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A lnteligência
Os trubalhos de Galton
Inscrevendo-se na perspetiva da teoria da evolução desenvolvida por
Darwin, seu primo, Galton estava não só convencido de que certas
famílias eram biológica e intelectualmente superiores às outras tal como
t-
t42 /\ PSI(lol,o(;Í'\
Os trahalhos de Cattell
Em 1885, James McKeen cattell elaborou provas que apresentavam
um aspeto mais psicológico, sendo o primeiro a propor o termo técnico
<testes mentais>> para designá-las: <A psicologia não pode alcançar a
ceúezae a precisão das ciências físicas, se não se basear na experiência
séries
e na medição. poder-se-ia dar um passo nessa direção aplicando
de medições e testes mentais a um grande número de indivíduos. os
resultados desses procedimentos teriam considerável valor científico
e permitiriam descobrir a constância dos processos mentais, aS suas
vaìiações em diferentes circunstâncias. De mais a mais, os indivíduos
Y
I
I
A INï'I'I,IGÍìNCIA I43
J.
146 A PSICOLO(;IA
t06 SÍanford Revision of the Bínet-Simon Scale, publicada em 1916 por Lewis Madison
Terman (1877-1956), psicólogo da Universidade de Stanford, na Califórnia IN. T.].
A INTEI,I(;ÊNCI/\ 147
^t
148 Â PSICOLOGI,\
trata de repetir o nível alcançado pela criança ou pelo adulto, mas antes
situar a respetiva posição estatística na distribuição dos resultados da
população da sua idade de referência. O postulado subjacente é o de
que a inteligência se distribui de maneira normal pela população. O QI
exprimirá a posição do sujeito nessa distribuição normal cuja média é
convencionalmente 100, sendo o desvio-tipo 15.
Nos nossos dias, a formula proposta por Stern é, pois, relativamente
pouco utilizada. Para determinar o QI de um indivíduo, os psicólogos
usam medidas de comparação baseadas em hipotéticas distribuições
normais dos desempenhos no seio da população de referência (consultar
caixa seguinte). Se o número 100 tinha uma realidade na formula proposta
por Stern (uma vez que correspondia ao resultado da comparação da
idade mental com a idade cronológica), o valor 100 é tomado, em testes
posteriores, como valor arbitrário de um QI normal.
A INTET,IGÊNCIA I49
As escalas de Wechsler
A partir de 1939, as escalas propostas pelo americano David
wechsler vão
substituir os testes anteriores: wArs (wechster Adutt rnteiligencescale),
wrsC
(wechsler lntelligence Scole for Children, para
crianças e adolescentes entre os
6 e os 16 anos e onze meses) e wppsr (wechsrer preschoor
and primary Score
of lntelligence, para crianças entre os 2 anos e meio e os
7 anos e sete Áeses).
Estas escalas, regularmente aferidas de novo, inscrevem-se
na hipótese de uma
distribuição normal da inteligência e permitem avaliar a eficiência
verbar (el
verbal), a eficiência não verbal (el de desempenho) e a eficiência
total (eltotal).
Exemplo de uma prova do WISC-IV (2005): prova de semelhanças
são apresentados oralmente pares de palavras à criança, que
deve encontrar
a semelhança entre os objetos ou os conceitos propostos, a saber:
vermelho/
azul, leite/café, esferográfica/lápis, gato/rato, maçã/banana,
camisa/sapato,
inverno/verão, borboleta/aberha, madeira/tijoro, raiva/aregria, poeta/pintor,
quadro/estátua, montanha/rago, gero/vapor, cotovero/joerho,
careta/sorriso,
inundação/seca, primeiro/úrtimo, oreado/paper, permissão/proibição, sar/
água, vingança/perdão, realidade/fantasia e espaço/tempo.
As escalas de wechsler comportam diferentes provas que
não apresentam o
mesmo número de itens ou cujos critérios de cotação sâo diferentes
de prova
para prova. De maneira a tornarcomparáveis os resultados
nas diferentes provas,
wechsler transformou as notas brutas em cada prova em notas padronizadas,
situando-as num sistema normalizado cuja média é 100 e cujodesvio-tipo
é
15. Poroutras palavras: l00correspondeà média das pontuações (50oloaquém
e 50 0/o além) e 15 corresponde à dispersão em ambas as partes
da média. os
quocientes de inteligência calculados nas escalas de wechsler permitem
indicar
em que categoria se situa o resultado do indivíduo testado por comparação
com os resultados da sua população de referência.
A maioria agrupa-se em torno da média (2/3 dos indivíduos obtêm um
el
compreendido entre 85 e 115), podendo observar-se uma diminuição à medida
que nos afastamos da média e nos aproximamos de cada
extremi dade (2,1 o/o
dos indivíduos cujo Ql superior a r30 são dotados e, no outro exrremo,2,1 o/o
dos indivíduos cujo el é inferior a 70 têm deficiência). Entre esses dois extre-
mos, a categoria está longe de ser homogénea, correspondendo antes
a uma
variação contínua que permite ligar as duas extremidades da curva.
A existência de diferentes escalas construídas segundo o mesmo princípio
revela-se particularmente útil quando se trata de avaliar um mesmo indivíduo
em diferentes idades, em especiar quando o psicórogo deseja acompanhar a
sua evolução durante vários anos.
-l
I50 A I'SICOLOGII\
i
I54 A PSICOt,O(}IA
Conservação
da quantidade
(Há ou não a mesma (Vejam o que frz' oHá ou não a mesma
líquida quantidade de água
quantidade de água (trasfega)
nos dois copos?, nos dois copos?t
Spearmaneofatorg
Paralelamente à construção da primeira escala de inteligência em
França, os psicólogos nos Estados Unidos procuraram pôr em evidência
a estrutura da inteligência, a fim de determinar se não se trataria de uma
capacidade única geral ou, se pelo contrário, ela era composta de uma
série de capacidades correspondentes a aptidões específicas. As suas
investigações basearam-se num método estatístico particular: a análise
fatorial desenvolvida pelo psicólogo inglês Charles Spearman.
'07 Cf. Richard J. Gerrig e Philip G. Zimbardo, op. cll. (consultar Bibliografia - Obras
gerais e Manuais).
A INT-EI,I(;ôNCIA I55
A análise fatorial
Quando se apresenta uma série de provas a uma população de indivíduos,
podem ser calculadas correlaçÕes entre os seus desempenhos obtidos em
diferentes provas. Correlações positivas entre os desempenhos indicarão que
os indivíduos tendem a obter nessas diferentes provas desempenhos análogos
e sugerirão que existe uma certa conformidade entre elas. Em contrapartida, a
ausência de correlaçóes significativas permitirá concluir que essas provas são
independentes umas das outras e não avaliam as mesmas coisas. para revelar
a organização subjacente a uma matriz de correlaçôes, a técnica mais siste-
mática é a análise fatorial, inventada por Charles Spearman (1g63-1945). Esse
método estatístico consiste em distinguir os fatores que podem dar conta das
correlações observadas entre as respostas a um conjunto de provas distintas.
A ideia fundamental é a de que, se os resultados em dois testes os corre-
lacionarem estreitamente, refletem provavelmente uma mesma aptidão
subjacente. Falar-se-á então de fatores comuns que correspondem às fontes
de variações hipotéticas comuns a diversos testes. A análise fatorial de dados
revela o número de fatores distinguíveis que entram na matriz de correlaçÕes.
se a conceção unitária de inteligência tiver fundamento, a análise fatorial apli-
cada aos resultados recolhidos numa bateria de testes de inteligência deverá
conduzir a um único fator comum a todos esses testes. Em contrapartida, se tiver
fundamento a conceção pluralista, a mesma análise conduzirá a vários fatores,
correspondendo cada um deles a aptidoes mentais particulares (em geral,
um fator correspondente às aptidões verbais; outro, às aptidÕes não verbais).
2 3
4 5 6
tto Primary Mental Abìlities, Chicago: University of Chicago Press' 1938 [N. T']
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A INTELTGÊNCIA I59
-/-
160 A PSIcoLoGIA
Produtos
Unidades
Classes
Relaçóes
Sistemas
Transformações
lmplicaçôes
As metacomponentes
Estes processos de controlo de nível superior constituem processos exe-
cutivos utilizados durante a planificação e o controlo das ações, assim
como durante a tomada de decisão na resolução de problemas, com vista
aos objetivos a atingir. Formam a base da inteligência segundo Sternberg.
Ás componentes de desempenho
Estes processos são responsáveis pela realização da tatefa e traduzem
em ação as decisões tomadas pelas metacomponentes, em relação às
As componentes de retenção
Estes processos estão em funcionamento na recuperação das informações
at mazenadas na memória.
r12 Psicólogoe psicómetra americano nascido em 1949, autor de vasta bibliografla, na qual
sobressai uma teoria triárquica da inteligência humana(Beyond IQ: A Triarchic Theory
of Human Intelligence,Cambidge: Cambridge University Press, 1985) [N' T.]'
-t_
A tNTEI,I(;ÊNCIA 1ó3
As componentes de transferência
Estes processos estão em funcionamento na transposição do que foi
aprendido numa situaçáo para outra nova.
segundo Sternberg, as cinco componentes estabelecerão relações não
só com a inteligência escolar, mas também com a inteligência prâtica,
desenvolvendo diferentes capacidades no indivíduo, nomeadamente
pensar ou raciocinar de forma abstrata, aprender e tirar proveito da
experiência, adaptar-se às mudanças do mundo real ou motivar-se para
r ealizar certas tarefas.
Ao fim e ao cabo, a análise fatorial e o método de tratamento da infor-
mação fornecem dados complementares aceÍcada eficiência intelectual.
os fatores definidos com a ajuda da análise fatorial são úteis para
a identificação das aptidões e inaptidões de um indivíduo. podem, por
exemplo, revelar que uma pessoa é forte no plano da fluidez e da signi-
ficação verbais, mas fraca no plano do raciocínio.
Quanto à análise do tratamento da informação, poderá fornecer um
perfil diagnóstico dos processos responsáveis pela debilidade observada
e revelar uma deficiência ao nível de uma ou outra das componentes
identificadas por Sternberg.
A ínteligência lingaística
Corresponde à aptidão para se servir da linguagem para pensar e comu-
nicar em simultâneo, à sensibilidade aos sons, ao ritmo e às diferentes
funções da linguagem. Esta aptidão estará particularmente desenvolvida
em poetas ou jornalistas.
A inteligência lógico-matemótica
Corresponde à aptidão para pensar logicamente e resolver problemas arit-
méticos, à sensibilidade às estruturas lógicas ou numéricas e à capacidade
para discerni-las e articular uma longa sequência de raciocínios. Esta
aptidão estará particularmente presente em cientistas ou matemáticos'
A inteligência espacial
Corresponde à aptidão para gerir imagens que representem relações
espaciais (por exemplo, capacidade para imaginar se um novo móvel
entrarâna sua sala de visitas), perceber com precisão o universo espa-
ciovisual e aplicar diversas transformações às perceções iniciais. Esta
aptidão estará especialmente desenvolvida em escultores e navegadores.
A inteligência musical
Esta aptidão está na base da competência musical. Consiste na capaci-
dade para distinguir e produzir ritmos, tonalidades e outros aspetos da
música. Estará particularmente desenvolvida em compositores, músicos
e em qualquer pessoa que tenha um gosto marcado pelas formas de
expressão musical.
A inteligência corporal-cinestésica
Corresponde à capacidade para manipular os objetos com destreza e
aprendeq executar ou controlar os movimentos do seu corpo no espaço.
Estará presente em artesãos, cirurgiões, malabaristas, ginastas ou atletas.
Á inteligência pessoal
Apresenta-se, por seu turno, sob duas formas:
- A inteligência intrapessoal, que remete para a aptidão para se
conhecer e se compreender a si mesmo, aceder às suas próprias neces-
sidades, sentimentos ou emoções, conhecer as suas forças e fraquezas,
J
A INTE,I,IGÊNCIA 1Ó5
A inteligência naturalistu
Corresponde à aptidão para compreender a organização da Natureza,
determinar como os seres ou objetos se inscrevem nela, perceber as dife-
renças entre espécies. Esta aptidão estará particularmente desenvolvida
em biólogos e ambientalistas.
A inteligência emocional
O psicólogo americano Daniel Goleman (n. 1946) sugeriu a existência de uma
<inteligência emocional>r14. A ideia inicial é a de que algumas pessoas, não
obstante serem dotadas de boas capacidades intelectuais, se mostram inca-
pazes de controlar as suas próprias emoções. É o caso do aluno inteligente
que falha nos exames, não podendo gerir o pânico na altura da prova, ainda
que saiba resolver os problemas postos, ou de um empresário com dificul-
dades em enfrentar os problemas de outra maneira que não seja por via do
conflito ou do stress.
Daniel Goleman fala de <inteligência emocional> porque, segundo ele, o
autocontrolo e o reconhecimento das emoçóes alheias dependem de uma
verdadeira capacidade de adaptação, Esta inteligência pode ser definida pela
aptidão para:
- perceber e exprimir as suas emoçóes adequadamente;
- utilizar as emoções para ajudar a reflexão;
- fazer um uso eficaz do saber emocional;
- regular as suas emoçoes.
Embora não exista Ql emocional propríamente dito (i.e., teste padronizado),
Goleman pretende, ao propor esse termo, fazer concorrência à predominância
ainda concedida ao Ql intelectual.
1ta Emotional Intelligence: Why It Can Matter More Than IQ, Nova lorque: Bantam
Books, 1995 [N. T.].
l-
-r ì
I66 A PSICOI,OGIA
Raciocínio
O raciocínio subjacente é o seguinte: se a semelhança for maior (ou seja, o
coeficiente de correlação mais elevado) no seio dos pares de gémeos monozi-
góticos do que no seio dos pares de gémeos dizigóticos, poderá ser atribuída
ao grau de conformidade genética mais elevado nos gémeos monozigóticos
(visto que partilham exatamente o mesmo património genético). lsso é então
o sinal de um forte fator hereditário ou de um forte determinismo genético da
eficiência intelectual. Por outro lado, a comparação dos pares educados em
conjunto ou educados separadamente, assim como a comparaçâo entre pais
e filhos adotivos, permite salientar a influência dos fatores ambientais (i.e., o
efeito do meio educativo) no desenvolvimento da inteligência.
A INTELIGÊNCIA T67
Resultados
os resultados apresentados em seguida representam os coeficientes de
cor-
relação médios das pontuações em testes que avaliam o
el entre indivíduos
com diversos graus de parentesco:
Ambiente Correlação Proximidade Genética
Gémeos monozigóticos educados em conjunto 0,86 ldêntica
Gémeos monozigóticos educados separadamente 0,72 Diferente
Gémeos dizigóticos educados em conjunto 0,60 0,5 ldêntica
lrmãos-irmãs educados em conjunto 0,47 0,5 ldêntica
Gémeos dizigóticos educados separadamente 0,33 0,s Diferente
lrmãos-irmãs educados separadamente 0,24 0,s Diferente
Pais e filhos adotivos 0,31 0 ldêntica
A plasticidade cerebral
Durante muito tempo, acreditou-se que o cérebro, uma vez maduro, se carac-
terizava pela estabilidade das suas conexões, consideradas imutáveis. Desde
há mais de trinta anos, desfez-se essa visão da estrutura e do funcionamento
cerebral. Graças aos progressos da imagiologia cerebral, descobriu-se que o
cérebro modifica a organização das suas redes de neurónios em função das
experiências vividas pelo organismo. Alterou-se o debate sobre o inato e o
adquirido.
<O cérebro está em perpétua remodelação, e a plasticidade sugere um
grande jogo de construção e de demolição. Gerald Edelman, prémio Nobel
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168 A PSICOLOGIA
t1s Neural Darwinism: The Theory of Neuronal Group Selection, Nova lorque: Basic
Books, 1987 [N. T.].
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Autor, por exemplo, da obra L'Homme neuronal (Paris: Fayard, 1983) [N. T.].
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