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Segundo a Joint Comission a dor é o 5 sinal vital. Na admissão de qualquer hospital vai
ter um enfermeiro que vai fazer a avaliação inicial do paciente e vai fazer a anotação de
todos os sinais vitais, incluindo se ele está com dor ou não. Dor intensa maior que 7 é
prioridade vermelha. Qualquer dor em qualquer lugar maior que 7 é prioridade de
atendimento.
O primeiro serviço de tratamento de dor no Brasil foi no Sírio Libanês, depois deles vieram
vários outros em São Paulo e aí difundiu para o Brasil inteiro. Hoje todo hospital tem
grupo de dor.
Segundo a IASP (esse é o mesmo conceito que a gente já viu antes), “dor é uma
experiência sensorial ou emocional desagradável associada com dano tecidual real ou
potencial, ou descrita como tal”. Pode não ter uma lesão, mas se a pessoa diz que tem
uma dor, você tem acreditar que tem uma dor.
E a dor pós operatória é aquela que está presente depois da cirurgia, mas que pode ser
por uma
doença
pré-
operatória, pelo ato cirúrgico ou pelos dois. A dor não é só da cirurgia, ela pode ser
também por que já existia antes.
Temos ainda a diferença entre dor aguda e dor crônica:
Dor aguda tem um propósito, é um sinal de alerta; e a dor crônica não tem. A dor aguda é
uma resposta à doença aguda ou lesão que inicia reflexos de retirada, e a principal
resposta é medo e ansiedade, todo paciente que ta com dor está preocupado, se você
toma um analgésico e passa é ótimo, mas se eu estou tomando e não está resolvendo é
preocupante; geralmente a pessoa só vai para o hospital depois de tentar um analgésico
em casa. O tratamento é direcionado para retirada da causa, no caso da cirurgia, e a dor
é pela cirurgia unicamente, então a gente precisa tratar a dor causa pela cirurgia. Se for a
dor da incisão, você pode fazer só uma infiltração no local e já resolve.
Em 2002 um trabalho de Dollin mostrou que cerca de 30% de dor moderada a severa em
pacientes em repouso e até 30% também em movimento (vai andar, ir no banheiro, fazer
a fisioterapia). Então um terço dos pacientes tem dor, moderada a severa em repouso ou
movimento; e 50% de pacientes submetidos à cirurgia tem dor intensa em algum
momento. Então a gente precisa melhorar essa abordagem analgésica. E porque o
paciente continua tendo esse monte de dor?
• Uso inadequado de medica ções e técnicas
• Prescrições inadequadas
• Falta de dedicação à analgesia PO (quem está prescrevendo tem que está atento aos
sinais que o paciente da - Por exemplo: eu fiz dipirona de 6 em 6, deixei um tramal de 8
em 8, e paciente continua com dor, será que a dose não está insuficiente? será que eu
não preciso mudar essa medicação? Pode ser uma dor tão intensa. Só 85% das dores
respondem à morfina.. e os outros 15%? Então a gente tem que buscar algumas
alternativas. Existem relatos que até 10% da população não tem receptor opioide. 10%
é muita coisa. Pode ser que eu esteja fazendo uma morfina em um paciente que não
tenha o receptor mu).
As consequências, por que é importante tratar dor PO? além ser um sofrimento para o
paciente, tem todas essas consequências:
• aumenta catabolizantes (aumenta gasto energetico, consumo de O2)
• aumenta o risco de complica ções pulmonares porque o paciente não respira direito e
pode fazer atelectasias, acumular secreções - ele não tosse, ta doendo o tórax,
abdômen e ele vai ficar paradinho - o que pode levar à infecções.
• Ileo paralítico - imagina uma laparotomia e um ileo paralítico. A gente já espera que
tenha um ileo que é resultante do trauma. Mas com a dor isso vai se prolongar, e esse
paciente pode ter distensão abdominal, náusea, vômito, e ter várias complicações por
isso.
1. Para o Paciente:
• permite tosse, que deambule e se movimente a vontade.
• reduz consumo de O2 e ATP
• reduz risco de isquemia, porque ele vai se movimentar e n ão tem tromboembolismo
• reduz o ileo adinâmico
2. Para o Médico:
• melhora evolução clínica
• reduz mortalidade
3. Para a Instituição:
• alta precoce
• melhor qualidade da assistência
• reduz tempo de internação
• menor risco de questões processuais
O que influencia na quantidade de dor? São características individuais, a sensibilidade é
individual, mas isso aqui tudo influencia.
• Local da cirurgia (se a incis ão for muito perto dos arcos costais, diafragma - devido
movimentos respiratórios - e contra as fibras musculares dói muito).
OBS: como a gente usa mais o tórax para respirar, toda a incisão feita mais perto dos
arcos costas dói mais - toda vez que vai respirar dói).Nessas incisões é muito importante
infiltrar. Não é infiltrar a pele. Essas incisões de laparotomia, a gente infiltra lá no plano
muscular. Não é só a pele. A pele mais arde do que dói. Mas quando a dor é profunda,
muscular dói muito.
• tipo de incisão: contra ou a favor das linhas de tensão da parede.
• pacientes idosos, orientais, crian ças (claro que a criança vai ficar assustada e vai chorar
muito, mas geralmente a intensidade da dor não é tão correlacionada, é mais o medo, a
ansiedade, a separação dos pais que causa mais estresse que a cirurgia em si, pois ela
nem sabe o que está acontecendo) e mulheres reclamam menos de dor.
• estado físico: um paciente ASA I tem mais dor que um ASA IV-V, pois nesse o nível de
consciência está mais baixo
• preparo pré-operatório: paciente que é bem preparado e entende o que vai acontecer,
ele fica menos ansioso, coopera e transmite suas queixas de forma melhor, é mais fácil
de tratar a dor, então você trata mais rápido; do que pessoas que só gritam, as vezes o
paciente está com dor de um bexigoma e não da cirurgia, mas ele fica tão inquieto que
a gente não consegue saber, porque ele não fala onde ta doendo. Então tudo isso a
gente precisa analisar. As vezes é uma dor de posicionamento, pode ser que a maca
seja muito dura, um coxim. Pacientes muito magros, idosos - pele é mais fina - ou
obesos mórbidos machucam a região lombar, principalmente sacra.
• complicações cirúrgicas: hematoma
• Estresse pós operatório: paciente está com medo e medo aumenta a dor
Sempre lembrar que existe esses dois tipos de dor. Uma dor de fundo e a dor incidental.
A dor de fundo é a que a gente vai tratar com a prescrição de horário. Você vai fazer
umas 2 ou 3 medicações de horário para dor e deixar o resgate para dor incidental. Que é
a dor do banho, do curativo, dos exames. Por isso a importância de ter um SOS. O SOS é
a mais, não é a base da sua prescrição.
E o que queremos quando vamos tratar? Queremos o que é mais eficaz com menos
complicações.
A gente vai escolher a medicação e técnica de acordo com:
• Local da cirurgia: se é uma fratura de tornozelo, eu posso fazer uma raqui com morfina
e dura até 72 hrs. Quando o paciente faz fratura de joelho e depois faz consolidação
viciosa, o cirurgião vai para o centro cirúrgico e a gente faz uma anestesia geral. Mas a
gente já pensa no pós operatório. Se esse joelho está consolidado o tratamento é
quebrar, soltar a articulação e limpa a cavidade articular. Esse paciente do PO vai ter
que fazer mobilização desse joelho. Imagina a dor que deve ser isso. Então nesses
pacientes a gente deixa um catéter de peridural e programa o horário da manipulação
do joelho, porque aí a gente vai lá 2 horas antes e faz uma dose grande de anestésico
local com opioide através da peridural para que o cirurgião possa manipular. Se é o
braço, você pode fazer um bloqueio de plexo braquial. Na mão a gente faz bloqueio de
nervo periférico.
OBS: o paciente pode ficar com o cateter de peridural por tempo indeterminado. Se tiver
muito cuidado de higiene, tem pacientes que tem relato de 6 meses com o cateter sem
infecção. Claro que é um local que tem acesso fácil ao SNC e o curativo tem que ser bem
cuidado e evitar grandes aglomerações, ambientes muito quentes. O que determina
retirada do cateter? Se não está mais precisando, a bombinha de pressão negativa é
recarregada periodicamente, se estiver tudo sequinho mantém, se tiver qualquer sinal de
vermelhidão em volta, a gente tira, ATB e espera uma semana, para poder repassar
novamente. Limpeza com agua, sabão e álcool. Curativo sempre transparente porque
precisamos olhar a pele em volta.
Maior problema do cateter é quebrar. Quando a gente insere o cateter, ele tem que entrar
suave. Se você perceber que tem resistência, não empurre.
• intensidade da dor: se eu tenho a cirurgia de t órax, por exemplo, a gente faz peridural. A
gente pode fazer peridural lombar e passar o cateter para cima, ou a gente pode usar
morfina, e como a morfina é hidrofílico, ela vai agir em SNC superior - ela sobe com o
liquor. É o único opióide que é hidrofílico.
• Estado fisico do paciente
A cultura influencia na dor. Todos americanos dizem que dor muscular é uma dor
profunda, enquanto apenas metade dos chineses classificam essa dor como profunda.
82% dos chineses dizem que a dor de dente é tolerável, enquanto 8% dos americanos
dizem que essa dor é tolerável.
Para avaliar dor a gente vai usar aquelas escalas, que é uma forma da gente ter um valor
numérico, palpável. Essas escalas são divididas em 5 ou 10 intervalos, para avaliar em
termos de percentual. Então em escalas de 10, você tem intervalos de 10%. Aí você
avalia o quanto melhorou com a dose administrada e qual dose será necessária. Por
exemplo, paciente está com dor 10, então não adianta eu fazer dipirona, e tenho que usar
opioide forte. 2mg de morfina só melhora 10%, se eu quero que ele tenha dor menor que
3, por exemplo, eu tenho que multiplicar 10 x 7 = 14 mg (dose necessária para ele chegar
na dor 3). A gente não vai fazer os 14mg de uma vez, vamos administrando 2 a 4mg e
esperando um intervalo de tempo de 15 a 20 min, que é o tempo de ação da morfina para
reavaliar a dor. Não administramos toda a dose de uma vez porque o paciente pode
apresentar náusea, mal estar, depressão.
Se paciente com dor crônica está usando 10mg de morfina 2 x por dia, você tem 20 mg
em 24h, se ele tiver dor em algum momento nesse intervalo, você calcula 25% a 50% da
dose total diária para usar como resgate. Se ele estiver precisando de uma dose de
resgate maior que 50% da dose total diária, você vai ter que aumentar a dose regular.
Se paciente começar a ter efeito colateral, pode significar que a dose está excessiva. se
ele não estiver com tanta dor, você pode diminuir a dose. Se você diminuir a dose e ele
retornar com a dor, você pode associar outro tipo de medicação, rodar opioide (ex. tramal
da mais náusea). Opioide geralmente você tem que rodar a cada 4 semanas, porque você
vai desenvolvendo tolerância, devido ao down regulation do receptor.
Escalas:
# Contra indicações para analgesia do trauma (também vale para pós operatório):
1- paciente inconsciente
2- paciente chocado (instabilidade hemodinâmica)
3- confusão mental: não consegue se manifestar para dizer como está a dor. A gente não
tem como prescrever.
4- trauma extensos com fratura de face (voce nao sabe nem o que é dente e está tudo
quebrado, eu vou fazer analgésico pra que? Para ele se engasgar com aquilo? O que ele
precisa é crico, anestesia geral e opera. O principal é via aérea.
# Analgesia obrigatória:
OBS: Dor é um sinal que o paciente não vai ter depressão respiratória. Enquanto ele
estiver queixando de dor, ele não deprime. Mas se ele começar a dormir, aí sim. O
primeiro sinal de depressão respiratória é sonolência e sedação. Se o paciente não
responder, não faça mais analgésico. Pode fazer AINE e dipirona, opioide não.
# Princípios da analgesia pós operatória: eu tenho que fazer o que é mais eficiente e tem
menos complicação.
1- evitar complicações
2- Considerar risco X beneficio de cada técnica. ex: eu vou prescrever um AINE para um
cara que está com uma ulcera perfurada? Não! A gente tem que pensar quais as
indicações e contra-indicações de cada técnica.
3- Mudar técnica. Eu posso fazer alguma conduta e nao ter o resultado que eu queria ou
ter muito efeito colateral. Mude! Voce tem direito de mudar a qualquer momento!
4- Adicionar outras medicações sempre se necessário: é melhor, pois voce age em locais
diferentes e você tem somatório de efeito.
5- Combinar com outras modalidades. ex: raqui + anestésico local, peri + infiltrado na
incisão ou anestesia venosa.
6- levar em conta a necessidade e desejo do paciente. Se o paciente chegar dizendo “eu
não quero nada na minha coluna” entao nao vamos colocar nada na coluna dele.
Lembrar da escada de dor. Dor aguda começa lá em cima e vem descendo, você entra
pauleira e depois vai ajustando de acordo com a resposta.
“Eu não vou falar de opioides com voces, pq vcs ja tiveram essa aula com livia. Só vou
falar um pouquinho de antiinflamatorio, pra vcs saberem principalmente contraindicações.”
# AINES
Vantagens:
• Drogas baratas
Desvantagens:
• efeito teto
• diabético
• hipovolêmico
• idoso
• ICC
• alcoólatra
• alta doses
• idosos
• historia previa de doen ça dispeptica (não é só ulcera, pode ser refluxo, etc)
Isso aqui é o que eu quero que vocês prestem atenção: hoje a gente não costuma fazer
inibidor seletivo de cox 2 para pacientes acima de 45 - 50 anos. Nessa geração é mais
comum pessoas que não praticavam atividade física e fumavam. São pessoas que tem
doença arterial e nem sabem, aí você entra com inibidor seletivo de cox 2 e ele faz
doença isquemica.
Porque esses pacientes têm síndrome de ativação plaquetária, são dependentes da COX
2 que vai gerar prostaglandina vasodilatadora. Se eu inibir, eles perdem esse
vasodilatador e isquemiam. Quando a gente pega esse paciente, eles geralmente já vem
usando AS.
Em idoso preferencialmente não use nenhum antiinflamatorio, e se for seletivo de COX 2
é pior, porque ele vai bloquear a prostaglandina dilatadora e ele pode começar a ter
ataque isquemico transitório.
• Os inibidores seletivos de COX 2 suprimem a produ ção de PGI2 pelas células
endoteliais (perde efeito vasodilatador e antiagregante), enquanto não apresentam
efeito na produção de TXA2 plaquetário (vasoconstrictor). Então ele vai ficar só com a
COX plaquetaria, que é a COX 1 e tem a função de fechar vaso. E a gente tem
desequilíbrio a favor de trombose e isquemia.
• Estudo mostrou que coxibs são mais seguros para complicações gastrointestinais, mas
também mostrou aumento de eventos tromboembólicos: infarto, AVC… Durante um
periodo, esses medicamentos foram até tirado do mercado. Agora os coxibs voltaram
com essa restrição: não prescrever inibidor seletivo para essa faixa etária, paciente que
está usando AS, paciente com doença reumática que afeta vasossanguineo (ex.
fenômeno de renault).
• Técnica que combina infusão contínua ou bolos adicionados pelo paciente (demanda)
ou as duas coisas.
• Bomba de infusão que permite o paciente acionar dispositivo que fica com ele no leito
para conseguir uma dose de analgesico.
• Ele deve ter um mínimo de entendimento; não posso fazer isso em um paciente
sequelado.
• Pode usar varias medicações e várias vias.
Vantagem:
• diminui o intervalo de tempo entre dor e administra ção do analgésico. Além do efeito
placebo. Porque a gente vai programar a bomba com intervalo entre as doses e uma
dose máxima a cada 4 horas. Então o paciente pode apertar a bomba várias vezes
como se tivesse injetando, e as vezes ele tem o efeito mesmo sem receber medicação.
*Pra vocês não vai mais ter esse efeito, pq agr vcs já sabem kkkkk*
• Alívio adequado
Desvantagem
• mais caro. equipamento é caro
• precisa de uma pessoa vigiando. Ent ão uma enfermeira passa visita para esses
pacientes 2 vezes por dia. Ela vai nos andares e orienta pacientes que estão nos
postos, mostrando como a bomba funciona, o que precisa prestar atenção se paciente
não urinar, tiver febre, queixar de dor, náusea e vomito.
Programação
• Dose inicial (loading): dose deve ser explicada para o paciente, de preferencia dada na
hora que ele acorda na recuperação, quando o paciente estiver acordado. Se o paciente
estiver com dor antes de acordar, você pode fazer a primeira dose logo e depois você
explica.
• Dose demanda: é a dose que o paciente vai receber toda vez que ele apertar o botão.
• Intervalo: tempo entre duas demandas. A gente calcula de acordo com o pico de a ção e
duração de efeito da droga. ex: morfina tem 4-6h de duração, então definimos esse
intervalo. Antes disso ele vai ficar apertando e vai ter o efeito placebo.
• Infusão basal: você pode dar ou não. Faz uma dose continua para evitar picos e baixos.
Problemas com PCA
• Relacionados ao paciente:
* dificuldade para entender
* uso excessivo intencional
• Relacionado ao aparelho:
* falha de liberação da dose, pode haver obstrução do cateter, acabar bateria da
bomba, defeito no sistema de alarme (paciente reclama que a bomba está apitando
direto).
Aqui é só para vocês saberem uma forma de fazer: ele pegou 4 ampolas de morfina e
cada ampola é só 1ml, e cada ml tem 10mg.
Entao, 4 ml. Voce pega um soro de 250 e vai tirar soro até ficar com 196ml e coloca mais
4 ml de morfina e fica com 200ml no total. 0,2 mg/ml de morfina é a minha diluição. Eu
dou uma dose inicial de 1mg. Então vou fazer 5 ml dessa solução para ele. Aí eu deixo
uma infusão continua de 1mg (5 ml/h). Dou um bolos de 0,5mg (2,5ml) e limite de 4 horas
de 10mg (50ml). E deixo um bloqueio de 5 a 20 min de intervalo entre as doses.
Essa prescrição pode variar muito. Cada serviço cria um protocolo. O anestesista monta a
solução toda e a bomba no Centro Cirúrgico (CC)e entrego para o paciente. A primeira
vez é feita no CC e geralmente só troca em pacientes que vão ficar internados de longa
data.