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Cenários 2020

Guia de Estudos

Conselho de Direitos Humanos da Nações Unidas:

A Condição da Mulher no Sistema Carcerário

Diretores acadêmicos responsáveis:

Betina Juzumas, Gabriel C. M. Arruda, Gabriel Souza, Helena Toledo, Julia Goldman, Pedro

Brandão, Philipe Andrade

Aviso de conteúdo sensível: este guia contém dados, informações e indicações que tratam de

violência e abuso contra mulheres, podendo ser sensível à algumas pessoas.


Sumário
CARTA DE APRESENTAÇÃO: .................................................................................................................. 4

PROPOSTA PEDAGÓGICA:..................................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO:....................................................................................................................................... 8

RELEVÂNCIA DO TEMA:....................................................................................................................... 10

1. CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS (CDH): ............................................................................ 11

2. OS DIREITOS DENTRO DAS PRISÕES FEMININAS: ..................................................................... 13

3. ESCOPO DO COMITÊ: .............................................................................................................. 17

3.1. Violência............................................................................................................................ 17

3.2. Saúde e higiene ................................................................................................................. 18


3.3. Maternidade ...................................................................................................................... 19

3.4. Reintegração ..................................................................................................................... 21

4. AS DINÂMICAS GLOBAIS E AS PRISÕES FEMININAS ................................................................. 25

4.1. Norte Global: ..................................................................................................................... 25

4.2. Sul Global: ......................................................................................................................... 33

5. POSICIONAMENTO DOS PAÍSES: .............................................................................................. 40

5.1. África ................................................................................................................................. 40

5.2. América: ............................................................................................................................ 43

5.3. Ásia ................................................................................................................................... 47


5.4. Europa:.............................................................................................................................. 50

5.5. Oceania ............................................................................................................................. 53

6. BIBLIOGRAFIA: .......................................................................................................................... 55
CARTA DE APRESENTAÇÃO:

Betina Juzumas

Aluna de Relações Internacionais da PUC-SP, atualmente no quinto semestre. Almeja

seguir carreira no setor privado, como por exemplo em empresas multinacionais. Tem grande

interesse nas áreas de Direito Internacional, Conflitos Internacionais e História. No momento, é

estagiária de relacionamento e marketing e o Cenários 2020 será sua primeira oportunidade de

simulação como participante e mesa diretora.

Gabriel Costa Macedo de Arruda

Nosso amado diretor assistente é o Gabriel Arruda, aluno do curso de Relações

Internacionais da PUC-SP, com interesse na carreira diplomática e nas organizações

internacionais. Tem interesse nos estudos pós-coloniais e política e história africana. Atualmente

é estagiário no Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo

(ERESP-MRE). É também colaborador do Projeto MONUEM//ERESP junto à Embaixadora Irene

Vida Gala. Unanimamente reconhecido como o diretor mais carismático, simpático e também o

mais sem noção, se preparem para fazer várias questões de ordem para os erros que ele vai

cometer enquanto modera. Ambiciona o título de direthor e direostra do comitê.

Gabriel Pereira Cuña de Souza

Aluno Graduando em Relações Internacionais pela PUC-SP, tem grande interesse no

estudo de Direitos Humanos e Ciência Política. Tem experiência com simulações durante a escola

e foi diretor do Cenários em 2019, mediando o comitê histórico que discutia a crise do petróleo

de 1973 no âmbito da OPEP. Já participou da empresa júnior do curso de Relações Internacionais

da PUC-SP, Prisma Jr, e tem interesse em ingressar uma carreira voltada para relações

governamentais e advocacy. Ficará conhecido como o diretor que irá conter o Gabriel Arruda de

tomar a fala dos demais delegados.


Helena Toledo

Aluna do curso de Relações Internacionais na PUC-SP, atualmente cursando o sexto

semestre. Participou de simulações modelo ONU enquanto cursava o ensino médio, onde

desenvolveu interesse na carreira de internacionalista. Possui interesse em pautas sociais, Direitos

Humanos e principalmente temas que tangem o debate de gênero. Atualmente é estagiária na

área comercial de uma multinacional americana de tecnologia e serviços, porém tem interesse

em seguir carreira na esfera da gestão pública. Essa será sua primeira experiência como mesa

diretora em uma simulação modelo às Nações Unidas, podendo afirmar com certeza que está

muito ansiosa pela experiência.

Júlia Felippe Goldman Vel Lejbman

Aluna do quinto semestre do curso de Relações Internacionais na PUC-SP e do curso de

Lazer e Turismo da EACH-USP. Busca seguir carreira acadêmica, pretendendo começar o

mestrado logo ao acabar a graduação. Tem interesse nas áreas de Turismo e sexualidade,

relações entre Estados Unidos e América Latina, Teorias feministas e queer das RI e Antropologia.

Atualmente está trabalhando em uma Iniciação Científica com a Profª Drª Luiza Mateo com o

tema “Ajuda externa dos Estados Unidos para os países do Triângulo Norte da América Central”.

A oportunidade de participar no Cenários 2020 será sua primeira experiência tanto como mesa

quanto como participante. É fato que está animada e é muito corajosa por aceitar fazer parte de

uma mesa com os Gabrieis.

Philipe de Oliveira Andrade

Aluno Graduando em Relações Internacionais pela PUC-SP, tem grande interesse no

estudo de direitos humanos. Tem experiência profissional como Vice-Presidente e Diretor de

Recursos Humanos na Prisma Jr, empresa júnior de Relações Internacionais da PUC-SP - atuando

conjuntamente no Conselho das Instituições de RI da PUC-SP. Possui um histórico com

participação em trabalhos voluntários pela CAMJEV e Cestas R3. Atualmente é estagiário na área

de Talent Management, trabalhando com recrutamento e seleção, desenvolvimento, cultura e


engajamento, na área de recursos humanos na multinacional Jacobs Douwe Egberts. A

oportunidade de participar no Cenários 2020 será sua primeira experiência tanto como mesa

quanto como participante.

Pedro Henrique Rodrigues Brandão

Aluno do terceiro semestre de Relações Internacionais na PUC-SP, participou de

simulações Moledo Nações Unidas durante todo seu ensino médio e no Cenários 2019, ambos

como delegado. Se apaixonando à primeira vista pelo debate internacional, pretende seguir a

carreira diplomática no Brasil ou no exterior em organizações internacionais, principalmente na

área de Segurança Internacional e Direitos Humanos. Tendo certa experiência como delegado,

agora busca um novo desafio como mesa deste comitê. Sendo também o provável caçula da

diretoria do comitê, está muito ansioso para a simulação como mesa e pela experiência de

fornecer um debate e um ambiente prazeroso para todos os delegados.


PROPOSTA PEDAGÓGICA:

O tema da condição das mulheres no sistema carcerário não foi escolhido de maneira

arbitrária, ele foi definido para trazer aos participantes do comitê a oportunidade de conhecer

um assunto raramente discutido ou sequer conhecido, mas de extrema importância e urgência.

Esse tema apresenta diferentes cenários para serem profundamente debatidos, abrindo a

oportunidade de se trabalhar campos como: política, ética, moral, sociologia, filosofia, psicologia,

entre outros. Além disso, também traz a oportunidade de estudar os diferentes atores, domésticos

e internacionais, e as dinâmicas que influenciam e impactam esse tema.

O objetivo principal do debate para este comitê não é buscar a reformulação das leis de

cada país e seguir um modelo único de tratamento para mulheres dentro de todas prisões, mas

sim pensar formas de garantir que os governos tenham capacidade de garantir a preservação

dos direitos humanos e constitucionais das prisioneiras, cada um à sua maneira.

Por fim, tendo em vista a complexidade e a sensibilidade que esse tema exige, propomos

realizar uma reflexão com empatia e respeito, priorizando a manutenção dos direitos dessas

mulheres, à luz do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Sendo assim, é

fundamental ponderar a respeito da soberania dos Estados para se apresentarem propostas que

busquem solucionar a atual realidade.


INTRODUÇÃO:

Para debater a condição das mulheres nas prisões é preciso reconhecer que esta é uma

realidade profundamente invisibilidade, carecendo de expressão, repercussão e discussão nos

debates nacionais e internacionais. Trata-se de uma população que, segundo a quarta edição da

Lista Mundial de Aprisionamento Feminino, de 2017, inclui mais de 714 mil mulheres e meninas

encarceradas ao redor do mundo, compondo 6,9% da prisão global população. Um número que,

comparado a 2000, aumentou significativamente, 53% - frente à apenas 21% do crescimento da

população global e 20% do crescimento população carcerária masculina -, e com chances de

continuar a crescer a uma taxa maior do que o número de prisioneiros homens.

Tal aumento significativo também carrega consigo o crescimento de diversas violações de

direitos humanos. A relevância de abordar o tema do “encarceramento feminino” reflete na

maneira como essas mulheres são tratadas dentro de um sistema prisional que, muitas vezes, não

está preparado para receber, tratar e lidar com elas. Além disso, essa relevância também é

evidenciada na dificuldade em encontrar dados e materiais sobre as situação feminina nas prisões

pelos países do mundo, apontando uma clara lacuna de informações desses grupos.

As vidas, os corpos e as mentes das prisioneiras sofrem de forma agressiva, com a falta de

tratamento adequado em relação ao acesso à saúde; o descaso com a menstruação, gravidez,

abusos e violências sexuais anteriores ao cárcere; a falta de acesso à ginecologistas e obstetras

para o atendimento médico especializado1; com o abandono familiar e materno; com os casos

de maus tratos como violência, sede e fome dentro do sistema prisional; a falta de planejamento

da ressocialização das detentas durante o ciclo na cadeia prisional; entre outros muitos

problemas. Ao deixar de debater esses e outros temas, nos espaços de comunicação da política

e civis da sociedade, fica ainda mais evidente a marginalização que essas mulheres estão expostas.

Porém, a fim de melhor direcionar o debate, o presente comitê enfatiza como o escopo

das discussões a prioridade aos seguintes assuntos: a questão da saúde e higiene dentro das

prisões femininas, a violência existente nos presídios, a questão da maternidade para as

1
Ou mesmo com profissionais da saúde presentes nas prisões que não necessariamente são de confiança, podendo também
agir como violentadores e abusadores dessas mulheres.
prisioneiras e, por fim e a reintegração dessas mulheres na sociedade.2

Desse modo, o Comitê propõe se debruçar sobre a violação dos direitos humanos nos

aspectos do bem-estar desses corpos femininos, além dos direitos que estas possuem e as

condições que lhe estão impostas, dentro do sistema carcerário. Visto que, há uma profunda

carência, em diversos países, de uma legislação e de recursos que ofereçam para essas

prisioneiras um tratamento humano digno.

2
Esses assuntos serão melhor aprofundados no tópico “Escopo do Comitê”.
RELEVÂNCIA DO TEMA:

O conjunto de normas internacionais, as Regras de Bangkok3 (2010), enfatiza que

“promover medidas para as necessidades das prisioneiras é fundamental para atingir a igualdade

de gênero e o respeito aos direitos humanos, sem jamais dever ser considerado como tratamento

discriminatório ou preferencial.”. Tendo isso em mente, é fundamental buscar responder a

pergunta: por que é importante debater a condição que as mulheres se encontram nas prisões

de diferentes países?

A temática em questão coloca em pauta um grupo social que enfrenta diferentes

adversidades, dependendo do país que se encontra, variando entre extrema vulnerabilidade até

um tratamento que atende com respeito aos Direitos Humanos. Porém, esse mesmo grupo

compartilha de um elemento em comum: a sua condição e necessidades biológicas são

desconsideradas, em maior ou menor proporção, por seus governos.

Fica claro que, as problemáticas que diversas mulheres enfrentam dentro das prisões ao

redor do mundo vão além do caráter punitivo dessas instituições. Não se tratam de mecanismos

para penalizar as infratoras por seus delitos, mas verdadeiras manifestações de um descaso ou

incapacidade de resposta dos governos para prevenir o sofrimento e os abusos que atingem

milhares de mulheres.

Ademais, o tema do comitê se justifica pelo fato de que, apesar de representarem um

baixo número no total da população carcerária no mundo como um todo, a população carcerária

feminina tem apresentado um aumento percentual considerável, como evidenciado na

Introdução. Consequentemente, essa escalada tem demonstrado novos problemas e desafios que

até países modelos no tratamento prisional precisam se empenhar para responder. Esse esforço

se torna ainda mais significativo em contexto de cumprir com os Objetivos do Desenvolvimento

Sustentável (ODS) de Igualdade de Gênero (ODS 5), Redução de Desigualdades (ODS 10) e

Cidades e Comunidades Sustentáveis (ODS 11), principalmente, visando atingir desenvolvimento

social e econômico das sociedades de forma geral.

3
Sobre as Regras de Bangkok, serão mais aprofundados mais adiante neste Guia de Estudos.
1. CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS (CDH):

Nesta análise, levaremos o debate para dentro do Conselho de Direitos Humanos (CDH)

das Nações Unidas (ONU), um órgão subsidiário da Assembleia Geral que conta com 47 Estados-

membros eleitos. Criado em março de 2006, o CDH é um órgão internacional que tem como

principal objetivo a proteção, o respeito e o desenvolvimento do direito universal no âmbito dos

direitos humanos, além do combate às violações desses em todo o mundo.

O Conselho promove sessões, que são divididas em agendas, para realizar votações de

resoluções e discutir normas de direitos humanos que estão sendo implementadas ao redor do

mundo. Tais encontros contam com a participação de relatores e da sociedade civil, que utilizam

o espaço para apresentar denúncias e relatórios de países que sofrem violações de direitos

humanos, em diversos temas. Além disso, também é possível acionar sessões extraordinárias,

como em casos de crises humanitárias, que tratam de situações urgentes.

O mandato do CDH é:

“Assegurar que todas as pessoas entendam seus direitos; Assegurar que

todas as pessoas tenham os mesmos direitos; Verificar se todas as pessoas podem

usar seus direitos; Verificar o que os governos fazem para proteger os direitos das

pessoas em seus países; Verificar se os governos fazem o que eles concordaram

nas Nações Unidas.” (CONECTAS, 2018)

Dessa forma, o órgão serve de espaço para que representantes de organizações, como

ONGs, por exemplo, possam expor demandas da sociedade civil; relatar situações em que

determinada população não está tendo seus direitos respeitados pelo seu país e analisar se os

países membros da ONU estão cumprindo suas promessas de respeito aos direitos humanos.

Como foi o caso do Brasil em 2017, por exemplo, que foi denunciado por uma missão da ONU

pela situação caótica e violadora que os presídios brasileiros sofriam.

Sendo assim, o CDH apresenta a oportunidade de participação à diferentes atores -

domésticos, não governamentais e internacionais -, e as dinâmicas que temas como este podem

levar para as discussões em fóruns internacionais. Logo, possibilita a construção de uma

capacidade de debate avançada, ao analisar todo um cenário repleto de valores, vontades


políticas, jurisdições domésticas, normas internacionais e contextos históricos, na busca pela

garantia dos direitos humanos das prisioneiras.

Por fim, através de um debate realizado no CDH, objetiva-se buscar formas de garantir

que os países tenham capacidade de garantir a preservação dos direitos humanos e

constitucionais de suas prisioneiras.


2. OS DIREITOS DENTRO DAS PRISÕES FEMININAS:

Para falar das legislações específicas para as mulheres encarceradas, é necessário falar

sobre os direitos humanos. Os direitos humanos, correspondem aos direitos universais,

independentes da leis de cada país, todos indivíduos os possuem. Estes são estabelecidos pela

Declaração Universal dos Direitos Humanos e devem ser assegurados pelo Estado para todos

seus cidadãos, até mesmo em situação de cárcere, independentemente de seu gênero, raça, etnia,

crença ou nacionalidade. Ao longo deste guia, iremos abordar, sobretudo, os direitos que

decorrem sobre saúde e higiene pessoal, violência, maternidade, o abandono, a ressocialização

e quais são os regramentos sobre esses temas.

Como mencionado anteriormente, o tema “prisões femininas” é pouco abordado nos

grandes meios de comunicação. Podemos dizer que, na dinâmica global e nos grandes espaços

de discussões este assunto não tem muita visibilidade, e é devido essa negligência por parte das

organizações que a discussão se torna essencial.

Nesse contexto, para discutir sobre sistema penitenciário feminino, também é necessário

ter conhecimento sobre as especificidades dos sujeitos desse tema: mulheres prisioneiras,

caracterizadas por cenários de instabilidade e vulnerabilidade social, opressão e marginalização

Sendo assim, entra aqui em pauta questões como a desigualdade de gênero no sistema

carcerário feminino e masculino, o perfil das mulheres em cárcere e as legislações previstas

especificamente para essas detentas.

Os sistemas prisionais ao redor do mundo foram feitos e pensados por homens, para

homens. Isso pode ser explicado, em partes, pelo motivo de que o número de mulheres presas é

substancialmente menor do que o número total de presos em todos os países do globo. Mesmo

assim, o fato das prisões serem moldadas para atender somente às necessidades masculinas

demonstra uma grave negligência por parte dos Estados Nacionais em olhar para essas

prisioneiras, mesmo que elas representem uma porcentagem pequena da população carcerária.

É ainda preciso reconhecer que os corpos das mulheres possuem necessidades físicas e

biológicas diferentes da população carcerária masculina. Assim, a aplicação das mesmas regras e

tratamentos para homens e mulheres nas prisões fere diretamente os direitos das mulheres e seus
corpos, violando a questão da equidade de gênero.

Na prática, essa negligência fica evidente na ausência de leis e programas específicos para

essas mulheres. Pensando nessas especificidades, a comunidade internacional reconheceu a

necessidade da criação de regras que atendessem diretamente a população penitenciária

feminina. Com isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 2010, as Regras de

Bangkok. As Regras de Bangkok correspondem a um conjunto de acordos firmados pelos 193

países membros presentes no 12º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção ao Crime e

Justiça Criminal. Segundo a ONU:


Havia uma lacuna existente nos padrões internacionais de normas para

atender as necessidades específicas das mulheres no sistema de justiça criminal.

Em dezembro de 2010, esta lacuna foi preenchida quando as regras das Nações

Unidas para o tratamento de prisioneiras e medidas não custodiais para mulheres

infratoras, conhecidas como Regras de Bangkok, foram adotadas pela Assembleia

Geral da ONU. (Resolução A/ RES/ 65/229). (Organização das Nações Unidas,

2013. Pg.04)

Estas normas, por sua vez, correspondem a um conjunto de 70 regras, que regulamentam

a chegada e o registro das condenadas no cárcere; sua alocação; sua higiene pessoal; os serviços

e cuidados à saúde para estas; seu atendimento médico; os cuidados com a saúde mental;

tratamento para drogas; prevenção ao suicídio; segurança e vigilância especializada para elas; o

contato destas com o mundo exterior; capacitação diferenciada dos funcionários dessas prisões;

a detenção de categorias especiais de prisioneiras4; a produção de pesquisas, planejamentos,

avaliações e sensibilização pública da situação dos cárceres femininos, entre outros regulamentos.

Tratam-se, portanto, de diretrizes que tem por objetivo guiar as autoridades Estatais a

identificar a origem e as necessidades dessas mulheres. Portanto, no presente guia, quando nos

referirmos aos direitos básicos de uma prisioneira estaremos fazendo menção aos direitos

reconhecidos nas Regras de Bangkok.

Porém, para analisar a eficácia prática destas leis, é primordial entender o contexto que

4
As Regras de Bangkok diferenciam as presas condenadas de outras categorias de detentas. Estas outras detentas incluem:
adolescentes (menores de idade); mulheres gestantes, com filhos e lactantes; estrangeiras; minorias e povos indígenas;
presas cautelares ou esperando julgamento.
levou estas infratoras a cometer seus respectivos crimes. Apesar das diferenças regionais, a

maioria das mulheres encarceradas viviam em situação de extrema pobreza. Segundo a

Organização das Nações Unidas (2013), os crimes cometidos por essas correspondem,

principalmente, a pequenos delitos ligados à pobreza, como roubo, fraude e delitos menores

relacionados a drogas. Ademais, ainda de acordo com a ONU (2013), uma proporção

considerável de mulheres infratoras está na prisão como forma direta ou indireta de múltiplas

camadas de discriminação e privação, e apenas uma pequena minoria de mulheres é condenada

por crimes violentos, além disso, uma grande maioria delas já foi vítima de violência.

Nesse cenário, quando falamos de população carcerária feminina, estamos falando de

mulheres que, na sua maioria, foram privadas de oportunidades econômicas e por isso buscaram

o sustento em crimes leves. A título de exemplo, os gráficos abaixo do site Prison Policy ilustram

a realidade nos Estados Unidos e as principais causas que levam as mulheres ao sistema

carcerário:

5
Disponível em: https://www.prisonpolicy.org/reports/pie2019women.html
6

Portanto, ao compreender o perfil da maioria das prisioneiras, é possível entender e

enxergar um real valor nas Regras de Bangkok, formuladas justamente para prevenir que prisões

precipitadas ocorressem. Seguindo essa lógica, ao observar que, na maioria dos casos, essas

mulheres foram presas por crimes não violentos e ligados à pobreza, a sua proteção torna-se

ainda mais necessária, visto que a erradicação da pobreza é um dos Objetivo de Desenvolvimento

Sustentável formulados pela ONU, fundamental para alcançar as metas.

Por fim, é essencial lembrar que, antes da formulação das regras de Bangkok, a população

carcerária feminina era submetida às mesmas leis de proteção que a população masculina. Tendo

em vista que tais regras foram criadas há 10 anos, a equidade de gênero no tratamento e nos

direitos dentro das prisões está longe de ser uma realidade.

6
Disponível em: https://www.prisonpolicy.org/reports/pie2019women.html
3. ESCOPO DO COMITÊ:

A questão do encarceramento feminino abarca dentro de si uma infinidade de temas que

podem instigar as mais diversas e densas discussões. Contudo, o escopo do comitê é promover

um debate que aborde as condições mais fundamentais e urgentes a serem tratadas e

solucionadas dentro deste assunto. Dessa forma, a mesa julgou mais pertinente promover um

debate a respeito dos seguintes escopos: a violência existente nos presídio, a questão da saúde e

higiene dentro das prisões femininas, o tema da maternidade para as prisioneiras e, por fim a

reintegração dessas mulheres na sociedade.

3.1. Violência

O cárcere, geralmente, é uma instituição em que predomina a desconfiança e o medo, e

onde a violência é instrumento de troca (DE OLIVEIRA; DA COSTA, 2019, p.10), essa é uma

realidade que se concretiza a partir das análise das condições em que as mulheres são submetidas

ao longo do processo de captura, reclusão e cumprimento da sentença. Dessa maneira, a questão

da violência feminina está presente de forma intrínseca em diversas faces, que não se limitam

apenas a um ato de violência física.

Apesar do ordenamento jurídico das leis e constituições buscarem o respeito aos direitos

humanos, a experiência vivenciada no cárcere pelas detentas é completamente diferente. Todos

os vínculos sociais são rompidos ao adentrarem o sistema penitenciário, onde deixam para trás

seus filhos, suas famílias e a garantia que seus direitos serão respeitados.

A violência institucional é uma das principais faces presente no sistema de justiça criminal

que afeta nas mulheres encarceradas7. Engloba-se também outras formas existentes de violação

de direitos, como privação de alimentos, água potável e materiais de higiene pessoal. Por terem

em grande parte das vezes auxílios e direitos negados durante o seu cumprimento de pena, as

prisioneiras assumem uma condição ainda mais vulnerável e invisibilidade do que já possuem na

sociedade.

7
Compreende-se como violência institucional, de acordo com o Instituto Terra, Trabalho e cidadania (2019, p. 1, apud
LADEIA, MOURÃO E MELO, 2016) "a violência praticada por órgãos e agentes públicos que deveriam responder pelo
cuidado, proteção e defesa dos cidadãos".
Assim como a violência física e institucional que afeta o bem-estar das mulheres inseridas

no sistema carcerário, a violência no âmbito emocional e mental também existe e é uma

consequência do sistema de justiça criminal que incide nas mulheres presas. Este sistema adota

um modelo para determinação e manutenção de suas diretrizes que é baseado na parcela

masculina carcerária, enquanto a desconsideração as particularidades das detentas só contribui

para aprofundar ainda mais a violência infligida sobre elas.

3.2. Saúde e higiene

Quando a questão é saúde, a maioria das prisões no mundo, principalmente em países do

Sul Global8, possuem sérias defasagens em relação ao cumprimento deste direito básico para a

população penitenciária como um todo. Ao tratar de prisões femininas a questão é ainda mais

delicada, principalmente, como mencionado anteriormente, pelo fato do sistema penitenciário

ser feito por homens e para homens. Ou seja, a base do funcionamento deste é fortemente

pautada em necessidades masculinas, isso faz com que as internas possuam uma série de

privações básicas.

O corpo da mulher possui necessidades específicas , segundo as Regras de Bangkok, no

segmento que se refere às questões de saúde e higiene das detidas (regras 6 a 18), é necessário

que seja fornecido pelo presídio um exame médico no ingresso à prisão, onde se constata: se há

doenças sexualmente transmissíveis pré-existentes; necessidades de cuidado de saúde mental,

inclusive para casos de trauma emocional por conta de abuso sexual, histórico reprodutivo e a

existência de dependência química em drogas.

Segundo as mesmas regras, as mulheres também gozam do direito de exigir ser

acompanhada por uma médica, salvo em casos emergenciais, e devem possuir acompanhamento

constante para cuidar de sua saúde mental. O presídio deve fornecer também estrutura necessária
9
para exames específicos, como teste Papanicolau ou exames de câncer de mama e ginecológico.

A realidade, no entanto, é muito diferente do ideal expresso no documento. Existem

enormes discrepâncias quando tratamos das questões femininas na realidade. Primeiramente, os

8
A definição de Sul Global que será utilizada neste guia é apresentada na seção de Dinâmicas Globais e as Prisões
Femininas.
9
O teste de Papanicolau é um exame ginecológico realizado para prevenção ao câncer do colo do útero.
funcionários carcerários não estão preparados para compreender e lidar com condições e

necessidades das mulheres, a título de exemplo, a falta de fornecimento regular de absorventes

para as prisioneiras é violentamente comum em muitos países. Além disso, quando se trata de

questões ligadas a saúde mental ou trauma causado por abuso sexual a negligência

governamental é ainda mais presente. Por conta disso, esta população se torna cada vez mais

fragilizada e este tipo de violência passa a ser normalizado em vários presídios ao redor do

mundo.

Outra importante questão está relacionada à estrutura penitenciária, muitos presídios não

possuem um estabelecimento exclusivo para as mulheres. No caso das prisões "mistas", as

populações carcerárias masculina e feminina são mantidas juntas em uma mesma instituição

divididos por um pavilhão, ou nem isso. O problema torna-se mais delicado não apenas pela

questão de maior vulnerabilidade das mulheres, por conta do risco aumentado de violência sexual

e pela falta de equipe médica especializada para tratá-las em seu plantel.

Ademais, nem mesmo em prisões unicamente femininas há a garantia de fornecimento de

produtos básicos de higiene (como absorventes) ou uma equipe especializada (como

ginecologistas à disposição). No caso dos produtos de higiene básico, é necessário realizar a

compra desses, ação que se torna limitada quando a realidade socioeconômica da detenta pobre

é analisada, forçando com que optem por substitutos prejudiciais a sua saúde, mas mais

acessíveis, como pedaços de jornal, roupa ou até mesmo de pão.

3.3. Maternidade

Como foi apresentado, as detentas do sexo feminino sofrem com a falta de instalações e

tratamentos específicos, porém esse sofrimento fica mais evidente quando se diz respeito à

maternidade em todas as suas fases - gravidez, parto, primeiros cuidados e separação.

Historicamente, à mulher foi reservado o papel de mãe, sendo considerado seu objetivo

último o de procriar e educar filhos. Com o aumento da presença destas na criminalidade, cria-

se um embate entre seu papel tradicionalmente designado, considerado como vocação natural,

e o crime, um desvio do que é esperado social e moralmente do sexo feminino (BRAGA, 2015).
Sendo assim, há um o intenso choque destes dois universos, com a maternidade presente dentro

da prisão, sendo fortemente vigiada, controlada e disciplinada.

O sofrimento na maternidade dentro do cárcere acontece de diversas formas - desde

casos em que prisioneiras são imediatamente separadas de seus filhos, privadas do papel de mãe;

até outros com o transcorrer do período de gestação em regime de privação de liberdade. Outra

possibilidade, entretanto, é a ocorrência da gravidez enquanto a detenta se encontra presa,

geralmente fruto de visitas íntimas, mas podendo também ocorrer como resultado da violência

sexual.

Sendo assim, embora existam diversas leis para regular esse processo nas prisões, sendo

as Regras de Bangkok internacionalmente as mais relevantes, o que se segue na realidade é

marcado pela precariedade da maternidade vivida pelas prisioneiras, em todos os seus aspectos

e fases.

Tal precariedade começa com a mulher que é aprisionada grávida ou engravida no

cárcere: durante a gestação a mulher não encontra à sua disposição a estrutura e assistência

médica necessária para o acompanhamento da gravidez, desde privação de consultas

ginecológicas e obstétricas até ambientes insalubres, faltando cuidados de higiene pessoal e para

a saúde mental e física das mães. Nesse âmbito, as condições dos presídios femininos não afetam

somente essas detentas, mas podem ser prejudiciais para o desenvolvimento do feto e,

posteriormente, do recém-nascido.

Entre as violências perpetradas pelo Estado contra as grávidas encarceradas, assume-se

sua forma mais explícita durante o nascimento da criança. Em alguns países elas devem passar

por esse momento algemadas enquanto dão à luz, literalmente presas durante o parto. Há,

também, relatos de violências sofridas durante o trabalho de parto perpetuadas pelos

profissionais de saúde (RONCHI, 2017).

A vida após a nascença do bebê é marcada por normas e controles impostas pelo cárcere,

impedindo o exercício autônomo da maternidade. O relacionamento entre mãe e filho, segundo

Correia (1998, apud DURIGAN, 2015, p. 21), é extremamente importante e produz efeitos

duradouros na vida da criança, e sofre influências históricas, sociais e psicológicas.


Dessa forma, o que deveria ser uma relação íntima passa a ser um incremento na punição

da mulher. Ocorre um fenômeno de hiper maternidade, nos primeiros meses após o nascimento

do bebê, no qual mãe e filho passam extensos períodos de tempo juntos em um espaço físico,

geralmente, pequeno. Este fenômeno é seguido pela hipomaternidade, quando a criança é

retirada da prisão e seu contato com a mãe passa a ser reduzido ou, em alguns casos extremos,

nulo. A prisioneira, então, além de sofrer violência física, através, principalmente, da violência

obstétrica, sofre abusos e violências psicológicas decorrente da separação abrupta. Muitas vezes

sem a possibilidade de recorrer a um tratamento para lidar com a separação, acaba sofrendo

doenças psiquiátricas.

Porém, a maternidade no cárcere não diz respeito somente às presas grávidas, mas

também àquelas que possuem filhos menores de idade fora da prisão. Estas, frequentemente

mães solteiras e responsáveis únicas pela criação dos filhos, têm de lidar com o afastamento e o

medo relativo à segurança e bem-estar destes. Ademais, é recorrente observar o abandono

afetivo delas, que deixam de receber visitas, tendo o contato reduzido e dificultado, e ficando

muito tempo sem notícias dos mesmos. O abandono afetivo tem graves consequências na vida

da detenta, especialmente no âmbito psicológico, dificultando a sua ressocialização e reinserção

na sociedade, facilitando ainda mais sua marginalização.

Vivendo a ambiguidade de ser simultaneamente mãe e criminosa, o tradicional papel

social da mulher e o desvio do feminino, respectivamente, faz com que essas sofram inúmeras

violências físicas e emocionais cujos efeitos atingem também seus filhos. É necessário, então,

repensar a forma que a política é feita, visto que a grande maioria das prisões e suas regras foram

formuladas ignorando particularidades como a maternidade.

3.4. Reintegração

A visão mais difundida do objetivo das prisões, atualmente, se baseia na ideia de que as

estas são instituições que ajudam a reduzir a criminalidade na sociedade, agindo como um

espaço que separa os “culpados” do restante da sociedade, impedindo-os de cometer novas

infrações. O teor dos métodos adotados nesses espaços varia entre um mais punitivo e um mais

reabilitador, mas, na teoria, sempre se propõe em busca da ressocialização deste preso(a).


Entretanto, tal realidade mostra-se diferente quando muitos presos afirmam que a prisão não

promove sua reabilitação, mas sim sua reincidência (VAN GINNEKEN, apud BESIN-MENGLA,

2020).

A reincidência, aqui analisada, diz respeito ao indivíduo que continua a se envolver em

atos ilícitos mesmo após ações corretivas dos sistema carcerário. Tendo em mente que muitos

países têm demonstrado taxas de reincidência altas, tal sistema mostra-se insuficiente, senão

contraditório, já que é de se esperar que depois de cumprir pena de prisão, as pessoas não

desejariam regressar. Portanto, é necessário analisar a responsabilidade do Estado no processo

de uma ressocialização eficiente.

No tema em questão, é necessário enfatizar a reincidência feminina ao se levar em conta

que a maioria das pesquisas sobre como aumentar a reintegração e reduzir a reincidência foca

nas necessidades da população de homens prisioneiros. Sendo assim, o desenvolvimento de

projetos que enquadrem especificidades de gênero e abordem a realidade da vida das mulheres

e suas barreiras específicas, são fundamentais para também elevar a reinserção social e combater

a reincidência criminal feminina.

Tendo em mente tal objetivo, a estigmatização pela sociedade é colocada como a

primeira entre as principais barreiras para cumprir com essa meta, visto que rotulações do crime

cometido acompanham toda a vida do ex-detento. Assim, o estigma promove barreiras sociais

e econômicas duradouras que podem fazer com que o indivíduo volte à criminalidade. E tal

realidade é ainda mais delicada entre ex-detenta, devido à imposição de limites morais definidos

por uma estrutura patriarcal, tal qual a imposição de papéis maternos e de gênero.

Outro aspecto essencial para a reintegração diz respeito ao abandono social e familiar,

principalmente em função do impacto emocional, dado que muitas detentas apresentam

constante falta de expectativas de futuro pela separação abrupta de suas relações. Em geral,

existe uma dificuldade de acesso das famílias e amigos aos presídios, principalmente pensando

em cenários de extrema pobreza, onde o custo da distância dos sistemas prisionais em relação

às residências dificulta visitas, como no Brasil (DAVIM e LIMA, 2016). Dessa forma, seja por

punição, vergonha ou dificuldade de acesso, muitas famílias acabam por se distanciar das
detentas.

Ainda no que tange às carências emocionais, há uma alta associação entre meio social e

crimes; a maioria dos detentos possui histórico de algum tipo de abuso físico, emocional ou sexual

(VAN WYK, 2014). Tal fato se amplia quando tratando de mulheres que, historicamente, são

marginalizadas e oprimidas por questões de gênero. Pesquisas internacionais e australianas

destacam que as dificuldades psicológicas e sociais de mulheres infratoras aparece de forma mais

severa e complexa do que entre homens (SORBELLO, 2002). As mulheres no sistema do Havaí,

por exemplo, possuem altos índices de estupro e/ou abuso físico e sexual na infância, 87% (CASE,

FASENFEST, SARRI e PHILLIPS, 2005).

Consequentemente, o desamparo na prisão caracteriza-se apenas como mais um, dentro

de uma vida inteira de sucessivos abandonos e violências. Assim, há o surgimento e ampliação

de transtornos psicológicos e traumas que podem implicar em mais uma barreira de retorno à

sociedade. O acompanhamento psicológico adequado dentro das prisões é indispensável no

processo de reabilitação do indivíduo, a fim de compreender e trabalhar transtornos, não os

ampliar. Ou seja, para ter algum impacto na reincidência, os programas de reabilitação devem

ajudar essas mulheres a entender como a vitimização afetou seu funcionamento social e

psicológico.

Um elemento adicional na busca pela reintegração social plena destacado por, Van Wyk

(2014) trata da forte correlação entre baixos níveis de escolarização, desemprego, pobreza e

crime, fato apoiado por pesquisas de presidiários no Reino Unido com níveis de educação muito

baixos. Assim, o déficit educacional impacta diretamente na empregabilidade, diminuindo

oportunidades de emprego formal, e, consequentemente, ampliando chances de reincidência.

Nessa lógica, projetos educacionais para prisioneiros trazem benefícios sociais, mostrando-se

como estratégia importante ao longo prazo. Além disso, oferecem oportunidades de

socialização, aumentando a autoestima e o funcionamento social, pontos cruciais quando

pensando em minorias femininas.

Entretanto, segundo Case, Fasenfest, Sarri e Phillips (2005) a educação das mulheres nos

programas na prisão costuma ser limitada a cursos como cosmetologia e assistência de escritório.
Ademais, equipamentos e técnicas de instrução muitas vezes estão desatualizados e não as

preparam adequadamente para o mercado de trabalho. O PROVE (Post Release Opportunities

for Vocational Education, tradução livre: Oportunidades Pós-Libertação para Educação

Profissional) é um projeto modelo de Michigan, EUA, que ilustra ações de sucesso no que tange

o suporte e gerência às experiências pós-liberação das mulheres, com objetivo de ampliar

oportunidades, apoio para treinamento vocacional e educacional, orientação e auxílio na busca

de emprego. Ademais, o planejamento financeiro é outro fator essencial para ampliar habilidades

de orçamento e maneiras de gerenciar dívidas pendentes (SORBELLO, 2002).

Portanto, a reintegração bem-sucedida de presidiárias pode ser realizada por meio do

apoio à formação profissional e educacional, fornecendo suporte durante e após seu período em

cárcere, a fim de ajudá-las não apenas com a capacitação, mas também na busca nos setores

para o qual foram capacitadas. Além disso, o amparo familiar e social para atender essas mulheres

com sua recuperação emocional e psicológica é necessário e também pode ser incentivado. Por

fim, o apoio financeiro após sua libertação, além de moradia e transporte são fatores cruciais

para que essas sejam capazes de retomar suas vidas e obrigações, dentro das mais diversas

realidades, principalmente em locais com altos graus de desigualdade social, econômica e de

gênero.

10

10
Imagem disponível na página 119 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : < https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
4. AS DINÂMICAS GLOBAIS E AS PRISÕES FEMININAS

Essa seção do guia escolhe separar as dinâmicas históricos, políticas e socioeconômicas

entre as divisões de Norte e Sul Global11, com o objetivo de apresentar as diferenças estruturais

entre os princípios e os valores que caracterizam as prisões femininas e seus propósitos nesses

diferentes conjuntos de países. Além disso, as diferentes problemáticas estruturais no que diz

respeito à condição carcerária feminina desses dois espaços, exigem propostas, estratégias e

ideias específicas por parte dos delegados. Uma proposta de resolução pensada para uma

realidade carcerária alemã não será de grande ajuda para a realidade do Afeganistão, por

exemplo, o que evidencia a importância de entendimento dessa pluralidade global.

Para esse guia de estudo serão focados apenas dois escopos: o histórico e o político; e ao

final será comparada a capacidade que os diferentes conjuntos o Sul e Norte Global têm para

cumprir as já mencionadas Regras de Bangkok. Estes aspectos são importantes pois conseguem

expor as principais características e problemáticas que diferenciam as prisões femininas entre

esses dois conjuntos de países. Espera-se que, ao ter conhecimento das questões particulares

desses sistemas carcerários, os delegados sejam capazes de pensar soluções mais objetivas e

eficazes para os contextos e desafios singulares das regiões.

4.1. Norte Global:

Os países do Norte Global são um dos pontos fundamentais para compreender o

tratamento e herança do sistema penal e prisional no mundo inteiro. Tal confirmação é dada pois

esses, em sua maior parte, afetaram a maneira que as constituições e as leis de diversos países

foram feitas, definindo normas que não necessariamente seriam as mais apropriadas, inclusive

para a diminuição do crime ou encarceramento. Levando em consideração que estas leis e o

próprio aparelho do Estado Colonial era, normalmente, para a repressão e punição de seus

nativos ou, em muitos casos, de escravos que não eram obedientes e/ou representavam perigo,

11
Os termos Norte e Sul Global não se referem à um conjunto de países que ocupam uma posição geográfica específica
(Hemisfério Norte e Sul respectivamente), mas trata de dois grupos de países separados por diferenças socioeconômicas.
Esses termos são utilizados em estudos pós coloniais e transnacionais para serem alternativas às expressões de Terceiro
Mundo, mundo subdesenvolvido, Primeiro Mundo e países desenvolvidos. Consequentemente, é possível observar
algumas imprecisões geográficas ao se referir à Austrália como um país do Norte Global e à Índia como um Estado do
Sul Global.
a penalidade e o descaso na eventual prisão e até morte de dissidentes serviria de exemplo para

os demais não praticarem tais atos como rebeldia e discordância.

Entretanto, mesmo após a independência de tais países colônias, ainda é possível ver

nuances deste tratamento repressivo em aparelhos e estruturas dos Estados atuais. É importante

ressaltar que, na maioria dos casos, as normativas para os prisioneiros eram quase que exclusivas

para aqueles do sexo masculino e as mulheres eram escanteadas, com seus direitos quase que

imperceptíveis nos direitos prisionais.

Além disso, esta forma de repressão feita àqueles que eram rebeldes ou que discordavam

das imposições do Estado europeu não se resumiam às colônias, em países católicos, mulheres

europeias que não seguiam o padrão cristão de moral e vivência ou que eram adeptas a outras

religiões, eram taxadas de bruxas e punidas sendo queimadas em fogueiras, ao contrário dos

homens que seriam simplesmente presos ou exilados do território.

A exemplo disso, a falta de documentação sobre o encarceramento feminino nas colônias

e posteriormente nos países recém independentes e em países europeus, demonstram a

invisibilidade destas mulheres no sistema carcerário. Sendo assim, a falta de um código concreto

especial à essa população, bem como a não documentação de casos, configuram um descaso

em diversas regiões, que não se limitam somente ao Sul Global, mas também ao Norte Global,

principalmente entre países da Europa e os EUA pós-colonização. Além disto, houve demora

para início do debate sobre um código para ampla aplicação mundial a respeito deste tema que

só se iniciou amplamente no começo dos anos 2000.

Apesar dos fatos acima, países do Norte Global foram fomentadores de melhorias nas

condições das mulheres no sistema carcerário em seus territórios. Um dos primeiros atos a favor

dos direitos mais básicos das mulheres encarceradas foi no Reino Unido, em 1823, através do
12
“Gaol Act” idealizado por uma mulher chamada Elizabeth Fry, estabelecendo os direitos tanto

para homens como para mulheres encarceradas. Porém, essa foi uma vitória muito maior para

as mulheres, pois neste ato se especificava a separação entre sexos e buscava assegurar guardas

do sexo feminino para as mulheres - no entanto esta última medida não foi muito eficiente ou

12
Para ver documento inteiro acessar: < https://community.dur.ac.uk/4schools.resources/Crime/Fryinfo.htm>
concreta pela falta de fiscalização da época. Além dessa conquista, em 1835, nos EUA, foi

estabelecida por uma iniciativa privada uma prisão feminina independente, que tinha uma

infraestrutura mais adequada para o aprisionamento de mulheres, assim como uma

administração e tratamento físico, diferente das prisões masculinas.

Como se pode ver, o Norte Global também foi pioneiro na questão dos direitos das

mulheres nos centros de detenção, apenas quando se trata do escopo nacional, porém ainda

persiste um impasse entre países deste bloco e da comunidade internacional. Este impasse seria

o método para alcançar o objetivo de qualquer prisão, que é a diminuição do crime, visto que os

meios para chegar nesse fim comum variam entre características de punição e ressocialização,

majoritariamente.

A resposta ainda varia, porém, na maioria dos países o método adotado é mais punitivo,

principalmente naqueles que apresentam más condições prisionais - caracterizada pela alta

violência e repressão, além do esquecimento por parte do Estado e sociedade da pessoa que

cometeu o crime. Esta forma de aprisionamento já se provou ineficiente como método de

diminuição do crime, uma vez que as populações carcerárias só estão aumentando,

principalmente a população feminina, apontando uma incongruência no sistema.

Globalmente, há um reconhecimento crescente da importância da reabilitação e

reintegração social nas prisões. Tendo em mente que a educação é um direito humano

fundamental que deve ser usufruído por todos, como principal objetivo da prisão, a reabilitação

deve incluir uma ampla gama de programas, incluindo saúde física e mental, programas de abuso

de substâncias, atividades físicas, aconselhamento, apoio psicossocial, cursos de educação e

formação profissional, criativos e culturais atividades, oportunidades de trabalho e acesso regular

a instalações de biblioteca bem abastecidas.

Portanto, o debate sobre a situação carcerária das mulheres em países do Norte Global

deve ser estruturado levando em consideração alguns pilares importantes que são incorporados

nos centros de detenção desses países, como a urgência de regras e protocolos que cubram a

saúde, segurança, relações familiares e pôr fim a reeducação e ressocialização da prisioneira.

Pode-se dizer que, a maioria desses países buscam nos centros de detenção uma maneira de
ressocializar e reeducar a detenta através de programas educativos e sociais a fim de prepararem

os reclusos para entrarem novamente na sociedade.

Pensando nos impactos positivos que sistemas focados em uma ampla reinserção social

podem trazer, países como Noruega, Alemanha, Escócia e Espanha comumente dispõem em

suas prisões: bibliotecas; serviço de saúde de qualidade; centro de treinamento para ocupações,

como alfaiataria; e estruturas para reunião dos detentas com seus familiares. Assim, a

possibilidade de que as detentas tenham novas oportunidades ao sair é ampliada e,

consequentemente, reduz-se o índice de reincidência criminal e violência nas suas prisões.

Ademais, em países da Ásia que fazem parte do Norte Global, como o Japão e a Coreia

do Sul, as condições das suas prisões, tanto masculinas quanto femininas, são excelentes, devido

a cultura e ao forte investimento pesado em educação, configurando exemplos positivos do foco

na reintegração social. Na União Europeia (UE) também houve um movimento semelhante de

melhora das condições prisionais nos seus Estados-Membros, com a resolução do Parlamento

Europeu de 2008/200913, a respeito das condições de mulheres nas prisões e seus impactos na

relação familiar, que garante direitos para as prisioneiras, como destacado neste trecho sobre a

condição de detentas grávidas ou com filho dependente:


“13. Recomenda que só em último caso se preveja a reclusão de mulheres grávidas e das

mães que tenham a seu cargo filho(s) de pouca idade e que, nesse caso extremo, essas

mulheres possam obter uma cela mais espaçosa, se possível individual, e sejam objeto de

uma atenção particular, nomeadamente em matéria de alimentação e de higiene;

considera, além disso, que as mulheres grávidas vem poder beneficiar de um

acompanhamento antes e depois do parto, bem como de cursos de educação parental

de qualidade equivalente aos que são assegurados fora do quadro


14
penitenciário;( Parlamento Europeu, 2008)“

Entretanto, essas medidas do Parlamento Europeu não surtiram impacto em relação a

outras regiões do Norte Global. Mesmo a própria citação acima, que foi um dos primeiros

13
Documento encontrado em: <https://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?type=REPORT&reference=A6-2008-
0033&language=PT#title1>
14
Citação encontrada na página 8 do relatório do Parlamento Europeu, disponível em:
<https://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//NONSGML+REPORT+A6-2008-
0033+0+DOC+PDF+V0//PT>
documentos a respeito desta temática que recomendava e encorajava os membros de uma

organização internacional, a União Europeia, a seguir tais medidas, não configurava uma

obrigação a ser adotada pela região.

Como já explicado além desta decisão do Parlamento Europeu, as “Bangkok Rules”

também foram criadas, estando presentes na realidade do Norte Global. Ao aplicar os padrões

internacionais aos sistemas nacionais, como foi feito em nações parte deste bloco (Canadá,

Alemanha, Países Baixos, Austrália, Japão), alguns Estados configuram menos importância à

medidas consideradas cruciais e divergem no tratamento aplicado. No entanto, ao ler as Regras

de Bangkok, fica explícito como a problemática da situação das mulheres no sistema de justiça

criminal é universal, desta forma a aplicação dessas regras é fundamental, independente das

divergências entre as políticas de Estado, dando base e ferramentas corretas para lidar com tal

questão.

No entanto, alguns velhos hábitos que podem datar dos tempos de colonização ainda

não são ultrapassados em países do Norte Global, como EUA, Rússia e a locais da Europa, como

a França 15. Apesar do recente esforço observado para a mudança na mentalidade punitiva dos

Estados, este conjunto de países ainda agem nessa lógica, ressaltando como seus aparelhos e

estruturas ainda têm nuances imperialistas - pois grande parcela de seus prisioneiros tanto

homens como mulheres, não são cidadãos do país, mas sim imigrantes ou refugiados, no caso

da Europa principalmente, e/ou pessoas marginalizadas e de grande vulnerabilidade

socioeconômica, para ressaltar os EUA neste tópico.

Da mesma forma que os colonos prendiam e puniam nativos da terra pela sua

desobediência ao regime da colônia, agora imigrantes e pessoas marginalizadas nestes países,

dentre outras complicações, também são perseguidas pelos rastros e estigma que os vestígios

do sistema colonial deixaram nos aparelhos punitivos e de segurança do Estado - de caráter

predominantemente racista, classista e machista. Tal questão também se mostra ainda muito mais

desfavorável às mulheres que fazem parte desses grupos oprimidos e hostilizados socialmente,

15
Prisões na Europa como La Santé Prison (França) e a Petak Island Prison (Rússia) ainda são maus exemplos de centros
de detenção com baixa infraestrutura para mulheres e más condições de cárcere como forma de punir os detentos e
detentas por seus crimes.
uma vez que suas características identitárias são sobrepostas16 e configuram em diversas formas

de opressão e exclusão.

Ademais, os países do Norte Global são caracterizados pelo capitalismo enraizado nas

políticas de Estado e, por consequência, a prioridade do lucro. Nesse cenário, prisões privadas e

empresas de segurança e encarceramento são comuns, seguindo essa lógica do sistema. Aqui, o

lucro é realizado em detrimento da qualidade de vida dos detentos dentro das prisões, com uma

política de aprisionamento objetivando para a maior captação de futuros produtos (prisioneiros),

onde a maior estadia no cárcere significa mais lucro para este capital privado 17.

Nessa lógica, ainda existe uma busca por economias na infraestrutura e segurança dessas

prisões para maximizar os lucros, resultando na diminuição de condições básicas asseguradas

pelos Direitos Humanos, tanto para homens como mulheres. Como por exemplo, em diversas

prisões privadas dos EUA, para economizar financeiramente, os seguranças são treinados por

menos tempo e são mais rotativos, causando os altos índices de violência e motins dentro destas

prisões, além também da péssima qualidade de saúde, comida e infraestrutura de reabilitação.

Além disso, um fator para a identificação do perfil das mulheres presas nestes países, que

também é “aliado” do encarceramento em massa no Norte Global, é a fracassada “Guerra às

Drogas”. Levando em conta que a incidência do porte e tráfico de drogas são identificados em

comunidades pobres ou socialmente vulneráveis, as prisões destas mulheres são, na maioria das

vezes, acusações não violentas relacionadas ao porte, tráfico ou abuso de drogas e

entorpecentes, além de delitos leves, como furtos em decorrência da dependência química.

16
A “Teoria da Interseccionalidade” diz respeito ao estudo de sobreposição (intersecções) entre identidades sociais e
sistemas de opressão, dominação ou discriminação. A teoria sugere que diferentes categorias biológicas, sociais e culturais
(tais como gênero, raça, classe, orientação sexual, religião, idade e outros eixos de identidade) interagem em níveis
múltiplos e muitas vezes simultâneos, de forma complexa.
17
Para mais informações acesse: <https://www.prisonpolicy.org/reports/money.html>
18

Como ilustrado no gráfico acima, na Europa, 75% das prisioneiras que entram no sistema

prisional têm problemas com abuso de álcool e drogas. Nos EUA, segundo um levantamento

antigo feito em 1994, mais de um terço das prisioneiras entrevistadas alegam que estavam sob

influência de alguma droga na hora do crime, 40% usavam drogas numa base diária no mês

anterior ao crime e quase um quarto delas relatou cometer seu crime para conseguir dinheiro

para comprar drogas19.

Com isto em mente, a “Guerra às Drogas” também causou uma enorme contribuição no

encarceramento de mulheres, pois, ao invés da mentalidade do tratamento da dependência

química ou da conscientização e descriminalização das drogas, os aparelhos do Estado somente

esquecem as necessidades destas infratoras.

20

Além disso, sérios problemas no sistema penal e nos índices de violência dentro das

18
Imagem disponível na página 72 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : < https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
19
Pesquisa disponível em: <https://law.jrank.org/pages/1804/Prisons-Prisons-Women-composition-women-s-
prisons.html>
20
Imagem disponível na página 75 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : <https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
prisões estadunidenses podem ser observadas no gráfico acima, onde 75% da prisioneiras em

prisões locais têm algum tipo de condição mental. A Europa também apresenta altos números,

em média 80%21 das detentas apresentam sintomas, esses dados ficam ainda mais preocupantes

quando se unem ao fato de que dois terços dessas mulheres têm estes ocorrências decorrentes

de problemas relacionados à dependência, o que aumenta em quase três vezes a chance de

suicídio, além da violência entre as detentas e a auto violência corporal.

22

Acima estão algumas medidas para o tratamento sobre dependência de substâncias nas

prisões, uma parte destas já estão implementadas em prisões modelo no Norte Global, como no

Japão. Porém, há a recomendação de implementação eficiente para uma reabilitação digna e

que promova a inserção do indivíduo, reiterando a emergência deste problema dentro das

prisões do Norte Global de forma geral. Ademais, muitos projetos de reabilitação podem ser

implementados sem recursos significativos e quaisquer lucros obtidos, provindos da execução de

trabalho pelas prisioneiras, por exemplo, podem ser investidos no aprimoramento de programas

de reabilitação ou no desenvolvimento de novos.

Portanto, a partir destas análises, o perfil dessas detentas no Norte Global já pode ser

identificado bem como a realidade diversa dentre esses países, demonstrando, em resumo, que

21
Pesquisa e outras informações relevantes disponível em: <https://www.euro.who.int/en/health-topics/health-
determinants/prisons-and-health/focus-areas/womens-health/10-things-to-know-about-women-in-prison>
22
Imagem disponível na página 73 do Workbook “Women in detention Putting the UN Bangkok Rules on women
prisoners into practice” disponivel em : < https://www.penalreform.org/resource/workbook/>
estas mulheres encarceradas são pessoas que vêm de ambientes social e economicamente

vulneráveis, migrantes ou refugiadas, dependentes químicas, entre outras características. A partir

desta leitura a respeito do histórico do encarceramento em países do Norte Global, do método

utilizado pelas estruturas prisionais desta região e do perfil das mulheres presas nesses centros

de detenção, pode se chegar a um plano para a melhora das deficiências citadas.

Vale ainda ressaltar o diminuto entrave de recuperação econômica ou busca pelo

desenvolvimento nacional, como observado no Sul Global. Portanto, estes países, que têm obtido

sucesso em seu sistema penal, podem ser precursores da difusão de medidas para melhora no

tratamento das mulheres nas prisões, a fim de realizar um intercâmbio de ideias e de políticas

aplicáveis às nações, beneficiando tanto indivíduos infratores como sociedade, sempre

assegurando a soberania de cada país.

4.2. Sul Global:

Pensar a situação em que se encontram prisioneiras localizadas no Sul Global, significa

colocar o elemento da vulnerabilidade mais marcante do que no Norte. Em outras palavras, essas

detentas enfrentam problemáticas diferentes em função do próprio espaço nacional que se

encontram. Esses Estados possuem situações, principalmente em âmbito socioeconômico, que

produzem desafios ainda maiores para garantir o cumprimento da lei e dos Direitos Humanos

nas suas prisões femininas. Além disso, em muitos casos, os próprios governos são os

responsáveis por desrespeitar os direitos dessas mulheres e produzir situações de exclusão social.

Como resultado dessas realidades, esses países abrigam alguns dos sistemas prisionais

com as piores condições de vida. Além disso, os dirigentes dessas nações enfrentam problemas

muito similares entre si para administrar suas prisões, tais como superlotação, baixo fornecimento

de recursos alimentícios e sanitários, dificuldade na manutenção da ordem e altos índices de

violência.

Antes de qualquer coisa, se referir à condição histórica exclusiva do Sul Global significa

principalmente considerar a experiência colonial que os povos dessa região possuem. A maioria

das nações dessa parte do globo, em algum momento de suas histórias, ficaram sob um domínio

das potências europeias. Essa vivência trouxe resultados que têm efeitos diretos e indiretos sobre
a situação das prisões femininas até os dias de hoje. Entretanto, o aspecto mais impactado pela

herança da colonização é o jurídico.

Muitos desses países, mesmo após a independência, mantiveram partes, se não toda,

constituição que lhes foi imposta no passado. Ademais, todos os Estados do Sul Global redigiram

suas leis seguindo os moldes e princípios da Europa, e a legislação que trata da condição

carcerária feminina não foi uma exceção. Dessa forma, a herança das normas europeias afetou

as prisioneiras nesses países, tanto pelo conteúdo presente nas constituições quanto pelo que

estava ausente nelas, não lhes garantindo qualquer tratamento ou amparo legal diferenciado em

relação aos homens.

Outro ponto importante é que o estabelecimento dessas prisões teve uma relação

intrínseca com a colonização, visto que o entendimento europeu do sistema carcerário como um

espaço de punição se uniu com o processo de dominação das colônias. Consequentemente, o

estabelecimento de prisões passou a andar de mãos dadas com o projeto de conquista de um

território e seu povo. Nesse sentido, as legislações impostas pelos europeus tratavam as

populações colonizadas como inferiores em humanidade e em direitos, ignorando as diferenças

entre homens e mulheres e suas formas de punição. Em outras palavras, uma prisão na colônia e

suas normas eram muito mais violentas do que na metrópole.

Um exemplo dessa relação entre colonização e o encarceramento, é o projeto britânico

das “colônias penais”. Esses eram lugares para onde prisioneiros do Reino Unido eram exilados

para cumprir suas penas com serviços coloniais (plantações não remuneradas, derrubada de

florestas, construção de estradas, entre outros). Nesses espaços o trabalho e as punições muito

mais severas do que era estabelecido nas metrópoles.

Adicionalmente, essas prisões não eram exclusivas para os criminosos europeus, mas os
23
misturavam com os povos nativos. Consequentemente, os cárceres desses lugares e suas regras

não eram estabelecidas com o objetivo de garantir a justiça e pena legal às populações locais ou

23
O império britânico chegou a estabelecer prisões coloniais principalmente na Austrália, na Índia e nos Estados Unidos,
mas esses não eram exclusivamente os únicos lugares. Da mesma maneira que essa não era uma prática restrita aos
britânicos. A França, a Espanha e Portugal também implementaram prisões e suas próprias colônias e até mesmo casos
mais modernos, como as prisões russas na Sibéria ou a prisão dos E.U.A. em Guantanamo, possuem similaridades com
as prisões coloniais tradicionais.
aos prisioneiros, mas para aprofundar ainda mais a dominação. Nas colônias penais o castigo não

era baseado na lei, o interesse o sucesso na conquista do novo território, quem não cumprisse o

que era ordenado sofreria alguma brutalidade como punição.

Nesse cenário, as mulheres (nativas ou prisioneiras exiladas) não tinham qualquer distinção

de tratamento para com os prisioneiros homens. A única, porém mais importante diferença, é

que apesar de ambos não possuírem seus direitos, o sistema de trabalho punitivo das penas

coloniais, pensado para os homens, era também aplicado às mulheres (horas de trabalho forçado

iguais, guardas homens para ambos24, condições sanitárias iguais), dessa forma o tratamento era

muito mais violento para as segundas.

Além disso, é importante entender o papel das instituições políticas para explicar essa

realidade atualmente. Por um lado, a maioria dos países do Norte Global já possuíam instituições

consolidadas antes mesmo da expansão colonial e, com o passar do tempo, fato que

desempenhou um forte papel na reformas às suas constituições25. Por outro, até hoje as

legislações dos países do Sul Global, por causa do tardio e ainda desafiador processo de

fortalecimento de suas instituições, tiveram um número menor de reformas constitucionais. Além

disso, as reformas constitucionais nas regiões europeias não foram estendidas ou adotadas para

as antigas colônias26, que herdam mecanismos ultrapassados.

Nas regiões dominadoras, foram conquistados direitos para grupos antes marginalizados

e, mais especificamente, também se estabeleceram regulamentações e diretrizes para o

tratamento das mulheres nas prisões. A título de exemplo, o Gaol Act em 1823 estabelecido pela

Inglaterra Enquanto, por outro lado, no Afeganistão com sua primeira constituição redigida em

24
Essa afirmação é evidenciada pela considerável ausência de mulheres na profissão de guardas. Mais informações sobre
o papel das mulheres nas colônias disponível em: https://courses.lumenlearning.com/boundless-ushistory/chapter/the-
role-of-women-in-the-
colonies/#:~:text=Role%20of%20Housewife-,The%20typical%20woman%20in%20colonial%20America%20was%20e
xpected%20to%20run,in%20medicine%20and%20health%20care.
25
Essas reformas podem incluir, por exemplo, a inserção de artigos que garantam direitos para grupos antes esquecidos
na constituição, a remoção de artigos que ferissem a existência de pessoas ou a introdução de artigos que tratem de assunto
antes ignorado (como a condição da mulher na prisão).
26
É fundamental entender essas reformas como o resultado de um longo processo de luta política. Os direitos raramente
são simplesmente “dados” para um grupo marginalizado e a solidez das instituições políticas têm um papel fundamental
em garantir o sucesso dessas lutas. A título de exemplo, a conquista do voto feminino foi o resultado da crescente
importância que as mulheres assumiram na sociedade e instituições europeias através dos seus esforços para se inserirem
nesses espaços.
1890, ainda não se realizaram reformas constitucionais e garantia dos direitos das mulheres, muito

menos das que se encontram encarceradas. Isso pode ser explicado, principalmente, por causa

das turbulências políticas que atingem o país e pelos chamados “crimes morais” das mulheres,

definidos pela nação (como sexo antes do casamento, adultério ou fugir do esposo, etc).

Dessa forma, é possível perceber que existe uma intrínseca relação entre a instabilidade

política desses países, herdada primordialmente da experiência colonial, e a dificuldade em

estabelecer recursos legais para garantir direitos e condições básicas para grupos marginalizados

nesses Estados e para as mulheres prisioneiras, no caso. De uma forma mais linear: a colonização

foi impulsionadora da atual instabilidade política, que por sua vez prejudica a consolidação das

instituições. Sendo assim, a inserção de grupos marginalizados na sociedade e na política é

defasada, com embates no processo de reformas constitucionais para garantir os direitos desses

grupos.

No que diz respeito à condição política do Sul Global é fundamental pensar qual a

capacidade desses Estados em administrar as suas prisões com mulheres, juntamente com qual

seria a finalidade desse encarceramento. Para avaliar a capacidade dos Estados em gerir estas

prisões vale primeiro observar a situação econômica desses países que lhes permitiria destinar

algum investimento às prisões, em especial às femininas. Segundo os dados do instituto “World

Prison Brief”27 é possível observar que os países dessa região apresentam os maiores índices de

superlotação de prisões, em que o número de detentos excede a capacidade oficial, mesmo

quando se fala de grandes economias como Brasil, Índia, África do Sul e Irã. Enquanto nos

governos do Norte Global apenas uma minoria dos sistemas carcerários se encontra em situação

de superlotação28.

Fica então claro que a construção de instituições prisionais, ou no caso a falta destas,

assim como a ausência de materiais básicos para as prisioneiras (absorventes, calcinhas, comida,

vestimentas, etc), não é só definida pela situação das contas públicas dos países. Se esse fosse o

27
Os dados aqui extraídos do World Prison Brief não fazem parte de um único relatório lançado pelo banco de dados,
mas de informações específicas de cada Estado presentes no site, com diferentes datas de atualização. Tais informações
sobre a situação de cada país estão disponíveis em: https://www.prisonstudies.org/world-prison-brief-data
28
Isso não significa afirmar que a ocupação carcerária está em um baixo número no Norte, a título de exemplo, segundo
os dados de 2017, a taxa de ocupação das prisões norte americanas era de 99,8%.
caso, o Brasil, uma das maiores economias do mundo, não seria um dos Estados com as piores

condições de vida para mulheres encarceradas. Dessa forma, é possível inferir que o investimento

público para melhor o cenário nesses estabelecimentos não seja uma prioridade para essas

nações. Em outras palavras, não existe uma preocupação dos governos em tratar a realidade das

prisões femininas como a emergência que de fato é.

Ademais, levando em conta o investimento insuficiente da maioria dos governos para as

prisões e o fato de que essa população carcerária é consideravelmente inferior à masculina,

existem duas circunstâncias possíveis para a alocação de uma prisioneira. A primeira é em um

cenário onde existem presídios exclusivos para as mulheres. No segundo caso, elas ocupam os

mesmos presídios que os homens, apenas em seções separadas, configurando as prisões mistas.

No primeiro caso, essas instalações tendem a ser poucas pelo território, devido ao baixo

número de presas, e acabam por ser distantes dos lares e das comunidades da maioria das

detentas, o que só contribui para o abandono familiar e maiores desafios nas suas reinserções. A

segunda situação é ainda pior, visto que, ao dividir o mesmo presídio com homens, abre-se

espaço para agravar ainda mais as inúmeras violências mencionadas anteriormente na seção do

escopo do comitê.

Adicionalmente, é fundamental entender a relação entre a desigualdade socioeconômica

no Sul Global e seus efeitos na situação prisional feminina. O mapa abaixo, do ano de 2014,

apresenta a desigualdade de renda no mundo medida através do coeficiente de GINI29:

29
O coeficiente de GINI é um cálculo matemático utilizado para medir a distribuição de renda em um país. Mais
informações disponíveis em:<https://www.sunoresearch.com.br/artigos/indice-de-gini/>
30

Este mapa evidencia a predominância dos países da região em questão como aqueles

com os maiores índices de concentração de renda. A má distribuição de renda é uma

característica marcante para esses países e afeta profundamente as perspectivas de futuro que as

populações socialmente desfavorecidas. Essa ausência de perspectiva na região é um fator de

grande importância tanto para compreender as razões que levam as mulheres à prisão, quanto

para entender a sua dificuldade em se reinserirem na sociedade quando libertas.

Tendo em mente a fragilidade das estruturas políticas e jurídicas em função do passado

colonial; a má distribuição dos recursos públicos e a desigualdade econômica é possível então

analisar a capacidade do Sul Global cumprir as principais normas internacionais para o tratamento

das prisioneiras: as Regras de Bangkok.

Por um lado, de maneira geral, algumas das determinações das regras, tais como um

tratamento psicológico regular, acompanhamento médico constante e garantia de proteção para

aquelas que relatem serem vítimas de abuso dentro da prisão, entre outras, são exigências que

estão além da capacidade financeira de muitos países. Para garantir o cumprimento dessas

normas os Estados necessitarão da cooperação e auxílio externo de outros atores para poder

angariar os recursos necessários. Por outro lado, certas condições, como facilitação para visitas e

30
O mapa foi produzido no ano de 2014 e muitas informações podem ter alterado. Para obter os últimos valores do índice
de GINI visitar: <https://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI>
capacitação adequada dos funcionários carcerários, não foram cumpridas pelos governos por

uma falta de interesse político em assegurar esse tratamento para as detentas em seu território,

nesse caso a situação é mais complexa.

Dada a soberania de cada Estado e a incapacidade do Conselho de Direitos Humanos de

impor uma resolução de caráter mandatório, cabe aos delegados manobrar pelos interesses

políticos e valores de alguns países para promover a vontade política de assegurar os direitos

humanos das mulheres encarceradas.

Entretanto, é imprescindível ter em mente as capacidades e vontades dos Estados do Sul

Global, não para fazer com que estes se acomodarem às normas já existentes, mas sim para

realizar o contrário: pensar uma resolução normativa adequada para essas e outras condições

que caracterizam a realidade social desses países. Dessa forma, não serão pensadas soluções para

Estados e sim solução para as mulheres que, como sujeitos de direitos, são as verdadeiras figuras

centrais desse debate.

Por fim, fica a reflexão sobre o que de fato é o crime e a criminosa:

“O mundo está crivado pelo crime. Alguns dizem que esse é o preço a se

pagar por anos de desigualdade e divisões em uma sociedade que não

inclui todos seus constituintes. O crime, consequentemente, é uma reação

natural de uma parte da sociedade que foi prejudicada pela falta de

oportunidades, uma coisa essencial na vida.” (KHUMALO, 2019)


5. POSICIONAMENTO DOS PAÍSES:31

5.1. África

África do Sul

A República da África do Sul é um dos exemplos evidentes de que a má administração das

prisões femininas e a violência nas mesmas não são um resultado direto da falta de aporte

financeiro de um país. Na região, as detentas representam 2,6% da população carcerária total

(4.316 em 2019) e, apesar de ser a maior economia do continente africano, as penitenciárias sul

africanas para mulheres estão entre as piores da África, com uma ausência gritante de

acompanhamento médico regular, superlotação e uma insuficiência de materiais sanitários para

as detentas.

Ademais, a constituição do país não regulamenta qualquer diferenciação de tratamento

entre homens e mulheres, o que dificulta a padronização de um tratamento comum para todas

prisioneiras. Sendo assim, com uma economia favorável e uma relativa estabilidade política, a

África do Sul tem condições mais favoráveis do que muitos outros governos para solucionar as

adversidades do seu sistema penitenciário e se tornar um modelo para o continente.

Nigéria

Assim como a África do Sul, a República Federal da Nigéria é uma grande economia

africana, porém com um sistema carcerário de péssima qualidade, podendo ter sua situação

caracterizada como uma das piores.

No país onde as mulheres são 1,9% do total de prisioneiros (1.171), a situação de crise para

essas detentas é marcada por dois principais elementos. O primeiro é o fato de que mais da

metade de todos os encarcerados (72,7%) estão lá sem ter recebido qualquer julgamento, por

causa do lento e ineficiente sistema jurídico do país32. Essa lentidão nos julgamentos resulta na

superlotação, piora das condições de vida e aumentos dos custos das prisões, encarcerando

pessoas inocentes ou de crimes adeptos de penas alternativas. O segundo elemento é o completo

descaso do governo para sanar as necessidades básicas das mulheres aprisionadas que,

31
Todos os dados sobre o número de prisioneiras em um país e seu percentual com relação ao total da população carcerária
são provenientes do World Prison Brief. Disponíveis em: <https://www.prisonstudies.org/world-prison-brief-data>
32
A média de tempo para receber um julgamento no país varia de 5 à 17 anos.
atualmente, estão em um estado alarmante. Produtos como absorventes, sabão e até comida não

são providenciados pelas prisões e muitas dependem do contrabando ou da ajuda de pessoas

de fora. Além disso, relatos de mulheres que precisam dividir o mesmo absorvente pelo mês e

surtos de infecção são lamentavelmente comuns no país.

Entretanto, da mesma maneira que a África do Sul, a Nigéria também possui boas

perspectivas de solucionar esse cenário. Ademais, é preciso reconhecer os esforços da Prisoners

Rehabilitation and Welfare Action (PRAWA)33, uma Organização Não Governamental criada para

promover reformas institucionais visando essas mudanças - apesar da sede e foco na Nigéria, seu

mandato é implementar seus programas em outros países africanos.

Ruanda

Ruanda é possivelmente um dos principais expoentes africanos e mundiais no presente

debate. Ao contrário das nações acima, a República de Ruanda é um exemplo de que a

reabilitação e reinserção prisional, em conjunto com um tratamento digno, são possíveis sem

custos governamentais abundantes. Com as mulheres correspondendo à 7,4% da população

carcerária em 2017 (4.287), muitas estão condenadas por crimes relacionados ao genocídio

ruandês. Consequentemente seria de se esperar que as prisões funcionassem como um espaço

de retaliação e vingança pelo genocídio, porém a realidade é o completo oposto. O governo de

Ruanda é um exemplo dos efeitos positivos que o perdão e a reabilitação proporcionam.

Os programas de educação para mulheres encarceradas são muito bem aproveitados e

benéficos, proporcionando amplas perspectivas de reinserção. O governo reitera a importância

de ter o máximo de membros produtivos para sua sociedade e por essa razão acompanha de

perto a situação das detentas nas duas prisões femininas no país (Ngoma e Nyamagabe) e as 3

prisões mistas (Nyarugenge, Muhanga e Musanze). Em alguns casos até oferecendo, com relativa

frequência, perdão presidencial para mulheres.

República Democrática do Congo

A situação das prisões femininas na República Democrática do Congo é profundamente

marcada pelos efeitos da realidade política e econômica do país. O Estado centro africano ainda

33
Mais informações sobre a organização disponíveis em:<https://www.prawa.org/>
sofre muito com as mazelas das guerras do passado e isso provoca fortes consequências para

seu sistema carcerário.

Primeiramente, existe uma considerável ausência de dados sobre o assunto em geral, em

função disso, é limitado o número de informações sobre as condições de vida das detentas. Para

se ter uma ideia, o último dado sobre a proporção de prisioneiras no país é de 2010 e só inclui

as detentas nas principais prisões do país34, sendo essas 3% do total de presos (600). Ademais, o

ainda fragilizado sistema judicial e burocrático do país provoca um atraso nos julgamentos, fato

evidenciado pelos dados de 2015 de que 73% de seus prisioneiros sequer haviam sido julgados.

Isso provocava um cenário de superlotação carcerária e falta de comida e materiais básicos para

os prisioneiros, principalmente àquelas do sexo feminino.

Além de tais fatores, a República Democrática do Congo é um importante ator na

geopolítica africana e mantém laços próximos com Ruanda e Uganda, visto que tais países

necessitam da cooperação para superar seus passados turbulentos.

Senegal

Em comparação à outros casos do continente africano, a República do Senegal, possui

uma situação mais positiva no que diz respeito aos esforços para reeducar e reinserir as mulheres

encarceradas. O governo trabalha em conjunto com ONGs para oferecer apoio e auxílio para

essas mulheres que equivaliam, em 2019, à 2,7% de todos os detentos no país (317).

Entretanto, não se pode deixar de mencionar que o infanticídio é a segunda principal causa

de aprisionamento feminino35 que, segundo alguns grupos de direitos humanos, está relacionada

com as rígidas leis de aborto e a pobreza no país (Voa News, 2008). A gravidade da situação

pode ser ilustrada por dados de 2015, quando ⅕ (20%) das prisioneiras senegalesas haviam

cometido infanticídio.

Porém, ao mesmo tempo, esse encarceramento provoca uma violenta desestruturação

familiar, visto que essas mulheres perdem o contato com suas famílias e os filhos de muitas são

deixados sem nenhum responsável por seus cuidados. Mesmo quando saem das prisões, a

34
Os dados de prisões menores no país não estão incluídos no World Prison Brief.
35
A primeira causa incluí ofensas relacionadas à drogas.
rejeição as impede de retomar o contato com parentes e com as crianças. Para abordar essa

situação, é preciso considerar não apenas mudanças mencionadas em outros países, mas também

a legislação sobre o aborto e infanticídio no país e a importância do planejamento familiar,

ressaltando urgências sociais e econômicas

Uganda

O panorama geral da situação carcerária feminina na República de Uganda é

possivelmente um dos mais cruéis e violentos. Em 2019, as prisões do país estavam funcionando

em 319,2% da sua capacidade oficial, uma taxa de superlotação absurda e raramente vista em

outros lugares, nesse cenário as mulheres representavam em 2019 4,5% dessa população

carcerária (2.502). Porém, esses dados estão mais relacionados ao tamanho dos centros de

detenção no país do que a sua quantidade36.

Nesse palco, as mulheres encarceradas experimentam um profundo descaso público que

chega a beirar o esquecimento, mesmo antes de chegarem à prisão. Uma pesquisa realizada pela

organização Penal Reform International em conjunto com a Foundation for Human Rights

Initiative (FHRI) evidenciou os desafios sociais do Uganda. Nela buscou-se construir um “perfil”

para a maioria das detentas37. Com esse esforço percebeu-se que a maioria dessas já sofreu

abusos e violências anteriores ao aprisionamento e isso tem impacto direto nos motivos que as

levaram ao crime.

Consequentemente, abordar a situação carcerária feminina em Uganda significa abordar

também a situação estrutural do país, tanto da sociedade civil como de instituições públicas. Para

isso, as perspectivas de cooperação com outros são uma tendência positiva para impulsionar

soluções para esse território.

5.2. América:

Bolívia

A Bolívia ganhou uma notoriedade quando se fala em prisões por conta de um

36
Enquanto a República de Uganda possuía, em 2019, 254 estabelecimentos carcerários para 55.229 detentos e uma taxa
de ocupação de 319,2%, Ruanda, em 2017, tinha 14 instituições prisionais para 58.230 internos e uma taxa de ocupação
em 101.3%. (World Prison Brief)
37
Pesquisa disponível em: <https://cdn.penalreform.org/wp-content/uploads/2015/07/PRI-Research-report_Women-
prisoners_Uganda-WEB.pdf>
"experimento" não ortodoxo com o presídio de San Pedro em La Paz. Sendo uma comunidade

isolada da sociedade, os presos que ali habitam vivem com suas famílias, trabalham e criam suas

próprias regras para o local, além disso, o presídio não possui guardas para controlá-los ou

reprimi-los. Apesar de grande parte dos presídios bolivianos não serem organizados desta

maneira, o país possui um sistema prisional que chama atenção pela falta de ortodoxia.

No entanto, não se deve romantizá-lo, pois está longe de proporcionar uma vida com o

mínimo de dignidade para os presos. Existem vários tipos de celas dentro das prisões bolivianas,

segundo um relato de Lupe Andrade38, além disso, as celas são compradas por um sistema

controlado pelos próprios detentos e não são baratas, as maiores são vendidas por cerca de 150

dólares.

Essa situação torna-se ainda mais preocupante quando falamos na população feminina

em cárcere. A estrutura prisional para as mulheres bolivianas é extremamente precária, tanto no

sentido literal, na questão de fornecimento de condições de estabelecimentos mínimos de saúde,

quanto no sentido jurídico, de administração.

A Bolívia segundo um relatório das nações unidas é a nação com o maior número de

reclusas por 100 mil habitantes da América Latina, sendo em 2016 um total de 1.157 detentas

(8,2% de toda população prisional). A maioria destas mulheres (70%) é presa sem uma condenação

formal, semelhante ao Brasil. Esse fato gera questionamento por juristas e defensores de direitos

humanos na Bolívia e no mundo, criticando um abuso de prisões preventivas, principalmente

entre as camadas mais pobres da sociedade, alegando que o direito essencial de presunção de

inocência não está sendo respeitado. A situação traz ainda mais vulnerabilidade quando se analisa

que grande parte destas mulheres que são encarceradas são também as principais provedoras

da renda familiar.

Sendo assim, o grande problema pode ser descrito pelo excedente de pessoas presas na

condição preventiva, antes de um julgamento formal, gerando, dentre outras coisas, superlotação.

Seria necessária uma reforma penal, além de apenas melhorar as condições e estruturas das

38
Jornalista e ex prefeita de La Paz que foi presa preventivamente por 192 dias, ganhou notoriedade ao escrever seu livro
"La jaula" contando seus relatos da experiência.
cadeias. Entretanto, com a crise política que se instaurou no país em 2019 e a consequente

desorganização governamental, uma reforma penal não parece estar em um horizonte próximo.

Brasil

A República Federativa do Brasil é o 4° país com a maior população carcerária do mundo

e possui o maior número de mulheres privadas de liberdade na América Latina (37.197, o que

corresponde à 4,9% de todos os presos no país) e com uma das maiores taxas de aprisionamento

por 100 mil habitantes (40,6). A maior parte destas mulheres é detida por conta do tráfico de

drogas (mais de 50%), isso pode ser relacionado à reformulação das leis referentes às drogas do

país, que ocorreu em 2006 - com ela se estende brechas para prender cidadãos envolvidos com

esse tipo de delito, além de depender da vontade de magistrados para abrandar a pena. Sendo

assim a situação legal destas mulheres torna-se no mínimo ambígua e elas acabam sendo detidas

"provisoriamente". Evidência desse fato é que 45% das mulheres presas no brasil não possuem

condenação e estão esperando por julgamento.

A estrutura presidiária do Brasil também se encontra longe de uma condição ideal, ou até

mesmo satisfatória, já que a maioria das prisões brasileiras são para homens e 16% são mistas, ao

passo que apenas 7% são exclusivas para mulheres. Dentro destes presídios apenas 16% das celas

nas prisões são adequadas para gestantes e apenas cerca de 50% da população carcerária

gestante usufrui desta estrutura. O cenário se torna ainda mais calamitoso quando passamos a

observar a taxa de ocupação, visto que não há uma sublocação em apenas 37% dos presídios

femininos e outros 48% destes possuem até 2 mulheres encarceradas por vaga.

Outro fator de extrema relevância é o perfil destas mulheres que estão sendo presas.

Quando analisamos raça, cor e etnia da população carcerária feminina ela evidencia uma

predominância de prisioneiras negras. Além disso, mais da metade da população carcerária

feminina possui menos de 30 anos.

As soluções para os problemas apontados acima estão longe de serem simples, mas

devem ser construídas de uma maneira que reestruture o sistema prisional brasileiro, bem como

as próprias leis penais do país. O atual governo Brasileiro enxerga a pasta da segurança pública

como uma prioridade e adereça estes problemas com uma postura favorável ao endurecimento
das leis penais e ações policiais no país.

Colômbia

A Colômbia é o segundo país da América do Sul em número total de presas e o décimo

país no ranking mundial. Sua população carcerária feminina é cerca de 6.905 pessoas (6,7% de

todos os presos do país). Além disso, grande parte dessas detentas são privadas de sua liberdade

por delitos não violentos (45% é detida por porte, fabricação ou tráfico de uma pequena

quantidade de entorpecentes).

Apesar de grande parte destes problemas serem algo que prisões femininas e masculinas

dividem, é necessário um recorte de gênero por dois motivos, uma vez que, cenário mais

específico do caso colombiano, 85% das mulheres detidas são mães e 54% ainda eram as principais

provedoras de seus filhos, menores de 18 anos.

Visto estes problemas, a suprema corte colombiana em 2018 reforçou a necessidade de

se cuidar e manter uma atenção especial à mulheres dentro das prisões, fornecendo-as uma

estrutura básica necessária principalmente no período de gestação. Foram investidos desde o

período mais de 700 milhões de pesos colombianos para garantir, nas oito prisões femininas do

país, estabelecimentos para gestantes e para crianças na primeira infância.

Estados Unidos (observador)39

Os Estados Unidos da América, apesar de ser uma das principais potências mundiais, ainda

lhe faltam avanços a respeito da situação de seus prisioneiros principalmente sua população

feminina encarcerada. Os EUA se destacam com maior número de detentas no mundo,

totalizando aproximadamente 231 mil mulheres em 2019 (10% do total de prisioneiros no país), e

que também cresce à taxas alarmantes. Exemplo da urgência do debate é que apenas 4% da

população feminina mundial vive nos EUA, mas estes representam mais de 30% das mulheres
40
encarceradas do mundo, segundo estudos da “The Prison Policy Initiative” de 2018.

Prisões privados também são características dos EUA, apesar disso, em decisão do

39
Dado que os EUA se retiraram oficialmente do CDH no ano de 2018 eles não podem ser considerados mais membros
oficiais do comitê. Porém considerando sua importância para esse debate, a delegação estadunidense foi
excepcionalmente convidada como um “membro observador”. Na prática um membro observador possui as mesmas
capacidades de discurso do que qualquer outro, mas não possui poder de voto para qualquer decisão oficial do comitê.
40
Para a pesquisa completa acesse:< https://www.prisonpolicy.org/global/women/2018.html>
Departamento de Justiça americano em 201641, o uso dessas prisões para detentos sob jurisdição

federal foi diminuído e passou-se a usar instalações do próprio Estado, sob a alegação de que os

centros de detenção privados tinham um desempenho, segurança e serviços correcionais

inferiores. Estas mudanças não deixam de transparecer o número astronômico de mulheres

encarceradas e presas em todos os estados do país, onde, em taxa de prisioneiras de 2018, 27

estados ficam na frente de diversos países como Tailândia e El Salvador.

Em conclusão, embora as mulheres no país sejam de fato encarceradas muito menos do

que os homens, o crescimento da sua taxa de encarceramento é muito mais alarmante, pois

quando comparados às jurisdições em todo o mundo, mesmo os estados dos EUA com os níveis

mais baixos de encarceramento de mulheres, estão muito fora de parâmetros globais.

Canadá

A administração do sistema prisional canadense é uma responsabilidade que é

compartilhada pelo governo federal com os diversos governos provinciais. A Autoridade Prisional

do Canadá (Canadian Securities Course - CSC) comanda o sistema prisional federal que é

responsável por mais de 216 penitenciárias distribuídas pelo território e mais de 45 mil

prisioneiros. Do número total citado anteriormente, o número de mulheres encarceradas

corresponde a 9%.

O Canadá é um importante ponto no debate sobre o sistema carcerário, as mulheres e

suas características, devido às condições contrastantes que essas instalações apresentam e

proporcionam para a população encarcerada, quando comparada à de outros países pelo

mundo. Os presídios são amplos, a maioria das celas são individuais, limpas e organizadas, onde

os prisioneiros trabalham e são remunerados e exercem atividades educativas e ressocializadoras,

que visam prepará-los para o convívio social novamente. Demonstrando um exemplo positivo

no continente americano.

5.3. Ásia

China

Sendo o 2⁰ país com maior população carcerária feminina, a China, em 2018, possuía 8,4%

41
Informação completa em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-37195944>
de prisioneiras em relação à sua população carcerária total. Assim, apresentando elevado número

percentual de prisioneiras em relação à população carcerária42, com números extremamente altos

em diferentes regiões, como Hong Kong, com 20%. Entretanto, é importante ressaltar, a ausência

de dados concretos sobre mulheres presas em espaços de detenção juvenil, reabilitação de droga

e campos de educação (BBC News, 2015).

Com uma população carcerária de 1,65 milhão de detentos, as prisões chinesas tem

recebido denúncias de torturas constantes e lavagem cerebral, como é o caso da Prisão Feminina

de Jilin. Ademais, embora figuras públicas passem a imagem de ter benefícios não existentes nos

países ocidentais, como a proibição aos guardas de manter uma prisioneira que está em trabalho

de parto algemada; os relatos de espancamentos, fome, trabalhos forçados e celas minúsculas e

superlotadas são comuns (Epoch Times, 2014).

Os números de mulheres encarceradas no país têm aumentado nos últimos anos, e dentre

as várias justificativas e explicações, ressalta-se o fato das mulheres envolverem-se em crimes,

em sua maioria, não violentos, relacionados à violência doméstica por elas sofridas. Sendo um

país cujas informações concernentes à questões delicadas internacionalmente, como o

encarceramento feminino, essas podem ser de difícil acesso.

Índia

Sofrendo com a superlotação, a Índia possui um sistema prisional em que cerca de 600

mulheres ocupam um espaço destinado à metade deste número, lhes faltando instalações básicas

e não cumprindo os padrões mínimos estabelecidos pela ONU, como alimentação suficiente ou

de boa qualidade e boas condições de higiene (Inter Press Service, 2016). Com condições sub-

humanas e relatos de torturas e maus tratos, em 2019 a porcentagem da população feminina

carcerária era de 4,2% em relação de um total de cerca de 400 mil detentos. Dessas mulheres

encarceradas, 66,8% são prisioneiras que ainda estão passando por julgamento (CJP Team, 2019).

A maior parte das presas encontra-se no intervalo dos 30-50 anos de idade (50,5%),

condenadas, majoritariamente por homicídio, estando encarceradas majoritariamente em prisões

42
Tirando Liechtenstein, Mônaco e Groenlândia que apresentam as maiores porcentagens, mas possuem uma população
muito baixa, o que pode afetar as conclusões.
mistas, visto que de mais de mil prisões indianas, apenas 18 são exclusivamente reservadas ao

sexo feminino, segundo informações disponibilizadas pelo CJP Team (2019). Além disso,

encarceradas em estabelecimentos reservados ao sexo masculino, estas mulheres sofrem com a

falta de higiene básica e, inclusive, água, com hospitalizações frequentes devido a complicações

de saúde. É necessário ressaltar, também, a precariedade e ausência de serviços de saúde

disponíveis para tais mulheres.

Japão

Com o menor número total de detentos dos países asiáticos selecionados, cerca de 48 mil,

em 2018 o Japão possuía uma porcentagem de 8,3% de detentas mulheres (4.317). Marcado pela

ordem e pela disciplina, o sistema prisional japonês apresenta uma série de regras e normas que

definem a vida da detenta, regulando todos os aspectos da sua vida, e sendo considerado um

modelo exemplar, que promove a reintegração social. Além disso, surpreendentemente, cerca de

20% das mulheres encarceradas possuem 65 anos ou mais, pois cometeram crimes pequenos para

evitar a pobreza e a solidão (Quartz, 2018), sendo mais comum para mulheres idosas viverem na

pobreza do que homens da mesma idade.

Para responder à essa onda de mulheres acima dos 60 anos de idade que

intencionalmente cometem crimes, o país está construindo novas prisões direcionadas à

população feminina idosa, com equipe especializada de enfermeiros. Embora não seja a solução

ideal, é o que se observa nos últimos anos.

Tailândia

O país possui o maior número de prisioneiras do mundo proporcional à população

carcerária total, representando, em 2020, 12,7% de detentas em relação a aproximadamente 370

mil detentos (total de 47.994 mulheres). Além disso, grande parte das mulheres encarceradas são

condenadas por uso e venda de drogas e atos não violentos, em geral, aquelas providas de

camadas mais pobres. Em dados quantitativos, 82% das mulheres encarceradas o foram devido a

crimes relacionados às drogas.

Com denúncias de tortura e maus tratos, o país foi sede da reunião intensa que resultou

nas Regras de Bangkok, documento celebrado no âmbito da ONU cujas diretrizes dizem respeito
ao tratamento de mulheres presas e priorizam medidas não privativas de liberdade às detentas.

Falhando no reconhecimento dos direitos básicos das prisioneiras, as prisões tailandesas femininas

têm um histórico de vida sem dignidade reservada às suas detentas. O país acaba fracassando na

adoção e no cumprimento das Regras de Bangkok, com estabelecimentos que necessitam de

reformas e superlotação, com até 50 prisioneiras dormindo em um mesmo quarto.

Rússia

Agora em 2020, a Rússia apresentou cerca de 496 mil detentos, sendo destes 8% mulheres

(40.100). Suas prisões caracterizam-se pela péssima qualidade, não por falta de recursos, mas por

interesse punitivo. Além disso, as prisões têm sido denunciadas, gerando investigação por parte

do Comitê de Direitos Humanos, tendo sido alvo de um processo do sistema de justiça criminal

pelos últimos 20 anos, mas ainda longe de promover equidade de gênero e proteção dos direitos

das mulheres (Penal Reform International, 2010).

É comum que mulheres tomem medidas drásticas para evitar o aprisionamento, visto que

dentro das prisões sofrem abusos, sendo forçadas a trabalhar 16 ou 17 horas por dia, com

somente um dia de descanso a cada 8 semanas (MESHCHERYAKOV; WESOLOWSKY, 2019). Em

uma de suas prisões femininas, a IK-14, observa-se uma placa com os dizeres “Bem-Vinda ao

Inferno” na entrada. Assim, a maior parte das prisões parecem ter sido arquitetadas de forma a

ignorar e, até punir as detentas.

5.4. Europa:

Alemanha

O sistema penitenciário alemão, em 2006, atingiu seu maior número de presos desde a

reunificação do país em 1990. Segundo os dados divulgados pelo Departamento Federal de

Estatísticas (Destatis), em Wiesbaden, o país tinha 64.512 detentos, um equivalente a 90 presos

por 100 mil habitantes. Destes, a população feminina carcerária em 2020 representa somente

5,6% do total (3.221).

Apesar disso, assim como outros vizinhos nórdicos, como os Países Baixos, o país busca

se organizar em torno de princípios centrais de ressocialização e reabilitação. Dentre as políticas

de ressocialização pode-se citar a digitalização de penitenciárias, uma medida inserida no


processo de disponibilizar cursos profissionalizantes para contribuir na perspectiva de emprego

e moradia após cumprimento de pena.

França

Atualmente, sob o regime de Emmanuel Macron, desde 2017, a França vem apostando

em políticas de ressocialização e humanização de suas prisões devido aos elevados gastos e

superlotação de seu sistema carcerário. O país possui o quarto nível mais alto de ocupação nas

cadeias da União Europeia e que, diferentemente dos seus vizinhos europeus, demonstra um

enorme crescimento.

Deste sistema, a população carcerária feminina representa 3,5% da população carcerária

do país (2.033); do qual apresenta apenas duas prisões reservadas especificamente para esse

segmento populacional - fora os alojamentos únicos e separados dentro de prisões masculinas,

com os quais, não possuem contato. Devido a tal isolamento, essas mulheres têm menos acesso

a meios coletivos como serviços médicos, treinamento ou workshops. Portanto, afetando o acesso

à questões como: trabalho, formação, atividades socioculturais e esportivas, saúde, entre outras.

Países Baixos

Informalmente chamados de Holanda, a nação do Reino dos Países Baixos, localizados na

Europa ocidental, vêm fechando suas prisões nas últimas duas décadas por falta de presos e

excesso de celas. Dentre as razões para tal declínio de sua população carcerária, muito deve-se

às políticas públicas com foco em programas de reabilitação e aplicação de penas alternativas à

prisão, como trabalhos comunitários, multas e monitoramento eletrônico.

Além disso, o país é referência histórica, devido a criação do primeiro presídio feminino

que se tem notícia, em 1645. Em 2018 o país possuía um total de 10.887 presos, dos quais a

população feminina representa 5,5% desse total (apenas 598).

Reino Unido

O Reino Unido, contando com a Inglaterra e o País de Gales, possui a maior população

carcerária da Europa em 2019. Desta, os homens possuem 22 vezes mais chances de entrarem

no cárcere do que as mulheres.


Apesar de a população carcerária feminina representar apenas 4,1% da população no

cárcere, suas chances de reinserção empregatícia são muito inferiores em comparação aos

homens. Segundo estudo produzido pela Prison Reform Trust and Working Chance, uma a cada

20 mulheres estava empregada depois de seis semanas libertas, em comparação de mais de um

em cada 10 homens. Uma realidade na qual se soma a outras violências, como exclusão social,

preconceito e múltiplos obstáculos ao emprego, segundo especialista do jornal Independent.

Segundo uma matéria do Jornal BBC New, em 2018, o governo estaria em busca de mudar

as prisões para serviços comunitários, numa tentativa de manter as mulheres afastadas,

prometendo gastar em torno de 5 milhões de libras esterlinas nos próximos dois anos. Um plano

que já entrava em prática com a construção de cinco centros residenciais, no lugar de cinco

prisões comunitárias que foram canceladas.

Turquia

Localizada numa região que se estende entre o leste da Europa e o oeste da Ásia, a

Turquia é dona da sétima maior população carcerária do mundo, com aproximadamente 280 mil

prisioneiros. O país possui um sistema prisional sobrecarregado a anos, com 280 mil presos sendo

que suportaria apenas 200 mil. Além de criticada internacionalmente pela falta de respeito aos

Direitos Humanos no seu sistema prisional, esse é um dos fatores que enfraquecem sua

candidatura para se tornar membro da União Europeia (UE).

O atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, articulou uma coalizão de partidos de

orientação conservadora islâmica, fundando o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2001.

O mesmo rege o país desde 2002, fruto de uma guinada autoritária pela conservação do poder

que reflete em ações como: repressão com brutalidade à manifestantes, fechamento e

aprisionamento de veículos de imprensa de oposição e ranking de quarto país com mais

jornalistas presos no mundo.

Além disso, desde então a população carcerária da Turquia quadruplicou nos últimos 15

anos atingindo uma marca de cerca de 340 prisioneiros para cada 100 mil pessoas - mais do que

o triplo da média europeia. Destes, a população carcerária feminina em 2017 representava 4,2%

(9.787), configurando a 3ª maior da Europa, segundo dados do Infopen Mulheres.


Noruega

O Reino da Noruega no geral já pode ser considerado com um dos principais expoentes

no que diz respeito à políticas públicas de sucesso para um tratamento mais humano no sistema

carcerário. O significativo investimento público, somado com as menores taxas de reincidência do

mundo e o reconhecimento internacional fazem da Noruega o país com o melhor sistema

prisional do mundo. Muitos especialistas consideram que para os prisioneiros o cárcere é uma

oportunidade para populações marginalizadas que recorrem a atos ilícitos de receber educação,

cuidado psicológico ou até auxílio governamental. Segundo a guarda norueguesa, Linn

Andreassen em entrevista à BBC (2020), nessas prisões “não é só uma reabilitação, mas também

uma habilitação”.

Para o sistema prisional feminino a realidade é ainda mais otimista. Com as mulheres

representando 6,3% do total da população carcerária do país (203) o governo norueguês

reconhece a necessidade de promover políticas efetivamente direcionadas para a suas realidades

particulares. Apesar de recente, um relatório43 produzido pelo Ombudsman44 do Parlamento

Norueguês entre 2014 - 2016 informa que o país já está no caminho para adaptar da melhor

maneira possível suas prisões, seus espaços, seu tratamento e seus programas de reinserção para

a realidade e necessidades das detentas.

5.5. Oceania

Austrália

A Austrália é um país dividido em seis estados, grande parte de seus sistemas sociais,

criminais e prisionais não passa pela legislação federal, ou seja, é competência direta dos estados.

Na ilha existem 111 prisões que comportam cerca de 36 mil presos, dos quais 2.186 são mulheres

(8%).

Não existe uma maneira de se generalizar os presídios australianos, visto que é uma

competência estadual e sempre haverá alguma diferença entre as regiões. No entanto, existem

43
Para mais informações sobre o relatório acesse: <https://www.sivilombudsmannen.no/wp-
content/uploads/2017/05/SIVOM_temarapport_ENG_WEB_FINAL.pdf>
44
Mais informações sobre o que é um Ombudsman disponível em: <https://www.theioi.org/ioi-
members/europe/norway/norwegian-parliamentary-ombudsman>
diretrizes padrão para as prisões femininas que todos os estados seguem. Por exemplo,

prisioneiras gestantes são amparadas com uma estrutura decente que garante condição

adequada para ela e para a criança, o tempo em que os filhos das prisioneiras permanecem com

as mães varia de acordo com o estados, mas até os 4 anos no mínimo.

Outra questão relevante é que, segundo o centro de estudos sobre violência sexual

australiano, 80% das presas já sofreu algum tipo de abuso previamente ao ingresso na prisão.

Mesmo assim abusos sexuais dentro das prisões são muito incomuns.

Apesar das condições aparentemente boas nas prisões da Austrália, o número de

detentas vem subindo, nos últimos dez anos a quantidade de presas aumentou em gritantes 75%,

além das sentenças também aumentarem. Apesar de não existir ainda uma grande pesquisa para

investigar o motivo do aumento, suas raízes são traçadas no aumento de reincidência de

encarceramento causado pela marginalização de algumas mulheres vítimas de violência

doméstica.
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