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Universidade Tuiuti do Paraná

Nome: Gabriel Kienen Tulio Curso: Psicologia Turma: PS05NA


Professora: Iara Lais Raittz Disciplina: PI V

Resenha Crítica da obra “O Perigo de uma História Única”, da autora


Chimamanda Ngozi Adichie

A obra, publicada inicialmente em Março de 2018, conta a vivência da própria autora no


que toca um aspecto muito importante que experienciou desde sua infância: a
unilateralidade. O livro apresenta esse conceito através do próprio título, descrevendo-o
como uma “história única”.
A autora, uma mulher africana, de pele escura e pertencente a uma classe média relata
que – desde cedo – passou a demonstrar grande interesse por literatura. Consumia os
mais diversos tipos de livros, porém todos eles retratavam uma outra realidade: a
vivência do homem branco europeu, com seus costumes e trejeitos relativos àquela
cultura. A autora, então, quando passa também a interessar-se pela escrita, percebe que
toda sua bagagem literária levou-a a retratar, por meio de suas obras, uma realidade
diferente da sua. Foi então que a autora conheceu alguns escritores africanos, os quais
“salvaram-na de ter uma única história sobre o que os livros são”.

Chimamanda então, aos 19 anos de idade, decide mudar-se para os Estados Unidos com
o intuito de cursar universidade. Lá, ao entrar em contato com a cultura local, observou
que, devido às diferenças étnico-raciais, muitas pessoas as quais a autora tinha contato
possuiam uma visão pré-conceitual e unilateral do que era a África e seu povo. Para
grande parte dos estadunidenses a África era um local totalmente desolado pela miséria,
“primitividade” e pobreza. A partir de então, Chimamanda passa a observar o quão
perigoso pode ser essa posição/visão unilateral, já que isso acaba se tornando um tipo de
“história única”.
A obra, composta por 11 páginas, apresenta um claro movimento de desconstrução, já
que toca em questões pré-conceituais e as desmontam diante de uma perspectiva
multifacetada da realidade. Um grande aspecto dos dias de hoje é que o pré-conceito
ainda perdura na civilização, e a autora, por meio do texto, busca desvelar a
complexidade por trás de vivências e opiniões, as quais muitas vezes se baseiam em
uma única história.

De acordo com o sociólogo Robert Ezren Park – que formulou a teoria da assimilação –
os povos imigrantes passam por quatro estágios até que participem da simbiose de uma
sociedade: contato, conflito, aculturação e assimilação. É um processo definido como
um “ciclo de relações raciais”, já que representa um modelo de como ocorre essa
estruturação partindo de duas bases culturais distintas.

Através desta perspectiva podemos tomar a liberdade de inferir que o ser-humano têm
uma tendência inata de dividir-se em grupos e, desta forma, passa a adotar uma
cosmovisão (weltanschauung) relativo àquela vivência específica. Isso tudo, em suma,
consolida-se em uma história única. Porém, como estamos vivendo na era da
informação e tecnologia, há uma possibilidade de entendermos melhor esses processos
subjacentes, buscando assim evitar um posicionamento unilateral diante da realidade.

Buscando fazer um paralelo com aspectos mais concretos da vivência psicoterapêutica,


há a necessidade, não apenas ética, de suspender-se diante do sujeito paciente (epoché),
sem utilizar de premissas pré-conceituais no processo de tratamento. Este movimento de
suspensão fenomenológica (Husserl) é imperativo para a boa prática da psicoterapia, e
acaba por fazer-se implícita no Art. 2º (alínea “a” e “b”) do Código de Ética Profissional
do Psicólogo, conforme:

a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade ou opressão;

b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação


sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;

Esses excertos demonstram o quão importante se faz, na prática da psicologia como


ciência, a capacidade de desconstruir-se, permitindo o surgimento de uma visão de
mundo multifacetada e fluida.
Por fim, a obra “O Problema de uma História Única” representa um exemplo de
vivência (pathei-mathos) sintetizado em um pequeno número de linhas, mas que passa
um conhecimento de mundo muito interessante (e importante). É um texto para todas as
idades, de leitura simples, que pode ser apreendido facilmente.

Gabriel Kienen Tulio, estudante de psicologia do 5º período letivo.

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