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COLÉGIO PEDRO II
Concurso Público de Provas e Títulos para preenchimento de cargos vagos da Grau obtido
Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico - 2013

PROVA ESCRITA DISCURSIVA


PORTUGUÊS Reservado para a Coordenação

Antes de iniciar a prova, leia atentamente as seguintes instruções.

 Esta prova contém 10 (dez) questões e uma dissertação. Verifique se este caderno de questões
está completo.
 A prova terá duração máxima de 5 (cinco) horas.
 Preencha as informações solicitadas no rodapé da folha, abaixo da linha pontilhada, ÚNICO
LOCAL AUTORIZADO PARA A IDENTIFICAÇÃO DO CANDIDATO, sob pena de
desclassificação.
 O candidato somente poderá retirar-se do local onde se realiza a prova após decorridos 60
(sessenta) minutos de seu início.
 A interpretação dos enunciados faz parte da aferição de conhecimentos e da avaliação, não
cabendo, portanto, esclarecimentos adicionais durante a realização da prova.
 Será eliminado do Concurso Público o candidato que:
a) UTILIZAR-SE DE QUALQUER ARTIFÍCIO QUE O IDENTIFIQUE EM QUALQUER ESPAÇO
FORA DO RODAPÉ DESTA PÁGINA;

b) usar, durante a realização da prova, máquina de calcular, rádios, gravadores, fones


de ouvido, telefones celulares, pagers, quaisquer equipamentos eletrônicos ou
fontes de consulta/comunicação de qualquer espécie;
c) ausentar-se da sala sem assinar a lista de presença, diante do fiscal.
 A prova deverá ser respondida, obrigatoriamente, com caneta esferográfica de tinta azul ou preta.
 Para efeito de avaliação, o rascunho não será considerado.
 Deverá ser obedecido o espaço reservado para a resposta.
 Os três últimos candidatos, ao entregarem suas provas, permanecerão em sala como
testemunhas do encerramento dos trabalhos a cargo do fiscal de sala.
 Entregue o caderno de questões completo ao fiscal ao término da prova.

AGUARDE AUTORIZAÇÃO PARA COMEÇAR A RESPONDER ÀS QUESTÕES.


.............................................................................................................................................
Reservado para a Coordenação

NOME: (letra de forma) ........................................................................................................................


ÁREA DE ATUAÇÃO/ CONHECIMENTO: PORTUGUÊS
Nº DE INSCRIÇÃO: ........................
ASSINATURA: .....................................................................................................................................
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COLÉGIO PEDRO II
CONCURSO PÚBLICO PARA DOCENTES - 2013
PROVA ESCRITA DISCURSIVA - PORTUGUÊS

PROVA ESCRITA DISCURSIVA DE PORTUGUÊS


PRIMEIRA PARTE - QUESTÕES DISCURSIVAS (70 pontos)

1ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos
Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006, p. 25), “não se pode dizer que o
sentido de um texto já está dado pelos recursos linguísticos pelos quais esse texto é construído.
Afinal, o sentido atribuído às formas simbólicas está relacionado aos usos que os grupos fazem dos
sistemas nos quais elas se encontram; portanto é variável, assim como são distintos os grupos
sociais. Mas o sentido também está relacionado ao contexto efetivo em que se dá a interação, à
singularidade de seus participantes, às suas demandas, a seus propósitos, aos papéis sociais nos
quais eles se colocam, etc. Em suma, pode-se dizer que o sentido é indeterminado, surge como
efeito de um trabalho realizado pelos sujeitos”.
Levando em consideração aspectos linguísticos (rotacismo e assimilação), sociopragmáticos,
discursivos e cognitivo-conceituais, explique como se constrói o humor na conhecida piada transcrita
abaixo:

Chegando à fazenda dos avós, para visitá-los, o neto se dirige ao avô, que está na sala:
– Firme, vô?
– Não, fio, Sírvio Santos.

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COLÉGIO PEDRO II
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2ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas, Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
vou de branco pela rua cinzenta. Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me. Porém meu ódio é o melhor de mim.
Devo seguir até o enjoo? Com ele me salvo
Posso, sem armas, revoltar-me? e dou a poucos uma esperança mínima.

Olhos sujos no relógio da torre: Uma flor nasceu na rua!


Não, o tempo não chegou de completa justiça. Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, [do tráfego.
[alucinações e espera. Uma flor ainda desbotada
O tempo pobre, o poeta pobre ilude a polícia, rompe o asfalto.
fundem-se no mesmo impasse. Façam completo silêncio, paralisem os
[negócios,
Em vão me tento explicar, os muros são garanto que uma flor nasceu.
[surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos. Sua cor não se percebe.
O sol consola os doentes e não os renova. Suas pétalas não se abrem.
As coisas. Que tristes são as coisas, Seu nome não está nos livros.
[consideradas sem ênfase. É feia. Mas é realmente uma flor.

Vomitar este tédio sobre a cidade. Sento-me no chão da capital do país às cinco
Quarenta anos e nenhum problema [horas da tarde
resolvido, sequer colocado. e lentamente passo a mão nessa forma
Nenhuma carta escrita nem recebida. [insegura.
Todos os homens voltam para casa. Do lado das montanhas, nuvens maciças
Estão menos livres mas levam jornais [avolumam-se.
e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Pequenos pontos brancos movem-se no mar,
[galinhas em pânico.
Crimes da terra, como perdoá-los? É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio,
Tomei parte em muitos, outros escondi. [o nojo e o ódio.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

(ANDRADE, C. D. de. A rosa do povo. In: Nova reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985, p.112-14 .)

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Aponte em “A flor e a náusea” elementos recorrentes na poética drummondiana e, a partir deles,


mostre como Drummond realiza, nesse texto, o projeto literário da segunda geração modernista.

3ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos
Levando em consideração que, segundo Fiorin, “tematização e figurativização são dois níveis de
concretização do sentido” e que, para encontrar o(s) tema(s) subjacente(s) às figuras de um texto, é
preciso ver como estas aparecem nele organizadas, determine o percurso figurativo do texto abaixo,
explicando como Ricardo Reis (um dos heterônimos de Fernando Pessoa), que é seu enunciador e
tem formação clássica, conseguiu tematizar o carpe diem, lema frequente na poesia de Horácio,
poeta latino que serve como um de seus modelos.
Quando, Lídia, vier o nosso Outono
Com o Inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o Estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa,
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.
(Fernando Pessoa. Odes de Ricardo Reis. Lisboa: Ática, 1959, p.108.)

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4ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos

Admirável expressão que faz o poeta de seu


atencioso silêncio

Largo em sentir, em respirar sucinto


Peno, e calo tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro, que o não padeço, e sei, que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou que desminto,


Dentro no coração é, que o sustento,
Com que para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.

Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;


Da tempestade é o estrondo efeito:
Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.

Mas oh do meu segredo alto conceito!


Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates, que vão dentro no peito.

(MATOS, Gregório de. In: BARBOSA. Frederico (org.).


Coletânea Clássicos da poesia brasileira. Klick editora, s/d, (BERNINI, Gian Lorenzo. O Êxtase de Santa Teresa, 1645-
p. 15.) 1652. Mármore, 11,6 x 3,6 m. Igreja de Santa Maria Della
Vitoria, Roma.)

Fragmentos do Livro da vida (autobiografia de Teresa D’Ávila)

Diante de uma experiência incomum – a experiência direta de Deus –, Santa Teresa demorou
a entender exatamente o que estava acontecendo com ela. (...) São essa experiência e esse
aprendizado que ela tenta elucidar quando escreve o Livro da vida.
Ela não escreve, porém, por vontade própria [mas] a pedido de seus confessores, sabendo
que seu manuscrito será mostrado à Inquisição para que se sancionem como legítimas – essa é a
esperança – suas experiências místicas.(...) E teme despertar antipatias num país em que o papel da
mulher não era o de escritora ou mestra.
(...)
Vi a meu lado um anjo em forma humana (...) levava na mão uma longa espada de ouro, cuja
ponta parecia uma brasa acesa. Parecia-me que em alguns momentos afundava a espada em meu
coração e me traspassava as entranhas (...). A dor era tão intensa, que me fazia gemer, mas, ao
mesmo tempo, a doçura daquela pena excessiva era extraordinária (...)
[Deus] não parece contentar-se em arrebatar a alma a si, mas levanta também este corpo
mortal, manchado com o barro asqueroso de nossos pecados.

(D’ÁVILA, Santa Teresa. Livro da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 29 e 53)

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Se tomarmos como premissa alguns aspectos da existência humana no que se referem à cultura –
questões filosóficas, comportamentais, e, especialmente, produções simbólicas –, podemos perceber
afinidades. Mostre – a partir do cotejo entre o poema de Gregório de Matos, as declarações de/sobre
Santa Teresa D’Ávila e a escultura de Bernini – como manifestações artísticas dialogam em seu
devir, explicitando a ampla construção social da noção artística de estilo de época.

5ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos
Abro o Boletim oficial do Ministério de Educação (no 6, de 31 de agosto de 2000), que contém
o programa dos lycées (corresponde aos três últimos anos do ensino secundário), em particular o do
ensino de Francês. (…) O conjunto dessas instruções baseia-se, portanto, numa escolha: os estudos
literários têm como objetivo primeiro o de nos fazer conhecer os instrumentos dos quais se servem.
Ler poemas e romances não conduz à reflexão sobre a condição humana, sobre o indivíduo e a
sociedade, o amor e o ódio, a alegria e o desespero, mas sobre as noções críticas, tradicionais ou
modernas. Na escola, não aprendemos acerca do que falam as obras, mas sim do que falam os
críticos. (...)
Em regra geral, o leitor não profissional, tanto hoje quanto ontem, lê essas obras não para
melhor dominar um método de ensino, tampouco para retirar informações sobre as sociedades a
partir das quais foram criadas, mas para nelas encontrar um sentido que lhe permita compreender o
homem e o mundo, para nelas descobrir uma beleza que enriqueça sua existência; ao fazê-lo, ele
compreende melhor a si mesmo. O conhecimento da literatura não é um fim em si, mas uma das vias
régias que conduzem à realização pessoal de cada um. O caminho tomado atualmente pelo ensino
literário dá as costas a esse horizonte (...).
(TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 26, 27, 32 e 33.)

Considerando as reflexões do estudioso da literatura Tzvetan Todorov, proponha uma abordagem de


ensino de Literatura que permita atingir os objetivos dessa disciplina no Ensino Médio.

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6ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos (um ponto para cada termo)
Para se proceder à crítica de uma determinada teoria, é necessário ter o domínio pleno dela.
Segundo Maria Helena de Moura Neves, “A gramática tradicional constitui uma exposição de fatos
que tem sido examinada sempre como obra acabada, sem consideração para o que tenha
representado de esforço de pensamento. Citá-la apenas como dogmática, normativa, especulativa,
não científica significa não compreender o processo de sua instituição”.
(NEVES, M. H. de M. A vertente grega da gramática tradicional. São Paulo: UNESP, 2005, p. 13.)

Leia o texto abaixo e, usando o escopo da gramática tradicional, faça o que se pede.

Os desavergonhados
O errado e o malfeito, a incompetência e o desleixo, a estupidez e a má-fé são próprios da
condição humana. A diferença está entre os que se envergonham e os desavergonhados. No Japão
civilizado, a vergonha é o pior castigo para uma pessoa e sua família, mais temida do que as penas
da lei. Homens públicos se suicidam por pura vergonha. Embora seja só meio caminho para não
errar de novo, o sentimento de vergonha ajuda a civilizar. Já os que não se envergonham, nem por
si nem pelos outros, são determinantes para que suas sociedades sejam as que mais sofrem com a
corrupção, a criminalidade e a violência, independentemente de sua potência econômica ou regime
político.
Em brilhante estreia no Blog do Noblat, o professor Elton Simões analisou pesquisas
internacionais sobre as relações entre o sentimento de vergonha social e familiar e a criminalidade.
Nas sociedades em que a violência e o crime são vistos como ofensas à comunidade, e não ao
Estado, em que a noção de ética antecede a de direito, em que o importante é fazer o certo e não
meramente o legal, há menos crime, violência e corrupção, e todo mundo vive melhor — por
supuesto, o objetivo de qualquer governo. Nas sociedades evoluídas e pacíficas, como o Japão, a
principal função da Justiça é restaurar os danos e relações entre as pessoas, e não punir ofensas ao
Estado e fabricar presos.
"Existe algo fundamentalmente errado em uma sociedade quando as noções de legalidade ou
ilegalidade substituem as de certo ou errado. Quando o sistema jurídico fica mais importante do que
a ética. Nesta hora, perdemos a vergonha", diz o professor Simões. Como os políticos que, antes de
jurarem inocência, bradam que não há provas contra eles. Ou que seu crime foi antes do mandato.
Não por acaso, no Brasil, onde a falta de vergonha contamina os poderes e a administração
pública — apesar de todo nosso progresso econômico e avanços sociais —, a criminalidade, a
violência e a corrupção crescem e ameaçam a sociedade democrática. Não há dinheiro, tecnologia,
leis ou armas que vençam a sem-vergonhice. Só o tempo, a educação e líderes com vergonha.
(Nelson Motta, O Globo, 11/1/2011.)

Determine a função sintática dos termos destacados do texto “Os desavergonhados”.

castigo: ___________________________________________________________

por pura vergonha: ___________________________________________________________

de vergonha: ___________________________________________________________

Elton Simões: ___________________________________________________________

melhor: ___________________________________________________________

a ética: ___________________________________________________________

provas contra eles: ___________________________________________________________

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7a QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos
Com frequência vemos a classificação de regionalista encarada por escritores e críticos quase como
uma pecha, contra a qual alteiam-se vozes indignadas de defesa. Semelhante preconceito tem sua
origem em uma atitude equivocada, que vê no regionalismo um localismo redutor, antítese do
universalismo e, consequentemente, um rebaixamento no valor estético e humano da criação.
Grave engano: regionalismo coloca-se no polo oposto a cosmopolitismo – que encerra uma
conotação de desenraizamento cultural – , nunca a universalismo. Uma obra torna-se universal pelo
seu significado e o fato de mostrar-se presa, em sua matéria narrativa, a um contexto cultural
específico, que se propõe a retratar e onde vai haurir a sua substância, não a impede de adquirir
sentido universal.
(ALMEIDA, José Maurício Gomes de. A tradição regionalista no romance brasileiro. Rio de Janeiro: Achiamé, 1980, p. 262.)

Considere a citação acima e o percurso do romance regionalista brasileiro, para apresentar uma
análise sintética da obra Vidas secas, de Graciliano Ramos.

8a QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos
Fragmento de Vidas secas
Ora daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a
transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o
barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies,
realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio
notou que as operações de sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e
obteve como resposta a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que
era bruto, mas a mulher tinha miolo. (...)
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço
noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se
havia dito palavra à-toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha,
conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? (...)
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1977, p.99-100.)
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Segundo a estudiosa da criação literária Kate Hamburguer, somente em narrativas literárias se pode
efetivamente ter acesso à interioridade anímica de outrem:
A ficção épica é o único lugar linguístico ou epistemológico onde as pessoas não são tratadas, ou
apenas tratadas como objetos, ou seja, é onde a subjetividade de uma terceira pessoa pode ser
apresentada na terceira pessoa.
[Com isso, completa:] o ponto de vista puramente gramatical não é suficiente para esclarecer as
situações gramaticais particulares que se apresentam na narração ficcional. Nenhum domínio da
linguagem mostra mais nitidamente do que a criação literária que o sistema da sintaxe pode ser logo
estreito demais para a vida criativa da linguagem, que tem a sua fonte como tal no domínio mais
amplo do pensamento e da imaginação. (...) Acreditamos que o pretérito pode ser considerado como
[exemplo (...):] o pretérito na ficção não tem exatamente a função de exprimir o passado.
(HAMBURGUER, K. A lógica da criação literária. São Paulo: Perspectiva, 1986, p. 48 e 98.)

À luz das ponderações transcritas, explique a complexidade da mediação de apresentação do


romance Vidas secas, considerando as categorias de pessoa gramatical e foco narrativo.

9ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos

Relógio digital
O pai achou que o filho já estava na idade para terem a tal conversa. Encontrou o menino
brincando com um amiguinho e convidou os dois para uma caminhada. Começou com a agricultura.
O agricultor, meu filho, coloca uma semente na terra, a semente cresce e se transforma em planta.
Com os animais é a mesma coisa. O macho coloca uma semente na fêmea, a semente cresce, etc.
Com as pessoas também é assim. É por isso que nós temos órgãos sexuais, e o do homem é
diferente do da mulher. O papai colocou uma sementinha na barriga da mamãe, a sementinha
cresceu e você nasceu.
Para que o amiguinho não se sentisse desprezado, o pai acrescentou:
– Com seu pai e sua mãe também foi assim.
Os dois meninos estavam interessadíssimos. Foi uma caminhada longa durante a qual o pai
não parou de falar. Como o pai sabia de coisas! Para tudo que os meninos perguntavam sobre sexo
o pai tinha uma resposta. Êta, pai!
– E os buracos negros, pai?
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– Que buracos negros?


– Os buracos negros do Universo.
– Isso não tem nada a ver com sexo.
– Eu sei, mas como é que eles são?
– Ah, bom. Olha, sobre isso eu não sei muita coisa, não.
– E, pai, como é essa história de supercondutores?
– Não sei bem.
Mas o menino continuava entusiasmado. Era o dia de saber de coisas.
– Pai, por que as ondas de rádio acompanham a curvatura da Terra e as ondas de TV não?
– É porque, sei lá. Devem ser ondas diferentes.
O menino já estava desanimado.
– Como é que funciona relógio digital?
– Não sei, meu filho.
Chegaram em casa e o pai perguntou:
– Mais alguma pergunta sobre sexo?
Eles não tinham mais nenhuma pergunta sobre sexo e o pai foi embora. Os dois meninos
ficaram em silêncio. Então, um disse:
– Que crânio o meu pai, hein? Sabe tudo.
O amigo fez cara de pouco caso, lembrando todas as perguntas sem resposta. Mas o outro
tinha a explicação.
– É que ele se especializou, só isso.
(VERISSIMO, L. F. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1993. p. 70-72)

Levando-se em consideração a ideia e o conceito de gêneros textuais postulados pelos grandes


teóricos da linguagem, de que maneira se poderia apresentar a estudantes de oitavo ano do Ensino
Fundamental o gênero do texto “Relógio digital” relacionando-o ao gênero notícia? Nomeie o gênero
do texto em análise, além de demonstrar semelhanças e diferenças em relação ao gênero notícia.

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10ª QUESTÃO
Valor total da questão: 7 pontos

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Analise os enunciados destacados abaixo, retirados das manchetes da Folha de São Paulo do dia 12
de junho de 2013, para responder ao que se pede.

 CONTRA TARIFA, MANIFESTANTES VANDALIZAM CENTRO E PAULISTA


 POLÍCIA DA TURQUIA REPRIME ATIVISTAS EM PRAÇA DE ISTAMBUL

Em Questões de literatura e estética, Mikhail Bakhtin defende que as línguas não conservam mais
palavras neutras: todas são povoadas de intenções, constituindo, assim, pontos de vista específicos
sobre o mundo, formas de sua interpretação verbal e, como tais, podem ser confrontadas ou servir
de complemento mútuo. Em obra posterior, afirma:
“Em cada palavra há vozes, vozes que podem ser infinitamente longínquas, anônimas, quase
despersonalizadas (a voz dos matizes lexicais, dos estilos, etc), inapreensíveis, e vozes próximas
que soam simultaneamente.”
“Dois enunciados, separados um do outro no espaço e no tempo e que nada sabem um do outro,
revelam-se em relação dialógica mediante uma confrontação de sentido, desde que haja alguma
convergência desse sentido.”
(BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. SP: Martins Fontes,1992, p. 353-354.)

Mediante a confrontação de sentidos nos enunciados destacados acima, explicite sua relação
dialógica, interpretando, para tanto, as vozes que neles ecoam.

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SEGUNDA PARTE - DISSERTAÇÃO (30 pontos)


Desenvolva o tema sorteado sob a forma de Dissertação, utilizando, no mínimo, três páginas
e, no máximo, cinco. Se desejar, utilize as folhas de rascunho, sem destacá-las do corpo da prova.
Entretanto, para efeito de avaliação, o rascunho não será considerado.

TEMAS PARA DISSERTAÇÃO

1) Vanguardas europeias e Modernismo brasileiro: estratégias linguísticas na ruptura e na


sedução do irracionalismo.

2) O estudo do gênero e da tipologia textual a partir de textos literários e não literários.

3) O estilo parnasiano e o ensino da língua padrão.

4) A linguagem da internet e seus reflexos no ensino de Língua Portuguesa.

5) O perfil do leitor de textos literários e não literários a ser construído na escola: caminhos
possíveis.

6) Processos de estruturação sintática e lógica da criação literária: preponderância da


coordenação na poesia e da subordinação na prosa.

7) A construção da “língua brasileira” do Romantismo à literatura contemporânea.

8) Dialogismo, polifonia, metalinguagem e multiperspectivismo narrativo: estratégias linguísticas


na prosa machadiana.

9) A interação texto/leitor na construção de sentidos do texto literário e não literário:


intersubjetividade, polissemia e significação contextual.

10) A produção textual no ensino da Língua Portuguesa.

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