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Curitiba
2021
"Não havia me ocorrido que alguém naquela família pudesse fazer alguma coisa. Eu só tinha
ouvido falar sobre como eram pobres, então ficou impossível para mim vê-los como qualquer
coisa além de pobres. A pobreza era minha história única deles." (Chimamanda, 2009)
Este é um trecho do livro, "O perigo de uma história única", escrito por Chimamanda Ngozi
Adichie, que compartilhou uma pouco de suas experiências pessoais ao ter seu ponto de vista,
a partir de uma história única, sobre algo, alguém, ou até mesmo uma cultura, confrontado ao
conhecer as verdadeiras histórias por detrás de cada um, que de únicas não tinham nada, mas
eram vários pontos de vistas, que juntos contavam a história real sobre algo ou alguém.
Impossível falar sobre este conto sem citar o trecho do início deste texto, já que é a partir
disto que somos convidados a ouvir os relatos da autora sobre cada uma de suas experiências
com as histórias únicas que fora ensinada ao longo de sua vida, e ao final de cada um dos
relatos, fica evidente o quão pobre era o conhecimento de Chimamanda ao tomar apenas
aquela história única que lhe fora dita como verdade absoluta, em suas próprias palavras na
"Percebi que tinha estado tão mergulhada na cobertura da mídia sobre os mexicanos que eles
haviam se tornado uma só coisa na minha mente: o imigrante abjeto. Eu tinha acreditado na
história única dos mexicanos e fiquei morrendo de vergonha daquilo. É assim que se cria uma
história única: mostre um povo como uma coisa, uma coisa só, sem parar, e é isso que esse
povo se torna"
Quantas vezes, realmente, somos tomados por este sentimento de vergonha assim como ela?
Quantas foram as vezes em que realmente nos demos conta de que, talvez, a história única
que sei sobre algo ou alguém não é uma verdade absoluta, mas que pode muito bem retratar
de forma pobre o que aquilo ou alguém é de verdade? Fora do campo da psicologia é notável
o quão poderosa as histórias únicas são, veja os noticiários por exemplo, são cheios de
opiniões próprias e ponto de vistas agressivos, que parecem gritar "o que eu acredito é a
Até gostaria de falar que é só fora da área que elas tem algum poder, mas infelizmente, as
histórias únicas ainda mantém uma chama acessa dentro da psicologia, de forma mais branda,
mas ainda assim viva, quantos denúncias registradas no COF por algum usuário de serviço
psicológico, são pré julgadas nos pensamentos dos membros sem ouvir o lado do psicólogo?
E então, após uma escuta, é se visto que na verdade a história não era bem assim, e que
provavelmente o pré-julgamento dos membros poderia estar errado? Num geral, histórias
únicas de bem afeiçoadas, só o nome mesmo, pois geralmente elas são as causadoras de pré
julgamentos, pré conceitos, dores e estigmas que desenvolvemos ao longo da vida, e como
psicólogos, o nosso olhar precisa estar treinado como Chimamanda para reconhecer que
talvez, o nosso ponto de vista sobre algo, ou alguém, esteja contaminado com a "verdade" de
uma história única, e que talvez nosso olhar precise conhecer as histórias reais antes de fazer
"Eu gostaria de terminar com esta ideia: quando rejeitamos a história única, quando
percebemos que nunca existe uma história única sobre lugar nenhum, reavemos uma espécie