Você está na página 1de 6

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DE ESPÉCIES

VEGETAIS DA SERRA DA JUREMA, GUARABIRA – PB A PARTIR DE


UM LEVANTAMENTO FITOSSOCIOLÓGICO

Annely Ferreira de Melo


Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. nanely@hotmail.com

Renaly Fernandes da Silva


Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. naly_fernanda@hotmail.com

Luciene Vieira de Arruda


Profª. Dra. da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. luciviar@hotmail.com

Carlos Antônio Belarmino Alves


Prof. Ms. da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. c_belarminoalves@hotmail.com

Joaquim Patrócollo Andrade da Silveira


Mestre em Manejo de Solo e Água, Técnico – SEDUC-PI. patrocollobio@hotmail.com

1. INTRODUÇÃO
A intervenção humana sobre o relevo terrestre, quer seja em áreas urbanas ou rurais,
demanda a ocupação e a transformação da superfície do terreno. Dependendo do tamanho
dessa intervenção, das práticas conservacionistas utilizadas e dos riscos geomorfológicos
envolvidos, os impactos ambientais associados poderão causar grandes prejuízos ao meio e
aos seres humanos (Guerra, 2003).
A necessidade de se buscar a conservação e a preservação da biodiversidade tem se
tornado uma questão prioritária. Nesse contexto, é significativa a proteção de áreas que
venham abranger os diversos tipos de ecossistemas, principalmente aqueles que ocupam
ambientes serranos, com declividades acentuadas, onde a perda da cobertura vegetal poderá
desencadear diversas instabilidades ambientais.
É baseada nessa problemática ambiental que reside a importância dessa pesquisa, e
busca, através de um estudo integrado, analisar e refletir o ambiente como fruto da má
utilização do espaço e dos recursos naturais pela sociedade.
O objetivo desse trabalho foi analisar as modificações ambientais, particularmente
aquelas ocorridas sobre a cobertura vegetal da Serra da Jurema, Guarabira-PB, a partir da
intensificação da ação antrópica.

2. MATERIAL E MÉTODOS
Após a pesquisa de gabinete, através de leitura e fichamento do material bibliográfico,
partiu-se para os trabalhos de campo. A área específica da pesquisa foi o topo da Serra da
Jurema, no município de Guarabira, PB. Foi escolhida uma área na altitude de 320 m, nas
proximidades do Memorial Frei Damião, ocupada pela mata secundária, que ali brotou após a
área ter sido desmatada e utilizada com agricultura de subsistência, há cerca de 20 anos.
Elegeu-se o método dos quadrados formando-se uma parcela de 100 m2 (10 x 10 m),
onde foram identificados todos os indivíduos nela inseridos. Os parâmetros fitossociológicos
escolhidos nessa fase preliminar do trabalho permitiram identificar as características da
comunidade vegetal além de fazer uma hierarquização das espécies segundo sua importância
na estruturação da comunidade (Durigan, 2003). Dessa forma foram levantados e discutidos
os seguintes dados biométricos:
- DAP (diâmetro à altura do peito) – importante indicador da estrutura da vegetação e,
consequentemente, da probabilidade de ocorrência de processos erosivos;
- Altura das espécies – para entender o estágio de crescimento de cada espécie;
- Cobertura da copa – para mensurar o desenvolvimento da espécie e o poder de cobertura do
solo quanto à ação solar e às chuvas que contribuem para o aumento dos processos erosivos;
- Altura do tronco – para avaliar o estágio de desenvolvimento de cada espécie.
Em seguida foram pesquisados os seus nomes científicos, etno-botânica e classificação
de cada espécie nos tipos de vegetação (floresta subcaducifólia, caducifólia e caatinga
hipoxerófila).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As caminhadas permitiram a visualização e comprovação de diversas ações
impactantes no solo e na vegetação, principalmente decorrente do fluxo turístico religioso que
visita o Memorial de Frei Damião, construído no topo da Serra da Jurema. Destacam-se as
queimadas, a erosão presente em grande parte da serra, o lixo que é jogado pelos turistas sem
nenhuma preocupação, plantação de varias culturas em áreas de declive acentuado sem a
utilização de técnicas adequadas como plantação em curvas de nível que diminui a erosão do
solo. Tudo isso vai interferir negativamente no desenvolvimento florestal, contribuindo na
fragilidade de espécies vegetais mais vulneráveis à ação antrópica.
Na amostragem da vegetação foram identificados 68 indivíduos, mas somente 18
espécies, com predominância de algumas invasoras, típicas da caatinga hipoxerófila que aí se
alojaram em busca de melhores condições ambientais e nutricionais do solo e tomaram os
espaços anteriormente ocupados com vegetação caducifólia. Entre as espécies invasoras estão
o marmeleiro (Cróton sonderianus), a vassourinha (Eupatorium serratum) e o câmara-de-
bucha (Lantana aculeata L.).
Os dados biométricos revelaram que a maioria das espécies ali presentes é secundária,
jovem e bastante degradada, com apenas algumas espécies da antiga cobertura vegetal (mata
caducifólia e subcaducifólia) (Brasil, 1972, IBGE, 2005). Essa condição fragilizada da
cobertura vegetal é um indicativo de que a área já foi desmatada sucessivas vezes, entretanto
devem ter ocorrido períodos de pousio que permitiram a renovação de algumas espécies e a
invasão de outras típicas da caatinga hipoxerófila.
Das 18 espécies identificadas (Quadro 3) predominam o cabotã-de-rego (Cupania
revoluta Radlk), com DAP médio de 1,41 mm, altura média de 3,48 m; vassourinha
(Eupatorium serratum), com DAP médio de 1,62 mm e altura média de 2,93 m; câmara-de-
bucha (Lantana aculeata L.), com DAP médio de 0,91 mm e altura média de 2,41 m; e
espinheiro preto (Acácia glomerosa Benth), com DAP médio de 1,2 mm e altura média de
3,56 m, todas consideradas vegetação secundária típicas da caatinga hipoxerófila. Não foi
registrada a ocorrência de qualquer espécie da mata úmida, embora as condições de umidade,
solo e altitude permitam essa ocorrência, o que comprova a degradação da área.

Quadro 3. Dados biométricos – vegetação do topo da Serra da Jurema, Guarabira-PB


Nomes N° Média Média Média área Média Altura Classificação
Indivíduos DAP (mm) Altura Cobertura Tronco
Vassourinha 11 1,62 2,93 1,05 2,15
Grão-de-galo 4 0,46 1,96 3,9 10,61
Camará de 6 0,91 2,41 0,33 0,87
Bucha
Cravacu 2 0,75 2,9 1,3 1,83
Amorosa 2 1,64 4,15 0,9 2,0
Marmeleiro 5 0,77 1,80 8,24 1,12
Espinheiro 6 1,20 3,56 1,36 1,93
preto
Cabotã 12 1,41 3,48 18,38 2,25
Goiabinha 4 0,55 2,35 0,7 1,46
Goiti 2 4,0 1,75 - 4,0
Muntamba 2 1,36 - - -
Sapucaia 4 1,40 - 1,3 1,30
Erva de 2 1,29 1,3 1,17 0,42
Passarinho
Embaúba 1 1,40 1,17 - -
Espinho-rei 1 1,20 - - -
Caboba 1 1,40 - -
Ingá-tripa 1 1,20 - - -
Mama - 1 1,40 - - -
Cachorro
TOTAL 68 - - -

Não se pode negar a instabilidade ambiental natural, característica da Serra da Jurema


e que gera diversas modificações no meio. No entanto, é perceptível que a degradação da
vegetação decorre do intenso uso do solo, seja pela retirada de matas para o cultivo, pastagens
e habitação, intensificados nos últimos anos pelo processo de urbanização e principalmente
pela construção do Memorial Frei Damião.
Apesar da existência de Leis Ambientais, que tem como objetivo manter o meio
ambiente equilibrado, nota-se que há deficiência no cumprimento das Leis Ambientais na
cidade de Guarabira, sendo constatados diversos níveis de degradação em vários pontos da
Serra da Jurema. Resta, portanto à sociedade organizada e suas instituições exigir o
cumprimento da legislação no trato das questões ambientais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As modificações ocorridas na cobertura vegetal da Serra da Jurema são intensificadas
pela ação antrópica, que sem nenhum planejamento ambiental adequado, se apropria dos
espaços, sem levar em consideração as suas fragilidades naturais.
As espécies predominantes são: cabotã-de-rego (Cupania revoluta Radlk), vassourinha
(Eupatorium serratum), câmara-de-bucha (Lantana aculeata L.) e espinheiro preto (Acácia
glomerosa Benth), todas consideradas vegetação secundária típicas da caatinga hipoxerófila,
sem nenhuma ocorrência de espécies da mata úmida.
Como sugestão, é importante que a Serra da Jurema se transforme em área de proteção
ambiental que vise a manutenção de sua biodiversidade; é preciso fiscalizar e controlar as
atividades causadoras de agressão ao meio ambiente local; promover a conscientização
ambiental e implantar atividades relacionadas ao turismo ecológico.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SÁBER. A. N. O domínio morfoclimático semi-árido das caatingas brasileiras. São
Paulo: USP. Instituto de Geografia. São Paulo: (peródico), nº 20. 1974. 39p.

AB’SÁBER. A. N. Paleoclimas de mecanismos da desintegração das paisagens tropicais no


Pleistoceno. Efeitos paleoclimático do período Wurnm Wisconsin no Brasil. USP. Instituto
de Geografia. São Paulo: (peródico), nº 08. 1979. 11p.

ALMEIDA, Eny Amorim de. Impactos Ambientais na Serra da Jurema: Memorial de frei
Damião em Guarabira – PB, orientadora: Professora Mestra Ana Glória da Silva Marinho,
Guarabira – PB, maio 2002.

ASSIS. E. M. de. Levantamento florístico e fitossociológico do estrato arbustivo-arbóreo


de dois ambientes do Assentamento Cabelo de Negro – Baraúna-RN. Escola Superior de
Agricultura de Mossoró - ESAM. 2001.
BRASIL. Ministério da Agricultura. Escritório de Pesquisa e Experimentação. Equipe de
Pedologia e Fertilidade do Solo. I. Levantamento exploratório de reconhecimento dos solos
do Estado da Paraíba. II. Interpretação para uso agrícola dos solos do Estado da Paraíba. Rio
de Janeiro: 1972. 683 p. (Boletim Técnico, 15; SUDENE. Série Pedologia, 8).

CAVACO, Carmida. Turismo Rural e Desenvolvimento Local. IN: RODRIGUES, Adyr A.


Balastreri, Turismo e Geografia: Reflexões Teóricas e Enfoques Regionais São Paulo: Hucitec,
2001.

CONSELHO NACIONAL DO MEIOAMBIENTE - CONAMA. Resolução CONAMA


nº237/97. Brasília. IBAMA. Disponível em http://www.mma.gov.br. Acesso em 20.11.2001.

ESPINOSA, Hector Raul Muñoz. In Avaliação de impactos. Sessão brasileira da IAIA –


“International Association for Impact Assessment” volume 1 nº2. Rio de Janeiro, 1996.

DURIGAN, G. Métodos em análise de vegetação arbórea. In: Cullen, L. Rudran, R.


Valladares-Paudua, C. (orgs.). Métodos de Estudo em Biologia da Conservação e Manejo
da Vida Silvestre. IPÊ/ Fundação Boticário/UFPR. Curitiba. 2003.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA.


Zoneamento agroecológico do Nordeste. Recife 1993. 373p.

GUERRA, Antonio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. A questão ambiental:
diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo


Demografico, 2000;

______. Perfil do município de Guarabira/PB – Estratégia. Caixa do município.


Guarabira/PB. João Pessoa, 1998;

JORNAL GUARABIRA HOJE, outubro de 2003, Nº 07.

JORNAL NOSSO TEMPO, Maio de 2002, ano 03. Nº 43.

LEITE, U. T. Análise da estrutura fitossociológica do estrato arbustivo-arbóreo de duas


tipologias de caatinga ocorrentes no município de São João do Cariri-PB; Areia-PB;
1999.

MARACAJÁ. P. B.; BATISTA, C. H. F.; SOUSA, A. H.; VASCONCELOSD, W. E.


Levantamento florístico e fitossociológico do estrato arbustivo-arbóreo de dois ambientes na
Vila Santa Catarina, Serra do Mel, RN. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Vol. 3, nº
2. 2º semestre. 2003.
MOREIRA, E. de R. F. Mesorregiões e Microrregiões da Paraíba: delimitação e
caracterização. João Pessoa: GAPLAN, 1988. 74p.

MELO, A S. T. de.; RODRIGUEZ, J. L. Paraíba: Desenvolvimento econômico e a questão


ambiental. João Pessoa: Editora Grafset, 2003. 164p.

PLANO DE DESENVOLVIMENTO URBANO DE GUARABIRA, Volume I e II, 1987.

PORPINO, L. C. S. Degradação socioambiental decorrente da ação antrópica na Serra


da Jurema, Guarabira, PB. (monografia de Especialização em Ciências Ambientais –
Faculdades Integrada de Patos – FIP) Orient. Profª Dra. Luciene Vieira de Arruda. Guarbira,
2007. 42p.

SILVA, Sâmara Rachel Ribeiro; Apropriação do Relevo e Condições Morfodinâmicas que


Aceleram Processos Erosivos nas Vertentes de Guarabira/PB; Monografia de
Especialização Em Análise Ambiental da Paraíba III, 2004.

SOUZA, M. J. N. de. Geomorfologia do Vale do Rio Choró - CE. UFC. 1983

SUGIYAMA, M. Estudos da Restinga da Ilha do Cardoso. Boletim do Instituto de


Botânica 11: 119-159. 1998.

Você também pode gostar