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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE LETRAS

PALOMA LUIZA DA SILVA BEZERRA

A EXPERIÊNCIA DOCENTE NA PRÁTICA DO ENSINO DE FRANCÊS LÍNGUA


ESTRANGEIRA
UMA REALIDADE ADAPTADA AO CONTEXTO DE PANDEMIA

GUARULHOS
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS

PALOMA LUIZA DA SILVA BEZERRA

A EXPERIÊNCIA DOCENTE NA PRÁTICA DO ENSINO DE FRANCÊS LÍNGUA


ESTRANGEIRA
UMA REALIDADE ADAPTADA AO CONTEXTO DE PANDEMIA

Relatório de Estágio apresentado à Unidade


Curricular de Estágio Curricular Supervisionado
em Língua Francesa II, da Universidade Federal
de São Paulo (EFLCH), a ser utilizado como
parte integrante do conjunto de atividades
avaliativas para conclusão e aprovação na
disciplina.

Supervisores: Profa. Dra. Denise Radanovic


Vieira e Prof. Dr. José Hamilton Maruxo Jr.

GUARULHOS
2022

1
RESUMO

O relatório aqui apresentado é, sobretudo, um compilado expositivo do andamento e resultado


das atividades para a conclusão do Estágio Curricular Supervisionado em Língua Francesa II,
associado à disciplina de Fundamentos do Ensino de Língua Francesa II, ministrada pela pela
Profa. Dra. Denise Radanovic Vieira e pelo Prof. Dr. José Hamilton Maruxo Jr, que também
supervisionaram as etapas do Estágio. Até o momento, as aulas presenciais seguem suspensas
no campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo, que continua funcionando no
modelo de Atividades Domiciliares Especiais (ADEs). Assim sendo, as tarefas realizadas
aconteceram todas à distância, sendo elas a observação de aulas online no Centro de Estudos
de Língua Alice Chuery, cinco eventos e um curso à distância sobre a prática docente, de
maneira geral, e sobre o ensino de línguas estrangeiras, e, por fim, a realização de um
minicurso de Língua Francesa com carga horária de 12 horas. Vale ressaltar que o percurso
aqui descrito engloba todos os aspectos práticos e teóricos do último Estágio Supervisionado
de minha graduação, o que significa que este relatório é, sobretudo, um documento em que
exponho uma reflexão sobre minha trajetória passada e sobre o que ainda virá.

Palavras-chave: ensino de FLE; estágio supervisionado de FLE; ensino de língua francesa;


prática docente na pandemia; metodologias pedagógicas de FLE.

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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 04

2. OBSERVAÇÃO DE AULAS 05

3. ATIVIDADES EXTRACURRICULARES 08

4. ESTÁGIO DE REGÊNCIA 16

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 19

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 20

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A esta altura, estando todos nós inseridos no contexto de pandemia de Covid-19 já há


dois anos, não é mais uma novidade abordar sobre as mudanças pelas quais passamos em
função do vírus, em todas as áreas de nossas vidas. O curso de Licenciatura em Letras
oferecido pela Universidade Federal de São Paulo mantém ainda o sistema de Atividades
Domiciliares Especiais (ADEs) e, assim sendo, da mesma forma como aconteceu no Estágio
Curricular Supervisionado em Língua Francesa anterior, realizado no semestre passado, as
três principais etapas que serão descritas neste relatório e que completavam o Estágio atual
aconteceram remotamente.
Bem também como no semestre passado, a disciplina de Estágio Curricular
Supervisionado em Língua Francesa II foi cursada em conjunto com a unidade curricular de
Fundamentos do Ensino de Língua Francesa II, oferecida pela Profa. Dra. Denise Radanovic
Vieira e pelo Prof. Dr. José Hamilton Maruxo Jr., que também foram os supervisores do
Estágio. Além disso, duas das três atividades centrais da disciplina foram também realizadas
no último semestre: a observação de aulas, desta vez acompanhando duas turmas do Centro de
Estudos de Línguas Alice Chuery, ambas da professora Bruna Oliveira, e a participação em
cursos, palestras e oficinas sobre a prática docente e o ensino de língua estrangeira, que
contabilizaram a carga horária de atividades extracurriculares. Ademais, o Estágio II
contempla a experiência de regência na prática; no contexto presencial, os alunos dariam
aulas em instituições associadas à Unifesp, mas, em virtude da adaptação à modalidade de
ADEs, todos os alunos matriculados tiveram que se reunir em grupos de três ou quatro
integrantes e elaborar um minicurso de Francês Língua Estrangeira (FLE), com carga horária
de 12 horas, oferecido diretamente pela universidade.
Assim, eu, juntamente com outras duas colegas de curso, Bianca Goyano e Bruna
Spínola, idealizamos um minicurso voltado a pessoas sem nenhum conhecimento de língua
francesa ou, no máximo, até o nível A11. Intitulado Introdução à Língua Francesa e à
cultura/literatura francófona, o minicurso, que se estendeu durante quatro semanas, abordou
o ensino de FLE sempre com o enfoque nos aspectos culturais da língua e dos países
francófonos, como o nome sugere. Embora tivéssemos certo receio com a conclusão da
regência de maneira assíncrona, a experiência se mostrou muito mais significativa do que
imaginávamos enquanto grupo. Enfim, a jornada do minicurso e as demais atividades do

1
Cf. níveis de competências definidos pelo Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas
(QECR).

4
Estágio serão detalhadas nos tópicos seguintes, analisadas a partir dos conteúdos teóricos
vistos na disciplina de Fundamentos do Ensino de Língua Francesa I, no semestre anterior.

2. OBSERVAÇÃO DE AULAS

Uma das preocupações dos professores do Estágio Curricular Supervisionado em


Língua Francesa II foi proporcionar aos alunos matriculados experiências diversas durante a
realização das atividades, uma vez que essa é a preparação que nós, discentes, temos e
levaremos conosco depois de formados como docentes. Como, no último semestre, eu
acompanhei uma turma de nível A1 na Aliança Francesa, desta vez, preferencialmente, eu
deveria observar aulas de um curso de FLE de uma instituição diferente. Assim, os
professores me encaminharam para uma série de turmas de diferentes níveis do CEL Alice
Chuery, localizado em Guarulhos, todas pertencentes à professora Bruna Oliveira.
O início da observação se deu antes do começo do semestre letivo da Unifesp, no mês
de setembro de 2021. Dentre as sete opções de turmas disponíveis, eu escolhi, a princípio,
uma sala de 1º Estágio B, durante o período noturno, e comecei, a partir do dia 16 de
setembro, a acompanhar as aulas, que aconteciam às terças e quintas, das 19h às 20h40. Até
então, o CEL Alice Chuery estava funcionando de maneira híbrida, com as aulas acontecendo
presencialmente e também sendo transmitidas à distância, via reuniões síncronas do Google
Meet com duração de 1h40 e, por vezes, gravações, além das turmas contarem com um
Classroom, onde a professora postava e recebia atividades. Nos primeiros encontros que
acompanhei, a sala de reunião online tinha a presença de um número razoável de alunos, com
uma média variando entre nove e seis pessoas.
Na primeira aula que observei, a professora reproduziu para os alunos o filme
Bienvenue à Marly-Gomont (2016), cujo enredo trata sobre a família Zantoko, de imigrantes
congoleses e seu patriarca, um médico recém-formado, e sua mudança para o vilarejo francês
Marly-Gomont durante os anos 70. A película é baseada na biografia do pai do cantor francês
Kamini e sua exibição em sala fazia parte de um projeto do CEL com foco na Consciência
Negra. Assim, nessa primeira aula, esse foi o único conteúdo abordado e, para quem estava
assistindo pelo Google Meet, foi bem difícil acompanhar o filme, porque o vídeo apresentado
travava bastante e não foi possível entender todas as cenas. Na aula seguinte, do dia 21 de
setembro, a professora Bruna terminou a exibição do filme e debateu com os alunos as
impressões que eles tiveram do longa-metragem e projetou a Activité 3, que era um
questionário em Word sobre o enredo do filme, com perguntas em francês acompanhadas de

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uma tradução para o português. Durante a explicação da atividade, a professora deixou que os
alunos respondessem a atividade em português, exceto a primeira questão, que perguntava
qual era a nacionalidade da família protagonista, que era o conteúdo que a professora já estava
trabalhando, inclusive na Activité 2, que ela corrigiu durante a aula e se tratava de uma
unidade do método Alter-ego sobre nacionalidades e cidades. Essa segunda atividade não foi
entregue por todos os alunos, um fato que a professora comentou com quem estava presente
na aula, mas, durante a correção, boa parte dos discentes participou dizendo as respostas das
questões, tanto quem estava presencialmente no CEL quanto quem participou pelo Meet.
Já no começo da terceira aula que vi, realizada no dia 23 de setembro, a professora
avisou aos alunos que, no próximo encontro, aconteceria uma évaluation com uma parte
escrita e uma parte oral, constituindo-se na criação de um Dialogue de présentation, no qual
os alunos precisariam redigir um texto entre duas pessoas que se encontram em Paris durante
suas férias. As produções deveriam conter informações básicas de apresentação, como nome e
sobrenome das pessoas, incluindo soletração, nacionalidade e cidade de origem, expressões de
cumprimento e idade. Em seguida, ela deu continuidade à correção dos exercícios da Activité
2, retomando o conteúdo sobre as nacionalidades em francês, as diferenças entre feminino e
masculino, as capitais de países e os artigos usados para cada país, os artigos definidos e
também os números; nota-se que o livro didático traz um tema central e, a partir dele, trabalha
diversos pontos gramaticais.
Ao fim da correção, a professora começou a explicar sobre les règles de politesse,
usando como base o primeiro capítulo do método Vocabulaire Progressif du Français : niveau
débutant, que foca na diferença entre situações formais e informais e as maneiras de s'excuser,
demander, remercier, féliciter etc. Na quarta aula, do dia 28 de setembro, Bruna continuou
trabalhando com a mesma unidade do livro e, conforme a aula se desenvolvia e ela passava
pelos exercícios, surgiam momentos de intervenção cultural com base nos elementos que o
método toma como referência, por exemplo, o Museu d’Orsay, que a professora mostrou aos
alunos e apareceu em um exercício. Outra ocasião assim aconteceu perto do fim da aula,
quando a docente explicou sobre as formas de souhaiter em diferentes situações e aproveitou
para mostrar um vídeo da celebração do Réveillon na Avenue des Champs-Élysées. Essas
intervenções foram o diferencial da aula e o que fizeram com que ela fosse mais dinâmica, em
minha opinião, pois, pela maneira como ela foi estruturada, seguindo o padrão bem
tradicional de ler a explicação do livro e fazer exercícios gramaticais, o encontro tinha tudo
para ser maçante e engessado. A professora passou, ainda, uma atividade em que os alunos
precisavam escutar o áudio de um diálogo entre uma mulher e um homem e identificar as

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informações ditas, como nome, sobrenome, profissão, número de telefone etc. Por fim,
embora a professora tenha anunciado que haveria uma évaluation, isso não aconteceu;
provavelmente, a atividade foi feita em outro momento, mas esta foi a última aula que
acompanhei dessa turma. Vale ressaltar, ainda, que, por se tratar de uma classe de 1º estágio,
os alunos ainda não tinham, em sua maioria, um vocabulário extenso, portanto, era preciso
que a professora os acompanhasse durante a realização dos exercícios e traduzisse algumas
palavras.
A partir do dia cinco de outubro, por uma questão de agenda e pela volta às aulas na
Unifesp, passei a acompanhar uma turma de 4º estágio, no período vespertino, com encontros
às terças e sextas-feiras, entre 17h10 e 18h50. A dinâmica dessa sala era bem diferente da
outra, a começar pela participação dos alunos, que interagiam bem mais com a docente e, em
grande parte, compareceram de maneira presencial — só havia uma aluna na reunião do Meet.
Além disso, foi a primeira aula em que vi a professora Bruna usar slides, que eram lidos pelos
discentes para que praticassem a pronúncia. O método também era outro: com essa turma, a
professora passou exercícios da Conjugaison Progressive du Français : niveau intermédiaire,
voltados à l’imparfait de l’indicatif. Antes de chegar no método, porém, por não ser ele
voltado à explicação dos tempos verbais, apenas à prática da conjugação, toda a parte teórica
do conteúdo parte da professora, que explica l’imparfait aos alunos partindo de uma
conceituação do tempo verbal, passando para vários exemplos e para um poema com alguns
verbos no imperfeito do indicativo. A professora Bruna também mostrou a conjugação do
imperfeito irregular e chamou a atenção para a pronúncia do ditongo “ai” na língua francesa,
para, enfim, chegar nos exercícios do livro didático. Os alunos os realizaram sozinhos e
depois foi feita a correção pela docente.
A sexta aula que observei, no dia oito de outubro, não teve nenhum conteúdo
linguístico e também, dela em diante, não houve mais nenhum discente acompanhando à
distância. Neste dia, a professora questionou os alunos sobre o interesse deles em participar de
um vídeo para a divulgação do início das matrículas nos Centros de Estudo de Línguas. Todos
gostaram da ideia e aceitaram participar, de modo que o encontro ficou centrado na criação de
um roteiro das partes do vídeo, divididas, posteriormente, entre os alunos, com conteúdos em
francês e a tradução em português. Como boa parte dessa preparação aconteceu de maneira
prática, não tive muito acesso ao que estava acontecendo no momento, o que foi uma pena. As
últimas duas aulas seguiram no mesmo ritmo e com o mesmo conteúdo da quinta aula. No
sétimo encontro, em 15 de outubro, a professora continuou corrigindo exercícios tradicionais
da gramática do imperfeito e dando exemplos da conjugação de diversos verbos sugeridos

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pelos alunos, o que é uma boa forma de mostrar a regularidade desse tempo verbal. Para a
aula seguinte, Bruna passou sete exercícios como lição de casa, que foram corrigidos, assim,
no encontro do dia 19 de outubro, que correu da mesma forma que a anterior, tendo também
um exercício de compreensão oral, com um diálogo no imperfeito do indicativo, a indicação
de um site focado no tempo verbal e duas exibições da música “Il y avait un jardin”, do cantor
Georges Moustaki, para que os alunos completassem, então, a letra.
Me chamou a atenção o fato — negativo, a meu ver — de que, embora as aulas
tenham sido leves e a professora comentasse sobre aspectos culturais franceses que surgiam
nos enunciados, não houve grandes momentos de introdução de materiais auxiliares externos
com viés cultural além dos que foram citados aqui anteriormente. Em comparação com o
semestre anterior, notei grandes diferenças entre os cursos oferecidos pelo CEL Alice Chuery
e as aulas que vi na Aliança Francesa, a maior delas sendo o público-alvo, já que os Centros
de Línguas são abertos a estudantes de escolas públicas, enquanto, na turma que acompanhei
da Aliança, a maior parte dos alunos já era até mesmo formada no ensino superior. A
metodologia entre as duas professoras, Bruna e Katerina, também é bem distinta e, em parte,
isso se deve à diferença de amparo entre uma instituição e outra e também ao próprio modelo
de aulas, pois o curso que acompanhei na Aliança era completamente à distância e as aulas do
CEL Alice Chuery, em contrapartida, ainda aconteciam em modelo híbrido. Já refletindo
sobre o que pude assimilar das aulas observadas em termos de experiência para minha futura
atividade de regência, para projetar no próprio minicurso que eu daria meses depois, ambas as
vivências foram fonte de inspiração. As aulas da professora Katerina eram mais próximas do
modelo que criamos para o minicurso, pois este também aconteceu de maneira 100% online;
assim como ela, minha colegas e eu precisamos elaborar apresentações de slides a cada aula e
buscar ferramentas virtuais de interação. Por outro lado, em questão de conteúdo, a primeira
turma que acompanhei da professora Bruna Oliveira foi uma grande fonte de inspiração,
especialmente a parte de apresentação, que acabou se tornando o objetivo central do
minicurso.

3. ATIVIDADES EXTRACURRICULARES

O primeiro evento do qual participei foi a oficina Aplicativos para o ensino de


línguas: conhecendo limites e explorando possibilidades, com carga horária de 2h, realização
no dia 25 de outubro de 2021, via Google Meet, e organização da Profa. Dra. Rosangela
Aparecida Dantas de Oliveira, do Departamento de Letras Espanhol da Unifesp. Quando vi o

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nome da oficina, pensei que seria uma oportunidade de conhecer ferramentas que eu poderia
usar durante o minicurso e, realmente, além da apresentação do aplicativo Beelinguapp e dos
sites Lyrics Training e Profe de Español, a professora e as monitoras também trouxeram aos
ouvintes algumas reflexões que devem ser levadas em consideração no momento de escolha
das ferramentas, por exemplo: quais são os temas trabalhados no aplicativo/site, como
funcionam as atividades e qual a visão de língua/linguagem por trás da concepção dos
materiais.
A oficina foi dividida em dois momentos principais, o primeiro focado na
apresentação e nessa reflexão sobre o uso de aplicativos e o segundo com o objetivo de
mostrar na prática como funcionava cada ferramenta. Para isso, os participantes da oficina
foram divididos em três pequenas salas separadas no Google Meet, onde as monitoras nos
orientaram a respeito do funcionamento de cada aplicativo, nos dando a oportunidade de
realmente interagirmos juntos com todos eles. A proposta era mostrar que a perspectiva que
deve ser considerada é a de letramento, não a instrumentalização pura do ensino. Assim, os
aplicativos são recursos de auxílio e suporte, mas eles não são cursos de línguas, pois os
aplicativos estimulam a prática fora da sala de aula e desenvolvem a autonomia dos alunos,
mas seus pontos positivos possuem limites. Eu não conhecia nenhum dos dois sites nem o
aplicativo, mas gostei de todos e, durante o minicurso do Estágio, as colegas que fizeram
grupo comigo e eu cogitamos usar o Lyrics Training, que foi a ferramenta que me pareceu
mais interessante dentre as três, mas não conseguimos encaixá-lo coerentemente em nenhuma
aula. Mesmo assim, foi uma sugestão que demos para os nossos alunos, o que mostra bem
como a oficina foi produtiva. Ainda no fim do evento, a professora organizadora abriu um
Padlet para que os ouvintes pudessem escrever suas impressões sobre os conteúdos.
Posteriormente, no último dia do mês de novembro do ano passado, o Prof. Dr. Júlio
Valle, docente da Universidade Federal de São Paulo e coordenador do projeto de extensão
universitária “Pontes: Língua e Literatura/Universidade e Escola”, promoveu a palestra
Língua Portuguesa e suas Literaturas: Desafios Contemporâneos no Ensino. O evento é a
segunda atividade do projeto, que recebe a colaboração das Profas Dras. Juliana Loyola,
Sandra Lima e Vanda Elias, também docentes da Unifesp, e o objetivo central do debate
proposto é, como o nome sugere, aproximar a universidade da escola básica por meio do
diálogo. A mesa redonda da qual participei foi intitulada “O Novo Ensino Médio: Questões e
Desafios” e todos os professores citados anteriormente estavam presentes e deram as
boas-vindas aos ouvintes e aos docentes convidados, o Prof. Dr. Marcelo Lima e a Profa.
Taysa Soares Bensone.

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As primeiras questões levantadas no evento partiram do professor Marcelo, que falou
a respeito da reforma pela qual o Ensino Médio brasileiro passou, as bases sociais,
epistemológicas e principalmente políticas desse projeto e as problemáticas do cenário que se
desdobra à frente dos professores e futuros professores atualmente. Como elementos
essenciais para a criação da justificativa da reforma estrutural, não só curricular, do Ensino
Médio, o professor aponta, em especial, a precarização da economia nacional e a ascensão de
ideais neoliberais, muitas vezes próximos da ideologia fascista, às posições de alto escalão
governamental. Muito por isso, me pareceu particularmente interessante a fala do professor
Marcelo Lima, pois é preciso considerar que as questões da escola básica devem ser
discutidas também por docentes de língua estrangeira, o que não acontece sempre ou com a
frequência necessária, a meu ver. Além disso, temos que sempre manter em mente e
compreender o viés político por trás da Educação e as motivações sociais de qualquer
modificação nos currículos brasileiros. Segundo o professor, essas mudanças na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) são uma maneira das elites combaterem a
democratização do acesso à Educação, pois, com esse projeto, o jovem que depende do ensino
público acaba saindo da escola para o mercado de trabalho e/ou para a universidade de
maneira completamente despreparada, de modo que não ofereça perigo às classes
economicamente superiores.
A segunda parte do debate foi guiada pela professora Taysa Bensone, coordenadora
pedagógica do Ensino Médio da EE Professora Zilda Graça Martins de Oliveira, uma das
escolas parceiras da Unifesp na recepção dos estagiários em Licenciatura. A proposta de
Bensone era mostrar os efeitos da reforma no “chão de escola”, como ela coloca, e como os
professores e alunos do Ensino Médio estão recebendo os efeitos dessa mudança. Assim como
o professor Marcelo Lima, Bensone também diz que, em realidade, o que aconteceu foi uma
“pseudo reforma”, pois a estrutura e o investimento na escola pública continuam os mesmo.
Dentre os pontos levantados pela professora, o principal é o de que as escolas não possuem
estrutura suficiente para colocar em prática as novas medidas previstas pela BNCC, como o
ensino integral, por exemplo, principalmente após o começo da pandemia. Embora a reforma
do Ensino Médio tenha sido vendida pelo Governo e pelas mídias como algo inovador, a
realidade em sala de aula é a do professor, da equipe pedagógica e dos alunos que precisam se
adaptar como possível às mudanças, mesmo com o investimento que chega lentamente nas
escolas, como novos livros e materiais didáticos. Como futura professora que irá enfrentar a
sala de aula modificada por essa reforma, foi de extrema importância, para mim, entender o

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que motivou a criação do chamado “Novo Ensino Médio” e qual o impacto dessas questões na
minha vida profissional.
Durante a semana do dia sete de fevereiro de 2022, participei da Rentrée 2022 da
Associação dos Professores de Francês do Sul (APFsud), que promoveu seis eventos entre os
dias dez e onze de fevereiro. Dentre os seis, apenas cinco de fato aconteceram e eu participei
de três deles. O evento, como um todo, foi uma oportunidade providencial para que eu
pudesse completar minhas horas de atividades extracurriculares. A primeira dessas atividades
em que eu estive presente foi a palestra Un projet d'une recette : la réalisation d’un projet en
français, com duração de 1h30, na qual a Profa. Dra. Clarissa Laus Pereira Oliveira, da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contou a experiência dela e de alunos
estagiários do curso de Licenciatura em Letras - Português/Francês de sua instituição e
também do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que criaram projetos com duração de
sete semanas de encontros síncronos e conteúdos no Moodle, ligando a língua francesa com
gastronomia, música, cinema e souvenirs Escolhi participar da palestra porque, pelo título,
ou melhor, pelo subtítulo, pude supor que o assunto abordado poderia ter relação com o
minicurso que nós, alunos, precisamos elaborar.
O evento foi muito produtivo e me proporcionou diversas reflexões, não só pelo que
foi apresentado pela professora, mas também pelas perguntas dos outros participantes, como
um homem que levantou a questão da melhor maneira de se ensinar as regras gramaticais da
língua francesa e que usou como exemplo, em sua fala, a questão dos articles partitifs, que,
coincidentemente, foi uma dúvida levantada por uma das nossas alunas do minicurso. Além
disso, eu não conhecia alguns dos recursos usados pela professora durante sua apresentação, e
todos me pareceram de grande utilidade, como o site Mentimeter, a ferramenta virtual Book
Creator e o uso de um cronômetro para controlar o tempo das dinâmicas. A professora
disponibilizou os links com os resultados finais dos projetos, realizados pelos alunos
matriculados. O único ponto negativo da experiência, que me afetou muito, foi a barreira
linguística: todos na reunião falavam em francês e, embora eu pudesse compreender muito
bem, eu não me senti e não me sinto capaz de me expressar na língua francesa de maneira
espontânea. Assim, embora eu quisesse muito, não pude compartilhar com os ouvintes e com
a professora a minha experiência do minicurso que dei com minhas colegas de curso, onde
também usamos o Padlet como meio de concretização do objetivo final do projeto.
O evento seguinte da Rentrée, que aconteceu no dia 11 de fevereiro e durou
aproximadamente 1h20, levava o nome Le Français sur Objectifs Universitaires : un bilan
des expériences à l’UFRGS e foi apresentado pela Profa. Dra. Rosa Maria de Oliveira Graça,

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coordenadora do Centro de Línguas para Fins Acadêmicos (CLA), e pelo Prof. Matheus
Dorneles, que assumiu os cursos de FOU no Centro. A professora Rosa Maria começou
falando sobre a questão da formação inicial de professores e sua relação com a qualidade de
ensino de forma geral. Foram apresentadas duas formações distintas: a formação inicial
tradicional, focada em uma experiência acadêmica e profissionalmente limitada aos estágios
previstos pela legislação, e a formação inicial “inovadora”, que se propõe a unir a formação
inicial tradicional com uma experiência mais ampla, pautada também na imersão linguística e
na inserção em programas de formação didática, e pretende estimular uma prática docente
associada à pesquisa, à flexibilidade, à autonomia e ao conceito de ensino-aprendizagem
interativo. Em seguida, a professora fala sobre o funcionamento do CLA e apresenta o
histórico de cursos de FOU, oferecidos pela instituição desde 2016, com diversos níveis de
proficiência e carga horária e cuja frequência foi crescendo a cada ano — a princípio, os
cursos eram oferecidos anualmente e, hoje, acontecem a cada dois meses.
Passando a palavra ao professor Matheus Dorneles, ele apresentou a organização do
Classroom de um dos cursos de FOU ministrado por ele, intitulado Apresentação oral em
francês: introdução ao exposé oral. O professor mostrou as produções orais dos alunos
matriculados no curso postados em um Padlet, que foram a atividade final, e além disso,
compartilhou conosco o link da lousa usada durante o curso, criada na plataforma Miro, que
eu não conhecia, mas que me pareceu muito interessante, por permitir muita interação.
Pessoalmente, ainda, é preciso dizer que sempre é motivador ver projetos sobre língua
francesa que se distinguem do que idealizamos popularmente como um curso de língua.
Aprender sobre a existência de cursos de FOS/FOU foi uma novidade que os professores
supervisores de Estágio nos trouxeram durante as aulas de Fundamentos e me levou a
entender como podem e devem ser amplos e profundos o trabalho e a pesquisa dentro do
ensino da língua francesa, pois, segundo um artigo de Albuquerque-Costa (2012)2, nota-se,
por meio de pesquisas, que os cursos de francês nem sempre preparam seus alunos para a
vivência acadêmica francesa. Por um lado, enquanto aluna, fiquei verdadeiramente
interessada em participar dos cursos oferecidos pelo CLA a estudantes de todo o Brasil, e,
enquanto futura professora, levarei comigo o conhecimento prático do funcionamento de
cursos de FOU.
O último evento do qual participei aconteceu pouco tempo depois do fim da
apresentação dos professores Rosa Maria e Matheus. Assim, o evento L’expérience unique de
SP : le groupe de professeurs privés à l’Association, centrado na fala da Profa. Beatriz
2
Cf. ALBUQUERQUE-COSTA, Heloisa, 2012. p. 434.

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Turquetti, coordenadora do Groupe de Professeurs Privés (GPP) da Associação dos
Professores de Francês do Estado de São Paulo (APFESP), começou às 17h40 do dia 11 de
fevereiro e tratou sobre a experiência e a organização do GPP, suas reuniões, objetivos e, após
a apresentação da professora Turquetti, outras docentes também relataram suas vivências
como integrantes do grupo. Em termos gerais, o GPP surge como uma forma de unir
ex-professores e professores que trabalharam/trabalham dando aulas particulares a fim de
criar um espaço de reflexão sobre práticas pedagógicas e compartilhamento de materiais,
discutindo durante as reuniões questões administrativas, financeiras, de marketing e de
avaliação.
Um ponto divertido que me chamou a atenção durante a apresentação foi a forma
como os membros do GPP se autodenominam colibris, pois, assim como esses pássaros, os
professores particulares são solitários, em sua essência, por serem sua própria empresa, por
assim dizer, responsáveis pela pesquisa ou criação do material didático, pela realização de seu
marketing pessoal e pela busca de ferramentas, métodos e referências. O Groupe é uma
espécie de sala de professores para docentes e, embora a professora Beatriz seja uma das
coordenadoras, ela deixa claro que todas as decisões do GPP são tomadas em conjunto, como
os temas das reuniões seguintes, por exemplo; ou seja, é um espaço democrático, de
integração. Nunca havia me ocorrido a questão da solidão do professor particular e a ideia do
GPP de reunir e conduzir esses docentes é essencial para a continuação da formação
pedagógica, pois não há ensino sem interação e, como apontou Turquetti, as reuniões são uma
maneira dos professores particulares perderem o medo de se expressar e de se expor.
A partir do testemunho de três professoras de FLE, Silvana Gare, Valérie Martin e
Stella Duarte, que fazem/fizeram parte do Groupe de Professeurs Privés de l’APFESP, pude
notar com mais concretude a necessidade e a importância do sentimento de pertencimento
quando se fala em Educação. Sem o diálogo e a troca com outros docentes, o caminho da
formação pedagógica se torna mais árduo, cansativo. Além disso, houve ainda uma questão
paralela levantada pela Profa. Dra. Claudia Ozon Caldo, da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (UTFPR), a respeito da estrutura precarizada dos CELs em São Paulo e dos
Celems, no Paraná, e como o governo parece não querer, de fato, a língua francesa, o que
ajuda a manter o ar de inacessibilidade que paira em torno do aprendizado do francês, de
forma que, é graças aos professores dessas instituições que estas se mantêm e se tornam
espaços de resistência também.
Para concluir, também me inscrevi em um curso online que aborda ferramentas
oferecido pelo portal da Associação Nova Escola, com carga horária de 4h. O curso Elabore

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uma aula online com ferramentas do cotidiano, cujos conteúdos foram baseados em uma
reunião do Zoom transmitida também no YouTube e Facebook no dia 2 de abril de 2020,
parte de uma parceria entre a Nova Escola e o Facebook, o projeto “Educação em rede”, com
apresentações de Gustavo Nogueira, Bacharel em Comunicação Visual Gustavo Nogueira,
Sheylli Caleffi, Bacharel em Artes Cênicas e Direção Teatral e Bárbara Castro, coordenadora
pedagógica do cursos da Associação. De maneira geral, pode-se dizer que o curso é uma
sistematização por escrito de tudo o que foi debatido e apresentado na reunião. O curso tinha
12 etapas, dentre as quais sete estavam voltadas ao detalhamento do Mentimeter, WhatsApp e
Facebook enquanto ferramentas da prática docente. Em cada etapa sobre os materiais, a
estrutura de apresentação de cada um seguiu um padrão: objetivo da etapa, o site da
ferramenta digital, o que é, para que e como usar, dicas da Nova Escola e um trecho da live
em que a ferramenta foi citada. Particularmente, essa forma direta de explicar os conteúdos,
dividindo o conteúdo em tópicos, tornou mais fácil, para mim, acompanhar o curso, mesmo
porque não é fácil aproveitar verdadeiramente esse tipo de formação à distância, sem o
acompanhamento de um professor. Destaco, especialmente, o tópico de dicas da Associação,
com sugestões concretas de como usar cada recurso em aula.
Após a introdução do curso, a primeira ferramenta abordada foi o Mentimeter, que
conheci durante o evento Un projet d'une recette, da Rentrée 2022. Para abordar esse recurso,
foi selecionado um trecho de nove minutos da reunião, no qual os três palestrantes
participaram e mostraram na prática, em conjunto com os ouvintes, como funciona o site da
nuvem de palavras, que, segundo Sheylli Caleffi, é uma forma de fazer o check-in nos inícios
das aulas. Nesse trecho, pude notar, ainda, que a reunião contou com intérprete de Libras. A
etapa seguinte do curso falava sobre a rede social WhatsApp e como ela pode ser usada como
forma de facilitar a comunicação do professor com seus alunos ou mesmo com os pais dos
alunos, quando for o caso, uma prática que se tornou mais comum depois da pandemia. Na
etapa quatro do curso, os organizadores selecionaram um trecho de 26 minutos da reunião,
durante o qual o professor convidado Felipe Nóbrega, diretor de uma escola do Rio de
Janeiro, refletiu sobre o uso do WhatsApp em sua instituição. Com mais alguns vídeos, o
curso também explica como criar grupos no aplicativo de mensagens voltados para salas de
aula, com a restrição do envio de mensagens, e também como criar listas de transmissão e
como usar o WhatsApp Web. Não foi um conteúdo novo para mim, pelo contrário, pois, na
Escola Estadual em que trabalhei, todas as salas tinham seu grupo no aplicativo, o que,
inclusive, na experiência do professor Felipe não foi produtivo, pois o grande número de

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grupos tornou impossível uma administração eficiente. Ou seja, embora eu já conhecesse o
material, sempre é útil ouvir a experiência de outros docentes.
A última ferramenta do curso foi o Facebook, na sexta etapa, apresentado de maneira
similar ao WhatsApp, com o mesmo objetivo de facilitar a interação entre
professor-aluno/pais de aluno. Por ser uma rede social usada majoritariamente para objetivos
que não têm relação com a Educação, a Nova Escola sugere que os professores imponham
limites no diálogo estabelecido por meio do Facebook, por questões de profissionalismo.
Quanto ao trecho da reunião incluído, novamente foi um testemunho e experiência da
coordenadora pedagógica Marisa Borges, da EE Laila Galep Sacker, em Sorocaba. Em sua
escola, surgiu a ideia de usar o grupo do Facebook como forma da equipe pedagógica indicar
textos e links de suporte que podem ser acessados pelos pais dos alunos. Embora a escolha do
Facebook como plataforma educacional tenha me parecido duvidosa, à primeira vista,
confesso que, com a fala da professora, entendi melhor de onde essa ideia surgiu, por ser uma
rede social que faz parte do cotidiano da grande maioria dos brasileiros, ou seja, os pais já
estão habituados a usar o Facebook, sabem como ele funciona. Na oitava etapa, o curso
seleciona trechos do encontro do dia 2 de abril em que Gustavo e Sheylli demonstram como
criar uma página e/ou um grupo no Facebook, além de mostrar como se faz uma uma
transmissão de vídeo ao vivo na rede.
Enfim, embora o curso não seja voltado para o ensino de FLE, como a maior parte dos
outros eventos que participei, acredito que me ajudou a voltar um novo olhar a ferramentas
digitais menos mirabolantes, mais comuns, que podem ser úteis dependendo do contexto de
trabalho. Assim como a oficina de aplicativos da qual participei em outubro do ano passado,
esse curso levantou a questão de que o uso de recursos virtuais não substitui o contato pessoal
e não diminui a relevância do papel do professor no processo de ensino-aprendizagem; são
apenas complementos válidos que se tornaram mais necessários por causa da pandemia de
Covid-19. O curso se encerra com uma atividade final, cujo objetivo é reconhecer as
“principais aprendizagens e, se necessário, retomar alguns dos conteúdos trabalhados” e que
consistia em responder cinco perguntas de múltipla escolha e, para receber o certificado, era
preciso acertar pelo menos quatro. As perguntas abordavam, de maneira simples, detalhes
pontuais que foram comentados nos vídeos; eu tive 100% de aproveitamento na avaliação,
mas havia a opção de refazê-la caso eu não atingisse o mínimo de acertos para concluir o
curso. Por último, os organizadores ainda incluíram uma pesquisa de satisfação do curso, com
perguntas que, a meu ver, serviram também como forma de autoavaliação, e uma etapa com
diversos vídeos de outras reuniões do projeto “Educação em Rede”.

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4. ESTÁGIO DE REGÊNCIA

A última etapa do Estágio Curricular Supervisionado em Língua Francesa II foi


voltada à regência. Devido à adaptação ao sistema de ADEs, os alunos estagiários se
dividiram em grupos de três a quatro pessoas e idealizaram, em conjunto, um minicurso de
FLE com carga horária de 12 horas; meu grupo foi formado pelas mesmas colegas com que
eu já havia trabalhado no semestre anterior, Bianca Goyano e Bruna Spínola. A preparação do
minicurso, que recebeu o nome Introdução à Língua Francesa e à cultura/literatura
francófona, começou meses antes de seu início, com a entrega de duas atividades essenciais
para o começo dos trabalhos durante a disciplina de Fundamentos do Ensino de Língua
Francesa II: o plano estruturado dos conteúdos do minicurso e o plano de aula da leçon zéro, a
primeira aula. Quanto aos suportes digitais principais utilizados durante o projeto, foi criada
uma sala no Google Classroom para a turma, que atingiu o número máximo de 50 inscrições,
e preparamos apresentações de slides para cada aula. Ressalto que, ainda nessa fase de
preparação, em momento algum fizemos uma divisão estática e definitiva das
responsabilidades do minicurso; todas nós estivemos envolvidas em todas as etapas de
desenvolvimento do projeto e a única decisão que tomamos mais próxima a essa questão foi o
consenso de que a Bruna ficaria responsável pela maior parte das explicações gramaticais,
mas mesmo isso acabou mudando com o tempo, conforme ganhamos mais autoconfiança e
segurança.
Quando meu grupo e eu começamos a conversar sobre o público-alvo do minicurso,
foi levantada a questão de que, se nos direcionássemos a alunos de nível A2, teríamos a
possibilidade de abordar temas mais avançados, sobre tempos verbais e objetivos específicos
mais complexos. Porém, acabamos mudando de ideia, pois, já nesse início de mobilização de
ideias para os conteúdos, nós decidimos que seria mais seguro nos ater a tópicos mais básicos
da língua francesa, porque temos mais domínio e mais referências sobre eles. Assim, na
entrega do plano do minicurso, colocamos como objetivo linguístico central do projeto o
savoir-faire de se apresentar e apresentar alguém na língua francesa, o que é um conteúdo
pelo qual nós passamos nas primeiras aulas de francês e que repetimos a cada semestre,
praticamente. Como o nome do minicurso sugere, também era a nossa intenção principal dar
aulas que combinassem os elementos gramaticais da língua francesa com aspectos diversos da
cultura e literatura francófona. A abordagem em que nos baseamos foi a acional, não só por
ser a mais recente e coerente no que diz respeito ao ensino de língua estrangeira, mas porque,

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ao longo de todo o curso, nossa preocupação era fazer com que os alunos “agissem na língua”
o máximo possível durante os encontros.
Essa não foi a única vez que mudamos de ideia durante a elaboração do minicurso.
Quando entregamos o plano do minicurso, havíamos incluído no conteúdo programático três
momentos avaliativos, em que postaríamos atividades pelo Google Forms para termos uma
noção concreta sobre o desempenho dos alunos na apreensão dos conteúdos, mas essa ideia
foi descartada logo após o retorno dos professores supervisores, que apontaram a irrelevância
de tantas avaliações assim em um curso de apenas 12 horas. Nós decidimos, porém, manter
uma “avaliação” final, que, na verdade, foi um momento de produção escrita e oral no
encerramento do minicurso sem o contexto de atribuição de notas, sendo apenas uma
oportunidade para os alunos colocarem em prática todos os tópicos apresentados durante o
curso. Quanto ao plano da leçon zéro, quando começamos a montar os slides, percebemos que
não haveria tempo hábil para abordar todos os conteúdos previstos, de modo que dividimos os
tópicos entre a primeira e a segunda aula. Esse movimento de adaptação foi constante durante
todo o desenvolvimento do minicurso; a cada aula, era necessário que estivéssemos abertas às
novas demandas que surgiam. Seguindo também a recomendação dos supervisores de Estágio,
dividimos as horas do minicurso em oito aulas de uma hora e meia, duas aulas por semana, às
segundas e quintas-feiras, entre 18h e 19h30. Assim, demos a primeira aula do projeto no dia
dez de janeiro deste ano, a segunda no dia 13 e o restante dos encontros aconteceram nas três
semanas seguintes, com uma média que variou entre 20 e 10 alunos; Com exceção da aula de
encerramento do curso, que precisamos dar na sexta-feira do dia quatro de fevereiro, nós
conseguimos seguir o cronograma previsto no plano do minicurso.
Os conteúdos que planejamos também foram alterados ao longo do percurso; ao todo,
durante as oito aulas, nós abordamos onze tópicos gramaticais principais: o alfabeto e sua
pronúncia; os números de 0 a 100; as saudações e seus contextos; os dias da semana e meses
do ano; a conjugação no presente do indicativo dos verbos être, avoir, s’appeler, habiter, faire,
aimer e aller e como usá-los na língua; os grupos verbais; um esquema de apresentação
pessoal, a negação (ne… pas/plus/rien/personne/que, non plus e ni… ni); as nacionalidades de
alguns países francófonos; algumas profissões em francês; e a formação de frases
interrogativas. Como dito acima, por também focarmos na parte cultural e literária da língua,
trouxemos conteúdos dessa natureza em todas as aulas, como uma maneira mais descontraída
de encerrarmos nossos encontros síncronos; os aspectos culturais e literários apresentados
foram: uma citação sobre a competência plurilíngue traduzida em francês, espanhol, catalão e
friulano, para que os alunos identificassem a similaridade entre diferentes línguas; o livro

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Persepolis e sua adaptação cinematográfica; a música “Comme ci, comme ça”, da cantora
Zaz, cuja letra foi a base para uma atividade de reconhecimento verbal; os livros de Arsène
Lupin e a adaptação em série pela Netflix; o Prix Goncourt e o Choix Goncourt, como eles
funcionam e a última obra vencedora do Prix, La plus secrète mémoires des homme, do autor
senegalês Mohamed Mbougar Sarr; o verlan; o cantor Stromae e sua música “Papaoutai”; e,
por último, o livro infanto-juvenil Marie de Paris. Vale lembrar que o epicentro que amarrou
e deu coerência a toda a estrutura do minicurso foi o nosso objetivo de fornecer meios para
que os nossos alunos adquirissem a capacidade de se apresentar em francês e apresentar
outras pessoas. Assim, se não todos, boa parte dos elementos linguísticos vistos em aula
foram mobilizados pela maioria dos alunos na produção final escrita e oral.
Em todas as aulas, usamos muitos recursos virtuais para além dos slides, com o intuito
de dinamizar nossa explicação e tentar torná-la o menos abstrata possível. A meu ver, um dos
nossos maiores aliados durante o minicurso foi a seção « Apprendre le français » do site da
TV5Monde, que nos ajudou nas explicações dos tópicos gramaticais e de onde também
tiramos duas atividades que fizemos juntos com os alunos, uma sobre as saudações e outra
sobre os verbos être e s’appeler. Utilizamos, ainda, o site Wheel of Names em uma atividade
de soletração na segunda aula, baseada em um exercício do manual Version Originale 1, que
foi uma das nossas referências de material didático, assim como o livro Exercices de
grammaire en contexte; também usamos sites Français Facile e Francês Fluente para
organizar os conteúdos linguísticos. Por fim, na última aula do minicurso, ainda criamos um
quiz de revisão no site Kahoot, com questões a respeito de tudo o que foi visto nos encontros
anteriores, sendo essa uma forma que encontramos de transformar um momento geralmente
repetitivo e cansativo em uma disputa descontraída e divertida.
Mesmo com toda a preparação prévia para as aulas, alguns imprevistos aconteceram,
desde o primeiro dia, quando tentamos apresentar dois vídeos sobre o alfabeto, um do site
FLE Nantes e outro do cantor Alain le Lait, o áudio não funcionou. Em outros encontros,
ainda, acabamos passando do horário definido e, no sexto encontro, tivemos que recorrer a um
plano alternativo de exibição de conteúdos: nesta aula, explicaríamos sobre a interrogação em
francês, mas não houve tempo suficiente e deixamos esse tópico para a aula seguinte,
passando, assim, para a parte final da aula, em que falamos sobre o verlan e apresentamos, de
improviso, um vídeo do canal Karambolage, que a Bruna conhecia. Essa situação me fez
perceber que faz parte do papel do professor ter diversas cartas na manga para esses
momentos em que algo não sai como esperado e, com o tempo e com muito estudo, espero
conseguir reunir um arcabouço bem fundamentado de materiais e referências para saber lidar

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com esse tipo de situação. A meu ver, por fim, o momento mais marcante e gratificante da
experiência de regência aconteceu na última aula do minicurso. Criamos um Padlet chamado
« Qui es-tu ? » para termos um espaço de compartilhamento de aprendizados e de interação,
onde os alunos e nós, professoras, postamos nossas apresentações pessoais. No encontro
síncrono, eu imaginava que os discentes não se sentiriam confortáveis em falar na frente de
todos, mas o Kahoot se provou uma forma muito produtiva de “quebrar o gelo”, por assim
dizer, e todos que estavam presentes se apresentaram, com base nas produções escritas do
Padlet. Assim, de todas as aulas, a última certamente é a que me proporcionou a memória
afetiva mais forte, pois pude reconhecer, em mim e em minhas colegas de grupo, o resultado
positivo de um bonito processo de amadurecimento que se construiu ao longo do minicurso,
por meio das trocas que tivemos entre nós e também com os alunos matriculados.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como um ponto de autorreflexão de cunho mais pessoal ainda, eu gostaria de começar


as considerações finais do relatório reconhecendo que não consegui aproveitar a disciplina de
Fundamentos do Ensino de Língua Francesa II tão bem quanto eu deveria, o que, em
realidade, não é uma situação isolada, mas sim algo recorrente nos últimos semestres, desde
que a universidade se viu obrigada a adotar a modalidade remota. Não pude, por motivos de
ordem pessoal, estar presente em grande parte dos encontros síncronos, então me vi
dependente das gravações que os professores, felizmente, disponibilizaram aos alunos e da
ajuda das monitoras e dos colegas, em especial, a aluna Bruna Spínola, pois foi graças ao seu
auxílio que consegui não me perder por completo nas atividades e conteúdos da disciplina e
do Estágio. Acredito que esses últimos dois anos de pandemia e de aulas à distância
impactaram profundamente meu desempenho na faculdade e é essencial poder contar tanto
com a empatia e a compreensão dos professores quanto a rede de apoio dos colegas,
principalmente nas matérias de Licenciatura, afinal, como percebo cada vez mais, a prática
pedagógica verdadeira só acontece coletivamente e com trocas de experiências.
No semestre passado, além de cursar o primeiro Estágio em Língua Francesa, cursei e
concluí o Estágio em Língua Portuguesa e suas Literaturas, uma disciplina que também
contempla a regência. Os professores supervisores do Estágio em Língua Portuguesa
solicitaram que nós, alunos, gravássemos videoaulas apresentando um plano de aula voltado
para o ensino de língua ou o ensino de literatura como atividade final de regência. Embora eu
reconheça o esforço dos professores em tentar fazer o melhor possível para adaptar a

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disciplina ao contexto de aulas à distância, a experiência, para mim, aconteceu de maneira
automática e pragmática, especialmente porque não tive contato real com alunos em nenhum
momento. Em contrapartida, tudo o que esteve ausente no Estágio em Língua Portuguesa, eu
pude aproveitar no Estágio em Língua Francesa. Claro, ressalto que a comparação que faço
não tem, de maneira alguma, o objetivo de avaliar a qualidade de ambas as disciplinas ou de
determinar que uma é melhor do que a outra, quero apenas relatar como tive vivências muito
distintas e distantes em matérias tão parecidas. Enquanto o Estágio Supervisionado em Língua
Portuguesa e suas Literaturas perdeu a característica primordial da docência, que é o contato
do professor com os alunos, o Estágio em Língua Francesa conseguiu talvez até mesmo
melhorar a experiência de regência, primeiro por pedir que os alunos formassem grupos para
dar as aulas e segundo porque, com os minicursos sendo oferecidos pela Unifesp para todos
os públicos, pudemos ter contato com um grupo mais diverso de pessoas.
Por último, devo dizer que, neste semestre, foi muito mais fácil relacionar os
conteúdos teóricos das aulas de Fundamentos do Ensino de Língua Francesa I com as
atividades do Estágio, embora, talvez, eu não tenha deixado isso claro o suficiente; acredito
que o motivo para essa mudança seja minha experiência com o minicurso, por meio do qual
pude colocar na prática as metodologias apresentadas pelos professores referentes à
abordagem acional, principalmente. Quando escolhemos o grau de Licenciatura, a grande
maioria de nós, inclusive eu, tememos o dia em que precisaremos pisar na sala de aula e
encarar uma sala de alunos. Agora, com todos os estágios concluídos ao longo dos últimos
dois anos, posso dizer que esse medo se tornou ansiedade para me formar e poder, enfim,
compartilhar o pouco que sei com alunos interessados na língua francesa. Agradeço
imensamente às minhas colegas Bianca Goyano e Bruna Spínola, pois, sem elas, eu jamais
teria alcançado uma experiência tão satisfatória com o minicurso, e agradeço também aos
professores, Denise Radanovic e José Hamilton, por toda a dedicação, compreensão,
responsabilidade e generosidade durantes as aulas de Fundamentos; não haveria Estágio sem
seu trabalho.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE-COSTA, Heloisa. Francês para Objetivo Universitário (FOU) na


FFLCH/USP: formação linguística e discurso universitário para alunos que preparam
intercâmbio com a França. Revista Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 41, n. 2, p. 433-442,
maio-ago 2012.

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CUQ, Jean-Pierre; GRUCA, Isabelle. Chapitre III. Cours de didactique du français langue
étrangère et seconde. Grenoble : PUG, 2003.

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