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1.

14 Ligação em zigue-zague dos enrolamentos de um transformador


trifásico
A ligação em zigue-zague é obtida pela divisão de cada enrolamento de fase, no lado de baixa
tensão, em duas partes, geralmente iguais, colocadas em colunas diferentes (Fig.1.18(a)). A
ligação das duas partes faz-se de modo que as f.e.m. se subtraiam geometricamente. Para o
conseguir, liga-se o fim de cada meio enrolamento de fase ao fim da outra metade no mesmo
enrolamento. Se os enrolamentos de fase estão divididos em duas partes iguais, a f.e.m.
resultante do enrolamento de fase é 3 vezes maior que a f.e.m. de cada uma das suas metades
(Fig. 1.18(b)). Esta ligação é utilizada em transformadores para a alimentação de rectificadores.

Fig. 1.18: Ligação em zigue-zague.

1.15 Esquemas e grupos de ligação


Ao falarmos de transformadores, devemos prever a possibilidade de ligação em paralelo, para
a qual somente os terminais equipotenciais podem ser ligados entre si. Por este motivo, a
indicação do tipo de ligação dos enrolamentos do transformador não é suficiente. É necessário
o ângulo de desfasamento entre as tensões compostas do primário e do secundário. Deste modo,

1
determinamos o grupo ao qual pertence o transformador. Mostraremos que este ângulo depende
de:
a) sentido de bobinagem do enrolamento;
b) modo de designação dos terminais dos enrolamentos;
c) tipo de ligação dos enrolamentos dos transformadores trifásicos.
Considerando a influência dos dois primeiros factores, tomemos como exemplo um
transformador monofásico. Vamos admitir que o enrolamento superior do transformador
indicado na Fig.1.19, é o primário e que o enrolamento inferior é o secundário. Suponhamos
que os dois enrolamentos estão bobinados no mesmo sentido e que os terminais superiores são
o início dos enrolamentos, designados pelas letras A e a, e que os terminais inferiores X e x são
os fins dos enrolamentos.
Dado que os dois enrolamentos do transformador estão na mesma coluna e são atravessados
pelo mesmo fluxo principal, as f.e.m. induzidas nos enrolamentos têm os mesmos sentidos em
relação aos terminais dos enrolamentos.

Fig. 1.19: Ângulo de desfasamento dos fasores de f.e.m. em função do sentido do


enrolamento e das designações dos terminais.

Verificando-se isto, as tensões U 1 e U 2 , nos terminais do enrolamento primário e no


enrolamento secundário reduzido ao primário, estão em fase e são representados por dois
fasores OA e Oa , iguais em grandeza e dirigidos no mesmo sentido (Fig. 1.19 (a)).
Se os enrolamentos primário e secundário estão bobinados em sentidos diferentes, mas os seus
terminais conservam a mesma designação dos terminais da Fig.1.19(a), as tensões U 1 e U 2

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têm sentidos diferentes em relação aos terminais dos enrolamentos primário e secundário, por
exemplo, de X para A no enrolamento primário e de a para x no enrolamento secundário, como
se pode ver na Fig.1.19(c). As tensões U 1 e U 2 devem ser representadas pelos fasores OA
e Oa dirigidos em sentidos opostos (Fig.1.19 (d).

Considerando o fasor OA da tensão primária como fasor de referência, podemos dizer que o
fasor Oa da tensão secundária de um transformador monofásico ou está em fase com OA , ou
em oposição de fase. No primeiro caso o ângulo entre os dois fasores é de 0º e no segundo caso
de 180º.

Fig.1.20 Designação horária de um grupo de ligação.


No lugar de exprimirmos a desfasagem entre os fasores em graus, utilizemos o método horário
de designação de ângulos. Para isso o fasor OA , da tensão composta primário, é feito coincidir
com o ponteiro dos minutos e colocado na posição 12 do mostrador, e o fasor Oa , da tensão
composta secundária, como sendo o ponteiro das horas. Se os fasores OA e Oa estão em fase,
tal como na Fig.1.19(b) devemos colocar os ponteiros no mesmo valor 12 (Fig.1.20). O ângulo
de desfasamento entre os dois ponteiros é igual a zero ou, o que é o mesmo, 360º = 30ºx12.
O ângulo de 30º representa o ângulo entre duas divisões sucessivas do mostrador e é adoptado
como unidade de desfasamento horário. O valor 12 determina o grupo ao qual pertence o
transformador considerado. O valor 12 determina o grupo de ligação do transformador.

Se os fasores OA e Oa estão em oposição devemos colocar o ponteiro das horas em 6 do


mostrador, o que corresponde a um ângulo de 6x30º = 180º. Neste caso o grupo de ligação do
transformador é determinado pelo número 6.

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Expliquemos agora o que se passa nos transformadores trifásicos, considerando o caso de um
transformador cujo enrolamento primário está ligado em estrela e o secundário em triângulo
conforme a Fig.1.21.

Comparando as tensões compostas U AB e U ab podemos determinar o grupo de ligação do


transformador.

Fig.1.21: Transformador trifásico com ligação Y/  .


Para tal traçamos o diagrama de fasores de tensões do transformador dado. Verificamos que o
fasor U ab é igual e tem sentido contrário ao fasor U b . Nestas condições o ângulo entre as
tensões U AB e U ab resultam em 30º ao que corresponde o grupo de ligação 11.

Fig.1.22 Diagrama de fasores de tensões do transformador.

.
1.16 Funcionamento de um transformador trifásico em regime de carga
assimétrica

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Quando as correntes nos enrolamentos de fase de um transformador não são iguais, surgem
diversos fenómenos suplementares que actuam de maneira nefasta sobre o funcionamento do
mesmo:
a) deformação das tensões compostas e simples;
b) perdas suplementares no ferro e no cobre;
c) sobreaquecimentos locais consideráveis, etc.
Estes fenómenos são máximos para curto-circuitos assimétricos, uma vez que estes
representam os casos limites de uma carga assimétrica. Os regimes de curto-circuito
assimétrico apresentam grande interesse do ponto de vista da exploração e, por esse motivo,
devem ser analisados.
1.16.1 Método das componentes simétricas
O método principal de análise dos regimes assimétricos de funcionamento das máquinas
eléctricas e dos transformadores é o das componentes simétricas.
Sabe-se que qualquer sistema trifásico assimétrico pode ser decomposto, no caso geral, em três
sistemas simétricos:
 de sequência directa;
 de sequência inversa;
 de sequência homopolar.
No sistema vulgarmente utilizado, o sentido de rotação dos fasores é o contrário ao dos
ponteiros de um relógio, onde:

 o sistema directo de correntes forma uma estrela simétrica de fasores I A1  I B1  I C1


, que se sucedem pela ordem das letras correspondentes;

 O sistema inverso de correntes, forma outra estrela simétrica de fasores, que se sucedem
pela ordem I A 2  I C 2  I B 2 , inversa da ordem de sucessão das letras; e

 O sistema homopolar de correntes, formado pelos três fasores I A0 , I B 0 , I C 0 , iguais em


grandeza e estão em fase.

A Fig.1.23 mostra os três sistemas simétricos de correntes e o sistema resultante.

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Fig.1.23 Sistemas de correntes: a) directo; b) inverso; c) homopolar e d) resultante (ou
assimétrico).

Fig. 1.23: Sistemas de componentes simétricos e sistema assimétrico.

De acordo com a Fig.1.23(d), temos:


   
I A  I A1  I A2  I A0 (1.27)

I B  I B1  I B 2  I B 0 (1.28)
   
I C  I C1  I C 2  I C 0 (1.29)

Para o sistema directo e tomando como referência o fasor I A1 , podemos escrever:

6
 
I B1  a 2 I A1 ; e
 
I C1  a I A1 .
Onde a representa o operador de rotação, sendo um factor que indica ser necessário rodar um
dado fasor, relativamente ao inicial, de um ângulo de 120º, no sentido de rotação dos fasores.
Numericamente,
2 4
3 j j
a  0,5  j e 3 e 3 (1.30)
2
4 2
3 j j
a 2  0,5  j e 3 e 3 (1.31)
2

1 a  a2  0 (1.32)
Pode então obter-se (Fig.1.24):

j
1 a  3e 6 (1.33)

j
1  a2  3e 6 (1.34)

Fig.1.24: Explicação das equações 1.33 e 1.34.


Para o sistema inverso de correntes, temos respectivamente:

I B 2  a I A2 ; e

I C 2  a 2 I A2 (1.35)
Para o sistema homopolar de correntes, temos,
I A0  I B 0  I C 0 (1.36)

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Introduzindo estes valores em 1.27, 1.28 e 1.29 e resolvendo estas últimas equações em ordem
a I A1, I A2, e I A0 obtém-se:
1 
I A1  ( I A  a I B  a 2 I C ) (1.37)
3
1
I A2  ( I A  a 2 I B  a I C ) (1.38)
3
1
I A0  (I A  I B  I C ) (1.39)
3
Na forma matricial, podemos escrever:

(1.40)

Pode-se então definir uma matriz que permite transformar as correntes assimétricas I A , I B , I C
nas suas componentes de sequência directa, inversa e homopolar como:

(1.41)

1.16.2 Modelo de um transformador conectado a uma carga assimétrica


Suponhamos que o caso em estudo seja o de um transformador cujo enrolamento secundário
está conectado em estrela e a carga também esteja ligada em estrela. Admitamos que a
assimetria na carga é obtida por ligação de uma impedância em série com uma das fases da
carga conforme está ilustrado na Fig.1.25.

Fig.1.25: Modelo de um transformador com o secundário em estrela sem neutro, alimentando


uma carga em estrela e com uma impedância em série com uma das fases.
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Para analisarmos o circuito, podemos aplicar a lei de malhas, para os contornos considerados.

Para o contorno que parte de t passando pela impedância em série e pela carga e pelo ponto n
e que se fecha em t:
u At  ia z  u an  u nt (1.42)

Para o contorno que parte de t passando pela fase b, obtemos:

u Bt  u bn  u nt (1.43)

Para o contorno que parte de t e que passa pela fase c, temos:

uCt  ucn  unt (1.44)

Somando as equações 1.42, 1.43 e 1.44, obtemos:

u At  u Bt  uCt  u an  ubn  u cn  ia z  3u nt (1.45)

Considerando que o transformador e a carga são simétricos, da equação 1.45 podemos obter:

1
unt   ia z (1.46)
3
Resolvendo as equações 1.42, 1.43 e 1.44 em relação as tensões na carga e substituindo o valor
de u nt obtido em 1.46, segue:

 2
u an  u tA  3 ia z

 1
u bn  u tB  ia z (1.47)
 3
 1
u cn  u tC  3 ia z

Na forma complexa, podemos escrever:

 2 
U an  U tA  Ia Z
 3

 1 
U bn  U tB  I a Z (1.48)
 3
 1 
U
 cn  U tC  Ia Z
 3
Podemos obter as componentes simétricas destas tensões aplicando a matriz de transformação.
Designemos a componente directa pelo índice D, a inversa pelo índice I e a homopolar pelo
índice H:

U DIH  CU abc (1.49)

9
(1.50)

Designemos : U tA  U , U tB  a U e U tC  aU
2

A expressão 1.50 fica então na forma:

(1.51)
Os resultados para as componentes simétricas são:
1 
U D U  Ia Z (1.52)
3
 1 
UI   Ia Z (1.53)
3

UH 0 (1.54)

As equações 1.52 e 1.53 podem ser escritas em função das componentes directa e inversa da
corrente. Para isso deve-se obter as componentes das correntes recorrendo a relação:

(1.55)
onde:

(1.56)
Assim, podemos escrever:

(1.57)
A corrente da fase a pode então ser expressa como:

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(1.58)
A Eq.1.58 resulta do facto de a componente homopolar da corrente ser nula, dado que a
respectiva componente de tensão é também nula.
Finalmente, as equações 1.52 e 1.53, tomarão a forma:

(1.59)

1   1 
U I   ID Z I I Z (1.60)
3 3

1.17 Funcionamento em paralelo de transformadores trifásicos


1.17.1 Condições de funcionamento em paralelo de transformadores trifásicos
Se, por razões técnicas ou económicas, é preferível fraccionar a potência total dos
transformadores, estes ligar-se-ão em paralelo.
As condições ideias para o funcionamento em paralelo de transformadores são as seguintes:
a) Todos os transformadores em paralelo devem possuir iguais tensões nominais primárias
e secundárias, isto é:

U 11  U 12  U 13  ...  U 1n (1.61)

U 21  U 22  U 23  ...  U 2 n (1.62)

Na prática, esta primeira condição reduz-se a terem iguais razões de transformação:

k1  k 2  ...  k n (1.63)

b) Os transformadores ligados em paralelo devem pertencer ao mesmo grupo de ligação.

c) As componentes óhmicas e indutivas da tensão de curto-circuito de todos os


transformadores devem ser iguais:

U cca1  U cca 2  U cca 3  ...  U ccan (1.64)

U ccr 1  U ccr 2  U ccr 3  ...  U ccrn (1.65)

Na prática, esta terceira condição consiste em serem iguais todas as tensões de curto circuito:

U cc1  U cc 2  U cc 3  ...  U ccn (1.66)

Se as condições descritas anteriormente forem todas satisfeitas, os diagramas fasoriais do


funcionamento em carga, construídos em unidades relativas sobrepor-se-ão. Neste caso, todos
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os transformadores funcionam com uma carga proporcional à sua potência nominal e as
correntes por eles fornecidas adicionam-se aritmeticamente.

Fig.1.27: Diagrama fasorial para transformadores funcionando em paralelo nas condições


ideais.

Na prática, só a segunda condição deve ser assegurada rigorosamente. Para a primeira e terceira
condições, admite-se uma certa tolerância.

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