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Composição
Observamos uma distribuição orçamental que não favorece aquilo que são duas
grandes forças construtoras ou destruidoras - se não tomadas em atenção - de
um país, que são a saúde e a educação.
Olhemos para estas duas em separado.
Saúde
Segundo o site da DW, em 2017, “Angola é o país lusófono com pior cobertura
de serviços básicos de saúde, segundo um relatório da Organização Mundial de
Saúde (OMS) e do Banco Mundial (BM) divulgado na quarta-feira,13 de dezembro,
em Nova Iorque, EUA.”.
Ainda este ano, o mesmo site publicou uma entrevista com a seguinte headline “A
pouco mais de um mês das eleições gerais angolanas, o povo clama por melhores
serviços hospitalares. Aos olhos dos profissionais do setor, o sistema está a
"afundar-se". Ouça na íntegra o debate com Israel Kussumua, da Ordem dos
Médicos; Paulo Luvualo, Bastonário da Ordem dos Enfermeiros; Adriano Manuel,
líder do Sindicato dos Médicos e Jeremias Agostinho, Médico Pediatra.”
Os anos de 2021 e 2022 registaram diversas greves do sector público, devido aos
salários baixos e aos atrasos dos pagamentos que chegam mesmo a durar meses e nos
piores dos casos, anos. A insatisfação dos profissionais de saúde e de todos os que
trabalham neste sector, não se baseia somente nos salários atrasados e baixos, mas
também na falta de material complementar para exercerem a sua actividade,
equipamento para tratamentos específicos. Não se justifica que, por exemplo, no
Centro de Oncologia, não seja possível efectuar uma ecografia.
Para além de não haver escolas para todos, as escolas que temos apresentam
graves défices em material e manutenção. Nas escolas primárias, por exemplo, as
crianças são obrigadas a chegar muito antes da hora de começo das aulas, para
procurar pelos seus próprios assentos, umas chegam até a sentar em blocos que
encontrem dispersos pela instituição. As condições sanitárias não ficam atrás, com a
falta de papel higiénico, sabão, água, produtos básicos para o uso dos quartos de
banho, que chegam boa parte das vezes a não ter portas - a esta questão é dada a
responsabilidade ao vandalismo dos alunos, porém, se as escolas tivessem uma
manutenção regular, esse problema nem seria visto como um.
Nas escolas públicas angolanas, ainda usamos o quadro a giz, por exemplo, cujo
o pó é associado por vários especialistas em alergias e imunologia “com diversas
doenças respiratórias que acometem uma grande parte dos professores do mundo
todo”, segundo o blog Multipainel. Para que este tipo de material fosse alterado em
todo o país, seria necessário um grande investimento, não só em quadros, mas em
todo o material complementar.
Para as comunidades mais carenciadas, onde os alunos não têm sequer cantinas
nas escolas, seria importante que a própria instituição distribuísse um farnel para
manter os alunos despertos e sadios durante as aulas, com o conhecimento de que
muitos destes estudantes não têm todas as refeições em casa.
Mas esta necessidade de investimento maior no sector educacional, não passa
apenas pelas escolas primárias e secundárias ou ensinos médios. Também há a
necessidade de alfabetização de adultos, um programa que decorre praticamente a
meio gás no nosso país.
Se olharmos para os professores, veremos que o problema se agrava, pois
enfrentam quase os mesmos desafios que os profissionais de saúde. Salários abaixo do
merecido e ainda atrasados, que os impedem de satisfazer todas as suas necessidades
pessoais, obrigando-os a procurar por mais de um ou dois empregos a fim de sustentar
a si mesmos e às suas famílias. Dentro destes gastos, os professores e alunos, ainda
precisam gastar com os tão difíceis transportes públicos. Boa parte das vezes fazem
longas viagens de casa até à instituição e postos lá, precisam lidar com a caricatura
que são as nossas escolas públicas, que durante a noite, têm os seus pátios
transformados em parque de estacionamento controlado pelo segurança da escola que
precisa ganhar a sua dita micha, para também não morrer à fome.