à aprendizagem
cooperativa
 3 - Autoconceito
 6. Diminuir a ansiedade
 4 – Depressão
Plano emocional dos adultos
 Aspetos socioemocionais com PAE:
 Vergonha
das PAE
 Medo
 O que fazer?  Inteligência Emocional
 Adaptação à Mudança
As perturbações de
aprendizagem específicas
caminham, a maior parte das
vezes, lado a lado com
problemas emocionais. São
várias as situações emocionais
que se manifestam através
destas dificuldades e ganham
forma no insucesso escolar.
Aspetos relacionados com as
perturbações de aprendizagem
específicas:
1 - Perceção do controlo pessoal (Locus
de Controlo)

2 - Ansiedade

3 - Autoconceito

4 - Depressão
1 - Perceção do controlo pessoal
Na escola, a criança recebe as avaliações dos
professores, os comentários dos colegas e as
repreensões dos pais sobre as suas habilidades e
sucessos académicos e, com base nelas, constrói uma
visão de si (Cubero & Moreno, 1995).

O fracasso faz com que as crianças com Perturbações


de Aprendizagem Específicas possam sentir-se culpadas
pelas suas falhas, atribuindo-as à sua incompetência,
enquanto os êxitos são atribuídos à facilidade da tarefa,
à sorte ou a outros fatores externos.
1 - Perceção do controlo pessoal
Isto relaciona-se com o conceito de locus de controlo. Um
locus de controlo interno significa que a criança atribui a
culpa do seu insucesso escolar a si própria, enquanto no
locus de controlo externo, a criança atribui as causas do seu
insucesso aos outros, à escola, ao professor, ou até mesmo à
própria sociedade.

Assim, crianças com um locus de controlo interno,


apresentam sentimentos de vergonha, insegurança em si
mesmas, baixa autoestima e autoconceito (Erikson, 1971 cit.
por Santos e Marturano, 1999).

As crianças com locus de controlo externo, experimentam


sentimentos de raiva, distanciamento das tarefas
académicas, expressando hostilidade em relação aos
outros, frustração e agressividade. (Stevanato et al., 2003)
2 - Ansiedade

As crianças com Perturbações de Aprendizagem


Específicas apresentam

níveis de ansiedade elevados

face a situações relacionadas com o insucesso


académico, que se manifestam nos momentos de
avaliação

e podem chegar, em casos extremos, a rejeitar a escola.


2 - Ansiedade

A ansiedade é um processo físico que nos mantém em


alerta, criando um estado de vigília no qual todo o corpo
fica preparado para reagir a agressões exteriores, e o
nosso cérebro fica com maior agilidade de raciocínio,
numa tentativa de, perante a situação, conseguir
encontrar uma solução.

A ansiedade é a antecipação da ameaça futura. A causa


desta condição é a força emocional das experiências
vividas no passado.

É diferente do medo, que é uma resposta emocional a


uma ameaça iminente real ou percebida.
3 - Autoconceito

Vaz Serra (1998) define autoconceito como a perceção


que o indivíduo tem de si próprio e o conceito que, devido
a isso, forma de si. Há vários tipos de autoconceito como o
académico, emocional, social ou físico.

Stevanato (2003) desenvolveu um estudo que permitiu


concluir que as crianças com PAE apresentam um
autoconceito geral mais negativo do que as crianças do
grupo de controle.

Segundo Adrián (2002) estas crianças apresentam,


especificamente, um baixo autoconceito académico.
4 - Depressão

Algumas pesquisas evidenciam que as crianças com PAE


apresentam problemas de ordem emocional e
comportamental.

Estas crianças têm, frequentemente, dificuldades


intrapessoais e interpessoais, como a depressão e a
solidão.

Alguns estudos apontam para o risco de desenvolvimento


de uma patologia depressiva, associada ou não a
suicídio.
4 - Depressão

O Diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental


(2015) alertou para o acréscimo muito significativo de
crianças e adolescentes de famílias a recorrer às
urgências com casos de depressão, ansiedade e
tentativas de suicídio.

Se as crianças com dificuldades de aprendizagem não


forem devidamente acompanhadas, poderão não
ultrapassar as suas dificuldades, mas, se houver uma
intervenção atempada, poderão apresentar progressos
significativos.
Segundo o estudo de Cruz (1999) os problemas
emocionais mais presentes nestas crianças são:

 instabilidade emocional,
 tensão nervosa,
 dificuldade em manter a atenção,
 inquietude, por vezes confundida com hiperatividade,
 reações comportamentais impulsivas,
 problemas de comunicação,
 autoestima e autoconceito baixos,
 reduzida tolerância à frustração.
Aspetos socioemocionais das PAE

Os estudos têm mostrado que os alunos com PAE podem


ser propensos a:
• serem menos aceites pelos seus pares,
• terem um risco maior de alienação social por parte dos
outros,
• serem menos frequentemente selecionados para jogar
ou participar em atividades de grupo,
• estarem mais dispostos a conformar-se com a pressão
dos pares.
Aspetos socioemocionais das PAE

Não devemos assumir que todos os alunos com PAE têm


problemas socioemocionais.

Há muitos alunos com PAE cuja área forte é a das


habilidades sociais e que são capazes de lidar com
desafios emocionais sem apoio.

Na adolescência isto é especialmente problemático por


causa da predisposição geral para se envolverem em
comportamentos antissociais.
Aspetos socioemocionais das PAE

Os estudantes com PAE exigem, frequentemente, mais


tempo e atenção por parte dos professores e outros.

Quando estes alunos:


o colocam perguntas inapropriadas;
o fazem a mesma pergunta que foi respondida momentos
antes;
o respondem impulsivamente em vez de esperar a sua vez;
o interpretam mal ou desrespeitam as regras; e
o fazem interrupções,

o resultado pode ser perturbador para todos os intervenientes


(os próprios alunos, colegas e professores/educadores).
O que fazer?

Devemos tentar promover o


bem estar socioemocional
destes estudantes.
Como fazer?
1. Caracterizar o perfil da criança:

 as suas áreas fortes (competências) e reforçá-las;


 as suas áreas emergentes e desenvolvê-las.

2. Encontrar formas de desenvolver o autoconceito do aluno


e ajudá-lo a atingir e manter um nível de apreciação e de
estatuto positivo entre os seus pares.

Para muitos alunos, isto muitas vezes é mais facilmente


conseguido em atividades extracurriculares (por exemplo, na
música, no desporto, nas artes).
Como fazer?
3. Melhorar a autoestima destas crianças:

 Incentivá-las a recuperar a confiança em si mesmas;

 Destacar os êxitos e não enfatizar os erros;

 Valorizar os seus esforços e interesses;

 Atribuir tarefas que possam fazê-las sentir-se confiantes;

 Evitar o uso de expressões negativas ou expô-las;

 Respeitar os seus ritmos de aprendizagem;

 Realizar atividades compensatórias.


Como fazer?

4. Promover as habilidades sociais da seguinte forma:

 avançar com pequenos passos,

 demonstrar e dar vários exemplos,

 dar reforço e feedback,

 encontrar oportunidades para generalizar/aplicar


habilidades e comportamentos recém-aprendidos a
diferentes situações.
Como fazer?

Habilidades a trabalhar:

 Reconhecer/interpretar sinais não-verbais (por exemplo,


gestos, linguagem corporal)

 conversa/diálogo social (por exemplo, tomando a


iniciativa, pedindo esclarecimentos)

 ser engraçado vs agir de modo inapropriado (por


exemplo, saber quando contar uma piada, e quando
fazê-lo pode ser ofensivo ou intrusivo, saber quando
brincar e quando parar)
Como fazer?

Habilidades a trabalhar:

 confidencialidade e proximidade (que tipo de


informação partilhar, como conseguir cativar a
atenção/amizade de alguém)

 dar e aceitar o feedback positivo (receber elogios sem


ficar envergonhado/convencido)

 Identificar sentimentos (seus e dos outros)

 antecipar problemas e resolver problemas (antes,


durante e depois de momentos de stress).
Como fazer?

5. Dar ênfase à aprendizagem cooperativa e tentar diminuir


a competição.

Seja em casa, no trabalho ou na sala de aula, os alunos têm


tendência a comparar o seu trabalho e respetivo resultado
com o dos seus colegas.

Os alunos, para além de trabalharem de forma


independente, devem ter oportunidade de aprender de
forma partilhada e de trabalhar em grupo.

O objetivo não é só criar ligações emocionais e sociais entre


os alunos, mas sim reforçar a aprendizagem.
Como fazer?

6. Diminuir a ansiedade
Sendo a ansiedade, por definição antecipatória, uma
forma de a prevenirmos consistirá em criar condições de
previsibilidade no dia a dia da criança:

 Ensinar à criança tempos, horários, rotinas;


 Incentivar as suas brincadeiras na escola, o contacto
com os colegas, dar-lhe segurança, fazê-la sentir-se
amada e segura.

O recurso a técnicas de psicoterapia cognitiva e


comportamental e técnicas de relaxamento também
poderão ajudar a minorar o sofrimento.
Plano
emocional dos
adultos com
PAE
VERGONHA
Vergonha

As pessoas que crescem a par das dificuldades de


aprendizagem específicas, muitas vezes, desenvolvem
uma sensação de vergonha.

Para alguns é um grande alívio conhecer o diagnóstico,


para outros o rótulo pode estigmatizá-los ainda mais.

Infelizmente, este sentimento de vergonha leva muitas


vezes os indivíduos a ocultarem as suas dificuldades.
Vergonha

Em vez de quererem arriscar serem rotulados como


estúpidos ou acusados de serem preguiçosos, alguns
adultos ativam um mecanismo de defesa, negando as
suas dificuldades.

Rótulos negativos como o da incompetência, se forem


internalizados geralmente dão origem a um baixo
autoconceito e a falta de autoconfiança.
MEDO
Medo

Esta emoção é muitas vezes mascarada pela raiva ou


ansiedade.

Explorar o medo é, muitas vezes, a chave para que os adultos


possam lidar com as consequências emocionais das PAE.

Há que ter em conta o medo:

• de ser descoberto;

• do fracasso;

• de julgamento ou crítica;

• da rejeição.
INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL
O que é a Inteligência Emocional?
Inteligência Emocional

Segundo Damásio, a falta de ligação entre o


desenvolvimento cognitivo e a emoção poderá ter
consequências inquietantes nas gerações futuras.

Refere também que a aptidão cognitiva das novas gerações


tem-se desenvolvido muito mais rapidamente do que as suas
capacidades emocionais.

A componente afetiva/emocional tem uma grande


importância no desenvolvimento normal da criança (Asensio,
2006).
TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Howard Gardner afirma que a INTELIGÊNCIA não é uma


propriedade única da mente humana, resulta da
interação entre as diversas competências – as
inteligências.

Cada competência é independente das outras e se não


são desenvolvidas ficam inertes.
Linguística

Musical Interpessoal

Lógico- Intrapessoal
matemática

Corporal-
Cinestésica Espacial

Espiritual Naturalista
TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

Todas as pessoas possuem todas as Inteligências, com níveis


de desenvolvimento diferentes.

É importante valorizar todos os tipos de Inteligências e, se


possível, desenvolvê-las.
A inteligência emocional
nada mais é do que a
combinação das inteligências
interpessoal
e intrapessoal,
desenvolvidas por
Howard Gardner.
Modelo de Inteligência Emocional - Goleman (2005)

Dimensões da Inteligência Intrapessoal:

 Autoconsciência das próprias emoções;

 Autorregulação emocional;

 Automotivação;

Dimensões da Inteligência Social:

 Empatia;

 Aptidão social.
Modelo de Inteligência Emocional - Goleman (2005)

 Autoconsciência das próprias emoções: conhecimento


que o ser humano tem de si próprio, do que está a sentir
em determinado momento e utilização dessa informação
na tomada de decisões.
Esta competência é fundamental para que a pessoa
possua confiança em si (autoconfiança) e conheça os seus
pontos fortes e menos fortes.
 Autorregulação emocional: a pessoa, ao ser capaz de
gerir as suas emoções e controlar os seus sentimentos,
realiza as tarefas mais facilmente e adapta-se
eficazmente a qualquer situação.
Modelo de Inteligência Emocional - Goleman (2005)

 Automotivação ou mobilização das emoções para um


objetivo: é essencial ter vontade de realizar, otimismo,
pôr as emoções ao serviço de uma meta.

Só deste modo é possível ter eficácia pessoal e uma


reação positiva aos contratempos e frustrações que
podem surgir.

Estas três dimensões da inteligência emocional dependem


exclusivamente do sujeito e referem-se ao nível pessoal da
inteligência (Iglesias Cortizas, 2004).
Modelo de Inteligência Emocional - Goleman (2005)

 Empatia: reconhecimento dos sentimentos dos outros, sabendo-


se colocar no lugar do outro, perceber o outro, ser capaz de
captar os seus sentimentos.

 Aptidão social: refere-se à eficácia das relações interpessoais, à


gestão das emoções dos outros, à capacidade para lidar com as
emoções do grupo.

Estas duas dimensões da inteligência têm por base a relação com os


outros e o nível social da inteligência (Iglesias Cortizas, 2004).
A importância da Inteligência Emocional

Inteligência Emocional refere-se ao


conjunto de capacidades que fazem com
que a pessoa atue de uma forma adulta e
autocontrolada, evitando incorrer em
comportamentos regressivos e
emocionalmente imaturos.
Pessoas com elevados níveis de Inteligência
Emocional criam climas em que há:

- Partilha;

- Confiança;

- Níveis saudáveis de tomada de risco;

- Aprendizagem positiva.
Ao contrário, baixos níveis de Inteligência
Emocional produzem:
- Medo
- Ansiedade
- Inibição de arriscar
- Resistência à partilha de conhecimentos e
experiência.

O estado de espírito de cada pessoa repercute-se


nos outros.
A Inteligência Emocional pode ser aprendida?
Segundo Goleman:

- A Inteligência Emocional tem uma componente genética,


mas a investigação demonstra claramente que a
inteligência emocional pode ser aprendida.
- O que corresponde a cada uma destas duas parcelas
ninguém sabe…

- A Inteligência Emocional aumenta com a idade, o que


provavelmente reflete a tão falada “maturidade”.

- Em qualquer caso, há uma condição fundamental para esta


aprendizagem - ter sincero desejo de mudar e efetuar os
esforços correspondentes.
Regulação Emocional
Adultos com PAE têm frequentemente dificuldades na regulação
das emoções. Podem oscilar facilmente entre emoções distintas e
manifestar dificuldade em controlar ações e pensamentos
impulsivos.

Têm elevado sentido de justiça e altos níveis de sensibilidade


emocional, o que pode ser benéfico e ao mesmo tempo prejudicial.

A maioria destes adultos aprendeu a lidar com a sua sensibilidade


emocional, evitando situações/emoções demasiado intensas
(positivamente ou negativamente).
ADAPTAÇÃO À
MUDANÇA
Adaptação à Mudança

A mudança pode ser assustadora para todos, mas para as


pessoas com PAE pode ser particularmente difícil.

Em crianças, preferem que os procedimentos não mudem e


têm dificuldade em mudar de uma atividade para outra.

Os adultos com PAE são frequentemente descritos como


inflexíveis quando se trata de considerar outro ponto de vista
ou de uma forma diferente de fazer algo.

Alguns adultos terão dificuldade em mudar de uma tarefa para


outra sem terminar a primeira antes de passar para a próxima.
Adaptação à Mudança

Geralmente esta dificuldade diminui à medida que a criança


amadurece.

No entanto, em adultos, podem ainda resistir à mudança,


mas de forma mais subtil.

Para evitar a tendência de culpar a pessoa pela sua falta de


flexibilidade é importante compreender a base neurológica
desta sua dificuldade.
É difícil para os adultos adaptarem-se
à mudança porque a mudança traz o
inesperado. Em geral, as pessoas com
PAE estão pouco preparadas para o
inesperado.

O inesperado pode trazer novos


obstáculos de aprendizagem, novas
exigências de trabalho ou novos
desafios sociais.

Como todas estas áreas podem ser


afetadas pelas PAE não é de admirar
que a mudança possa produzir níveis
elevados de ansiedade.
Adaptação à Mudança

Melhoria da
desenvolvimento
capacidade de se
das habilidades
adaptarem à
sociais
mudança

Ajuda dos pais,


facilitação dos compreensão
professores e
processos de e respeito das
outros
transição necessidades
profissionais
A fim de evitar que estes
problemas emocionais
assolem a vida das crianças,
futuros adultos de amanhã,
a família, a escola e os
profissionais que intervêm
junto da criança devem
trabalhar em conjunto.
A criança merece, a família
e a escola agradecem!
MUITO
OBRIGADA
PELA VOSSA
ATENÇÃO
Ana Márcia Vaz Serra Fernandes
ana.serra@esepf.pt

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