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Apresentação

Muito me agrada o convite que me foi feito por Ronaldo André Bácry Brasil, presidente do
CVI-AM e do CVI-Brasil, para escrever a apresentação desta cartilha.
Sendo adepto da tese de que a acessibilidade é a condição sine qua non para qualquer pessoa
desfrutar todos os seus direitos e cumprir todos os seus deveres, é com prazer que passo a
ponderar sobre o tema central da cartilha: "Quebrando Barreiras, Acessibilidade na Prática".
E qual é a relação entre cartilha e acesso? A cartilha constitui um meio eficaz de divulgação
e reflexão sobre a importância da acessibilidade. Por meio de informações corretas, ela contribui,
diretamente, para melhorar a acessibilidade atitudinal e, indiretamente, para convencer seus
leitores a implementarem projetos de acessibilidade arquitetônica, metodológica, instrumental,
comunicacional, programática e natural.
Destes sete principais tipos de acessibilidade, o mais desafiador por ser o mais difícil é o
atitudinal. Existem atitudes positivas (acolhedoras, respeitosas, aceitadoras, colaboradoras) e
atitudes negativas (preconceituosas, excludentes, humilhantes, discriminatórias). Obviamente, as
atitudes negativas sempre geram barreiras atitudinais, que se contrapõem ao acesso de pessoas
com ou sem deficiência. As barreiras atitudinais dificultam ou impedem o acesso, por exemplo, de
pessoas com deficiência aos bens e serviços supostamente disponíveis a toda a população e, ao
mesmo tempo, atrapalham o ato de cumprir suas obrigações de cidadania.
Conclui-se que as barreiras atitudinais estão na raiz do problema da omissão ou resistência
de gestores públicos e particulares contra a eliminação de barreiras arquitetônicas, metodológicas,
instrumentais, comunicacionais, programáticas e naturais. Por outro lado, cada gestor, que
entende e adota atitudes positivas sobre pessoas com deficiência, executa por vontade própria e de
imediato o que for necessário para quebrar barreiras do ambiente físico.
O termo ‘acessibilidade’ começou a ser utilizado com muita frequência nos últimos anos, em
assuntos de reabilitação, saúde, educação, transporte, mercado de trabalho e ambientes físicos
internos e externos. Historicamente, a origem do uso desse termo (para se referir à condição de
acesso arquitetônico das pessoas com deficiência) está no surgimento dos serviços de reabilitação
física e profissional no final dos anos 40.
Nos anos 50, com a prática da reintegração de adultos reabilitados, ocorrida na própria
família, no mercado de trabalho e na comunidade em geral, profissionais de reabilitação
constatavam que essa prática era dificultada e até impedida pela existência de barreiras físicas nos
espaços urbanos, nos edifícios e residências e nos meios de transporte coletivo. Surgia, assim, a
fase da integração, que duraria cerca de 40 anos até ser substituída gradativamente pela fase da
inclusão.
Nos anos 60, algumas universidades americanas iniciaram as primeiras experiências de
eliminação de barreiras arquitetônicas existentes em seus recintos: áreas externas,
estacionamentos, salas de aula, laboratórios, bibliotecas, lanchonetes etc.
Nos anos 70, graças ao surgimento do primeiro centro de vida independente do mundo (na
cidade de Berkeley, Califórnia, EUA), houve aumento na preocupação e no debate sobre a
eliminação de barreiras arquitetônicas, bem como na execução das soluções idealizadas.
Nos anos 80, impulsionado pelo Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981), o segmento
de pessoas com deficiência desenvolveu verdadeiras campanhas em âmbito mundial para alertar a
sociedade a respeito das barreiras arquitetônicas e exigir a eliminação delas através do desenho
adaptável (preocupação em adaptar para pessoas com deficiência os ambientes físicos obstrutivos,
portanto já existentes). Aos poucos, veio a ser aplicada a ideia do desenho acessível (preocupação
em exigir que arquitetos, engenheiros, urbanistas e desenhistas industriais não incorporem
elementos obstrutivos contra pessoas com deficiência nos projetos de construção de futuros
ambientes e utensílios).
Nos anos 90, começou a ficar claro que a acessibilidade deverá seguir o paradigma do
desenho universal, segundo o qual os ambientes, os meios de transporte e os utensílios devem ser
projetados para todos (não apenas para pessoas com deficiência). E, com o advento do paradigma
da inclusão e do conceito de que a diversidade humana deve ser acolhida e valorizada em todos os
setores sociais comuns, hoje entendemos que a acessibilidade não mais deve se restringir ao
aspecto arquitetônico.
E nos locais de trabalho públicos e particulares, como seria a acessibilidade?
Atitudinal: sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, como resultado de
programas de sensibilização e de conscientização dos trabalhadores em geral e da convivência na
diversidade da força de trabalho.
Arquitetônica: sem barreiras ambientais físicas construídas, no interior e no entorno dos
escritórios, fábricas e comércios e nos meios de transporte coletivo da empresa utilizados por seus
funcionários.
Metodológica: sem barreiras nos métodos e técnicas de trabalho (treinamento e desenvolvimento
de recursos humanos, execução de tarefas, ergonomia, novo conceito de fluxograma,
empoderamento).
Instrumental: sem barreiras nos instrumentos de trabalho (utensílios, ferramentas, máquinas,
equipamentos, lápis, caneta, teclado de computador).
Comunicacional: sem barreiras na comunicação interpessoal (face a face, língua de sinais,
linguagem corporal, linguagem gestual), na comunicação escrita (jornal, revista, livro, carta,
apostila, textos em braile, textos com letras ampliadas, notebook e outras tecnologias assistivas
para comunicar) e na comunicação virtual (acessibilidade digital).
Programática: sem barreiras invisíveis embutidas em textos (políticas, leis, decretos, portarias,
resoluções, ordens de serviço, regulamentos).
Natural: sem barreiras na natureza existente dentro de propriedade pública ou particular e
tornada acessível sem agredir o ecossistema.

Romeu Kazumi Sassaki


Consultor de inclusão social

Manaus, 10 de maio de 2013

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