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Suporte básico de Vida e Socorros de

Emergência

Brasília-DF.
Elaboração

Carlos Alcantara
Marta Peres Sobral Rocha

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I

SUPORTE BÁSICO DE VIDA...................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1

ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR E AVALIAÇÃO INICIAL DA VÍTIMA............................................... 9

CAPÍTULO 2

PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA.............................................................................................. 21

CAPÍTULO 3

PROTOCOLO DE REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR – DIRETRIZES 2015................................... 25

UNIDADE II

URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE


EXTRA-HOSPITALAR............................................................................................................................... 43

CAPÍTULO 1

URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS CARDIOVASCULARES................................................................. 43

CAPÍTULO 2

URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NEUROLÓGICAS........................................................................ 52

CAPÍTULO 3

URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS............................................................................. 55

UNIDADE III

SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA....................................................................... 67

CAPÍTULO 1

INTOXICAÇÕES EXÓGENAS E ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS................................. 67

CAPÍTULO 2

QUEIMADURAS E CHOQUE ELÉTRICO...................................................................................... 84

CAPÍTULO 3

AFOGAMENTO........................................................................................................................ 91
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRAUMA....................................................................................... 96

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 106

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 107
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O Suporte Básico de Vida compreende o atendimento prestado a uma vítima de
mal súbito ou trauma, visando manter seus sinais vitais e preservar a vida, além de
evitar o agravamento das lesões existentes, até que uma equipe especializada possa
transportá-la ao hospital e oferecer-lhe um tratamento definitivo.

Apesar de qualquer cidadão poder ajudar em uma situação de emergência, é importante


lembrar que isso não o torna um “socorrista” profissional. Para se profissionalizar, é
necessário adquirir muito mais informações e habilidades, treinamento adequado e,
inclusive, para muitas das funções, diploma e registro profissional. Portanto, devemos
preferir, sempre que possível, o atendimento pelos socorristas e profissionais de
saúde, que contam com formação qualificada e equipamentos especiais para realizá-lo.

Nesta disciplina serão abordadas situações de urgências e emergências mais comumente


encontradas pelo profissional de saúde no ambiente pré-hospitalar e as principais
condutas a serem tomadas até a chegada de equipe especializada para atendimento e
transporte do paciente ao hospital.

Bom aproveitamento para todos!

Objetivos
»» Aplicar corretamente procedimentos voltados para o atendimento de
urgência e emergência prestado aos pacientes no ambiente extra-hospitalar.

»» Reconhecer falência dos sistemas respiratórios e (ou) cardiovasculares.

»» Reconhecer urgências e emergências cardiovasculares, neurológicas e


obstétricas.

»» Aplicar procedimentos em situações especiais como intoxicações,


queimaduras, choque elétrico, afogamento e trauma.

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SUPORTE BÁSICO DE UNIDADE I
VIDA

CAPÍTULO 1
Atendimento pré-hospitalar e avaliação
inicial da vítima

“A principal causa de morte fora dos hospitais é a falta de atendimento. A


segunda é o socorro inadequado. As pessoas morrem, porque ninguém faz nada
e continuam morrendo, porque alguém não capacitado resolveu fazer algo.”

Fernando Barreiro

O Suporte Básico de Vida (SBV) oferecido aos pacientes no ambiente extra-hospitalar


consiste no reconhecimento e na correção imediata da falência dos sistemas respiratório
e (ou) cardiovascular, ou seja, a pessoa que presta o atendimento deve ser capaz de
avaliar e manter a vítima respirando, com batimento cardíaco e sem hemorragias
graves, até a chegada de uma equipe especializada.

Em outras palavras, o profissional de saúde que presta o socorro, que aqui o


identificaremos como socorrista para fins didáticos, ao iniciar o suporte básico estará
garantindo por meio de medidas simples, não invasivas e eficazes de atendimento as
funções vitais do paciente e evitando o agravamento de suas condições.

São inúmeras as situações de urgências e emergências que necessitam do atendimento


de um profissional de saúde ou de um socorrista especializado: traumatismos,
queimaduras, doenças cardiovasculares, parada cardiorrespiratória, crise convulsiva,
afogamento, intoxicações,entre outras. Para cada caso específico, o profissional deverá
estar apto a prestar um socorro adequado e de qualidade.

É preciso definir e diferenciar o que vem a ser então uma situação de urgência ou
emergência. Segundo o Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM no 1451/1995),
“define-se por urgência a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco
potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata”. Por sua vez,

9
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

o conceito de emergência é entendido como “a constatação médica de condições de


agravo à saúde que impliquem risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo,
portanto, tratamento médico imediato”.

De forma mais objetiva, a urgência é uma situação em que não existe risco imediato à
vida (ou risco de morte). O atendimento requer rapidez, mas o paciente pode aguardar
tratamento definitivo e solução em curto prazo (algumas literaturas referem-se a um
prazo de até 24 horas), tendo um caráter menos imediatista.

Como exemplos, citam-se contusões leves, entorses, hemorragia classe I etc.

Na emergência geralmente estamos diante de uma situação de aparecimento súbito


e imprevisto, grave, crítica e que exige ação imediata, pois a ameaça à vida é grande.

Como exemplos citam-se as hemorragias de grande proporção, PCR.

Como o próprio nome diz, o serviço de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) envolve


todas as ações efetuadas com o paciente, antes da sua chegada ao ambiente hospitalar.
Compreende, portanto, três etapas:

1. assistência ao paciente na cena (no local da ocorrência);

2. transporte do paciente até o hospital;

3. chegada do paciente ao hospital.

O APH divide-se, ainda, basicamente em duas modalidades de atendimento:

»» Suporte Básico à Vida (SBV): caracteriza-se por não realizar manobras


invasivas.

»» Suporte Avançado à Vida (SAV): caracteriza-se pela realização de


procedimentos invasivos de suporte ventilatório e circulatório, como,
por exemplo, a intubação orotraqueal, acesso venoso e administração de
medicamentos. Geralmente, o suporte avançado é prestado por equipe
composta por médico e enfermeiro.

Para saber mais sobre o serviço de Atendimento Pré-Hospitalar, os profissionais


de saúde que o realizam e as medidas de Primeiros Socorros para leigos, acesse
os sites a seguir:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Atendimento_pr%C3%A9-hospitalar>

<http://www.anvisa.gov.br/reblas/manual_primeiros_socorros.pdf>

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

<http://www.scamilo.edu.br/pdf/mundo_saude/58/08a15.pdf>

<www.fmrp.usp.br/revista/1999/vol32n4/uma_breve_revisao_atendimento_
medico_pre_hospitalar.pdf>

<http://www.scielo.br/pdf/ape/v19n3/a04v19n3.pdf>

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiros_socorros>

O APH tem como objetivos específicos preservar as condições vitais e transportar a


vítima sem causar traumas iatrogênicos durante sua abordagem, como, por exemplo,
danos ocorridos durante manipulação e remoção inadequada (do interior de ferragens,
escombros etc.). O socorrista deve ter como princípio básico evitar o agravamento das
lesões e procurar estabilizar as funções ventilatórias e hemodinâmicas do paciente.

As condições essenciais para que esses objetivos sejam alcançados são: pessoal
qualificado e devidamente treinado; veículos de transporte apropriados e equipados,
sendo inclusive dotados de meio de comunicação direta com o centro que receberá
a vítima e hospitais de referência estrategicamente localizados, com infraestrutura
material e recursos humanos adequados.

Uma atenção pré-hospitalar qualificada é de suma importância para que a vítima


chegue viva ao hospital. Nos locais onde esse sistema é inadequado, a mortalidade
hospitalar por trauma, por exemplo, é baixa, porque os pacientes graves morrem no
local do acidente ou durante o transporte.

Para conhecer mais sobre a caracterização dos serviços de urgência e emergência,


SAMU, normatização e legislação do Atendimento Pré-Hospitalar (APH) no Brasil,
leia sobre a Política Nacional de Atenção às Urgências, documento disponível no
site do Ministério da Saúde:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Politica%20Nacional.pdf>.

Sistemas de atendimento e melhoria contínua


da qualidade
A qualidade do atendimento nos serviços de urgência e emergência é, sem dúvida,
um diferencial tanto para a equipe que presta o serviço como para quem recebe o
atendimento. Dessa forma, o quesito qualidade foi ponto de destaque para a melhoria
contínua e para a integração entre a estrutura, o processo, o sistema e a finalização com
a qualidade dos serviços prestados.

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UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

De acordo com AHA (2015, p. 3) a Atualização das Diretrizes de 2015 fornece


às partes interessadas nova perspectiva sobre os sistemas de atendimento,
diferenciando as PCR ocorridas no ambiente hospitalar (intra-hospitalares)
(PCRIH) das PCR extra-hospitalares (PCREH). Os principais destaques são:

»» Uma taxonomia universal para os sistemas de atendimento.

»» Separação da cadeia de sobrevivência do adulto da AHA em duas: uma


para sistemas de atendimento intra-hospitalar e outra para o ambiente
extra-hospitalar.

»» Revisão das melhores evidências sobre como esses sistemas de


atendimento de PCR são reavaliados, com foco em PCR, infarto do
miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMST) e acidente
vascular cerebral (AVC).

As equipes com profissionais bem-treinados, bem como aquelas especializadas no


atendimento de emergência pré e hospitalar, devem realizar uma abordagem que inclua
diferentes acessos e realização de manobras feitas simultaneamente. As orientações e
indicações sequenciais são voltadas para o socorrista que se depara com uma emergência
em via pública ou em outro local, onde não disponha de recursos, quando está sozinho
ou quando presta o socorro, mesmo que com ajuda de outras pessoas, em uma ambiente
onde não faça parte de equipes de emergência.

Assim, as equipes de suporte básico de vida, quando atuam de forma integrada e bem
treinada, podem acessar, ao mesmo tempo, a avaliação e a conduta para a ventilação e
a circulação.

Figura 1. Taxonomia dos sistemas de atendimento: SPSO

Fonte: American Heart Association, 2015.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

De acordo com a figura 1, os cuidados com a saúde precisam de elementos considerados


universais para conseguir atender as necessidades conforme destacados pela Associação
Americana de Cardiologia:

Os cuidados com a saúde exigem uma estrutura (por exemplo, pessoas,


equipamentos, treinamento) e processos (por exemplo, políticas,
protocolos, procedimentos) que, quando integrados, produzam um
sistema (por exemplo, programas, organizações, culturas) que otimize
os desfechos (por exemplo, sobrevivência e segurança dos pacientes,
qualidade, satisfação). Um sistema de atendimento eficaz compreende
todos estes elementos – estrutura, processos, sistema e desfechos do
paciente – numa estrutura de melhoria contínua da qualidade (AHA,
2015, p. 4).

Destaquem-se as cadeias de sobrevivência em que a nova recomendação indica que seja


identificado o local onde o paciente sofreu uma PCR, se no ambiente hospitalar ou no
ambiente extra-hospitalar, e esclarece o porquê:

O atendimento de todos os pacientes após a PCR, independentemente


de onde esta ocorra, converge ao hospital, geralmente numa unidade
de cuidados intensivos onde são fornecidos os cuidados pós-PCR.
Os elementos da estrutura e os processos necessários antes dessa
convergência são muito diferentes para os dois ambientes. Pacientes
que têm uma PCREH dependem da assistência da comunidade. Os
socorristas leigos precisam reconhecer a PCR, pedir ajuda, iniciar a
RCP e aplicar a desfibrilação (ou seja, ter acesso público à desfibrilação
– APD) até que um time de Serviço Médico de Emergência (SME)
com formação profissional assuma a responsabilidade e, em seguida,
transporte o paciente para um pronto-socorro e/ou um laboratório de
hemodinâmica. O paciente é finalmente transferido para uma unidade
de cuidados intensivos, onde se dará continuidade ao tratamento. Por
outro lado, pacientes que têm uma PCRIH dependem de um sistema
de vigilância adequado (por exemplo, resposta rápida ou sistema de
alerta imediato) para evitar a PCR. Ao ocorrer uma PCR, os pacientes
dependem da interação harmoniosa dos vários departamentos e
serviços da instituição e de um time multidisciplinar de profissionais,
que inclua médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre outros (AHA,
2015, p. 4).

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UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Figura 2. Cadeias de sobrevivência de PCRIH e PCREH

Fonte: American Heart Association, 2015.

O socorrista, ao decidir intervir em determinada ocorrência no ambiente pré-hospitalar,


deverá seguir algumas regras básicas de atendimento. Vejam-se.

AVALIAR cuidadosamente o cenário:

»» Qual a situação? Observar, reconhecer e avaliar cuidadosamente os riscos


que o ambiente oferece (para você, sua equipe e terceiros – paciente,
familiares, testemunhas, curiosos), qual o número de vítimas envolvidas,
gravidade etc.

»» Como a situação pode evoluir? Tenha sempre em mente que o ambiente


pré-hospitalar nunca está 100% seguro, e uma situação aparentemente
controlada pode tornar-se instável e perigosa a qualquer momento.
Portanto, a segurança deverá ser reavaliada constantemente. Identifique
as ameaças ao seu redor, tais como riscos de atropelamento, colisão,
explosão, desabamentos, eletrocussão, agressões etc. Na existência
de qualquer perigo em potencial, aguarde o socorro especializado.
Lembre-se: não se torne mais uma vítima! Quanto menor o número de
vítimas, melhor.

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

»» Que recursos devem ser acionados? Verifique se há necessidade de


solicitar recursos adicionais, tais como corpo de bombeiros, defesa civil,
polícia militar, companhia elétrica e outros.

ACIONAR A EQUIPE DE RESGATE especializada e autoridades competentes, caso seja


necessário, conforme avaliação anterior. Não devemos esquecer que solicitar o serviço
de socorro pré-hospitalar profissional é tão importante quanto cuidar da própria vítima.
Na maioria das cidades brasileiras, os principais números para acionar o Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), serviço de salvamento e resgate (Corpo de
Bombeiros) e Polícia Militar são, respectivamente, 192, 193 e 190.

SINALIZAR O LOCAL: isso é especialmente importante em casos de acidentes


automobilísticos, portanto não se esqueça de sinalizar a cena e torná-la a mais segura
possível. Utilize o triângulo de sinalização, pisca-alerta, faróis, cones, galhos de
árvores etc.

Utilizar BARREIRAS DE PROTEÇÃO contra doenças contagiosas. Ao examinar e


manipular a vítima, o socorrista deverá tomar todas as precauções para evitar a sua
contaminação por agentes infecciosos, sangue, secreções ou produtos químicos. O uso
de Equipamento de Proteção Individual (EPI), tais como luvas descartáveis, óculos de
proteção, máscaras e aventais, é essencial para a segurança do profissional de saúde em
atendimento. Portanto, proteger-se de qualquer contaminação e minimizar os riscos de
exposição fazendo uso das precauções universais é uma obrigação da pessoa que presta
o socorro. Lembre-se do bom senso: a sua segurança em primeiro lugar. Lembramos
ainda que a lavagem de mãos com água e sabão deverá ser feita rigorosamente antes
e após cada atendimento. Esse é um hábito imprescindível a ser adotado tanto no
ambiente pré-hospitalar quanto no hospitalar por todos os profissionais de saúde.
Quando se tratar de emergência, o que se deve fazer é se proteger (com luvas) para
salvar a vida e não procurar uma pia para se lavar.

RELACIONAR TESTEMUNHAS para sua própria proteção pessoal, profissional e legal


enquanto prestador de socorro.

Abordagem e avaliação da vítima

Após avaliar o ambiente e tomar todas as precauções de segurança e proteção individuais,


o socorrista deverá se identificar e se apresentar à vítima dizendo: “Sou um profissional
de saúde. Posso ajudar?”
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UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Em seguida, devidamente autorizado a prestar auxílio e observando todos os aspectos


pessoais e legais da cena do acidente (ou doença aguda), o profissional poderá intervir
diretamente no atendimento.

É fundamental que o socorrista profissional classifique a vítima em bebê, criança


ou adulto, pois os procedimentos de SBV, caso sejam necessários, serão adotados
respeitando-se essa classificação, de acordo com as recomendações de 2015 da American
Heart Association.

»» Bebê (“lactente”): do nascimento ao primeiro ano de vida.

»» Criança: do primeiro ano de vida até o início da puberdade (por exemplo,


desenvolvimento das mamas em meninas e pelos axilares nos meninos).

»» Adulto: a partir da puberdade.

A prioridade de atendimento é determinada basicamente pela gravidade da vítima, ou


seja, serão socorridas e atendidas primeiramente aquelas que se encontram sujeitas
a maior risco de morte, pois o objetivo principal do primeiro socorro é a preservação
da vida. O socorrista deverá seguir uma sequência padronizada e executar as medidas
de socorro conforme for identificando as lesões da vítima. O exame é dividido em dois
tempos principais: avaliação primária e avaliação secundária.

AVALIAÇÃO PRIMÁRIA consiste em uma análise de todas as condições que impliquem


risco iminente de morte, tais como permeabilidade das vias aéreas, respiração eficaz
(anormal ou gasping), estabilidade circulatória, controle de grandes sangramentos e
estabilização da coluna cervical. Essa etapa inicial da avaliação deverá ser completada
em 60 segundos, no máximo, e imediatamente chamar ou solicitar alguém que chame
o serviço de atendimento móvel, se disponível no local trazer o Desfibrilador Externo
Automático (DEA). Durante a avaliação primária, o socorrista identifica e corrige
prontamente todos os problemas que ameaçam a vida do doente. As medidas de suporte
básico de vida são iniciadas nesse primeiro instante.

Contudo, é crucial antes de adentrar ao atendimento observar a segurança do local, se


é seguro ou não, para o socorrista ofertar o atendimento.

Fica mantida a sequência utilizada C-A-B levando ao mesmo conceito de que quanto
mais rápido iniciar as compressões a vítima terá mais chances de sobrevida, visto o
início precoce das compressões.

A maior parte dos pacientes que sofrem PCR inicialmente apresenta Fibrilação
Venticular (FV) ou Taquicardia Ventricular (TV) sem pulso. Diante disso, as medidas

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

imediatas são compressões e desfibrilação precoce. Sendo assim, a sequência utilizada


anteriormente retardaria o início da massagem cardíaca. Com alteração da sequência,
as manobras de compressões serão iniciadas sem atraso e a ventilação virá em seguida.
A sequência recomendada para um único socorrista é iniciar as compressões torácicas
antes de aplicar as ventilações de resgate (C-A-B em vez de A-B-C), para reduzir o tempo
até a primeira compressão. O único socorrista deve iniciar a RCP com 30 compressões
torácicas seguidas por duas respirações (AHA, 2015, p. 5).

Tem-se dado ênfase permanente nas características de uma RCP de


alta qualidade: comprimir o tórax com freqüência e profundidade
adequadas, permitir o retorno total do tórax após cada compressão,
minimizar interrupções nas compressões e evitar ventilação excessiva
(AHA, 2015, p. 5).

»» Circulação – O pulso está presente? Não se deve demorar mais do que


10 segundos para identificar o pulso. Existe alguma hemorragia grave?
Na ausência de pulso iniciar de imediato 30 compressões torácicas, em
uma frequência de no mínimo 100 vezes por minuto, em uma frequência
de 100 a 120/min. Já a profundidade dessas compressões torácicas em
adultos é de pelo menos 5 cm e não superior a 6 cm. Contudo vale lembrar
que é difícil verificar uma diferença de apenas 1 cm na profundidade
das compressões. Daí a importância do treinamento continuado em
manequins.

»» Verificar se as vias aéreas estão pérvias, realizar estabilização da coluna,


estabilização manual por profissionais de saúde (vítimas com suspeita
de trauma, no intuito de impedir movimentos) até a chegada do suporte
móvel. A recomendação do uso de colar cervical exige muita prática e
treinamento. Estudos realizados mostraram complicações ocasionadas
pelo uso incorreto do colar e isso fez com que a utilização não seja
recomendada para prestadores de primeiros socorros.

»» Respiração – Verifique se existe respiração, respiração anormal ou


apenas gasping.O socorrista deve estar atento para identificar o mais
rápido possível a ausência de resposta por parte da vitima e acionar
imediatamente o serviço de urgência/emergência e iniciar a RCP 100 a
120/min compressões no centro do tórax, não parar até a chegada do
socorro especializado, ambulância do SAMU ou corpo de bombeiros.

»» Avaliação neurológica – Chamar pela pessoa. “Você está bem? Posso


ajudar? Qual o seu nome?” Um método muito simples para determinar
rapidamente o estado de consciência é a utilização do sistema AVDI.
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UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

A – Acordado, Alerta: o indivíduo emite respostas coerentes (nome, endereço,


detalhes do acidente). Geralmente a vítima mantém contato visual com o socorrista e
atende normalmente aos estímulos visuais, auditivos e táteis.

V – Verbal: nesse estágio a vítima ainda atende ao estímulo verbal dado pelo socorrista
(comando de voz), no entanto, pode apresentar-se confusa e emitir palavras desconexas.
Devemos considerar que essa vítima poderá perder a consciência a qualquer momento,
portanto ela deve ser estimulada a se manter acordada.

D – Doloroso: nesse estágio a vítima não atende mais aos estímulos verbais do
socorrista, apesar de poder emitir sons ou gemidos, mas sem capacidade de contato
visual direto. Realiza-se um estímulo doloroso (sobre o esterno, trapézio ou leito
ungueal) para obter qualquer resposta da vítima (localizar a dor, reagir com caretas,
movimentos, gemidos). É bom lembrar que, em muitos casos, a vítima estará em um
estado de semiconsciência e poderá até mesmo ouvir e sentir o que acontece ao seu
redor. Dessa forma, o socorrista também deverá estimular o retorno da vítima ao estado
de resposta verbal, incentivando a melhora do seu nível de consciência.

I. Irresponsivo ou Inconsciente: nesse estágio o indivíduo não


responde nem mesmo ao estímulo doloroso. Isso, por si só, já caracteriza
uma situação crítica.

›› Exposição da vítima com controle da hipotermia – Retirar ou cortar as


vestes para visualizar melhor e tratar as lesões de extremidades. Em
seguida, cobrir a vítima, prevenindo assim a hipotermia e minimizando
o choque.

Observação. O protocolo detalhado do suporte básico de vida e reanimação


cardiopulmonar (RCP) será visto no capítulo seguinte.

É muito importante obter todas as informações possíveis do local do acidente. O


socorrista deverá observar cuidadosamente a cena por si só, conseguir informações
com a própria vítima (se consciente e orientada), familiares e testemunhas e avaliar os
sinais e sintomas indicativos de uma emergência.

AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA (complementar): consiste na segunda etapa do exame,


em que serão observadas todas as lesões que não impliquem risco imediato à vida. O
socorrista deve buscar realizar anamnese direcionada, checar a história do acidente
ou mal súbito, identificar os ferimentos, aferir os sinais vitais e realizar exame físico
padronizado, da cabeça aos pés. Algumas perguntas e informações são fundamentais e
devem ser levantadas, como, por exemplo:

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

Nome, idade, telefone (menor de idade – contatar responsáveis).

»» O que aconteceu?

»» Isso já aconteceu antes?

»» Algum problema de saúde?

»» Está tomando algum remédio?

»» Está fazendo algum tratamento de saúde?

»» É alérgico a algum medicamento?

»» Fez uso de algum tipo de droga?

»» Qual o horário da última alimentação?

»» O que você está sentindo? Sente dor em algum lugar?

Dica para realizar a anamnese: utilizar a sigla AMPLA.

A – Alergias
M – Medicamentos
P – Passado médico
L – Líquidos e alimentos
A – Ambiente (eventos relacionados ao trauma ou emergência clínica)

Durante a avaliação secundária, proceder, ainda, à avaliação dos sinais vitais, observar
a cor da pele e verificar o nível de consciência. Destacamos abaixo algumas observações
e “dicas” quanto aos dados obtidos pelo socorrista durante a realização dessa etapa.

1. Condições que estimulam o sistema nervoso parassimpático, como


algumas intoxicações, síncope e pressão intracraniana elevada podem
provocar bradicardia.

2. Condições que elevam a demanda de oxigênio, como febre alta, choque,


hipóxia e anemia grave, provocam taquicardia.

3. Um ritmo de pulso irregular e uma deficiência do pulso (frequência do


pulso radial menor que a frequência do pulso apical) ocorrem com as
arritmias.

4. Um pulso filiforme geralmente é encontrado no choque hipovolêmico,


assim como respirações rápidas e superficiais.

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UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

5. Respiração profunda e difícil (com esforço – dispneia) pode indicar


obstrução nas vias aéreas, doença cardíaca ou pulmonar.

6. A diferença entre a PA sistólica e a diastólica (pressão de pulso) é


aproximadamente de 30 a 40mmHg.

7. Quando a pressão de pulso é baixa, diz-se que a PA é convergente e,


quando é alta, diz-se que a PA é divergente. A PA convergente indica
vasoconstrição e ocorre, por exemplo, precocemente no choque
hemorrágico antes da queda da pressão sistólica. A PA divergente indica
vasodilatação e ocorre nas reações anafiláticas e no choque neurogênico.

8. Uma pele fria e úmida é indicativa de uma resposta do sistema nervoso


simpático a um traumatismo ou perda sanguínea (estado de choque). A
exposição ao frio produz uma pele fria, no entanto seca. Uma pele quente
e seca pode ser causada por febre, em uma doença, ou ser o resultado de
uma exposição excessiva ao calor, como na insolação.

9. Todo politraumatizado taquicárdico e pálido está em choque, até que


se prove o contrário. Pacientes com coloração rosada raramente têm
hipovolemia crítica.

10. A cianose não aparece na intoxicação por monóxido de carbono, e a


coloração vermelho-cereja da pele e mucosas, descrita como sinal clássico
nesse tipo de intoxicação, é rara.

11. Dilatação pupilar bilateral e não reativa sugere dano cerebral grave.

12. Presença de pupilas anisocóricas sugere lesão cerebral por traumatismo


craniano ou acidente vascular encefálico (AVE).

Este assunto está disponível em:

<http://www.bombeirosemergencia.com.br/analiseprimaria.html>

<http://www.marski.org/download/altamontanha/Manual-de-APH02.pdf>

<http://www.uniandrade.edu.br/links/menu3/publicacoes/revista_enfer
magem/oitavo_a_manha/artigo15.pdf>.

20
CAPÍTULO 2
Parada cardiorrespiratória

A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma emergência relativamente frequente em


qualquer serviço de atendimento de emergência e significa a cessação dos batimentos
cardíacos e dos movimentos respiratórios.

Já foi o tempo em que ausência de respiração e batimento cardíaco significava morte.


Com a evolução das técnicas de reanimação cardiopulmonar, desenvolvimento de
drogas, aperfeiçoamento de equipamentos e treinamento de leigos e profissionais,
milhares de vidas são salvas em todo o mundo.

As células do organismo começam a morrer alguns minutos depois de cessadas as funções


vitais. As células nervosas são as mais frágeis do corpo humano. Elas não conseguem
sobreviver por mais de cinco minutos sem oxigênio, sofrendo lesões irreversíveis.

É claro que toda pessoa com alguma possibilidade de ser salva deve ser reanimada.
No entanto, como saber que essa chance existe e quando devemos considerar a pessoa
morta? Sabemos que uma vítima estará morta quando houver parada total e irreversível
de suas funções encefálicas. Quando essas estruturas cessam suas funções de forma
irreversível, podemos afirmar que ela se encontra morta e não há mais nada a ser feito.

“A parada total e irreversível das funções encefálicas equivale à morte, conforme critérios
já bem estabelecidos pela comunidade científica mundial.” (Trecho da Resolução do
Conselho Federal de Medicina n° 1.480/1997, de 8/8/1997).

Observação – intoxicação por drogas depressoras do Sistema Nervoso Central (SNC),


distúrbios metabólicos e hipotermia podem simular os parâmetros de lesão encefálica
irreversível.

O socorrista, ao se aproximar da vítima e constatar que não existe respiração e pulso,


não pode ter certeza se já existe a morte encefálica, portanto a vítima deverá receber
as manobras de reanimação, a não ser que se encontrem sinais claros de morte óbvia.
Existem inúmeros casos conhecidos em que a vítima foi reanimada com sucesso após
longo tempo de parada cardíaca (fato relacionado com as causas da parada cardíaca
e fatores ambientais que podem preservar o encéfalo por um tempo maior que os
tradicionais 4 a 6 minutos para que a morte cerebral se inicie).

As causas de parada cardiopulmonar podem ser divididas em dois grupos: primárias


e secundárias.

21
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Primárias: devido a um problema do próprio coração, causando uma arritmia


cardíaca, geralmente a fibrilação ventricular. A causa principal é a isquemia cardíaca
(chegada de quantidade insuficiente de sangue oxigenado ao coração).

Secundárias: são as principais causas de PCR em crianças e vítimas de traumatismos.


A disfunção do coração é causada por problema respiratório ou por uma causa externa:

1. oxigenação deficiente: obstrução de vias aéreas e doenças pulmonares;

2. transporte inadequado de oxigênio: hemorragias graves, estado de


choque e intoxicação pelo monóxido de carbono;

3. ação de fatores externos sobre o coração: drogas,trauma direto no coração


e descargas elétricas.

Parada respiratória
A vítima interrompe os movimentos respiratórios, mas o coração pode continuar
bombeando sangue durante alguns minutos e a circulação continua enviando
oxigênio dos pulmões para os tecidos. Se houver uma intervenção precoce, é possível
reverter o quadro e prevenir a parada cardíaca. Do contrário, ocorrerá interrupção do
funcionamento do coração enquanto bomba cardíaca, a circulação será suspensa e o
quadro se agravará com parada cardiorrespiratória.

Causas da parada respiratória:

»» Estado de inconsciência – obstrução de vias aéreas por queda da língua


na faringe posterior.

»» Obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE).

»» Afogamento.

»» Acidente vascular encefálico.

»» Inalação de fumaça.

»» Overdose de drogas.

»» Trauma cranioencefálico, entre outras.

Como reconhecer os sinais de uma parada


cardiorrespiratória (PCR)
Tríade: vítima inconsciente, ausência de respiração e ausência de pulso em grande
artéria (o principal sinal da parada cardiopulmonar, sendo o mais específico – ausência
de pulso carotídeo no adulto e braquial no bebê).

22
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

Atenção! A midríase bilateral é um sinal tardio, ocorre em até 45 segundos após


a parada cardíaca e pode aparecer em outras situações. Assim sendo, não utilizar a
dilatação das pupilas para o diagnóstico da parada ou para definir que a vítima está
com lesão cerebral irreversível. A persistência da midríase com a RCP é um sinal de
prognóstico ruim.

A ausência de circulação do sangue interrompe a oxigenação dos tecidos. Após alguns


minutos as células mais sensíveis começam a morrer. Os órgãos mais sensíveis à falta
de oxigênio são o cérebro e o coração. A lesão cerebral irreversível ocorre geralmente
após cinco a seis minutos (morte cerebral).

Dica: As vítimas submetidas a baixas temperaturas (hipotermia) podem suportar


períodos mais longos sem oxigênio, pois o metabolismo diminui, reduzindo o consumo
de oxigênio.

Portanto, a reanimação cardiopulmonar (RCP) é a técnica utilizada para retardar a


lesão cerebral até a instituição de medidas de suporte avançado de vida. Consiste nas
manobras de abertura das vias aéreas, respiração artificial e compressões torácicas, na
tentativa de restabelecer a ventilação pulmonar e a circulação sanguínea.

Objetivos das manobras de reanimação


cardiopulmonar (MRCP)

São objetivos das manobras de reanimação cardiopulmonar:

1. oxigenar e circular o sangue até que seja iniciado o tratamento definitivo;

2. retardar ao máximo a lesão cerebral;

3. prolongar a duração da fibrilação ventricular (modalidade de PCR


mais encontrada no ambiente extra-hospitalar), impedindo que ela se
transforme em assistolia e permitir que a desfibrilação tenha sucesso;

4. reverter a parada cardíaca em alguns casos de PCR por causas respiratórias.

A RCP não é capaz de evitar lesão cerebral por períodos prolongados. Com o tempo
(minutos) a circulação cerebral obtida com as compressões torácicas vai diminuindo
progressivamente até se tornar ineficaz. Durante a RCP a pressão sistólica atinge de 60
a 80mmHg, mas a pressão diastólica é muito baixa, diminuindo a perfusão de vários
órgãos, entre os quais o coração. As paradas por fibrilação ventricular só podem ser
revertidas pela desfibrilação (tratamento definitivo).
23
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Para cada minuto sem as manobras de reanimação cardiopulmonar e desfibrilação, as


chances de sobrevivência da vítima caem de 7% a 10%.

Para a vítima em parada cardiopulmonar, o tempo é um fator crítico. (“Tempo é


cérebro!”). Durante alguns minutos após a parada ainda existe oxigênio nos pulmões e
na corrente sanguínea para manter a vida, mas as manobras de reanimação devem ser
iniciadas tão logo se detecte a parada cardíaca. No entanto, o SBV sem desfibrilação não
é suficiente para manter a vida por períodos prolongados e a reversão da PCR na maioria
dos casos também não é obtida. Portanto, é fundamental a solicitação de unidade com
desfibrilação e recursos de suporte avançado de vida. Estudos comprovam que vítima
desfibrilada em até 8 minutos após a parada cardiopulmonar tem mais chances de
sobrevivência.

O desfibrilador é um aparelho que emite descarga elétrica (choque) no intuito de


reverter a arritmia cardíaca letal. É indicado nas situações em que o coração apresenta
ritmo de fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventricular sem pulso (TV).

O desfibrilador externo automático (DEA) é um aparelho simples, bastante confiável


e de fácil manuseio. Qualquer pessoa tem condição de operá-lo corretamente após
treinamento adequado. (Veja modelos de desfibriladores ao final da unidade).

Figura 3.

Fonte: <http://www.erc.edu>.

24
CAPÍTULO 3
Protocolo de reanimação
cardiopulmonar – diretrizes 2015

“Qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode iniciar ressuscitação cardíaca. Tudo


o que é necessário são duas mãos.”

(KOUVENHOVEN, 1960.)

As manobras de reanimação cardiopulmonar vêm sendo aperfeiçoadas ao longo de várias


décadas. Dessa forma, a American Heart Association (AHA) – Associação Americana de
Cardiologia desenvolve protocolos de reanimação cardiovascular, resumindo principais
questões discutidas referentes ao Suporte Básico de Vida, enfrentadas por socorristas
e leigos, concentrando as recomendações mais importantes de uma forma mais efetiva
no enfrentamento das urgências e emergências.

As novas recomendações internacionais para suporte básico e avançado de


vida podem ser encontradas nos sites da Associação Americana do Coração
(American Heart Association) e do Conselho Europeu de Ressuscitação:

<https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-
Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf>

<http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/2075-ECv9n2_99-101.pdf>

<http://www.erc.edu/index.php/guidelines_download/en>.

A sobrevivência à parada cardiorrespiratória depende de uma série de intervenções


fundamentais, que correspondem à “corrente de sobrevivência”. O reconhecimento
imediato dos sinais, o acionamento precoce do serviço de emergência (acesso
rápido), a RCP imediata, a chegada da equipe de atendimento (com a desfibrilação
precoce) e entrada rápida no hospital (Suporte Avançado de Vida (SAV)) são elos
vitais da corrente para garantir a eficácia do processo. A recuperação da circulação
deve ocorrer num período inferior a 4 minutos, caso contrário poderão sobrevir
alterações irreversíveis no sistema nervoso, um dos tecidos mais sensíveis à falta de
oxigênio.

25
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Figura 4. Cadeia de sobrevivência de ACE Adulto da AHA

Fonte: Guidelines da American Heart Association, 2015.

Sequência resumida dos passos para execução do


Suporte Básico de Vida e manobras de RCP

1. Avaliar a responsividade: avaliar o nível de consciência, tocando a vítima


pelo ombro e chamando-a em voz alta.

Figura 5.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

2. Chamar por ajuda: na ausência de resposta da vítima, acionar


imediatamente o serviço médico de emergência e solicitar desfibrilador.
Nas proximidades onde se encontra a vítima, profissionais de saúde devem
solicitar ajuda, visto a não responsividade da vítima, porém, é necessário
avaliar simultaneamente respiração e pulso, passando informações mais
precisas ao suporte médico, na intenção de minimizar atrasos e obter
eficiência.

3. Detectar presença de pulso (C – Circulation): palpação da artéria


carótida ou femoral (5 a 10 segundos). Na ausência de pulso, iniciar
compressões torácicas: comprimir com força e rápido na frequência de
no mínimo 100 a 120 vezes por minuto (porém, a frequência mínima
continua sendo de 100/min). As compressões devem ser de pelo menos
26
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

5 cm a 6 cm para um adulto médio, evitando excesso na profundidade


das compressões torácicas, permitindo sempre que o tórax retorne por
completo, não apoiando sobre o tórax; em crianças e bebês, cerca de 1 ½
polegada (4 cm). A relação compressões/ventilações com um socorrista
deve ser mantida na proporção de 30:2, em qualquer faixa etária (exceto
em recém-nascidos), quando houver apenas um socorrista e de 15:2 em
crianças até a puberdade, se houver dois ou mais socorristas. Deve-se
minimizar a interrupção das manobras de compressão e, quando dois
ou mais profissionais de saúde estiveram presentes durante a RCP, os
socorristas devem revezar-se nas compressões torácicas a cada 5 ciclos (2
minutos de RCP), visando manter a eficácia do procedimento.

A maioria dos estudos mostrou que um número maior de compressões


aumentou a taxa de sobrevida enquanto um número menor resultou em
uma baixa sobrevida, contudo a efetividade das compressões também é
determinante.

4. Abrir as vias aéreas (A – Airway): assegurar permeabilidade e desobstrução


das vias aéreas. Identificar respiração anormal ou gasping. Abrir as vias
aéreas (A – Airway): assegurar permeabilidade e desobstrução das vias
aéreas. Identificar respiração anormal ou gasping.

5. Avaliar respiração (B – Breathing): realizar ventilação de resgate – 2


insuflações, com duração de 1 segundo cada.

6. Desfibrilação (D – Defibrillation): o tratamento definitivo da fibrilação


ventricular (FV) ou taquicardia ventricular sem pulso (TV) consiste na
desfibrilação (choque).

O DEA deverá ser usado assim que estiver disponível (No aparelho monofásico: choque
de 360 joules. No aparelho bifásico: até 200j).

Observações:

»» Colocar o DEA assim que disponível, minimizando compressões torácicas


antes e após o choque.

»» Reduzir o tempo entre a compressão e a aplicação do choque e o reinício


imediato das compressões.

»» Quando houver suporte ventilatório avançado instalado não interromper


compressões nem alternar. A frequência de ventilação deve ser aplicada

27
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

a cada 6 segundos (10 respirações por minuto) enquanto são aplicadas


compressões torácicas contínuas.

Aprofunde seus estudos e acesse o link:

<https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-
Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf>

As novas recomendações fazem com que o suporte móvel de emergência seja acionado
mais brevemente e que o profissional de saúde inicie o mais breve as compressões
torácicas. Contudo, é de extrema importância que o profissional de saúde avalie pulso e
respiração com frequência a fim de subsidiar informações ao serviço móvel.

Suporte básico de vida aplicado em crianças


A aplicação do suporte básico de vida em pediatria obedece sempre ao praticado nos
adultos. O atendimento pré-hospitalar tem o objetivo de reduzir a mortalidade após
uma parada cardiorrespiratória e ofertar uma qualidade de vida melhor a essas vítimas.
Hoje com a ajuda dos desfibriladores automáticos em lugares de grande aglomeração
isso tem contribuído para essa redução.

Sequência de passos para a execução do suporte


básico de vida para crianças acima de 1 ano
1. Segurança do local: observar se no local onde encontra a vítima existe
segurança para que o socorrista consiga ofertar atendimento.

2. Reconhecimento de PCR: verificar se a vítima responde e se existe


respiração (gasping, respiração anormal); detectar a presença do pulso
em 10 segundos.

3. Acionar o serviço de emergência: se estiver sozinho desloque-se para


solicitar o suporte móvel de emergência e obtenha um DEA, antes de
realizar RCP; se estiver acompanhado solicite que se chame o suporte
móvel e inicie RCP.

4. Relação compressão ventilação: com um socorrista executar 30:2; com


dois socorristas executar 15:2 em crianças. Em adolescentes e adultos
realizar sempre 30:2 mesmo havendo dois socorristas.

5. Frequência das compressões: executar as compressões sempre entre 100


a 120/min. Com profundidade das compressões de 5 cm, não apoiando

28
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

em cima do tórax deixando-o retornar por completo a cada compressão.


Em adolescentes, o limite máximo de profundidade das compressões é
de 6 cm. O posicionamento das mãos deve ser duas mãos ou uma mão
(crianças muito pequenas) sobre a metade inferior do esterno.

Figura 6.

Fonte: Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2013.

Em crianças menores de 1 ano (exceto


recém-nascidos)

O atendimento segue os mesmos passos de crianças acima de um ano, porém, sofre


algumas especificidades.

»» A profundidade das compressões torácicas deve ser de 4 cm.

»» O posicionamento das mãos deve ser: com um socorrista, dois dedos no


centro do tórax abaixo da linha dos mamilos; com dois socorristas dois
polegares no centro do tórax abaixo da linha mamilar.

Figura 7.

Fonte: Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2013.

29
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Aprimore seus estudos acessando o link:

Guidelines

<https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-
Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf>

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

<http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/Diretriz_Emergencia.pdf>

Vias aéreas

A vítima encontrada inconsciente e irresponsiva deverá ser posicionada em decúbito


dorsal sobre uma superfície dura, firme e plana, com os membros superiores
estendidos ao longo do corpo. A cabeça da vítima não deve ficar mais alta que os pés,
para não prejudicar o fluxo sanguíneo cerebral. Nas vítimas de trauma com suspeita
de lesão na coluna cervical, o movimento deve ser cuidadoso para evitar danos à
medula espinhal.

A ventilação pulmonar (respiração artificial) só poderá ser executada com sucesso caso
as vias aéreas da vítima estejam abertas, desobstruídas. Nas vítimas inconscientes, a
principal causa de obstrução é a queda da língua sobre a parede posterior da faringe.
Como a língua está presa à mandíbula, as manobras que tracionam a mandíbula
para frente também elevam a língua. A manobra de abertura das vias aéreas pode ser
suficiente para restabelecer a respiração e prevenir a parada cardíaca.

As principais manobras utilizadas para desobstruir as vias aéreas são: inclinação da


cabeça com elevação do queixo e manobra de elevação da mandíbula. Pode ser utilizada
também uma cânula orofaríngea (do tipo Guedel) para manter a permeabilidade das
vias aéreas.

Inclinação da cabeça e elevação do queixo: manobra mais utilizada, fácil e


efetiva. Com uma das mãos, pressionar a testa da vítima, inclinando a cabeça levemente
para trás (hiperextensão do pescoço). Posicione os dedos da outra mão sobre o queixo,
deslocando a mandíbula para cima. Não utilizar o polegar e não aplicar pressão excessiva
nas partes moles sob o queixo, que poderão obstruir as vias aéreas. Manter a boca da
vítima aberta.

30
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

Figura 8.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Elevação do ângulo da mandíbula: é a manobra de escolha nas vítimas com


suspeita de traumatismos na coluna cervical, pois pode ser realizada sem estender o
pescoço. Segurar com as duas mãos os ângulos das mandíbulas, uma de cada lado, e
deslocar anteriormente, mantendo a cabeça fixa. Com os polegares, afaste os lábios
inferiores. Essa técnica deverá ser adotada apenas por profissionais de saúde treinados.

Figura 9.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Observação – socorristas leigos não devem realizar essa manobra e sim a elevação do
queixo.

Atenção! De acordo com as diretrizes 2010, caso essa manobra não promova abertura
das vias aéreas, o profissional de saúde é orientado a utilizar a manobra convencional
(inclinação da cabeça e elevação do queixo), pois a abertura das vias aéreas é uma
prioridade nos pacientes inconscientes, inclusive nas vítimas de trauma.

Obstrução das Vias Aéreas por Corpos Estranhos


(OVACE)

Se um corpo estranho for visualizado e estiver acessível após a manobra de abertura


das vias aéreas, remova-o com o dedo indicador “em gancho”. No caso de líquidos,
tente removê-los com os dedos indicador e médio envolvidos por gaze. Somente tente

31
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

remover o material que está causando a obstrução se ele estiver bem visível e de fácil
acesso.

Figura 10.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Embora a perda de consciência seja a causa mais frequente de obstrução das vias aéreas
(pela queda da língua), a obstrução por corpos estranhos pode provocar a perda de
consciência e parada cardiopulmonar. A eventualidade de corpos estranhos obstruindo
as vias aéreas ocorre mais frequentemente durante as refeições, mas outras causas
de obstrução incluem próteses dentárias deslocadas, fragmentos dentários, sangue,
secreções (saliva, vômito), balas etc. Em lactentes ou crianças, as causas mais frequentes
são aspiração de pequenos objetos ou leite regurgitado.

A obstrução de vias aéreas pelo conteúdo regurgitado do estômago também poderá


ocorrer durante a parada cardiopulmonar ou nas manobras de ressuscitação. Pessoas
com nível de consciência alterado correm maior risco de obstrução de vias aéreas pela
aspiração de material vomitado ou sangue (Perda ou diminuição do reflexo faríngeo).

A obstrução das vias aéreas pode ser parcial (semiengasgo) ou total (engasgo). Com
a parcial, a vítima ainda pode ser capaz de manter boa troca gasosa, caso em que
poderá tossir, apesar dos sibilos entre as tossidas. Enquanto existir uma troca gasosa
satisfatória, a vítima deverá ser estimulada e encorajada a persistir na tosse espontânea
e nos esforços respiratórios, sem interferir nas tentativas para expelir o corpo estranho.

A troca insuficiente de ar é indicada pela presença de tosse ineficaz e fraca, ruídos


respiratórios estridentes ou gementes, dificuldade respiratória acentuada e,
possivelmente, cianose. Nesse ponto, iniciar o manejo da obstrução parcial como se
houvesse obstrução total.

A obstrução total das vias aéreas (engasgo real) é geralmente reconhecida quando a vítima
está se alimentando e, repentinamente, fica incapaz de falar ou tossir. Pode demonstrar
sinais de asfixia, agarrando o pescoço (sinal clássico, universal), apresentando esforço
respiratório exagerado e cianose. O movimento de ar pode estar ausente ou não ser

32
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

detectável. A vítima não consegue falar ou tossir com eficácia. O pronto atendimento
é urgente, preferencialmente enquanto a vítima ainda está consciente. Caso não seja
instituído tratamento, a vítima evolui rapidamente para inconsciência, PCR e óbito.

Como proceder?

MANOBRA DE HEIMLICH.

Essa técnica tem como objetivo expulsar o corpo estranho por intermédio da eliminação
do ar residual dos pulmões, criando uma espécie de “tosse artificial”.

Figura 11.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

»» Verifique se é um engasgo real. Pergunte à vítima: “Você está engasgado?”

»» Posicione-se atrás da vítima, abraçando-a em torno do abdome. Estando


a vítima em pé, ampliar sua base de sustentação, afastando as pernas, e
posicionar uma perna entre as pernas da vítima (para evitar que ela caia,
caso venha perder a consciência).

»» Localizar o umbigo.

»» Colocar a mão fechada a um dedo acima do umbigo. A mão do socorrista


em contato com o abdome da vítima está com o punho fechado e o polegar
voltado para dentro. A outra mão é colocada sobre a primeira.

»» Aplicar 5 compressões abdominais sucessivas, direcionadas para cima.

»» Conferir se a vítima voltou a respirar expelindo o objeto.

»» Se necessário, reposicionar e repetir os ciclos de cinco compressões, até


que o objeto desobstrua as vias aéreas, ou a vítima perca a consciência.

33
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Figura 12.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Se a vítima ficou inconsciente, apoiá-la cuidadosamente até o solo e iniciar manobras


de reanimação cardiopulmonar (30 compressões torácicas e 2 ventilações. Reavaliar
a cada 2 minutos (5 ciclos) ou se a vítima mostrar sinais de desobstrução, respiração
espontânea e circulação).

Atenção! A manobra de Heimlich é perigosa e poderá provocar lesões internas graves.


As principais complicações são lesões de vísceras abdominais como o fígado e o baço
e a regurgitação de material do estômago com broncoaspiração. Sempre encaminhe a
vítima ao médico após a aplicação da manobra de Heimlich.

Observação – segundo a American Heart Association, a manobra de Heimlich com


compressões abdominais é recomendada apenas para crianças maiores de um ano e
adultos.

Dica – para a desobstrução de vias aéreas em bebês, mulheres grávidas e pessoas


obesas, realizar compressões torácicas e não compressões abdominais.

Nos bebês (lactentes), intercalar 5 tapotagens com as 5 compressões torácicas, até que o
objeto seja expulso ou o bebê perca a consciência. Caso isso ocorra, considerar a criança
em parada cardiorrespiratória e iniciar imediatamente manobras de RCP.
34
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

Figura 13.

Imagens adaptadas de: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

Boa ventilação

Após a desobstrução da via aérea por corpo estranho deve-se observar se a vítima tem
respiração normal ou gasping.

Figura 14.

Fonte: <http://www.erc.edu>.

O procedimento de verificação da respiração não deve levar mais do que 3 a 5 segundos.

Respiração difícil, ruidosa e com esforço respiratório pode indicar obstrução de vias
aéreas, ou respiração agônica que antecede a parada cardíaca. O socorrista deve estar
atento.

35
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Ao constatar que a vítima não está respirando, iniciar imediatamente a ventilação


artificial (“sopro da vida” ou duas ventilações de resgate).

Conforme visto anteriormente, o socorrista não deve se esquecer de utilizar barreiras de


proteção ao realizar a técnica de ventilação boca a boca. Deve se lembrar que a segurança
do profissional vem em primeiro lugar! O socorrista poderá utilizar dispositivos de
barreira como a face-shield ou pocket mask (existem diversos modelos disponíveis no
mercado). O ideal é utilizar o balão-valva-máscara (reanimador manual), conhecido
popularmente como “Ambu®”.

Figura 15.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Abrir a via aérea com manobra de inclinação da cabeça ou elevação da mandíbula;


pinçar as narinas da vítima com a mesma mão que inclina a cabeça; aplicar sua boca
sobre a da vítima, vedando-a completamente. Efetuar duas ventilações, com duração
de 1 a 2 segundos (cada sopro), observando o movimento do peito e sentindo o ar
expirado da vítima (ventilações mais rápidas causam distensão do estômago); manter
um sopro a cada 5 ou 6 segundos (no adulto, frequência de aproximadamente 12
respirações/min).

Figura 16.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Observação – se a vítima estiver inconsciente, mas apresentar respiração espontânea,


deverá ser mantida em posição de recuperação (decúbito lateral esquerdo). Essa posição

36
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

é particularmente importante, pois permite que seja reduzido o risco de aspiração para
os pulmões, em caso de vômito ou excesso de sangue nas vias aéreas. A posição lateral
de segurança (posição de recuperação) é utilizada nos momentos em que a vítima
deverá ser lateralizada para desobstrução das vias respiratórias ou quando seu estado
exigir descanso.

Figura 17.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Circulação

Após as duas ventilações iniciais, o prestador de socorro deve verificar o pulso da vítima.
O procedimento de verificação do pulso não deve demorar mais que 5 a 10 segundos.

A parada cardiorrespiratória é reconhecida pela ausência de pulso nas grandes artérias


de vítimas inconscientes. Nos adultos e nas crianças maiores de um ano, a artéria
utilizada é a carótida. Essa artéria pode ser palpada facilmente no pescoço (nos dois
lados). Em lactentes, a artéria de escolha para verificar a presença de pulso é a braquial.

Figura 18.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

Atenção! Verificar o pulso nas carótidas por 5 a 10 segundos de cada lado. No entanto,
não verificar o pulso nos dois lados ao mesmo tempo, pois poderá induzir a vítima
a uma bradicardia (diminuição dos batimentos cardíacos), por compressão dos
barorreceptores localizados próximos do ponto correto de verificação.

37
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Caso o pulso presente, mas a vítima estiver em parada respiratória, a ventilação artificial
deverá ser mantida.

Lembrete – vítima que respira não está em parada cardíaca! A realização de compressões
torácicas em pacientes adultos com pulso presente pode causar complicações sérias.
Se confirmada a ausência de pulso nas grandes artérias (carótida ou femoral), iniciar
imediatamente as compressões torácicas.

A manobra de compressão torácica externa consiste em aplicação rítmica de compressão


no centro do tórax. Isso causa pressão direta no coração e também aumento da pressão
no interior do tórax, suficientes para manter a circulação do sangue e a oxigenação,
sempre associada à ventilação artificial. Entretanto, mesmo com a técnica correta, o
débito cardíaco é três vezes menor que o normal. Assim, o atendimento avançado deve
ser iniciado rapidamente. O ideal é que se inicie até 8 min após a RCP básica. Pesquisas
demonstram que, atualmente, mesmo se a RCP é iniciada em menos de 4 min após a
parada cardiopulmonar e o Suporte Avançado à Vida (SAV) chega ao local em menos de
8 min após a parada, as chances da vítima se recuperar são muito pequenas.

»» A vítima deve estar em decúbito dorsal (de costas) em uma superfície


dura, tomando-se o cuidado para que a cabeça não esteja elevada acima
do nível do coração. O socorrista se mantém ajoelhado, ao lado do tórax
da vítima.

»» A identificação correta da metade inferior do esterno é muito importante.

Figura 19.

Fonte:<http://circ.ahajournals.org> .

»» Com a mão, localizar a margem inferior do rebordo costal da vítima.

»» Percorrer o rebordo costal até identificar o Apêndice Xifoide.

»» Colocar dois dedos acima do apêndice xifoide sobre o esterno. preconizado


encontrar um ponto entre os mamilos sobre o esterno.

38
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

»» Apoiar a palma de uma das mãos sobre a metade inferior do esterno.

»» Colocar a outra mão sobre a primeira, de forma que ambas fiquem


paralelas. Pode entrelaçar os dedos ou mantê-los estendidos, mas não
apoiá-los sobre a caixa torácica. O objetivo é impedir que a força de
compressão seja efetuada sobre as costelas, podendo fraturá-las.

»» Alinhar os ombros sobre o esterno da vítima, mantendo os cotovelos


estendidos. A força de compressão deve ser provida pelo peso do tronco
do socorrista e não pela força de seus braços.

Figura 20.

Fonte: <http://circ.ahajournals.org>.

»» Exercer pressão vertical, comprimindo no centro do tórax com


profundidade de 5 a 6 cm em adultos. As compressões devem ser
regulares e ininterruptas, seguidas de relaxamento com o mesmo tempo
de duração de cada compressão. O ideal é verificar se a compressão
efetuada é suficiente para gerar um pulso carotídeo palpável.

»» A compressão deve ser aliviada completamente (fase de relaxamento),


sem que o prestador de socorro retire suas mãos do tórax da vítima, para
que não seja perdida a posição correta das mãos.

39
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

»» Após 5 ciclos (2 min) de compressão e ventilação (30:2), a vítima deve ser


reavaliada.

›› Pulso ausente: reiniciar RCP pelas compressões torácicas.

»» Pulso presente: verificar respiração; se a vítima estiver respirando –


monitorizar os sinais vitais e colocá-la em posição de recuperação.

›› Respiração ausente: manter ventilação artificial (1 sopro a cada 6


segundos, sendo de 8 a 10 por minuto) e monitorizar o pulso.

As modificações recomendadas em 2010 visam otimizar as compressões torácicas


e incentivar os socorristas a iniciar os procedimentos de RCP através por meio das
compressões.

De forma resumida, estas são as principais considerações e recomendações sobre


as diretrizes 2015 de reanimação cardiopulmonar e uso do desfibrilador externo
automático (DEA):

1. Iniciar a RCP com as compressões torácicas e minimizar as interrupções,


otimizando a função cardiopulmonar e perfusão dos órgãos.

2. Comprimir o tórax a uma frequência de 100 a 120 compressões por


minuto, para todas as vítimas.

3. A proporção de compressão/ventilação para qualquer faixa etária (exceto


recém--nascido) é de 30:2 (30 compressões para 2 ventilações), com um
socorrista.

4. Em lactentes e crianças, na presença de dois socorristas, efetuar 15


compressões para 2 ventilações.

5. Na RCP realizada por dois socorristas, assim que uma via aérea avançada
estiver em posição (intubação orotraqueal), os socorristas não devem
mais aplicar ciclos de compressão com pausas para ventilação. Um
socorrista realiza compressões ininterruptamente e o outro socorrista
aplica as ventilações, em uma frequência de 8 a 10 ventilações por minuto
(1 ventilação a cada 6 segundos).

6. Comprimir com força, rápido e sem parar.

40
SUPORTE BÁSICO DE VIDA │ UNIDADE I

7. Permitir que o tórax retorne totalmente após cada compressão (retorne


à posição normal) e utilizar aproximadamente o mesmo tempo para
compressão e relaxamento.

8. Cada ventilação de resgate deve ter a duração de 1 segundo e produzir


elevação visível do tórax.

9. Evitar aplicar um número excessivo de ventilações ou ventilações muito


longas e forçadas.

10. Desfibrilar com choque único, seguido de RCP imediata.

11. Reiniciar imediatamente, após a desfibrilação, as manobras de


compressão, sem checar o pulso. O pulso somente será reavaliado após 2
minutos (ou realização de 5 ciclos de RCP).

12. Alternar os reanimadores a cada 2 minutos, para evitar a fadiga e manter


a qualidade das manobras de RCP.

13. Abrir as vias aéreas é uma prioridade, mesmo na vítima de trauma com
possível lesão cervical. Caso a elevação da mandíbula sem a extensão do
pescoço não abra a via aérea, os profissionais de saúde devem utilizar a
manobra de inclinação da cabeça e elevação do queixo.

14. Aplicar, se a vítima adulta não estiver respirando, mas tiver pulso, 10 a
12 ventilações de resgate por minuto (1 ventilação a cada 6 segundos).
Para lactentes ou crianças, aplicar de 12 a 20 ventilações por minuto
(aproximadamente 1 ventilação a cada 3 a 5 segundos).

15. Iniciar as compressões torácicas, se a frequência cardíaca do lactente


ou da criança for inferior a 60 batimentos/min, com sinais de perfusão
sistêmica inadequada.

16. Usar uma ou duas mãos para aplicar as compressões torácicas em


crianças. Comprimir sobre o esterno no centro do tórax logo abaixo da
linha mamilar. Para lactentes, pressionar sobre o esterno, imediatamente
abaixo da linha dos mamilos.

17. Na RCP de lactentes realizada por dois socorristas, utilizar a técnica dos
dois polegares para realizar as compressões torácicas.

41
UNIDADE I │ SUPORTE BÁSICO DE VIDA

18. Usar o DEA para crianças acima de um ano de idade (abaixo de um ano
utilizar o desfibrilador manual).

Modelos de desfibriladores:

Figura 21. Figura 22.

Fonte: <http://www.lifesaversofamerica.com>. Fonte:<http://www.heartstart.co.uk>.

Figura 23. Figura 24.

Fonte: <http://www.zoll.com>. Fonte: <http://www.lifesaversofamerica.com>.

42
URGÊNCIAS E
EMERGÊNCIAS NO UNIDADE II
AMBIENTE
EXTRA-HOSPITALAR

CAPÍTULO 1
Urgências e emergências
cardiovasculares

Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)


A humanidade enfrenta uma epidemia de cardiopatias, nas quais as Síndromes
Coronarianas Agudas (SCA) representam importante causa de morbimortalidade em
todo o mundo. Fatores como a hipertensão arterial, tabagismo, redução da prática
de atividade física, maus hábitos alimentares, ganho ponderal, traços genéticos
(hereditariedade), automedicação, estresse, privação de sono e outros agravos
representam uma equação em que o resultado é bombástico, patológico, coletivo e, de
certa forma, evitável.

Atualmente, sabe-se que em grandes capitais o cidadão enfrenta cerca de uma hora de
trânsito por dia, tem menos de 30 minutos para cada refeição, segue com vários deveres
sociopolíticos, cultiva a ganância pelo aumento da renda e valoriza cada vez menos a
saúde, chegando ao ponto de trocá-la por status e bens materiais.

O sistema cardiovascular sofre, inquestionavelmente, com o padrão de vida adotado pela


sociedade nos dias de hoje. O coração enfrenta uma sobrecarga episódica ou rotineira
que prejudica seu funcionamento de tal maneira que o órgão perde gradativamente
seu potencial de ação, entrando em hipoatividade e inviabilizando a manutenção do
metabolismo pelo princípio básico da homeostasia.

Assim, quando o indivíduo alcança o limiar do estresse, da fadiga e da irresponsabilidade


com seu autocuidado, expressa uma síndrome que acomete um ou mais sistemas do
organismo comprometendo sua integridade física. Sinais e sintomas como dor no peito,
sudorese, pele fria, palidez, taquicardia e dispneia estão cada vez mais presentes nos
serviços de atendimento médico especializado, desde aqueles que atuam diretamente
na comunidade como nos hospitais de referência.

43
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Dentro desse quadro de doenças cardiovasculares, as Síndromes Coronarianas


Agudas (SCA) correspondem à angina instável, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)
e morte súbita.

Figura 25.

Imagem adaptada de: <http://pro.corbis.com>.

A principal etiologia da SCA é a instalação de placas de ateroma nas coronárias, causando


obstrução total ou parcial das artérias ou seus ramos, com consequente interrupção do
fluxo sanguíneo e chegada de oxigênio e nutrientes para as células do músculo cardíaco.

Alterações na circulação coronariana com redução do débito promovem um desequilíbrio


entre a oferta e a demanda de oxigênio das células cardíacas. Assim, a redução do fluxo
sanguíneo e isquemia, quando prolongada, acarretam hipóxia e culminam com a morte
(necrose) do músculo cardíaco. Nesse processo de injúria, o coração demonstra seu
sofrimento a partir de sinais e sintomas clássicos, tais como precordialgia, epigastralgia,
sudorese fria e pegajosa, palidez cutâneo-mucosa, taquicardia, dispneia, inquietação,
mal-estar geral, confusão mental, náuseas, vômitos, fadiga e síncope.

Figura 26.

Imagem adaptada de: <http://pro.corbis.com>.

44
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

A injúria sintomática decorrente da hipóxia recebe a denominação fisiopatológica de


angina. Ao estabelecer necrose na estrutura cardíaca é diagnosticado o Infarto Agudo
do Miocárdio (IAM). A dor de um infarto do miocárdio é semelhante à da angina,
mas, em geral, ela é mais intensa, prolongada e dificilmente aliviada pelo repouso ou
administração de medicamentos. O diagnóstico diferencial entre a angina e o infarto é
feito pelo eletrocardiograma e exames complementares.

Alguns indivíduos apresentam parada cardiorrespiratória súbita e não respondem à


reanimação cardiopulmonar, caracterizando um quadro de morte súbita (geralmente
ocasionada por arritmias ventriculares como a fibrilação ventricular e a taquicardia
ventricular sem pulso FV/TV).

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o infarto agudo do miocárdio é


considerado a principal causa isolada de morte no Brasil (doença cardiovascular). Esses
dados coincidem com aqueles encontrados em países desenvolvidos.

Protocolo de Síndrome Coronariana Aguda (SCA)

<https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/institucional/gestao-da-qualidade/
Documents/protocolo-sca.pdf>

Como proceder?

Diante de uma vítima com possível quadro de IAM, deve-se acionar imediatamente o
serviço de socorro especializado (Suporte Avançado), monitorar os sinais vitais, colocar
a vítima em posição confortável (cabeça elevada 30º a 45º), afrouxar as roupas, gravata
ou cinto; ventilar o ambiente, não oferecer bebida ou comida, realizar manobras de
RCP (se necessário) e conduzir a vítima ao hospital o mais rápido possível.

Lembre-se que “tempo é músculo cardíaco!”, portanto o paciente com dor torácica e
suspeita de infarto agudo do miocárdio deverá ser encaminhado à emergência o quanto
antes, para avaliação diagnóstica e tratamento adequado. O atendimento ao paciente
com SCA deverá ser feito de forma rápida e organizada.

Observação – o atendimento médico ao paciente (com administração de oxigênio,


vasodilatadores, analgésicos e outras drogas), bem como os exames diagnósticos,
monitorização hemodinâmica e tratamento não serão abordados, pois representam
suporte avançado de vida e conduta específica.

45
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

A respeito deste assunto, consulte:

<http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2015/02_TRATAMENTO%20
DO%20IAM%20COM%20SUPRADESNIVEL%20DO%20SEGMENTO%20ST.pdf>

A prevenção, aliada à correção dos fatores de risco e identificação precoce da doença


arterial coronariana, contribui significativamente para a redução da mortalidade e
sequelas associadas.

Acidente Vascular Encefálico (AVE)

Nas últimas quatro décadas houve um aumento progressivo de sobrepeso e obesidade


em função das mudanças do padrão alimentar e do sedentarismo da vida moderna
e, por consequência, do crescimento da morbimortalidade por doenças crônicas não
transmissíveis, incluindo o Acidente Vascular Encefálico (AVE).

O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é a principal causa de incapacidade funcional


no mundo e de morte por causas cardiovasculares no Brasil. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) estima que mais de 5 milhões de pessoas morrem a cada ano por
causa de acidentes cardiovasculares. Segundo a Sociedade Brasileira de Doenças
Cerebrovasculares, o AVE é responsável por 30% dos óbitos registrados no País.

Segundo dados do Ministério da Saúde, mesmo os pacientes que sobrevivem a um AVE


correm riscos: cerca de 50% morrem após um ano, 30% necessitam de auxílio para
caminhar e 20% ficam com sequelas graves.

Leia sobre a construção da vigilância e prevenção das doenças crônicas não


transmissíveis, no contexto do Sistema Único de Saúde em:

<http://www.portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/5artigo_construcao_
cronicas.pdf>.

A definição de Acidente Vascular Encefálico no dicionário médico é a de uma


manifestação, geralmente súbita, de insuficiência vascular do cérebro de origem
arterial decorrente de espasmo, isquemia, hemorragia ou trombose. O Acidente
Vascular Encefálico decorre da alteração do fluxo de sangue ao cérebro. Responsável
pela morte de células nervosas da região cerebral atingida, o AVE pode se originar de
uma obstrução de vasos sanguíneos, o chamado acidente vascular isquêmico, ou de
uma ruptura do vaso, conhecido por acidente vascular hemorrágico.

46
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

O Acidente Vascular Isquêmico é responsável por 80% dos casos de AVE. Essa
obstrução dos vasos cerebrais pode ocorrer devido a um ateroma (formação de placas
numa artéria principal do cérebro) ou tromboembolia (quando um trombo ou uma
placa de gordura originária de outra parte do corpo se solta e, pela rede sanguínea,
chega aos vasos cerebrais).

Figura 27.

Imagem adaptada de: <http://acidentevascularcerebral.com>.

Ataques isquêmicos transitórios, como o próprio nome indica, correspondem a


obstruções temporárias do sangue a uma determinada área do cérebro. Geralmente,
essas obstruções são originadas do acúmulo de plaquetas agregadas em placas nas
paredes dos vasos ou formação de coágulos no coração. Os sinais e sintomas desse
ataque são os mesmos do AVE, contudo, têm duração de menos de 24 horas.

Em um Acidente Vascular Hemorrágico (AVEH), o rompimento dos vasos


sanguíneos se dá na maioria das vezes no interior do cérebro, com a denominada
hemorragia intracerebral. Em outros casos, ocorre a hemorragia subaracnoide, o
sangramento entre o cérebro e a aracnoide. Como consequência imediata, há o aumento
da pressão intracraniana, que pode resultar em maior dificuldade para a chegada de
sangue em outras áreas não afetadas e agravar a lesão. Esse subtipo de AVE é mais
grave e tem altos índices de mortalidade.

47
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Figura 28.

Imagem adaptada de: <http://acidentevascularcerebral.com>.

Fatores de risco
Os fatores de risco aumentam a probabilidade de ocorrência de um acidente vascular
encefálico, no entanto muitos deles podem ser minimizados com tratamento médico
ou mudança nos estilos de vida. Entre os fatores de risco que podem ser modificados,
destacam-se os seguintes:

»» hipertensão;

»» diabetes;

»» tabagismo;

»» consumo frequente de álcool e drogas;

»» estresse;

»» dislipidemia;

»» doenças cardiovasculares, sobretudo as que produzem arritmias;

»» sedentarismo;

»» uso de contraceptivos hormonais;

»» doenças hematológicas.

48
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

»» Existem, contudo, fatores que podem facilitar o desencadeamento de


um acidente vascular encefálico e que são inerentes à vida humana, tais
como:

»» idade;

»» etnia;

»» predisposição genética.

Manifestações clínicas
A sintomatologia depende da localização do processo isquêmico, do tamanho da área
isquêmica, da natureza e funções da área atingida e da disponibilidade de um fluxo
colateral. Muitos sinais e sintomas são comuns aos dois tipos de acidente vascular
encefálico.

»» cefaleia;

»» alterações do nível de consciência;

»» convulsões;

»» perda do equilíbrio;

»» tontura e fraqueza;

»» alterações motoras (hemiplegia, hemiparesia);

»» alterações sensitivas (parestesia, alterações do campo visual);

»» alterações da fala e de comunicação;

»» náuseas e vômitos;

»» alterações da memória.

Organização Mundial de Saúde

<www.who.int>.

Academia Brasileira de Neurologia

<www.abneuro.org.br>.

Manual Merck. Distúrbios do cérebro e dos nervos

<http://www.msd-brazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck/mm_sec6_74.
html#section_3>.

49
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Atendimento inicial

O Acidente Vascular Encefálico é uma emergência médica. O socorro especializado


deve ser chamado imediatamente para que a vítima seja encaminhada ao hospital o
mais breve possível.

O tratamento adequado a uma vítima desse acidente deve ser realizado dentro do
hospital, por uma equipe multiprofissional treinada e bem coordenada. Infelizmente,
muitos pacientes não chegam ao hospital a tempo de receber atendimento médico
apropriado; portanto, quanto mais cedo o paciente for atendido, melhor será o
prognóstico e maiores serão as chances de sobrevivência.

No entanto, até a chegada do socorro especializado, responsável pelo transporte da


vítima, é fundamental a avaliação do nível de consciência e monitorização dos sinais.
A Escala de Coma de Glasgow (ECG) é uma escala neurológica que se constitui num
método confiável e com o objetivo de registrar o nível de consciência de uma pessoa,
para avaliação inicial e contínua após uma disfunção neurológica.

Escala de coma de Glasgow

Mínimo 3, Máximo 15

Espontânea 4
À voz 3
Abertura ocular
À dor 2
Sem abertura 1

Orientada 5
Confusa 4
Resposta verbal Inapropriada 3
Incompreensível 2
Sem resposta 1

Obedece a comando 6
Localiza dor 5
Movimento de retirada 4
Resposta motora
Flexão à dor 3
Extensão à dor 2
Sem resposta 1

Fonte: <www.bibliomed.com.br>.

A vítima de Acidente Vascular Encefálico pode apresentar obstrução de vias aéreas,


principalmente devido ao relaxamento da musculatura que dá suporte à língua. Sendo

50
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

assim, o atendimento imediato também deve incluir a manutenção da permeabilidade


das vias aéreas, por meio de manobras já estudadas anteriormente. Se necessário,
devem-se iniciar manobras de suporte básico de vida e reanimação cardiopulmonar.
Não se dá nada para a vítima beber ou comer e se continua monitorando seus sinais
vitais.

51
CAPÍTULO 2
Urgências e emergências neurológicas

Vertigem
A vertigem é uma falsa sensação de movimento ou de rotação ou a impressão de que
os objetos se movem ou rodam. Geralmente, ela é acompanhada por náusea e perda do
equilíbrio. Somente a tontura verdadeira – a que os médicos denominam vertigem –
causa uma sensação de movimento ou de rotação. A vertigem pode durar apenas alguns
instantes ou pode persistir por horas ou mesmo dias.

A vertigem deverá ser vista como um aviso de que o organismo da vítima está debilitado.
Os sintomas podem ser alterações da visão, dificuldade de andar, debilidade passageira
nas pernas, desorientação no espaço, alterações do equilíbrio até a inconsciência
completa. Essas alterações poderão estar associadas a hipoglicemia, hipotensão, entre
outros problemas de saúde.

Como proceder?
Sentar a vítima, colocar sua cabeça entre as pernas, com os braços caídos na lateral do
corpo. Pedir a ele que empurre a cabeça para cima, enquanto o socorrista a força para
baixo. Essa manobra aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro, melhorando o quadro
do paciente. Levar a vítima a procurar atendimento médico ou orientá-la para isso.

Síncope (desmaio)
A síncope, popularmente conhecida como desmaio, é uma perda súbita e transitória
da consciência. É um sinal de aporte inadequado do oxigênio e de outros nutrientes
ao cérebro, que geralmente é provocado por uma diminuição temporária do fluxo
sanguíneo.

Os indivíduos com esse tipo de problema podem sentir-se bem em repouso, mas podem
desmaiar durante o exercício, pois a demanda de oxigênio pelo organismo aumenta
subitamente. Esse tipo de desmaio é denominado síncope de exercício ou de esforço.
Com frequência, a pessoa desmaia após haver praticado exercício. Isso ocorre porque o
coração é incapaz de manter uma pressão arterial adequada durante o exercício.

O fluxo também pode diminuir quando a pessoa está desidratada em decorrência de


problemas como a diarreia, a sudorese ou a micção excessivas, o que, frequentemente,
ocorre em casos não tratados de diabetes.
52
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

Em geral, o desmaio causado pela tosse (síncope da tosse) ou pela micção excessiva
(síncope da micção) ocorre quando a quantidade de sangue que retorna ao coração
diminui durante a realização do esforço. O desmaio causado pela micção excessiva é
particularmente comum nos idosos.

A síncope da deglutição pode acompanhar doenças do esôfago. Outras causas de


desmaio também incluem a anemia, jejum prolongado e hipoglicemia, arritmias
cardíacas, hipotensão arterial, ansiedade que leva à hiperventilação, estresse, alterações
emocionais, permanência em lugares abafados e quentes, levantamento brusco da cama
(síncope ortostática) etc.

Atenção! A síncope que ocorre subitamente com perda da consciência e se repete com
frequência é sugestiva de arritmias cardíacas ou alterações neurológicas (tipo pequeno
mal epilético).

Sinais e sintomas
A síncope pode ser precedida de alguns sinais e sintomas, antes do desmaio propriamente
dito (perda da consciência), como, por exemplo, fraqueza, tontura, relaxamento
muscular, escurecimento da vista, palidez e sudorese, pele fria, náuseas, pulso rápido
e fraco.

Como proceder?
Impedir que a vítima caia, para que não se machuque; deitá-la em decúbito dorsal,
elevando os membros inferiores cerca de 30 cm do chão, monitorar os sinais vitais,
afastar os curiosos, ventilar o ambiente e afrouxar as suas roupas, se necessário; não
dar tapas no rosto da vítima nem fazê-la cheirar amônia ou álcool. Se ela não acordar
em alguns minutos, chamar socorro. A síncope não é uma doença, mas um sinal de
que algo não está bem no organismo da pessoa. Portanto, mesmo que ela recobre a
consciência espontaneamente, oriente-a a procurar um serviço médico.

Crise convulsiva

Figura 29. Convulsão tônico-clônica.

Fonte: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

53
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Uma convulsão é a resposta a uma descarga elétrica anormal no cérebro. O termo crise
convulsiva descreve várias experiências e comportamentos e não é o mesmo que uma
crise epilética, embora os termos sejam às vezes utilizados como sinônimos. Qualquer
coisa que irrite o cérebro pode produzir uma crise convulsiva. Dois terços dos indivíduos
que apresentam uma crise convulsiva jamais a apresentam novamente. Um terço
dos indivíduos continuarão a apresentar crises convulsivas recorrentes (transtorno
neurológico denominado epilepsia).

Consulte os sites:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Convuls%C3%A3o>.

<http://bvsms.saude.gov.br/html/pt/dicas/57convulcoes.html>.

O que ocorre exatamente durante uma convulsão depende da parte do cérebro que é
afetada pela descarga elétrica anormal. A descarga elétrica pode envolver uma área
mínima do cérebro, fazendo apenas com que o indivíduo perceba um odor ou sabor
estranho e tenha crises de ausência (crise convulsiva de “pequeno mal”), ou pode
envolver grandes áreas, acarretando uma convulsão (abalos e espasmos musculares
generalizados e descoordenados – convulsão de “grande mal”).

Além disso, o indivíduo pode apresentar episódios breves de alteração da consciência,


confusão mental, perda do controle muscular ou vesical. As convulsões frequentemente
são precedidas por auras – sensações incomuns de odores, sabores ou visões, ou uma
sensação intensa de que uma crise convulsiva está prestes a ser desencadeada.

Os sinais e sintomas comuns das crises convulsivas são aura convulsiva, grito ou urro
epiléptico, perda de consciência, crise de ausência, convulsões tônico-clônicas, salivação
excessiva (sialorreia), descontrole urinário e (ou) intestinal.

Como proceder?

Proteger a vítima para que não se machuque, evitando sua queda ou protegendo
principalmente sua cabeça; afastar os curiosos e objetos que possam causar lesões, não
segurá-la e permitir que a crise ocorra. Em caso de vômito, lateralizar a sua cabeça;
desobstruir suas vias aéreas com gaze ou pano limpo, não colocar nada na boca da
vítima durante o ataque, não “puxar a língua” nem jogar água no seu rosto. Cessada
a crise, ela poderá encontrar-se sonolenta e desorientada. Mantenha-a em repouso,
em um ambiente calmo, silencioso e em observação constante até a recuperação
completa, monitorando os sinais vitais. Encaminhe-a ao hospital ou aguarde o serviço
de emergência.

54
CAPÍTULO 3
Urgências e emergências obstétricas

No parto normal, deve existir uma razão válida para interferir no processo
natural. (OMS)

Médicos e enfermeiros devem estar preparados para prestar assistência a uma paciente
em processo de gestação, parto e puerpério, reconhecendo os sinais da gestação de alto
risco, encaminhando para atendimento especializado quando necessário e prestando
orientações quanto à saúde reprodutiva, planejamento familiar e assistência pré-natal,
além de um atendimento humanizado e de qualidade ao parto.

Cadernos de atenção básica – Atenção ao pré-natal de baixo risco.

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_
prenatal.pdf>

Assistência ao parto normal


Primeiramente, é preciso realizar uma anamnese e exame físico obstétrico, buscando
informações sobre a gestação atual, realização do pré-natal, paridade (número de
partos), intercorrências em gestações anteriores, problemas de saúde etc.

O início do trabalho de parto é desencadeado por fatores maternos, fetais e placentários,


que se interagem. O socorrista poderá identificar o trabalho de parto pela presença
de sinais como discreto sangramento vaginal, perda de tampão mucoso, eliminação
de líquido amniótico (em condições normais, apresenta-se claro, translúcido e com
pequenos grumos semelhantes a pedaços de leite coalhado); contrações uterinas
inicialmente regulares, de pequena intensidade, com duração variável de 20 a 40
segundos, podendo chegar a duas ou mais em dez minutos; desconforto lombar;
alterações da cérvice (colo uterino) com amolecimento e dilatação progressiva (o exame
cervical deve ser realizado por médico ou enfermeiro obstetra).

Ao se realizar a palpação abdominal com as manobras de Leopold (palpação do fundo


uterino, flancos, pesquisa da mobilidade do polo e exploração das escavas), busca-se
perceber a situação e apresentação do feto, além de localizar o seu dorso, para ausculta
fetal.

55
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

SITUAÇÃO: relação entre o grande eixo longitudinal fetal e uterino. A situação pode ser
longitudinal, transversa e oblíqua (inclinada).

APRESENTAÇÃO: é a região fetal que se encontra na área do estreito superior da


bacia, ocupando-a em seu todo, ou seja, a região do feto que se encaixa na bacia para
nascer. Pode ser cefálica, pélvica (completa e incompleta) e acromial (ou córmica – “de
ombro”). Exemplos:

Figura 30.

A – Situação longitudinal, apresentação cefálica.

B – Situação transversa, apresentação acromial.

C – Situação longitudinal, apresentação cefálica.

D – Situação longitudinal, apresentação pélvica.

Fonte: Obstetrícia Fundamental, 8. ed.

A ausculta dos batimentos cardíacos fetais constitui técnica indispensável à avaliação


da vitalidade fetal durante o trabalho de parto. A ausculta pode ser realizada com o
estetoscópio monoauricular chamado Pinard, como se faz desde o século XX, ou por
sonar Doppler portátil simples, sendo a vantagem principal a ausculta independente
da posição materna. A frequência cardíaca fetal normal varia de 120 a 160 batimentos
por minuto (bpm). Uma redução progressiva da frequência cardíaca fetal (bradicardia),
ou uma frequência cardíaca fetal mantida acima de 160 bpm (taquicardia) devem ser
observadas com cautela e uma melhor monitorização fetal.

O controle dos batimentos fetais deve ser realizado a cada hora do trabalho de parto,
durante e após a contração uterina. Dessa forma, na avaliação da dinâmica uterina,
sempre deve ser feita a ausculta do coração do feto. Na presença de complicações
(acelerações, desacelerações ou mecônio), a ausculta necessita ser verificada a cada 5,
10 ou 15 minutos, dependendo da situação.

A avaliação da dinâmica uterina também é importante, momento em que o examinador


analisa toda a dinâmica de contração e relaxamento da musculatura uterina.

56
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

A duração de uma contração uterina corresponde ao intervalo de tempo entre a sensação


de endurecimento do músculo uterino e seu completo relaxamento. Pode-se percebê-la
com a mão espalmada, repousada no fundo uterino. Verifica-se, também, a frequência
das contrações, demonstradas pelo intervalo de tempo entre o seu início, seu final e
o início da contração seguinte. A sua duração é estimada pelo tempo em segundos de
sua percepção tátil, e a atividade uterina aumenta progressivamente, desde o início
do trabalho de parto até a expulsão do feto. Em condições normais, ocorrem 3 a 5
contrações no intervalo de 10 minutos, com duração aproximada de 30 a 60 segundos,
cada uma.

Avaliação da dilatação do colo uterino

A progressão da dilatação cérvico-uterina é avaliada pelo médico ou enfermeira


obstétrica no transcorrer do trabalho de parto pelo toque vaginal. O exame deve
ser realizado após orientação à parturiente sobre a importância e a necessidade do
procedimento, de forma que se obtenha sua cooperação. Para um menor desconforto,
orienta-se a parturiente que esvazie a bexiga antes do procedimento. A dilatação do
colo é expressa por centímetros.

Com relação ao número ideal de toques vaginais durante o trabalho de parto, a maioria
dos autores aceita que esse exame deve ser realizado o menor número de vezes possível.
Após sua realização, o examinador obterá todas as informações adequadas quanto às
características do colo uterino, à apresentação fetal, à bacia obstétrica, ao estado das
membranas amnióticas (bolsa) e à proporcionalidade. Esses dados necessitam ser
anotados no prontuário da parturiente. Existem relatos em que o excessivo manuseio
do canal do parto (número grande de toques vaginais) está relacionado à contaminação
da cavidade uterina, com infecções no pós-parto.

Figura 31. Exame de toque vaginal. Identificação da fontanela posterior.

Fonte: Obstetrícia Fundamental, 1994.

57
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Avaliação da coloração do líquido amniótico

Outro parâmetro empregado no acompanhamento da vitalidade fetal durante o


trabalho de parto é a coloração do líquido amniótico, sendo possível encontrar o líquido
claro com presença de grumos nas gestações próximas a termo. A presença de líquido
meconial, para alguns autores, é indicativa de sofrimento fetal; o mecônio espesso
eliminado durante o trabalho de parto está intimamente associado ao aumento de
morbimortalidade neonatal.

A eliminação do mecônio tinge de verde o líquido amniótico. O líquido meconial é uma


preocupação constante para o profissional que assiste ao parto. No momento expulsivo
do parto, nos casos de presença de líquido com mecônio, recomenda-se a aspiração das
vias aéreas superiores do recém-nascido, antes do desprendimento dos ombros, para se
evitar a aspiração de mecônio pelo recém-nascido.

A aspiração de mecônio espesso pelo recém-nascido poderá levar à chamada síndrome


da aspiração do mecônio, resultante de obstrução mecânica e inflamação química,
associadas à angústia respiratória, hipoxia e acidose com elevada taxa de mortalidade
ao redor de 25%.

O parto é dividido em quatro períodos clínicos, a saber.

1. Dilatação. O período definido clinicamente de primeiro estágio, período


de dilatação, tem início com a instalação das contrações regulares que
induzem duas importantes mudanças na cérvice (colo uterino):

›› apagamento completo do canal cervical, que consiste na incorporação


dele ao segmento inferior do corpo uterino, ocorrendo gradualmente
durante o período de dilatação;

›› dilatação total da cérvice.

É considerado o período mais demorado e consiste nas modificações


que o colo uterino sofre. A dilatação indica a abertura do colo do útero.
É expressa em centímetros e, ao atingir a dilatação máxima (10 cm),
forma-se um único canal entre o útero e a vagina.

O apagamento na primigesta ocorre antes da dilatação, e nas multíparas,


simultaneamente, por isso o trabalho de parto é mais rápido.

No período da dilatação, após o colo atingir 5 cm, as contrações uterinas


progridem e aos poucos aumentam a intensidade, o intervalo e a duração,
diminuindo o intervalo entre uma e outra. Como resultado, a cabeça
58
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

do feto vai gradualmente descendo no canal pélvico e, nesse processo,


rodando lentamente. Essa descida, auxiliada pela pressão da bolsa
amniótica, determina uma pressão maior da cabeça sobre o colo uterino,
que vai se apagando. Para possibilitar a passagem do crânio do feto –
que mede por volta de 9,5 cm – faz-se necessária uma dilatação total de
10 cm. Esse é o período em que a parturiente experimenta desconfortos
e sensações dolorosas e pode apresentar reações diferenciadas como
exaustão, impaciência, irritação ou apatia, entre outras.

Além das adaptações no corpo materno, visando o desenrolar do trabalho


de parto, o feto também se adapta a esse processo: sua cabeça tem a
capacidade de flexionar, estender e girar, permitindo entrar no canal do
parto e passar pela pelve óssea materna com mais mobilidade. Durante o
trabalho de parto os ossos do crânio se aproximam uns dos outros e podem
acavalgar, reduzindo o tamanho do crânio e, assim, facilitar a passagem
pela pelve materna. Nos trabalhos de parto prolongados, também não
é incomum a presença de bossa serossanguinolenta, uma coleção de
líquido que é absorvida na primeira semana de vida do recém-nascido.
A mãe e o pai devem ser informados de que ele não é um defeito
(má-formação) na cabeça do feto, e que irá desaparecer espontaneamente
em alguns dias.
Figura 32.

Fase Ativa

Fonte: Manual Merck <http://www.msd-brazil.com>.

›› A dilatação do colo uterino progride de 4 para 10 centímetros (dilatação


total).

›› A parte com que o concepto se apresenta, geralmente a cabeça, desce


até a pelve da mãe.

›› A mãe começa a sentir vontade de empurrar à medida que o concepto


desce.

59
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

›› Em média, essa fase dura horas numa primeira gestação e 2 horas nas
gestações seguintes.

2. Expulsão fetal. O período de expulsão inicia-se com a completa


dilatação do colo uterino e termina com o nascimento completo do bebê.
Em outras palavras, a total dilatação da cérvice caracteriza o início do
segundo período do parto – expulsão – que termina com o nascimento
da criança.

Ao final do primeiro período do trabalho de parto, o sangramento aumenta


com a laceração dos capilares no colo uterino. Náuseas e vômitos podem
estar presentes, por ação reflexa. A parturiente refere pressão no reto,
vontade de evacuar e urgência urinária. Ocorre distensão dos músculos
perineais e abaulamento do períneo.

Segundo Estágio

Figura 33.

Fonte: Manual Merck <http://www.msd-brazil.com>.

Da dilatação total do colo do útero até o parto. Em média, esse estágio


dura 60 minutos numa primeira gestação e 15 a 30 minutos nas gestações
seguintes.

Esses sinais, observados pela pessoa que assiste o parto, indicam que o
nascimento é iminente e o socorrista deve preparar-se para auxiliar a
parturiente. Ela deve ser colocada em posição ginecológica e orientada a
respirar tranquilamente, repousando nos intervalos das contrações para
economizar energia.

60
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

Ao constatar o coroamento do polo cefálico, o socorrista realizará a


“proteção do períneo”, manobra que consiste em aplicar de forma
constante um apoio firme, protegendo o períneo com uma das mãos
aberta e coberta por uma compressa, ao mesmo tempo em que a outra faz
um leve apoio sobre a cabeça, com a intenção de controlar a velocidade de
desprendimento.

Dessa forma, haveria uma eventual diminuição ou ausência de lacerações


em períneos. No momento do coroamento fetal, a parturiente deve ser
encorajada a realizar força para baixo, durante as contrações.

Após a exteriorização da cabeça, é importante assistir ao desprendimento


fetal espontâneo. Caso esse desprendimento não ocorra naturalmente, a
cabeça deve ser tracionada para baixo, visando favorecer a passagem do
ombro.

Figura 34.

Fonte: Manual Merck <http://www.msd-brazil.com>.

Com a saída da cabeça e ombros, o corpo desliza facilmente, às vezes


acompanhado de um jato de líquido amniótico. Sugere-se acomodar o
recém-nascido, com boa vitalidade, sobre o colo materno, ou permitir
que a mãe o faça, se a posição do parto favorecer essa prática.

O cordão umbilical só deve ser pinçado e laqueado quando o


recém-nascido estiver respirando. O cordão umbilical é pinçado em
dois lugares e seccionado entre as pinças, para evitar o sangramento
em qualquer uma das extremidades. A laqueadura é feita com material
adequado e estéril. É importante manter o recém-nascido aquecido,
cobrindo-o com um lençol/campo – o que previne a ocorrência de

61
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

hipotermia. A mulher deve ser incentivada a iniciar a amamentação nos


primeiros minutos após o parto, pois isso facilita a saída da placenta e
estimula a involução do útero, diminuindo o sangramento pós-parto,
além de promover vínculo precoce com o bebê.

O cordão umbilical que se estende do umbigo à superfície fetal da placenta


tem em média 55 cm e um diâmetro que oscila entre 1 e 2,5 cm. É uma
estrutura que liga o feto à placenta, sendo vital ao feto.

O cordão umbilical curto pode resultar em atraso da descida fetal,


sofrimento fetal, descolamento da placenta, inversão uterina e ruptura,
levando a hemorragias. O cordão longo pode produzir nós circulares
ou mesmo prolapso de cordão (quando o cordão umbilical sai antes do
bebê).

A ocorrência de circular de cordão, habitualmente cervical, pode também


ser observada ao redor do tronco ou membros, podendo ser única,
dupla, tripla e, excepcionalmente, quádrupla. A importância de detectar
sua presença é devida à possibilidade de desencadear complicações,
particularmente durante o período expulsivo, como o óbito fetal.

3. Dequitação. Também chamado de secundamento ou delivramento,


esse período tem início após a expulsão do feto e termina com a saída da
placenta e seus anexos (membranas – córion e âmnio).

Figura 35. Terceiro Estágio

Fonte: Manual Merck <http://www.msd-brazil.com>.

Da expulsão do concepto até a liberação da placenta geralmente dura


apenas alguns minutos.

62
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

Tradicionalmente, o trabalho de parto é dividido em três estágios. No


entanto, as 4 horas que sucedem a liberação da placenta, quando o risco
de sangramento é maior, são frequentemente denominadas de quarto
estágio do trabalho de parto.

Nesse momento, a parturiente experimenta um período de bem-estar e


alegria, devido ao repouso fisiológico do útero pelo término das contrações
uterinas.

Como já foi visto, a aproximação precoce entre a mãe e o recém-nascido


fortalece o vínculo afetivo e a maternidade. Tem início com a interação
desse novo ser; portanto, a sucção do bebê estabelece um vínculo precoce,
favorecendo a contração uterina e a saída da placenta (dequitação). As
contrações uterinas são de baixa frequência e alta intensidade, indolores,
caracterizando-se pelo descolamento, descida e expulsão da placenta.

O desprendimento da placenta é considerado como um processo


fisiológico e deve ocorrer espontaneamente, evitando-se manipulações e
massagens uterinas (compressões no abdome). A assistência ao terceiro
período do parto exige amplo conhecimento da enfermeira obstetra ou
do médico que o realiza, pois esse momento é bastante susceptível a
acidentes e complicações.

Após os sinais positivos de descolamento placentário (sangramento


aumentado), o profissional que assiste ao parto deve realizar a manobra
de rotação no sentido horário para a retirada da placenta, denominada
manobra de Jacobs, levando as membranas a se descolarem e a se
desprenderem.

Figura 36. Manobra de Jacob-Dublin para a recepção da placenta.

Fonte: Obstetrícia Fundamental, 1994.

63
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Após a dequitação, examina-se o canal vaginal, o colo uterino e a região


perineal, para a identificação de rupturas e lacerações; caso tenha sido
realizada episiotomia (corte no períneo), proceder à sutura.

A placenta deverá ser cuidadosamente examinada com relação à sua


integridade (deve estar completa), tipo de vascularização e local de
inserção do cordão, bem como verificação do número de vasos dele (2
artérias e 1 veia), presença de nós e tumorações.

O profissional deve ficar atento para as perdas sanguíneas, que não podem
ser superiores a 500 ml, e as condições gerais da paciente. Deve, também,
registrar o horário de saída da placenta. Posteriormente, a placenta
deverá ser pesada e ter o registro do seu peso devidamente anotado.

A dequitação determina o início do puerpério imediato, onde ocorrerão


contrações que permitirão reduzir o volume uterino, mantendo-o
contraído e promovendo a hemostasia nos vasos que irrigavam a placenta.

4. Período de Greenberg. Definido como a primeira hora após a


saída da placenta, quando podem acontecer as grandes hemorragias
e complicações que solicitem habilidade e conhecimento da equipe
de saúde. A assistência ativa nesse período e a vigilância ao lado da
paciente surpreendem e corrigem oportunamente quaisquer desvios do
mecanismo fisiológico.

Nessa fase, o profissional de saúde deve observar rigorosamente os


lóquios (sangramento pós-parto) e avaliar a involução e contração
uterina, estando preparado para intervir em qualquer anormalidade. Os
sinais vitais devem ser verificados com atenção, especialmente a pressão
arterial e frequência cardíaca, que se manifestam alteradas em quadros
hemorrágicos.

Mortalidade materna
Segundo o Ministério da Saúde, a morte de mulheres em idade fértil por causas ligadas
à gravidez, ao aborto, ao parto e ao puerpério é, em sua grande maioria, evitável.

Evolução da mortalidade no Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde/MS

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/capitulo3_sb.pdf>

Manual dos Comitês de Mortalidade Materna. Ministério da Saúde (2007) <http://


bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/comites_mortalidade_materna_3ed.pdf>

64
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR │ UNIDADE II

É importante o profissional de saúde saber reconhecer uma gestação de alto risco e


as complicações que porventura possam surgir durante o trabalho de parto, parto ou
puerpério.

São sinais indicativos de possíveis complicações materno-fetais:

»» sangramento anormal durante a gestação ou trabalho de parto podem


indicar uma placenta prévia (placenta baixa) ou descolamento prematuro
da placenta (DPP). Nessa última patologia, a hemorragia é acompanhada
de dor súbita e enrijecimento da parede abdominal. A gestante deverá ser
encaminhada com urgência ao hospital para avaliação e conduta;

»» pré-eclâmpsia – paciente com elevação da pressão arterial, presença


de edema e proteinúria. Monitorar atentamente a pressão arterial e
batimentos cardíacos fetais. A gestante deverá ser mantida em decúbito
lateral esquerdo e encaminhada para acompanhamento em serviço de
gestação de alto risco. Na eclâmpsia ocorrem crises convulsivas, além dos
sinais descritos na pré-eclâmpsia;

»» vômitos excessivos (hiperemese gravídica);

»» excesso de líquido amniótico (polidrâmnio);

»» redução do líquido amniótico (oligodrâmnio);

»» presença de líquido amniótico com mecônio;

»» prolapso de cordão umbilical – a parturiente deverá ser colocada em


posição genupeitoral e o cordão envolvido com uma compressa estéril
umidificada com soro fisiológico. O cordão umbilical não deverá
ser colocado para dentro do canal vaginal, e a cesárea é indicada
imediatamente;

»» diminuição significativa dos movimentos fetais ou mesmo interrupção


dos movimentos – encaminhar ao serviço de saúde para avaliação da
vitalidade e bem-estar fetal;

»» alterações do BCF (taquicardia ou bradicardia) – a gestante deverá ser


atendida para realização de monitorização fetal.

65
UNIDADE II │ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO AMBIENTE EXTRA-HOSPITALAR

Urgências e emergências maternas. Ministério da Saúde (2000)

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/urgencias%20e%20
emergencias.pdf>.

Uma assistência pré-natal de qualidade pode prevenir grande parte das complicações
surgidas no ciclo gravídico-puerperal, reduzindo significativamente a morbimortalidade
materna e (ou) fetal.

A equipe de saúde deve trabalhar conjuntamente e de forma humanizada para promover


a saúde do binômio mãe-filho e estar apta a lidar com as intercorrências e dificuldades
do processo gestacional.

Figura 37.

Fonte: <http://www.assistebaby.com.br/nossos-conselhos/>

“Sim, os bebês têm necessidade de leite, mas muito mais de serem amados,
receberem carinho, serem levados, embalados, acariciados, pegos e
massageados”.

Frederick Leboyer

66
SITUAÇÕES ESPECIAIS
E ATENDIMENTO DE UNIDADE III
EMERGÊNCIA

CAPÍTULO 1
Intoxicações exógenas e acidentes
com animais peçonhentos

“Todas as substâncias são venenos, não existe nada que não seja veneno.
Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio.”

Paracelsus, 1493-1541

Um dos grandes problemas enfrentados em nosso País é a subnotificação ou


notificação irregular, que, de acordo com a pesquisadora Rosany Bochner do Instituto
de Comunicação e Informação Científica e Tecnologia em Saúde (Icict/Fiocruz) e
coordenadora do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox),
em análise feita nos registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
do Ministério da Saúde, esse seria um dos maiores problemas enfrentados, uma vez
que dificultam as pesquisas bem como as notificações judiciais contra as empresas
produtoras de agrotóxicos.

Segundo dados do Sinitox, foram registrados, no período de 2007 a 2011, 26.385


casos de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, 13.922 por agrotóxicos de uso
doméstico, 5.216 por produtos veterinários e 15.191 por raticidas. Os agrotóxicos são
o terceiro grupo responsável pelas intoxicações, com 11,8% dos casos, antecedido
pelos medicamentos (28,3%) e animais peçonhentos (23,7%). Os óbitos causados por
agrotóxicos de uso agrícola, de acordo com o estudo feito pela coordenadora do Sinitox,
atingiram 863 pessoas (39,4%), os de uso doméstico, 29 casos (1,3%), os produtos
veterinários corresponderam a 22 ocorrências (1,0%) e os raticidas, por 138 óbitos
(6,3%). Segundo levantamento feito por Rosany Bochner, desses óbitos, apenas 14 (1,3%)
foram registrados como ocupacionais. Ela analisou 33 óbitos registrados no Brasil pelo
SIM, no período de 2008 a 2012, levantando variantes como perfil socioeconômico;
ano de óbito, estado e local do acidente, causas associadas aos óbitos decorrentes de
intoxicações, dentre outros pontos. Ela também cruzou os dados com as informações
67
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS e dados do próprio


Sinitox.

Intoxicações: a prevenção começa em casa

<http://www.brasil.gov.br/saude/2012/04/acidentes>

Venenos ou tóxicos são substâncias químicas que podem causar danos ao organismo.
As intoxicações podem ser classificadas em três categorias: acidentais, ocupacionais e
intencionais. A maioria dos envenenamentos é acidental, mas também pode resultar de
tentativas de suicídio e, mais raramente, até de homicídio.

Não existem muitos antídotos (antagonistas específicos dos venenos) eficazes, sendo
muito importante tentar identificar a substância responsável pelo envenenamento o
mais breve possível.

Caso isso não seja conseguido de imediato, posteriormente devem ser feitas tentativas
de obter informações – e (ou) amostras – da substância e das circunstâncias em que
ocorreu o envenenamento. Uma substância tóxica pode penetrar no organismo por
diversos meios ou vias de administração.

»» Ingerida: medicamentos, derivados de petróleo, agrotóxicos, raticidas,


plantas, alimentos contaminados etc.

»» Inalada: gases tóxicos. Exemplos: monóxido de carbono, amônia,


agrotóxicos, cola à base de tolueno (cola de sapateiro), acetona, benzina,
éter, gás de cozinha, fluido de isqueiro e outras substâncias voláteis, gases
liberados durante a queima de diversos materiais (plásticos, tintas) etc.

»» Absorvida: inseticidas, agrotóxicos e outras substâncias químicas que


penetrem no organismo pela pele ou mucosas.

»» Injetada: toxinas de diversas fontes como cobras, aranhas, escorpiões ou


drogas injetadas com seringa e agulha.

Sinais e sintomas mais comuns de intoxicação são variados, dependendo da substância.

»» Sudorese

»» Sialorreia e lacrimejamento

»» Alterações pupilares: midríase ou miose

68
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

»» Queimação nos olhos e mucosas

»» Cefaleia

»» Alterações da consciência

»» Convulsões

»» Queimaduras ou manchas ao redor da boca

»» Dificuldade para deglutir

»» Náuseas e vômitos

»» Distensão e dor abdominal

»» Alterações na pele: palidez, hiperemia ou cianose

»» Odores característicos: na respiração, roupa, ambiente

»» Alterações na frequência cardíaca (taquicardia, bradicardia e arritmias)

»» Respiração anormal (taquipneia, bradipneia ou dispneia)

»» Choque e óbito

Abordagem e primeiro atendimento à vítima


de envenenamento

Verifique se o local está seguro, procure identificar a via de administração e o veneno


em questão. Aborde a vítima como de costume, identifique-se e faça o exame primário;
esteja preparado para intervir com manobras para liberação das vias aéreas e de RCP,
caso seja necessário. Proceda ao exame secundário e remova a vítima do local. Há
situações em que a vítima deve ser removida imediatamente para diminuir a exposição
ao veneno e preservar a segurança da equipe.

De acordo com as últimas diretrizes para o tratamento de intoxicações e envenenamento,


propostas pela American Heart Association e a Cruz Vermelha Americana, a vítima
intoxicada não deve beber nada (nem mesmo água ou leite). Os socorristas não devem
oferecer carvão ativado ou xarope de ipeca para a vítima, a não ser que seja recomendado
pelo Centro de Controle de Intoxicação.

69
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Não induzir o vômito se a vítima ingeriu derivados de petróleo (como querosene e


gasolina) ou substâncias corrosivas e cáusticas (ácido ou base). Também não provocar
o vômito se a vítima estiver com alterações de consciência.

Guarde as embalagens de produtos, restos de substâncias ou conteúdos vomitados para


facilitar a identificação do veneno e tratamento adequado.

Em caso de contato com a pele e (ou) olhos, lave a região atingida com bastante água
corrente e limpa.

Cartilha de orientação para os consumidores de saneantes

<http://www.anvisa.gov.br/saneantes/cartilha_saneantes.pdf>.

O melhor a ser feito é remover a vítima para o hospital o mais rápido possível. O
envenenamento é um dos casos em que o socorrista poderá remover a vítima rapidamente
para o hospital sem aguardar o Suporte Avançado de Vida (SAV). Ligue para o Centro
de Informações Toxicológicas (CIT) e obtenha maiores informações sobre a substância
em questão.

Centros de Informação e Assistência Toxicológica

<http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/centros.htm>.

Agrotóxicos e Toxicologia. Informações médicas de urgência em caso de


intoxicação.

<http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/informed/informed.htm>

Sociedade Brasileira de Toxicologia

<http://www.sbtox.org.br>.

CADERNOS DE TOXICOVIGILÂNCIA I MANUAL DE TOXICOVIGILÂNCIA

<http://w w w.c vs.saude.sp.gov.br/up/Caderno%20de%20


Toxicovigil%C3%A2ncia%20I%2015.04.2014%20final.pdf>

Acidentes com animais peçonhentos

Animal peçonhento é aquele que possui glândula produtora de veneno que se


comunica com dentes ocos, ferrões ou aguilhões por onde a peçonha passa ativamente.
Exemplos: cascavel, aranha marrom, escorpiões, abelhas etc.

70
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Animais venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um
aparelho inoculador para injetá-lo. Provocam o envenenamento por contato (lagartas),
compressão (sapo) ou ingestão (peixe baiacu).

Sempre que estivermos diante de um possível caso de envenenamento causado por


animal peçonhento, devemos tentar capturá-lo para identificação, sem correr maiores
riscos ou perder tempo com esse procedimento. A identificação correta permitirá a
administração do soro antiveneno específico.

É importante ressaltar que os sinais e sintomas do envenenamento variam de acordo


com a espécie que causou o acidente, a quantidade de veneno inoculado, peso e idade
da vítima, as condições de nutrição e o atendimento recebido.

Animais peçonhentos, suas características, distribuição geográfica, manifestações


clínicas de envenenamento e produção de soros (antiveneno).

Instituto Butantan <http://www.butantan.gov.br>. Instituto Vital Brazil <http://


www.ivb.rj.gov.br>.

Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) – Centro Virtual


de Toxinologia (Unesp) <http://www.cevap.org.br>.

Acidente ofídico

Mordidas de cobras não peçonhentas não são consideradas sérias e geralmente são
tratadas como ferimentos leves; apenas as mordidas de cobras peçonhentas são
consideradas urgências médicas. Os sinais e sintomas aparecem de forma imediata em
somente um terço dos casos de mordidas de cobras peçonhentas e a maioria das pessoas
não apresenta sintomas, normalmente porque o veneno não foi injetado. É muito
importante saber identificar se o acidente foi causado por uma serpente peçonhenta
ou não. Para isso, observam-se características do local da mordida, assim como as
características da serpente que causou o acidente.

No Brasil existem duas famílias de serpentes consideradas peçonhentas e de interesse


médico:

»» Família Viperidae (Viperídeos): destaca-se a subfamília Crotalinae,


a que pertencem os gêneros Crotalus (cascavel), Bothrops (jararaca) e
Lachesis (surucucu).

»» Família Elapidae (Elapídeos): engloba o gênero Micrurus (corais


verdaderas)
71
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

As serpentes peçonhentas em nosso País geralmente apresentam as seguintes


características:

1. cabeça triangular e destacada do corpo, escamas pequenas e ásperas,


pupila em fenda vertical (elíptica), cauda bem destacada do corpo,
presença de guizo ou chocalho no final da cauda (cascavel);

2. presença de fosseta loreal (com exceção da coral verdadeira): órgão


termossensorial situado entre o olho e a narina, que permite à serpente
detectar variações mínimas de temperatura no ambiente, ou seja, perceber
a presença de animais de sangue quente (homeotérmicos);

3. presença de presas inoculadoras de veneno;

4. hábito noturno, movimentos lentos e vagarosos.

Figura38. Bothrops (jararaca)

Fonte: <http://get-id.com.br>.

Observação – existem exceções, e nem todas as serpentes peçonhentas se enquadram


nas características descritas. Exemplo: a coral verdadeira não possui cabeça triangular
nem fosseta loreal, mas é peçonhenta, enquanto a jiboia possui cabeça triangular e
cauda afinando bruscamente, mas não é peçonhenta.

Gênero Bothrops (conhecidas como jararaca,


jararacuçu, urutu, urutu-cruzeiro, caiçaca, cotiara)

Figura39. Bothrops (jararaca)

Fonte: Instituto Vital Brasil

72
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Figura 40. Bothrops (jararacuçu)

Fonte: Instituto Vital Brasil

As serpentes desse gênero são responsáveis pela maioria dos acidentes ofídicos
registrados no país (cerca de 90%), pois são espécies agressivas. Apreciam locais úmidos
e existem exemplares de Bothrops em todo território brasileiro. O veneno tem ação
proteolítica, coagulante e hemorrágica, com manifestações locais (de instalação precoce
e caráter evolutivo) e sistêmicas. A mordida provoca muita dor imediata, vermelhidão,
sangramento no local, edema, bolhas e necrose. As manifestações sistêmicas incluem
náuseas, vômitos, sudorese, hipotermia, hipotensão arterial, choque, hemorragias a
distância (epistaxe, gengivorragia, sangramento digestivo, hematúria etc.) e Insuficiência
Renal Aguda.

Tratamento: soro antibotrópico, via endovenosa, de acordo com a sintomatologia


apresentada e classificação do acidente em leve, moderado ou grave.

Gênero Crotalus (grupo das cascavéis)

Figuras 41 e 42. Crotalus durissus (cascavel)

Fonte: Instituto Vital Brasil.

Menos agressivas que as jararacas, são responsáveis por cerca de 8% a 11% dos acidentes
ofídicos; no entanto, o ofidismo (envenenamento causado por mordida de cobra)
costuma ser de maior gravidade devido à frequência com que evolui para Insuficiência
Renal Aguda (IRA).

73
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

A característica mais importante para identificar a serpente desse gênero é a presença


de guizo ou chocalho na ponta da cauda. As cascavéis atingem na idade adulta 1,6 m de
comprimento, vivem em lugares secos, regiões pedregosas e pastos, raramente sendo
encontradas nas regiões litorâneas.

O veneno possui ação neurotóxica, miotóxica (lesa a musculatura esquelética –


rabdomiólise) e coagulante, causando manifestações locais geralmente pouco intensas:
edema, pouca dor e sensação de formigamento e adormecimento da área (parestesias
discretas).

As manifestações sistêmicas e neurológicas são as mais importantes e perigosas: náusea,


prostração, sonolência, cefaleia, diplopia e visão turva, midríase, ptose palpebral (“fácies
miastênica” – fácies neurotóxica de Rosenfeld), dificuldade para deglutir, mialgia
generalizada e de aparecimento precoce, fraqueza muscular, urina escura (avermelhada
e posteriormente marrom, devido à mioglobinúria) e insuficiência renal.

Dica – O indivíduo intoxicado parece estar embriagado, tem a fala arrastada e


dificuldade para abrir os olhos, franzindo a testa numa tentativa de manter os olhos
abertos.

Tratamento – Soro anticrotálico, via endovenosa, de acordo com a sintomatologia


apresentada e classificação do acidente em leve, moderado ou grave.

Gênero Micrurus (grupo das corais verdadeiras)

Figura43. Micrurus corallinus (coral verdadeira)

Fonte: Instituto Butantan

74
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Figura 44. Micrurus brasiliensis (coral verdadeira)

Fonte: <http://www.unb.br/ib/zoo/grcolli/jalapao/ Micrurusbrasiliensis.jpg>.

A coral é a serpente do Brasil que tem o veneno mais potente, porém, como já vimos, não é
a maior responsável pelos acidentes ofídicos. Essas serpentes peçonhentas não possuem
fosseta loreal (isto é uma exceção), cabeça triangular, nem um aparelho inoculador de
veneno tão eficiente quanto o das jararacas e cascavéis. O veneno é inoculado por meio
de presas pequenas e fixas. O que chama atenção é o seu padrão colorido, com anéis
vermelhos, brancos e pretos. Na prática, é difícil diferenciar uma coral verdadeira de
uma coral falsa, então, como regra e medidas de segurança, considera-se toda serpente
que possua os referidos anéis coloridos como sendo coral verdadeira. Portanto, é melhor
manter distância, pois estamos diante da serpente peçonhenta que possui o veneno
mais tóxico existente aqui no Brasil.

Figura 45. Oxyrhopus guibei (falsa coral)

Fonte: Instituto Butantan

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UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Figura 46. Erythrolamprus aesculapii (falsa coral)

Fonte: <www.dreyfus.ib.usp.br>.

As corais habitam preferencialmente buracos, tornando os acidentes raros (menos


de 1%), mas muito graves, pela característica de seu veneno poder provocar parada
respiratória. O veneno desse gênero possui elevada toxicidade neurotóxica e miotóxica.
Os acidentes elapídicos geralmente não causam manifestações locais significativas,
porém, as sistêmicas são graves: vômitos, sialorreia, ptose palpebral, dilatação das
pupilas (midríase), sonolência, perda de equilíbrio, fraqueza muscular, paralisia flácida
que pode evoluir comprometendo a musculatura respiratória, causando insuficiência
respiratória aguda e parada respiratória. Todos os casos devem ser considerados
potencialmente graves

Segundo as últimas diretrizes de Primeiros Socorros da American Heart Association


e Cruz Vermelha Americana, em 2005 passou-se a recomendar a aplicação de uma
bandagem elástica enrolada com firmeza ao redor de toda a extremidade (braço ou
perna) mordida por serpente do gênero Micrurus. Esse procedimento já demonstrou que
pode reduzir a incorporação de veneno proveniente de um acidente ofídico relacionado
à família Elapidae (coral). O tratamento específico consiste na administração do soro
antielapídico, via endovenosa.

Gênero Lachesis (surucucu)

Figura 47. Lachesis muta rhombeata.

Fonte: <www.fiocruz.br>.

76
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

As serpentes desse gênero vivem em regiões de matas fechadas, como floresta Amazônica
e mata Atlântica, tornando os acidentes raros. São consideradas as maiores serpentes
peçonhentas das Américas, podendo atingir 3,5m.

Os sinais e sintomas do envenenamento são semelhantes ao acidente botrópico, porém,


acrescidos de tontura, escurecimento visual, hipotensão arterial, bradicardia, cólicas
abdominais e diarreia (síndrome vagal). Os acidentes por mordida de surucucu são
considerados moderados ou graves, a depender do porte do animal e a quantidade de
peçonha injetada.

Se a serpente puder ser identificada, o tratamento é a administração do soro específico


(antilaquético), via endovenosa. Caso contrário, poderá ser administrado soro
antibotrópico-laquético.

Quadro 1. Resumo geral do quadro clínico de acidentes causados por serpentes dos gêneros Bothrops,

Crotalus,Lachesis e Micrurus.

Adaptado de <www.cevap.org.br>.

Acidente aracnídico

Normalmente, a picada será tratada como qualquer ferimento. O auxílio médico só


é necessário se o prurido ou dor durarem mais de 2 dias, houver sinais de infecção
no local, desenvolvimento de reação alérgica ou se o aracnídeo pertencer a um dos
três gêneros de aranhas peçonhentas e de importância médica que existem no Brasil:
Phoneutria spp (aranha armadeira, várias espécies), Loxosceles (aranha marrom,
várias espécies) e Latrodectus (viúva negra, 3 espécies ocorrendo no Brasil, sendo a
Latrodectus curacaviensis a mais comum).

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UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Gênero Phoneutria (aranha armadeira)

Figura 48. Phoneutria nigriventer

Fonte: Instituto Butantan

A armadeira é responsável pelo maior número de acidentes no Brasil, por ser uma
aranha muito comum e extremamente agressiva. Não faz teia, é encontrada em
bananeiras, folhagens, entre madeiras, pedras empilhadas e no interior das residências.
Tem coloração marrom-escura ou acinzentada, com manchas claras formando pares no
dorso do abdome e atinge até 12 cm de diâmetro.

Nos acidentes com armadeiras (foneutrismo) predominam as manifestações locais. A


dor é imediata e geralmente intensa, podendo irradiar para a raiz do membro acometido.
Ocorre edema, vermelhidão, sensação de anestesia e sudorese (transpiração) no local
da picada, onde podem ser encontradas duas marcas em forma de pontos. Nos casos
graves, geralmente restritos às crianças, registram-se sudorese, náuseas, vômitos,
diarreia, priapismo (ereção involuntária e dolorosa do pênis), hipertonia muscular,
hipotensão arterial, choque e edema agudo de pulmão.

O tratamento é sintomático e nos casos mais graves está indicada a soroterapia


específica.

Gênero Loxosceles (aranha marrom)

Figura 49. Loxosceles gaucho

Fonte: Instituto Butantan

78
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

A aranha marrom é pequena (4cm), possui hábitos noturnos e tem comportamento


pouco agressivo. É encontrada em pilhas de tijolos, telhas e no interior das residências,
atrás de móveis, cortinas e eventualmente em roupas. A picada geralmente ocorre
quando a aranha é comprimida contra o corpo da vítima, quando ela se veste ou se deita.
Não produz dor imediata e o local da picada é quase sempre imperceptível. No entanto,
posteriormente, evolui com uma ferida de difícil cicatrização, necessitando, muitas
vezes, de correção cirúrgica (enxerto). O acidente loxoscélico representa a forma mais
grave de araneísmo no Brasil, ocorrendo particularmente no Paraná e Santa Catarina.

A evolução mais frequente é a forma “cutânea” (87% a 98% dos casos): a manifestação
local se acentua nas primeiras 24 – 72 horas, podendo ocorrer edema, calor e rubor,
com ou sem dor em queimação, inchaço duro e aparecimento de bolha com conteúdo
seroso; aparece um ponto de necrose central (escuro); surgem outros sinais e sintomas
como febre, mal-estar geral e ulceração local.

Na forma “cutâneo-visceral” (mais grave), além do quadro descrito acima, entre 12 e


24 horas após a picada podem surgir manifestações clínicas de hemólise intravascular
(anemia, icterícia e hemoglobinúria), cefaleia, náuseas, vômitos, urina escura (cor de
coca-cola), volume urinário diminuído significativamente e insuficiência renal aguda
(principal causa de óbito no loxoscelismo).

O acidente loxoscélico é classificado em leve, moderado e grave. O tratamento consiste


em antissepsia, curativo local, uso de compressas frias, corticoides e antibióticos,
além de administração de soroterapia específica (soro antiloxoscélico) conforme a
necessidade do caso.

Gênero Latrodectus (viúva negra)

Figura 50. Latrodectus geometricus

Fonte: Instituto Butantan

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UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Figura 51. Latrodectus curacaviensis

Fonte: Instituto Vital Brasil

Possui um corpo negro (ou marrom) e brilhante, pernas finas e uma marca vermelha
ou alaranjada em seu abdome, normalmente na forma de uma ampulheta ou de dois
triângulos. É encontrada em áreas secas, isoladas e com pouca luz; elas constroem
teias irregulares e extremamente fortes. No Brasil, duas espécies são responsáveis por
acidentes, que ocorrem do Sul até o litoral do Rio de Janeiro.

O veneno da viúva negra é de elevada toxicidade, o mecanismo da sua peçonha é


neurotóxico. Além dos sinais e sintomas gerais das picadas, podemos encontrar outros
sinais e sintomas importantes: pequenas marcas vermelhas de presas, espasmos
musculares graves (especialmente nos ombros, nas costas, no peito e no abdome,
que se iniciam dentro de 1 a 4 horas após a picada), febre e calafrios, dor de cabeça e
tontura, náuseas e vômitos, irritabilidade, insônia, aumento da pressão arterial, parada
cardiorrespiratória etc.

O tratamento consiste na administração da soroterapia específica, uso de analgésicos


sistêmicos, sedativo, monitorização dos sinais vitais e suporte cardiorrespiratório, se
necessário. Os demais procedimentos são utilizados de acordo com a sintomatologia.

Observação – as aranhas tarântula e caranguejeira não representam risco de saúde


pública. Tais aranhas causam mais danos “psicológicos” por seu aspecto assustador e
por serem de grande porte. O veneno não tem importância médica nos acidentes com
seres humanos, embora algumas pessoas possam desenvolver reação dermatológica e
alérgica devido ao contato com os pelos.

Figura 52. Caranguejeira

Fonte: Instituto Butantan

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SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Acidente escorpiônico

Os acidentes com escorpiões são menos frequentes do que com aranhas, pois eles são
pouco agressivos (picam para se defender) e têm hábitos noturnos. A visão é pouco
desenvolvida, orientam-se pela vibração do ar e do solo e localizam suas presas pelo
tato. São facilmente encontrados em pilhas de madeira, sob cascas de árvores, pedras,
troncos, tijolos, cupinzeiros, entulhos, dentro das residências, no interior de sapatos e
botas.

No Brasil existem acima de 50 espécies de escorpiões, mas somente o gênero Tityus


tem interesse médico. Das espécies que merecem maior atenção destacam-se o Tityus
serrulatus (escorpião amarelo) e Tityus bahiensis (escorpião marrom).

Figuras 53 e 54. Tityis serrulatus, Titus bahiensis

Fonte: Instituto Butantan

O escorpião amarelo é o responsável pela maioria dos casos graves em nosso meio,
especialmente nos acidentes envolvendo crianças. O veneno está localizado em uma
pequena bolsa situada antes do ferrão, ao final da cauda. O ferrão (aguilhão) perfura e
inocula o veneno na vítima.

O veneno é potente e neurotóxico. O quadro clínico do escorpianismo manifesta-se por


dor local de intensidade variável (pode chegar a ser insuportável), em queimação ou
agulhada, irradiando para o membro afetado. Parestesia (sensação de formigamento
ou dormência) também é referida no local da picada. Nos acidentes moderados e
graves, principalmente em crianças, podem surgir manifestações sistêmicas, tais como
sudorese profusa, tontura, visão turva, tremores, espasmos musculares, confusão
mental, hiper ou hipotermia, sialorreia, náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia,
priapismo (ereção dolorosa e involuntária do pênis) e convulsões. Podem ocorrer
ainda arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca
congestiva, taquipneia, dispneia, edema agudo de pulmão, choque, coma, parada
respiratória e cardíaca.

81
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Os acidentes podem ser classificados como leves, moderados e graves. O tratamento


inclui medidas gerais de suporte e administração da soroterapia específica (soro
antiescorpiônico) ou soro antiaracnídico.

Observação – as condutas gerais de primeiros socorros para picadas de aranhas e


escorpiões são as mesmas seguidas no acidente ofídico. Quando a vítima for criança,
pessoa idosa ou com a saúde debilitada, sempre encaminhar para o hospital.

Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2.


ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001.

<http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/manu_peconhentos.pdf>.

Acidentes com animais peçonhentos.

<http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/cidadao/temas-de-saude/
animais_peconhentos.pdf>

<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/
svs/acidentes-por-animais-peconhentos>

Emergência especial: o choque anafilático

Essa é uma emergência médica prioritária, ocorrência grave, causada por uma reação
alérgica intensa, de hipersensibilidade (geralmente a picadas de insetos – abelhas,
vespas – alimentos ou medicamentos). A reação anafilática ocorre em questão de
segundos ou minutos após o contato com a substância a que a vítima é alérgica.

Entre aqueles que morrem de choque anafilático, 60% a 80% morre por não conseguir
respirar (em virtude do edema de vias aéreas) e 25% morre da própria condição
circulatória do choque.

Alguns sinais e sintomas característicos incluem pele avermelhada, com prurido


generalizado ou queimação, placas semelhantes à urticária em relevo; edema na face,
língua e glote; respiração ruidosa e difícil (devido ao edema das cordas vocais); sensação
dolorosa de aperto no peito; tosse e espirro; náuseas, vômitos, cólicas abdominais e
diarreia; hipotensão arterial, pulso filiforme, tontura, palidez e cianose; inquietação,
desmaio, convulsões e coma; parada cardiorrespiratória e morte.

O socorrista deve providenciar o transporte rápido da vítima ao hospital, desobstruir


as vias aéreas, afrouxar as roupas da vítima, iniciar a respiração de salvamento (se for
o caso) ou aplicar as manobras de RCP.

82
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Se a reação alérgica tiver ocorrido em virtude de picada de abelha, proceda também à


retirada do ferrão, cuidadosamente. Não utilize pinças ou os próprios dedos para “puxar”
o ferrão, pois assim a glândula (bolsa coletora) de veneno será espremida, injetando
uma quantidade maior de veneno na vítima. Retire o ferrão utilizando um canivete,
papel, cartão magnético, ou a própria unha (se estiver comprida), empurrando o ferrão
para cima. Utilize qualquer objeto que possa ser colocado rente à pele para “levantar o
ferrão”. Lave o local com água e sabão e aplique uma bolsa de gelo para aliviar a dor e
reduzir o edema.

Figura 55.

Imagens adaptadas de: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

83
CAPÍTULO 2
Queimaduras e choque elétrico

As queimaduras representam um tipo de trauma comumente encontrado, envolvendo


principalmente as crianças e o ambiente domiciliar. As lesões são produzidas por ação
de agentes físicos térmicos (calor ou frio), tais como fogo, vapores, eletricidade, gelo;
por irradiação (raios solares); ou agentes químicos, como ácidos ou soluções básicas
fortes (soda cáustica).

A profundidade da queimadura depende do elemento que a causou e do tempo que


a vítima ficou exposta. Qualquer queimadura, mesmo a mais simples queimadura
solar, poderá complicar e até levar a vítima a um estado de choque, portanto merece
tratamento cuidadoso.

Leia mais sobre o assunto acessando:

Cartilha para Tratamento de Emergência das Queimaduras – Ministério da Saúde

<http://sbqueimaduras.org.br/wp/wp-content/uploads/2013/04/Cartilha_
MS_2012.pdf>

<http://www.who.int/surgery/publications/Burns_management.pdf>

Queimaduras (Manual de Atendimento Pré-hospitalar – SIATE/PR)

<http://www.scribd.com/doc/6584336/Cap-21-Queimaduras>.

Uma das formas de classificar as queimaduras é verificando o grau de destruição celular


produzido (profundidade). São elas:

»» QUEIMADURA DE 1o GRAU – a lesão ocorre apenas na camada mais


externa da pele, ou seja, a epiderme. É o tipo mais comum de queimadura
e pode ser causada por uma simples exposição prolongada ao sol. Os sinais
e sintomas incluem edema e vermelhidão da pele, hipersensibilidade e
ardor, que se iniciam quase que imediatamente no caso de agentes físicos
serem sua causa, podendo se intensificar até 12 a 48 horas, pela ação de
agentes inflamatórios.

84
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Queimadura de primeiro grau

Figura 56.

Imagem adaptada de: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

Como proceder?
Afaste a vítima de perto da fonte causadora da queimadura, resfrie o local com água fria
ou pano úmido e proteja o local atingido. Ofereça líquidos à vítima.

QUEIMADURA DE 2 o GRAU – atinge a epiderme e a derme, sendo mais dolorida e


facilmente identificada, porque provoca a formação de flictenas (bolhas).

Figura 57. Queimadura de segundo grau

Fonte: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

Os sinais e sintomas mais importantes são a dor (hipersensibilidade), presença de


flictenas, edema e umidade. Na ocorrência de muitas bolhas ou lesões extensas, poderá
haver a perda importante de líquido e plasma nessas áreas, podendo haver também a
formação de cicatrizes. O tratamento dermatológico deverá ser considerado.

85
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Como proceder?

Utilizar água fria em abundância, para resfriar apenas o local afetado.

Não furar as bolhas porque elas protegem o local contra infecção e aceleram o processo
de cicatrização. Não tentar retirar coisa alguma que esteja grudada à pele (por exemplo,
roupas).

Não aplicar pomadas, líquidos, cremes, pastas dentais ou qualquer outra substância
sobre a queimadura. Proteger o local atingido e encaminhar a vítima ao atendimento
médico o mais breve possível.

Figura 58. Resfriar a queimadura.

Fonte: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

Cobrir a queimadura com uma bandagem de preferência estéril

Figura 59.

Fonte: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

86
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

QUEIMADURA DE 3o GRAU – ocorre a destruição de todas as camadas da pele,


atingindo também gordura, músculos, tendões e até órgãos internos, podendo trazer
risco iminente de morte. Esse tipo de queimadura exige extrema atenção e cuidados por
parte do provedor de saúde.

Figura 60. Queimadura de terceiro grau.

Fonte: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

Os sinais e sintomas incluem a destruição da epiderme, derme e tecido subcutâneo,


podendo apresentar coloração branca, avermelhada, escura ou carbonizada (necrose).
É indolor, porque a queimadura destrói os receptores e terminações nervosas nas
estruturas afetadas, sendo dolorosa a área circundante que sofre queimadura de
segundo ou primeiro grau.

Como proceder?

Siga as mesmas regras para as queimaduras de 2° grau. Se a vítima estiver com as roupas
em chamas, abafe o fogo com um cobertor ou algo similar; deite a vítima, colocando a
cabeça e o tórax mais baixos que o corpo. Cubra o local atingido com pano limpo, de
preferência compressa ou gaze estéril, embebida em vaselina estéril. Monitore os sinais
vitais e transporte a vítima para o hospital o mais rápido possível.

Primeiro atendimento em queimaduras: a abordagem do dermatologista

<http://www.anaisdedermatologia.org.br/public/artigo.aspx?id=5>.

87
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

QUEIMADURAS ELÉTRICAS – lesões induzidas pela passagem de corrente elétrica


pelo corpo de uma pessoa que, dependendo da intensidade da corrente, da resistência,
da voltagem e do tempo de exposição, podem ser mais, ou menos graves. Algumas
literaturas classificam a queimadura produzida por corrente elétrica como sendo de
quarto grau.

Os sinais e sintomas dependem do tipo da lesão e das circunstâncias, podendo surgir


ferimentos incisivos isquêmicos, carbonizados, deprimidos ou amarelo-esbranquiçados.
O ferimento de entrada da corrente geralmente é pequeno e mascara uma lesão tecidual
profunda. O ferimento de saída pode ser do tamanho do de entrada ou maior.

Como proceder?
Evite o contato direto com a vítima se ela ainda estiver sofrendo o choque elétrico;
procure desligar a fonte de energia e se não for possível, afaste-a da fonte da corrente,
utilizando um mau condutor de energia, como madeira, pedaços de tecidos fortes,
luvas. Mantenha a vítima deitada.

Figura 61.

Fonte: <http://www.anatomyatlases.org>.

Eventualmente a vítima sofre parada cardiorrespiratória, portanto esteja preparado


para iniciar as manobras de suporte básico de vida. Se não for o caso, monitore os sinais
vitais e proceda aos cuidados para queimaduras e prevenção do estado de choque.
Encaminhe a vítima para o hospital o mais rápido possível.

QUEIMADURAS QUÍMICAS – são lesões teciduais resultantes de contato químico,


geralmente relacionado ao ambiente de trabalho ou doméstico. Essas queimaduras
podem se tornar significativamente graves até que o produto seja inativado ou sua ação
interrompida. As queimaduras químicas podem ser ácidas ou alcalinas (básicas) e os
sinais e sintomas variam de acordo com a substância agressora.

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SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

Ambas as queimaduras causam dor, mas, de um modo geral, as queimaduras ácidas


causam necrose de coagulação, produzindo escaras e úlceras. As queimaduras alcalinas
são mais graves, porque penetram profundamente na pele e permanecem ativas por longo
período. Exemplo de produto químico básico: hidróxido de sódio – NaOH (soda cáustica).

Como proceder?
Remova toda a roupa ou objetos contaminados de perto da vítima. Lembre-se da sua
segurança pessoal, ao tocar na vítima. Dependendo da substância química, poderá ser
feita a lavagem da região afetada com água abundante e contínua. Em casos de contato
com produtos químicos em pó, limpe a pele antes de molhá-la, para evitar a ativação
da substância. De acordo com as orientações da Sociedade Brasileira de Queimaduras,
no caso de queimaduras produzidas por líquidos é recomendável lavar a área com água
corrente e abundante por pelo menos 30 minutos.

Monitore os sinais vitais, procure identificar a substância causadora e encaminhe a


vítima imediatamente para um serviço de pronto-atendimento.

Jamais tente neutralizar a substância, porque a neutralização de uma substância é uma


reação que produz calor, podendo causar danos adicionais à vítima.

Outra forma de classificar as queimaduras é em relação à Superfície Corporal Queimada


(SCQ). Existem várias classificações para o cálculo da Área Total de Superfície Corporal
Queimada (ATSQ), sendo a “Regra dos Nove”, proposta por Wallace, a mais empregada.

Figura 62. Regra dos Nove para adultos

Fonte: <http://www.media.photobucket.com>.

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UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Figura 63. Regra dos Nove para crianças.

Fonte: <http://www.media.photobucket.com>.

Para aprofundamento do assunto, acesse:

<http://www.saj.med.br/uploaded/File/artigos/Queimados.pdf>.

Lembre-se que o melhor “tratamento” para as queimaduras é a PREVENÇÃO!

90
CAPÍTULO 3
Afogamento

De acordo com David Szpilman, médico especialista e uma referência na área de


afogamento, após a realização do Congresso Mundial de Afogamento, em 2002, na
Holanda, a definição do termo afogamento foi modificada, devido à grande confusão da
palavra na língua inglesa (drowning: vítimas que faleciam em até 24 horas). Define-se
por afogamento a aspiração de líquido não corporal por submersão ou imersão. Uma
sufocação (asfixia) após imersão em meio líquido.

Aula sobre Afogamento para Profissionais de Saúde – David Szpilman

<http://www.szpilman.com/aulas/aulas.htm>.

O afogamento é a terceira causa mais comum de morte acidental; 40% ocorrem


com crianças abaixo de quatro anos de idade. Entre elas, os locais mais comuns de
afogamento são as piscinas e banheiras.

Diversas causas levam ao acidente de submersão: indivíduo que não sabe nadar e se vê
em situação que envolva meio líquido, que cansa ou tem câimbras, indivíduo cardiopata
que tem infarto; o que usa álcool antes de entrar na água; o epiléptico que tem crise
convulsiva na água e o que mergulha em águas rasas, entre outras.

Nos acidentes por submersão, independentemente da causa, o fator principal que leva
o indivíduo à morte é a hipoxia.

Inicialmente, a vítima em contato com a água prende voluntariamente a respiração e


faz movimentos com todo o corpo, tentando desesperadamente nadar ou agarrar-se a
alguma coisa. Nessa fase, pode haver aspiração de pequena quantidade de água que, em
contato com a laringe, por reflexo parassimpático, promove constrição (fechamento)
das vias aéreas superiores. Em10% a 15% dos casos, esse laringoespasmo é tão severo
que impede a entrada de água e ar no trato respiratório, até que a vítima seja resgatada
ou perca a consciência e morra, “afogamento seco”. As vítimas que não aspiram líquidos
geralmente respondem melhor ao tratamento, quando resgatadas a tempo.

Após essa fase inicial, se não ocorrer o salvamento, a vítima atingirá seu limite e
fará movimentos respiratórios involuntários, aspirando grande quantidade de água.
(“Afogamento molhado”: associado à aspiração de líquido, tem pior prognóstico e
representa 85% dos afogamentos fatais). Essa entrada de grande quantidade de água

91
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

nos pulmões piora a constrição das vias aéreas. Ocorre diminuição da capacidade
de expansão pulmonar, além de impedir a troca gasosa normal. Os movimentos
diafragmáticos involuntários aumentam a aspiração de líquidos e os movimentos de
deglutição, causando distensão do estômago e vômitos na sequência. Ocorre inundação
total dos pulmões com perda de consciência, parada respiratória (apneia) e consequente
morte.

As pessoas idosas, as que se debatem na água, que sofreram lesões, que ficaram
submersas por um longo período e que estão em águas quentes, sujas ou salgadas estão
entre as vítimas que apresentam os piores prognósticos.

Observação – há uma diferença significativa entre afogamentos em água quente e em


água gelada. Quando a pessoa mergulha em água gelada (abaixo de 20ºC), a respiração
é inibida, a frequência cardíaca diminui e os vasos sanguíneos, na maior parte do corpo,
se contraem. Entretanto, o fluxo sanguíneo para o coração e para o cérebro é mantido.

Desse modo, o oxigênio é enviado e usado apenas onde é imediatamente necessário


para a manutenção da vida. Quanto mais gelada a água, mais oxigênio é desviado para o
coração e o cérebro. Em águas com temperatura igual ou inferior a 20ºC, as necessidades
metabólicas do corpo são apenas a metade do normal. Alguns pesquisadores sugerem
que a sobrevivência em água gelada se deve à hipotermia, que diminui o metabolismo e
reduz a necessidade corporal de oxigênio.

Existem casos de vítimas que foram ressuscitadas após ficarem submergidas em águas
geladas com parada cardíaca em períodos iguais ou superiores a 30 minutos.

Como regra, qualquer vítima sem respiração, sem pulso e que estava submersa em
águas geladas deve ser reanimada.

Alguns especialistas aconselham realizar a ressuscitação em toda vítima de afogamento,


independentemente da temperatura da água – mesmo naquelas que ficaram por um
longo período na água.

Classificação do afogado
Resgate: paciente tem tosse e falta de ar.

»» Grau I: paciente lúcido, apresentando tosse seca. Inicialmente o paciente


está taquicárdico e taquipneico, mas melhora rapidamente à medida que
se acalma. Não há aspiração pulmonar significativa. O tratamento na cena
do acidente consiste em repouso, aquecimento da vítima e oferecimento
de oxigênio.

92
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

»» Grau II: lucidez ou agitação. Elevação moderada das frequências


respiratória e cardíaca. Vítima com taquipneia, sem grande dificuldade
respiratória. Há presença de tosse e vômitos. Existe pequena quantidade
de espuma na boca e no nariz. Óbito em 0,6% dos casos.

»» Grau III: vítima agitada e pouco colaborativa devido à falta de oxigênio.


Frequência cardíaca e ventilatória elevadas e grave dificuldade
respiratória, muitas vezes com cianose. Ocorre tosse com espuma
esbranquiçada ou rósea em quantidade. A mortalidade acontece em cerca
de 5,2% dos casos.

»» Grau IV: semelhante ao Grau III, porém, o pulso radial está fraco ou
ausente (sinais de choque). Óbito em 19,4% dos casos.

»» Grau V: presença de parada respiratória. Óbito em 44% dos casos.

»» Grau VI: presença de parada cardiorrespiratória. Óbito em 93% dos casos.

Algoritmo de Afogamento Avançado (área de saúde):

<http://www.szpilman.com/biblioteca/recomendacoes_em_afogamento.htm>

Salvamento

Lembre-se que a segurança de quem faz o salvamento é o principal cuidado inicial.

Sempre se deve suspeitar de lesão na coluna cervical em vítimas inconscientes por


afogamento em águas rasas, portanto, deve-se proceder à imobilização adequada para
a sua retirada, sempre que possível.

O salvamento deverá ser realizado, de preferência, sem a entrada do prestador de


socorro na água. Ele deve jogar algum objeto para a vítima (consciente) se apoiar: corda,
boia, colete salva-vidas, prancha de surfe, bola de futebol, pneu, remo, galho, toalha, ou
outro objeto resistente, que não irá se romper. Uma vez que a vítima tenha agarrado o
objeto, deve ser puxado para a margem.

Se a vítima estiver inconsciente ou longe demais para ser alcançada com uma corda, o
prestador de socorro deverá ir até ela.

Atenção! O prestador de socorro apenas entra na água se souber nadar muito bem,
ou tenha recebido treinamento em técnicas de resgate aquático; se estiver vestindo
equipamento pessoal de flutuação; se estiver acompanhado por outros socorristas. O

93
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

socorrista deve estar preparado para o salvamento de vítimas em pânico. Lembre-se


da segurança em primeiro lugar. Se o socorrista não estiver apto, deve marcar o lugar
do afogado e procurar socorro. Somente em último caso, deve-se tentar ir até a vítima.

Deve-se remover a vítima da água o mais rápido possível. O socorrista deve ficar sempre
atento à sua segurança pessoal durante o resgate e solicitar auxílio.

Sempre suspeitar de lesão medular se a vítima estiver envolvida em um acidente


de mergulho. Deve-se também suspeitar desse tipo de lesão em qualquer nadador
inconsciente, especialmente em águas rasas.

No caso de possível lesão medular, o objetivo é sustentar as costas da vítima e estabilizar


a cabeça e o pescoço enquanto outros cuidados são administrados. Sempre deixar a
cabeça e o pescoço no mesmo nível das costas.

Se não houver suspeita de lesão medular, colocar a vítima em posição lateral de


segurança, de modo que água, vômito e secreções possam ser drenadas das vias aéreas
superiores.

Executar a avaliação primária e dar início ao C, A e B. Na ausência de respiração,


desobstruir as vias aéreas imediatamente e começar a respiração de salvamento.

Observações:

1. Água nas vias aéreas pode causar resistência à respiração. Após a


verificação da ausência de corpos estranhos nas vias aéreas, aplicar a
respiração de salvamento com mais força até ver o tórax da vítima subir
e descer.

2. Não tentar retirar a água dos pulmões ou do estômago! A utilização da


manobra de Heimlich para esvaziar o estômago distendido só aumenta o
risco de aspiração pulmonar. A manobra só deve ser utilizada se houver
suspeita de obstrução de vias aéreas superiores por corpos estranhos.

3. Se não houver pulso, começar imediatamente as compressões torácicas


(RCP). Prosseguir com a reanimação até a chegada da equipe de
emergência, ou a recuperação da vítima.

4. Caso a vítima esteja inconsciente, mas com respiração espontânea


presente, colocá-la em posição lateral de segurança, a fim de evitar
broncoaspiração, especialmente se apresentar vômitos.

94
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

5. Aquecer a vítima, secando-a e cobrindo-a com cobertores ou toalhas.


Todas as vítimas de afogamento, mesmo aquelas que só necessitaram
de mínimo auxílio, devem ser submetidas à avaliação médica, mesmo
quando se acredita que o perigo já passou. Às vezes a lesão pulmonar
ocorre horas após o episódio de submersão, e a vítima poderá morrer
em até 3 ou 4 dias após o acidente (aproximadamente 15% das mortes
por afogamento ocorrem por complicações secundárias). Se necessário,
realizar manobras básicas de reanimação, desfibrilação e procedimentos
de suporte avançado.

95
CAPÍTULO 4
Considerações sobre o trauma

As lesões sempre foram uma ameaça ao bem-estar público, mas, até a metade
do século XX, as doenças infecciosas obscureciam a terrível contribuição de
traumas para a morbidade e mortalidade humanas. O sucesso da saúde pública
em outras áreas transformou o trauma em uma grave preocupação da saúde
pública, que tem sido chamada de “a epidemia negligenciada”. (CHRISTOFFEL;
GALLAGHER, 1999, apud NAEMT, 2007)

O trauma é uma “doença” da sociedade moderna que resulta em perdas de vidas


humanas, incapacidade física e consideráveis problemas de ordem social e econômica.
A palavra trauma vem do grego, traûma e significa ferida.

Tendo como princípio que a maioria dos “acidentes” poderia ser evitada, faz sentido a
expressão “é melhor prevenir do que remediar”. Sob esse ponto de vista, o trauma deve
ser encarado como doença, ao invés de mero “evento acidental”. A educação em saúde
e prevenção ocupam um papel importantíssimo na redução de sequelas, mortalidade
da população e inestimáveis gastos do sistema de saúde com internação hospitalar e
reabilitação consequentes à epidemia globalizada do trauma (ou causas externas).

Em 1966, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (National Academy


of Sciences) publicou um trabalho que se tornou referência no desenvolvimento dos
sistemas modernos de atendimento ao traumatizado, reconhecendo que “a longo prazo,
a solução para o problema do trauma é a prevenção”.

Accidental Death and Disability: The Neglected Disease of Modern Society.

<http://www.nap.edu/catalog.php?record_id=9978>.

No Brasil, estatísticas oficiais e dados do Ministério da Saúde revelam que o perfil


de mortalidade por trauma veio sofrendo modificações nos últimos anos. As mortes
por acidentes de trânsito, que anteriormente predominavam, foram superadas pelos
homicídios. O aumento da violência urbana e o uso de armamento pesado de alta
energia (disparando projéteis de maior energia cinética e, portanto, maior poder de
lesão tecidual) estão alterando significativamente as características dos ferimentos e
atendimento às vítimas. Assim, os hospitais dos centros urbanos das grandes capitais
estão, em certo sentido, desenvolvendo e praticando técnicas de medicina utilizadas
nas guerras.

96
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

A violência interpessoal, os acidentes de trânsito, as quedas e os acidentes de trabalho


constituem as causas mais comuns de mortalidade por causas externas (trauma) entre
a ampla faixa etária de 1 a 44 anos de idade, sendo os homens adultos jovens os mais
vulneráveis a sofrerem traumatismos, especialmente em relação às agressões. O trauma
ocupa hoje a terceira causa geral de morte na população brasileira, superado apenas
pelas doenças cardiovasculares e neoplasias.

Projeto Trauma 2005-2025

<http://www.cbc.org.br/upload/pdf/comissoes_trauma_projetotrauma.pdf>.

Conforme estudamos na primeira unidade, após avaliar a cena e tomar as devidas


medidas de segurança, prosseguimos a avaliação inicial da vítima em ordem de
prioridade:

a. via aérea (manutenção da permeabilidade das vias aéreas com controle


da coluna cervical);

b. ventilação (verificação da respiração e administração de oxigênio para a


vítima traumatizada);

c. circulação (verificação do estado circulatório, pulso, presença e controle


de hemorragias);

d. incapacidade (avaliação do estado neurológico e determinação do nível


de consciência);

e. exposição (remoção das roupas e avaliação completa do paciente, com


controle do ambiente e prevenção da hipotermia).

A instabilidade hemodinâmica na vítima de trauma é geralmente ocasionada por


uma perda sanguínea significativa e, portanto, o socorrista deverá identificar e
tratar prontamente a hemorragia externa. Para o doente que apresenta hemorragia
interna, nada poderá ser feito no atendimento pré-hospitalar, no sentido de estancar
o sangramento. A vítima necessitará ser encaminhada rapidamente ao hospital de
referência equipado com recursos humanos e materiais, pois o controle da hemorragia
é potencialmente cirúrgico.

97
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Hemorragia
A hemorragia externa pode ser classificada em três tipos.

1. Hemorragia capilar: causada por escoriações que lesam minúsculos


vasos capilares situados abaixo da superfície da pele. O sangramento é
mínimo e geralmente terá cessado antes mesmo da chegada da equipe de
atendimento pré-hospitalar.

2. Hemorragia venosa: o sangramento é de coloração vermelho-escuro


(por ser pobre em oxigênio e rico em gás carbônico) e normalmente é
controlado mediante uma compressão moderada no local do ferimento.
Em geral não ameaça a vida, a não ser que a lesão seja grave ou o
sangramento não seja controlado.

3. Hemorragia arterial: o sangramento causado pelo rompimento de


uma artéria é o mais importante e também o mais difícil de ser controlado.
Caracteriza-se por um sangue de coloração vermelho-vivo e que ocorre
em jatos compassados com o ritmo cardíaco (o sangue jorra da ferida a
cada batimento do coração).

No caso de suspeita de hemorragia interna, os sinais e sintomas são evidenciados pela


síndrome do choque hemorrágico. O paciente encontra-se muitas vezes ansioso (sinal
de hipoxia cerebral) e com outras alterações de consciência, apresenta taquicardia,
taquipneia, hipotensão arterial, palidez cutânea (devido à intensa vasoconstrição
periférica), enchimento capilar lento ou ausente, hipotermia, sede etc. A vítima deve
ser tratada como em estado de choque, ter monitorados os sinais vitais e ser levado,
para o hospital imediatamente, pois se trata de uma emergência grave.

No controle da hemorragia externa, como primeira opção, o socorrista deverá aplicar


pressão manual direta sobre o ferimento (compressão local), de preferência utilizando
uma gaze, compressa estéril ou pano limpo.

Atenção! Se a compressa estiver muito encharcada, colocar outra por cima da


primeira e continuar mantendo a pressão. (O objetivo de não remover as primeiras
compressas é evitar a remoção dos coágulos formados e, com isso, aumentar novamente
o sangramento).

De acordo com a última edição do Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado


(PHTLS) (2007), o torniquete voltou a ser recomendado e, mais ainda, como segunda
opção para o controle de uma hemorragia externa que não pôde ser contida com a
pressão local. Isso é justificado pelo fato de que aproximadamente 99% das hemorragias

98
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

externas são contidas apenas com a compressão local. No passado era recomendada
a elevação do membro e a compressão sobre um ponto de pressão (pressão indireta
– na artéria próxima ao ferimento), como etapas intermediárias no controle das
hemorragias. Essas manobras não tiveram eficácia comprovada por meio de estudos,
pesquisas e dados convincentes, por isso não são mais recomendadas nas situações em
que a compressão direta não conseguiu controlar o sangramento.

Os torniquetes salvam vidas e devem ser aplicados imediatamente na extremidade


proximal do ferimento hemorrágico e apertados o suficiente para bloquear o fluxo arterial.
Não devem ser utilizados torniquetes estreitos e em faixa, devido à maior probabilidade
de causar danos aos vasos sanguíneos e nervos. O manguito do esfigmomanômetro
também pode ser adotado como alternativa ao torniquete.

Como improvisar um torniquete? Escolha um pedaço de pano com cerca de 10cm de


largura, coloque-o logo acima do ferimento e dê um primeiro nó, sem apertar. Um
bastão de madeira ou metal deve ser colocado sobre este primeiro nó, sendo feito um
segundo nó por cima. Agora basta torcer o bastão até que a hemorragia cesse e fixá-lo
no lugar. Antigamente, a orientação era para que o torniquete fosse afrouxado a cada
10 min, mas, em geral, um torniquete colocado no APH deve permanecer até que o
paciente chegue ao hospital. A exceção é em situações de transporte demorado (mais
de 2 horas).

O uso do torniquete deve ser usado para controlar hemorragias das


extremidades quando a aplicação de pressão direta não for eficaz ou
possível e se o prestador de primeiro socorros tiver treinamento no uso
de torniquete (AHA, 2010 p. 27).

Atualmente existem, nos EUA e em outros países, tecnologia e diversos dispositivos


desenvolvidos especialmente para conter hemorragias externas graves, tais como
torniquetes, bandagens especiais e outros produtos utilizados em medicina tática e
de combate, inclusive já disponíveis para uso com a população civil, aplicados pelos
profissionais dos sistemas de emergências médicas.

Figura 64.

Fonte: <http://www.rescue-essentials.com>.

99
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

Conheça mais, visitando os links a seguir, com fotos e vídeos sobre o assunto:

<http://www.thetacticalmedic.com>.

<http://www.lifemedicalsupplier.com>.

<http://www.rescue-essentials.com>.

<http://www.delfimedical.com>.

<http://www.combattourniquet.com>.

O torniquete geralmente é o método de contenção escolhido para tratar o sangramento


profuso que ocorre com a amputação (avulsão) de um membro. Essa é uma lesão grave
em que ocorre a separação de um membro ou de uma estrutura do corpo. Pode ser
causada por objeto cortante, esmagamento ou força de tração. As amputações estão
frequentemente relacionadas a acidentes industriais e automobilísticos, tendo maior
prevalência em homens jovens.

O tratamento inicial deverá ser rápido e eficiente, pela gravidade da lesão e possibilidade
de reimplante do segmento amputado. O membro amputado deve ser preservado
sempre que possível, porém, a maior prioridade é a preservação da vida.

A amputação é classificada em três tipos:

»» amputação completa (total): o segmento é totalmente separado do corpo;

»» amputação parcial: o segmento desprendeu-se cerca de 50% do corpo;

»» desenluvamento: quando a pele e o tecido adiposo são arrancados sem


lesão do tecido subjacente.

Nas amputações parciais ou nas do tipo desenluvamento, a exposição das artérias


laceradas leva a sangramento importante.

Como proceder nos casos de feridas amputativas?

1. Controlar imediatamente a hemorragia – prioridade.

2. Tratar o estado de choque e prevenir a hipotermia.

3. Cuidar do segmento amputado:

100
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

›› limpar com solução de Ringer Lactato;

›› envolver o membro com gaze estéril umedecida ou compressa limpa;

›› proteger o membro amputado com saco plástico;

›› colocar o saco plástico em recipiente de isopor com gelo (de preferência


gelo moído); jamais colocar a extremidade em contato direto com o
gelo.

4. Transportar a parte amputada junto com o paciente para o hospital mais


apropriado e próximo.

Estado de choque

O choque é uma condição potencialmente letal que se caracteriza por redução


significativa da perfusão tecidual, resultando em inadequada oferta de oxigênio aos
tecidos.

Os tipos mais comuns de choque são:

»» hipovolêmico

»» cardiogênico

»» séptico

»» neurogênico

Existe ainda o choque anafilático que já foi comentado no capítulo de acidentes com
animais peçonhentos. Iremos abordar agora somente o choque hipovolêmico e de causa
hemorrágica, uma vez que estamos falando do paciente vítima de lesão traumática.

A hipovolemia pode ser decorrente de desidratação (perda de plasma, líquidos e


eletrólitos) ou de hemorragia (perda de plasma e hemácias), sendo a perda rápida de
sangue (choque hemorrágico) a sua principal causa no paciente traumatizado.

No primeiro estágio do choque, o organismo ainda consegue manter o equilíbrio por


meio dos mecanismos compensatórios, a perfusão sanguínea dos órgãos é mantida e
os sinais e sintomas são mínimos. A queda na pressão arterial marca a mudança do
choque compensado para descompensado. Com a intensa vasoconstrição e a hipotensão
arterial, ocorre também uma diminuição da intensidade dos pulsos periféricos, que se
tornam fracos e de difícil palpação.

101
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

O paciente, que está chocado por hipovolemia, apresenta os seguintes sinais e sintomas:
agitação, ansiedade (sinais de hipoxia cerebral), posteriormente cansaço, sonolência,
confusão mental, taquicardia e pulso filiforme, respiração curta, rápida e superficial,
hipotensão arterial, náusea, sede, sudorese, pele fria, pálida e úmida, câimbras, mucosas
esbranquiçadas, enchimento capilar lento (perfusão periférica maior que 2 segundos)
ou ausente, hipotermia, tremores, perda gradual da consciência, coma e morte.

Como proceder?

Tranquilizar a vítima, controlar hemorragias externas, prevenir a hipotermia com o


uso de cobertor térmico, elevar as pernas da vítima cerca de 30 cm do chão, monitorar
os sinais vitais, não oferecer líquidos e providenciar a remoção para o hospital mais
preparado para receber o doente.

Observação – o tratamento inicial, realizado pelo suporte avançado, é o estabelecimento


de 2 acessos periféricos calibrosos (jelco 14 ou 16) e início de infusão de cristaloides
aquecidos, sendo o soro Ringer Lactato a solução de primeira escolha.

Evisceração

É a protrusão de vísceras para fora da cavidade abdominal, como consequência de


incisão abdominal entreaberta ou pós-trauma. É um trauma relativamente comum,
ocasionado por armas brancas e acidentes automobilísticos.

O socorrista realizará um curativo do tipo oclusivo, da seguinte maneira: irrigar uma


compressa estéril com soro fisiológico e colocá-la por cima, cobrindo as vísceras
expostas. Em seguida, aplicar uma bandagem ou plástico protetor, fixando-o no lugar
com esparadrapo. É importante essa prevenção de contaminação, com a proteção
adequada dos órgãos eviscerados. Evite a manipulação das vísceras ou reintroduzi-las
para dentro da cavidade abdominal, pois esse procedimento será feito durante o ato
cirúrgico.

Objeto empalado

Se o traumatizado tiver algum objeto transfixado em seu corpo (geralmente madeira


ou metal), deve-se realizar curativo compressivo aplicando pressão em um dos lados
do objeto, e não sobre o objeto. O objetivo é controlar o sangramento e estabilizar o
objeto no local. Jamais remova o objeto, com risco de aumentar significativamente
a hemorragia, lesionar estruturas internas (como os nervos) e agravar ainda mais o

102
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

estado da vítima. O corpo estranho empalado será retirado posteriormente, em centro


cirúrgico.

Fratura

Embora sejam comuns no paciente traumatizado, as lesões de extremidades raramente


apresentam risco de morte imediato. Quando leva à acentuada perda sanguínea, o
trauma de extremidades pode pôr em risco a vida do paciente. Todo politraumatizado
deve ser imobilizado em prancha longa e o mais próximo possível da posição anatômica.

Não é responsabilidade do socorrista identificar o tipo de lesão em si (classificar as


fraturas), mas saber agir rapidamente, identificar e tratar as lesões que apresentem risco
de morte (por exemplo, existência de fraturas pélvicas e do fêmur) e, se tiver tempo,
estabilizar as lesões das extremidades. Lembre-se que o objetivo do exame primário é o
reconhecimento e tratamento imediato das lesões que impliquem risco à vida.

A quebra do tecido ósseo pode ser suspeitada se houver os seguintes sinais e sintomas:
dor (a menos que haja lesão de nervo), edema, deformidade (alterações na angulação com
elevação ou afundamento), crepitação, hematoma, hemorragia visível e comunicação
do osso com o meio externo, interrupção da função motora, alterações de sensibilidade,
temperatura e pulso no membro afetado.

Na fratura fechada, a pele encontra-se íntegra, pois não foi rompida pelo osso fraturado.
Já na fratura exposta (aberta), como o próprio nome diz, a integridade da pele foi
rompida pela extremidade óssea que perfurou a pele. O socorrista deve considerar
qualquer ferimento próximo de uma possível fratura como sendo uma fratura exposta
e tratá-la como tal.

Como proceder?

1. Realizar exame primário.

2. Realizar hemostasia (controle das hemorragias).

3. Tratar o choque.

4. No exame secundário, examinar os pulsos, coloração da pele, função


motora e sensibilidade do membro com suspeita de fratura.

5. Imobilizar adequadamente todo o membro, usando talas ou outros


materiais rígidos (a imobilização ajuda a conter a hemorragia e
proporciona alívio da dor).
103
UNIDADE III │ SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA

6. Após a imobilização, aplicar bolsa de gelo ou compressa fria no local pode


ajudar a reduzir a dor e o edema.

7. Movimentar o membro lesado o mínimo possível.

8. Na maioria das vezes, a fratura é imobilizada na posição em que é


encontrada. Se o membro estiver sem pulso, ou o paciente não puder ser
transportado por causa da posição incomum do membro, o socorrista
pode tentar realinhá-lo delicadamente, trazendo o membro à posição
anatômica. Se houver resistência ou dor intensa, a tentativa deverá ser
abandonada. É importante ressaltar que o fato de imobilizar o membro
na posição normal melhora a dor e a circulação.

9. O socorrista não deve tentar “recolocar os ossos no lugar”, especialmente


quando se trata de fraturas expostas.

10. Cobrir com curativo estéril as feridas abertas ou extremidades ósseas


expostas.

11. Remover joias e relógios (esses objetos podem prejudicar a circulação,


quando o edema aumentar).

12. Verificar pulso, sensibilidade e cor do membro, antes e após realizar a


imobilização.

Traumatismo craniano

O Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE) ou Lesão Cerebral Traumática (LCT) contribui


significativamente para a morte de vítimas de trauma. As colisões automobilísticas
continuam sendo a principal causa desse tipo de lesão em pessoas com idade inferior a
65 anos. Já no idoso, as quedas são responsáveis pela principal causa de TCE.

O TCE é a lesão do crânio e (ou) encéfalo com intensidade, extensão e gravidade que
podem variar e ser consequência de vários agentes, como colisões automobilísticas,
atropelamentos, quedas de grande altura, agressões físicas.

Os indivíduos podem sofrer muitos tipos de traumatismos crânio-encefálicos como,


por exemplo, fraturas, concussões, contusões, lacerações cerebrais e hematomas
intracranianos.

As fraturas cranianas podem lesar artérias e veias, provocando sangramento nos espaços
em torno do tecido cerebral. O líquido cefalorraquidiano (líquor), que circula entre

104
SITUAÇÕES ESPECIAIS E ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA │ UNIDADE III

o cérebro e as meninges, pode sair pelo nariz (liquorreia) ou pelo ouvido (otorreia).
Ocasionalmente, por meio dessas fraturas, ocorre invasão de bactérias no crânio,
causando infecção e lesão cerebral graves.

Figura 65.

Imagens adaptadas de: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/encyclopedia.html>.

Sinais de reconhecimento do TCE: ferimento na cabeça, exposição óssea ou de massa


encefálica, alterações do nível de consciência (agitação, confusão mental, desorientação,
sonolência e coma), cefaleia, perda de líquor e (ou) sangue pelo nariz e ouvido (rinorreia
e otorreia, rinorragia e otorragia), dor, náusea e vômito em jato (devido à hipertensão
intracraniana), edema e hematoma periorbital (“sinal de guaxinim”), hematoma
retroauricular (“sinal de Battle”), hipo ou hipertermia, padrões respiratórios irregulares,
alterações pupilares (anisocoria), posturas anormais (decorticação ou descerebração),
possível incontinência urinária ou fecal, distúrbios visuais, alterações da fala e da
marcha, hemiparesia, convulsão etc.

Todo paciente com suspeita de traumatismo craniano deverá ser considerado como
possível portador de trauma raquimedular e vice-versa.

Dica: “Todo politraumatizado é um portador de lesão na coluna cervical, até que se


prove o contrário!”

A imobilização completa é imprescindível (prancha longa rígida, uso do colar cervical e


imobilizador lateral de cabeça). A vítima deverá ser manipulada por equipe especializada,
com as devidas técnicas e protocolos de atendimento ao traumatizado.

O socorrista deverá monitorar os sinais vitais e nível de consciência e, caso exista


extravasamento de fluidos pelo nariz e (ou) boca (sangue ou líquor), não deve tentar
contê-los.

105
Para (não) Finalizar

Como vimos, atendimento pré-hospitalar é toda assistência prestada, direta ou


indiretamente, fora do ambiente hospitalar, visando à manutenção da vida e (ou) à
minimização das sequelas. Esse suporte básico garante, por meio de medidas simples
adotadas pelo profissional de saúde, as funções vitais dos pacientes, evitando o
agravamento de suas condições.

E mais, medidas de urgência incluem a prestação de socorro adequado e com qualidade


nos casos de problemas cardiovasculares, neurológicos e obstétricos, assim como em
situações especiais como intoxicações, queimaduras, afogamento, entre outros.

Desnecessário afirmar o quanto é importante que o profissional que vai desempenhar


essa tarefa esteja apto a fazê-lo para garantir êxito ao seu trabalho.

Portanto, caro cursista, as informações técnicas apresentadas e as ações recomendadas


não se esgotam aqui. Há muitas fontes disponíveis para complementação de seus
estudos. Pesquise e aprofunde seus conhecimentos. Seu papel é imprescindível para
salvar vidas.

Para finalizar, reafirmamos as palavras de Fernando Barreiro:

A principal causa de morte fora dos hospitais é a falta de atendimento. A


segunda é o socorro inadequado. As pessoas morrem porque ninguém
faz nada e continuam morrendo porque alguém não capacitado resolveu
fazer algo.

Desejamos-lhe sucesso e aproveitamos para parabenizá-lo pela carreira que escolheu!

106
Referências

AHA – Destaques da American Heart Association – Atualização das diretrizes


de RCP e ACE. Guidelines, 2015. .Disponível em: <http://www.americanheart.org/>

BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2013 - Uma análise da situação de saúde
e das doenças transmissíveis relacionadas à pobreza. Disponível em: <http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2013_analise_situacao_saude.pdf>.
Acesso em: 30 dez. 2015.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução no 1.480, de 8 de agosto de 1997.


Disponível em: <http://www.geocities.com/fnasis/resolucao1480.html>.

_________. Comitê do PHTLS da National Association of Emergency Medical


Technicians (NAEMT) em colaboração com o Colégio Americano de Cirurgiões.
Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado: básico e avançado. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.

CEVAP – Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos – Centro Virtual de


Toxinologia (Unesp). Disponível em: <http://www.cevap.org.br>. Acesso em: 19 abr.
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FEBRACO. Urgências e emergências maternas. Guia para diagnóstico e condutas


em situações de risco de morte materna. Ministério da Saúde, 2000. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/urgencias%20e%20emergencias.
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GOLIN, Valdir; SPROVIERI, S. R. S. Condutas em urgências e emergências para


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GRUPO TÉCNICO DE EMERGÊNCIA. Curso de emergência médica e


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HAFEN, Brent Q. First Aid for Colleges and Universities. Seventh Edition, 1999.
INSTITUTO BUTANTAN. Disponível em: <http://www.butantan.gov.br>. Acesso em:
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INSTITUTO VITAL BRAZIL. Disponível em: <http://www.ivb.rj.gov.br>. Acesso em:


19 abr. 2009.

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REFERÊNCIAS

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REZENDE, J.; MONTENEGRO, C.A.B. Obstetrícia fundamental. 8. ed. Rio de


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