Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Guia de Estudos
Betina Juzumas, Gabriel C. M. Arruda, Gabriel Souza, Helena Toledo, Julia Goldman, Pedro
Aviso de conteúdo sensível: este guia contém dados, informações e indicações que tratam de
PROPOSTA PEDAGÓGICA:..................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO:....................................................................................................................................... 8
RELEVÂNCIA DO TEMA:....................................................................................................................... 10
3.1. Violência............................................................................................................................ 17
6. BIBLIOGRAFIA: .......................................................................................................................... 55
CARTA DE APRESENTAÇÃO:
Betina Juzumas
seguir carreira no setor privado, como por exemplo em empresas multinacionais. Tem grande
internacionais. Tem interesse nos estudos pós-coloniais e política e história africana. Atualmente
Vida Gala. Unanimamente reconhecido como o diretor mais carismático, simpático e também o
mais sem noção, se preparem para fazer várias questões de ordem para os erros que ele vai
estudo de Direitos Humanos e Ciência Política. Tem experiência com simulações durante a escola
e foi diretor do Cenários em 2019, mediando o comitê histórico que discutia a crise do petróleo
da PUC-SP, Prisma Jr, e tem interesse em ingressar uma carreira voltada para relações
governamentais e advocacy. Ficará conhecido como o diretor que irá conter o Gabriel Arruda de
semestre. Participou de simulações modelo ONU enquanto cursava o ensino médio, onde
área comercial de uma multinacional americana de tecnologia e serviços, porém tem interesse
em seguir carreira na esfera da gestão pública. Essa será sua primeira experiência como mesa
diretora em uma simulação modelo às Nações Unidas, podendo afirmar com certeza que está
mestrado logo ao acabar a graduação. Tem interesse nas áreas de Turismo e sexualidade,
relações entre Estados Unidos e América Latina, Teorias feministas e queer das RI e Antropologia.
Atualmente está trabalhando em uma Iniciação Científica com a Profª Drª Luiza Mateo com o
tema “Ajuda externa dos Estados Unidos para os países do Triângulo Norte da América Central”.
A oportunidade de participar no Cenários 2020 será sua primeira experiência tanto como mesa
quanto como participante. É fato que está animada e é muito corajosa por aceitar fazer parte de
Recursos Humanos na Prisma Jr, empresa júnior de Relações Internacionais da PUC-SP - atuando
participação em trabalhos voluntários pela CAMJEV e Cestas R3. Atualmente é estagiário na área
oportunidade de participar no Cenários 2020 será sua primeira experiência tanto como mesa
simulações Moledo Nações Unidas durante todo seu ensino médio e no Cenários 2019, ambos
como delegado. Se apaixonando à primeira vista pelo debate internacional, pretende seguir a
área de Segurança Internacional e Direitos Humanos. Tendo certa experiência como delegado,
agora busca um novo desafio como mesa deste comitê. Sendo também o provável caçula da
diretoria do comitê, está muito ansioso para a simulação como mesa e pela experiência de
O tema da condição das mulheres no sistema carcerário não foi escolhido de maneira
arbitrária, ele foi definido para trazer aos participantes do comitê a oportunidade de conhecer
Esse tema apresenta diferentes cenários para serem profundamente debatidos, abrindo a
oportunidade de se trabalhar campos como: política, ética, moral, sociologia, filosofia, psicologia,
entre outros. Além disso, também traz a oportunidade de estudar os diferentes atores, domésticos
O objetivo principal do debate para este comitê não é buscar a reformulação das leis de
cada país e seguir um modelo único de tratamento para mulheres dentro de todas prisões, mas
sim pensar formas de garantir que os governos tenham capacidade de garantir a preservação
Por fim, tendo em vista a complexidade e a sensibilidade que esse tema exige, propomos
realizar uma reflexão com empatia e respeito, priorizando a manutenção dos direitos dessas
mulheres, à luz do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Sendo assim, é
fundamental ponderar a respeito da soberania dos Estados para se apresentarem propostas que
Para debater a condição das mulheres nas prisões é preciso reconhecer que esta é uma
debates nacionais e internacionais. Trata-se de uma população que, segundo a quarta edição da
Lista Mundial de Aprisionamento Feminino, de 2017, inclui mais de 714 mil mulheres e meninas
encarceradas ao redor do mundo, compondo 6,9% da prisão global população. Um número que,
maneira como essas mulheres são tratadas dentro de um sistema prisional que, muitas vezes, não
está preparado para receber, tratar e lidar com elas. Além disso, essa relevância também é
evidenciada na dificuldade em encontrar dados e materiais sobre as situação feminina nas prisões
pelos países do mundo, apontando uma clara lacuna de informações desses grupos.
As vidas, os corpos e as mentes das prisioneiras sofrem de forma agressiva, com a falta de
para o atendimento médico especializado1; com o abandono familiar e materno; com os casos
de maus tratos como violência, sede e fome dentro do sistema prisional; a falta de planejamento
da ressocialização das detentas durante o ciclo na cadeia prisional; entre outros muitos
problemas. Ao deixar de debater esses e outros temas, nos espaços de comunicação da política
e civis da sociedade, fica ainda mais evidente a marginalização que essas mulheres estão expostas.
Porém, a fim de melhor direcionar o debate, o presente comitê enfatiza como o escopo
das discussões a prioridade aos seguintes assuntos: a questão da saúde e higiene dentro das
1
Ou mesmo com profissionais da saúde presentes nas prisões que não necessariamente são de confiança, podendo também
agir como violentadores e abusadores dessas mulheres.
prisioneiras e, por fim e a reintegração dessas mulheres na sociedade.2
Desse modo, o Comitê propõe se debruçar sobre a violação dos direitos humanos nos
aspectos do bem-estar desses corpos femininos, além dos direitos que estas possuem e as
condições que lhe estão impostas, dentro do sistema carcerário. Visto que, há uma profunda
carência, em diversos países, de uma legislação e de recursos que ofereçam para essas
2
Esses assuntos serão melhor aprofundados no tópico “Escopo do Comitê”.
RELEVÂNCIA DO TEMA:
“promover medidas para as necessidades das prisioneiras é fundamental para atingir a igualdade
de gênero e o respeito aos direitos humanos, sem jamais dever ser considerado como tratamento
pergunta: por que é importante debater a condição que as mulheres se encontram nas prisões
de diferentes países?
adversidades, dependendo do país que se encontra, variando entre extrema vulnerabilidade até
um tratamento que atende com respeito aos Direitos Humanos. Porém, esse mesmo grupo
Fica claro que, as problemáticas que diversas mulheres enfrentam dentro das prisões ao
redor do mundo vão além do caráter punitivo dessas instituições. Não se tratam de mecanismos
para penalizar as infratoras por seus delitos, mas verdadeiras manifestações de um descaso ou
incapacidade de resposta dos governos para prevenir o sofrimento e os abusos que atingem
milhares de mulheres.
baixo número no total da população carcerária no mundo como um todo, a população carcerária
Introdução. Consequentemente, essa escalada tem demonstrado novos problemas e desafios que
até países modelos no tratamento prisional precisam se empenhar para responder. Esse esforço
Sustentável (ODS) de Igualdade de Gênero (ODS 5), Redução de Desigualdades (ODS 10) e
3
Sobre as Regras de Bangkok, serão mais aprofundados mais adiante neste Guia de Estudos.
1. CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS (CDH):
Nesta análise, levaremos o debate para dentro do Conselho de Direitos Humanos (CDH)
das Nações Unidas (ONU), um órgão subsidiário da Assembleia Geral que conta com 47 Estados-
membros eleitos. Criado em março de 2006, o CDH é um órgão internacional que tem como
O Conselho promove sessões, que são divididas em agendas, para realizar votações de
resoluções e discutir normas de direitos humanos que estão sendo implementadas ao redor do
mundo. Tais encontros contam com a participação de relatores e da sociedade civil, que utilizam
o espaço para apresentar denúncias e relatórios de países que sofrem violações de direitos
humanos, em diversos temas. Além disso, também é possível acionar sessões extraordinárias,
O mandato do CDH é:
usar seus direitos; Verificar o que os governos fazem para proteger os direitos das
Dessa forma, o órgão serve de espaço para que representantes de organizações, como
ONGs, por exemplo, possam expor demandas da sociedade civil; relatar situações em que
determinada população não está tendo seus direitos respeitados pelo seu país e analisar se os
países membros da ONU estão cumprindo suas promessas de respeito aos direitos humanos.
Como foi o caso do Brasil em 2017, por exemplo, que foi denunciado por uma missão da ONU
domésticos, não governamentais e internacionais -, e as dinâmicas que temas como este podem
Por fim, através de um debate realizado no CDH, objetiva-se buscar formas de garantir
Para falar das legislações específicas para as mulheres encarceradas, é necessário falar
independentes da leis de cada país, todos indivíduos os possuem. Estes são estabelecidos pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos e devem ser assegurados pelo Estado para todos
seus cidadãos, até mesmo em situação de cárcere, independentemente de seu gênero, raça, etnia,
crença ou nacionalidade. Ao longo deste guia, iremos abordar, sobretudo, os direitos que
grandes meios de comunicação. Podemos dizer que, na dinâmica global e nos grandes espaços
de discussões este assunto não tem muita visibilidade, e é devido essa negligência por parte das
Nesse contexto, para discutir sobre sistema penitenciário feminino, também é necessário
ter conhecimento sobre as especificidades dos sujeitos desse tema: mulheres prisioneiras,
Sendo assim, entra aqui em pauta questões como a desigualdade de gênero no sistema
Os sistemas prisionais ao redor do mundo foram feitos e pensados por homens, para
homens. Isso pode ser explicado, em partes, pelo motivo de que o número de mulheres presas é
substancialmente menor do que o número total de presos em todos os países do globo. Mesmo
assim, o fato das prisões serem moldadas para atender somente às necessidades masculinas
demonstra uma grave negligência por parte dos Estados Nacionais em olhar para essas
prisioneiras, mesmo que elas representem uma porcentagem pequena da população carcerária.
É ainda preciso reconhecer que os corpos das mulheres possuem necessidades físicas e
biológicas diferentes da população carcerária masculina. Assim, a aplicação das mesmas regras e
tratamentos para homens e mulheres nas prisões fere diretamente os direitos das mulheres e seus
corpos, violando a questão da equidade de gênero.
Na prática, essa negligência fica evidente na ausência de leis e programas específicos para
feminina. Com isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 2010, as Regras de
países membros presentes no 12º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e
Em dezembro de 2010, esta lacuna foi preenchida quando as regras das Nações
2013. Pg.04)
Estas normas, por sua vez, correspondem a um conjunto de 70 regras, que regulamentam
a chegada e o registro das condenadas no cárcere; sua alocação; sua higiene pessoal; os serviços
e cuidados à saúde para estas; seu atendimento médico; os cuidados com a saúde mental;
tratamento para drogas; prevenção ao suicídio; segurança e vigilância especializada para elas; o
contato destas com o mundo exterior; capacitação diferenciada dos funcionários dessas prisões;
avaliações e sensibilização pública da situação dos cárceres femininos, entre outros regulamentos.
Tratam-se, portanto, de diretrizes que tem por objetivo guiar as autoridades Estatais a
identificar a origem e as necessidades dessas mulheres. Portanto, no presente guia, quando nos
referirmos aos direitos básicos de uma prisioneira estaremos fazendo menção aos direitos
Porém, para analisar a eficácia prática destas leis, é primordial entender o contexto que
4
As Regras de Bangkok diferenciam as presas condenadas de outras categorias de detentas. Estas outras detentas incluem:
adolescentes (menores de idade); mulheres gestantes, com filhos e lactantes; estrangeiras; minorias e povos indígenas;
presas cautelares ou esperando julgamento.
levou estas infratoras a cometer seus respectivos crimes. Apesar das diferenças regionais, a
Organização das Nações Unidas (2013), os crimes cometidos por essas correspondem,
principalmente, a pequenos delitos ligados à pobreza, como roubo, fraude e delitos menores
relacionados a drogas. Ademais, ainda de acordo com a ONU (2013), uma proporção
considerável de mulheres infratoras está na prisão como forma direta ou indireta de múltiplas
por crimes violentos, além disso, uma grande maioria delas já foi vítima de violência.
mulheres que, na sua maioria, foram privadas de oportunidades econômicas e por isso buscaram
o sustento em crimes leves. A título de exemplo, os gráficos abaixo do site Prison Policy ilustram
a realidade nos Estados Unidos e as principais causas que levam as mulheres ao sistema
carcerário:
5
Disponível em: https://www.prisonpolicy.org/reports/pie2019women.html
6
enxergar um real valor nas Regras de Bangkok, formuladas justamente para prevenir que prisões
precipitadas ocorressem. Seguindo essa lógica, ao observar que, na maioria dos casos, essas
mulheres foram presas por crimes não violentos e ligados à pobreza, a sua proteção torna-se
ainda mais necessária, visto que a erradicação da pobreza é um dos Objetivo de Desenvolvimento
Por fim, é essencial lembrar que, antes da formulação das regras de Bangkok, a população
carcerária feminina era submetida às mesmas leis de proteção que a população masculina. Tendo
em vista que tais regras foram criadas há 10 anos, a equidade de gênero no tratamento e nos
6
Disponível em: https://www.prisonpolicy.org/reports/pie2019women.html
3. ESCOPO DO COMITÊ:
podem instigar as mais diversas e densas discussões. Contudo, o escopo do comitê é promover
solucionadas dentro deste assunto. Dessa forma, a mesa julgou mais pertinente promover um
debate a respeito dos seguintes escopos: a violência existente nos presídio, a questão da saúde e
higiene dentro das prisões femininas, o tema da maternidade para as prisioneiras e, por fim a
3.1. Violência
onde a violência é instrumento de troca (DE OLIVEIRA; DA COSTA, 2019, p.10), essa é uma
realidade que se concretiza a partir das análise das condições em que as mulheres são submetidas
da violência feminina está presente de forma intrínseca em diversas faces, que não se limitam
Apesar do ordenamento jurídico das leis e constituições buscarem o respeito aos direitos
os vínculos sociais são rompidos ao adentrarem o sistema penitenciário, onde deixam para trás
seus filhos, suas famílias e a garantia que seus direitos serão respeitados.
A violência institucional é uma das principais faces presente no sistema de justiça criminal
que afeta nas mulheres encarceradas7. Engloba-se também outras formas existentes de violação
de direitos, como privação de alimentos, água potável e materiais de higiene pessoal. Por terem
em grande parte das vezes auxílios e direitos negados durante o seu cumprimento de pena, as
prisioneiras assumem uma condição ainda mais vulnerável e invisibilidade do que já possuem na
sociedade.
7
Compreende-se como violência institucional, de acordo com o Instituto Terra, Trabalho e cidadania (2019, p. 1, apud
LADEIA, MOURÃO E MELO, 2016) "a violência praticada por órgãos e agentes públicos que deveriam responder pelo
cuidado, proteção e defesa dos cidadãos".
Assim como a violência física e institucional que afeta o bem-estar das mulheres inseridas
consequência do sistema de justiça criminal que incide nas mulheres presas. Este sistema adota
Sul Global8, possuem sérias defasagens em relação ao cumprimento deste direito básico para a
população penitenciária como um todo. Ao tratar de prisões femininas a questão é ainda mais
ser feito por homens e para homens. Ou seja, a base do funcionamento deste é fortemente
pautada em necessidades masculinas, isso faz com que as internas possuam uma série de
privações básicas.
segmento que se refere às questões de saúde e higiene das detidas (regras 6 a 18), é necessário
que seja fornecido pelo presídio um exame médico no ingresso à prisão, onde se constata: se há
inclusive para casos de trauma emocional por conta de abuso sexual, histórico reprodutivo e a
acompanhada por uma médica, salvo em casos emergenciais, e devem possuir acompanhamento
constante para cuidar de sua saúde mental. O presídio deve fornecer também estrutura necessária
9
para exames específicos, como teste Papanicolau ou exames de câncer de mama e ginecológico.
8
A definição de Sul Global que será utilizada neste guia é apresentada na seção de Dinâmicas Globais e as Prisões
Femininas.
9
O teste de Papanicolau é um exame ginecológico realizado para prevenção ao câncer do colo do útero.
funcionários carcerários não estão preparados para compreender e lidar com condições e
para as prisioneiras é violentamente comum em muitos países. Além disso, quando se trata de
questões ligadas a saúde mental ou trauma causado por abuso sexual a negligência
governamental é ainda mais presente. Por conta disso, esta população se torna cada vez mais
fragilizada e este tipo de violência passa a ser normalizado em vários presídios ao redor do
mundo.
Outra importante questão está relacionada à estrutura penitenciária, muitos presídios não
populações carcerárias masculina e feminina são mantidas juntas em uma mesma instituição
divididos por um pavilhão, ou nem isso. O problema torna-se mais delicado não apenas pela
questão de maior vulnerabilidade das mulheres, por conta do risco aumentado de violência sexual
compra desses, ação que se torna limitada quando a realidade socioeconômica da detenta pobre
é analisada, forçando com que optem por substitutos prejudiciais a sua saúde, mas mais
3.3. Maternidade
Como foi apresentado, as detentas do sexo feminino sofrem com a falta de instalações e
tratamentos específicos, porém esse sofrimento fica mais evidente quando se diz respeito à
Historicamente, à mulher foi reservado o papel de mãe, sendo considerado seu objetivo
último o de procriar e educar filhos. Com o aumento da presença destas na criminalidade, cria-
se um embate entre seu papel tradicionalmente designado, considerado como vocação natural,
e o crime, um desvio do que é esperado social e moralmente do sexo feminino (BRAGA, 2015).
Sendo assim, há um o intenso choque destes dois universos, com a maternidade presente dentro
casos em que prisioneiras são imediatamente separadas de seus filhos, privadas do papel de mãe;
até outros com o transcorrer do período de gestação em regime de privação de liberdade. Outra
geralmente fruto de visitas íntimas, mas podendo também ocorrer como resultado da violência
sexual.
Sendo assim, embora existam diversas leis para regular esse processo nas prisões, sendo
marcado pela precariedade da maternidade vivida pelas prisioneiras, em todos os seus aspectos
e fases.
cárcere: durante a gestação a mulher não encontra à sua disposição a estrutura e assistência
ginecológicas e obstétricas até ambientes insalubres, faltando cuidados de higiene pessoal e para
a saúde mental e física das mães. Nesse âmbito, as condições dos presídios femininos não afetam
somente essas detentas, mas podem ser prejudiciais para o desenvolvimento do feto e,
posteriormente, do recém-nascido.
sua forma mais explícita durante o nascimento da criança. Em alguns países elas devem passar
por esse momento algemadas enquanto dão à luz, literalmente presas durante o parto. Há,
A vida após a nascença do bebê é marcada por normas e controles impostas pelo cárcere,
Correia (1998, apud DURIGAN, 2015, p. 21), é extremamente importante e produz efeitos
da mulher. Ocorre um fenômeno de hiper maternidade, nos primeiros meses após o nascimento
do bebê, no qual mãe e filho passam extensos períodos de tempo juntos em um espaço físico,
retirada da prisão e seu contato com a mãe passa a ser reduzido ou, em alguns casos extremos,
nulo. A prisioneira, então, além de sofrer violência física, através, principalmente, da violência
obstétrica, sofre abusos e violências psicológicas decorrente da separação abrupta. Muitas vezes
sem a possibilidade de recorrer a um tratamento para lidar com a separação, acaba sofrendo
doenças psiquiátricas.
Porém, a maternidade no cárcere não diz respeito somente às presas grávidas, mas
também àquelas que possuem filhos menores de idade fora da prisão. Estas, frequentemente
mães solteiras e responsáveis únicas pela criação dos filhos, têm de lidar com o afastamento e o
afetivo delas, que deixam de receber visitas, tendo o contato reduzido e dificultado, e ficando
muito tempo sem notícias dos mesmos. O abandono afetivo tem graves consequências na vida
social da mulher e o desvio do feminino, respectivamente, faz com que essas sofram inúmeras
violências físicas e emocionais cujos efeitos atingem também seus filhos. É necessário, então,
repensar a forma que a política é feita, visto que a grande maioria das prisões e suas regras foram
3.4. Reintegração
A visão mais difundida do objetivo das prisões, atualmente, se baseia na ideia de que as
estas são instituições que ajudam a reduzir a criminalidade na sociedade, agindo como um
infrações. O teor dos métodos adotados nesses espaços varia entre um mais punitivo e um mais
promove sua reabilitação, mas sim sua reincidência (VAN GINNEKEN, apud BESIN-MENGLA,
2020).
atos ilícitos mesmo após ações corretivas dos sistema carcerário. Tendo em mente que muitos
países têm demonstrado taxas de reincidência altas, tal sistema mostra-se insuficiente, senão
contraditório, já que é de se esperar que depois de cumprir pena de prisão, as pessoas não
que a maioria das pesquisas sobre como aumentar a reintegração e reduzir a reincidência foca
projetos que enquadrem especificidades de gênero e abordem a realidade da vida das mulheres
e suas barreiras específicas, são fundamentais para também elevar a reinserção social e combater
primeira entre as principais barreiras para cumprir com essa meta, visto que rotulações do crime
cometido acompanham toda a vida do ex-detento. Assim, o estigma promove barreiras sociais
e econômicas duradouras que podem fazer com que o indivíduo volte à criminalidade. E tal
realidade é ainda mais delicada entre ex-detenta, devido à imposição de limites morais definidos
por uma estrutura patriarcal, tal qual a imposição de papéis maternos e de gênero.
Outro aspecto essencial para a reintegração diz respeito ao abandono social e familiar,
constante falta de expectativas de futuro pela separação abrupta de suas relações. Em geral,
existe uma dificuldade de acesso das famílias e amigos aos presídios, principalmente pensando
em cenários de extrema pobreza, onde o custo da distância dos sistemas prisionais em relação
às residências dificulta visitas, como no Brasil (DAVIM e LIMA, 2016). Dessa forma, seja por
punição, vergonha ou dificuldade de acesso, muitas famílias acabam por se distanciar das
detentas.
Ainda no que tange às carências emocionais, há uma alta associação entre meio social e
crimes; a maioria dos detentos possui histórico de algum tipo de abuso físico, emocional ou sexual
(VAN WYK, 2014). Tal fato se amplia quando tratando de mulheres que, historicamente, são
destacam que as dificuldades psicológicas e sociais de mulheres infratoras aparece de forma mais
severa e complexa do que entre homens (SORBELLO, 2002). As mulheres no sistema do Havaí,
por exemplo, possuem altos índices de estupro e/ou abuso físico e sexual na infância, 87% (CASE,
de transtornos psicológicos e traumas que podem implicar em mais uma barreira de retorno à
ampliar. Ou seja, para ter algum impacto na reincidência, os programas de reabilitação devem
ajudar essas mulheres a entender como a vitimização afetou seu funcionamento social e
psicológico.
Um elemento adicional na busca pela reintegração social plena destacado por, Van Wyk
(2014) trata da forte correlação entre baixos níveis de escolarização, desemprego, pobreza e
crime, fato apoiado por pesquisas de presidiários no Reino Unido com níveis de educação muito
Nessa lógica, projetos educacionais para prisioneiros trazem benefícios sociais, mostrando-se
Entretanto, segundo Case, Fasenfest, Sarri e Phillips (2005) a educação das mulheres nos
programas na prisão costuma ser limitada a cursos como cosmetologia e assistência de escritório.
Ademais, equipamentos e técnicas de instrução muitas vezes estão desatualizados e não as
Profissional) é um projeto modelo de Michigan, EUA, que ilustra ações de sucesso no que tange
de emprego. Ademais, o planejamento financeiro é outro fator essencial para ampliar habilidades
apoio à formação profissional e educacional, fornecendo suporte durante e após seu período em
cárcere, a fim de ajudá-las não apenas com a capacitação, mas também na busca nos setores
para o qual foram capacitadas. Além disso, o amparo familiar e social para atender essas mulheres
com sua recuperação emocional e psicológica é necessário e também pode ser incentivado. Por
fim, o apoio financeiro após sua libertação, além de moradia e transporte são fatores cruciais
para que essas sejam capazes de retomar suas vidas e obrigações, dentro das mais diversas
gênero.
10
10
Imagem disponível na página 119 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : < https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
4. AS DINÂMICAS GLOBAIS E AS PRISÕES FEMININAS
entre as divisões de Norte e Sul Global11, com o objetivo de apresentar as diferenças estruturais
entre os princípios e os valores que caracterizam as prisões femininas e seus propósitos nesses
diferentes conjuntos de países. Além disso, as diferentes problemáticas estruturais no que diz
respeito à condição carcerária feminina desses dois espaços, exigem propostas, estratégias e
ideias específicas por parte dos delegados. Uma proposta de resolução pensada para uma
realidade carcerária alemã não será de grande ajuda para a realidade do Afeganistão, por
Para esse guia de estudo serão focados apenas dois escopos: o histórico e o político; e ao
final será comparada a capacidade que os diferentes conjuntos o Sul e Norte Global têm para
cumprir as já mencionadas Regras de Bangkok. Estes aspectos são importantes pois conseguem
esses dois conjuntos de países. Espera-se que, ao ter conhecimento das questões particulares
desses sistemas carcerários, os delegados sejam capazes de pensar soluções mais objetivas e
tratamento e herança do sistema penal e prisional no mundo inteiro. Tal confirmação é dada pois
esses, em sua maior parte, afetaram a maneira que as constituições e as leis de diversos países
foram feitas, definindo normas que não necessariamente seriam as mais apropriadas, inclusive
próprio aparelho do Estado Colonial era, normalmente, para a repressão e punição de seus
nativos ou, em muitos casos, de escravos que não eram obedientes e/ou representavam perigo,
11
Os termos Norte e Sul Global não se referem à um conjunto de países que ocupam uma posição geográfica específica
(Hemisfério Norte e Sul respectivamente), mas trata de dois grupos de países separados por diferenças socioeconômicas.
Esses termos são utilizados em estudos pós coloniais e transnacionais para serem alternativas às expressões de Terceiro
Mundo, mundo subdesenvolvido, Primeiro Mundo e países desenvolvidos. Consequentemente, é possível observar
algumas imprecisões geográficas ao se referir à Austrália como um país do Norte Global e à Índia como um Estado do
Sul Global.
a penalidade e o descaso na eventual prisão e até morte de dissidentes serviria de exemplo para
Entretanto, mesmo após a independência de tais países colônias, ainda é possível ver
nuances deste tratamento repressivo em aparelhos e estruturas dos Estados atuais. É importante
ressaltar que, na maioria dos casos, as normativas para os prisioneiros eram quase que exclusivas
para aqueles do sexo masculino e as mulheres eram escanteadas, com seus direitos quase que
Além disso, esta forma de repressão feita àqueles que eram rebeldes ou que discordavam
das imposições do Estado europeu não se resumiam às colônias, em países católicos, mulheres
europeias que não seguiam o padrão cristão de moral e vivência ou que eram adeptas a outras
religiões, eram taxadas de bruxas e punidas sendo queimadas em fogueiras, ao contrário dos
invisibilidade destas mulheres no sistema carcerário. Sendo assim, a falta de um código concreto
especial à essa população, bem como a não documentação de casos, configuram um descaso
em diversas regiões, que não se limitam somente ao Sul Global, mas também ao Norte Global,
principalmente entre países da Europa e os EUA pós-colonização. Além disto, houve demora
para início do debate sobre um código para ampla aplicação mundial a respeito deste tema que
Apesar dos fatos acima, países do Norte Global foram fomentadores de melhorias nas
condições das mulheres no sistema carcerário em seus territórios. Um dos primeiros atos a favor
dos direitos mais básicos das mulheres encarceradas foi no Reino Unido, em 1823, através do
12
“Gaol Act” idealizado por uma mulher chamada Elizabeth Fry, estabelecendo os direitos tanto
para homens como para mulheres encarceradas. Porém, essa foi uma vitória muito maior para
as mulheres, pois neste ato se especificava a separação entre sexos e buscava assegurar guardas
do sexo feminino para as mulheres - no entanto esta última medida não foi muito eficiente ou
12
Para ver documento inteiro acessar: < https://community.dur.ac.uk/4schools.resources/Crime/Fryinfo.htm>
concreta pela falta de fiscalização da época. Além dessa conquista, em 1835, nos EUA, foi
estabelecida por uma iniciativa privada uma prisão feminina independente, que tinha uma
Como se pode ver, o Norte Global também foi pioneiro na questão dos direitos das
mulheres nos centros de detenção, apenas quando se trata do escopo nacional, porém ainda
persiste um impasse entre países deste bloco e da comunidade internacional. Este impasse seria
o método para alcançar o objetivo de qualquer prisão, que é a diminuição do crime, visto que os
meios para chegar nesse fim comum variam entre características de punição e ressocialização,
majoritariamente.
A resposta ainda varia, porém, na maioria dos países o método adotado é mais punitivo,
principalmente naqueles que apresentam más condições prisionais - caracterizada pela alta
violência e repressão, além do esquecimento por parte do Estado e sociedade da pessoa que
reintegração social nas prisões. Tendo em mente que a educação é um direito humano
fundamental que deve ser usufruído por todos, como principal objetivo da prisão, a reabilitação
deve incluir uma ampla gama de programas, incluindo saúde física e mental, programas de abuso
Portanto, o debate sobre a situação carcerária das mulheres em países do Norte Global
deve ser estruturado levando em consideração alguns pilares importantes que são incorporados
nos centros de detenção desses países, como a urgência de regras e protocolos que cubram a
Pode-se dizer que, a maioria desses países buscam nos centros de detenção uma maneira de
ressocializar e reeducar a detenta através de programas educativos e sociais a fim de prepararem
Pensando nos impactos positivos que sistemas focados em uma ampla reinserção social
podem trazer, países como Noruega, Alemanha, Escócia e Espanha comumente dispõem em
suas prisões: bibliotecas; serviço de saúde de qualidade; centro de treinamento para ocupações,
como alfaiataria; e estruturas para reunião dos detentas com seus familiares. Assim, a
Ademais, em países da Ásia que fazem parte do Norte Global, como o Japão e a Coreia
do Sul, as condições das suas prisões, tanto masculinas quanto femininas, são excelentes, devido
melhora das condições prisionais nos seus Estados-Membros, com a resolução do Parlamento
Europeu de 2008/200913, a respeito das condições de mulheres nas prisões e seus impactos na
relação familiar, que garante direitos para as prisioneiras, como destacado neste trecho sobre a
mães que tenham a seu cargo filho(s) de pouca idade e que, nesse caso extremo, essas
mulheres possam obter uma cela mais espaçosa, se possível individual, e sejam objeto de
outras regiões do Norte Global. Mesmo a própria citação acima, que foi um dos primeiros
13
Documento encontrado em: <https://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?type=REPORT&reference=A6-2008-
0033&language=PT#title1>
14
Citação encontrada na página 8 do relatório do Parlamento Europeu, disponível em:
<https://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//NONSGML+REPORT+A6-2008-
0033+0+DOC+PDF+V0//PT>
documentos a respeito desta temática que recomendava e encorajava os membros de uma
organização internacional, a União Europeia, a seguir tais medidas, não configurava uma
também foram criadas, estando presentes na realidade do Norte Global. Ao aplicar os padrões
internacionais aos sistemas nacionais, como foi feito em nações parte deste bloco (Canadá,
Alemanha, Países Baixos, Austrália, Japão), alguns Estados configuram menos importância à
de Bangkok, fica explícito como a problemática da situação das mulheres no sistema de justiça
criminal é universal, desta forma a aplicação dessas regras é fundamental, independente das
divergências entre as políticas de Estado, dando base e ferramentas corretas para lidar com tal
questão.
No entanto, alguns velhos hábitos que podem datar dos tempos de colonização ainda
não são ultrapassados em países do Norte Global, como EUA, Rússia e a locais da Europa, como
a França 15. Apesar do recente esforço observado para a mudança na mentalidade punitiva dos
Estados, este conjunto de países ainda agem nessa lógica, ressaltando como seus aparelhos e
estruturas ainda têm nuances imperialistas - pois grande parcela de seus prisioneiros tanto
homens como mulheres, não são cidadãos do país, mas sim imigrantes ou refugiados, no caso
Da mesma forma que os colonos prendiam e puniam nativos da terra pela sua
dentre outras complicações, também são perseguidas pelos rastros e estigma que os vestígios
predominantemente racista, classista e machista. Tal questão também se mostra ainda muito mais
desfavorável às mulheres que fazem parte desses grupos oprimidos e hostilizados socialmente,
15
Prisões na Europa como La Santé Prison (França) e a Petak Island Prison (Rússia) ainda são maus exemplos de centros
de detenção com baixa infraestrutura para mulheres e más condições de cárcere como forma de punir os detentos e
detentas por seus crimes.
uma vez que suas características identitárias são sobrepostas16 e configuram em diversas formas
de opressão e exclusão.
Ademais, os países do Norte Global são caracterizados pelo capitalismo enraizado nas
políticas de Estado e, por consequência, a prioridade do lucro. Nesse cenário, prisões privadas e
empresas de segurança e encarceramento são comuns, seguindo essa lógica do sistema. Aqui, o
lucro é realizado em detrimento da qualidade de vida dos detentos dentro das prisões, com uma
onde a maior estadia no cárcere significa mais lucro para este capital privado 17.
Nessa lógica, ainda existe uma busca por economias na infraestrutura e segurança dessas
pelos Direitos Humanos, tanto para homens como mulheres. Como por exemplo, em diversas
prisões privadas dos EUA, para economizar financeiramente, os seguranças são treinados por
menos tempo e são mais rotativos, causando os altos índices de violência e motins dentro destas
Além disso, um fator para a identificação do perfil das mulheres presas nestes países, que
Drogas”. Levando em conta que a incidência do porte e tráfico de drogas são identificados em
comunidades pobres ou socialmente vulneráveis, as prisões destas mulheres são, na maioria das
16
A “Teoria da Interseccionalidade” diz respeito ao estudo de sobreposição (intersecções) entre identidades sociais e
sistemas de opressão, dominação ou discriminação. A teoria sugere que diferentes categorias biológicas, sociais e culturais
(tais como gênero, raça, classe, orientação sexual, religião, idade e outros eixos de identidade) interagem em níveis
múltiplos e muitas vezes simultâneos, de forma complexa.
17
Para mais informações acesse: <https://www.prisonpolicy.org/reports/money.html>
18
Como ilustrado no gráfico acima, na Europa, 75% das prisioneiras que entram no sistema
prisional têm problemas com abuso de álcool e drogas. Nos EUA, segundo um levantamento
antigo feito em 1994, mais de um terço das prisioneiras entrevistadas alegam que estavam sob
influência de alguma droga na hora do crime, 40% usavam drogas numa base diária no mês
anterior ao crime e quase um quarto delas relatou cometer seu crime para conseguir dinheiro
Com isto em mente, a “Guerra às Drogas” também causou uma enorme contribuição no
20
Além disso, sérios problemas no sistema penal e nos índices de violência dentro das
18
Imagem disponível na página 72 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : < https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
19
Pesquisa disponível em: <https://law.jrank.org/pages/1804/Prisons-Prisons-Women-composition-women-s-
prisons.html>
20
Imagem disponível na página 75 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : <https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
prisões estadunidenses podem ser observadas no gráfico acima, onde 75% da prisioneiras em
prisões locais têm algum tipo de condição mental. A Europa também apresenta altos números,
em média 80%21 das detentas apresentam sintomas, esses dados ficam ainda mais preocupantes
quando se unem ao fato de que dois terços dessas mulheres têm estes ocorrências decorrentes
22
Acima estão algumas medidas para o tratamento sobre dependência de substâncias nas
prisões, uma parte destas já estão implementadas em prisões modelo no Norte Global, como no
que promova a inserção do indivíduo, reiterando a emergência deste problema dentro das
prisões do Norte Global de forma geral. Ademais, muitos projetos de reabilitação podem ser
trabalho pelas prisioneiras, por exemplo, podem ser investidos no aprimoramento de programas
Portanto, a partir destas análises, o perfil dessas detentas no Norte Global já pode ser
identificado bem como a realidade diversa dentre esses países, demonstrando, em resumo, que
21
Pesquisa e outras informações relevantes disponível em: <https://www.euro.who.int/en/health-topics/health-
determinants/prisons-and-health/focus-areas/womens-health/10-things-to-know-about-women-in-prison>
22
Imagem disponível na página 73 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : < https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
estas mulheres encarceradas são pessoas que vêm de ambientes social e economicamente
utilizado pelas estruturas prisionais desta região e do perfil das mulheres presas nesses centros
desenvolvimento nacional, como observado no Sul Global. Portanto, estes países, que têm obtido
sucesso em seu sistema penal, podem ser precursores da difusão de medidas para melhora no
tratamento das mulheres nas prisões, a fim de realizar um intercâmbio de ideias e de políticas
colocar o elemento da vulnerabilidade mais marcante do que no Norte. Em outras palavras, essas
produzem desafios ainda maiores para garantir o cumprimento da lei e dos Direitos Humanos
nas suas prisões femininas. Além disso, em muitos casos, os próprios governos são os
responsáveis por desrespeitar os direitos dessas mulheres e produzir situações de exclusão social.
Como resultado dessas realidades, esses países abrigam alguns dos sistemas prisionais
com as piores condições de vida. Além disso, os dirigentes dessas nações enfrentam problemas
muito similares entre si para administrar suas prisões, tais como superlotação, baixo fornecimento
violência.
Antes de qualquer coisa, se referir à condição histórica exclusiva do Sul Global significa
principalmente considerar a experiência colonial que os povos dessa região possuem. A maioria
das nações dessa parte do globo, em algum momento de suas histórias, ficaram sob um domínio
das potências europeias. Essa vivência trouxe resultados que têm efeitos diretos e indiretos sobre
a situação das prisões femininas até os dias de hoje. Entretanto, o aspecto mais impactado pela
Muitos desses países, mesmo após a independência, mantiveram partes, se não toda,
constituição que lhes foi imposta no passado. Ademais, todos os Estados do Sul Global redigiram
suas leis seguindo os moldes e princípios da Europa, e a legislação que trata da condição
carcerária feminina não foi uma exceção. Dessa forma, a herança das normas europeias afetou
as prisioneiras nesses países, tanto pelo conteúdo presente nas constituições quanto pelo que
estava ausente nelas, não lhes garantindo qualquer tratamento ou amparo legal diferenciado em
Outro ponto importante é que o estabelecimento dessas prisões teve uma relação
intrínseca com a colonização, visto que o entendimento europeu do sistema carcerário como um
território e seu povo. Nesse sentido, as legislações impostas pelos europeus tratavam as
entre homens e mulheres e suas formas de punição. Em outras palavras, uma prisão na colônia e
das “colônias penais”. Esses eram lugares para onde prisioneiros do Reino Unido eram exilados
para cumprir suas penas com serviços coloniais (plantações não remuneradas, derrubada de
florestas, construção de estradas, entre outros). Nesses espaços o trabalho e as punições muito
Adicionalmente, essas prisões não eram exclusivas para os criminosos europeus, mas os
23
misturavam com os povos nativos. Consequentemente, os cárceres desses lugares e suas regras
não eram estabelecidas com o objetivo de garantir a justiça e pena legal às populações locais ou
23
O império britânico chegou a estabelecer prisões coloniais principalmente na Austrália, na Índia e nos Estados Unidos,
mas esses não eram exclusivamente os únicos lugares. Da mesma maneira que essa não era uma prática restrita aos
britânicos. A França, a Espanha e Portugal também implementaram prisões e suas próprias colônias e até mesmo casos
mais modernos, como as prisões russas na Sibéria ou a prisão dos E.U.A. em Guantanamo, possuem similaridades com
as prisões coloniais tradicionais.
aos prisioneiros, mas para aprofundar ainda mais a dominação. Nas colônias penais o castigo não
era baseado na lei, o interesse o sucesso na conquista do novo território, quem não cumprisse o
Nesse cenário, as mulheres (nativas ou prisioneiras exiladas) não tinham qualquer distinção
de tratamento para com os prisioneiros homens. A única, porém mais importante diferença, é
que apesar de ambos não possuírem seus direitos, o sistema de trabalho punitivo das penas
coloniais, pensado para os homens, era também aplicado às mulheres (horas de trabalho forçado
iguais, guardas homens para ambos24, condições sanitárias iguais), dessa forma o tratamento era
Além disso, é importante entender o papel das instituições políticas para explicar essa
realidade atualmente. Por um lado, a maioria dos países do Norte Global já possuíam instituições
consolidadas antes mesmo da expansão colonial e, com o passar do tempo, fato que
desempenhou um forte papel na reformas às suas constituições25. Por outro, até hoje as
legislações dos países do Sul Global, por causa do tardio e ainda desafiador processo de
disso, as reformas constitucionais nas regiões europeias não foram estendidas ou adotadas para
Nas regiões dominadoras, foram conquistados direitos para grupos antes marginalizados
tratamento das mulheres nas prisões. A título de exemplo, o Gaol Act em 1823 estabelecido pela
Inglaterra Enquanto, por outro lado, no Afeganistão com sua primeira constituição redigida em
24
Essa afirmação é evidenciada pela considerável ausência de mulheres na profissão de guardas. Mais informações sobre
o papel das mulheres nas colônias disponível em: https://courses.lumenlearning.com/boundless-ushistory/chapter/the-
role-of-women-in-the-
colonies/#:~:text=Role%20of%20Housewife-,The%20typical%20woman%20in%20colonial%20America%20was%20e
xpected%20to%20run,in%20medicine%20and%20health%20care.
25
Essas reformas podem incluir, por exemplo, a inserção de artigos que garantam direitos para grupos antes esquecidos
na constituição, a remoção de artigos que ferissem a existência de pessoas ou a introdução de artigos que tratem de assunto
antes ignorado (como a condição da mulher na prisão).
26
É fundamental entender essas reformas como o resultado de um longo processo de luta política. Os direitos raramente
são simplesmente “dados” para um grupo marginalizado e a solidez das instituições políticas têm um papel fundamental
em garantir o sucesso dessas lutas. A título de exemplo, a conquista do voto feminino foi o resultado da crescente
importância que as mulheres assumiram na sociedade e instituições europeias através dos seus esforços para se inserirem
nesses espaços.
1890, ainda não se realizaram reformas constitucionais e garantia dos direitos das mulheres, muito
menos das que se encontram encarceradas. Isso pode ser explicado, principalmente, por causa
das turbulências políticas que atingem o país e pelos chamados “crimes morais” das mulheres,
definidos pela nação (como sexo antes do casamento, adultério ou fugir do esposo, etc).
Dessa forma, é possível perceber que existe uma intrínseca relação entre a instabilidade
estabelecer recursos legais para garantir direitos e condições básicas para grupos marginalizados
nesses Estados e para as mulheres prisioneiras, no caso. De uma forma mais linear: a colonização
foi impulsionadora da atual instabilidade política, que por sua vez prejudica a consolidação das
defasada, com embates no processo de reformas constitucionais para garantir os direitos desses
grupos.
No que diz respeito à condição política do Sul Global é fundamental pensar qual a
capacidade desses Estados em administrar as suas prisões com mulheres, juntamente com qual
seria a finalidade desse encarceramento. Para avaliar a capacidade dos Estados em gerir estas
prisões vale primeiro observar a situação econômica desses países que lhes permitiria destinar
Prison Brief”27 é possível observar que os países dessa região apresentam os maiores índices de
quando se fala de grandes economias como Brasil, Índia, África do Sul e Irã. Enquanto nos
governos do Norte Global apenas uma minoria dos sistemas carcerários se encontra em situação
de superlotação28.
Fica então claro que a construção de instituições prisionais, ou no caso a falta destas,
assim como a ausência de materiais básicos para as prisioneiras (absorventes, calcinhas, comida,
vestimentas, etc), não é só definida pela situação das contas públicas dos países. Se esse fosse o
27
Os dados aqui extraídos do World Prison Brief não fazem parte de um único relatório lançado pelo banco de dados,
mas de informações específicas de cada Estado presentes no site, com diferentes datas de atualização. Tais informações
sobre a situação de cada país estão disponíveis em: https://www.prisonstudies.org/world-prison-brief-data
28
Isso não significa afirmar que a ocupação carcerária está em um baixo número no Norte, a título de exemplo, segundo
os dados de 2017, a taxa de ocupação das prisões norte americanas era de 99,8%.
caso, o Brasil, uma das maiores economias do mundo, não seria um dos Estados com as piores
condições de vida para mulheres encarceradas. Dessa forma, é possível inferir que o investimento
público para melhor o cenário nesses estabelecimentos não seja uma prioridade para essas
nações. Em outras palavras, não existe uma preocupação dos governos em tratar a realidade das
cenário onde existem presídios exclusivos para as mulheres. No segundo caso, elas ocupam os
mesmos presídios que os homens, apenas em seções separadas, configurando as prisões mistas.
No primeiro caso, essas instalações tendem a ser poucas pelo território, devido ao baixo
número de presas, e acabam por ser distantes dos lares e das comunidades da maioria das
detentas, o que só contribui para o abandono familiar e maiores desafios nas suas reinserções. A
segunda situação é ainda pior, visto que, ao dividir o mesmo presídio com homens, abre-se
espaço para agravar ainda mais as inúmeras violências mencionadas anteriormente na seção do
escopo do comitê.
no Sul Global e seus efeitos na situação prisional feminina. O mapa abaixo, do ano de 2014,
29
O coeficiente de GINI é um cálculo matemático utilizado para medir a distribuição de renda em um país. Mais
informações disponíveis em:<https://www.sunoresearch.com.br/artigos/indice-de-gini/>
30
Este mapa evidencia a predominância dos países da região em questão como aqueles
característica marcante para esses países e afeta profundamente as perspectivas de futuro que as
grande importância tanto para compreender as razões que levam as mulheres à prisão, quanto
analisar a capacidade do Sul Global cumprir as principais normas internacionais para o tratamento
Por um lado, de maneira geral, algumas das determinações das regras, tais como um
aquelas que relatem serem vítimas de abuso dentro da prisão, entre outras, são exigências que
estão além da capacidade financeira de muitos países. Para garantir o cumprimento dessas
normas os Estados necessitarão da cooperação e auxílio externo de outros atores para poder
angariar os recursos necessários. Por outro lado, certas condições, como facilitação para visitas e
30
O mapa foi produzido no ano de 2014 e muitas informações podem ter alterado. Para obter os últimos valores do índice
de GINI visitar: <https://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI>
capacitação adequada dos funcionários carcerários, não foram cumpridas pelos governos por
uma falta de interesse político em assegurar esse tratamento para as detentas em seu território,
impor uma resolução de caráter mandatório, cabe aos delegados manobrar pelos interesses
políticos e valores de alguns países para promover a vontade política de assegurar os direitos
Global, não para fazer com que estes se acomodarem às normas já existentes, mas sim para
realizar o contrário: pensar uma resolução normativa adequada para essas e outras condições
que caracterizam a realidade social desses países. Dessa forma, não serão pensadas soluções para
Estados e sim solução para as mulheres que, como sujeitos de direitos, são as verdadeiras figuras
“O mundo está crivado pelo crime. Alguns dizem que esse é o preço a se
5.1. África
África do Sul
prisões femininas e a violência nas mesmas não são um resultado direto da falta de aporte
(4.316 em 2019) e, apesar de ser a maior economia do continente africano, as penitenciárias sul
africanas para mulheres estão entre as piores da África, com uma ausência gritante de
as detentas.
entre homens e mulheres, o que dificulta a padronização de um tratamento comum para todas
prisioneiras. Sendo assim, com uma economia favorável e uma relativa estabilidade política, a
África do Sul tem condições mais favoráveis do que muitos outros governos para solucionar as
Nigéria
Assim como a África do Sul, a República Federal da Nigéria é uma grande economia
africana, porém com um sistema carcerário de péssima qualidade, podendo ter sua situação
No país onde as mulheres são 1,9% do total de prisioneiros (1.171), a situação de crise para
essas detentas é marcada por dois principais elementos. O primeiro é o fato de que mais da
metade de todos os encarcerados (72,7%) estão lá sem ter recebido qualquer julgamento, por
causa do lento e ineficiente sistema jurídico do país32. Essa lentidão nos julgamentos resulta na
superlotação, piora das condições de vida e aumentos dos custos das prisões, encarcerando
descaso do governo para sanar as necessidades básicas das mulheres aprisionadas que,
31
Todos os dados sobre o número de prisioneiras em um país e seu percentual com relação ao total da população carcerária
são provenientes do World Prison Brief. Disponíveis em: <https://www.prisonstudies.org/world-prison-brief-data>
32
A média de tempo para receber um julgamento no país varia de 5 à 17 anos.
atualmente, estão em um estado alarmante. Produtos como absorventes, sabão e até comida não
de fora. Além disso, relatos de mulheres que precisam dividir o mesmo absorvente pelo mês e
Entretanto, da mesma maneira que a África do Sul, a Nigéria também possui boas
Rehabilitation and Welfare Action (PRAWA)33, uma Organização Não Governamental criada para
promover reformas institucionais visando essas mudanças - apesar da sede e foco na Nigéria, seu
Ruanda
reabilitação e reinserção prisional, em conjunto com um tratamento digno, são possíveis sem
carcerária em 2017 (4.287), muitas estão condenadas por crimes relacionados ao genocídio
de ter o máximo de membros produtivos para sua sociedade e por essa razão acompanha de
perto a situação das detentas nas duas prisões femininas no país (Ngoma e Nyamagabe) e as 3
prisões mistas (Nyarugenge, Muhanga e Musanze). Em alguns casos até oferecendo, com relativa
marcada pelos efeitos da realidade política e econômica do país. O Estado centro africano ainda
33
Mais informações sobre a organização disponíveis em:<https://www.prawa.org/>
sofre muito com as mazelas das guerras do passado e isso provoca fortes consequências para
função disso, é limitado o número de informações sobre as condições de vida das detentas. Para
se ter uma ideia, o último dado sobre a proporção de prisioneiras no país é de 2010 e só inclui
as detentas nas principais prisões do país34, sendo essas 3% do total de presos (600). Ademais, o
ainda fragilizado sistema judicial e burocrático do país provoca um atraso nos julgamentos, fato
evidenciado pelos dados de 2015 de que 73% de seus prisioneiros sequer haviam sido julgados.
Isso provocava um cenário de superlotação carcerária e falta de comida e materiais básicos para
geopolítica africana e mantém laços próximos com Ruanda e Uganda, visto que tais países
Senegal
uma situação mais positiva no que diz respeito aos esforços para reeducar e reinserir as mulheres
encarceradas. O governo trabalha em conjunto com ONGs para oferecer apoio e auxílio para
essas mulheres que equivaliam, em 2019, à 2,7% de todos os detentos no país (317).
Entretanto, não se pode deixar de mencionar que o infanticídio é a segunda principal causa
de aprisionamento feminino35 que, segundo alguns grupos de direitos humanos, está relacionada
com as rígidas leis de aborto e a pobreza no país (Voa News, 2008). A gravidade da situação
pode ser ilustrada por dados de 2015, quando ⅕ (20%) das prisioneiras senegalesas haviam
cometido infanticídio.
familiar, visto que essas mulheres perdem o contato com suas famílias e os filhos de muitas são
deixados sem nenhum responsável por seus cuidados. Mesmo quando saem das prisões, a
34
Os dados de prisões menores no país não estão incluídos no World Prison Brief.
35
A primeira causa incluí ofensas relacionadas à drogas.
rejeição as impede de retomar o contato com parentes e com as crianças. Para abordar essa
situação, é preciso considerar não apenas mudanças mencionadas em outros países, mas também
Uganda
possivelmente um dos mais cruéis e violentos. Em 2019, as prisões do país estavam funcionando
em 319,2% da sua capacidade oficial, uma taxa de superlotação absurda e raramente vista em
outros lugares, nesse cenário as mulheres representavam em 2019 4,5% dessa população
carcerária (2.502). Porém, esses dados estão mais relacionados ao tamanho dos centros de
chega a beirar o esquecimento, mesmo antes de chegarem à prisão. Uma pesquisa realizada pela
organização Penal Reform International em conjunto com a Foundation for Human Rights
Initiative (FHRI) evidenciou os desafios sociais do Uganda. Nela buscou-se construir um “perfil”
para a maioria das detentas37. Com esse esforço percebeu-se que a maioria dessas já sofreu
abusos e violências anteriores ao aprisionamento e isso tem impacto direto nos motivos que as
levaram ao crime.
também a situação estrutural do país, tanto da sociedade civil como de instituições públicas. Para
isso, as perspectivas de cooperação com outros são uma tendência positiva para impulsionar
5.2. América:
Bolívia
36
Enquanto a República de Uganda possuía, em 2019, 254 estabelecimentos carcerários para 55.229 detentos e uma taxa
de ocupação de 319,2%, Ruanda, em 2017, tinha 14 instituições prisionais para 58.230 internos e uma taxa de ocupação
em 101.3%. (World Prison Brief)
37
Pesquisa disponível em: <https://cdn.penalreform.org/wp-content/uploads/2015/07/PRI-Research-report_Women-
prisoners_Uganda-WEB.pdf>
"experimento" não ortodoxo com o presídio de San Pedro em La Paz. Sendo uma comunidade
isolada da sociedade, os presos que ali habitam vivem com suas famílias, trabalham e criam suas
próprias regras para o local, além disso, o presídio não possui guardas para controlá-los ou
reprimi-los. Apesar de grande parte dos presídios bolivianos não serem organizados desta
maneira, o país possui um sistema prisional que chama atenção pela falta de ortodoxia.
No entanto, não se deve romantizá-lo, pois está longe de proporcionar uma vida com o
mínimo de dignidade para os presos. Existem vários tipos de celas dentro das prisões bolivianas,
segundo um relato de Lupe Andrade38, além disso, as celas são compradas por um sistema
controlado pelos próprios detentos e não são baratas, as maiores são vendidas por cerca de 150
dólares.
Essa situação torna-se ainda mais preocupante quando falamos na população feminina
A Bolívia segundo um relatório das nações unidas é a nação com o maior número de
reclusas por 100 mil habitantes da América Latina, sendo em 2016 um total de 1.157 detentas
(8,2% de toda população prisional). A maioria destas mulheres (70%) é presa sem uma condenação
formal, semelhante ao Brasil. Esse fato gera questionamento por juristas e defensores de direitos
entre as camadas mais pobres da sociedade, alegando que o direito essencial de presunção de
inocência não está sendo respeitado. A situação traz ainda mais vulnerabilidade quando se analisa
que grande parte destas mulheres que são encarceradas são também as principais provedoras
da renda familiar.
Sendo assim, o grande problema pode ser descrito pelo excedente de pessoas presas na
condição preventiva, antes de um julgamento formal, gerando, dentre outras coisas, superlotação.
Seria necessária uma reforma penal, além de apenas melhorar as condições e estruturas das
38
Jornalista e ex prefeita de La Paz que foi presa preventivamente por 192 dias, ganhou notoriedade ao escrever seu livro
"La jaula" contando seus relatos da experiência.
cadeias. Entretanto, com a crise política que se instaurou no país em 2019 e a consequente
desorganização governamental, uma reforma penal não parece estar em um horizonte próximo.
Brasil
e possui o maior número de mulheres privadas de liberdade na América Latina (37.197, o que
corresponde à 4,9% de todos os presos no país) e com uma das maiores taxas de aprisionamento
por 100 mil habitantes (40,6). A maior parte destas mulheres é detida por conta do tráfico de
drogas (mais de 50%), isso pode ser relacionado à reformulação das leis referentes às drogas do
país, que ocorreu em 2006 - com ela se estende brechas para prender cidadãos envolvidos com
esse tipo de delito, além de depender da vontade de magistrados para abrandar a pena. Sendo
assim a situação legal destas mulheres torna-se no mínimo ambígua e elas acabam sendo detidas
"provisoriamente". Evidência desse fato é que 45% das mulheres presas no brasil não possuem
A estrutura presidiária do Brasil também se encontra longe de uma condição ideal, ou até
mesmo satisfatória, já que a maioria das prisões brasileiras são para homens e 16% são mistas, ao
passo que apenas 7% são exclusivas para mulheres. Dentro destes presídios apenas 16% das celas
nas prisões são adequadas para gestantes e apenas cerca de 50% da população carcerária
gestante usufrui desta estrutura. O cenário se torna ainda mais calamitoso quando passamos a
observar a taxa de ocupação, visto que não há uma sublocação em apenas 37% dos presídios
femininos e outros 48% destes possuem até 2 mulheres encarceradas por vaga.
Outro fator de extrema relevância é o perfil destas mulheres que estão sendo presas.
Quando analisamos raça, cor e etnia da população carcerária feminina ela evidencia uma
As soluções para os problemas apontados acima estão longe de serem simples, mas
devem ser construídas de uma maneira que reestruture o sistema prisional brasileiro, bem como
as próprias leis penais do país. O atual governo Brasileiro enxerga a pasta da segurança pública
como uma prioridade e adereça estes problemas com uma postura favorável ao endurecimento
das leis penais e ações policiais no país.
Colômbia
país no ranking mundial. Sua população carcerária feminina é cerca de 6.905 pessoas (6,7% de
todos os presos do país). Além disso, grande parte dessas detentas são privadas de sua liberdade
por delitos não violentos (45% é detida por porte, fabricação ou tráfico de uma pequena
quantidade de entorpecentes).
Apesar de grande parte destes problemas serem algo que prisões femininas e masculinas
dividem, é necessário um recorte de gênero por dois motivos, uma vez que, cenário mais
específico do caso colombiano, 85% das mulheres detidas são mães e 54% ainda eram as principais
se cuidar e manter uma atenção especial à mulheres dentro das prisões, fornecendo-as uma
período mais de 700 milhões de pesos colombianos para garantir, nas oito prisões femininas do
Os Estados Unidos da América, apesar de ser uma das principais potências mundiais, ainda
lhe faltam avanços a respeito da situação de seus prisioneiros principalmente sua população
totalizando aproximadamente 231 mil mulheres em 2019 (10% do total de prisioneiros no país), e
que também cresce à taxas alarmantes. Exemplo da urgência do debate é que apenas 4% da
população feminina mundial vive nos EUA, mas estes representam mais de 30% das mulheres
40
encarceradas do mundo, segundo estudos da “The Prison Policy Initiative” de 2018.
Prisões privados também são características dos EUA, apesar disso, em decisão do
39
Dado que os EUA se retiraram oficialmente do CDH no ano de 2018 eles não podem ser considerados mais membros
oficiais do comitê. Porém considerando sua importância para esse debate, a delegação estadunidense foi
excepcionalmente convidada como um “membro observador”. Na prática um membro observador possui as mesmas
capacidades de discurso do que qualquer outro, mas não possui poder de voto para qualquer decisão oficial do comitê.
40
Para a pesquisa completa acesse:< https://www.prisonpolicy.org/global/women/2018.html>
Departamento de Justiça americano em 201641, o uso dessas prisões para detentos sob jurisdição
federal foi diminuído e passou-se a usar instalações do próprio Estado, sob a alegação de que os
que os homens, o crescimento da sua taxa de encarceramento é muito mais alarmante, pois
quando comparados às jurisdições em todo o mundo, mesmo os estados dos EUA com os níveis
Canadá
compartilhada pelo governo federal com os diversos governos provinciais. A Autoridade Prisional
do Canadá (Canadian Securities Course - CSC) comanda o sistema prisional federal que é
responsável por mais de 216 penitenciárias distribuídas pelo território e mais de 45 mil
corresponde a 9%.
mundo. Os presídios são amplos, a maioria das celas são individuais, limpas e organizadas, onde
que visam prepará-los para o convívio social novamente. Demonstrando um exemplo positivo
no continente americano.
5.3. Ásia
China
Sendo o 2⁰ país com maior população carcerária feminina, a China, em 2018, possuía 8,4%
41
Informação completa em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-37195944>
de prisioneiras em relação à sua população carcerária total. Assim, apresentando elevado número
em diferentes regiões, como Hong Kong, com 20%. Entretanto, é importante ressaltar, a ausência
de dados concretos sobre mulheres presas em espaços de detenção juvenil, reabilitação de droga
Com uma população carcerária de 1,65 milhão de detentos, as prisões chinesas tem
recebido denúncias de torturas constantes e lavagem cerebral, como é o caso da Prisão Feminina
de Jilin. Ademais, embora figuras públicas passem a imagem de ter benefícios não existentes nos
países ocidentais, como a proibição aos guardas de manter uma prisioneira que está em trabalho
Os números de mulheres encarceradas no país têm aumentado nos últimos anos, e dentre
em sua maioria, não violentos, relacionados à violência doméstica por elas sofridas. Sendo um
Índia
Sofrendo com a superlotação, a Índia possui um sistema prisional em que cerca de 600
mulheres ocupam um espaço destinado à metade deste número, lhes faltando instalações básicas
e não cumprindo os padrões mínimos estabelecidos pela ONU, como alimentação suficiente ou
de boa qualidade e boas condições de higiene (Inter Press Service, 2016). Com condições sub-
carcerária era de 4,2% em relação de um total de cerca de 400 mil detentos. Dessas mulheres
encarceradas, 66,8% são prisioneiras que ainda estão passando por julgamento (CJP Team, 2019).
A maior parte das presas encontra-se no intervalo dos 30-50 anos de idade (50,5%),
42
Tirando Liechtenstein, Mônaco e Groenlândia que apresentam as maiores porcentagens, mas possuem uma população
muito baixa, o que pode afetar as conclusões.
mistas, visto que de mais de mil prisões indianas, apenas 18 são exclusivamente reservadas ao
sexo feminino, segundo informações disponibilizadas pelo CJP Team (2019). Além disso,
falta de higiene básica e, inclusive, água, com hospitalizações frequentes devido a complicações
Japão
Com o menor número total de detentos dos países asiáticos selecionados, cerca de 48 mil,
em 2018 o Japão possuía uma porcentagem de 8,3% de detentas mulheres (4.317). Marcado pela
ordem e pela disciplina, o sistema prisional japonês apresenta uma série de regras e normas que
definem a vida da detenta, regulando todos os aspectos da sua vida, e sendo considerado um
modelo exemplar, que promove a reintegração social. Além disso, surpreendentemente, cerca de
20% das mulheres encarceradas possuem 65 anos ou mais, pois cometeram crimes pequenos para
evitar a pobreza e a solidão (Quartz, 2018), sendo mais comum para mulheres idosas viverem na
Para responder à essa onda de mulheres acima dos 60 anos de idade que
população feminina idosa, com equipe especializada de enfermeiros. Embora não seja a solução
Tailândia
mil detentos (total de 47.994 mulheres). Além disso, grande parte das mulheres encarceradas são
condenadas por uso e venda de drogas e atos não violentos, em geral, aquelas providas de
camadas mais pobres. Em dados quantitativos, 82% das mulheres encarceradas o foram devido a
Com denúncias de tortura e maus tratos, o país foi sede da reunião intensa que resultou
nas Regras de Bangkok, documento celebrado no âmbito da ONU cujas diretrizes dizem respeito
ao tratamento de mulheres presas e priorizam medidas não privativas de liberdade às detentas.
Falhando no reconhecimento dos direitos básicos das prisioneiras, as prisões tailandesas femininas
têm um histórico de vida sem dignidade reservada às suas detentas. O país acaba fracassando na
Rússia
Agora em 2020, a Rússia apresentou cerca de 496 mil detentos, sendo destes 8% mulheres
(40.100). Suas prisões caracterizam-se pela péssima qualidade, não por falta de recursos, mas por
interesse punitivo. Além disso, as prisões têm sido denunciadas, gerando investigação por parte
do Comitê de Direitos Humanos, tendo sido alvo de um processo do sistema de justiça criminal
pelos últimos 20 anos, mas ainda longe de promover equidade de gênero e proteção dos direitos
É comum que mulheres tomem medidas drásticas para evitar o aprisionamento, visto que
dentro das prisões sofrem abusos, sendo forçadas a trabalhar 16 ou 17 horas por dia, com
uma de suas prisões femininas, a IK-14, observa-se uma placa com os dizeres “Bem-Vinda ao
Inferno” na entrada. Assim, a maior parte das prisões parecem ter sido arquitetadas de forma a
5.4. Europa:
Alemanha
O sistema penitenciário alemão, em 2006, atingiu seu maior número de presos desde a
por 100 mil habitantes. Destes, a população feminina carcerária em 2020 representa somente
Apesar disso, assim como outros vizinhos nórdicos, como os Países Baixos, o país busca
França
Atualmente, sob o regime de Emmanuel Macron, desde 2017, a França vem apostando
superlotação de seu sistema carcerário. O país possui o quarto nível mais alto de ocupação nas
cadeias da União Europeia e que, diferentemente dos seus vizinhos europeus, demonstra um
enorme crescimento.
do país (2.033); do qual apresenta apenas duas prisões reservadas especificamente para esse
com os quais, não possuem contato. Devido a tal isolamento, essas mulheres têm menos acesso
a meios coletivos como serviços médicos, treinamento ou workshops. Portanto, afetando o acesso
à questões como: trabalho, formação, atividades socioculturais e esportivas, saúde, entre outras.
Países Baixos
Europa ocidental, vêm fechando suas prisões nas últimas duas décadas por falta de presos e
excesso de celas. Dentre as razões para tal declínio de sua população carcerária, muito deve-se
Além disso, o país é referência histórica, devido a criação do primeiro presídio feminino
que se tem notícia, em 1645. Em 2018 o país possuía um total de 10.887 presos, dos quais a
Reino Unido
O Reino Unido, contando com a Inglaterra e o País de Gales, possui a maior população
carcerária da Europa em 2019. Desta, os homens possuem 22 vezes mais chances de entrarem
cárcere, suas chances de reinserção empregatícia são muito inferiores em comparação aos
homens. Segundo estudo produzido pela Prison Reform Trust and Working Chance, uma a cada
em cada 10 homens. Uma realidade na qual se soma a outras violências, como exclusão social,
Segundo uma matéria do Jornal BBC New, em 2018, o governo estaria em busca de mudar
prometendo gastar em torno de 5 milhões de libras esterlinas nos próximos dois anos. Um plano
que já entrava em prática com a construção de cinco centros residenciais, no lugar de cinco
Turquia
Localizada numa região que se estende entre o leste da Europa e o oeste da Ásia, a
Turquia é dona da sétima maior população carcerária do mundo, com aproximadamente 280 mil
prisioneiros. O país possui um sistema prisional sobrecarregado a anos, com 280 mil presos sendo
que suportaria apenas 200 mil. Além de criticada internacionalmente pela falta de respeito aos
Direitos Humanos no seu sistema prisional, esse é um dos fatores que enfraquecem sua
O mesmo rege o país desde 2002, fruto de uma guinada autoritária pela conservação do poder
Além disso, desde então a população carcerária da Turquia quadruplicou nos últimos 15
anos atingindo uma marca de cerca de 340 prisioneiros para cada 100 mil pessoas - mais do que
o triplo da média europeia. Destes, a população carcerária feminina em 2017 representava 4,2%
O Reino da Noruega no geral já pode ser considerado com um dos principais expoentes
no que diz respeito à políticas públicas de sucesso para um tratamento mais humano no sistema
prisional do mundo. Muitos especialistas consideram que para os prisioneiros o cárcere é uma
oportunidade para populações marginalizadas que recorrem a atos ilícitos de receber educação,
Andreassen em entrevista à BBC (2020), nessas prisões “não é só uma reabilitação, mas também
uma habilitação”.
Para o sistema prisional feminino a realidade é ainda mais otimista. Com as mulheres
Norueguês entre 2014 - 2016 informa que o país já está no caminho para adaptar da melhor
maneira possível suas prisões, seus espaços, seu tratamento e seus programas de reinserção para
5.5. Oceania
Austrália
A Austrália é um país dividido em seis estados, grande parte de seus sistemas sociais,
criminais e prisionais não passa pela legislação federal, ou seja, é competência direta dos estados.
Na ilha existem 111 prisões que comportam cerca de 36 mil presos, dos quais 2.186 são mulheres
(8%).
Não existe uma maneira de se generalizar os presídios australianos, visto que é uma
competência estadual e sempre haverá alguma diferença entre as regiões. No entanto, existem
43
Para mais informações sobre o relatório acesse: <https://www.sivilombudsmannen.no/wp-
content/uploads/2017/05/SIVOM_temarapport_ENG_WEB_FINAL.pdf>
44
Mais informações sobre o que é um Ombudsman disponível em: <https://www.theioi.org/ioi-
members/europe/norway/norwegian-parliamentary-ombudsman>
diretrizes padrão para as prisões femininas que todos os estados seguem. Por exemplo,
prisioneiras gestantes são amparadas com uma estrutura decente que garante condição
adequada para ela e para a criança, o tempo em que os filhos das prisioneiras permanecem com
Outra questão relevante é que, segundo o centro de estudos sobre violência sexual
australiano, 80% das presas já sofreu algum tipo de abuso previamente ao ingresso na prisão.
Mesmo assim abusos sexuais dentro das prisões são muito incomuns.
detentas vem subindo, nos últimos dez anos a quantidade de presas aumentou em gritantes 75%,
além das sentenças também aumentarem. Apesar de não existir ainda uma grande pesquisa para
doméstica.
6. BIBLIOGRAFIA:
AL BAWABA MIDDLE EAST NEWS. Trapped in the system: Thousands of Saudi women released
<https://www.albawaba.com/editorchoice/trapped-system-thousands-saudi-women-released-
ANGOTTI, B.; BRAGA, A. G. A experiência da maternidade na prisão. Rede Justiça Criminal, online.
AUDI, C. A. F., SANTIAGO, S. M., ANDRADE, M. D. G. G., & FRANCISCO, P. M. S. B. Inquérito sobre
de jun. 2020.
BBC BRASIL. Por que os EUA decidiram deixar de usar prisões privadas, São Paulo, 2016.
ago. 2020.
BBC News. HATTON, Celia. Why is China’s female prison population growing? 2015. Disponível
BBC News. Internet na prisão: A penitenciária alemã onde cada detento tem o próprio tablet.
ago. 2020.
BBC News. Why doesn't prison work for women? Disponível em: <https://www.bbc.com/news/uk-
BBC, Por dentro da 'prisão de luxo' da Noruega, que divide opiniões por tratamento a detentos,
BBC. Methods of punishment - The need for prison reform. Disponivel em:
BURKHARDT, Brett C. Who is in private prisons? Demographic profiles of prisoners and workers
in American private prisons. International Journal of Law, Crime and Justice, v. 51, p. 24-33, 2017.
ago. 2020.
CASE, P., FASENFEST, D., SARRI, R., & PHILLIPS, A. (2005). Providing educational support for
female ex-inmates: Project PROVE as a model for social reintegration. Journal of Correctional
Education, 146-157.
CASTILLO, Tessie. Incarcerated Women in Thailand Face Issues Seen Worldwide, Filter, 2019.
CJP Team. Pight of Women in Indian Prisons, CJP, 2019. Disponível em: https://cjp.org.in/plight-
of-women-in-indian-prisons/.
CONECTAS DIREITOS HUMANOS. Conselho de Direitos Humanos da ONU: Saiba o que é e como
humanos-da-onu-saiba-o-que-
CONSULTOR JURÍDICO. Grande parte das prisões dos EUA tem padrão de terceiro mundo, 2019.
DAVIM, B. K. G., & LIMA, C. S. (2016). Criminalidade feminina: desestabilidade familiar e as várias
DELANO. Women prisoners receive unequal support: Report, 2018. Disponível em:
<https://delano.lu/d/detail/news/women-prisoners-receive-unequal-support-report/171717>.
DEUTSCHE WELLE. Situação prisional alemã difere muito da realidade carcerária no Brasil, 2006.
DURIGAN, C. R. Z. Maternidade na prisão: Uma análise das relações de apego entre filhos e mães
EL PAÍS. Las cárceles de Bolivia son como las de las novelas de Dickens, 2015. Disponível em:
<https://elpais.com/internacional/2015/04/12/actualidad/1428862939_839703.html>. Acesso
ÉPOCA. Entenda o golpe militar na Turquia e o que ele significa para o mundo. Disponível em:
<https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/07/entenda-o-golpe-militar-na-turquia-e-o-
EXAME . Os países que mais colocam mulheres e meninas na cadeia. Disponível em:
<https://exame.com/mundo/os-paises-que-mais-colocam-mulheres-e-meninas-na-cadeia/>.
FAIR, Helen. International review of women’s prisons. Prison Service Journal, v. 184, n. 3, p. 3-8,
<https://www.prisonstudies.org/sites/default/files/resources/downloads/100047ceinternational_r
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/o-projeto-da-franca-para-humanizar-prisoes.ghtml>.
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/o-projeto-da-franca-para-humanizar-prisoes.ghtml>.
GAZETA DO POVO. Como funciona a gestão privada de presídios nos EUA e na França, Paraná,
GONÇALVES, Mileny. Uma Breve Análise Histórica da Pena de Prisão e a Mulher no Cárcere: A
HATTON, Celia. Why is China’s female prison population growing?, BBC News, 2015. Disponível
ICI ALBERTA. Le taux de criminalité continue de baisser au Canada, Alberta, 2015. Disponível
em:<https://ici.radio-canada.ca/nouvelle/730755/taux-criminalite-baisse-statistique-canada-
2020.
INDEPENDENT. Women leaving prison almost three times less likely to be employed on release
20 de ago. 2020.
por mulheres migrantes em conflito com a lei. São Paulo, dez. 2019. Disponível em:
INTER PRESS SERVICE. LAL, Neeta. Prisões são purgatório dos pobres na Índia, 2016. Disponível
em: http://www.ipsnoticias.net/portuguese/2016/08/ultimas-noticias/prisoes-sao-purgatorio-
dos-pobres-na-india/
JUSTIÇA GLOBAL. ONU descreve como cruel, desumano e degradante o sistema prisional
KARIMI, George. Uma visão de dentro do brutal sistema prisional da China, Epoch Times, 2014.
KUMALU, Vusi. List of Female Prisons in South Africa, South Africa Lists, 2019. Disponível em:
KING'S COLLEGE LONDON. International Profile of Women's Prison, University of London, 2008.
Disponível em:
<https://www.prisonstudies.org/sites/default/files/resources/downloads/womens_prisons_int_rev
LADEIA, Priscilla Soares; MOURAO, Tatiana Tscherbakowski; MELO, Elza Machado. O silêncio da
violência institucional no Brasil. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, ano 2016, v. 26,
2020.
LAW JRANK ARTICLES. Prisons: Prisons for Women - Problems And Unmet Needs In The
Contemporary Women's Prison - Children, Abuse, Health, and Offenders, 1998. Disponível
em:<https://law.jrank.org/pages/1805/Prisons-Prisons-Women-Problems-unmet-needs-in-
LEFEVRE, Amy Sawitta. Thai women's prison highlights need for reform, drug policy rethink,
prison-highlights-need-for-reform-drug-policy-rethink-idUSKBN1FE1FJ.
russian-women-s-prison-hell-tolokonnikova-mordovia-ik-
14/29788168.html#:~:text=Such%20is%20the%20notoriety%20of,it%2C%20including%20slitting%20t
heir%20wrists.&text=According%20to%20the%20latest%20official,Of%20these%2C%2044%2C474%20
<http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen-mulheres/infopenmulheres_arte_07-03-
NEW YORK POST. FITZ-GIBBON, Jorge. Elderly women in Japan prefer being in prison to being
being-in-prison-to-being-alone/.
humana: uma análise a partir dos campos de refugiados e centros de detenção de imigrantes
<https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/5634/MATEUS%20A
jul. 2020.
impacto da detenção dos pais para a vida social e familiar (2007/2116(INI)), 2008. Disponível em:
<https://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?type=REPORT&reference=A6-2008-
03 jul. 2020.
PENAL REFORM INTERNATIONAL. Guide to the rehabilitation and social reintegration of women
<https://cdn.penalreform.org/wp-content/uploads/2019/05/PRI_Rehabilitation-of-women-
<https://www.penalreform.org/blog/women-in-the-criminal-justice-system-and-
PENAL REFORM. Tradução não oficial das Regras de Bangkok , 2012. Disponível em:
<https://cdn.penalreform.org/wp-content/uploads/2013/06/Tradu%C3%A7%C3%A3o-
PODER 360. Nos EUA, penitenciárias privadas estão lucrando mesmo com a queda de detentos,
POLITIZE. Mulheres Invisíveis: A difícil realidade das prisões femininas. Disponível em:
PRISON POLICY INITIATIVE. Following the Money of Mass Incarceration, 2017. Disponível em:
PRISON POLICY INITIATIVE. Following the Money of Mass Incarceration (Gráfico), 2017.
ago. 2020.
PRISON POLICY INITIATIVE. States of Women’s Incarceration: The Global Context 2018, 2018.
2020.
QUARTZ. BROWN, Lauren Alix. Nearly 20% of women inmates in Japan’s prisons are seniors. 2018.
RANGEL, Hugo. Estratégias sociais e educação prisional na Europa: visão de conjunto e reflexões.
de Conclusão de Curso, Escola de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
2017.
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512019000200362>. Acesso
SORBELLO, Laura et al. Treatment needs of female offenders: A review. Australian Psychologist,
SUPERINTERESSANTE. Por falta de presos, Holanda fecha 24 prisões, 2017. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/sociedade/por-falta-de-presos-holanda-fecha-24-prisoes/>.
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. Handbook on Women and Imprisonment,
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. The Bangkok Rules, 2010. Disponível em:
UOL NOTÍCIAS . Turquia propõe libertar 90 mil prisioneiros para evitar epidemia nas prisões, 2020.
libertar-90-mil-prisioneiros-para-evitar-epidemia-nas-prisoes.htm?cmpid=copiaecola>.
VAN WYK, Stephanie Anne. From incarceration to successful reintegration: an ethnographic study
of the impact of a halfway house on recidivism amongst female ex-offenders. 2014. Tese de
VOA NEWS. “Activists: Senegal's Abortion Laws Lead Women to Infanticide, Prison”, 14 de junho
de 2008. Disponível em:<https://www.voanews.com/africa/activists-senegals-abortion-laws-
WALMSLEY, Roy. World Prison Brief: World Female Imprisonment List 4ª edição, 2017. Disponível
em: .https://www.prisonstudies.org/sites/default/files/resources/downloads/world_female_prison
WALMSLEY, Roy. World Prison Brief: World Female Imprisonment List 3ª edição, 2016. Disponível
em:
<https://www.prisonstudies.org/sites/default/files/resources/downloads/world_female_imprison
WORLD HEALTH ORGANIZATION/EUROPE. Chapter 18. Women’s health and the prison setting,
20 de ago. 2020
WORLD PRISON BRIEF. United Kingdom: England & Wales, 2020. Disponível em:
2020.
YOKOTANI, K., & TAMURA, K. (2017). The effect of a social reintegration (parole) program on
drug-related prison inmates in Japan: a 4-year prospective study. Asian Journal of Criminology,
12(2), 127-141.