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Universidade Católica de Angola

Faculdade de Direito
Curso de Direito

Nome: Teresa Delea Gourgel da Silva Araújo


Id.: 1000019829
Turma: A

Composição

Fundamentos para aumento da quota orçamental destinada a financiar o sistema


de educação e saúde

Recentemente, o contrário do que fora por mais de 20 anos na minha minha


vida devido ao seguro de saúde, tenho tido diferentes contactos com o que é o sistema
de saúde angolano. Desde a espera para ser atendida, até ao próprio equipamento
hospitalar.
Dito isto, devo começar por reportar uma destas experiências, vivida no
vulgarmente chamado Sindicato, mas que na verdade tem um outro nome do qual não
me recordo.
Diante da necessidade de tratar dos dentes, acompanhei as minhas irmãs ao
Sindicato, onde, posto lá, recebemos uma palestra de como ali não se arrancavam
apenas os dentes, mas tudo dependia do diagnóstico médico. O real cenário dentro da
sala de tratamento, é totalmente diferente. Dispondo de 3 cadeiras de dentista, apenas
uma se encontrava completamente nova, e esta, quase não tinha utilidade, sendo que
nem o médico nem os auxiliares sabiam como usar e lá realmente “só arrancam dentes,
não fazem qualquer tratamento dentário”. Para as outras cadeiras, nem há comentários
- estavam aos pedaços.
Distante deste cenário de falta de equipamento hospitalar, decadência do material
disponível e falta de total conhecimento de como manusear este mesmo material, não
estão as escolas públicas do nosso país - pelo menos nas localidades onde há estas
escolas, porque convenhamos, não há escolas para todos, nem mesmo em Luanda.
Faltam cadeiras e carteiras, as portas, até mesmo dos balenários ou quartos de
banho não existem, as escolas não têm água e nem pessoal de limpeza suficiente para
manter o local constantemente asseado, a fim de permitir aos alunos estudar em um
ambiente minimamente higiénico.

Estes problemas, registados de uma perspectiva pessoal, já seriam o suficiente


para argumentar como a quota orçamental para a saúde e educação deve subir.
Aliando-os, é claro â insatisfação dos profissionais de saúde e educação, que por
pouco não podemos chamar heróis, por precisarem trabalhar em condições
rudimentares, com um salário que não satisfaz todas as suas necessidades básicas,
tendo que por isso acrescentar horas ao dia, trabalhando em mais de uma escola ou
hospital, para poder custear as suas despesas.
Segundo o site da VOA, em 2018, “Enquanto um parlamentar aufere mais de um
milhão de kwanzas, um docente primário recebe 47 mil kwanzas” e o site Observador,
no corrente ano de 2022, “O Sindicato reivindica a atualização da tabela salarial e
considera que "não se justifica que um professor esteja a ganhar 69 mil kwanzas (133
euros) e o máximo da tabela são 300 mil kwanzas".”

Observamos uma distribuição orçamental que não favorece aquilo que são duas
grandes forças construtoras ou destruidoras - se não tomadas em atenção - de
um país, que são a saúde e a educação.
Olhemos para estas duas em separado.

Saúde

Segundo o site da DW, em 2017, “Angola é o país lusófono com pior cobertura
de serviços básicos de saúde, segundo um relatório da Organização Mundial de
Saúde (OMS) e do Banco Mundial (BM) divulgado na quarta-feira,13 de dezembro,
em Nova Iorque, EUA.”.
Ainda este ano, o mesmo site publicou uma entrevista com a seguinte headline “A
pouco mais de um mês das eleições gerais angolanas, o povo clama por melhores
serviços hospitalares. Aos olhos dos profissionais do setor, o sistema está a
"afundar-se". Ouça na íntegra o debate com Israel Kussumua, da Ordem dos
Médicos; Paulo Luvualo, Bastonário da Ordem dos Enfermeiros; Adriano Manuel,
líder do Sindicato dos Médicos e Jeremias Agostinho, Médico Pediatra.”

Os anos de 2021 e 2022 registaram diversas greves do sector público, devido aos
salários baixos e aos atrasos dos pagamentos que chegam mesmo a durar meses e nos
piores dos casos, anos. A insatisfação dos profissionais de saúde e de todos os que
trabalham neste sector, não se baseia somente nos salários atrasados e baixos, mas
também na falta de material complementar para exercerem a sua actividade,
equipamento para tratamentos específicos. Não se justifica que, por exemplo, no
Centro de Oncologia, não seja possível efectuar uma ecografia.

Há por outro lado, o facto de os médicos, diante de um equipamento novo, não


saibam como usá-lo, sem perder vários minutos a tentar compreender como ligá-lo. O
que denota uma falta de formação específica dada aos funcionários da saúde para o
uso devido os instrumentos. Passando para os pacientes, estes, antes dos médicos, são
os que mais se vêm prejudicados por tamanhas falhas no sistema, tendo que muitas
vezes, adquirir por meios individuais ou próprios o material necessário para as
consultas - seringas, luvas, agulhas, máscaras, etc -, suportando a enchente de
pacientes à espera, sem ter boa parte das vezes onde sentar e outras vezes, como é o
caso dos hospitais públicos municipais, tendo que esperar mesmo fora dos portões do
hospital se for acompanhante de um paciente.

Todos os problemas citados levam-nos a conclusão de que o sistema de saúde


precisa de um aumento orçamental para pelo menos 15%, o que na verdade foi meta
do Executivo angolano acordada em Dakar, em linha dos compromissos de Abuja,
segundo a edição de 4 de Novembro de 2021, do Jornal Expansão. Acrescentado a
falta de unidades médicas ou hospitalares nas áreas rurais do nosso país, tendo
diversas vezes angolanos de outras províncias de se deslocar das suas localidades para
Luanda, a procura de atendimento médico. E para os que dispõem de capacidade
financeira elevada, se deslocar do país.
Educação

Com as enchentes dos encarregados de educação no início do ano lectivo, tendo


até mesmo que pernoitar à porta das escolas por uma vaga, os problemas deste sector
dispensam apresentações. As salas abarrotadas de alunos com um único professor que
não consegue dar atenção equivalente à todos os alunos, e que já entra para a sala de
aulas a pensar na corrida para chegar até a outra escola pública onde trabalha no
horário certo.

Para além de não haver escolas para todos, as escolas que temos apresentam
graves défices em material e manutenção. Nas escolas primárias, por exemplo, as
crianças são obrigadas a chegar muito antes da hora de começo das aulas, para
procurar pelos seus próprios assentos, umas chegam até a sentar em blocos que
encontrem dispersos pela instituição. As condições sanitárias não ficam atrás, com a
falta de papel higiénico, sabão, água, produtos básicos para o uso dos quartos de
banho, que chegam boa parte das vezes a não ter portas - a esta questão é dada a
responsabilidade ao vandalismo dos alunos, porém, se as escolas tivessem uma
manutenção regular, esse problema nem seria visto como um.
Nas escolas públicas angolanas, ainda usamos o quadro a giz, por exemplo, cujo
o pó é associado por vários especialistas em alergias e imunologia “com diversas
doenças respiratórias que acometem uma grande parte dos professores do mundo
todo”, segundo o blog Multipainel. Para que este tipo de material fosse alterado em
todo o país, seria necessário um grande investimento, não só em quadros, mas em
todo o material complementar.

Para as comunidades mais carenciadas, onde os alunos não têm sequer cantinas
nas escolas, seria importante que a própria instituição distribuísse um farnel para
manter os alunos despertos e sadios durante as aulas, com o conhecimento de que
muitos destes estudantes não têm todas as refeições em casa.
Mas esta necessidade de investimento maior no sector educacional, não passa
apenas pelas escolas primárias e secundárias ou ensinos médios. Também há a
necessidade de alfabetização de adultos, um programa que decorre praticamente a
meio gás no nosso país.
Se olharmos para os professores, veremos que o problema se agrava, pois
enfrentam quase os mesmos desafios que os profissionais de saúde. Salários abaixo do
merecido e ainda atrasados, que os impedem de satisfazer todas as suas necessidades
pessoais, obrigando-os a procurar por mais de um ou dois empregos a fim de sustentar
a si mesmos e às suas famílias. Dentro destes gastos, os professores e alunos, ainda
precisam gastar com os tão difíceis transportes públicos. Boa parte das vezes fazem
longas viagens de casa até à instituição e postos lá, precisam lidar com a caricatura
que são as nossas escolas públicas, que durante a noite, têm os seus pátios
transformados em parque de estacionamento controlado pelo segurança da escola que
precisa ganhar a sua dita micha, para também não morrer à fome.

Podemos incluir a estes problemas - falta de carteiras, más condições sanitárias,


salários abaixo do devido, material aracaico ou sem manutenção - o facto de os
professores, precisarem boa parte das vezes, adquirir por meios próprios algum
material para o decorrer das aulas, sendo mesmo registado, no período de prevenção
contra o Covid, que precisaram adquirir o seu próprio material de bio segurança,
como é relatado no site Observador - Para Victor Gimbi, a atual remuneração
constitui “uma humilhação para os professores”, por isso, assinalou, a negociação
da tabela salarial “é o ponto fulcral” do caderno reivindicativo.
“Apesar de existirem outros pontos como a disponibilização de condições de
trabalho, higiene e de segurança, sobretudo em período de pandemia, porque 80%
das escolas não dispõem de água para lavagem das mãos”, apontou.
Os professores “adquirem por meios próprios o álcool em gel para a
desinfestação e não existem condições de segurança e de proteção contra a Covid-19
nesta altura nos estabelecimentos escolares e também reivindicamos isso”, frisou.

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