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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE – UFCG

CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS - CTRN


UNIDADE ACADÊMICA DE ENGENHARIA CIVIL - UAEC
RIAN CAMPOS ALMEIDA - 122110665

DESAFIOS PARA INTEGRAÇÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS


EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

CAMPINA GRANDE-PB
FEVEREIRO DE 2023
1. INTRODUÇÃO

A exclusão social compreende a aversão completa ou parcial à um indivíduo ou grupo


que esteja inserido em situações de vulnerabilidade, o qual pode ser refletido na desintegração
gradual destes na sociedade, sobretudo no tange às questões laborais. Os atos discriminatórios
são recorrentemente proferidos às pessoas com necessidades especiais (PNE’s) que, desde
seus primórdios, foram invisibilizados no contexto social, tendo seus direitos violados e seu
cotidiano marcado por atitudes discriminatórias e ações impiedosas. De acordo com a
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) [4], realizada em 2019 em parceria com o Ministério da
saúde, 17,6 milhões de brasileiros acima de dois anos possui algum tipo de deficiência - dado
que representa aproximadamente 8,4% da população total. Todavia, apesar da considerável
parcela populacional, o levantamento aponta que a inclusão dos portadores de necessidades no
mercado de trabalho ainda é um obstáculo, visto que apenas 28,3% delas se posicionam na
força de trabalho brasileira (IBGE, 2021) [2].

Segundo SASSAKI (1997) [8], as pessoas que possuem necessidades especiais, além
dessas necessidades, também possuem necessidades inerentes a qualquer ser humano,
entretanto, existem muitas barreiras para que possam tomar parte ativa na sociedade. À título
de exemplo, pode-se destacar a carência de participação dos deficientes no ramo da
construção civil – área destinada ao desenvolvimento do bem estar da sociedade e
preservando o meio ambiente, por meio de obras de engenharia civil nos segmentos de
infraestrutura e edificações (DEGANI, 2022). As empresas construção civil tem enfrentado
resistências diante da contratação de pessoas portadoras de necessidades especiais, o que
reforça o preconceito existente com esse grupo minoritário, além do fomento à exclusão
social. O argumento mais utilizado por essas entidades está relacionado, sobretudo, à
inadequação as condições necessárias de acessibilidade estrutural – como a instalação de
rampas para os dependentes do uso de cadeira de rodas -, fato esse que estabelece obstáculos
para a contratação de pessoas com deficiência (QUADROS, 2019). [6]

Há mais de três décadas, foi sancionada a lei nº 8.213[3], de 1991, denominada Lei das
Cotas para pessoas com deficiências, o qual dispõe medidas inclusivas para esse grupo no
mercado de trabalho. A legislação determina que empresas com 100 empregados ou mais
destinem uma porcentagem de vagas para o segmento, sendo de 100 a 200 2%; de 201 a 500
3%; de 501 a 1.000 4%. Empresas acima de 1000 colaboradores deve preencher o seu quadro
funcional uma quantidade mínima de 50 funcionários com algum tipo de deficiência, a fim de
possibilitar que estes mostrem os seus potenciais (BRASIL, 1991). Desse modo, por meio
dessa lei, qualquer pessoa poderá ser contratada, independentemente do tipo de deficiência,
desde que ela demonstre capacidade para assumir as atividades atinentes à vaga de trabalho
ofertada.

Contudo, embora teoricamente completa, na prática, o cumprimento desse


regulamento demonstra-se deturpado pelas entidades públicas e privadas. Acerca disso, o
Portal da Inspeção do Trabalho, por meio de um levantamento nas empresas, apontou que
apenas 53% das mais de 700 mil vagas destinadas às pessoas com necessidades especiais em
instituições públicas e privadas estão ocupadas. Ademais, sob a perspectiva da engenharia
civil, a situação agrava-se ainda mais, visto que muitas empresas ainda não dispõem recursos
destinados à captação e retenção dessas pessoas nos espaços corporativos. Tal quadro
deletério está relacionado ao fato de os setores da construção civil não cumprirem, em sua
totalidade, as exigências de segurança e saúde para os seus funcionários, atentando-se,
prioritariamente, à lucratividade. Nesse sentido, os canteiros de obras são as áreas mais
suscetíveis aos acidentes nos ambientes de trabalho, pois há baixa – ou nenhuma –
fiscalização por parte das entidades, além da frequente negligência dos funcionários frente à
utilização de equipamentos adequados à proteção individual.

Como se pode observar a partir desse panorama, apesar do alto índice de


empregabilidade e da ascensão mercadológica, as inadequações referentes à segurança no
campo da construção civil inviabiliza que os funcionários – em especial, os que são
portadores de necessidades especiais – trabalhem de forma viável e segura. Além disso, a
existência de instrumentos legais não garante, porém, que a inclusão esteja, de fato,
acontecendo. Nesse sentido, analisar criteriosamente os impasses encontrados pelos
portadores de necessidades especiais durante à inserção no mercado de trabalho torna-se
imprescindível não apenas por um aspecto jurídico, mas, sobretudo, pela questão empática e
ética para a concretização de uma sociedade justa e inclusiva.

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL


A inclusão social para uma empresa é de essencial necessidade, visto que um grupo diverso
que se apoia e se respeita ajuda o empreendimento em todas as suas áreas, além de atrair mais
parceiros e investidores, no entanto, apesar de tais beneficiamentos, a discriminação ainda é
recorrentemente presente, principalmente no âmbito da engenharia civil. Logo, compreender
os empecilhos encontrados pelas pessoas com deficiência durante a inserção no mercado de
trabalho da construção civil torna-se o principal objetivo dessa pesquisa.

2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS


 Analisar a relação entre o preconceito presente na sociedade e a carência de pessoas
com deficiência no âmbito da construção civil;
 Examinar o papel desempenhado pelas empresas de engenharia quanto ao
cumprimento de políticas relacionadas à captação e retenção dessas pessoas no
ambiente de trabalho;
 Compreender as exigências relacionadas à salubridade necessárias para a completa
segurança de pessoas com necessidades especiais nas obras;

3. REFERENCIAL TEÓRICO

O pesquisador Romeu Kasumi Sassaki[8], em sua obra “Inclusão: construindo uma


sociedade para todos", conceitua a inclusão social como o processo pelo qual a coletividade se
adapta para poder abarcar, em seus sistemas sociais, as pessoas com necessidades especiais e,
nesse sentido, prepará-los para os eventuais impasses encontrados durante a inserção nos
âmbitos sociais. Todavia, o panorama do século XXI demonstra-se, gradativamente,
distanciado do que o autor pontua, visto que, sobretudo no mercado de trabalho, os portadores
de deficiência enfrentam resistências relacionadas às questões de acessibilidade e preconceito
(ROCHA, LIMA, 2014) [7].

Um dos maiores empecilhos evidenciados ao tratar da carência das PNE’s no mercado


laboral é a intolerância existente na sociedade. A exclusão social do deficiente não é atual,
pelo contrário, estudos demonstram que tal discriminação foi construída historicamente em
um processo de transição que parece ter ocorrido na Grécia Antiga por volta de 480 a.C. e que
se concretizou após a queda do Império Egípcio pelos romanos (QUADROS, 2019) [6]. Para
ARAUJO (2006)[1], os efeitos desse processo discriminatório refletem-se especialmente ao
mercado de trabalho, que não é preparado para o cumprimento de políticas relacionadas à
captação e retenção dessas pessoas em seus espaços, e que, portanto, fomenta a manutenção
das disparidades.

Outrossim, de acordo com BECKER (1992), há fatores que dificultam à atuação dos
portadores de necessidades no mercado de trabalho e que estão relacionados não apenas à
mecanismos discriminatórios por parte do empregador e das empresas, mas também de outras
variáveis, como o grau de competição, o nível educacional e a experiência de trabalho. As
empresas, expostas em uma esfera globalizada, dispõe exigências que, para serem cumpridas,
requerem trabalhadores cada vez mais capacitados profissionalmente, tanto no que se refere à
escolarização quanto à especialização para o desempenho de funções técnicas (ROCHA,
LIMA, 2014) [7]
. Entretanto, segundo Araújo (2006)[1], a inclusão dos portadores de
necessidades especiais não é atingida em sua totalidade pois há, nos setores de empresas
públicas e privadas, uma escassa estruturação ambiental e cultural da própria empresa para
receber tais funcionários. Nesse sentido, embora excitados a se inserir no ambiente laboral, as
negligentes formas de integração favorecem que os funcionários com necessidades especiais
tenham dificuldade em se envolver nas etapas do processo, como os programas de
treinamento e desenvolvimento de recursos humanos, que são ocasionadas tanto pelas
dificuldades de acesso, quanto pela falta de integração social real com os demais participantes
da empresa.

A secretaria de inspeção do trabalho, por meio da portaria n° 787 de 2018, promulgou


a NR-18 [5]
- norma que regulamenta a execução do trabalho em setores ou atividades
econômicos específicos. Atentando-se, especificamente, ao campo da construção civil, a NR-
18 discorre e normatiza todas as etapas da obra, ou seja, ela estabelece diretrizes que devem
ser implementadas pelos empregadores desde a preparação do projeto e do canteiro de obras
até serviços. Uma das exigências feitas pelo órgão regulamentador está relacionado às áreas
de vivência que são partes integrantes de um canteiro de obras e que nelas constam as
instalações sanitárias e de lazer. De acordo com Quadros (2019) [6], as áreas de vivência são
destinadas a suprir as necessidades básicas, como higiene, descanso e lazer, precisando
estarem fisicamente separadas das áreas laborais. Para o autor, a implantação dessas áreas foi
uma grande conquista por parte dos trabalhadores da construção civil, todavia, o cumprimento
da norma demonstra-se degenerado caso as empresas de construção civil contratem
funcionários portadores de necessidades especiais, visto que necessitarão de uma maior
adequação nas áreas de convivência para maximizar a acessibilidade dessas pessoas, o que
acaba ocasionando um custo que os empresários não estão dispostos a arcar.
Somado a isso, um estudo realizado em 2006 pela pesquisadora Andréia Schmidt em
empresas e instituições educacionais da cidade de Curitiba apontou a dificuldade que os
portadores de necessidades especiais possuem em relacionar-‐se com outros profissionais e o
sentimento de inferioridade no dia a dia de trabalho. Os resultados de tal pesquisa
demonstram que, mesmo quando esses trabalhadores se adaptam à empresa, tendem a
apresentar, às vezes, comportamentos incompatíveis com a situação do trabalho. Esses fatores
são justificativos comuns para a não-inserção desse grupo nos espaços laborais.

Contudo, embora em menor proporção, algumas instituições têm se empenhado em


adotar políticas inclusivas para as pessoas com deficiências. Segundo a nota técnica do IBGE
de 2018 referente ao Censo 2010, em 2017, cerca de 441 mil pessoas com necessidades
especiais estavam formalmente empregadas no Brasil – um aumento de 6% em relação ao ano
anterior. Para Araújo (2006) [1], vários são os motivos que têm levado as empresas a adotar
práticas de inclusão de pessoas com necessidades especiais e uma delas é o fato de a empresa
poder aproveitar as diferenças positivas dos seus profissionais, o que irá contribuir para a
percepção dos consumidores de valores sociais adotados pela empresa, fortalecendo, dessa
maneira, seu desempenho financeiro, bem como a obtenção de maximização da produtividade
e captação de novos investidores. Já Sassaki (1997) [8]
elenca outros fatores como a
humanização do ambiente laboral com a presença da diversidade, visto que, para ele,
instituições que dão essas possibilidades tende a ter uma visão positiva no mundo corporativo
e apresentar resultados mais produtivos.

4. METODOLOGIA

A metodologia a ser utilizada ocorrerá em três etapas. A primeira consiste na


investigação do tema na literatura, ou seja, um levantamento e estudo dos trabalhos
publicados sobre o assunto através de livros e artigos, com intuito de garantir a confiabilidade
e a qualidade técnica e científica da pesquisa. Além disso, com intuito de compreender os
entraves enfrentados pelas empresas diante da contratação e absorção dos portadores de
necessidades, a formulação de uma pesquisa tornar-se-á necessária. Para tanto, serão
contatadas, aleatoriamente, 20 empresas do ramo da construção civil para responderem um
questionário acerca dos processos inclusivos da instituição. O veículo de comunicação será
através de e-mail, em que as empresas escolhidas, por livre consentimento, responderão a
perguntas escolhidas pelo autor. Nesse sentido, em um primeiro contato, serão explicados os
objetivos da pesquisa e a forma como as informações coletadas seriam empregadas. A análise
terá enfoque nas motivações que as levam a contratações das PNE’s nas empresas, além de
compreender a importância e a efetivação das ações afirmativas, como a Lei das Cotas, nas
instituições laborais.

Na terceira e última etapa do processo metodológico, faz-se premente um contato com


o grupo minoritário em questão, a fim de examinar os empecilhos à eles durante a inserção no
mercado de trabalho. Nesse viés, novos questionários on-line serão desenvolvidos, com
levantamento acerca do grau de escolarização das pessoas com necessidades especiais, visto
que, em um cenário globalizado marcado pela competitividade e agilidade, esse é um tópico
relevante para a aprovação e contratação de funcionários. Por fim, os dados coletados deverão
ser organizados e submetidos à análise exploratória, na qual o objetivo é tratá-los para, então,
formular hipóteses com base nos resultados.

5. RESULTADOS ESPERADOS

- Compreensão clara e objetiva acerca das motivações que levam as empresas do ramo da
construção civil à – não - contratação das pessoas com necessidades especiais.

- Visualização completa da execução da Lei das Cotas para pessoas com deficiência por parte
das instituições públicas e privadas.

6. CRONOGRAMA

Meses / 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12°


atividades mês mês mês mês mês mês mês mês mês mês mês mês
Revisão
bibliográfica
Questionário
qualitativo com
empresas
Redação do
relatório
parcial
Questionário
qualitativo com
as PNE’S
Análise e
discussão dos
dados
Redação do
relatório final
(Fonte: Própria)

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]
ARAUJO, J. P.; SCHMIDT, A. A Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais no
Trabalho: A visão de Empresas e de Instituições Educacionais Especiais na cidade de
Curitiba. 2006. Centro Universitário Positivo, Curitiba – Paraná. Disponível em: <
https://www.scielo.br/j/rbee/a/PgxdcCT3qNv3ryQQmKtxMFj/?format=pdf&lang=pt >
Acesso em 16 de janeiro de 2023.
[2]
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília (DF): Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da
[3]

Previdência Social e dá outras providências. Brasília, DF, 1991. Disponível em <


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm#:~:text=Art.%201%C2%BA%20A
%20Previd%C3%AAncia%20Social,daqueles%20de%20quem%20dependiam
%20economicamente >. Acesso em: 16 de janeiro de 2023.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Agencia Brasil. 2019. Pessoas com
[4]

deficiência em 2019 eram 17,3 milhões. Disponível em: <


https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/pessoas-com-deficiencia-em-2019-
eram-173-milhoes > Acesso em: 16 de janeiro de 2023
[5]
Ministério do Trabalho e Previdência. Norma Regulamentadora No. 18 (NR-18).
Secretaria de inspeção do trabalho. 2018. Disponível em: < https://www.gov.br/trabalho-e-
previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-
e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-18-nr-18 > Acesso em 23 de janeiro
de 2023.
[6]
QUADROS, Eduardo Nunes. Desafios e perspectivas para inclusão de Portadores de
Necessidades Especiais em empresas de Construção Civil. 2019. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Disponível em: <
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/portadores-denecessidades >
Acesso em 23 de Janeiro de 2023
[7]
ROCHA, P. C.; LIMA, I. B. Inclusão de deficientes físicos no mercado de trabalho:
estudo de caso em uma organização no segmento industrial. 2014 Revista Eletrônica
Interdisciplinar em Negócios e Hospitalidade
SASSAKI, R.K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA,
[8]

1997.

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