Você está na página 1de 7

Português

Estrutura da palavra

Teoria

I. Conceito de morfema
Os morfemas são as “pecinhas” que compõem a palavra. Podemos defini-los, então, como as unidades
mínimas – cada uma com a sua responsabilidade – que compõem a palavra.

Ex.: Descapitalização
Capitalização
Capitalizar
Capital

II. Radical
Certamente, de todos os morfemas da língua portuguesa, o mais importante é o radical, pois é ele quem marca
a base semântica (como se fosse o “DNA da palavra”), consequentemente, a essência dela.

Ex.: “Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada”. (Gal Costa)


Pedra, pedreira, pedregulho.

Obs.: Quando as palavras usam o mesmo radical, dizemos que se desenvolvem termos cognatos. Devemos
ter cuidado, portanto, com os “falsos cognatos”, exemplo: bolo e bola.

III. Vogal temática


Prepara a palavra para receber outros elementos (normalmente o sufixo), ou seja: é uma das partes que
formam as palavras e tem a função de ligar o radical às desinências, constituindo o tema. Vejamos os
exemplos:

Serelepe – é uma palavra que não possui nem prefixo nem sufixo. Dessa forma, “serelp” é o radical, e “-e” é a
vogal temática.
Serelepemente – nesse caso, a vogal temática “-e” liga o radical ao sufixo “mente”.

Obs.: No caso dos verbos, a vogal temática tem a função de indicar a conjugação dos verbos: a 1ª conjugação
é marcada pela VT “-a”; a 2ª conjugação, pela VT “-e”; a 3ª conjugação, pela VT “-i”.
Ex.: Pegar
Comer
Dormir
Obs 2.: Não apresentam vogal temática as palavras terminadas em vogais tônicas (vatapá, jacaré, urubu).

1
Português

Importante!
As vogais temáticas não devem ser confundidas com as desinências indicadoras de gênero (feminino
[menina] e masculino [menino]), pois alguns substantivos não sofrem flexão de gênero, como podemos
observar na palavra “mesa” (não existe a palavra “meso”), por exemplo.

IV. Desinências nominais


São morfemas adicionados aos nomes, ou seja, sintagmas nominais (substantivos e adjetivos), e servem para
indicar as flexões nominais de gênero (DG) e número (DN).

1) Desinência de gênero (DG)


Veja o exemplo: “Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves”. (Milton Nascimento)
• Amigo x Amiga – ambos os morfemas marcados são desinência de gênero, pois marcam a oposição
entre feminino e masculino.

Agora, vejamos a palavra “coisa”. A palavra “coiso” não existe, certo? Portanto, o “-a” é vogal temática e não
DG.

2) Desinência de número
Amigo x Amigos – o “-s” funciona como desinência de número, já que marca o plural.
Professor x Professores

Agora, vejamos a palavra “lápis”: nesse caso, não podemos dizer que “-s” é DN, pois “lápis” é uma palavra que
indica singular. O mesmo acontece com “ônibus”, por exemplo.

V. Desinências verbais
As desinências verbais indicam flexões do verbo: número e pessoa, modo e tempo. Assim, se dividem em:

1) Desinências modo-temporais (DMT)


Quando indicam os modos (indicativo, subjuntivo e imperativo) e os tempos (presente, passado e futuro).

2) Desinências número-pessoais (DNP)


Quando indicam o número (singular e plural) e as pessoas 1ª, 2ª e 3ª (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas).

Vejamos o exemplo a seguir:


Pretérito imperfeito do verbo “cantar”: Cantava/Cantavam.
Cant – radical
-a – vogal temática
-va – DMT
-m – DNP

2
Português

VI. Prefixo e sufixo


Prefixo e Sufixo são morfemas que se juntam às palavras com objetivo de formar novas palavras. Ambos são
o que chamamos de “afixos”. O nome prefixo ou sufixo é atribuído dependendo do lugar que ocupam na
palavra: se estiver antes do radical é prefixo; se estiver depois do radical, é sufixo.

Veja os exemplos:
Ingrato – “In” = prefixo de negação.
Ingratamente – “-mente” = sufixo de modo.
Solúvel – “-úvel” = sufixo de possibilidade.
Insolúvel – “In” = prefixo de negação.

VII. Consoante e vogal de ligação


As vogais e as consoantes de ligação são fonemas que aparecem no interior das palavras permitindo a
ligação entre o radical e as desinências. Elas de ligação são consideradas “elementos eufônicos”, pois estão
atreladas aos aspectos fonéticos e fonológicos (sons), contribuindo para a pronúncia de algumas palavras. É
importante enfatizar que as vogais e as consoantes de ligação não causam alteração de sentidos nas palavras.

Ex.: Café -> Cafeteira:


Café – radical
t – consoante de ligação
eira – sufixo

Habilidade:
Habil – radical
i – vogal de ligação
dade – sufixo

3
Português

Exercícios

1. (UFPE 2005) Em "continuará DESATIVADO o canal povo-rainha", a palavra em destaque é formada com
o acréscimo de um prefixo que expressa negação ou privação, como em:
a) Inflação e ingestão.
b) Inapto e inábil.
c) Amorfo e anfíbio.
d) Anáfora e êxodo.
e) Reprovar e distender.

2. (UNICAMP 2018) O brasileiro João Guimarães Rosa e o irlandês James Joyce são autores
reverenciados pela inventividade de sua linguagem literária, em que abundam neologismos. Muitas
vezes, por essa razão, Guimarães Rosa e Joyce são citados como exemplos de autores "praticamente
intraduzíveis". Mesmo sem ter lido os autores, é possível identificar alguns dos seus neologismos, pois
são baseados em processos de formação de palavras comuns ao português e ao inglês.

Entre os recursos comuns aos neologismos de Guimarães Rosa e de James Joyce, estão:
i. Onomatopeia (formação de uma palavra a partir de uma reprodução aproximada de um som
natural, utilizando-se os recursos da língua); e
ii. Derivação (formação de novas palavras pelo acréscimo de prefixos ou sufixos a palavras já
existentes na língua).

Os neologismos que aparecem nas opções abaixo foram extraídos de obras de Guimarães Rosa (GR)
e James Joyce (JJ). Assinale a opção em que os processos (i) e (ii) estão presentes:
a) Quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém) e tattarrattat (JJ, Ulisses).
b) Transtrazer (GR, Grande sertão: veredas) e monoideal (JJ, Ulisses).
c) Rtststr (JJ, Ulisses) e quinculinculim (GR, No Urubuquaquá, no Pinhém).
d) Tattarrattat (JJ, Ulisses) e inesquecer-se (GR, Ave, Palavra).

3. (UNIRIO) O elemento destacado NÃO é vogal temática em:


a) Está
b) Coalhou
c) Beber
d) Poupei
e) Calço

4
Português

4. (Uerj)

O termo megahipercorporações é formado por um processo que enfatiza o tamanho e o poder das
corporações econômicas atuais.

Essa ênfase é produzida pelo emprego de:


a) sufixos de caráter aumentativo
b) prefixos com sentido semelhante
c) radicais de combinação obrigatória
d) desinências de significado específico

5
Português

5. (IBMEC-SP 2009) Em "...o sufixo "ismo" (que remete a doenças)...", mostra-se o papel desse elemento
na produção de efeitos de sentido.

Nas alternativas a seguir, o sufixo "ismo" tem sentido pejorativo, o que confirma o comentário do autor,
EXCETO em:
a) Com o bairrismo entre paulistas e cariocas, o futebol de outros estados sempre ficou de lado e,
algumas vezes, tem pouco destaque, principalmente no noticiário.
b) Cresce a oferta de produtos que contêm componentes que atuam sobre o metabolismo, reduzindo
risco de doenças como o câncer.
c) Fanatismo religioso ou convicções ideológicas rígidas são os vírus mais poderosos da cegueira
social.
d) O técnico apontou como um dos problemas de seu time, na etapa final, o excesso de preciosismo
de alguns jogadores.
e) Depois de mais de meio século de isolacionismo, o Japão mostra que a China não é o país a fazer
opções estratégicas que determinarão o futuro da Ásia.

6
Português

Gabarito

1. B
Somente na opção “B” os dois prefixos indicam negação: “inapto” = não ser apto; “inábil” = não ser hábil.

2. D
O neologismo "Tattarrattat" vem de uma tentativa de reproduzir, pelos fonemas da língua, sons do mundo
natural o que configura uma onomotopeia. Em Ulisses, a palavra designa o barulho de alguém batendo
em uma porta. Por sua vez, "inesquecer-se" é formada por prefixação, a partir da base "esquecer-se". O
prefixo em questão (in-) indica negação.

3. E
Em todas as alternativas, exceto a E, o morfema destacado é vogal temática, indicando as conjugações
verbais. Na última alternativa, “-o” é desinência modo-temporal.

4. B
O termo “megahipercorporações” traz a ênfase ao tamanho das corporações, indicando o quão
poderosas elas são, a partir dos prefixos “mega” e “hiper” que dão ideia de grandiosidade.

5. B
Na letra B, na palavra “metabolismo”, não há valor pejorativo. Todas as demais utilizam o sufixo “-ismo”
para indicar a ideias de maneira depreciativa.

Você também pode gostar