Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Face a este tema da responsabilidade ambiental surgiram várias teses que debatem sobre
o problema. Uma dessas teses, criada pelo filosofo Hans Jonas, aborda-o numa posição
antropocêntrica, no seu ensaio: O Principio da Responsabilidade. Segundo Jonas, os
avanços científicos permitiram que o ser humano adquirisse um poder e controlo sob o
planeta Terra enorme. Mas “com grande poder vem grande responsabilidade” (Lee. S.,
1962: 13) e essas vantagens, rapidamente se podem tornar desvantagens devido às suas
enormes capacidades destrutivas (como energia nuclear). Então vai ser imperativo
intervir para garantir a sobrevivência das futuras gerações de humanos na Terra, “Aja de
forma que os efeitos da sua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida
humana autentica na Terra.” (Jonas, H., 1995:40). Em suma segundo Hans Jonas, n’O
Principio da Responsabilidade, defende que a ação humana na natureza tem de ser
pautada e responsável de forma a permitir a sobrevivência das gerações futuras com
uma qualidade de vida boa. É por isso que esta ética vai ser considerada
antropocêntrica, pois os instigadores da responsabilidade ambiental são, segundo Jonas,
os interesses e necessidades humanas, para continuar com a sua espécie, e não a
natureza e a sua estabilidade e integridade.
Outra tese sobre o tema do papel da ética na responsabilidade ambiental foi proposta,
não por um filosofo de profissão, mas sim por um engenheiro florestal e ambientalista
norte-americano chamado Aldo Leopold. No seu livro Pensar Como uma Montanha,
Leopold critica a relação entre os humanos e a natureza e o impacto que estes têm sobre
ela. O autor, na sua ética denominada a Ética da Terra, opõe-se ao antropocentrismo e
rejeita o individualismo, defendendo que todo o ecossistema, ou como ele denomina,
toda a comunidade biótica tem um estatuto moral “A ética da terra simplesmente
aumenta os limites da comunidade para incluir os solos, a água, plantas, e animais, ou
em coletivo: a terra.” (Leopold A., 1949: 204). Segundo Leopold, os seres humanos vão
passar a ter deveres morais para com a comunidade biótica “Em suma, a Ética da Terra
muda o papel do Homo Sapiens de conquistador da comunidade terrestre para um
simples membro. Isso implica respeito para com os outros membros e respeito pela
comunidade biótica em todo.” (Leopold A. 1949:204), passando a ser necessário então
preocupar-nos primariamente com a preservação de todo o ecossistema e não com os
interesses de cada um dos organismos individuais, ou seja, o valor intrínseco do todo
(comunidade biótica) é superior ao dos indivíduos que a compõem. Devido a esta
posição esta ética é considerada holista, pois dá prioridade ao todo face às partes que
constituem esse todo. A Ética da Terra defende então, que nós devemos fazer aquilo que
promove a integridade, estabilidade e beleza da comunidade biótica sendo o bem desta o
padrão último do valor moral das ações (Callicott J. s/d:216) e só assim
desenvolveremos uma verdadeira responsabilidade ambiental.
A minha posição e a tese que vou defender é a que fundamenta que a nossa
responsabilidade ambiental tem de ter em vista o bem da comunidade biótica e não os
interesses das partes que a constituem, ou seja defendo a Ética da Terra. Tomo esta
posição pois a razão de estarmos numa situação de emergência climática, no meu ponto
de vista, é exatamente a falta de preocupação que os seres humanos têm com a natureza,
proveniente de um antropocentrismo ético, que considerava a natureza um mero
instrumento, o que levou aos seres humanos abusarem desta, colocando-nos nesta
situação.
Para apoiar esta minha posição apelo à ética de Kant. Segundo este uma ação respeita a
lei moral se é realizada com uma boa vontade, ou seja, se é realizada por dever. Ao
tomarmos ações de responsabilidade ambiental apenas porque queremos permitir a vida
das gerações futuras estamos a fazer uma ação em mera conformidade com o dever,
pois a ação está condicionada por inclinações próprias (o desejo da continuação da
espécie) e não pelo dever, que ter responsabilidade ambiental é o correto de se fazer,
não só para com os humanos, mas para com toda a natureza em si, pois esta possui um
valor intrínseco superior ao dos indivíduos que a compõem, incluindo os humanos.
Além disso o antropocentrismo “esquece-se” que os humanos também são seres vivos,
provenientes da Natureza e que foi ela que permitiu aos humanos realizar todas as
conquistas que atingiram e se orgulham, pois sem a Natureza, o ser humano não teria
nem recursos nem abrigo para os realizar. O antropocentrismo ético permitiu abusos da
Natureza, então é necessária uma mudança no modo de pensar dos seres humanos,
descartando esse individualismo e valorizando-a pelo seu valor verdadeiro, pois sem ela
não teríamos as praias que certas pessoas gostam de frequentar, atividades de
campismo, rafting, entre outras atividades ao ar livre.
A aparente radicalidade desta ética fez com que vários filósofos a criticassem. Estes
defendiam que a Ética da Terra ao dar prioridade ao todo face às partes que o
constituem iam permitir maus tratos e desrespeito das partes que o constituem, inclusive
de humanos, fazendo uma comparação ao fascismo, este, com o ultranacionalismo, diz
que o bem da nação é superior a tudo o resto e podem-se sacrificar pessoas para atingir
esse bem. Esses filósofos também apontaram que ao se defender a Ética da Terra
também se iria defender a aniquilação de milhões de humanos, pois a sobrepopulação
humana, como foi mencionado anteriormente, é uma das principais ameaças à
comunidade biótica. Essas comparações ao fascismo fizeram com que este argumento
fosse denominado por Ecofascismo.
Bibliografia:
JONAS, Hans, (1995), O Principio da Responsabilidade, Barcelona, Espanha, Editorial
Herder; páginas 38 a 40
Callicott John Baird, (1989) Libertação dos Animais: uma questão triangular, Porto
Editora páginas 216 a 217
Lopes António, Galvão Pedro, Mateus Paula, (2019) Razões de Ser, Portugal, Porto
Editora páginas 266 a 277
Webgrafia:
ANONIMO “Tons of CO2 emitted into the atmosphere” in The World Counts
https://www.theworldcounts.com/challenges/climate-change/global-warming/global-
co2-emissions/story - consultado no dia 06/06/2021