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somente um caminho qualquer entre outros, mas um caminho seguro, uma via de U
2 C
acesso que permita interpretar com a maior coerência e correção possíveis as ques-
h
tões sociais propostas num dado estudo, dentro da perspectiva abraçada pelo pesqui- c
sador. Oobjeto da metodologia é, então, o de estudar as possibilidades explicativas ]<
manas tendem a apresentar resultados mais Na elaboração dos arquivos, o autor recomenda não descurar nem mesmo dos
lham interdisciplinarrnenn-, de modo a abran- minúsculos detalhes, das coisas momentaneamente vagas: Futuras associações criati-
: sucessivosd;~f~~6menos estudados. "6 vas podem desvandar nexoshoje não percebidos. Iml';;i:;~te também é ser criterioso
spera-se que leitores e pesquisadores, longe de e absolutamente honesto aocoligir ou ao produzir dados, como no caso das entrevis-
.proximem lapidando artesanalmente a cons- tas, por'exemplo. Elas não sãofeitas apenas com bons roteiros, previamente testados
ista a idéia de totalidade que recobre as ciên- e melhorados, mas com atitudes éticas em relação às pessoas pesquisadas. Voltare-
mos a este ponto mais adiante, com o auxílio das reflexões de Oswaldo Elias Xidieh.
Bons pesquisadores, esclarece Wright Mills, não se limitam à observância de re-
gras, mesmo porque na maioria das vezes experimentam situações que os manuais
~ã~ poderiam antecipar. Além do que, pesquisar não se restringe a absorver técnicas
e pô-las em prática. O cultivo da capacidade imaginadora separa o técnico do pesqui-
sador, somente a engenhosiclade saberá promover a associação de coisas, que não
estria sobre este modo de proceder e discorre poderíamos sequer intentar pudessem um dia se compor, num dado cenário social. 7 Wright Mills, Charles. Do arte-
ão entre o tema de pesquisa e a biografia do Significa aprimorar a percepção, refinar a sensibilidade, ampliar horizontes de com- sanato intelectual. In: - . Ob.
cit., p. 211-43.
orações em arquivos, cuidados com o levanta- preensão, comover-se diante de práticas, pequeninas na sua forma, calorosas e des- .< Ibidem, p. 211-12.
mtes;a importância de exercitar a imaginação prendidas no seu íntimo. " Ibidem, p. 213.
clássica, podendo fazer reviver, dentro de nós e entre nós, aquilo que de mais alenta- distinguir em que momento os sujeitos es
"Wright Mil1s, Charles. Ob. cit.,
p. 235" dor a condição humana pode oferecer. Em razão disso, vale a pena retomar
20 PAULO DE 5ALLE5 OLIVEIRA
itos de Walter Benjamin, exemplifica com UM FAZER MUITO ALÉM DAS TÉCNICAS
mdo. Refere-se à relação entre a cultura
em exposição organizada por Ernst joél, Não é difícil encontrar quem conceitue método como um conjunto. de técnicas,
>cpectadores na vã tentativa de torná-los mas isso significaria operar uma enorme redução naquilo que ele pode representar.
dos visitantes para que dali não saiam do Métodoenvolve, sim, técnicas que devem estar sintonizadas com aquilo que se pro-
-;~~ci~rient~aa para rechaçar o distancia- põe; mas, além disso, diz respeito a fundamentos e processos, nos quais se apóia a
ção entre' arte, conhecimento e vida práti- reflexão. Ao se falar, por exemplo, em ~~t~oPà-ulõFreire d~ aprendizagem, a dis-
:enários e peças, a mobilização elegante e cussão seria muito redutora se apenas aludisse aos recursos e instrumentos de que se
is perder a leveza. Assim, para representar vale para promover a alfabetização; seria necessário ir além para perceber o embasa-
eríodo, que fez ele? "A idéia mais comum mentoteórico, que dá suporte e consistência ao método. D~-q~-~-~õclo-eiJ.~~raa edu-
I de garrafas de vinho ou aguardente. Ao c;çio?-Q~ais os pressupostos da relação entre educádor e educandos? Como tais
lro com a inscrição, um papelzinho todo questões podem interferir ria produção do saber? E assim por diante.
lda"lO. A superação do entendimento meramente instrumental da metodologia, como
rizht Mills sublinha a necessidade de se per- se ela apenas representasse um conjunto de técnicas das quais o pesquisador pu-
lir~gllagemclª~ae simples. Não é nada fácil, desse dispor, independemente de suas concepções acerca do mundo e das relações
irarn linguagens específicas conforme a área: entre sujeito e objeto de pesquisa, reafirma a importância de uma reflexão, capaz de
e assim por diante. Entenda-se bem: não se dar conta dos procedimentos pelos quais se constrói uma pesquisa em ciências hu-
12Abramo, Perseu. Pesquisa em
nas de sempre se esforçar para enunciá-los manas. ciências sociais. In: Hirano, Sedi.
tões complexas podem ter tratamento não- Pesquisar se aprende mediante o próprio fazer, enfatizam os especialistas; nada (org.) Pesquisa social, projeto e
ão, de modo a que também se possa entender poderia substituir ~st';í?rát~c.ª-12. Mesmo porque muitas situações inusitadas esperam planejamento. 2.' ed. São Pau-
gar a toda hora para o ininteligível, recorrer per;;-p~~-q-;:;'is-;;'dor no decorrer dos variados momentos de seu trabalho e, como se lo: T. A. Queiroz, 1988, p. 21-
88.
supostas novas semânticas quando uma aco- deduz, elas não estão, e nem sequer poderiam estar, previamente decodificadas em l3Oliveira, Paulo de Salles. Mes-
português, ou,. especialmente, quando tudo manual algum. Para obter depoimentos na forma de entrevista, por exemplo, como se tre Xidieh, a cultura do povo e
a conaturalidade , Cadernos da
redução científic~ devesse permanecer maté- deveria proceder? Bastaria chegar diante dos sujeitos a serem pesquisados e iniciar, o
Faculdade de Filosofia e Ciên-
. com prestígio e mérito a quem a realiza, aí o quanto antes, a entrevista para não tomar tempo nem do entrevistado ou tampouco cias. Marília-SP, número espe-
sível não é algo que, aprioristicamente, possa do pesquisador? Depende. O pesquisador - e somente ele - poderia identificar a cial (dedicado ao estudo da obra
r", ensina Wright Mills, "é pretender a aten- dinâmica mais profícua, que resguardasse a integridade da maneira de ser dos sujei- de Oswaldo Elias Xidieh), p. 13-
tos pesquisados. No estudo da cultura popular, por exemplo, uma referência '~egura
21, 1996. Do próprio Oswaldo
aço, sem desvios banalizadores, é trabalho de Elias Xidieh, consultar: Nar-
os literatos! vem de Oswaldo Elias Xidieh. Seu modo de proceder reitera a importânciada consi- ratiuas populares. Belo Hori-
a a necessidade de o pesquisador se assumir dera<tão.a.?021:!to. Mostraque hX: "I...] um.1?!i~!nt2.Eara a narração. Há uma situa- zonte: Edus p/Ita ti a ia , 1993,
com introdução de Alfredo Bosi;
sensível e, ao mesmo tempo, despretensioso, ção particular em que a história pode ser contada, respeitando-se o contexto cultural
Semana santa cabocla. São Pau-
:ica, reservando exemplos probantes a cada do grupo e isso é o que realmente importa para o pesquisador. Se ele souber se situar lo: Instituto de Estudos Brasi-
'. As ciências humanas, ao serem exercidas dentro do contexto estudado, se nãorecortar a fala dos entrevi~º_~J?º~critérios leiros, 1972, além do artigo,
isador se sinta parte integrante da tradição arbitráriose exteriores e, sobrer;d;;,s-e não quis~~-c;rrigfr~ciepoimentos,sab~ Quadras populares e adjacên-
cias. Estudos auanç ados. São
le nós e entre nós, aquilo que de mais alenta- disti~~i~ em que momeiJ.to os-sujeitõS~esi:~~clàdõSPõdên1se. expressarTivremente 13:-;; Paulo, v. 11, n." 30: p. 309-34,
. Em;,:;za.ü-ôisso, vale a pena retomar a colocação de Perseu Abran;o~-~r,norizada maio-agosto de 1997.
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: "o melhor aprendizado da pesquisa social é fonte d~.P()cle~)Sem perder de vista que esta união entre conhecimento e política se
la sabendo-se o que se faz. "14 faz, ainda, em meio ao embate travado com as origens teológicas do saber.
Não deixa de ser curioso notar, com Maria 3ylvia de Carvalho Franco, que a esse
movimento de dessacralização do conhecimento correspondeu a sacralização do tra-
balho!'. Foram veementemente contestados o exercício contemplativo, o ócio, as fes-
_ __ .•._--_.. _--------"
'OMÉTODO tas, as f.2!.JE<:l~_cl_e_()cupaç~ocl()_!e_J:!1.Q()ecoIl()l11icaJ:!1~p._!~!!lprodutiva.§\ ao mesmo tem-
po em que se cultuava a disciplina do corpo 3 do pensamento, a mecanização do /
truir uma representação adeqtl,~Aa,Aasques corpo pela t[ê~Té:~e;;-;destramento.damente..p.s.l.o método. A construção deste modo
.',',. .... .. ._- .,--' _. ".~ C"'''. "_,,..,,,
do no âmbito de um movimento cuja origem de pensar foi concomitante à ascensão burguesa e à constituição das bases jurídicas
valorizava a capacidade do pensamento ra- em que se assentou sua emergência como força política preponderante.
zão, seria possível aos homens não só conhe- Variadas formas de enfrentamento não irr.pediram que o Dezenove assistisse à
rmá-lo. Esse discernimento que associava- a consolidação do projeto burguês, I'Qlítiça eçiência_!.ecelJeIll enfimo r~coI1heciIl1eIlto
ivocar mudanças na vida social já significava gt;lleJ:.illizadQcomo.instrumentos capazes de p.omover o domínio da natureza e de
contemplativo. Representava, também, uma disciplinar._~hºIIleIlsàlógicadaJ)rodutividade e da acumulação. Estava, pois, defi-
; teocêntricas, propugnando a desvinculação nitivamente interiorizado nos homens o relógio moral desta outra dinâmica, como
istica para que ela pudesse se constituir no diria Edward Palmer Thompson",
ttodasacademias laicas trazia, portanto, ou- Auguste Comte, por sua vez, perseguindo a tarefa de delimitar o espaço da física
lo explicações para·;;-s-dra~as sociais na p;ó- social, estipulanasegunda lição do Curso de filosofia positiva" que o caminho da
H Franco, Maria Sylvia de Carva-
sem a interferência dos componentes extra- ciência leva à previsão e daí à ação, compondo a trilogia: sª.Qel, prever, agir. lho. Retórica e método. Consi-
Desde fintaol)~zoito,os "homens da ciência podem ser consid-~~;dos '~omo figu- derações sobre o "progresso da
ras poderosas e dominadoras, capazes de tudc entender e submeter às suas explica- ciência". Texto mimeografado,
os confiáveis para observar, para promover
novembro de 1980. Da mesma
r hipóteses e princípios. O desenvolvimento ções, com o concurso do método. No caso das ciências humanas, porém, um parado- autora, ver também a minuciosa
l das técnicas; postulava-se, afinal, uma ciên- xo se interpõe: afinal é do homem que se trata.1sto quer dizer que o homem se torna, reflexão so bre os fundamentos
iratica e que estivesse, a um só tempo, sintoni- ao mesmo tempo, suj~ito e objeto na investigação científica. da ciência e do liberalismo no
artigo: All the world was Ame-
)aumento da capacidade produtiva. Ordenar Alé~ disso, sendo o suj~ito .do conhecimsnto representado pela figura do ho- rica. Revista da U5P, n." 17: p.
iidade e diversidade, mensurar, decompor o mem-cientista, ele em tese pode tudo, mas, ao exercitar este poder, torna-se prisionei- 30-53, março-abril-maio de
mente a empreitada que se queria consolidar. ro de uma situação que, supostamente, é caplZ de controlar e, portanto, dominar. 1993.
Thompson, Edward Palmer.
Como assim? É que, ao submeter o real ao metodo_~ supondo-o neutro e eficiente
16
)? A resposta a esta questão põe em evidência Tradicion, reuuelta )' conciencia
rata-se de alguém com existência corpórea, para desvendar as tramas sociais em sua transparência plena e exata - o sujeito do de clase. Estudios sobre la crisis
ciadas, desejoso de fazer valer sua formação conhecimento é conduzido a olhar a sociedac.e como quem a vê de fora, de longe, de la sociedad preindustrial.
ostentando olímpica exterioridade. Neste empreendimento, recorta, disseca, decom- Trad. de E. Rodríguez. Barcelo-
ão só fosse capaz de dar explicações convin-
na: Crítica, 1979.
ais mas que, sobretudo, pudesse ser aplicado põe e manipula o real em partes, desejoso de melhor analisá-lo. Esta prática, aparen- 17 Comte, Auguste. Segunda lição.
temente rigorosa e acética, acaba por mutilar o universo soci<1I,.in10bilizando-o. O In: --o Curso de filosofia po-
ológico se torna recurso imprescindível para mundo social aparece.cºIlg~JªgS',_s~m<:ºI1.ttaciçºes,sem lutas, sem. enfrentamentos, sitiua. Trad. de J. A. Giannotti.
São Paulo: Abril Cultural, 1973,
. intervenções modificadoras da sociedade, as sem paradoxos. É amortificaçâodo objeto. Os homens transformam-se em objetos p. 29. (Coleção "Os Pensado-
.ram: a produção do saber se consagra como inertes, tal qual cadáveres, prontos para o exercício científico da anatomia, nas mãos res" )
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\ ~ CA.\IINHOS DE CDNSTRUÇAo DA PESQUISA Dl CIÊNCIAS SOCIAIS
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do médico legista ou do patologista. "A bem dizer" - esclarece Claude Lefort - "a
humanas, uma possibilidade fértil pode ju
ilusão começa quando imaginamos que de um lado há os fatos e de outro a teoria e
relações entre sujeito e objeto do conhecin
quando dissimulamos a posição em razão da qual esta divisão aparece. Somos então
Marilena Chauf", pela recusa do autorita
forçados a descrever o movimento do conhecimento como se nele não tomássemos
pela relativização da figura soberana do 51
parte e fixar sua origem de um lado ou do outro.v" métodos evidenciam.
O estudo de metodologia em ciências humanas necessitaria ser cuidadoso e zelar
para que homens concretos, sujeitos e objetos de suas indagações, não fossem mutila-
dos ou, então, não se tornassem objetos mortos nas mãos de cientistas dispostos a
fazer da ciência outro poderoso instrumento de dominação. Lucien Febvre se dedicou
PASSEIO DA ALMA NA ESTEIRA DEIX
à questão, que está na base da construção do saber: "O que vós chamais fatos? Que
colocaríeis por trás desta pequenina palavra 'fato'? Pensaisqueosfat?ss~??~.~?sà A mesma autora nos lembra, retoman
história como realidades substanciais, que o tempo enterrou mais ou menos profun-
ver um passeio daalma'' . Como aqui se tra
damente e que se trata tão simples~ente de desterrar, de limpar e de apresentar em
metod()ló.g.i~~~, fundamentando-se na lein
bela estampa a vossos contemporâneos? Ou então retornais à vossa conta a palavra
associaçõespossíveis, dialogando com auto
de Berthelot, exaltando a química no dia seguinte ao de seus primeiros triunfos - a
- prossegue ela, em outra formulação -
química, sua química, (i única entre todas as ciências, dizia ele orgulhosam~nte, que
pelo pensamento do outro. Ler é retomar,
fabrica~s~llo~j~!~:~~ que Berthelot se enganou. Por~ue todas as ciências fabricam paraotrélDéllho de nossapr§pri<lrefl~EªO.
seu objeto"19.
.. Supõe ~lt~~pa;sar ~uitas práticas e~'i
···.É..p(;~ível promover uma ruptura com estas práticas dominadoras? Sim e não,
sem se importar em distinguir ~s-p~c~ü~~i
poderíamos dizer. Se a idéia de ciência social estiver muito vinculada àquela prove-
iflt.e..:t:ess~ segundo a conveniência do (rnuii
niente das ciências dos fenômenos naturais, haverá nítida discordância com estas
mentária, sem recompor o encadeamento d
colocações. Se, ao contrário, o objetivo é ajustar as possibilidades explicativas das
pensar; ler um texto usando lentes e refere]
ciências humanas aos limites da peculiaridade que existe em se ter, simultaneamente,
Longe disso, ler implica identificar os
o homem como sujeito e objeto, a resposta se encaminharia para uma ruptura. Mes-
tões estudadas. A boa colheita na leitura, I
mo assim, resta contudo a indagação: como promovê-la?
escolher adequadamente os sentidos origin
Vários caminhos são possíveis. Um deles está em estudar e refletir acerca das
"A palavra que ell!elº (lego: colho) na
"- i II1 plic;içÕes dos fundamentos teórico-metodológicos que empregamos e assumimos livro desafia-me como a pergunta da Esfiru
ISLefort, Claude. O nascimento da
pa.r;;! nós como adequados e convenientes. O leque de possibilidades é variado: passa
o enigma é sempre o mesmo: O..q11.e eu qUI
ideologia e do humanismo. In: pela~fontes e as ciladas que escondem para um entendimento que supere as aparên- escrito. Mas, interpretar é eleger(ex-legere
- , As formas da história. En- cias e penetre nas entranhas dos reais interesses em jogo, nas ações dos sujeitos inter-
saios de antropologia política. mânticas, apenas aquelas que se movem no
locutores numa dada época; pelo processo de produção do conhecimento, ou seja quer dizer?"23
Trad., de L. R. S. Fortes e M.
Chauí. São Paulo: Brasiliense, pela transformação dos dados, com a mediaJ_~o..~: ..~?~ceit?s!em inte~pr~~~~?_~~ ..~: . ParaTnterpretar, respeitando aquilo qu
1979, p. 256. umdeterminado tema social; pelo âmbito, quer dizer, pela abrangência que se postula
19 Febvre, Lucien. Combats pour
tante decifrar o enigma do texto: o que diz c
para a pesquisa; além, airicG, da reflexão em torno das relações entresujeito e objeto
l'histoire. 2.'"'' ed. Paris:Armand o faz deste modo. Esse é um exercício que r
Colin, 1965, p. 115-6. (Tradu- do conhecimento e as decorrências aí implícitas.
Supõe uma mentalidade alargada, como dir
ção feita por mim, PSO.) Tendo em vista que nosso direcionamento é refletir no horizonte das ciências
ender as diferenças ent~~~~te;~~ aquele au
24 PAULO DE SALLES OLIVEIRA
O.\IINHOS C
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"A bem dizer" - esclarece Claude Lefort - "a humanas, uma possibilidade fértil pode justamente ser esta, a reavaliação crítica das
que de um lado há os fatos e de outro a teoria e relações entre sujeito e objeto do conhecimento. Esse trilhar se inicia, segundo indica
razão da qual esta divisão a]?arece. Somos então Marilena Chauf", pela recusa do autoritarismo da verdade, ou, em outras palavras
:lo conhecimento como se nele não tomássemos pelarelativização da figura soberanado sujeito do conhecimento, que determinados
ou do outro.Y" métodos evidenciam.
ncias humanas necessitaria ser cuidadoso e zelar
e objetos de suas indagações, não fossem mutila-
jetos mortos nas mãos de cientistas dispostos a
umento de dominação. Lucien Febvre se dedicou PASSEIO DA ALMA NA ESTEIRA DEIXADA PELOS OUTROS
rução do saber: "O que vós chamais fatos? Que
palavra 'fato'? Pensais que os fatos são dados à A mesma autora nos lembra, retomando os gregos antigos, que pensar é promo-
~~, que o tempo enterrou mais ou menos profun- ver um passeio da almtr' . Como aqui se trata de estudar diferentesprºpºstasJeºrjço~
lente de desterrar, de limpar e de apresentar em metodológicas, fundamentando-se na leitura, intelecção, discussão e elaboração de
eos? Ou então retomais à vossa conta a palavra associ~çÕ~~p~s~íveis, dialogando com autores consagrados, ler é.o...p~ss::>_i~~~~l.".~~.r."~
) dia seguinte ao de seus primeiros triunfos - a _ prossegue ela, em outra formulação - "é aprender a pensar na esteira deixada
todas as ciências, dizia ele orgulhosamente, que pelo pensamento do outro. Ler é retomar a reflexã-ü'de outrem como matéria-prima
t se enganou. Porque todas as ciências fabricam par-ã·o-trãbafhodenos~aprÓpria_refl~x~o."22 .
. Supõe-~ít~~p-~~~~~ muitas práticasenviesadas, tais como: l.er de~g_~()~xt~J:jº.L t9 c..,:,' l .
ra com estas práticas dominadoras? Sim e não, sem se importar em distinguir as peculiaridades do texto em SI; ler pinçando o que. I f- J.!:;.
:ia social estiver muito vinculada àquela prove- interessa, segundo a conveniência do (muito descuidado) leitor; ler de maneira fra_g~
naturais, haverá nítida discordância com estas mentária, sem recompor o encadeamento das idéias pelas quais um autor constrói seu
tivo é ajustar as possibilidades explicativas das pensar; ler um texto usando lentes e referenciaisestranhos ao aut<:>f..queo concebeu.
Lonze disso ler implica identificar. os significados 20 Chauí, Marilena. Cultura e de-
iliaridade que existe em se ter, simultaneamente, /:)' _ -. . -.que o autor confere às ques- mocracia. à discurso competen-
sposta se encaminharia para uma ruptura. Mes- tões estudadas. A boa colheita na Téitura, explica Alfredo Bosi, está em distinguir e te e outras falas. 5.' ed. São Pau-
): como promovê-la? escolher adequadamente os sentidos originalmente propostos. lo: Cortez, 1990, p. 3-13.
Um deles está em estudar e refletir acerca das "A palavra que ~llJejº_ (lego: colho) na sua ingrata renitência sobre a página do 21 Chauí, Marilena. Convite à fi-
m para um entendimento que supere as aparên- escrito. Mas, interpretar é eleger (ex-Iegere: escolher), na messe de possibilidades se- da memória. In: Bo~, Ecléa. Me-
mória e sociedade. Lembranças
; interesses em jogo, nas ações dos sujeitos inter- mânticas, apenas aquelas q~e se movem no encalço da qll~st_ã.2_~Ell<:ial: o qllec)!(':?\.ts>
de velhos. 3.' ed. São Paulo:
'acesso de produção do conhecimento, ou seja quer dizer? "23 Companhia das Letras, 1994, p.
a mediação de conceitos, em interpretações de -raia' interpretar, respeitando aquilo que um autor quis realmente dizer, é impor- 2I.
ibito, quer dliêr;peIa abrangência quesepost~ra tante decifrar o enigma do texto: o que diz o autor e, metodologicamente, por que ele 23 Bosi, Alfredo. A interpretação
da obra literária. In: - . Céu,
.xão em torno das relações entre sujeito e objeto o faz deste modo. Esse é um exercício que requer mais que paciência e perseverança. inferno. Ensaios de crítica lite-
í implícitas. Supõe uma mentalidadealargada, como diria Hannah Asendt, capaz não só de apre- rária e ideológica. São Paulo:
:ionamento é refletir no horizonte das ciências ender as diferenças entre ~st~--ou aquele autor, mas de saber admirar um texto bem Ática, 1988, p. 274 e 275.