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CURSO DE PSICOLOGIA

FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE

O conceito de 'pulsão' em Freud:


elementos e características.
VALBER SAMPAIO

BELÉM - PA
2022
DE TRIEB

- Um do debates conceituais está em torno da tradução do termo.


Trieb Instinkt
- Alguns/mas autores/as confirmam a aproximação em ambos os termos
para o mesmo sentido.
- Partimos do ponto de ambos possuem diferenças nos escritos de
Freud.
- 1) Instinkt = está ligado à zoologia, ao comportamento hereditário / o
que aparece em quase todos os indivíduos da mesma espécie.
- 2) Trieb = faz relação com o que “impulsiona” / motiva / excita.
- Pulsão pode se apoiar no instinto, mas não são as mesmas coisas.
• Conceitos da física realizando ligações entre a energia que excita o
organismo.
• Quebra da dualidade entre mente e corpo.
• A partir dos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), Freud
inaugura o termo Trieb;
• É justamente na noção de sexualidade que o conceito de pulsão passa a
ser inserido, devido à sua explanação acerca da perversão e das
modalidades da sexualidade infantil (LAPLANCHE; PONTALIS,
2001).
• Freud inicia a caracterização da Pulsão: fonte, objeto e meta;
• Posteriormente, ele fala acerca do último elemento “pressão ou força” –
fator quantitativo econômico.
• Em “Pulsões e destinos das pulsões” (1915), Freud organiza os
elementos e apresenta uma definição conjunta da pulsão.
Formulações sobre as Pulsões...
• Dividiu o conceito de pulsões em dois grupos:
1) Pulsões do Eu: conservação do indivíduo (o que o leva o sujeito a
se alimentar, se defender, se manter em vida)
2) Pulsões sexuais: de ordem da libido, consecução do prazer e
garantia de procriação e perpetuação da espécie.
• Ambas estariam relacionadas ao processo de satisfações de fome e
amor.
• Posteriormente...
- Ambas são libidos do eu narcísicas e em oposição há a libido objetal,
dirigido à objetos externos.
NETTO, 2011
SINTO SINTO
MAS MAS

CONFLITO CONFLITO

PULSIONALIDADE
HUMANA

CONFLITO CONFLITO

SINTO SINTO
MAS MAS
Características das pulsões
• Fonte (Quelle): corporal e não psíquica; a fonte provem da excitação de uma
zona específica, geralmente apoiando-se em um órgão de gestão vital.
• Força (Drang): ou pressão; é constante; essência da pulsão; sempre ativa,
dinâmica.
• Alvo ou objetivo (Ziel): a finalidade é sempre a satisfação, entendida como
descarga ou mesmo como redução. O objetivo sempre é parcial, porque nunca é
completa – principio de constância.
• Objeto (Objekt): qualquer objeto que busque atingir o alvo: o próprio sujeito,
outras pessoas, partes do corpo de outro objeto, seja ele fantasioso ou real.
“Atirou no que viu, acertou no que não viu”

NETTO, 2011
1) Fonte = retesamento dos
músculos.
2) Força = Força que realizamos
para esticar o arco – realizar força
para conseguir sem esforços.
3) Alvo = objeto de satisfação da
Pulsão, centro do alvo / mas nunca
acertamos no ponto-chave de desejo.
4) Objeto = Caça / Destino ao qual
se deseja alcançar a satisfação /
“atirou no que viu, acertou o que
não viu”
Seres Humanos e Representações
• Nós interagimos a partir das relações que estabelecemos, das ideias
e afetos que estão imbricados nessas relações;
• Reagimos de acordo com as representações / signos / significantes /
símbolos;
• Sacia-se a necessidade vital (fisiológica), e nessa relação há a
inscrição de um registro de experiência, prazerosa ou não.
• Representado por uma ideia ou uma afeto (qualidade e quantidade)
registrado/inscrição nos sistemas mnêmicos.
• Nada existe fora do corpo – Interação.
• Pulsão em Freud = marca
psíquica ou inscritas no
princípio das relações do
humano com outros
humanos. Nessa inscrição
produz-se conflitos, e com
eles sintomas.
• Dimensão afetiva
(quantidade de excitação) e
a representante da
representação pulsional.
Para Freud...
• Virada de Freud
• As pulsões são de mesma de natureza;
• Diferença entre elas estaria no modo com o qual elas são
representadas no aparato psíquico;
• Se a pulsão se representa como a força mantenedora de junções =
pulsão de vida (Eros);
• Se representada psiquicamente como força destruidora de ligações
= pulsão de morte – simbólica ou social (Thanatos).
PULSÃO DE MORTE
• ISOLAMENTO

• ESTAGNAÇÃO

• DESTRUIÇÃO DO EU E DO
OBJETO

• TAMBÉM TEM UMA FONTE


COMPORTAMENTO ESPECÍFICA, MAS FREUD NÃO
CHEGOU A CITAR UM NOME
PARA A MESMA.
PULSÃO DE VIDA

• FORÇA CRIATIVA;

• REALIZAÇÃO DE DESEJOS;

• BUSCAS ESTRATÉGICAS PARA


OBJETIVOS

• ENERGIA/FONTE: LIBIDO
(MANUTENÇÃO DO DESEJO/VIDA)
• Bebida é água! Comida é pasto! • A gente não quer só comida. A gente quer
Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? comida, diversão e arte. A gente não quer só
comida a gente quer saída. Para qualquer
parte
• A gente não quer só comida. A gente quer
comida, diversão e arte. A gente não quer só • A gente não quer só comida. A gente quer
comida. bebida, diversão, balé. A gente não quer só
comida, a gente quer a vida como a vida quer.
A gente quer saída para qualquer parte
• A gente não quer só comer, a gente quer comer
• A gente não quer só comida. A gente quer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, a
bebida, diversão, balé. gente quer prazer pra aliviar a dor.

• A gente não quer só comida, a gente quer a • A gente não quer só dinheiro, a gente quer
dinheiro e felicidade.
vida. Como a vida quer. A gente não quer só dinheiro, a gente quer
inteiro e não pela metade.
• Bebida é água! Comida é pasto!
Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? • Diversão e arte para qualquer parte, diversão,
balé.
• A gente não quer só comer. A gente quer comer • Como a vida quer
e quer fazer amor. A gente não quer só comer, a Desejo, necessidade, vontade
gente quer prazer pra aliviar a dor. Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
• A gente não quer só dinheiro, a gente quer Necessidade
dinheiro e felicidade. A gente não quer. Só Comida - Titãs
dinheiro a gente quer inteiro e não pela
metade.

• Bebida é água! Comida é pasto!


Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?
"Titia, fale comigo! Estou com medo porque está muito escuro".

E a tia respondeu: "De que lhe adianta isso? Você não pode mesmo me ver".

"Não faz mal", respondeu o menino, "quando alguém fala fica mais claro".

(Freud, 1905, p. 212)

• Minha filha, que está perto de completar 3 anos de idade, recentemente começou a ter medo do escuro. Até um mês atrás,
dormia no breu total e há algumas semanas começou a pedir para que deixássemos uma luz no quarto dela.

• Eis a linguagem a todo o vapor, abrindo a caixa de Pandora!

• Para muito além da função comunicativa, a linguagem vai nos fundando psiquicamente, vai fazendo existir aquilo que não
existe. Aí, no escuro pode ter monstro, fantasma, bruxa... a luz pode dar um destaque à realidade, fazer um corte no campo
da fantasia.

• Se o desejo não tem objeto que o satisfaça na realidade (como Freud nos ensina), é por isso: a gente pode fazer existir de
tudo a partir da linguagem. Todas as histórias são possíveis, tudo pode acontecer: casas voam, mortos vivem, voltamos no
tempo, discutimos em alemão com alguém que nunca vimos sem sequer saber uma palavra na língua. Não é isso que

Ana Suy, 2021.


acontece nos sonhos? Os sonhos são produção de linguagem.

• Não há realidade que dê conta de satisfazer tudo aquilo que, pela linguagem, a gente faz existir na fantasia, até porque, por
vezes, desejamos coisas contraditórias: se quer ir e ficar ao mesmo tempo, casar e ser solteiro, trabalhar muito e descansar
muito. A realidade produz um corte na satisfação. Nem tudo é possível. Por isso, cada vez que realizamos um desejo,
encontramos com uma falta. A satisfação é sempre parcial.

• É da neurose, no entanto, se apaixonar por essa falta, destituindo a parcialidade da realização. Por outro lado, é efeito da
nossa caixa de Pandora particular que estejamos sempre em busca de algo a mais: uma luz, uma voz, uma presença!
Referências:
• COUTINHO JORGE, Marco A. Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan:
bases conceituais. V. 1. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

• FREUD, Sigmund. Os instintos e suas vicissitudes (1915) In. A História do


Movimento Psicanalítico, artigo sobre a Metapsicologia e outros trabalho (1914-1916).
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

• _________________. Três ensaios sobre a sexualidade (1905) In. Um caso de Histeria,


Três ensaios sobre a sexualidade (1901-1905). Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

• LAPLANCHE; PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes,


2001.

• NETTO, Geraldino A. F. Doze lições sobre Freud & Lacan. Campinas/SP: Pontes,
2011.

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