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O Educador ORAÇÃO DO EDUCADOR

AGOSTINIANO
O educador agostiniano crê no homem
e em suas possibilidades, considera-
se mediador e, a partir de uma perspectiva Ensinai-me, Senhor, único Mestre,
alegre, humana e compreensiva, suscita o que tenho que ensinar e o que ainda tenho que
o diálogo que encaminha o aluno ao aprender.
conhecimento e à verdade. Baseia sua
missão na crença absoluta de que o amor Ensinai-me a arte de escutar,
potencializa o conhecimento e de que o mais excepcional do que as palavras eloquentes.
conhecimento potencializa o amor. Ensinai-me o itinerário da viagem rumo à
interioridade do meu ser,
onde eu possa escutar a sedução da vossa voz. Não é, por certo, a
O Aluno verdade que atinge
a si mesma por meio
O aluno agostiniano ama a verdade e, por Que eu saiba ser paciente e esperar,
de raciocínio, mas
isso, busca-a, a partir da inquietude reconhecendo que minha missão é cultivar, ela própria é o que
e da liberdade responsável. Humilde e enquanto a vossa, é dar o crescimento. apetecem os que
Que eu não perca a capacidade de admiração, raciocinam.
receptivo, mas dialogante e participativo, (A verdadeira
começa seu caminho no conhecimento de nem a paixão por apresentá-la a crianças e religião 39, 72)
si mesmo para dirigir sua vida com sentido jovens.
transcendente. Que meu coração não seja uma praça vazia,
um território privado e egoísta,
mas o recanto ensolarado,
O Ambiente onde possam sentir-se à vontade
os que têm fome de amizade e de afeto.

O ambiente agostiniano da aprendizagem


propicia um clima de segurança
e confiança, que favorece as relações
Que buscando, eu aprenda; esperando, ame;
e conhecendo-me, eu vos conheça.
interpessoais, é edificante e fomenta o Que vossa iluminação me ajude a descobrir
engajamento de toda a comunidade a luz da verdade.
educativa. Centra-se num processo Que meu coração se inquiete por vosso amor e
formativo baseado na amizade, na tema, antes de tudo, ofender-vos.
participação, na flexibilidade e no Peço-vos, enfim, Senhor, que leveis à perfeição em
equilíbrio humano e material, através mim, o que em mim começastes sem mim.
de uma “ecologia educativa” necessária,
discreta e responsável. Amém.

ASSIM SOMOS, ASSIM QUEREMOS SER


Nossa escola, crisol de potencialidades e de amor
BA S E S P E DA G Ó G ICA S A G O S TINIANA S
PEDAGOGIA AGOSTINIANA PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
A pedagogia agostiniana baseia-se num pro- Partir das necessidades reais do aluno, Desenvolvimento de técnicas didáticas
cesso integral (espiritual, intelectual, moral e estabelecendo contato com suas aspi- voltadas a despertar o interesse ante os
da vontade), encaminhado a fazer emergir e rações e inquietudes mais profundas, próprios deveres, e fomentar o diálogo
a dinamizar, por meio da força cognitiva do desenvolvendo uma aprendizagem re- numa fluida relação entre educador e aluno.
amor, todas as potencialidades latentes no flexiva e uma escuta ativa.
aluno. Fomento da autonomia pessoal na aprendi-
Transformar o aluno em protagonista de seu zagem, em sintonia com o educador, que se
processo de ensino e aprendizagem, respei- torna impulsionador, facilitador e media-
tando e estimulando suas singularidades e dor do entusiasmo.
adaptando-se a seu ritmo evolutivo.
Adequação do processo de ensino e
Estabelecer a interioridade como um aprendizagem às capacidades indivi-
eixo fundamental para desenvolver a ca- duais de todos e cada um dos alunos,
pacidade de reflexão, enfatizando o posi- com atenção à sua diversidade e visando
tivo e procurando superar o que for negativo. desenvolver sua própria personalidade.
Fomentar um modelo baseado em aprender Estabelecimento do amor, da alegria, do en-
a escutar e a interrogar, estabelecendo uma tusiasmo e da proximidade como elementos
conexão entre o interior e a realidade exte- dinamizadores de um ensino positivo e efi-
rior, a fim de modelá-la, interagir com ela e ciente.
transformá-la.
Criação de um ambiente cooperativo
de aprendizagem, com um alto nível de
compromisso interpessoal, que impulsio-
ne as expectativas do aluno e do educador.
Não é, por certo, a
verdade que atinge a
si mesma por meio de
raciocínio,
mas ela própria é o
que apetecem os que
raciocinam.
(A verdadeira
religião 39, 72)

ASSIM SOMOS,
ASSIM
QUEREMOS SER
Nossa escola, crisol de
potencialidades e de amor
Indice
A. PEDAGOGIA AGOSTINIANA 5

B. PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS 9

1. Partir das necessidades reais do aluno, estabelecendo contato com


suas aspirações e inquietudes mais profundas, desenvolvendo uma
aprendizagem reflexiva e uma escuta ativa. 11
2. Transformar o aluno em protagonista de seu processo de ensino e
aprendizagem, respeitando e estimulando suas singularidades e
adaptando-se a seu ritmo evolutivo. 11
3. Estabelecer a interioridade como um eixo fundamental para
desenvolver a capacidade de reflexão, enfatizando o positivo e
procurando superar o que for negativo. 12
4. Fomentar um modelo baseado em aprender a escutar e a interrogar,
estabelecendo uma conexão entre o interior e a realidade exterior, a
fim de modelá-la, interagir com ela e transformá-la. 13

C. PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS 15

1. Desenvolvimento de técnicas didáticas voltadas a despertar o interesse


ante os próprios deveres, e fomentar o diálogo numa fluida relação
entre educador e aluno. 17
2. Fomento da autonomia pessoal na aprendizagem, em sintonia com
o educador, que se torna impulsionador, facilitador e mediador do
entusiasmo. 18
3. Adequação do processo de ensino e aprendizagem às capacidades
individuais de todos e cada um dos alunos, com atenção à sua
diversidade e visando desenvolver sua própria personalidade. 20
4. Estabelecimento do amor, da alegria, do entusiasmo e da proximidade
como elementos dinamizadores de um ensino positivo e eficiente. 21
5. Criação de um ambiente cooperativo de aprendizagem, com um alto
nível de compromisso interpessoal, que impulsione as expectativas do
aluno e do educador. 22

D. OS AGENTES NA EDUCAÇÃO 25

1. O educador. 27
2. O aluno. 29
3. O ambiente. 32
Autores: Teresita Legarra Lopetegui.
Maribel Martín Molina.
Pedro Benavides Ruiz.
Edita: Secretariado general de apostolado educativo y pastoral juvenil.
Orden de Agustinos Recoletos.
Diseño: Taller de Diseño Gráfico y Publicaciones. Granada.
Impresión: TADIGRA. Granada.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 5

A. Pedagogia Agostiniana

pedagogia Agostiniana baseia-se num processo integral (espiri-


A tual, intelectual, moral e da vontade), encaminhado a fazer emergir
e a dinamizar, por meio da força cognitiva do amor, todas as potencia-
lidades latentes no aluno.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 7

Esta pedagogia não é um processo desinteressado com um fim Implica uma


em si mesmo. É um processo que implica uma responsabilidade responsabilidade para com
a vida.
para com a vida. Daí a amplitude de seu alcance e de seus ob-
jetivos.

Este processo desenvolve-se numa dimensão espiritual, ao aju- Ajuda a encontrar a


dar a encontrar «a verdade eterna, onde o bom e único Mestre ensi- verdade, onde o
único Mestre ensina
na a todos os Seus discípulos» (Confissões 11, 8, 10).

Desenvolve-se numa dimensão intelectual, ao levar, em primei- Leva ao conhecimento das


ra instância, ao conhecimento das coisas, para, depois, chegar ao coisas e ao conhecimento
de Deus
conhecimento de Deus.

Desenvolve-se numa dimensão moral, ao orientar o homem a Orienta a uma conduta


uma conduta exemplar, que vai além de meras palavras ou de exemplar
intenções.

Desenvolve-se numa dimensão da vontade ao reorientá-la, já Reorienta as vontades


que o saber não é suficiente para tornar-se melhor, para desejar
ou amar a Deus.

A pedagogia agostiniana encontra no amor o principal motor O amor como principal motor
de seu desenvolvimento. O amor arrasta e potencializa a ativi- de desenvolvimento
dade de conhecer, dá sentido e dinamiza, ao mesmo tempo, a
busca empreendida pelo homem, a saber, a de aproximar-se do
amor de Deus.

A pedagogia agostiniana encontra seu âmbito de atuação no Aperfeiçoa a natureza


fato de que a natureza humana pode aperfeiçoar-se e de que a humana, faz aflorar as
potencialidades
alma contém em si infinitas potencialidades que pode fazer aflo-
rar.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 9

B. Princípios Pedagógicos

1vaPartir das necessidades reais do aluno, estabelecendo contato com suas aspi-
rações e inquietudes mais profundas, desenvolvendo uma aprendizagem reflexi-
e uma escuta ativa.

2do-seTransformar o aluno em protagonista de seu processo de ensino e


aprendizagem, respeitando e estimulando suas singularidades e adaptan-
a seu ritmo evolutivo.

3forEstabelecer a interioridade como um eixo fundamental para desenvolver


a capacidade de reflexão, enfatizando o positivo e procurando superar o que
negativo.
Fomentar um modelo baseado em aprender a escutar e a interrogar,
4 estabelecendo uma conexão entre o interior e a realidade exterior, a fim
de modelá-la, interagir com ela e transformá-la.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 11

1. Partir das necessidades reais do Esta aprendizagem baseia-se na escuta ati-


aluno, estabelecendo contato com va que o aluno pratica, ao prestar atenção
suas aspirações e inquietudes mais no que lhe diz o seu educador e ao dialogar
profundas, desenvolvendo uma com ele, a fim de assegurar que a mensagem
aprendizagem reflexiva e uma es- foi corretamente recebida. Santo Agostinho
cuta ativa. busca na educação uma colaboração mútua
entre educador e aluno.
Ainda que a todos se deva a mesma
caridade, não a todos se há de oferecer o 2. Transformar o aluno em protago-
mesmo medicamento nista de seu processo de ensino
(A catequese aos principiantes 15, 23). e aprendizagem, respeitando e
estimulando suas singularidades e
Em educação, é fundamental o reconhe-
adaptando-se a seu ritmo evoluti-
cimento do aluno como pessoa, situá-lo em
vo.
suas circunstâncias de família, série, grupo
etc., uma educação que não ignore a singu-
laridade de cada pessoa com seu nome e sua Quando à criança se dá alimento de acordo
história própria. O aluno é o sujeito e o au- com suas possibilidades, à medida que cresce
tor de sua educação. se torna mais capaz; quando, porém, se lhe
dá mais do que pode receber, em lugar de
1.1. Necessidades reais crescer, míngua
A ação educativa gravita sobre o aluno e (A Cidade de Deus 12, 15, 3).
se há de ajustar a seu perfil e a suas necessi-
dades concretas. Entram aqui as notas dife-
renciais da cultura, do momento evolutivo e A educação, para Santo Agostinho, im-
do ambiente familiar e social que acompan- plica a presença de um aluno que apresenta
ham e singularizam a cada pessoa. traços concretos, uma personalidade e carac-
terísticas singulares. Será, pois, fundamental
1.2. As inquietudes mais profundas aprender a situar-se ante o público que real-
A finalidade da educação para Santo mente temos, isto é, crianças e jovens reais.
Agostinho é despertar o “homem interior”
nos alunos, quando são estimulados e neles 2.1. O aluno como protagonista
se provocam o interesse e a curiosidade cog- Protagonista é a personagem principal
noscitiva. da ação. Numa perspectiva agostiniana, o
aluno é o protagonista da ação educativa, a
1.3. Aprendizagem reflexiva/escuta ativa pessoa que nela desempenha o papel prin-
A aprendizagem reflexiva busca desen- cipal. Não há mais que um protagonista na
volver no aluno a capacidade do diálogo in- educação: o aluno. Cabe aos educadores o
terno para entender e assimilar os conceitos papel de atores coadjuvantes.
que se recebem dentro e fora de aula. O alu-
no adquire, assim, o papel protagonista em
sua própria educação.
12 Bases Pedagógicas Agostinianas

2.2. As singularidades e o ritmo evolutivo 3. Estabelecer a interioridade como


do alunato um eixo fundamental para desen-
volver a capacidade de reflexão,
A pedagogia agostiniana considera as di- enfatizando o positivo e procuran-
versas capacidades e idiossincrasias do alu- do superar o que for negativo.
no. Trata-se de um ensino que se adapta às
condições psicológicas, culturais e sociais
Não te dirijas para fora, volta para
de cada um para individualizar o processo
dentro de ti mesmo, porque a verdade
de ensino e aprendizagem. Este processo de habita no homem interior. E se te deparas
adaptação implica claramente uma pedago- com que tua natureza está sujeita a
gia não abstrata, mas concreta, porque, para mudanças, transcende-te a ti mesmo. Ao
Santo Agostinho, tudo o que não for uma transcender-te, não te esqueças, porém,
educação que contempla a singularidade de de que te elevas sobre a tua alma que
cada aluno será como que uma mensagem raciocina
sem destinatário. (A verdadeira religião 39, 72).

É especialmente importante para a pe-


dagogia agostiniana, a consideração dos Encontramo-nos ante o valor central
diversos ritmos evolutivos do aluno. Os da pedagogia agostiniana. O ser humano
alunos são seres humanos que evoluem e que volta para dentro de si mesmo é capaz
se fazem a si mesmos de forma diferente, de conhecer e de conhecer-se. A janela dos
com a originalidade própria de cada um de- sentidos só permite que nos debrucemos
les, com seus dons e limitações. Para Santo ante o mundo exterior. Podemos conhecer
Agostinho, a educação flexível, adaptada e, o mundo que nos rodeia e ficar sem saber
sobretudo, diversificada é a única resposta coisa alguma a respeito de nós mesmos. O
ante um ambiente educativo variado. O ser humano sem interioridade é, por isso,
próprio Santo Agostinho não era partidário um ser sem identidade. A interioridade é o
de dar a mesma lição a todos os alunos, e lugar das grandes perguntas e das grandes
muito menos de elaborar modelos de lições certezas e convicções.
que se repetem, ano após ano, sem qual-
3.1. A Interioridade como eixo para de-
quer mudança.
senvolver a capacidade de reflexão

O caminho agostiniano da interiorida-


de caracteriza-se por três momentos: não
dirigir-se para fora de si mesmo, voltar ao
coração e transcender-se.

Não te dirijas para fora significa não


renunciar a ser quem se é, apesar das dis-
trações exteriores. A interioridade é a ca-
Conhecer a Verdade, viver na verdade 13

pacidade de reconhecer e de julgar, a partir 4. Fomentar um modelo baseado em


de si mesmo, os sentimentos interiores e as aprender a escutar e a interrogar,
situações exteriores que se vivem. A interio- estabelecendo uma conexão entre
ridade assim entendida não desconecta o o interior e a realidade exterior, a
indivíduo das situações em que se encontra fim de modelá-la, interagir com ela
imerso, mas aprofunda a perfeição destas, ao e transformá-la.
tornar-se ele capaz de compreender como
cada uma delas afeta a sua própria vida, a
vida dos demais e o mundo. É buscar um Não há método melhor de procura da
tempo para estar consigo mesmo, para falar verdade do que proceder por perguntas e
consigo, sem esquecer que somos a tarefa e o respostas
projeto mais importante. (Solilóquios 2, 7, 14).

Entra no coração, volta para dentro de A pedagogia do diálogo baseia-se na


ti mesmo é um convite à reflexão sossega- maiêutica socrática, segundo a qual “educar”
da, ao encontro com a verdade de si mes- quer dizer “conduzir para fora”. Agostinho
mo, a convocatória do coração. É na inte- assumiu a perspectiva de Sócrates, de
ajudar a dar à luz a verdade que o homem
rioridade que o ser humano julga, procura,
leva dentro de si. Para isso, apresenta o
decide seu próprio destino. O coração é o diálogo como ferramenta pedagógica para
lugar do afeto, mas também da inteligência a aprendizagem, ciente de que a verdade é
e do talento. buscada e construída através da discussão e
por meio do uso de perguntas.
Transcende-te a ti mesmo. Transcen-
der-se é empenhar-se na construção de 4.1. Aprender a escutar e a interrogar
quem ainda não somos, é um caminho de O aluno é um ser ativo, que ouve, que
superação. O ser humano aprende por si escuta. Para a pedagogia agostiniana, é vital
mesmo, olhando para a própria interiori- o jogo das perguntas, na dinâmica que se es-
dade e ajudado pelo educador. O fato de tabelece entre o aluno e o educador. Corres-
que o educador, numa perspectiva agos- ponde ao educador a capacidade de entregar
tiniana, tenha o papel de “parteira”, con- a cada estudante uma espécie de fio condu-
verte a docência no parto da verdade que tor e de acompanhá-lo de tal maneira que,
cada um descobre em seu interior. A meta no processo educativo, o discípulo possa
da educação é, pois, despertar pessoas. descobrir o que já está no seu interior e cap-
Uma pessoa é suscitada por um chama- tar, assim, o que estiver a seu alcance, prin-
mento, e não fabricada por domestica- cipalmente no tocante ao descobrimento de
ção. O ser humano atinge sua maturidade si mesmo e à trama de relações que pode es-
quando dialoga consigo mesmo e formula tabelecer. Para que essa dinâmica seja eficaz,
em seu interior a pergunta pelo sentido da é importante aprender a dialogar, uma vez
própria existência, uma pergunta que só que o diálogo, no quadro desta pedagogia,
tem resposta no encontro último com o desponta como o grande protagonista da
verdadeiro Mestre, Deus. aprendizagem humana e da convivência.
14 Bases Pedagógicas Agostinianas

A interação entre o educador e o aluno é doras”. Trata-se daquelas reflexões interiores


entendida como aquela ajuda que um ho- que devem levar a que os alunos vejam e en-
mem pode prestar a outro em seu caminho tendam as conexões entre os diversos meca-
rumo à verdade. nismos que integram a aprendizagem, bem
como o vínculo entre os conhecimentos que
4.2. Estabelecer uma conexão com a rea- vão adquirindo e a vida que os rodeia.
lidade exterior para modelá-la, intera-
gir com ela e transformá-la As relações no âmbito educativo devem
conectar-se com o seu tempo. Segundo San-
Os alunos interiorizam tudo o que ob- to Agostinho, «os tempos somos nós: con-
servam e escutam. A pedagogia agostiniana forme nós sejamos, assim serão os tempos»
contempla um método reflexivo de comuni- (Sermão 80, 8). Essa afirmação equivale a
cação, baseado na escuta ativa, por parte dos dizer que os alunos estão vinculados a uma
alunos, com respeito aos conteúdos que rece- cultura, a uma paisagem geográfica e hu-
bem dos educadores no desenvolvimento das mana. Por conseguinte, numa perspectiva
matérias. Nessa escuta ativa, o ouvinte presta agostiniana, sua tarefa implica interagir com
atenção na pessoa que fala (o educador) e dia- essa realidade para transformá-la positiva-
loga ativamente com ela, de maneira que o mente, a partir de uma atitude de esperan-
próprio educador possa conhecer a forma em ça. Numa sociedade dinâmica e submetida
que sua mensagem foi captada. a mudanças aceleradas, o âmbito educativo
centra seu trabalho na capacidade crítica
Neste processo de comunicação, à medi- de adaptação e de seleção ante a realidade
da que a aprendizagem é cada vez mais inte- circundante, a fim de evitar o desajuste do
riorizada, avança-se um passo. Santo Agos- mundo pessoal do aluno com a vida, com a
tinho fala-nos das “experiências transforma- realidade exterior.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 15

C. Princípios Metodológicos

Desenvolvimento de técnicas didáticas voltadas a despertar o interes-


1educador
se ante os próprios deveres, e fomentar o diálogo numa fluida relação entre
e aluno.
Fomento da autonomia pessoal na aprendizagem, em sintonia com o edu-
2 cador, que se torna impulsionador, facilitador e mediador do entusiasmo.
Adequação do processo de ensino e aprendizagem às capacidades individu-
3desenvolver
ais de todos e cada um dos alunos, com atenção à sua diversidade e visando
sua própria personalidade.

4Estabelecimento do amor, da alegria, do entusiasmo e da proximidade


como elementos dinamizadores de um ensino positivo e eficiente.
Criação de um ambiente cooperativo de aprendizagem, com um alto
5nível de compromisso interpessoal, que impulsione as expectativas do
aluno e do educador.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 17

1. Desenvolvimento de técnicas didáticas voltadas a


despertar o interesse ante os próprios deveres, e
fomentar o diálogo numa fluida relação entre edu-
cador e aluno.
1.1. Despertar o interesse ante os próprios deveres
Na obra “A catequese aos principiantes” (De catechizandis rudi- Evitando instalar-se na
bus), Santo Agostinho anima o seu discípulo Deográcias a que repetição
procure suscitar o interesse e a atenção de seus alunos. O que
ele aconselhava não era tanto a participação ativa do alunato, Mudando a linguagem
mas a destreza didática do educador para suscitar o gosto pela
matéria ensinada. Santo Agostinho pedia então que o mestre não Renovando a disposição
se instalasse na repetição, mas que se renovasse, na linguagem e interior com relação ao que
deve comunicar
na disposição interior, com relação ao que devia comunicar aos
alunos.
Trata-se, pois, de um processo de ensino e aprendizagem mar- Estimulando as
cadamente estimulante, em que o estímulo tem um papel mais potencialidades interiores de
cada um
importante do que a imposição e leva à execução das tarefas de
uma forma livre e voluntária. Esse estímulo será o que despertará
as potencialidades interiores do aluno.
Para Santo Agostinho, um dos postulados que devem estar Fomentando o livre desejo
presentes no processo de ensino e aprendizagem não é tanto a de conhecer em vez da
necessidade
realização de tarefas acadêmicas por obrigação, mas como re-
sultado de um interesse que o educador despertou no aluno. É
mais importante a libera curiositas do que a meticulosa necessitas,
ou seja, é mais importante o livre desejo de conhecer do que a
tímida necessidade. É assim como devemos entender o conceito
de educação (educere, tirar de).

1.2. Fomentar a relação fluida e o diálogo


Na educação, não se acha, diante do educador, um objeto que Reconhecendo a igualdade
entre educador e aluno
ele possa manipular segundo o próprio capricho, mas uma pes-
soa que, substancialmente, é da mesma categoria que ele e a
quem ele deve infinita consideração. Essa ideia de igualdade em
sala de aula estabelece um espaço idôneo para uma comunicação
bidirecional direta. Do ponto de vista agostiniano, portanto, já Potencializando a relação
interpessoal e o diálogo
que o aluno e o educador partilham tempos, espaços e buscas, há
de estabelecer-se entre eles uma relação interpessoal fluida que
ajude a conquista de valores.
18 Bases Pedagógicas Agostinianas

O processo que se estabelece entre aluno e educador é de tal


natureza, que ambas as partes saem mutuamente enriquecidas e
tornam realidade o princípio docendo discitur (ensinando, apren- Ensinando, aprende-se
de-se). Educador não é apenas quem educa, mas quem, enquan-
to educa, é educado através do diálogo com o aluno, que, ao ser
educado, também educa. Ambos são sujeitos de um processo Evitando a autoridade
em que crescem juntos e em que já não regem os argumentos
de autoridade.

É necessário o fomento do diálogo: «Não há método melhor de Acolhendo carinhosamente


procura da verdade do que proceder por perguntas e respostas» (Soli- as inquietudes e os
questionamentos do aluno
lóquios 2, 7, 14), pois, nesse processo, o aluno encontra respostas
às perguntas que lhe são propostas, com uma acolhida cálida por Promovendo a reflexão
parte do educador às suas próprias perguntas e inquietudes. O
educador não impõe seus conhecimentos e critérios ao aluno, Acompanhando na
mas o estimula e acompanha para que encontre respostas a seus busca das respostas,
questionamentos. e da verdade

2. Fomento da autonomia pessoal na aprendizagem,


em sintonia com o educador, que se torna impulsio-
nador, facilitador e mediador do entusiasmo.

2.1. Fomento da autonomia pessoal


Uma das principais funções do educador agostiniano é ajudar Ajudando a dar à luz o
a trazer à luz do dia e a atualizar as potencialidades ocultas do conhecimento
aluno. “Ajudar”, porque o sujeito e principal agente e construtor
da aprendizagem significativa, aquele que realmente faz vir à luz
essas capacidades, é o próprio aluno. O educador ajuda. O aluno Construindo a aprendizagem
é quem dá à luz o conhecimento que lhe é próprio ou inato. De
tudo isso, deduz-se a importância que tem o fomento da auto- Vivendo o próprio processo
nomia pessoal no âmbito educativo, numa perspectiva agosti- educativo
niana. O aluno assume o protagonismo de sua própria educação.
Com frequência, os alunos não vivem seu próprio processo edu- Assumindo o protagonismo
cativo, mas simplesmente o aguentam, porque não conseguem de sua educação
superar a sensação de que algo lhes está sendo imposto de fora,
algo que está à margem de seus interesses reais e sentidos. Isso se
deve a que se faz ausente, no processo de ensino e aprendizagem,
Requerendo as forças
o requerimento das forças interiores do aluno para dar à luz o interiores para dar à luz o
conhecimento. conhecimento
Conhecer a Verdade, viver na verdade 19

O fomento da autonomia pessoal e o consequente alcance pro- Transmitindo que a


aprendizagem está em
gressivo do conhecimento não podem estar isentos das obriga- relação com os interesses e
ções e dos controles que garantem o trabalho individual do alu- sentidos
no na busca desse conhecimento.

Alcançar a autonomia do aluno é um dos primeiros objetivos Instando à consecução


do educador. Na medida em que esse objetivo vai sendo atingi- individual do conhecimento
do, o educador deve saber posicionar-se na segunda fila, assu-
mindo o papel de acompanhante e permitindo que o aluno abra Acompanhando o processo
caminho por si só.

2.2. O educador como impulsionador, facilitador e media-


dor do entusiasmo

A ação do educador deve basear-se numa função de admoestar, Admoestando, estimulando,


de estimular, de inflamar (cfr. O Mestre 14, 46). inflamando

Como a educação é um processo interior pessoal, o educador Apresentando-se como guia


é um guia que orienta, a fim de que se dê a transformação em
cada aluno. Com efeito, aprender é algo pessoal, conquanto pro-
movido pelo intercâmbio de sinais e palavras entre educador e
Provocando o retorno a seu
aluno. O trabalho do educador é animar e provocar o retorno do próprio centro
discípulo a seu próprio centro interior, uma vez que a educação
tem como finalidade a busca e a conquista da verdade, para além Promovendo ideais
da mera transmissão de conhecimentos. O educador transmite e atitudes
formação e sabedoria, promove ideais e atitudes, consciente de
que sua melhor lição é o bom exemplo, e de que sua missão é Agindo por meio do exemplo
pessoal e personalizada, e visa a um sadio equilíbrio que permi-
Apresentando a educação
te entender a própria educação como projeto e como processo. como projeto e processo
É um mediador da aprendizagem, ou seja, alguém que tem a
necessária perícia para guiar o aluno às suas mais profundas e Estabelecendo-se como
significativas possibilidades. mediador da aprendizagem

O educador deve facilitar a passagem da luz da verdade, para Facilitando a passagem da


que a própria verdade seja descoberta pelo aluno e ilumine a sua luz para que se descubra a
alma, de modo a deixar que aflorem as suas capacidades. verdade
20 Bases Pedagógicas Agostinianas

3. Adequação do processo de ensino e aprendizagem


às capacidades individuais de todos e cada um dos
alunos, com atenção à sua diversidade e visando de-
senvolver sua própria personalidade.

O processo de ensino e aprendizagem em perspectiva agosti- O ensino como prática não


niana não se apresenta como algo abstrato, mas como uma prá- abstrata
tica concreta e personalizada, que tende a superar o conceito de
grupo, buscando as qualidades e as possibilidades de cada aluno O ensino como prática
individualizada
e fazendo-o, assim, mais eficiente.

Durante a aula, partimos sempre da influência mútua que se O ensino como influência
origina entre o educador e os alunos que o escutam. Isso dá mútua entre educador e aluno
lugar a situações as mais variadas, uma vez que os ouvintes são
diferentes e, por isso, o educador deve entender, a qualquer mo- O ensino diversificado
mento, que sua mensagem soará diferente de acordo com cada
um dos receptores, e levar em conta as diversas capacidades dos
seus alunos. A individualização é fundamental na pedagogia
agostiniana. Adaptar-se às condições de cada aluno suporá que
se estabeleça um caminho diferente para cada um. O educador
terá de corresponder à singularidade de cada um de seus alunos.

Essa proposta tem consequências diretas na situação de aula.


Supõe:

− A eliminação de modelos de lições magistrais dirigidas a um Um ensino que não impõe


grupo que entenderíamos como homogêneo. lições magistrais

− Estar preparado para diversificar o ensino e adaptá-lo aos dife- Um ensino adaptado
rentes alunos, tendendo à individualização.

− Estabelecer dinâmicas de sala de aula que capacitem a corres- Um ensino dinâmico


ponder aos diversos perfis de alunos, às diversas inquietudes,
aos diversos ritmos, aos diversos estilos de aprendizagem, à
diversidade, enfim.

− Um desafio direto para o educador que deve estar aberto, a Um ensino que supõe um
qualquer momento, à renovação, à permanente aprendiza- desafio para o educador
gem, à formação e ao conhecimento.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 21

4. Estabelecimento do amor, da alegria, do entusiasmo


e da proximidade como elementos dinamizadores
de um ensino positivo e eficiente.

4.1. O Amor
A vida de Santo Agostinho teve como centro principal o amor: Fazendo uso do amor como
amar e ser amado, eis o mais importante para ele. Deus é amor, gerador de entusiasmo
e o mandamento do amor é o núcleo substancial e específico da
vida e da doutrina de Jesus.

«Ama e faze o que quiseres» (Comentário à primeira carta de São


João 7, 8), porque teu amor e entusiasmo educam por si.

É evidente, portanto, que a pedagogia agostiniana não poderia


entender-se sem o estabelecimento do amor como elemento di-
namizador do ensino.

«Quanto mais amamos aqueles a quem nos dirigimos, tanto mais


desejamos que se agradem do que se lhes oferece com vistas à sua
salvação e, se isso não acontece, entristecemo-nos, debilitando-nos e
desanimando em meio à própria exposição, como se nos esforçásse-
mos inutilmente» (A catequese aos principiantes 10, 14).

O amor adquire conotações especiais na missão educativa. Po-


de-se falar de um amor pedagógico. Trata-se do amor desinteres-
sado do educador pelo aluno, que se manifesta na entrega e na Fazendo uso do amor como
entrega e admiração
mútua admiração. Trata-se de um amor paterno-filial, que nasce
progressivamente e vai crescendo numa nova vida, à medida que
o aluno vai adquirindo os conhecimentos e as qualidades pes- Fazendo uso do amor
como caminho para o
soais. Santo Agostinho considera que só se chega a um ensino desenvolvimento e para a boa
eficiente e a uma boa educação do alunato por esse caminho. educação

4.2. A alegria e o entusiasmo


Indissoluvelmente unida a essa concepção do amor, está a
alegria.

«Somos ouvidos com muito maior agrado quando também nós


nos deleitamos com nosso próprio trabalho, pois o fio do nosso dis-
curso é afetado pela nossa alegria, fluindo mais facilmente e gerando
maior receptividade» (A catequese aos principiantes 2, 4).
22 Bases Pedagógicas Agostinianas

O ambiente educativo deve transmitir a alegria, a alegria de vi- Fazendo uso da alegria como
ver, a alegria de descobrir. A alegria abre facilmente as portas a chave que abre portas
quanto se oferecer em seu contexto. A missão educativa é difícil
e não faltam nela os problemas, nem mesmo as tensões e as de-
cepções. Tudo isso jamais pode empanar o maravilhoso trabalho
da descoberta, pois a grandeza de aprender e de descobrir vai
muito além de um simples momento de dificuldade, por mais
que não esteja isenta de passar por isso. Deve-se poder desdra-
matizar as situações, quebrar correntes, esparzir sementes, curar
feridas e manter viva a esperança.

«Se Deus ama quem dá com alegria um bem material, quanto mais Fazendo uso da alegria
amará a quem reparte um bem espiritual?» (A catequese aos prin- como catalisador dos
problemas
cipiantes 2, 4)

Para Santo Agostinho, a alegria faz que o ensino suscite tanto Fazendo uso da alegria como
estimulador da boa disposição
no educador como no aluno as melhores disposições mentais e acadêmica
pessoais, que o levam a ser o mais eficaz e agradável possível. Dá-
-se maior aprovação a uma mensagem quando está impregnada
desse componente.

5. Criação de um ambiente cooperativo de


aprendizagem, com um alto nível de compromisso
interpessoal, que impulsione as expectativas do
aluno e do educador.

5.1. Um ambiente cooperativo de aprendizagem


O processo de ensino e aprendizagem implica uma estreita re- Estabelecendo uma
lação entre educador e aluno, os quais trocam sinais e palavras comunicação cooperativa e
formativa que implica uma
com a finalidade de buscar a Verdade. Para Santo Agostinho, formação integral
porém, a educação não é mera transmissão de conhecimentos,
mas uma relação e uma comunicação cooperativa e formativa,
isto é, um chamamento que parte de tudo aquilo que implique
uma formação integral, que o acompanha e a isso se orienta.

Educar para a participação e para a colaboração é uma con- Construindo um ambiente


tribuição específica da escola agostiniana. Assim entendida, a cooperativo de enriquecimento
mútuo
educação converte-se numa aventura coletiva. Quando alunos e
Conhecer a Verdade, viver na verdade 23

educadores adquirem um papel ativo de cooperação e participa-


ção no processo de ensino e aprendizagem, a consequência disso
é o enriquecimento mútuo.

A colaboração e a cooperação entre educadores e alunos criam Estabelecendo a cooperação


uma resistência à debilidade e à vulnerabilidade da educação como resistência à debilidade
da educação
nos dias de hoje. Essa colaboração cria condições que ajudam o
desenvolvimento da autonomia e a liberdade dos alunos, a fim
de que saibam fazer suas próprias escolhas. O educador procu-
ra estratégias metodológicas baseadas na colaboração tanto para
buscar as verdades e descobri-las, como para eliminar obstáculos
e dificuldades.

5.2. Um compromisso que impulsione as expectativas do


aluno e do educador
Compromisso e colaboração no processo de ensino e apren- Propiciando o compromisso
dizagem são elementos que propiciam a participação ativa, o como elemento de participação,
superação e enriquecimento
trabalho em equipe e o bom manejo da interdisciplinaridade,
superam o individualismo, avivam a vontade de participar, enri-
quecem o espírito comunitário e consolidam a corresponsabili-
dade e a coerência na vida.

Essa fértil rede de possibilidades impulsiona indubitavelmente


as expectativas derivadas do processo de ensino e aprendizagem
tanto no aluno, como no educador. A interação com o educa-
dor converte o aluno no protagonista de sua aprendizagem, que
busca sua verdade com inquietude. O educador guia-o em seu
descobrimento, fomentando, com suas atitudes, o desejo de
aprender e o amor por descobrir a verdade em definitivo. À me- Consolidando a relação
dida que a relação educador-aluno se consolida, ampliam-se as educador-aluno para ampliar
as expectativas de ambos, em
expectativas de ambos. Isso garantirá, em grande parte, o sucesso seus respectivos papéis
final. O educador, por sua vez, amplia suas expectativas quando
consegue que o aluno alcance esse protagonismo de sua educa-
ção, sabendo, a cada momento, que ensina, mas que ele próprio
precisa aprender sempre, assim como o aluno aprende.

«Dei-te a faculdade de perguntar-me o que quiseres. E não fiz isso


como se fosse já um doutor perfeito, mas como quem há de aperfei-
çoar-se com os que serão instruídos» (Carta 266, 2).
Conhecer a Verdade, viver na verdade 25

D. Os Agentes da Educação

O Educador − O educador agostiniano crê no homem e em suas pos-


1 sibilidades, considera-se mediador e, a partir de uma perspectiva alegre,
humana e compreensiva, suscita o diálogo que encaminha o aluno ao con-
hecimento e à verdade. Baseia sua missão na crença absoluta de que o amor
potencializa o conhecimento e de que o conhecimento potencializa o amor.
O Aluno − O aluno agostiniano ama a verdade e, por isso, busca-a, a partir da
2 inquietude e da liberdade responsável. Humilde e receptivo, mas dialogante e
participativo, começa seu caminho no conhecimento de si mesmo para dirigir sua
vida com sentido transcendente.
O Ambiente − O ambiente agostiniano da aprendizagem propicia um cli-
3ficante
ma de segurança e confiança, que favorece as relações interpessoais, é edi-
e fomenta o engajamento de toda a comunidade educativa. Centra-se
num processo formativo baseado na amizade, na participação, na flexibilida-
de e no equilíbrio humano e material, através de uma “ecologia educativa”
necessária, discreta e responsável.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 27

1. O Educador

crê no homem e em suas possibili-


O educador agostiniano
dades, considera-se mediador e, a partir de uma perspec-
tiva alegre, humana e compreensiva, suscita o diálogo que
encaminha o aluno ao conhecimento e à verdade. Baseia sua
missão na crença absoluta de que o amor potencializa o con-
hecimento e de que o conhecimento potencializa o amor.

O enfoque da educação, para Santo Agostinho, requer um tra- Ama a sua missão
balho constante e uma boa capacidade intelectual por parte do
educador. O educador agostiniano ama a sua missão. Esse amor
é o ponto de partida de um trabalho genuinamente educativo.
Amar a sua missão implica gostar de seu trabalho e vibrar com
o sucesso de seus alunos, porque nisso se encontra a sua autor-
realização.

«Quanto mais amamos aqueles a quem nos dirigimos, tanto mais


desejamos que se agradem do que se lhes oferece com vistas à sua
salvação e, se isso não acontece, entristecemo-nos, debilitando-nos e
desanimando em meio à própria exposição, como se nos esforçásse-
mos inutilmente» (A catequese aos principiantes 10, 14).

O educador agostiniano é capaz de responder às exigências e Responde a exigências e


desafios que a sociedade atual apresenta. Não se concebe como desafios
uma pessoa conformada com o que já é, possui um coração in-
quieto que a anima a buscar sempre, à medida que encontra. Possui um coração inquieto
Não é conformista nem medíocre. Como educador, não se con-
sidera, diante de seus alunos, como alguém que sabe tudo, mas
está aberto a outros pontos de vista, às mudanças, demonstrando É receptivo e tolerante
atitudes de escuta, tolerância, fraternidade e decisão.

1.1. Crê no homem e em suas possibilidades
O educador agostiniano sabe que seus alunos chegam com
conhecimentos, virtudes, aspirações e desejos que ainda não es-
tão esgotados nem foram exercitados em sua totalidade. Não são
vasos vazios a encher, mas pessoas dispostas a aprender que têm,
igualmente, a possibilidade de contribuir. Por isso, orienta sua
Anima, impulsiona e orienta
missão a animar, impulsionar, dirigir, guiar, conduzir e mostrar
o caminho que o aluno deve seguir.
28 Bases Pedagógicas Agostinianas

O educador deve saber que, às vezes, o aluno pode apresentar


dificuldades ou conflitos de valores. Sua atitude não deve ser,
nesse caso, a de negar a ajuda adequada a que o aluno se supere,
mas deve corrigir deficiências e infrações, sem deixar de aplaudir Corrige deficiências e aplaude
conquistas, nem de incentivar aspirações. conquistas

1.2. Como mediador, suscita o diálogo que encaminha à
verdade
O educador agostiniano é um mediador da aprendizagem que É mediador da aprendizagem
ajuda o aluno a descobrir e a fazer aflorar as possibilidades que
traz em seu interior, além de captar o que está a seu alcance. É
alguém com capacidade de comunicar, mas também com ca- Mostra-se bom comunicador
pacidade e disponibilidade para escutar. Nada estimula tanto o e bom ouvinte
aluno como saber que o educador escuta as suas perguntas e
inquietudes com atenção e de forma receptiva. O método mais
apropriado para transmitir valores e saberes, e principalmente Educa no diálogo
para formar pessoas, é o diálogo aberto, sincero e em igualdade.
Esse encontro amigável com o aluno deve procurar não tanto
oferecer conhecimentos, como despertar nele a inquietude pela Desperta inquietudes
busca da verdade.

1.3. Crê que o amor potencializa o conhecimento e o conhe
cimento potencializa o amor
Do amor ao conhecimento, do conhecimento ao amor. Para Do amor ao conhecimento, do
Santo Agostinho, a base de toda ação educativa gira em torno do conhecimento ao amor
amor e nasce do amor. O amor do mestre pelo aluno é um amor
desinteressado, que ensina e ajuda a aprender, e que predispõe Amor que ensina e ajuda
o aluno para uma recepção mais adequada dos conhecimentos.
Aprender é recordar, e o ensino é o fator que desencadeia essa
recordação. O educador não ensina o saber, mas sim o modo de
adquiri-lo. Chegar ao conhecimento é uma conquista pessoal
do aluno, fruto do diálogo e da comunicação. O educador guia Guiar o ensino através do
o ensino através do amor e conduz o aluno à reflexão interior amor
necessária para a descoberta da Verdade.

A possibilidade de descobrir o conhecimento semeado no


interior fará com que o aluno mostre interesse. O saber que o
aluno vai adquirindo potencializa seu amor, que se manifesta no O conhecimento potencializa
desejo de partilhar com os demais o que aprendeu e no desejo o amor
Conhecer a Verdade, viver na verdade 29

de alcançar a felicidade. Esse desejo surge e se manifesta como


consequência do amor aos demais.

O círculo se fecha quando o desejo de partilhar o conhecimen-


to, o que se aprendeu, a sua verdade, é transmitido aos demais,
novamente pelo amor. Seu conhecimento potencializará o amor.
Aprende-se por amor e, quando se descobre a grandeza do que Aprende-se por amor,
se aprendeu, partilha-se o aprendido com os demais, por amor. partilha-se por amor

2. O Aluno

ama a verdade e, por isso, busca-a, a


Oe receptivo,
aluno agostiniano
partir da inquietude e da liberdade responsável. Humilde
mas dialogante e participativo, começa seu ca-
minho no conhecimento de si mesmo para dirigir sua vida
com sentido transcendente.

Educar é despertar pessoas. O aluno agostiniano não é um


modelo de pessoa, já elaborado, nem um protótipo, mas um
projeto que se trabalha dia a dia. A educação é o caminho da-
quela pessoa que, em inquieta busca da verdade e pela senda
da interioridade e da liberdade responsável, trabalha, estuda e
estabelece relações para chegar à transcendência.

2.1. Busca a verdade a partir da inquietude e da liberdade
responsável
O aluno agostiniano é aquele que busca a verdade e deseja Busca a verdade
alcançá-la. A verdade não é patrimônio de uns poucos. Santo
Agostinho foi um incansável buscador da verdade. Quando o
interesse por descobrir e aprender foi suscitado no aluno, a con-
sequência lógica disso é a sua constante inquietude. A vida pro-
põe contínuas interrogações e só encontram respostas os que,
com inquietude, procuram as verdadeiras respostas. O ensino
que não responda às inquietudes do aluno é inútil. Os mestres
ajudam aqueles alunos que buscam e interrogam a buscar por
si mesmos as respostas. Para Santo Agostinho, esse sentido de Encontrar é engendrar
encontrar é sinônimo de engendrar. É como se o próprio aluno
desse à luz o que encontrou. É algo seu, que passa a fazer parte
30 Bases Pedagógicas Agostinianas

da vida dele. A inquietude do aluno agostiniano implica questio-


nar-se constantemente acerca do significado profundo de tudo.
O Mestre de Hipona pede ao aluno que se pergunte a si mesmo,
que pergunte a seus educadores e procure nos livros até chegar ao
encontro da verdade que se aninha em cada um.

O aluno agostiniano busca também numa atitude de liberdade


responsável. A liberdade é conquista e superação de tudo aquilo
que impede de crescer. Liberdade não é fazer o que queremos,
mas fazer o que temos que fazer porque o queremos. O aluno
agostiniano acerca-se da liberdade a partir do autoconhecimento
e da aprendizagem do amor. Não é uma liberdade vazia, ou não
comprometida. «Ama e faze o que quiseres» − diz Santo Agosti-
nho, ao proclamar a soberania do amor como princípio de li-
berdade. Amor e liberdade não são o ponto de partida, mas a
meta final do aluno. Sua liberdade revigora-se quando aceita as
próprias obrigações, mantém-se quando escolhe o bem e o rea-
liza, e consolida-se quando a vida concorda com a verdade que
progressivamente vai descobrindo em si.

– O aluno agostiniano busca, na liberdade responsável, quan- Busca com juízo crítico
do o faz com juízo crítico. Não é mais livre quem tem mais
opções de escolha, e sim quem tem critérios para escolher
melhor.

– O aluno agostiniano busca, na liberdade responsável, quando Busca com autodomínio


o faz com autodomínio. «Não posso fazer o que quero, a me-
nos que deixe absolutamente de querer mais do que posso»
(Carta 10, 1).

– O aluno agostiniano busca, na liberdade responsável, quan- Busca com superação


do o faz com superação. Jamais se rende à resignação e ao
desencanto, pois as dificuldades humanas sempre têm uma
solução.

– O aluno agostiniano busca, na liberdade responsável, quando Busca com compromisso


o faz como um compromisso ante a cultura do fragmento, do
improviso e do provisório, que leva a amedrontar-se com a
perspectiva de qualquer projeto verdadeiro.
Conhecer a Verdade, viver na verdade 31

Em suma, o aluno agostiniano não tem apenas vida física, bioló-


gica, mas, sobretudo, possui liberdade de pensamento, de imagi-
nação, de sentimentos. Sente-se artífice de sua própria vida, sem
menosprezar nenhuma das possibilidades pessoais e construindo
uma aprendizagem unida à sua capacidade de amar a verdade e
a liberdade.

2.2. Humilde e receptivo, mas dialogante e participativo,


começa seu caminho no conhecimento de si mesmo
para dirigir sua vida com sentido transcendente

O aluno agostiniano sabe que, em seu interior, habita a verda- Conhecer-se é dirigir-se ao
de e, por isso, embarca rumo à interioridade, que é o caminho interior
para as respostas que procura. Conhecer-se a si mesmo é dirigir-
-se ao interior.

A interioridade, não obstante, não significa uma introspecção


superficial, mas abre as portas para o encontro com Deus e com
os demais em Deus. É, portanto, motor de autêntico engaja-
mento no mundo. O movimento ao interior permite-nos dirigir Dirigir-se ao interior é
a vida com sentido transcendente. Esse sentido transcendente, transcender-se
aberto no caminho para o interior, possui sólidos fundamentos
que o aluno agostiniano deve conhecer:

– que sua vida tem um sentido belo, um fundamento sólido e Conhece o sentido belo da
uma meta feliz, apesar dos inconvenientes do caminho. vida

– que sua vida tem uma segurança absoluta, pois, tal como se Conhece que o Amor nos guia
aprendeu, é o Amor que nos guia, que nos envolve, que nos
trabalha e que nos protege.

– que sua vida tem assegurado um final feliz, a ser alcançado Conhece o fim feliz da vida
apesar das dificuldades do presente. E o fim do caminho é o
seu motor.

«Fizeste-nos, Senhor, para ti, e inquieto está o nosso coração,


enquanto não repousa em ti» (Confissões 1, 1, 1).
32 Bases Pedagógicas Agostinianas

3. O Ambiente

propicia um cli-
Oterpessoais,
ambiente agostiniano da aprendizagem
ma de segurança e confiança, que favorece as relações in-
é edificante e fomenta o engajamento de toda a
comunidade educativa. Centra-se num processo formativo
baseado na amizade, na participação, na flexibilidade e no
equilíbrio humano e material, através de uma “ecologia edu-
cativa” necessária, discreta e responsável.

3.1. Propicia um clima de segurança e confiança, que fa-


vorece as relações interpessoais, é edificante e fomenta
o engajamento de toda a comunidade educativa

Aluno e ambiente são elementos que se complementam. O am- Aluno e ambiente são
biente é formado não apenas pela família, como também pelos complementares
amigos e pelo meio físico, compreendidos todos os elementos
que rodeiam o aluno. Tudo isso adquire sua natureza em virtude
da presença do aluno e o aluno, por sua vez, alcança suas metas
em virtude de seu ambiente. A relação do aluno com o ambiente
fomenta laços que vão além das paredes de uma sala de aula,
porque, à medida que a formação do aluno avança, cria-se e fo- Dimensão social e
menta-se a sua dimensão social e participativa. O descobrimento participativa
de seu eu e de sua interação com o ambiente vincula-se intrin-
secamente à sua percepção do entorno. Se o ambiente dificulta
ou obstaculiza o processo de ensino e aprendizagem, dificulta e
condiciona igualmente os encontros interpessoais, debilitando,
assim, a dimensão pessoal e humana do aluno.

Trata-se, pois, de um desafio para o ambiente do aluno a ge-


ração de um sentimento de pertença que garanta a sua segu-
rança e a sua confiança. Sentir-se parte supõe saber-se incluído
num todo em que se é um dos protagonistas. Às vezes, o âmbito
educativo reduz o sentido de pertença, esquecendo-se de que a
pertença é um componente da identidade. O aluno agostiniano O aluno pertence à sua
pertence a um ambiente concreto. Esse ambiente favorece as re- realidade
lações interpessoais, abre canais de informação e de participação,
facilita e fomenta o ambiente de diálogo, colaboração e autocrí-
tica. Por isso, é necessária a vontade de convergência, bem como
o caráter integrador dos elementos que conformam o ambiente Existe a vontade de
agostiniano de ensino e aprendizagem. convergência
Conhecer a Verdade, viver na verdade 33

3.2. Centra-se num processo formativo baseado na amizade,
na participação, na flexibilidade e no equilíbrio humano
e material, através de uma “ecologia educativa” necessá-
ria, discreta e responsável

«Quem quer fazer um lugar para o Senhor não há de alegrar-se


com o que é próprio, mas com o que é comum» (Comentário aos
Salmos 131, 5).

O ambiente no âmbito educativo agostiniano é formado por O ambiente e o próximo


uma série de forças convergentes que devem favorecer o encon-
tro com os demais, consigo mesmo e com Deus. Educar não é
uma tarefa executada apenas por pessoas, o ambiente também
educa. Isso supõe considerar dois aspectos importantes: por um
lado, as relações, a organização, o tempo livre etc.; por outro,
os diversos cenários e contextos de aprendizagem, bem como os
recursos e ferramentas digitais proporcionados pelas novas tec-
nologias aplicadas ao ensino. Tudo isso configura uma ampla e
necessária ecologia educativa que deve influir discreta e respon- Uso responsável dos recursos
savelmente no processo de ensino e aprendizagem.

Não podemos perder de vista que o trabalho educativo é ba- Educar é transmitir uma forma
sicamente uma atividade moral que supõe, em muitos casos, de vida
transmitir uma forma de vida. Todos os elementos do ambiente
devem partilhar e entender essa forma de vida. Numa perspec-
tiva agostiniana, isso quer dizer que trabalhar e aprender num
ambiente educativo multidisciplinar é trabalhar e aprender sob
um mesmo princípio: dar-se aos demais e antepor os interesses
comuns aos próprios. Concentrar os esforços para a realização
do bem comum não deve ser fruto de pactos nem de acordos
legais, mas fruto do amor ao próximo.

Com o respaldo de uma realidade comunitária e mantendo


cada um as características próprias, todos os elementos devem
integrar-se plenamente na comunidade educativa e ter nela um A igualdade no ambiente
tratamento de verdadeira igualdade. Só nessa perspectiva é que
se garante a participação, a flexibilidade e o equilíbrio humano
no ambiente de ensino e aprendizagem.
34 Bases Pedagógicas Agostinianas

Amor e Ciência: educar a mente e o coração


Não é, por certo, a verdade que atinge a si mesma por meio de
raciocínio,mas ela própria é o que apetecem os que raciocinam.
(A verdadeira religião 39, 72)

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