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Com caráter meramente ilustrativo, confira-se as manifestações apresentadas pela Federação Brasileira de
Hospitais (vol. 727), pelo CONASEMS (vol. 741) e pelo estado do Rio Grande do Sul (vol. 872 a vol. 877).
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Otimista (que, como destacado à fl. 12 do parecer, é “fora da realidade do setor”), moderada e pessimista.
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E qual, exatamente, é a “ordem de gravidade” que esses números
exprimem? A título ilustrativo: em 2019 (último ano em que os dados do CAGED não foram
afetados pelas variações anômalas oriundas da pandemia e cujos resultados foram os
melhores em seis anos), foram criados 76.561 vagas em todos os segmentos no Nordeste3.
A mera implementação dos pisos salariais sub judice, a seu turno, poderia
significar (per se) um número superior de postos fechados na região (acima de 78 mil)!
Tudo isso, ressalta-se, considerando somente as três categorias profissionais em tela (fl. 61).
No ponto e como destacado no parecer, “[a]s taxas de redução de vínculos formais [no
Norte e Nordeste] chegam a ser dez vezes maiores que as taxas estimadas para as
regiões Sul e Sudeste, dentro dos mesmos pressupostos” (fl. 63).
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https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/01/24/brasil-cria-empregos-644-mil-empregos-formais-em-
2019-melhor-resultado-em-6-anos.ghtml. Acesso em 26/01/2023.
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Na linha do que destacado na exordial e no parecer, pois, tem-se que a Lei
14.434/2022 foi gestada mediante vícios de origem incorrigíveis (notadamente, com o
perdão das expressões, pelo caráter “eleitoreiro”/apressado em que construída). Além
de inconstitucionalidades formais ligadas à reserva de iniciativa (v.g., vol. 1 [fls. 9-14] e
vol. 388 [fls. 7-9]), há problemas de “premissa” cujas inúmeras normas supervenientes
intentadas pelo Congresso Nacional não têm a aptidão para sanar.
Não é crível cogitar, nessa perspectiva, que uma lei que – apenas nas
categoriais abrangidas – pode gerar mais perdas de postos de trabalho em uma
determinada região do país do que todas as vagas criadas na mesma localidade (ao longo
de um dos melhores anos da última década, repita-se) pudesse dispensar tal espécie de
percurso investigativo prévio.
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Menciona-se a Lei de Liberdade Econômica (vide art. 1º c/c o art. 5º da Lei 13.874/2019) e, por analogia, o art.
4º da LINDB – que determina a necessidade de se avaliar as consequências de decisões jurídicas (vide fl. 16).
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STF, Tribunal Pleno, RE 958.252 (Tema 725 da RG), Ministro LUIZ FUX, DJe 13/09/2019.
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Pois bem: nunca é demais repetir que tal dever (constitucional) prévio não
foi nem de longe cumprido. Com o devido respeito, pois, os “remendos” legislativos que
são conjecturados para se tentar sanar parte dos problemas derivados da Lei 14.434/2022
jamais terão aptidão para corrigir toda a gama de impactos danosos decorrentes.
Exatamente por não corrigirem defeitos axiomáticos insanáveis (e salvo se realizado novo
desenho legal com a respectiva AIL), tais medidas sempre serão meramente paliativas.
Para ilustrar como o desenho de uma política pública deve ser construído,
os pareceristas recorrem a exemplo prático do Direito Comparado em matéria similar.
Em 2014, o Congressional Bugdet Office dos Estados Unidos esmiuçou – a partir de
primados básicos de análise de impacto – os méritos de proposta legislativa para
aumentar o salário mínimo no país. Para começar, se punham em detida avaliação dois
valores alternativos em estudo (o que não ocorreu quando da apreciação do PL 2.564).
No caso ora sub judice, a seu turno, os pareceristas lembram que “não se
considerou incorporar cláusula de adoção gradual do novo piso para minimizar
impactos negativos sobre o emprego e interrupção do fluxo de prestação de serviços
de saúde” (fl. 19). A circunstância, como já dito, viola o primado da confiança
legítima/segurança jurídica e o regime de transição aludido no art. 23 da LINDB.
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Confira-se, nesse sentido, a tabela à fl. 31 do vol. 01 dos autos eletrônicos.
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A menção ao fechamento de postos de trabalho, a seu turno, é mera transcrição da
preocupação exposta por representantes de órgãos setoriais – não tendo sido
apresentado nenhum cálculo ou estudo empírico para avaliar a decorrência adversa.
Como bem demonstrado no parecer ora juntado, os salários mais altos das
categoriais em questão são encontrados nas administrações estaduais e federais – de
modo que o piso já teria efeito menor no incremento remuneratório e no desemprego
nesse âmbito. O maior empregador de enfermeiros, técnicos e auxiliares de
enfermagem, por outro lado, é o setor privado (confiram-se as tabelas às fls. 35-39).
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São, portanto, os estabelecimentos privados (com e sem fins lucrativos)
localizados nas partes mais pobres do país que terão mais dificuldade para se adaptar
financeiramente à lei e, ao mesmo tempo, que precisarão dispensar mais trabalhadores
e/ou reduzir mais a oferta de procedimentos de saúde ofertados à população local.
Não é demais lembrar que dados do CNAE dão conta de que apenas o setor
hospitalar privado acumula dívidas tributárias na casa dos 70 bilhões de reais – somente
com a União, diga-se (vide vol. 729). A situação já é de extrema dificuldade e, sem
contrapartidas, não é exagerado atestar a completa infactibilidade da Lei 14.434/2022.
Daí porque, data venia, reitera-se que não foram criadas condições minimamente
suficientes para se cogitar da reversão da liminar suspensiva que fora concedida.