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KONDER, L. (2008). O que é dialética. São Paulo: Brasiliense.

- Leandro Konder define a dialética, tal como conhecemos hoje, como “o modo de pensarmos
as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente
contraditória e em permanente transformação” (p. 7-8). Konder traz a concepção do termo
dialética desde a Grécia Antiga e aqui serão destacadas algumas delas. Galileu e Descartes, por
exemplo, já afirmavam que a condição natural dos corpos era o movimento e não o estado de
repouso – p. 13
- Diderot já considerava, antes mesmo de Hegel e Marx, que “o indivíduo era condicionado por
um movimento mais amplo, pelas mudanças na sociedade em que vivia” (p. 16). Para ele, o
sujeito era como era porque lhe foi preciso que se tornasse assim. Se houver uma mudança
no todo, o autor afirma que obrigatoriamente ele também se modificaria. Dentre as várias
contribuições de Diderot, Konder destaca a frase do autor “Desconfie de quem quer impor a
ordem”.
- Rousseau também foi importante no que diz respeito à Dialética. Para ele, todos os homens
nasciam livres, tendo a liberdade como algo já dado pela natureza, mas a organização da
sociedade em que viviam lhes tirava esta liberdade. Algo que Diderot e Rousseau concordavam
era de que não se poderia deixar intimidar pela ‘ideologia da ordem’, que era, para elas,
extremamente conservadora.
- Já tratando da contribuição de Hegel para a dialética, Konder cita que aquele reconhecia o
homem como essencialmente ativo e sempre interferindo na realidade. Para Hegel, é o
trabalho que impulsiona o desenvolvimento humano, pois é nele que o homem produz a si
mesmo e que se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto (p. 23)
- “o trabalho é o conceito-chave para nós compreendermos o que é a superação dialética” (p.
24). Para Hegel, a superação dialética é simultaneamente a negação de uma determinada
realidade, a conservação de algo de essencial que existe nessa realidade negada e a elevação
dela a um nível superior (p. 25).
- Konder destaca as diferenças entre Hegel e Marx e afirma que Marx superou, dialeticamente,
Hegel. Para os dois, o trabalho era o que impulsionava o desenvolvimento humano, mas Marx
criticou a concepção hegeliano de trabalho que dava importância demais para o trabalho
intelectual em detrimento do trabalho material. “Essa concepção abstrata do trabalho levava
Hegel a fixar sua atenção exclusivamente na criatividade do trabalho, ignorando o lado
negativo dele, as transformações a que ele era submetido em sua realização material, social.
Por isso Hegel não foi capaz de analisar seriamente os problemas ligados à alienação do
trabalho nas sociedades divididas em classes sociais (especialmente na sociedade capitalista).”
P. 27
- O trabalho, para Marx, é a atividade pelo qual o homem domina as forças naturais e se cria a
si mesmo. Dentre as contradições do trabalho, são destacadas as condições criadas pela
divisão do trabalho, onde o trabalhador não é dono do produto de seu trabalho e ao invés de
se reconhecer em suas próprias criações acaba por se sentir ameaçado por elas – p. 30.
- Konder também destaca o que Marx exemplificou sobre a dialética e o cristianismo: ele
afirma que “na medida em que rejeitam a dialética, os cristãos se privam de um instrumento
eficientíssimo na análise dos problemas humanos, perdem boas possibilidades de agir com
eficácia no plano político e acabam desperdiçando energias na retórica dos bons conselhos, na
pregação moralista e em projetos ingênuos (idealistas) de reforma dos costumes e das
mentalidades” – p. 31.
- Na dialética marxista, o conhecimento é TOTALIZANTE, no entanto, qualquer objeto que o
homem possa perceber é sempre parte de um todo, sendo necessário ter uma visão de
conjunto. “Se não enxergarmos o todo, podemos atribuir um valor exagerado a uma verdade
limitada (transformando-a em mentira), prejudicando a nossa compreensão de uma verdade
mais geral” – p. 35. Um exemplo disso é, portanto, se quisermos analisar questões políticas do
país: é necessário um nível de totalização elevado, ter consciência de sua história, suas
contradições, sua economia, etc. – p. 37.
- Para que haja a compreensão do todo, é necessário o aprofundamento no conhecimento das
partes ( uma vez que o totalidade também está nas partes e que as partes se relacionam entre
si). Sendo assim, o conhecimento é um PROCESSO, uma vez que as partes e o todo não são
estáticos, estão em constante transformação. E é em constante transformação que deve ser
também o ato de conhecê-los.
- Novamente sobre as diferenças entre Hegel e Marx, Konder afirma que para Marx o
movimento autotransformador da natureza não era espiritual (como era para Hegel) e sim um
movimento material, que abrangia tanto as formas de organização do trabalho como também
a organização da prática cotidiana. p. 51
- para Marx, nenhum aspecto da realidade está situado fora da história. Assim, a dialética pode
explicar e exemplificar questões relativas à história humana, à transformação da sociedade,
etc. Segundo Lukács “somente o ponto de vista da todalidade (...) permite à dialética enxergar,
por trás da aparência das coisas, os processos e inter-relações da aparências das coisas” – p.
65.
- Uma das características essenciais da dialética é o espírito crítico e autocrítico: assim como
devem examinar constantemente o mundo em que atuam, os dialéticos devem examinar
também as interpretações em que se baseiam para atuar – p. 81. Um lema de Marx, citado por
Konder, é “duvidar de tudo”.
- sobre este espírito autocrítico que Marx julgava extremamente necessário, Konder afirmou
também que o homem não pode querer transformar o mundo sem antes se preocupar em
transformar a si mesmo. Por isso Konder afirma que a dialética tranqüiliza os comodistas que,
ao invés de interpretar o mundo, deviam tratar de transformá-lo.

“Um espírito dialético insiste em ‘escovar a história a contrapelo’”


Walter Benjamin

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