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Resumo
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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
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Vera Candau lembra que mais do que revelar diferentes abordagens, é preciso considerar
que a polissemia do termo gera diferentes concepções quanto às finalidades da educação
em direitos humanos, resultando na promoção de processos que enfatizam temáticas e
estratégias pedagógicas distintas (Candau, 2009), o que, como descreve Ramos (2011a)
configura modos distintos de associar os termos da expressão.
O que consideramos importante destacar, é que esta não é nem uma questão
meramente semântica nem a percepção de uma diversidade de nomenclaturas indicativas
de ênfase posta em distintos aspectos do tema. Quando falamos em processo de
significação, estamos trazendo para o centro da discussão a dimensão de disputa
hegemônica, que envolve poder de subjugação e silenciamento do outro e de enunciação
do mesmo como modelo universal. Em outras palavras, por meio de práticas discursivas,
são universalizados modelos com poder de se enunciar como portadores de uma
humanidade superior. Analisando o caráter universal atribuído aos Direitos Humanos,
Ramos (2011a) examina a Declaração Universal dos Direitos Humanos e afirma ser
indiscutível reconhecer sua validade e importância em relação ao momento histórico em
que o documento foi concebido, tendo se tornado um relevante instrumento de afirmação
do desejo de paz com a convicção de que a paz é uma produção possível, desde que em
função dela se assumam compromissos traduzidos por ações efetivas. (RAMOS, 2011a,
p.39). Mas pondera que...
...um a um, todos os artigos abordam questões sensíveis às sociedades
ocidentais e dão a elas tratamento segundo a ética moderna produzida por essas
sociedades. Não são cogitadas ou consideradas outras possibilidades de
entender família – que não passam pelo casamento monogâmico; trabalho –
não enquadradas nos moldes produtivos fundados pelo capitalismo; e
organização política e social – que desconhecem o imperativo do voto da
democracia representativa, presentes, por exemplo, nas sociedades africanas,
ameríndias, orientais, indianas. (RAMOS, 2011a, p.39)
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Entendemos essa como uma questão central, polêmica, tensa e não resolvida do campo
dos Direitos Humanos e é a partir dela que nos aproximamos da temática da Educação
em Direitos Humanos.
Compreendido como algo dado por meio de articulações políticas que instituem
sentidos provisórios, vemos que é a luta por demandas específicas (por direitos) que
define a identidade sempre provisória dos sujeitos indicando o que é humano. – o que é
partilhado não é uma identidade original de humano, mas uma demanda comum não
atendida.
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Esse é um texto que resulta de uma intervenção do poder público que expressa
uma política articulada em função do controle do currículo através de ações em diferentes
áreas, destacando-se tanto a promoção de processos normativos, quanto o investimento
em processos de formação de educadores. Em ambos os casos, a universidade ocupa
lugar de destaque, seja na expressividade da participação dos membros acadêmicos na
constituição da comunidade política de formulação dos textos curriculares (RAMOS,
2011a), seja no direto envolvimento e protagonismo dessa instituição em ações de
formação na área. A normatização curricular da área que a publicação das Diretrizes
promove, acentua a demanda posta para a universidade que, na condição de instância
privilegiada de formação inicial de educadores, assume a responsabilidade de atender, em
seus currículos de licenciatura e pedagogia, as demandas expressas nas diretrizes
propostas no campo da educação em direitos humanos. Reiteramos, contudo, que tais
demandas não advêm do documento em si, mas são produzidas em processos de disputa
hegemônica que se dá em múltiplos contextos e para as quais a universidade vem
elaborando diferentes respostas.
Levando em conta a força da organização disciplinar dos currículos acadêmicos,
em levantamento exploratório realizado em nossos estudos sobre o tema1 procuramos
identificar como a temática dos direitos humanos aparece nas grades curriculares vigentes
das Faculdades de Educação das universidades públicas federais das cinco regiões do
Brasil2.
Nas discussões sobre os apontamentos desse levantamento inicial e da própria
instituição da temática dos Direitos Humanos, naquilo que marca a trajetória do/no
campo, o que identificamos no atrelamento à memória histórica de repressão em tempos
ditatoriais, que marca esse sentido, ampliamos o levantamento exploratório para a
observação também das grades curriculares dos cursos de Direito e Serviço Social
também.
Sintetizando a dimensão quantitativa dos dados produzidos, o quadro Direitos
Humanos nas disciplinas acadêmicas permite observar que, embora direitos humanos
seja tema pouco expressivo nos cursos das Faculdades de Educação – apenas 02
disciplinas dentre as 39 identificadas remetem diretamente ao tema, a questão da
diversidade/diferença já assume destaque nos currículos de formação de educadores/as –
24 no total das 79 disciplinas presentes nos três cursos. Isso parece indicar que, se a
questão dos direitos humanos entra na formação de educadores via DNEDH trazendo uma
demanda para esses cursos, o próprio documento pode ser entendido como resposta a um
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Ainda que, a princípio, não haja contraposição entre o que nomeamos como
prespectiva jurídico-política e perspectiva pedagógica3 (RAMOS, 2011a) quanto ao
entendimento do papel do campo dos direitos humanos nas experiências educacionais,
compreendemos que a diferença está presente e disputa hegemonia pela significação dos
sentidos quanto a noção de democracia, cultura, cidadania, justiça, igualdade e até mesmo
diferença. Isso se dá mesmo dentro desse bloco que o discurso de direitos humanos, pela
afirmação de universalidade dos seus princípios, tenta apresentar como homogêneo. Em
nossos estudos, temos afirmado que
Entendemos que enunciar a necessidade de reconhecimento de direitos
humanos universais significa anular a pluralidade de sentidos sobre vida,
dignidade, composição de família e relação familiar, morte, justiça e liberdade,
entre outros, presentes em diferentes localidades. Implica anular as diferenças
e ignorar a produção de novos significados possibilitados pelas hibridações
culturais que o mundo globalizado intensifica. Além do mais, o alcance do
consenso em torno de questões consideradas chave para a convivência no
mundo contemporâneo não é apenas uma busca por adesão; faz parte da luta
hegemônica travada no plano internacional em um mundo globalizado,
processo no qual é importante reconhecer que as condições para que diferentes
vozes se façam ouvir são extremamente assimétricas. (RAMOS, 2011a, p.193)
Buscando uma visão alternativa àquelas propostas pelo discurso universalista,
abordamos direitos humanos pela ótica da heterogeneidade do social, pela qual afirmamos
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Isso posto, fica o desafio para a Universidade de, ao trazer a educação em direitos
humanos para a formação de professores, discutir sob qual prisma a desenvolve.
Operando a partir da compreensão da diferença cultural não como objeto de
reconhecimento, mas prática político-discursiva, ao propormos a articulação entre o eixo
pedagógico – que remete a tradição, rememoração de uma história constituída no passado
– e o performático – como interação no presente que perturba em sua indeterminação a
imagem totalitária e originária do pedagógico; defendemos que se trata de superar
binarismos que polarizam a Educação em Direitos Humanos ou como objeto de ensino
ou como princípio pedagógico.
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1
Levantamento exploratório de disciplinas oferecidas nos cursos superiores de Universidades Federais
Brasileiras, realizados no âmbito das discussões nas pesquisas desenvolvidas no Grupo.
2
Levantamento feito a partir da consulta das grades curriculares dos cursos disponíveis nos sites das
Universidades e leitura das ementas das disciplinas. Em alguns casos, foi necessário o contato direto com
a Universidade para ter acesso às ementas das disciplinas oferecidas. Destaca-se que todos os cursos
apresentam grades curriculares elaboradas no período que antecede a publicação da DNEDH.
3
Termos usados por nós para diferenciar uma abordagem que entende educação em direitos humanos como
forma de garantia e aprofundamento de direitos adquiridos no processo histórico de luta pela superação das
desigualdades sociais (perspectiva jurídico-política) de uma perspectiva que aborda educação em direitos
humanos como espaço de construção de formas não destrutivas de relação com o outro em um mundo
multicultural.
Referências Bibliográficas
______, Elizabeth F. Por uma política da diferença: O que está em pauta em nossas políticas
educacionais? Cadernos de Pesquisa, 36, p. 327-356, 2006.
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TOTAL A 1 18 8 9 3 39
EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO
1 10 8 3 2 24
B
DISCIPLINAS
RELACIONADAS À DIREITO DIREITO DIREITO DIREITO DIREITO DIREITO
TEMÁTICA DA 3 2 1 1 4 11
DIFERENÇA /
SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO
DIVERSIDADE
SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL SOCIAL
0 1 3 0 1 5
TOTAL A 4 13 12 4 7 40
TOTAL A+B 5 31 20 13 10 79
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