Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
🔺 Estrutura interna
1.1. Procura de trigo no Ribatejo (desde "E alguns..." até "... cinco mil homens.").
a) Motivos da procura:
- o cerco à cidade;
- a falta de alimentos.
- a oposição castelhana;
Apenas uma vez os galés foram tomadas, graças à denúncia de um “homem
natural d’Almadãa”, cujo castigo pela traição foi terrível: “el foi depois tomado e preso
e arrastado, e decepado e enforcado.” (enumeração, polissíndeto e gradação).
No entanto, o trigo é tão pouco e raro que não supre as necessidades (atente-
se na comparação com o milagre da multiplicação dos pães).
b) Motivos:
- recusa de refúgio por parte dos castelhanos (2.º momento): para “gastar mais a
cidade”, o rei de Castela ordena que mais nenhum sejam acolhido e que todos os que
tinham sido sejam expulsos do acampamento.
Inicialmente, os castelhanos recebem bem as pessoas expulsas da cidade,
mas, quando percebem que Lisboa beneficia com isso, dado que haveria menos
pessoas para alimentar, mandam-nas regressar.
d) O Mestre ordena que se faça o levantamento do pão existente em Lisboa, tendo-se
concluído que é muito escasso.
2) Fome da população: carência de pão e carne (desde "Na cidade não havia trigo..."
até "...tam presentes tinham?").
- raízes de ervas;
- melaço cristalizado;
- criação de porcos;
- a morte;
De facto, apesar de famintos e extenuados, são solidários uns com os outros e
corajosos contra os castelhanos, continuando a manifestar uma identidade coletiva
que os une num propósito comum.
Mais uma vez, a cidade é apresentada como uma personagem coletiva, um
ser só: “Toda a cidade era dada a nojo” (isto é, toda a cidade sofria, tanto os pobres
como os ricos – “grandes pessoas da cidade”). Assim, Lisboa é apresentada como um
grande corpo coletivo que sofre.
- missas;
- preces.
o Mestre e os seus, sabendo que nada podem fazer, sentem-se impotentes e
ignoram os lamentos da população.
Neste passo, aparentemente Fernão Lopes critica a ação de D. João e do seu
Conselho, dado que “çarravom suas orelhas do rumor do poboo”, parecendo assim o
cronista cumprir a imparcialidade e a neutralidade enunciadas no “Prólogo” à crónica.
- a falta de alimentos.
. a diminuição das esmolas públicas (ll. 24-25), o que evidencia falta de solidariedade
desumanização;
. a falta de trigo para vender e consequente subida do preço de vários produtos (trigo,
vinho, pão e carne), o que origina a fome entre a população, que come qualquer coisa,
e a morte de muitas pessoas;
. o apego à religião constitui uma forma de mitigar todos os sofrimentos vividos.
. a diminuição das esmolas públicas (ll. 24-25), o que evidencia falta de solidariedade
desumanização;
. a falta de trigo para vender e consequente subida do preço de vários produtos (trigo,
vinho, pão e carne), o que origina a fome entre a população, que come qualquer coisa,
e a morte de muitas pessoas;
. o apego à religião constitui uma forma de mitigar todos os sofrimentos vividos.
Fernão Lopes congratula os que viverão no futuro, porque não passarão pelos
sofrimentos que Lisboa tem de passar durante o cero.
1. Sociais:
- expulsão dos fracos e não aptos para a defesa da cidade por falta de alimentos;
2. Económicas:
3. Psicológicas:
- a coragem;
- o choro;
- o desespero;
- o medo da vingança do rei de Castela, caso a cidade caísse nas suas mães
- sentimentos:
- atos: o Mestre e os do seu Conselho fecham os ouvidos "ao rumor do poboo", não
por indiferença ou hostilidade, mas porque lhes eram dolorosas "douvir taaes novas
(...) a que acorrer nom podiam";
🔺 Linguagem e estilo
-» o tom coloquial:
-» a interpelação do leitor:
- uso da interjeição “Ó”;
- uso da adjetivação, por vezes dupla: "faminto"; "forte e rijo"; "triste e mesquinho";
"desvairados"; "desaventuirada"; "doorosas"; "cruel";
- a comparação concreta para precisar uma ideia abstrata: "assi como é natural cousa a
mão ir amiúde onde se a door, assi uus homees falando com outros, nom podiam em
al departir, senom em na mingua que cada uu padecia";
- paralelismo de construção: "Uus choravom antre si, mal dizendo (...) Outros se
querelavom a seus amigos, dizendo...";
. "Ca valia o alqueire quatro libras, e o alqueire de milho quarenta soldos, e a camada
de vinho três e quatro libras.";
. "... e pequena posta de porco valia cinco e seis libras, que eram uma dobra castelã; e
a galinha quarenta soldos; e a dúzia dos ovos, doze soldos. E se os almogávaros
traziam alguus bois, valia cada uu setenta libras, que eram catorze dobras cruzadas,
valendo então a dobra cinco e seis libras; e a cabeça e as tripas, uma dobra...";
-» o realismo descritivo:
. "Andavom os moços de três e de quatro anos pedindo pão pela cidade por amor de
Deus, como lhes ensinavom suas madres; e muitos não tinham outra cousa que lhe dar
senão lágrimas que com eles choravom, que eram triste cousa de ver; e se lhes davom
pão como uma noz, haviam-no por grande bem.";
. "... ficados os geolhos, beijando a terra, bradavom a Deus que lhes acorresse...";
. "Os padres e madres viam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam as
faces e peitos sobreles, não tendo com que lhe acorrer senom pranto e espargimento
de lágrimas".
-» objetividade:
. os pormenores de caráter económico (“ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire
do milho quarenta soldos…”);
. o realismo descritivo relativo à luta pela sobrevivência (“Das carnes, isso meeesmo,
havia em ela […] bem mostravom seus encubertos padecimentos.”);
. interrogações retóricas: “Como non lançariam fora a gente minguada […] havia
mester sobr’elo conselho?”;
-» alternância entre
. planos gerais: o grande plano da cidade e dos atores coletivos que nela intervêm
(linhas 1 a 5, por exemplo);
. planos de pormenor: a incidência em grupos de personagens e/ou situações
particulares (por exemplo, a procura de grãos de trigo, por “homees e moços”);
. o narrador convoca o leitor para o passado de dor que reporta, procurando fazer-lhe
notar que quem nasceu depois daquela provação, tal como ele (leitor), teve sorte;
. o narrador convida os leitores a observar o que se passa em Lisboa: “Ora esguardae
como se fosses presente…”.
. Outros recursos
- A elegia comovida.
. texto/facto narrado;
. facto narrado/leitura.
- As funções da linguagem:
. informativa;
. expressiva;
. apelativa.
estrutura trágica
- Os tipos de frase:
- interrogativas þ população se encontrava.
- Arcaísmos: "pero", "ca" (pois, porque), "uus", "nenhuus", "antre", "nojo", "departir",
"guisas".
- Comparação:
. "... assi dos que se colherem dentro do termo de homees aldeãos com mulheres e
filhos, como dos que vierom na frota do Porto...";
. "E assi como é natural cousa a mão ir amiúde onde sêe a dor, assi uns homees
falando com outros não podiam em al departir senão em na míngua que cada um
padecia": evidencia a necessidade de os habitantes de Lisboa lidarem com a sua dor,
através do diálogo com quem comungava do seu sofrimento, tal como a mão o faz
através do contacto físico, no caso de padecimentos dessa natureza;
. "... tanta diferença há de ouvir estas cousas àqueles que as então passaram, como há
da vida à morte?";
. mester de o multiplicar como fez Jesu Christo aos pães”: reforça o dramatismo, uma
vez que só um milagre poderia salvar a cidade.
- Personificações:
- da cidade de Lisboa;
- “as pubricas esmolas começarom desfalecer”.
- Pleonasmos:
. "colherom dentro";
. "deitar fora";
. "lançarem fora";
- Metáforas:
. "padeciam duas grandes guerras" (…) sse defender da morte per duas guisas…”: os
habitantes de Lisboa enfrentam duas guerras – a guerra (o cerco) contra os
castelhanos e a fome resultante do cerco – que impedia que se defendessem quer da
morte, quer, por falta de forças, do inimigo;
. “Os padres e madres viam estalar de fome os filhos…”: explicita a desgraça das
crianças, tal como o que estala parte, morre, também as crianças morriam, privadas de
alimentos;
- Adjectivação expressiva
- contexto histórico:
2. Pela forma:
. a terminação -om nos nomes (razom, coraçom, etc.), nos advérbios (nom) e na
terceira pessoa do plural do imperfeito do indicativo dos verbos da primeira
conjugação (esforçavom-se, repicavom, encomendavom, braadavom, çarravom, etc.);