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O que caracteriza a tensividade, desse modo, é justamente a sua dimensão de

vivacidade, a sua dimensão aspectual. Em suma, a tensividade nos põe em face também
do sentido como expressividade, ou seja, um sentido que elaboramos a partir das
características expressivas mesmas dos objetos e não só a partir de uma leitura
“conteudizante”, “inteligibilizante” dos discursos. E é por isso que podemos aproximá-
la não só à paixão em ato, mas também a questões estéticas e à própria “vibração” dos
discursos, o que revela o porquê de todas essas questões terem sido matéria de
generalização na teoria.

Nesse jogo, o que nos chama atenção é justamente a possibilidade de conjugar os dois
elementos que visamos explorar aqui: a imbricação entre plano de expressão, percepção
e estado de alma, e em que isso pode ser matéria de usufruto até mesmo de um
investimento enunciativo simultaneamente estético e passional. Afinal, quando, como
nos trechos de Eisenstein e Didi-Hubermann, esses autores falam da cor, geralmente se
trata de uma aconragem plástica da emoção, já que eles frisam o “valor emocional” da
cor mesma. Isto assim pode se dar porque a cor está sendo vista aí por parâmetros de
intensidade. É essa dimensão que faz com que fiquemos na cor “mesma”, na sua própria
expressividade.

Logo, quando falamos de uma dimensão dos discursos que não se refere estritamente a
sua “leitura”, compreendemos este útlimo como uma passagem ao plano do conteúdo1
tal como se passa das figuras aos temas no percurso gerativo, bem como dos temas aos
valores no nível narrativo, etc. Em suma, o sentido expressivo não passa por
mecanismos de redução tal como preconiza Greimas (1973), é o sentido em um regime
do ser apreciado na supercíficie das formas, sejam as do plano da expressão, sejam as
das figuras. É por isso que a metalinguagem semiótica de alguma forma teve que se
adaptar e buscar tratar da tensividade, porque, no fundo, o modelo greimasiano – o que
não diminui sua pujança, já falamos sobre isso em nota – é mais projetado para leituras
“práticas” dos textos, ou seja, para leituras que passam mais rápido por essa
expressividade e vão aos semas e conteúdos subjacentes, enquanto, a nosso ver, o
modelo zilberberguiano é um modelo de visada estética ao discurso, ou pelo menos
mais adequado a isso2.

1
Frisamos que as figuras podem ser vistas também como “estetizadas” em um discurso, servindo como
“paradas” para a visada dos sujeitos que as recepcionam.
2
Nesse sentido, a distância no modelo greimasiano entre o nível profundo e o nível superficial não se
torna somente uma questão de disposição paradigmática da teoria, de exposição do modelo, como
afirmamos na primeira seção, intitulada “Da tensividade”. O que acontece é que o modelo greimasiano é
um modelo de “transposição resolutiva” do discurso, um modelo da elasticidade do discurso, que visa
transpor a significação “respondendo” a própria questão que as semióticas-objetos – ou seja, os discursos
– colocam para os analistas (pensamos aqui na díade pergunta-resposta, tão utilizada por Zilberberg). O
que o modelo tensivo capta é justamente quando o discurso não quer deixar-se reduzir e põe em relevo
sua dimensão “manifestacional”.
étudier la signification des formes sensibles équivaut à approcher le sens
dans sa dimension gestuelle ..

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