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OLIVEIRA, Francisco. O ornitorrinco. In: Crítica à razão dualista / O ornitorrinco.

São
Paulo, Boitempo, 2003.
De Darwin à Prebisch e Furtado
➔ “Como singularidade e não elo na cadeia do desenvolvimento, e pela “consciência”, o
subdesenvolvimento não era, exatamente, uma evolução truncada, mas uma produção
da dependência pela conjunção de lugar na divisão internacional do trabalho
capitalista e articulação dos interesses internos. Por isso mesmo, havia uma abertura a
partir da luta interna das classes, articulada com uma mudança na divisão
internacional do trabalho capitalista” (p. 127).
- Revolução de 1930 e a modernização industrial brasileira “alimentam-se do atrasado”,
a economia de subsistência. Como processo imbricado desde a colonização, a
economia de subsistência era praticada junto às grandes monoculturas exportadoras,
como base para sua sustentação fisiológica. Ademais, durante o processo industrial, a
agricultura de subsistência ajudava a abaixar o custo da reprodução da força de
trabalho, ao passo que que realizava um “excedente não-reinvertível em si mesmo”,
no caso, um exército industrial de reserva, para facilitar a acumulação de capital.
➔ Nada disso é uma adaptação darwinista às condições rurais e urbanas do processo da
expansão capitalista no Brasil, nem “estratégias de sobrevivência”, para uma certa
antropologia, mas basicamente as formas irresolutas da questão da terra e do estatuto
da força de trabalho, a subordinação da nova classe social urbana, o proletariado, ao
Estado, e o “transformismo” brasileiro, forma da modernização conservadora, ou de
uma revolução produtiva sem revolução burguesa (p. 130-131).
- Nesse sentido, o subdesenvolvimento passa da dualidade cepalina para uma “exceção
permanente” dentro da periferia do capitalismo, na medida que o atraso tecnológico e
produtivo é fator fundamental para ocorrência do capitalismo periférico. A isso,
alia-se o caráter submisso da burguesia ao cenário da divisão do trabalho
internacional, que não projeta uma emancipação, em que, pelo contrário, empreende
uma repressão fervorosa visando a manutenção do seu poder de classe subalterna, em
que a Ditadura MIlitar de 1964 aparece como fato preponderante, propaganda a dívida
externa e a financeirização da economia.
Sob o signo de Darwin: o ornitorrinco
- O Brasil, para Chico de Oliveira, aparece como um ornitorrinco, em que combinam-se
diferentes fatores, aparentemente antagônicos, na condução de suas atividades. Por
exemplo, a economia brasileira apresenta uma grande dinamicidade se comparada a
outros centros do capital global, mas a dívida externa age de forma a consumir todo o
excedente produzido, De forma semelhante, o trabalho é conduzido: a exploração é
amplificada, em que o trabalho informal e a mais-valia relativa combinam-se para
condução de um maior exercício do trabalhador, porém, com menor remuneração.
➔ O conjunto de trabalhadores é transformado em uma soma indeterminada de exército
da ativa e da reserva, que se intercambiam não nos ciclos de negócios, mas
diariamente. Daí, termina a variabilidade do capital antes na forma de adiantamento
do capitalista. É quase como se os rendimentos do trabalhador agora dependessem do
lucro dos capitalistas Disso decorrem todos os novos ajustamentos no estatuto do
trabalho e do trabalhador, forma própria do capitalismo globalizado. Como “capital
variável”, os salários eram um “custo”; como dependentes da venda das
mercadorias/produtos, os rendimentos do trabalho, que não são mais adiantamento do
capital, já não são “custo” (p. 136).
- O exercício do trabalho passa a ser realizado de forma informal, em que dissolve-se a
ligação entre capitalistas e proletários, tornando os salários uma parte não constitutiva
de custo da produção, mas como um resultado a ser direcionado a partir dos lucros. A
não ligação entre eles destrói os direitos destes trabalhadores, na medida que não
possuem capacidade de reivindicação, visto que “não são contratados”. Oliveira
coloca isso como uma realidade do capitalismo, não só periférico, como fato presente
também no núcleo do capital - TRABALHO ABSTRATO VIRTUAL.
- As consequências para os países em situação de dependência são dupla: por um lado,
não possuem acesso a matriz-tecnológica, sendo sempre destinado a eles um produto
retardatário do processo produtivo de tecnologia; por outro, a cópia do descartável se
engendra num produto obsoleto, em que o investimento para sua manutenção e
reprodução está aquém das forças produtivas internas do país, resultando na
dependência financeira para tal realização (p. 139).

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