Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Pedro Mota
Departamento de Matemática, FCT - Universidade NOVA de Lisboa
Conteúdo
Bibliografia 78
3
CONTEÚDO 4
Nota Introdutória
Os modelos discretos em Finança e particularmente o modelo Binomial conjunta-
mente com as fórmulas de determinação de preços de opções Europeias, são referências
incontornáveis em qualquer curso de Matemática Financeira onde se pretendam analisar
produtos financeiros derivados. O modelo Binomial traduz-se na existência de um mer-
cado formado por dois ativos financeiros, um ativo sem risco e um ativo com risco e um
exemplo básico e central de um produto financeiro que será objecto de estudo nesta uni-
dade curricular é a Opção Europeia, que corresponde a um contrato entre duas partes em
que uma parte fica com a opção, mas não a obrigação de comprar (ou vender) numa data
futura e a um determinado preço, uma unidade de um ativo subjacente (a outra parte fica
com a obrigação de entregar, ou comprar o ativo subjacente). A questão fundamental a
ser respondida é qual o valor (justo) a ser pago, na data da celebração do contrato pela
parte que fica detentora desta opção.
1.1. Introdução
Exemplo 1.1. Considere-se um contrato Forward assinado hoje para a compra de 1000
barris de petróleo a $60 por barril (preço de exercı́cio) daqui por 6 meses (maturidade).
• Suponha-se que daqui por 6 meses o preço do petróleo é de $55 por barril, nesse
caso o comprador terá um prejuı́zo de $5000 ao comprar por $60000 os 1000
barris de petróleo que poderia comprar no mercado diário por $55000.
• Já se o preço daqui por 6 meses subir para $65 por barril a situação inverte-se
e a posição longa no contrato forward resultará num lucro de $5000. Claro que
para o detentor da posição curta (vendedor) a situação é a simétrica.
• O valor de uma posição longa num contrato Forward com preço de exercı́cio K,
é dado por:
Φ(ST ) = ST − K
• O valor de uma uma posição curta num contrato Forward com preço de exercı́cio
K, é dado por:
Φ(ST ) = K − ST
ST ST
K K
-K
Um outro tipo de produtos derivados ao qual iremos dedicar uma parte importante
da nossa atenção são as Opções.
Exemplo 1.2. Considere-se uma situação análoga à do exemplo 1.1, isto é, considere-
se uma opção de compra adquirida hoje para a compra de 1000 barris de petróleo a $60
por barril daqui por 6 meses. Note-se que por ser uma opção, o comprador terá o direito
mas não a obrigação de exercer o contrato.
1.2. CONTRATOS FORWARD E OPÇÕES 8
• Se daqui por 6 meses o preço do petróleo for de $55 por barril, o compra-
dor/detentor da opção não exercerá o contrato pois se quiser pode comprar o
petróleo no mercado diário a um preço inferior do que aquele que está estipulado
no contrato. A perda para o detentor da opção será o custo inicial que pagou
pela mesma.
• Se o preço daqui por 6 meses subir para $65 por barril o detentor da opção
exercerá a opção pois poderá através desse contrato comprar o petróleo a um
preço inferior ao preço de mercado. A opção resultará num lucro de $5000 ao
qual terá de subtrair o custo inicial da mesma.
S − K, S > K
T T
ΦC (ST ) = max(ST − K, 0) =
0, ST ≤ K
K −S , K >S
T T
ΦP (ST ) = max(K − ST , 0) =
0, K ≤ ST
ST ST
K K
-c0 -p0
Repare-se que comparando com o lucro associado ao contrato Forward, ou com uma
estratégia simples de compra ou venda a descoberto1 do ativo subjacente, as opções limi-
tam as perdas potenciais como se pode ver na figura 1.3 e como já referido na observação 4.
ST ST
-c0 K -p0 K
Quando o instante de execı́cio da opção não está limitado à maturidade T , mas pode
ocorrer em qualquer instante anterior estamos perante uma Opções Americana.
Definição 1.3. Uma opção de compra (venda) Americana, com preço de exercı́cio
K e maturidade T , sobre um ativo subjacente de preço S é um contrato com as seguintes
cláusulas:
1Venda a descoberto é a venda de um determinado número de unidades de um ativo financeiro que
não se possui. Na data inicial o recebe-se o valor dessa venda, mas fica-se com uma dı́vida correspondente
ao número de unidades do ativo vendidas e que terão de ser devolvidas numa data posterior.
1.2. CONTRATOS FORWARD E OPÇÕES 10
1.2.1. Variáveis que influenciam o preço das Opções. Designemos por C0e , P0e e
C0a , P0a os preços das opções de compra e venda Europeias e Americanas, respectivamente,
no instante t = 0 e vamos sempre assumir que a taxa de juro sem risco é positiva r > 0.
Há um conjunto de variáveis que influenciam o preço das opções.
• S0 - o preço corrente do ativo subjacente.
• K - o preço de exercı́cio.
• T - a maturidade.
• σ - a volatilidade do preço do ativo subjacente.
• r - a taxa de juro sem risco.
A influência do incremento de cada uma destas variáveis, quando todas as outras
permanecem inalteradas, pode ser resumido no seguinte quadro (tabela 1.1):
Tabela 1.1. Efeito do incremento das variáveis, no preço das opções
Variável Ce Pe Ca Pa
S0 + − + −
K − + − +
T ? ? + +
σ + + + +
r + − + −
• Preço corrente (S0 ) e preço de exercı́cio (K) - Como o lucro associado ao exercı́cio
de uma opção de compra dependerá de por quanto o preço do ativo excede o preço
de exercı́cio, o valor da opção de compra crescerá com o aumento do preço do ativo
1.2. CONTRATOS FORWARD E OPÇÕES 11
no entanto o primeiro efeito domina o segundo pelo que o preço das opções de
compra aumentam com o aumento da taxa de juro sem risco.
1.3. Arbitragem
A determinação do preço forward (no caso dos contratos com o mesmo nome) ou do
custo das opções é feita através da condição de ausência de arbitragem.
V0 = 0
Temos um primeiro teorema importante que traduz uma ideia que estará sempre
presente na determinação de preços de qualquer ativo.
Teorema 1.5 (Lei do preço único). Suponha-se que temos um mercado sem opor-
tunidades de arbitragem e dois ativos A e B nesse mercado. Se os preços dos ativos na
data inicial são P0 (A) e P0 (B), respectivamente, e se numa data futura T ≥ 0 os preços
de A e B são iguais em todos os estados da Natureza:
Então,
Sem perda de generalidade, considere-se que P0 (A) > P0 (B), então bastará fazer uma
venda de uma unidade do ativo A (venda a descoberto) pelo valor P0 (A) e comprar uma
unidade do ativo B por P0 (B), ficando-se com um cash flow positivo P0 (A) − P0 (B) > 0
em mão que podemos guardar ou investir num ativo sem risco (por exemplo, depósito
bancário). Na data T , vendemos o ativo B por PT (B) e usamos esse mesmo valor para
comprar o ativo A, pois PT (A) = PT (B), e fechamos a posição descoberta no ativo A.
No final temos o lucro garantido P0 (A) − P0 (B) > 0 o que significa a existência de uma
oportunidade de arbitragem o que é absurdo tendo em atenção a hipótese feita sobre o
mercado.
CAPı́TULO 2
B0 = 1
B1 = 1 + r
onde a constante r é a taxa de juro para o periodo [0, 1]. Note-se que como foi referido,
a existência do ativo sem risco pode ser interpretado como a existência de um banco que
paga r como taxa de juro.
14
2.1. INTRODUÇÃO AO MODELO BINOMIAL 15
O preço do ativo com risco é um processo estocástico cujo preço (na data t = 1)
dependerá do estado da natureza,
S0 = s,
s.u com probabilidade p = P[{ω }]
u 1
S1 =
s.d com probabilidade pd = P[{ω2 }],
ou de outra forma,
S =s
0
(2.1)
S1 = s.Z,
Exemplo 2.1. Considere-se um mercado em que a taxa de juro sem risco é de r = 0.05,
que a ação tem um valor à data inicial de $50 e que u = 1.1 e d = 0.9.
Então a dinâmica de preços neste mercado é dada por:
t=0 t=1
B0 = $1 - B1 = $1 × (1 + r) = $1.05
*
S1 = su = $55 com probabilidade pu
S0 = s = $50
HH
S1 = sd = $45 com probabilidade pd
Hj
H
Definição 2.1. Define-se uma carteira (ou portfolio), h = (x, y), no mercado (B, S),
como sendo um vector (de R2 ) em que x representa o número de Obrigações e y o número
de Ações detidas na carteira.
• Posições curtas, tal como deter partes de uma unidade de ativos são permitidas,
isto significa que qualquer carteira h = (x, y) ∈ R2 é autorizada.
• Não há bid-ask-spread, isto é o preço de venda é igual ao de compra no mesmo
instante.
• Não há custos de transação.
• O mercado é totalmente liquido, isto é, é possı́vel comprar ou vender a quantidade
que se quiser de qualquer ativo.
ou,
Neste modelo de mercado, uma oportunidade de arbitragem pode ser descrita através
da existência de uma carteira h com as caracterı́sticas seguintes.
2.2. CARTEIRAS E ARBITRAGEM 17
V0h = 0
(2.4) d ≤ (1 + r) ≤ u.
Se y > 0 só teremos uma carteira de arbitragem se u > 1 + r e d > 1 + r o que não pode
acontecer pela hipótese da equação (2.4). Se y < 0 só teremos uma carteira de arbitragem
se u < 1 + r e d < 1 + r o que também é impossı́vel por (2.4).
Repare-se ainda que a equação (2.4) da proposição 2.5 da secção anterior, significa
que 1 + r é uma combinação linear convexa de u e d, isto é, existem qu e qd , tais que:
(2.6) 1 + r = qu .u + qd .d,
onde qu , qd ≥ 0 e qu + qd = 1.
Se interpretarmos os pesos qu e qd como probabilidades de uma nova medida de pro-
babilidade P∗ em relação à qual P∗ [Z = u] = qu , P∗ [Z = d] = qd . Teremos que,
1 1 1
(2.7) E∗ [S1 ] = (qu su + qd sd) = s(1 + r) = s,
1+r 1+r 1+r
com E∗ a significar que o valor esperado é calculado usando a probabilidade P∗ .
Teremos então a relação,
1
S0 = s = E∗ [S1 ],
1+r
que é conhecida como uma fórmula de risco neutro, no sentido em que nos dá que o
preço de hoje do ativo com risco é igual ao valor descontado do valor esperado do preço
que o ativo tem amanhã, isto é, o preço de hoje é igual ao valor esperado actualizado
do payoff terminal. Como a utilização da medida P∗ para o cálculo do valor esperado
permite a obtenção de uma fórmula de risco neutro, a uma medida com esta propriedade
chama-se de medida de risco neutro, de risco ajustado ou de medida de martingala.
2.3. MEDIDA DE MARTINGALA 19
Definição 2.6. Uma medida P∗ é uma medida de martingala (ou de risco neutro)
se se verifica a seguinte condição.
1
S0 = E∗ [S1 ].
1+r
Exemplo 2.2. Considerem-se os ativos já apresentados no exemplo 2.1, então a me-
dida de martingala é dada por qu = 0.75 e qd = 0.25, vindo que:
donde
1 $52.5
E∗ [S1 ] = = $50 = s = S0 ,
1+r 1.05
como já antecipado.
2.4. DIREITOS CONTINGENTES E APREÇAMENTO 20
Os produtos derivados ou direitos contingentes têm uma definição formal, que é agora
apresentada no contexto do modelo Binomial a um perı́odo.
Definição 2.9. Um direito contingente é uma v.a. X = Φ(Z) com Z a v.a. que
define o processo S, introduzida na equação (2.1).
Um direito contingente X deve ser interpretado como um contrato que paga X uni-
dades monetárias ao detentor do mesmo em t = 1. À função Φ chama-se de função de
contrato. No caso de uma opção de compra Europeia com preço de exercı́cio K (com
sd < K < su)2 teremos,
su − K se Z = u,
X = max(S1 − K, 0) =
0 se Z = d.
Φ(u) = su − K,
Φ(d) = 0.
Π(1; X) = X,
Π(0; X).
Exemplo 2.3. Na continuação do exemplo 2.1, uma opção com preço de exercı́cio
K = $50, terá à data t = 1 o valor:
$5 se Z = u,
X = max(S1 − $50, 0) =
0 se Z = d.
2Iremos considerar que sd < K < su, pois este é o caso mais interessante em que num dos estados
da natureza a opção é exercida e no outro estado não.
2.4. DIREITOS CONTINGENTES E APREÇAMENTO 21
com probabilidade 1.
Neste caso diz-se que a carteira h é uma carteira de cobertura ou carteira réplica e se
todos os direitos contingentes são replicáveis diz-se que o mercado é completo.
A lei do preço único (ver teorema 1.5), traduz-se neste contexto por: se um direito X
é replicável com carteira réplica h, então o único preço razoável para X é dado por,
Π(t; X) = Vth , t = 0, 1,
O caso em que Π(1; X) = V1h e Π(0; X) < V0h , trata-se da mesma forma, mas agora
vendendo a carteira e comprando o derivado (vende-se sempre o ativo de preço mais
elevado e compra-se o de menor preço).
Proposição 2.12. Assuma-se que o modelo Binomial é livre de arbitragem (ver pro-
posição 2.5) então também é completo.
ou seja,
(1 + r)x + suy = Φ(u)
(1 + r)x + sdy = Φ(d)
com solução
x= 1 uΦ(d)−dΦ(u)
1+r u−d
(2.8)
y= 1 Φ(u)−Φ(d)
s u−d
,
Π(0; X) = V0h ,
1
(2.9) Π(0; X) = E∗ [X].
1+r
1
(2.10) S0 = E∗ [S1 ],
1+r
e as expressões para qu e qd são dadas pela proposição 2.8. Mais, o direito X pode ser
replicado pela carteira
x= 1 uΦ(d)−dΦ(u)
1+r u−d
(2.11)
y= 1 Φ(u)−Φ(d)
s u−d
.
1 K
Π(0; X) = E∗ [K] = ,
1+r 1+r
Corolário 2.14. O preço de uma opção de compra Europeia, sobre um ativo subja-
cente de preço St , com data de exercı́cio t = 1 e preço de exercı́cio K (com S0 d < K < S0 u)
é, à data t = 0:
1 qu
C0e = E∗ [max(S1 − K, 0)] = (S0 .u − K),
1+r 1+r
1 qd
P0e = E∗ [max(K − S1 , 0)] = (K − S0 .d).
1+r 1+r
Exemplo 2.5. Com os mesmo dados do exemplo 2.3 (r = 0.05, u = 1.1, d = 0.9,
qu = 0.75, S0 = 50 e K = 50) e como já foi calculado nesse mesmo exemplo, o preço da
opção de compra calculado por intermédio da equação (2.9), será de:
1
C0e = Π(0; X) = E∗ [X] ≈ $3.57,
1+r
e a carteira de cobertura (ou réplica) da equação (2.11) virá:
x = 1 uΦ(d)−dΦ(u) = 1 1.1×0−0.9×5 = −21.43
1+r u−d 1.05 0.2
y = 1 Φ(u)−Φ(d) = 1 5−0 = 0.5.
s u−d 50 0.2
Repare-se que esta carteira de cobertura (h = (x, y) = (−21.43, 0.5)) traduz-se num
empréstimo de $21.43 (ou venda a descoberto de 21.43 obrigações de valor unitário) e
numa compra de 50% de uma ação, valendo em t = 0,
e em t = 1,
x(1 + r) + ysu = −21.43 × 1.05 + 0.5 × 50 × 1.1 = 5, se Z = u
V1h =
x(1 + r) + ysd = −21.43 × 1.05 + 0.5 × 50 × 0.9 = 0, se Z = d
Note-se também que o emitente da opção pode fazer o empréstimo de valor $21.43 que
somado ao que se recebe pela venda da opção ($3.57) será $25, o que permite comprar
exatamente 50% de uma ação.
Exercı́cio 2.3. Com os mesmo dados do exemplo 2.3 (r = 0.05, u = 1.1, d = 0.9,
S0 = 50 e K = 50), calcule o preço da opção de venda Europeia.
Há muitos outros direitos contingentes (ou produtos derivados) que surgem como
instrumentos financeiros e nesta secção iremos introduzir alguns dos mais conhecidos,
bem como alguns resultados importantes para a determinação dos seus preços.
2.5. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 25
teremos que o seu preço pode ser facilmente obtido usando a fórmula (2.9), obtendo-se:
1 1 qu A
CB0e (A) = Π(0; X) = E∗ [X] = (qu .A + qd .0) =
1+r 1+r 1+r
Exercı́cio 2.4. Deduza uma fórmula de apreçamento para uma opção de venda
Binária do tipo money-or-nothing.
No caso dos contratos forward, como já foi referido, é importante encontrar o preço
de exercı́cio que faz com que na data inicial o custo do contrato seja zero.
Proposição 2.17. O preço de exercı́cio K (preço forward) que torna o custo inicial
de um contrato forward zero, é:
K = S0 (1 + r).
Demonstração. Basta ter em atenção que o contrato forward pode ser encarado
como um direito contingente Y = S1 − K, pelo que a aplicação da equação (2.9), traduz-
se em:
1 1 1 K K
Π(0; Y ) = E∗ [Y ] = E∗ [S1 − K] = E∗ [S1 ] − = S0 −
1+r 1+r 1+r 1+r 1+r
1Este tipo de opções devido à sua natureza binária do resultado, são muitas vezes comparadas a uma
aposta de casino.
2.5. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 26
A proposição anterior é uma ferramenta útil para calcular o preço de produtos deriva-
dos que possam ser escritos como combinações lineares de derivados de preços conhecidos,
o que por sua vez permite provar a fórmula de Paridade Put-Call, que relaciona o preço
de uma opção de venda com o preço de uma opção de compra com o mesmo preço de
exercı́cio e sobre o mesmo ativo subjacente.
ΦC − ΦP = S1 − K
donde,
K
Π(0; ΦC − ΦP ) = Π(0; S1 − K) = Π(0; S1 ) − Π(0; K) = S0 −
1+r
e portanto
K
C0e − P0e = Π(0; ΦC ) − Π(0; ΦP ) = Π(0; ΦC − ΦP ) = S0 −
1+r
e o resultado segue.
Exercı́cio 2.5. Prove a proposição anterior usando apenas argumentos de não arbi-
tragem.
Exercı́cio 2.6. Determine de duas forma diferentes o preço de uma opção de venda
Europeia com r = 0.05, u = 1.1, d = 0.9, qu = 0.75, S0 = 50 e K = 50.
Exercı́cio 2.7. Escreva uma fórmula que lhe permite determinar r a partir da pari-
dade Put-Call se forem conhecidos os valores das opções.
Há muitos outros produtos derivados que se podem escrever como combinações lineares
de derivados de preços conhecidos.
Definição 2.20. Um contrato Break Forward fica a meio caminho entre um con-
trato forward e uma opção. A função contrato deste produto pode ser descrita como:
Φ(Z) = max(S1 , F ) − K
com sd < F < K < su, onde F = S0 (1 + r) é o preço forward (ver contratos forward) e
K é o preço de exercı́cio do Break Forward.
Tal como nos contratos forward, para este produto o que se pretende é determinar o
preço de exercı́cio do Break Forward que torna zero o custo inicial deste derivado.
Um outro tipo de contrato de opção é a chamada opção Europeia com prémio contin-
gente.
Definição 2.22. Uma opção Europeia com prémio contingente, é uma opção
Europeia cujo custo inicial é zero, uma vez que só será paga na maturidade (em t = 1) e
só em caso de haver exercı́cio.
o que significará que o valor de α que torna o preço inicial zero (assumindo como anteri-
ormente que S0 d < K < S0 u), deverá satisfazer:
1 qu .α 1+r e
0 = Π(0, X) = (qu .(S1 − K − α) + qd .0) = C0e − ⇔α= C
1+r 1+r qu 0
Em alternativa, poderemos observar que
pelo que o direito X pode ser encarado como uma combinação linear entre uma opção
de compra Europeia usual e uma opção Binária com valor de rebate α (e com o mesmo
preço de exercı́cio K), pelo que imediatamente (proposição 2.18):
Exemplo 2.7. Considere uma alternativa à opção Europeia com prémio contingente,
contratada com um pagamento de uma percentagem (β) do prémio à cabeça (t = 0) e o
restante prémio (1 − β) na maturidade (t = 1).
Então o prémio α poderá ser determinado pela resolução da equação:
1
βα = Π(0, X) = (qu .(S1 − K − (1 − β)α) + qd .0)
1+r
vindo que:
−1
(1 − β)qu
α= β+ C0e .
1+r
Um tipo muito relevante de produtos derivados são aqueles que têm como ativos
subjacentes as taxas de câmbio.
Designemos por Mt o valor na data t de 1USD em termos de EUR, por exemplo, se
hoje temos M0 = 0.83 isto significa que com 1USD compramos 0.83EUR (83 cêntimos de
2.6. TAXAS DE CÂMBIO 30
euro).
O nosso objectivo será o de apreçar derivados de Forex2 (FX), no mercado de câmbios.
Para este tipo de mercado financeiro teremos de considerar duas taxas de juro sem
risco (associadas a ativos sem risco num e noutro paı́s):
V0h = x + yM0
com Z uma variável aleatória que pode tomar os valores u e d, como anteriormente.
Neste contexto quereremos determinar a carteira de cobertura de W , isto é, determinar
x e y de modo que W1 = V1h , ou seja, queremos:
2Forex é a abreviatura de Foreign Exchange Market, que significa um mercado de divisas estrangeiras.
2.6. TAXAS DE CÂMBIO 31
Usando a Lei do preço único, significará que o preço livre de arbitragem do derivado
W = Φ(M ) à data t = 0,
uΦ(d) − dΦ(u) Φ(u) − Φ(d)
Π(0; W ) = V0h = x(1 + rd ) + y(1 + rf )m = +
u−d u−d
que pode ser reescrito,
1+rd 1+rd !
1 1+rf
−d u− 1+rf 1
Π(0; W ) = Φ(u) + Φ(d) = E+ [W1 ]
1 + rd u−d u−d 1 + rd
qu = ,
u−d
1+r
u− 1+rd
qd = f
.
u−d
1+r
u− 1+rd
qd = f
.
u−d
Observação 10. Repare-se que neste mercado a medida de martingala será P+ e que
coincidirá com P∗ (secções anteriores) se rf = 0 e rd = r. Também aqui a ausência de
arbitragem está relacionada com a existência da medida de martingala e assim sendo para
que 0 ≤ qu , qd ≤ 1, teremos de ter:
1 + rd
d≤ ≤u
1 + rf
No mercado FX, um produto derivado usual é a opção de compra Europeia com ativo
subjacente uma taxa de câmbio.
Definição 2.25. Uma opção Europeia sobre uma taxa de câmbio (USD/EUR),
é um contrato que dá ao seu detentor o direito (mas não a obrigação) de comprar numa
data de exercı́cio T , 1 USD por K EUR ou seja a uma taxa USD/EUR fixa e igual a K.
Corolário 2.28. Se Mt representar a taxa USD/EUR, a taxa KF∗ X que torna nulo
o custo inicial de um contrato Forward sobre a taxa de câmbio (USD/EUR) com data de
exercı́cio t = 1 é:
1 + rd
KF∗ X = M0 .
1 + rf
Demonstração. Repare-se que da proposição 2.24, o custo inicial de um derivado
da taxa de câmbio com função contrato MT − K será:
1 M0 K
Π(0; W ) = E+ [MT − K] = −
1 + rd 1 + rf 1 + rd
pelo que o valor de K que torna este custo zero, é:
1 + rd
K= M0 .
1 + rf
Exercı́cio 2.9. Deduza uma fórmula equivalente à apresentada no corolário 2.26, mas
para uma opção de venda Europeia e programe em as fórmulas de preço quer para a
opção de compra, quer para a opção de venda.
(3.3) Bt = (1 + r)t B0
onde j representa o número de subidas (ou movimentos u) do preço do ativo com risco.
Isto significa, que no caso do ativo com risco podemos representar a sua evolução de preços
através da seguinte árvore (Figura 3.1), onde o facto de as variáveis aleatórias Z0 , ..., ZT −1
serem i.i.d. é fundamental para que a árvore seja recombinante, isto, é partindo de uma
mesma posição inicial uma subida seguida de uma descida permite atingir o mesmo nó
que se atinge se houver primeiro uma descida seguida de uma subida.
S0 u4
*
S0 u3
H
* H
HH
j
2
S0 u
H S0 u3d
* HH *
H
j
S0 u
H S0 u2d
H
* H * H
HH
j HH
j
S0 H S0 ud
H
S0 u2d2
HH *
HH *
Hj H
j
S0 d
H S0 ud2
H
HH * HH
H
j H
j
S0 d2
HH S0 ud3
HH *
j
S0 d 3
HH
H
H
j
S 0 d4
Figura 3.1. Evolução de preços do ativo com risco no modelo Binomial multiperı́odo
A cada nó da árvore anterior iremos associar uma identificação (t, j), t = 0, ..., T, j =
0, ..., T , em que t representa o tempo e j representa o número de movimentos de subida
(u) do preço do ativo, ver a Figura 3.2.
Assim sendo, podemos escrever para o processo de preços do ativo com risco,
(4, 4)
*
(3, 3)
HH
*
H
H
j
(2, 2) H
(4, 3)
* HH *
H
j
(1, 1)
HH (3, 2)
HH
* H *
H
Hj H
j
(0, 0) H
(2, 1) H
(4, 2)
H * H *
HH HH
j j
(1, 0) H
(3, 1) H
HH *
HH
Hj H
j
(2, 0)
HH (4, 1)
*
HH
j
(3, 0) H
HH
H
j
(4, 0)
aumento do número de perı́odos conseguimos obter trajectórias muito mais realistas, veja-
se a Figura 3.3.
Figura 3.3. Trajectórias de preços do ativo com risco no modelo Binomial multiperiodo
onde ht é uma função de S0 , ..., St−1 . Por convenção define-se h0 ≡ h1 . O processo valor
da carteira h é definido por,
(3.7) Vth = xt (1 + r) + yt St .
A interpretação deve ser que xt é o valor investido no depósito bancário (ativo sem
risco) em t − 1 e guardado até t e para yt a interpretação é análoga, ou seja, representa o
número de ações (ativo com risco) detidas no instante t − 1 e que transita para o instante
t.
Isto significa que no instante t, o valor da carteira (xt , yt ) formada em t−1 (e guardada
até ao instante t) é igual ao valor da carteira (xt+1 , yt+1 ) formada no instante t (e que será
mantida até t + 1). Por outras palavras, numa carteira autofinanciada não há entradas
nem saı́das de capital da carteira, as perdas ou ganhos devem-se apenas às variações dos
preços dos ativos da carteira.
Também neste contexto a noção de arbitragem é fundamental e tem uma definição
análoga à já apresentada, apenas com algumas adequações ao facto de termos mais do
que um perı́odo e um maior número de valores finais de preços do ativo com risco.
(3.9) V0h = 0,
(3.10) P[VTh ≥ 0] = 1,
A condição de não arbitragem é análoga à que já enunciamos para o modelo Binomial
a um perı́odo, mas adaptada tendo em atenção a definição de arbitragem neste contexto.
Proposição 3.4. O modelo Binomial multiperiodo é livre de arbitragem se, e só se,
d < 1 + r < u.
1
s= E∗ [St+1 |St = s]
1+r
X = Φ(ST ),
3.3. DIREITOS CONTINGENTES E APREÇAMENTO 39
VTh = X,
Demonstração. Suponha-se que num dado instante t, é possı́vel comprar (ou ven-
der) o direito contingente X a um preço inferior (superior) ao valor da carteira h (que
replica X) Vth , então fazemos a venda (compra) da carteira por Vth e compramos (ven-
demos) o direito contingente. Na maturidade, devido à relação que há entre o direito
contingente e a sua carteira réplica quer o direito contingente quer a carteira réplica têm
o mesmo valor pelo que podemos usar a posição longa para fechar a posição curta e a
oportunidade de arbitragem vêm da diferença (positiva) de dinheiro obtida no instante t
e que pode ser aplicada no ativo sem risco na data e t e que capitaliza até à data T .
Esta proposição tem como consequência que se torna óbvio como determinar o processo
de preços livre de arbitragem {Π(t; X); t = 0, ..., T }.
Recorde-se que o processo de preços do ativo com risco pode ser descrito em cada nó
(t, j) da árvore binomial, por:
e do mesmo modo poderemos representar o valor de uma carteira h em cada nó (t, j) por
Vth (j).
(4;4)
Preços do Ativo com risco 73,21
(3;3)
66,55
(2;2) (4;3)
60,50 59,90
Activo Opção
Preço Atual - S0 $50,00 Carteira ( x , y ) (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $50,00 Valor Carteira 55,00 54,45
Taxa de juro - r 5,00%
(2;0) (4;1)
40,50 40,10
(3;0)
36,45
(4;0)
32,81
Figura 3.4. Evolução de preços do ativo com risco no modelo Binomial multiperı́odo.
Considere-se agora uma opção de compra europeia sobre este ativo, com maturidade
T = 4 e preço de exercı́cio K = $50. O algoritmo Binomial (fórmula 3.15) permite ir
calculando do fim para o inicio, os valores da opção na árvore binomial (Figura 3.5).
(4;4)
Preços da opção de Compra Europeia 73,21 23,21
(3;3)
66,55 18,93
(2;2) (4;3)
60,50 15,20 59,90 9,90
Activo Opção
Preço Atual - S0 $50,00 Carteira ( x , y ) (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $50,00 Valor Carteira 55,00 12,06 54,45 7,07
Taxa de juro - r 5,00%
(2;0) (4;1)
40,50 0,00 40,10 0,00
(3;0)
36,45 0,00
(4;0)
32,81 0,00
(4;4)
Valor da carteira de cobertura 73,21 23,21
23,21
(3;3)
66,55 18,93
-47,62 1,00
18,93
(2;2) (4;3)
60,50 15,20 59,90 9,90
-44,11 0,98
Activo Opção 15,20 9,90
Preço Atual - S0 $50,00 Carteira ( x , y ) (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $50,00 Valor Carteira 55,00 12,06 54,45 7,07
Taxa de juro - r 5,00% -38,72 0,92 -42,41 0,91
12,06 7,07
u 1,10 (t;u)=(0;0) (2;1) (4;2)
d 0,90 50,00 9,47 49,50 5,05 49,01 0,00
qu 0,75 -32,81 0,85 -30,29 0,71
qd 0,25 9,47 5,05 0,00
(1;0) (3;1)
45,00 3,61 44,55 0,00
-21,64 0,56 0,00 0,00
3,61 0,00
(2;0) (4;1)
40,50 0,00 40,10 0,00
0,00 0,00
0,00 0,00
(3;0)
36,45 0,00
0,00 0,00
0,00
(4;0)
32,81 0,00
0,00
1
(3.17) Π(0; X) = E∗ [X],
(1 + r)T
T
1 X T j T −j j T −j
(3.18) Π(0; X) = q u q d Φ S 0 u d .
(1 + r)T j=0 j
3O valor da carteira de cobertura, em cada nó da árvore, pode ser calculado de duas formas distintas
por ser uma carteira autofinanciada (veja-se a proposição 3.2): i) usando a composição que vem de um
nó anterior; ii) usando a composição obtida no próprio nó.
3.3. DIREITOS CONTINGENTES E APREÇAMENTO 43
Exemplo 3.2. Voltando ao exemplo anterior (exemplo 3.1), podemos calcular de uma
só vez o valor da opção de compra Europeia no instante t = 0, usando a fórmula (3.18)
da proposição 3.12.
4
1 X 4 j 4−j j 4−j
Π(0; X) = 0.75 0.25 max 50 × 1.1 × 0.9 − 50, 0 = 9.47.
(1 + 0.05)4 j=0 k
Exercı́cio 3.2. Construa uma árvore binomial análoga à do exemplo 3.1, mas agora
para uma opção de venda Europeia com preço de exercı́cio $50.
No modelo Binomial multiperı́odo também temos uma relação de paridade entre opções
de compra e de venda.
Proposição 3.13 (Paridade Put-Call). Se C0e e P0e são os preços de uma opção
de compra e de uma opção de venda Europeias (à data t = 0), ambas sobre o mesmo
ativo, com o mesmo preço de exercı́cio K e com a mesma maturidade T , então é válida a
seguinte relação:
K
P0e = C0e + − S0
(1 + r)T
ΦC − ΦP = ST − K
K
Π(0; ΦC − ΦP ) = Π(0; ST − K) = Π(0; ST ) − Π(0; K) = S0 −
(1 + r)T
e portanto
K
C0e − P0e = Π(0; ΦC ) − Π(0; ΦP ) = Π(0; ΦC − ΦP ) = S0 − ,
(1 + r)T
teremos que o seu preço pode ser facilmente obtido usando a fórmula (3.17) da pro-
posição 3.12,
T
1 ∗ A X T j T −j
CB0e (A) = Π(0; X) = E [X] = q q I j T −j
(1 + r)T (1 + r) j=0 j u d {S0 u d >K}
T
Exercı́cio 3.9. Considere os mesmos dados do exemplo 3.1, isto é, S0 = $50, u = 1.1,
d = 0.9 e r = 5%. Dado T = 4, construa a àrvore binomial para uma opção de compra
4bxc é o maior inteiro menor ou igual a x (função floor).
3.4. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 46
Exercı́cio 3.10. Mostre que CB0e (A) = A.CB0e (1), isto é, que o preço de uma opção
de compra Binária money-or-nothing com valor de rebate A é igual a multiplicar A pelo
preço de uma opção de compra Binária money-or-nothing com valor de rebate 1.
Exercı́cio 3.11. Deduza uma fórmula de apreçamento para uma opção de venda
Binária do tipo money-or-nothing com valor de rebate A, preço de exercı́cio K e maturi-
dade T . Programe em a fórmula obtida.
T j T −j
X T qu u qd d
CBS0e (ST ) = S0 = S0 (1 − FY (j0 ))
j=j +1
j 1+r 1+r
0
j T
k
com j0 = ln(K/(S 0 d ))
ln(u/d)
e FY a função distribuição de probabilidade cumulativa de uma
qu u
v.a. Y ∼ Binom T, 1+r .
3.4. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 47
T j T −j T j T −j
X T qu u qd d X T qu u qd d
= S0 I{S0 uj dT −j >K} = S0
j=0
j 1 + r 1 + r j=j +1
j 1+r 1+r
0
ln(K/(S0 dT ))
S0 uj dT −j > K ⇔ j >
ln(u/d)
e vale zero caso contrário.
Exercı́cio 3.17. Mostre que o preço de uma opção de compra Europeia pode ser
determinado em função de opções Binárias money-or-nothing e asset-or-nothing. Mostre
o mesmo para uma opção de venda Europeia.
3.4. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 48
Exercı́cio 3.18. Determine o preço de uma gap option de compra, isto é, uma
opção cuja função contrato é:
e de uma gap option de venda, ou seja, uma opção com função contrato:
Exercı́cio 3.20. Determine o preço de uma supershare option, isto é, um direito
contingente cuja função contrato é:
ST
Φ(ST ) = I{K ≤S <K } ,
K1 1 T 2
com S0 dT < K1 < K2 < S0 uT .
Programe em a fórmula de apreçamento.
Exercı́cio 3.22. Mostre que o preço forward K (preço que torna o custo inicial de
um contrato forward igual a zero), no modelo Binomial multiperı́odo é:
K = S0 (1 + r)T .
Exemplo 3.3. No caso do contrato Break Forward (ver exemplo 2.6), a função
contrato para o modelo Binomial multiperı́odo pode ser descrita como:
Φ(Z) = max(ST , F ) − K
3.4. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 49
com F = S0 (1 + r)T o preço forward e C0e (F ) o preço de uma opção de compra Europeia
com preço de exercı́cio igual a F .
Exemplo 3.4. No caso da opção Europeia com prémio contingente (ver definição 2.22)
e designando por α o prémio a ser pago na maturidade T , teremos que:
C0e
α=
CB0e (1)
com C0e o custo de uma opção de compra Europeia e CB0e (1) o preço de uma opção de
compra Binária money-or-nothing com valor de rebate 1, ambas com preço de exercı́cio
K e maturidade T .
pelo que opção Europeia com prémio contingente pode ser encarado como uma carteira
composta por uma posição longa numa opção de compra Europeia usual e uma posição
3.4. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 50
curta numa opção Binária com valor de rebate α (com o mesmo preço de exercı́cio K),
pelo que:
Π(0, X) = C0e − CB0e (α) = C0e − αCB0e (1),
o que permite rapidamente concluir que o valor de α que faz com que Π(0, X) = 0 é o
apresentado.
vindo que:
C0e
α= .
β + (1 − β)CB0e (1)
Definição 3.17 (Collars). Sejam K1 e K2 dois números reais fixos (tais que S0 dT <
K1 < K2 < S0 uT ) e um direito contingente cuja função contrato na maturidade T , é dada
por:
Φ(ST ) = min(max(ST , K1 ), K2 ).
O direito contingente CLT = Φ(ST ) é usualmente designado por collar (com preços de
exercı́cio K1 e K2 ) e é uma estratégia que protege contra perdas elevadas mas que também
limita os ganhos.
pelo que pela linearidade da função de apreçamento e escrevendo ΦC(K) para representar
a função contrato de uma opção de compra Europeia com preço de exercı́cio K,
Π(0; CL) = Π(0; K1 ) + Π(0; ΦC(K1 ) ) − Π(0; ΦC(K2 ) )
(3.21) K1
Π(0; CL) = + C0e (K1 ) − C0e (K2 ).
(1 + r)T
Exercı́cio 3.23. Mostre que um Collar pode ser interpretado como uma carteira
constituı́da por uma posição longa no ativo subjacente, uma posição curta numa opção
de compra com preço de exercı́cio K2 e uma posição longa numa opção de venda com
preço de exercı́cio K1 (com K1 < K2 ). Deduza a fórmula de preço dessa carteira e mostre
que coincide com o resultado da proposição 3.18.
F STP = max(KST1 − ST , 0)
Há ainda outro tipo de opções que só numa data futura são totalmente definidas, as
mais conhecidas são aquelas em que só nessa data futura o seu detentor decide se são
opções de compra ou de venda.
3.4. DIREITOS CONTINGENTES DIVERSOS 53
com
e na data T1
K
VTl1 = CTe1 (ST1 ; T, K) + PTe1 ST1 ; T1 ,
(1 + r)T −T1
K
= CTe1 (ST1 ; T, K) + max − ST1 , 0
(1 + r)T −T1
3.5. OPÇÕES AMERICANAS 54
Donde, se na data T1 temos que CHT1 = VTl1 , pelos argumentos usuais de não arbitragem
teremos que para t = 0:
K
CH0 = V0l = C0e (S0 ; T, K) + P0e S0 ; T1 , .
(1 + r)T −T1
Sabemos que as opções Americanas distinguem-se das Europeias pelo facto de poderem
ser exercidas antecipadamente. Relativamente à forma de apreçar as opções Americanas,
iremos começar pelas opções de compra e iremos ver como se relacionam com as Europeias.
Para isso precisamos do seguinte resultado.
Proposição 3.23. No caso das opções de compra Europeias temos que para t =
0, ..., T :
K
(3.22) Cte ≥ St − ,
(1 + r)T −t
isto é, o valor da opção de compra Europeia (em cada momento t) tem um limite inferior
definido pelo preço do ativo subjacente nessa data e pelo valor do preço de exercı́cio
descontado para essa data t.
3.5. OPÇÕES AMERICANAS 55
K
Demonstração. Repare-se que a desigualdade pode ser reescrita como Cte + (1+r) T −t ≥
K
St e caso não se verifique, isto é, se Cte + (1+r)T −t < St podemos assumir uma posição curta
numa unidade do ativo subjacente, com esse valor constituir uma carteira formada pela
K
opção e por (1+r)T −t
investido no ativo sem risco. Nesta operação, temos um cash-flow
positivo e na maturidade a carteira vale K se a opção não é exercida, ou seja se ST ≤ K
pelo que o valor da carteira permite fechar a posição curta no ativo, ou a carteira vale
ST se a opção for exercida o que também é suficiente para fechar a posição curta (o va-
lor da posição curta será sempre de ST ). O lucro sem risco vem do cash-flow positivo
que se obteve no instante inicial (capitalizado à taxa r), ou seja, uma oportunidade de
arbitragem.
Proposição 3.24. As opções de compra Americanas não devem ser exercidas antes
da maturidade T (quando não há dividendos no ativo subjacente), pelo que o seu preço
deve coincidir com o preço da opção Europeia equivalente.
No caso das opções de venda Americanas, já há diferença para as Europeias, mas é
possı́vel usar o algoritmo Binomial para as apreçar.
Proposição 3.25. O preço de uma opção de compra Americana com preço atual S0 ,
preço de exercı́cio K e maturidade T , pode ser obtido de forma recursiva (de modo análogo
ao algoritmo Binomial da proposição 3.11), para cada nó (t, j) da árvore binomial, por:
max max (S uj dt−j − K, 0) , V h (j) , t = 0, ..., T −1, j = 0, ..., t
0 t
V h (j) = max S0 uj dT −j − K, 0 , j = 0, ..., T
T
com
1
Vth (j) = h h
qu Vt+1 (j + 1) + qd Vt+1 (j) , t = 0, ..., T − 1.
1+r
Observação 12. Repare-se que na implementação deste algoritmo, em cada nó
calcula-se o valor da opção como se fosse Europeia e depois compara-se esse valor com o
valor de uma opção que seja exercida nesse mesmo nó, atribuindo-se à opção Americana
o máximo entre esses dois resultados.
Repare-se também, que como Vth (j) ≥ 0 podemos escrever:
Exemplo 3.6. Considere-se agora uma opção de venda Americana, com maturidade
T = 4 e preço de exercı́cio K = $50. O algoritmo Binomial (proposição 3.25) permite ir
calculando (e prenchendo) do fim para o inicio, os valores da opção na árvore binomial
(Figura 3.7).
Observação 13. Na Figura 3.7, os nós assinalados a vermelho mais suave (nós (1, 0)
e (3, 1)) são os nós onde a opção de venda deve ser exercida antecipadamente, pois nesses
nós o ganho de exercer a opção é superior ao valor de uma opção que se deixe evoluir
até à maturidade. Repare-se ainda que quer nesses nós, quer nos nós a vermelho mais
carregado temos dois valores para a carteira de cobertura, pois a opção ao ser exercida
cessa de existir e o mesmo acontece com a carteira de cobertura, pelo que os valores
apresentado são apenas indicativos e só o valor que é obtido da carteira formada num nó
anterior é que coincide com o valor apresentado para a opção.
3.6. OPÇÕES BARREIRA 57
(4;4)
Opção de Venda Americana 73,21 0,00
0,00
(3;3)
66,55 0,00
0,00 0,00
0,00 0,00
(2;2) (4;3)
60,50 0,06 59,90 0,00
1,24 -0,02
Activo Opção 0,06 0,06 0,00 0,00
Preço Atual - S0 $50,00 Carteira ( x , y ) (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $50,00 Valor Carteira 55,00 0,39 54,45 0,24
Taxa de juro - r 5,00% 7,44 -0,13 5,21 -0,09
0,39 0,39 0,24 0,24
u 1,10 (t;u)=(0;0) (2;1) (4;2)
d 0,90 50,00 1,47 49,50 1,47 49,01 0,99
qu 0,75 24,52 -0,46 27,53 -0,53
qd 0,25 1,47 1,47 1,47 0,99 0,99
(1;0) (3;1)
45,00 5,00 44,55 5,45
43,48 -0,89 47,62 -1,00
3,31 5,00 3,07 5,45
(2;0) (4;1)
40,50 9,50 40,10 9,90
47,62 -1,00
7,12 9,50 9,90 9,90
(3;0)
36,45 13,55
47,62 -1,00
11,17 13,55
(4;0)
32,81 17,20
17,20
De entre as muitas opções barreira que podem ser considerada, iremos apenas estudar
as do tipo Down-and-Out e Up-and-Out.
Considere-se um limiar L que funciona como barreira.
• Contratos Down-and-Out:
– são contratos que na maturidade T pagam um valor Φ(ST ) se o preço do
ativo subjacente se manteve acima do limiar L durante toda a vigência do
contrato;
– se o preço do ativo subjacente atinge a barreira antes da maturidade, o
contrato cessa e nada é pago ao detentor do mesmo.
• Contratos Up-and-Out:
3.6. OPÇÕES BARREIRA 58
• Opção Down-and-Out:
max(S − K, 0), S > L, ∀t ∈ {0, 1, ..., T }
T t
(3.23) Φ(ST ) =
0, St ≤ L, para algum t ∈ {0, 1, ..., T }
• Opção Up-and-Out:
max(S − K, 0), S < L, ∀t ∈ {0, 1, ..., T }
T t
(3.24) Φ(ST ) =
0, St ≥ L, para algum t ∈ {0, 1, ..., T }
com
1
Vth (j) = h h
qu Vt+1 (j + 1) + qd Vt+1 (j) , t = 0, ..., T − 1.
1+r
com
1
Vth (j) = h h
qu Vt+1 (j + 1) + qd Vt+1 (j) , t = 0, ..., T − 1.
1+r
(4;4)
Opção Barreira de Compra 73,21 0,00
0,00
(3;3)
66,55 0,00
78,02 -1,12
3,55 0,00
(2;2) (4;3)
60,50 2,76 59,90 14,90
60,72 -0,96
Activo Opção 2,76 2,76 14,90 14,90
Preço Atual - S0 $50,00 Carteira ( x , y ) (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $45,00 Valor Carteira 55,00 4,11 54,45 11,59
Taxa de juro - r 5,00% 35,11 -0,56 -42,86 1,00
Barreira $65,00 4,11 4,11 11,59 11,59
u 1,10 (t;u)=(0;0) (2;1) (4;2)
d 0,90 50,00 4,57 49,50 8,96 49,01 4,01
qu 0,75 18,48 -0,28 -34,70 0,88
qd 0,25 4,57 8,96 8,96 4,01 4,01
(1;0) (3;1)
45,00 6,89 44,55 2,86
-27,70 0,77 -17,16 0,45
6,89 6,89 2,86 2,86
(2;0) (4;1)
40,50 2,04 40,10 0,00
-12,26 0,35
2,04 2,04 0,00 0,00
(3;0)
36,45 0,00
0,00 0,00
0,00 0,00
(4;0)
32,81 0,00
0,00
Figura 3.8. Preços do ativo com risco, da opção de compra Barreira Up-
and-Out e da carteira de cobertura.
3.7. TAXAS DE CÂMBIO 60
Observação 14. Repare-se que na árvore da Figura 3.8, também temos um nó a
vermelho mais suave (3, 3) que é o nó que ao ser atingido faz com que a barreira seja
atingida e portanto o contrato cesse, pelo que o contrato nunca evoluiria a partir desse
nó.
Exercı́cio 3.29. Escreva uma versão do algoritmo recursivo Binomial para opções
Barreira de compra e venda do tipo Down-and-Out, implemente-o em .
Exercı́cio 3.30. Escreva uma versão do algoritmo recursivo Binomial para opções
Binárias Barreira do tipo money or nothing e Down-and-Out, implemente-o em .
Voltemos agora ao objetivo de apreçar derivados de Forex (FX), mas agora no modelo
Binomial multiperı́odo. Recorde-se que no modelo Binomial a um perı́odo, a medida
de martingala P+ que permite obter os preços livres de arbitragem de derivados FX, é
definida por:
1+rd
1+rf
−d
qu = ,
u−d
(3.25)
1+r
u− 1+rd
qd = f
.
u−d
onde rd corresponde à taxa de juro doméstica, por exemplo a praticada na zona euro e rf
corresponde à taxa de juro estrangeira, por exemplo a praticada nos USA.
Com Mt a representar o valor na data t de uma unidade monetária de um paı́s expressa
em termos de unidades monetárias de outro paı́s, por exemplo, o valor de 1USD em
termos de EUR e com W = Φ(M ) a representar um direito contingente sobre M , teremos
resultados análogos aos já obtidos para o modelo Binomial multiperı́odo, mas com as
necessárias adaptações decorrentes da utilização da medida de martingala definida nestes
mercados.
3.7. TAXAS DE CÂMBIO 61
Observação 16. Repare-se que as fórmulas são em tudo análogas às da secção 3.3
apenas com as adaptações decorrentes da utilização de uma medida de martingala que
depende de duas taxas de juro sem risco rd e rf .
(4;4)
Opção de Compra Europeia FX 1,61 0,41
0,41
(3;3)
1,46 0,26
-1,14 0,96
0,26 0,26
(2;2) (4;3)
1,33 0,16 1,32 0,12
-0,81 0,74
Activo Opção 0,16 0,16 0,12 0,12
Câmbio Atual - M0 1,10 Carteira ( x , y ) (1;1) (3;2)
Câmbio de exercícios - K 1,20 Valor Carteira 1,21 0,10 1,20 0,06
Taxa de juro - rd 5,00% -0,54 0,53 -0,50 0,47
Taxa de juro - rf 4,00% 0,10 0,10 0,06 0,06
u 1,10 (t;u)=(0;0) (2;1) (4;2)
d 0,90 1,10 0,06 1,09 0,03 1,08 0,00
qu 0,55 -0,34 0,36 -0,26 0,27
qd 0,45 0,06 0,03 0,03 0,00 0,00
(1;0) (3;1)
0,99 0,02 0,98 0,00
-0,14 0,16 0,00 0,00
0,02 0,02 0,00 0,00
(2;0) (4;1)
0,89 0,00 0,88 0,00
0,00 0,00
0,00 0,00 0,00 0,00
(3;0)
0,80 0,00
0,00 0,00
0,00 0,00
(4;0)
0,72 0,00
0,00
Um ativo subjacente pode pagar dividendos, por exemplo, se o ativo subjacente consis-
tir em ações de uma empresa é possı́vel que a empresa pague dividendos aos seus acionistas
durante a vigência do contrato do produto derivado, mas nesse caso e como o valor dos di-
videndos influencia o preço das ações então os dividendos também influenciarão os preços
dos direitos contingentes.
Associada ao pagamento de dividendos existe uma data importante a data de ex-
dividendo. Esta data define quem tem direito aos dividendos pagos pela empresa, de
forma que quem for o detentor das ações da empresa nessa data (usualmente alguns dias
antes da data efetiva ou data-valor de pagamento dos dividendos) receberá os dividendos
e quem as comprar após essa data, mesmo que ainda antes da data valor, já não receberá
dividendos. Naturalmente, nessa data, o preço da ação sofre uma desvalorização, num
valor próximo ao do dividendo, porque quem adquire a ação após essa data já não terá
direito ao recebimento do dividendo.
3.8. ATIVOS QUE PAGAM DIVIDENDOS 63
No modelo binomial multiperı́odo iremos admitir que em cada nó da àrvore podemos
estar numa data ex-dividendo, pelo que se de facto for esse o caso haverá uma desvalo-
rização do preço do ativo igual ao valor do dividendo. No que se segue iremos considerar
duas formas de dividendos: i) os dividendos são uma percentagem do preço do ativo; ii)
os dividendos têm valores fixos e conhecidos.
S0 u *
S0 u3 (1 − δ)
2
(1 − δ)
* S0 u
@
?
@
S0 u(1 − δ) @
S0
S0 u2 d(1 − δ)
@ @
R
@ @
@ @
@ @
@ @R
@
@ S0 ud(1 − δ)
R
@
S0 d
@
@
@
? @
R
S0 ud2 (1 − δ)
S0 d(1 − δ) H
HH
HH
2
jS
H
0d (1 − δ) H
H
HH
j S0 d3 (1 − δ)
Figura 3.10. Evolução de preços do ativo com risco quando há pagamento
de dividendos correspondentes a uma taxa δ em t = 1.
1
St = E∗ [St+1 |St ]
1+r
3.8. ATIVOS QUE PAGAM DIVIDENDOS 64
Observação 18. Repare-se que alguns dos δi podem ser nulos, o que significa que
nesse perı́odo não há pagamento de dividendos, mas também pode acontecer que todos
os δi sejam iguais a δ, o que significa que os dividendos são uma percentagem constante
sobre o preço do ativo.
Para se determinar o preço de um direito contingente simples sobre o ativo que paga
dividendos, bastará agora aplicar o algoritmo binomial usual a esta àrvore de preços S̃.
replicado usando uma carteira autofinanciada h e se Vth (j) representa o valor da carteira
no nó (t, j) então Vth (j) pode ser calculado de forma recursiva por:
V h (j) = 1 (q V h (j + 1) + q V h (j)), t = 0, ..., T − 1
t 1+r u t+1 d t+1
(3.32)
V h (j) = Φ(S̃T (j)),
T
(4;4)
Opção de Compra com Dividendos 67,52 17,52
(3;3)
62,64 13,76
(2;2) (4;3)
Activo Opção
Preço Atual - S0 $50,00 (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $50,00
53,90 8,30 51,25 3,75
Taxa de juro - r 5,00%
Dividendos 2,00%
u 1,10 (t;u)=(0;0) (2;1) (4;2)
d 0,90
50,00 6,38 47,54 2,68 45,20 0,00
qu 0,75
qd 0,25
(1;0) (3;1)
(2;0) (4;1)
(3;0)
34,31 0,00
(4;0)
30,26 0,00
S0 u *
(S0 u − D)u2
* (S0 u − D)u HH
? H
H
j
S0 u − D (S0 u − D)ud
S0 H
HH *
@ H
(S0 u − D)d
@ Hj
H
@ H HH
@
@
H
j (S0 u − D)d2
R
@
S0 d
*
(S0 d − D)u2
?
*
(S0 d − D)u
H H
HH
j
S0 d − D
H (S0 d − D)ud
HH *
H
j (S
0d − D)d
HH
H HH
H
j (S0 d − D)d2
Figura 3.12. Evolução de preços do ativo com risco quando há pagamento
de dividendos de valor fixo D em t = 1.
que dará origem a uma árvore recombinante e que nos nós terminais corresponde a,
Observação 19. Repare-se que no entanto os valores Vth (j) da carteira h em cada
nó (t, j), correspondem ao valor do direito contingente relativo ao preço St (j) do ativo
subjacente, mas quando St (j) = S̃t (j) + Dt e portanto V0h (0), corresponde ao preço do
direito contingente na data t = 0 quando o preço do ativo subjacente é S0 e não S̃0 .
(4;4)
Opção de Compra com Dividendos Fixos 66,75 16,75
(3;3)
60,69 13,07
(2;2) (4;3)
Activo Opção
Preço Atual - S0 $50,00 (1;1) (3;2)
Preço de exercícios - K $50,00
50,15 7,79 49,65 3,30
Taxa de juro - r 5,00%
(3;0)
33,24 0,00
(4;0)
D0 D1 D2 D3
29,91 0,00
4,405572 4,62585 2,86 0,00
3.9. Calculo de u e de d
No modelo Binomial as variáveis que são relevantes para a evolução dos preços do ativo
sem risco e do ativo com risco, são r, S0 , u e d. Quer r quer S0 são valores diretamente
3.9. CALCULO DE u E DE d 69
observáveis no mercado, mas o mesmo não acontece com u e d. No que foi feito até
agora, foram sempre apresentados como conhecidos os valores de u e de d, mas a verdade
é que em aplicações reais esses valores terão de ser determinados e há várias formas de se
fazer essa determinação. Uma das metodologias mais conhecidas e que melhor se adequa
à abordagem escolhida para a apresentação do modelo Binomial é a metodologia (já
referida) de Cox, Ross & Rubinstein ([1]). Segundo esta metodologia deve-se considerar:
√ √ eR∆ − d
u = eσ ∆
, d = e−σ ∆
, 1 + r = eR , qu =
u−d
onde σ é a volatilidade dos preços do ativo com risco e R a taxa de juro equivalente a r mas
considerando capitalização contı́nua, já ∆ corresponde ao intervalo de tempo considerado
para definir os perı́odos entre observações do modelo.
Exercı́cio 3.35. Suponha que a volatilidade do ativo com risco é de 20% ao ano e
que a taxa de juro sem risco r é de 5% ao ano. Determine os valores de R e de u e d que
deve considerar se quiser usar o modelo Binomial multiperı́odo com uma discretização do
ano em 252 perı́odos. E em 2520 perı́odos.
No estudo dos modelos de taxa de juro temos como produto financeiro fundamental
as obrigações.
Há inúmeros tipos de obrigações, de entre outros, salientamos os seguintes:
Há várias taxas de juro implicitas na rentabilidade das obrigações, algumas das mais
relevantes iremos definir de seguida.
A spot rate ou taxa de juro à vista para um dado prazo é, por definição, a taxa de
juro implı́cita no preço contratado para uma obrigação de cupão zero do mesmo prazo.
Definição 4.2 (Taxas de juro spot com capitalização contı́nua). A taxa de juro spot
com capitalização contı́nua contratada no instante t para uma maturidade T , designada
por R(t, T ), é a taxa constante a que um investimento de valor P (t, T ), realizado à data
t, capitaliza para um valor de 1 u.m. à data T quando o juro tem capitalização contı́nua.
4. OBRIGAÇÕES E TAXAS DE JURO 72
Portanto, o preço da obrigação de cupão zero pode ser expresso em função da taxa de
juro spot com capitalização contı́nua, como:
Definição 4.3 (Taxas de juro spot com capitalização simples). A taxa de juro spot
com capitalização simples contratada no instante t para uma maturidade T , designada
por L(t, T ), é a taxa constante a que um investimento de valor P (t, T ), realizado à data
t, capitaliza para um valor de 1 u.m. à data T quando o juro tem capitalização simples e
proporcional ao tempo do investimento (T − t), donde:
1 − P (t, T )
L(t, T ) =
(T − t)P (t, T )
e
(1 + L(t, T )(T − t))P (t, T ) = 1
Também a taxa L(t, T ) permite exprimir o preço da obrigação de cupão zero em termos
da taxa spot com capitalização simples, como:
1
P (t, T ) =
(1 + L(t, T )(T − t))
Definição 4.4 (Taxas de juro spot com capitalização anual). A taxa de juro spot
com capitalização anual contratada no instante t para uma maturidade T , designada por
Y (t, T ), é a taxa constante a que um investimento de valor P (t, T ), realizado à data t,
capitaliza para um valor de 1 u.m. à data T quando o juro é pago anualmente e reinvestido.
1
Y (t, T ) = −1
P (t, T )1/(T −t)
donde,
(1 + Y (t, T ))T −t P (t, T ) = 1
4. OBRIGAÇÕES E TAXAS DE JURO 73
obtendo-se o preço da obrigação de cupão zero em termos da taxa com capitalização anual:
1
P (t, T ) =
(1 + Y (t, T ))T −t
Exercı́cio 4.1. Considere uma obrigação de cupão zero com maturidade T = 2 anos e
valor nominal 1 u.m. Determine as taxas de juro spot com capitalização contı́nua, simples
e anual se o seu preço inicial (t = 0) for de 0.90 u.m.
Exercı́cio 4.2. Considere uma obrigação de cupão zero com maturidade T = 2 anos
e valor nominal 1 u.m. Determine o preço da obrigação à data t = 0 conhecendo cada
uma das seguintes taxas:
• taxa de juro spot com capitalização contı́nua R(0, T ) = 5%;
• taxa de juro spot com capitalização simples L(0, T ) = 5%;
• taxa de juro spot com capitalização anual Y (0, T ) = 5%.
Definição 4.5. Chama-se de curva de cupão zero no instante t ou yield curve, à curva
dos valores das taxas de juro spot para todas as maturidades T .
A definição anterior apresenta alguma ambiguidade pois a taxa de juro spot, como já
se viu, pode ser calculada de mais de uma forma.
Figura 4.1. Yield Curve de obrigações dos governos centrais da zona euro
Vamos agora ver como relacionar os preços de obrigações com cupão com os preços de
obrigações de cupão zero.
Definição 4.6 (Obrigações de taxa ou cupão fixo). São obrigações que pagam em
instantes pré-definidos T1 , ..., Tn valores pré-determinados c1 , ..., cn . Portanto, na data Ti o
detentor da obrigação recebe o valor ci , o chamado cupão. Na data Tn = T , o detentor da
obrigação recebe o valor nominal K acrescido do último cupão cn . A data T0 corresponde
à data de emissão da obrigação.
Proposição 4.7. O preço à data t < T1 deste tipo de obrigação é definido por:
n
X
(4.1) P (t) = K.P (t, Tn ) + ci P (t, Ti )
i=1
esta carteira e a obrigação de cupão fixo devem ter o mesmo valor à data t < T1 . O valor
da carteira à data t < T1 é,
Observação 23. Usualmente, os cupões são definidos como uma taxa (percentagem)
sobre o preço nominal, isto é, o i-ésimo cupão é definido por:
ci = ri (Ti − Ti−1 )K
Definição 4.8 (Obrigações de taxa variável). São obrigações que tal como as de
cupão fixo fazem pagamentos em instantes pré-definidos T1 , ..., Tn , no entanto, os valores
dos pagamentos não são pré-determinados mas sim calculados em cada perı́odo de acordo
com algum tipo de indexante. Portanto, na data Ti o detentor da obrigação recebe um
valor ci que depende do valor do indexante à data Ti−1 .
Vamos considerar o caso em que o indexante é a taxa de juro spot com capitalização
simples, L(Ti−1 , T − i) e nesse caso o i-ésimo cupão será definido por:
Se t = T0 então P (T0 ) = 1.
4. OBRIGAÇÕES E TAXAS DE JURO 76
1 − P (Ti−1 , Ti ) 1
ci = τ= −1
τ P (Ti−1 , Ti ) P (Ti−1 , Ti )
Considere-se agora a carteira formada à data t por uma posição longa numa obrigação-Ti−1
e uma posição curta numa obrigação-Ti . À data Ti−1 recebemos 1 u.m. pelo vencimento
da obrigação-Ti−1 que é reenvestido na compra de obrigações com maturidade Ti . Neste
caso compram-se
1
P (Ti−1 , Ti )
dessas obrigações e à data Ti com o vencimento destas obrigações e da obrigação devida
desde a data t temos um cash-flow de
1
− 1.
P (Ti−1 , Ti )
Esta carteira pode assim ser usada para replicar, na data Ti , o cash-flow do cupão ci , pelo
que o valor do cupão ci na data t deve coincidir com o valor da carteira na data t, mas o
valor da carteira à data t é P (t, Ti−1 ) − P (t, Ti ).
Considerando todos os cupões ci , i = 1, ..., n e o valor nominal K = 1 (que à data t
vale P (t, Tn )), daqui se concluı́ que:
n
X
P (t) = P (t, Tn ) + (P (t, Ti−1 ) − P (t, Ti )) = P (t, T0 ).
i=1
Já definimos, com alguma ambiguidade, a yield curve como sendo a curva dos valores
das taxas de juro spot à data t para todas as maturidades T . Definimos agora de forma
mais formal uma dessas yield curve.
Considere-se agora uma obrigação com cupão ou taxa fixa como a definida em 4.6.
por simplicidade, nesta representação estamos a considerar o valor nominal K, a ser pago
em Tn , englobado no valor do último cupão cn .
Observação 24. Repare-se que a yield to maturity de uma obrigação de taxa fixa
é a versão análoga à taxa yield da obrigação de cupão zero. Se ci = 0, i = 1, ..., n − 1 e
cn = 1 ambas as fórmulas coincidem.
Bibliografia
[Bjork, 2009] Bjork, T. Arbitrage Theory in Continuous Time. Third edition. Oxford University Press,
2009.
[1] J. C. Cox, S. A. Ross, and M. Rubinstein, Option Pricing: A Simplified Approach, Journal of
Financial Economics 7 (1979), no. 3, 229?263.
[Hoek, 2006] an der Hoek, J. and Elliott, R.J., Binomial Models in Finance. Springer, 2006.
[Hull, 1997] Hull, J. C. Options, Futures, and Other Derivatives. Third edition. Prentice Hall, 1997.
[Musiela & Rutkowski, 2005] Musiela, M. & Rutkowski, M. Martingale Methods in Financial Modelling
- second edition. Springer, 2005.
[R Core Team, 2019] . R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Sta-
tistical Computing, Vienna, Austria (2019). URL https://www.R-project.org/.
[Wilmott, 2007] Wilmott, P. Paul Wilmott Introduces Quantitative Finance, second edition. John Wiley
& Sons, 2007.
78