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Trabalho e gênero
Karen Messing,Céline Chatigny
Introdução
Antes de mais nada, convém distinguir sexo e gênero. A palavra sexo se refere a uma con-
dição cromossômica, portanto puramente biológica.Cada célula humana contém 46 cro-
mossomos, em 23 pares. As mulheres possuem normalmente 23 pares de cromossomos
homólogos, entre os quais um é composto de dois cromossomos "X". Nos homens, um
dos X desse par é substituído por um cromossomodito "Y'. Para simplificar,poder-se-ia
dizer que a condição XX é associada à expressão de genes que codificam características
primárias e secundárias específicas das mulheres (útero, trompas de Falópio, altura rela-
tivamente baixa etc.) e a condição XYdetermina as características dos homens. Essas
determinações passam sobretudo pela produção de conjuntos de hormônios (mensageiros
biológicos secretados por glândulas que produzem efeitos em tecidos específicos) que são
característicos de um ou outro sexo (Graves, 1998). O sexo biológico é com freqüência
concebido como uma entidade dicotômica (salvo em algumas situações de exceção): ou
definição social,
se é macho ou fêmea. A palavra género, por sua vez, se refere a uma
continuum de características
que varia conforme a cultura e que representa um certo
representa e é
(Mathieu,2000), Apesar dessa diversidade,uma pessoa se identifica, se
masculino ou feminino. Os
representada pelos outros como pertencendo a um só gênero,
a de relações sociais de sexo, que ressalta a
sociólogosrecorrem a uma terceira noção,
interações (Kergoat, 1984). Gonik et at. (1998)
inserção da identidade numa dinâmica de
relações entre o masculino e o
falamdo género que se compreende na "dinâmicadas
feminino",
a um gênero são deter-
Não sabemos em qual medida as características associadas a
minadas pelo sexo cromossómico ou hormonal, Certos comportamentos, entre os quais
como sendo masculinos ou femininos:
Prática de um ofício, são considerados por alguns
supermercado é uma mulher, Molinier (1999)
0 caminhoneiro é um homem, a caixa de
assim a contribuição do gênero na
eSPecialistaem psicodinâmica do trabalho descreve
mulheres: "Os oficios que recorrem à violência
definiçãodos ofícios dos homens e das
que recorrem à 'função maternal' são femininos".
legal [•..lsão masculinos, Os ofícios
e por extensão para os ergonomistas,
Portanto, para os trabalhadores e trabalhadoras,
genética/social na origem da divisão sexual do
Pouco importa circunscrever a proporção
Fundamentos teóricos e conceitos
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Diferençahomem-mulher no interior
de um mesmo cargo.— Mesmo que homem
e uma mulher ocupem a mesma função, eles não estão imunes contra a divisão sexual do
trabalho. A eles podem ser atribuídas tarefas bastante diferentes. A metade das equipes de
jardinagem estudadas num município do Québec relatou uma associação entre gênero e
tarefa: os jardineiros utilizavam máquinas, às quais o acesso era proibido para as mulheres;
os homens se entendiam para cortar as árvores, enquanto as mulheres se ocupavam dos
pequenos arbustos; os homens se apoiavam em pesados cortadores de grama para fazê-los
subirpor encostas íngremes enquanto as mulheres se mantinhamem postura inclinada
para arrancar as ervas daninhas (Boucher, 1995).
Essa diferença de exigências das tarefas conforme o gênero não se aplica apenas aos
cargos com forte componente físico. No prestigioso Masachusetts Institute of Technologv,
mediu-se o espaço de laboratório concedido aos professores e professoras de tuna mesma
faculdade, para constatar que as mulheres desfrutavam da metade do que era concedido
aoshomens (The MIT Faculty Newsletter, 1999).
Pode-se também refletir sobre as diferenças na vivência dos horários difíceis, variáveis
ou imprevisíveis, das dificuldades de acesso ao telefone, das exigências de trabalho em casa
ou de transporte conforme o tipo de responsabilidade familiar (Prévost e Messing,2001),
Quanto ao aspecto da formação, alguns estudos (Belenky et 01., 1986) parecem diz
que as mulheres e os homens aprendem melhor em Situações diferentes, mas nenh
generalização é ainda possível.
Referências
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2 "Evaluatingthese differences means more than simply adding one-dimensional terms like race/
ethnicity or social class to a long list of other variables. [„.l. It instead requires asking questions
about deprivation, privilege, discrimination and aspirations."