Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE
EFETIVIDADE EM
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA
MANUAL DA FORMAÇÃO
Página 0 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
ÍNDICE
Página 2 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 3 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 4 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
PREÂMBULO
O material produzido para este curso, promovido pela Ordem dos Psicólogos
Portugueses, teve por objetivo principal simplificar o que muitas vezes é apresentado
de forma demasiado complexa (e aborrecida), promovendo o desânimo de quem
começa a aventurar-se na linguagem e forma de pensar científicas.
Página 5 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Nesse sentido, é possível dizer que este manual corresponde a uma espécie de
manual ou sebenta cunhada pelo seu autor. E, também por isso, importa explicitar que
a minha formação de base é em psicologia clínica e da saúde, com formação em
psicoterapias cognitivo-comportamentais integradas com modelos experienciais e
existenciais. O facto de muito do meu trabalho científico ter sido dedicado ao estudo
de comportamentos alimentares e de atividade física, em particular em contexto de
obesidade severa e de outras doenças crónicas relacionadas, como diabetes, doença
cardiovascular, etc., incentivou-me a fazer investigação clínica e epidemiológica em
múltiplas áreas da psicologia da saúde e da psicologia clínica da saúde. Por esse
motivo, o texto aqui produzido pode ser visto a forma como um psicólogo habituado
também à linguagem epidemiológica entende o modo como os estudos de avaliação
de efetividade e de custo-efetividade devem ser feitos.
Espero que este texto atinja o seu objetivo principal: motivar à aprendizagem de
formas adequadas de fazer ciência e de demonstrar a mais-valia do trabalho do
psicólogo.
Página 6 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Eficácia: Até que ponto uma intervenção, uma medida política, um procedimento, um
regime terapêutico ou um serviço produz um efeito benéfico (desejado), em condições
de implementação ideais. É assim uma medida de benefício ou utilidade para os
indivíduos-alvo. Os desenhos de estudo mais apropriados para estudar a eficácia são
os ensaios clínicos controlados.
Efetividade: Até que ponto uma intervenção, uma medida política, um procedimento,
um regime terapêutico ou um serviço prestado em contexto de vida e prática reais
resulta no que é suposto resultar, numa população específica (“em vida real”). Os
desenhos de estudo mais apropriados para estudar a efetividade são ensaios
randomizados pragmáticos ou estudos de vida real.
Página 7 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Por exemplo:
tratamento de fobias simples. Em condições ideais, resulta na maior parte dos casos.
Resulta em pacientes que sejam recetivos à intervenção, sem comorbilidades e sem
patologias do eixo II (distúrbios da personalidade), com um terapeuta experiente a
executar a técnica. Isto foi já confirmado em diversos estudos, nomeadamente com
ensaios clínicos controlados randomizados.
Assim, importa saber como é que a técnica funciona no “mundo real”. Ou seja, até
que ponto é efetiva: até que ponto a técnica de dessensibilização sistemática resulta
na prática clínica do dia-a-dia (e em função de contextos diferentes – caraterísticas e
estilos de intervenção dos psicoterapeutas, caraterísticas clínicas e pessoais dos
doentes, caraterísticas dos consultórios particulares, organização dos centros de
saúde, hospitais)?
O sucesso da técnica na vida real depende de vários fatores: o desempenho
competente por parte do psicoterapeuta, a adesão dos pacientes à intervenção até
que o efeito da mesma seja maximizado, a severidade da fobia, características da
personalidade do paciente, elementos stressores, apoio por parte de familiares, etc.
Página 8 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplo prático
Exemplo prático
Página 9 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplo prático
Exemplo prático
Exemplo prático
Página 10 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
De uma forma geral, à medida que avançamos entre os termos (da pergunta para os
objetivos e dos objetivos para as hipóteses), estamos a operacionalizar cada vez mais
(ou seja, a tornar cada vez mais claro) a forma como se prevê que as variáveis em
estudo se associem umas com as outras.
à população em estudo
ao fenómeno em estudo:
descrição de um conceito, como por exemplo depressão, ansiedade,
satisfação profissional, etc. relação entre variáveis)
relação entre duas ou mais variáveis
efeito de uma intervenção
Página 11 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Uma pergunta de investigação pressupõe também que a sua resposta seja passível
de ser dada através de métodos sistemáticos que sejam reconhecidos pela
comunidade científica como adequados. Ou seja, métodos que sejam:
CRITÉRIOS FINER
tempo disponível
recursos humanos
Nova
O que tem de novo?
Página 12 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Um conceito novo?
Princípio da beneficência
Princípio da justiça
Princípio da autonomia
Relevante
Permite melhorar intervenções (clínicas, educacionais,
organizacionais)?
CRITÉRIOS PICOT
Para além dos critérios FINER, que se referem a aspetos da qualidade da pergunta de
investigação, há aspetos mais operacionais que devem ser tidos em conta para a
formulação de boas perguntas de investigação na área da avaliação de efetividade.
A sigla PICOT resume aspetos que são muito relevantes e que ajudam a formular uma
boa pergunta de investigação. Estes aspetos (ou dimensões) devem ser adaptados a
Página 13 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
cada pergunta, pelo que é raro uma pergunta reunir todos os aspetos PICOT.
Crianças
Adultos
Idosos
População Mulheres
Homens
Estudantes universitários
Empregados de balcão
Treino imagético
Mindfulness
Página 14 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Outcome Assiduidade
(indicador de
resultado) Absentismo
Controlo glicémico
Prevalência de suicídio
Página 15 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Supervisões, intervisões
Página 16 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Objetivos e finalidades
Os objetivos de um estudo referem-se àquilo que vai ser possível estudar, visando
uma conclusão sobre o que vai ser observado e à maneira como as variáveis em
estudo se relacionam.
Página 17 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplos de objetivos
Objetivo geral
Avaliar o impacto do treino de competências interpessoais na comunicação de más
notícias, em contexto hospitalar, em termos de burnout profissional.
Objetivos específicos
Avaliar a adesão a treino de competências interpessoais por profissionais de saúde a
trabalhar em contexto hospitalar.
Avaliar o impacto do treino de competência interpessoais na comunicação de más
notícias em termos de burnout profissional, por especialidade dos profissionais de
saúde.
Exemplos de objetivos
Objetivos principais
Estimar a prevalência de ansiedade social em adultos (18+ anos) residentes em
Portugal continental.
Objetivos secundários
Caracterizar estratégias individuais de coping com sintomatologia ansiosa.
Identificar determinantes ambientais da ansiedade, em contexto urbano.
Caracterizar perfis de pacientes com ansiedade.
Página 18 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplos de hipóteses
H0: Não existe diferença significativa no peso corporal entre homens e mulheres.
H1: O peso corporal dos homens é significativamente mais elevado do que o peso
corporal das mulheres.
Exemplos de hipóteses
H0: A altura corporal das mulheres adultas (18+ anos) portuguesas não é inferior à
altura corporal dos homens adultos (18+ anos) portugueses.
H1: A altura corporal dos homens é significativamente mais elevada do que a altura
corporal das mulheres.
Página 19 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Sensível à mudança.
Tipos de indicadores
Os indicadores podem ser classificados em diferentes tipos, também dependendo dos
modelos teóricos ou de referência que são utilizados. Para simplificar, podem ser
Página 20 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 21 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Princípio da justiça
Os critérios de inclusão do estudo devem garantir o mais possível a equidade no
acesso à participação no estudo (de acordo com os critérios de inclusão e aspetos de
amostragem que se definam). Além disso, devem determinar, de forma transparente,
as características dos indivíduos que podem beneficiar com a intervenção.
Princípio da autonomia
Respeito pela autonomia individual e necessidade de obtenção de consentimento livre,
esclarecido e informado. Ou seja, os participantes devem ter liberdade total para
decidir quanto a participar ou não participar no estudo, sem quaisquer consequências
(por exemplo, o curso natural de terapia não deve ser alterado em caso de recusa).
Página 22 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 23 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Para além da apreciação ética, qualquer estudo feito em Portugal que implique recolha
de dados com humanos deve ser autorizado pela Comissão Nacional de Proteção de
Dados (https://www.cnpd.pt/).
A direção das instituições onde os dados são recolhidos (por exemplo, direção clínica
de uma unidade de saúde familiar, direção de uma escola do ensino básico ou
secundário) deve também autorizar formalmente a execução do estudo.
Por fim, os próprios participantes (ou representantes legais, no caso de menores ou de
pessoas com incapacidade de decisão) devem demonstrar também formalmente que
estão de acordo com a participação. Para o efeito, deverão ler e assinar um
documento de consentimento informado e esclarecido (pelos investigadores), onde
são explicados de forma simples os objetivos e procedimentos do projeto de
investigação, garantindo-se também o caráter voluntário da participação.
Página 24 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 25 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Um bom projeto de investigação, em qualquer que seja a área, começa pela escrita de
um protocolo.
O protocolo tem múltiplas funções e objetivos. E deve, acima de tudo, cumprir a
função de organizar as ideias dos próprios investigadores, garantindo que o plano de
ação que está a ser traçado faz sentido do ponto de vista científico, é original,
interessante e ético.
Assim sendo, um protocolo deve cumprir a função principal de partilhar uma ideia
congruente e exequível com revisores científicos que não só dominam as ferramentas
científicas como também são peritos nas áreas de conhecimento que estão a ser
tratadas nesse documento.
Página 26 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
doutoramentos)
Em Portugal: http://www.rnec.pt/pt_PT
No Brasil: http://www.ensaiosclinicos.gov.br/
Página 27 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Mas o que é que os revisores valorizam, num protocolo? Existem vários aspetos que
devem ser tidos em conta:
Título
Métodos
Resultados esperados
Cronograma
Página 28 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
científicas envolvidas)
financiamento
Referências bibliográficas
Anexos:
dados
Instrumentos de medição/avaliação
Neutralidade
Página 29 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
A estes princípios deve juntar-se um aspeto fundamental da boa escrita: o texto deve
estar pensado para que o leitor compreenda de forma fácil e adequada as ideias
centrais que se pretende partilhar. Isto implica haver boa ligação entre as ideias,
nomeadamente através do uso de frases de ligação (dar ao leitor um fio condutor
permanente).
Uma dica é seguir o estilo KISS: Keep It Simple and Short, com parágrafos curtos
(idealmente, com um máximo de 125 palavras), começar-se do geral para o particular,
ter um parágrafo por tópico/ideia, com frases (idealmente, até 15 palavras) e palavras
curtas (por exemplo, “usar” vs. “utilizar”). O uso de abreviaturas só faz sentido se
forem utilizadas muitas vezes, ao longo do texto (pelo menos cinco vezes, num texto
com duas páginas). As abreviaturas, mesmo que muito conhecidas (como USA, OMS,
DSM-5, IMC) não devem ser usadas sem serem apresentadas por extenso, da
primeira vez que são utilizadas (por exemplo, “um estudo feito nos Estados Unidos da
América (USA) mostrou que...”).
II.2.1 Título
O título do protocolo é um elemento central do mesmo. É obviamente o elemento do
protocolo que vai ser lido por mais pessoas e é fundamental para os motores de
pesquisa eletrónicos. Portanto, é determinante para a promoção da visibilidade do
documento.
Deve, de forma sucinta (idealmente, no máximo, 12 palavras, 100 carateres, sem
abreviaturas, sem palavras “vazias”, como por exemplo, “Estudo sobre”):
Descrever o problema
Ser apelativo (capaz de chamar a atenção), podendo ser provocador mas não
Página 30 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
sensacionalista
II.2.2 Autores
A autoria de protocolos (o mesmo se aplica, obviamente, à autoria de qualquer
documento) deve ser acordada o mais cedo possível (muito antes de escrever o
documento). Os critérios de autoria a utilizar em protocolos devem ser os mesmos que
são habitualmente considerados como adequados (e éticos) para a escrita de artigos
científicos. É importante ter em conta que um protocolo é um plano de ação, um
compromisso, com o que vai ser feito. Portanto, as questões de autoria são
fundamentais pois comprometem os autores quanto ao que irá ser feito (com
eventuais aspetos legais implícitos).
Critérios de autoria
Quem teve (ou terá) apenas uma contribuição técnica (apoio à pesquisa de literatura,
recolha de dados, inserção de dados, transcrição de entrevistas, etc.) não deverá ser
autor do protocolo. Na maior parte dos contextos em que se apresentam protocolos de
investigação, é necessário identificar o investigador principal. No caso de contextos
académicos (por exemplo, para efeito de candidatura a cursos de mestrado ou
doutoramento), o investigador principal é o aluno candidato, devendo ser identificados
o ou os docentes que vão orientar o processo de investigação, bem como outros
elementos envolvidos na equipa. No caso de candidaturas para financiamento (por
exemplo, para a Fundação para a Ciência e a Tecnologia / FCT), é habitual ser
obrigatório identificar o investigador principal, os restantes elementos da equipa e, se
existirem, os consultores do estudo.
Página 31 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Para outros efeitos (por exemplo, um protocolo para ser apresentado a uma empresa
privada como potencial financiadora ou empregadora, ...), a ordem dos autores do
protocolo pode ser baseada noutros critérios, também usados na escrita de artigos
científicos – nomeadamente, em artigos científicos sobre os próprios protocolos:
Página 32 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
II.2.3 Resumo
O resumo de um protocolo (assim como o resumo de um artigo científico) é, a seguir
ao título, a secção que é lida por mais pessoas. Muitas vezes, é a única parte
disponível para o público em geral (sendo o resto do protocolo confidencial ou apenas
disponível apenas mediante a subscrição da revista em que o artigo, com o protocolo,
tenha sido publicado).
Esta secção deve, com poucas palavras (que podem variar entre 250 a 1000, em
função do contexto de submissão), explicar os aspetos centrais do protocolo. Importa
por, isso:
ter abreviaturas
O resumo é relativamente fácil de fazer se for a última parte do protocolo a ser feita.
Aliás, uma sugestão simples é deixar para o final a escrita do resumo, juntamente com
a escrita do título do protocolo.
Na prática, o resumo consiste em uma a três frases de enquadramento/contexto
teórico, uma frase com o(s) objetivo(s) e/ou hipótese(s) do estudo, uma breve
descrição dos métodos (tratando-se de um protocolo, esta deve ser a parte mais
desenvolvida do resumo; se fosse um artigo, a secção dos resultados deveria também
ser uma componente “nobre” do resumo), com uma frase com os principais aspetos
éticos, os resultados expectáveis (focando-se mais na finalidade do estudo, ou seja,
no contributo que o estudo trará em termos científicos, sociais, clínicos, ...) e as
Página 33 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
palavras-chave.
No que se refere às palavras-chave, o número máximo pode estar definido à partida
pelo contexto em que será submetido o protocolo. Não sendo o caso, o mais frequente
é serem de três a cinco palavras. Por palavra-chave entende-se aqui um constructo
(conceito teórico). Isto significa que não tem necessariamente de ser apenas uma
palavra. Por exemplo, “Binge-Eating Disorder” é uma palavra-chave única, apesar de
ser composta por três palavras (isto porque a expressão completa designa uma
entidade nosológica bem definida).
Existe uma base de dados de palavras-chave muito conhecida em ciências
biomédicas e que é utilizada por um dos principais motores de pesquisa de artigos: a
PubMed. Trata-se da base de dados MeSH, abreviatura de Medical Subject Headings
e que se encontra em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=mesh.
Uma boa forma de selecionar palavras-chave para o resumo de um protocolo (ou
artigo) é verificar se a palavra-chave em que estamos a pensar pertence a essa base
de dados. Desta forma, garantimos a utilização de um termo reconhecido pela
comunidade científica (e otimizamos as probabilidades de que o protocolo seja
encontrado por quem fizer uma pesquisa através desse termo).
Página 34 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 35 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
teórico.
Para quem tem mais dificuldade em escrever, uma estratégia possível é a seguinte:
Identificar os tópicos que importa abordar (uma pequena lista). No fundo, trata-se de
começar a pensar a estrutura interna do texto
De seguida, ordenar essa lista, do geral para o particular, garantindo também que a
sequência entre ideias faça sentido lógico
Cada tópico constituirá um parágrafo. Assim sendo, a escrita de cada parágrafo pode
ser feita de forma individual
Bastará depois fazer frases de ligação entre os parágrafos, para que a leitura seja
fluída.
A referenciação (autores/artigos ou outras fontes citados) pode (ou deve) ser feita de
forma automática. Por exemplo, através de softwares como o EndNote ou o Mendeley
(este último, de acesso gratuito), dos quais vamos falar mais à frente.
II.2.5 Métodos
A palavra “método” significa caminho. Refere-se assim ao caminho que deve ser
percorrido para se conhecer mais sobre o fenómeno em estudo.
Em ciência, a descrição desta secção é determinante para a definição da qualidade do
estudo, devendo cumprir a missão fundamental de explicitar ao leitor sobre como é
que ele (o leitor) deverá fazer se quiser reproduzir o estudo.
A secção dos métodos não deve:
Página 36 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Desenho de investigação
A descrição do desenho do estudo é geralmente acompanhada pela descrição do
método de recolha de dados. Por exemplo, se se trata de recolha de dados através de
entrevista face-a-face ou através de questionário autoadministrado.
No Capítulo 6 vamos abordar os desenhos de estudo com maior detalhe. Para já, e
para compreender o que deve ser escrito nesta subsecção de desenho de
investigação (dentro da secção dos métodos), importa apenas perceber qual o
posicionamento do investigado quanto ao objeto/fenómeno em estudo. De forma
Página 37 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 38 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
dizer que a população (ou universo) é constituída por “Crianças com défice de atenção
e hiperatividade”, isto significa que os resultado do estudo deverão ser generalizáveis
a estas crianças (ou seja, haverá uma certa probabilidade de se encontrar
determinado fenómeno (ou associação entre fenómenos), verificado no estudo, em
crianças com as mesmas características clínicas e que não participaram no estudo.
Por vezes, é importante indicar também qual é a “População-Alvo”. Isto é relevante
quando o grupo de pessoas que estamos a estudar é um subgrupo da população ou
universo propriamente dito. Por exemplo, se estamos a estudar as crianças com défice
de atenção e hiperatividade que recorrem a um hospital específico, temos uma
população-alvo (as crianças que recorrem àquele hospital) que pode ter algumas
diferenças ou particularidades relativamente à população (por exemplo, Portuguesa)
de crianças com défice de atenção e hiperatividade.
A amostra refere-se ao grupo de indivíduos que será observado na prática. Ou seja, o
grupo de indivíduos sobre os quais vamos recolher informação. A descrição da
amostra deve incluir as suas características (por exemplo, “Crianças com défice de
atenção e hiperatividade, de ambos os sexos e entre os 7 e os 9 anos, que recorrem à
Consulta de Desenvolvimento Infanto-Juvenil do Hospital X”). Repare-se que, neste
caso, a generalização dos resultados encontrados será em primeira mão para a
População-Alvo (as crianças com aquelas características, daquele hospital) e, em
segunda mão, para a População (as crianças com aquelas características, de
Portugal).
Amostragem e recrutamento
Por amostragem entende-se “o método de constituição da amostra”. Vamos voltar a
este assunto mais tarde. Para já, importa só saber que a descrição da amostragem
implica detalhar aspetos relativos a:
Página 39 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 40 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Quanto aos instrumentos, importa elencar todos os instrumentos que vão ser
utilizados no estudo (questionários, aparelhos técnicos como microscópios,
ressonância magnética, ...), com caracterização dos objetivos e formato de pergunta e
resposta, bem como indicação abreviada das propriedades psicométricas (validade,
fidelidade, etc.) dos mesmos, referenciando os estudos originais bem como os estudos
que mostram que os instrumentos em causa podem ser utilizados para a população
em estudo (por exemplo, referenciando artigos das versões portuguesas de um
questionário desenvolvido originalmente para os Estados Unidos da América). Em
anexo, dever-se-á depois incluir a versão do questionário que vai ser utilizada no
estudo. No Capítulo 6 iremos abordar os aspetos psicométricos que importa ter em
conta para fazer esta descrição.
Os instrumentos a utilizar representam formas de medir variáveis. O conjunto de
variáveis em estudo pode ser caracterizado numa tabela sinóptica, a incluir em anexo,
em que se indicam:
Página 41 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Análise de dados
Nesta secção devem ser descritos, de forma abreviada:
O software utilizado para registo e para análise dos dados (por exemplo, IBM-
SPPS versão 25.0, MAXQDA12, etc.)
Página 42 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 43 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
II.2.11 Cronograma
O cronograma permite definir as atividades a serem desenvolvidas durante a
Página 44 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
execução do estudo e o tempo de cada uma delas (data de início e fim) através de
uma representação gráfica. É uma ferramenta que deverá ser consultada (e
atualizada) regulamente, para acompanhar a evolução da implementação das
atividades propostas e eventuais desvios às mesmas.
Existem vários modelos de cronograma que podem ser seguidos, que poderão
funcionar como checklist para verificação das tarefas em curso e concluídas. A
estrutura mais habitual deve incluir a seguinte informação:
Principais milestones
O cronograma pode ser feito usando simplesmente uma tabela do Word ou em Excel.
Encontram-se ainda disponíveis na internet diversas ferramentas gratuitas que podem
ser utilizadas para representação de um cronograma de projeto: https://time.graphics/
ou https://www.teamgantt.com/.
Página 45 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Revisões narrativas
Revisões sistemáticas (com ou sem meta-análise)
Neste capítulo, vamos começar pela discussão de revisão de literatura para apoio à
decisão que temos de fazer relativamente ao nosso próprio estudo (paradigmas a
utilizar, opções metodológicas, como apresentar dados etc.) e depois abordamos o
conceito de revisões de literatura como método de análise documental. Ou seja, como
método de investigação original.
Página 46 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 47 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Aspetos a ter em conta, para uma boa revisão de literatura (de apoio à decisão ao
nosso estudo):
Página 48 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Existem outros aspetos a ter em conta para uma boa revisão de literatura (de apoio à
decisão ao nosso estudo):
Pesquisa abrangente. Uma boa revisão deve incluir mais do que uma base de
dados de referências/artigos, e deve usar um método iterativo de pesquisa (a
leitura de um artigo suscita novos interesses de pesquisa), embora mantendo o
Página 49 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
A leitura dos artigos deve ser sempre feita de forma crítica. Nem sempre
artigos publicados em boas revistas seguem as melhores práticas metodológicas.
Por outro lado, a interpretação dos resultados obtidos em estudos científicos deve
ser sempre contextualizada aos aspetos conceptuais e metodológicos que os
suportam. Daí, repetimos, a importância de ler com atenção a introdução dos
artigos (permitem compreender os paradigmas de referência dos autores) e os
métodos (permitem apreciar a validade interna e externa dos estudos, como
veremos mais em detalhe no Capítulo 4).
Página 50 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
http://www.docear.org/
• Mendeley: é uma ferramenta muito simples e extremamente útil de apoio à
referenciação automática (funciona bem com os processadores de texto mais
habituais). Poupa horas de trabalho. Ver mais informação em:
https://www.mendeley.com/
Página 51 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Título
Discussão e conclusões
Agradecimentos
Referências bibliográficas
Podemos concluir que este conceito, de revisão narrativa da literatura, é dado aos
casos em que os autores da revisão de literatura não descrevem de forma detalhada a
forma como fizeram a revisão de literatura: não indicam a forma como fizeram a
pesquisa de artigos, quais os critérios de seleção utilizados, a forma como fizeram a
síntese e organização da informação lida, etc.
As revisões narrativas de literatura não são consideradas, por estes motivos, revisões
sistemáticas de literatura. Repare-se que não implica necessariamente que os autores
Página 52 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
não tenham sido muito organizados ou que não tenham feito um trabalho de revisão
bastante bem sistematizado. Apenas não descreveram o método e resultados dessa
revisão como se tratasse de um projeto de investigação com recolha de dados
empíricos. E, para o leitor, a revisão consiste assim num resumo do conhecimento
(necessariamente subjetivo) do autor.
Nunca se fez tanta investigação como a que se produz hoje em dia. Todos os dias são
publicados milhares de artigos científicos, que correspondem a pequenas peças de um
enorme puzzle de conhecimento, sobre qualquer que seja a área de estudo. Por
exemplo, se se fizer uma pesquisa na PubMed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/),
uma base de dados de referências e resumos de artigos científicos) sobre o termo
“Treatment Depression” obtêm-se 196 057 artigos. Como é óbvio, muitos destes
artigos descrevem os efeitos clínicos associados a diferentes métodos de intervenção.
Página 53 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Uma revisão sistemática de literatura é uma revisão que procura identificar, avaliar, e
sintetizar toda a evidência empírica, com base em critérios pré-definidos de
elegibilidade (das evidências consideradas), de forma a responder a uma determinada
pergunta.
Página 54 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Como vimos antes, a produção científica tem aumentado de forma exponencial nas
últimas décadas. No entanto, e como descrito na Lei de Bradford, à medida que uma
área científica cresce, a literatura (sobre essa área científica) torna-se
progressivamente mais dispersa entre revistas e, portanto, mais difícil de organizar).
Centre for Reviews and Dissemination (Univ. York, UK) (desde 1993):
http://www.crd.york.ac.uk/CRDWeb/ - Database of Abstracts and Reviews (DARE)
• Effective Health Care (https://www.york.ac.uk/crd/publications/archive)
• Effectiveness Matters
(https://www.york.ac.uk/crd/publications/effectiveness-matters)
Página 55 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Em que consiste uma boa pergunta para uma revisão sistemática da literatura
Uma pergunta típica deve incluir as componentes PICO (DTC):
População em estudo (e.g., grupo de doentes)
Intervenção em estudo (e.g., tratamento, teste ou exposição)
Comparador em causa (e.g., intervenção “x” é melhor que não intervenção)
Outcome (e.g., remissão de sintomas, sobrevivência, etc.)
Desenho do estudo (e.g., experimental, observacional, qualitativo)
Tempo (duração da intervenção)
Contexto (e.g., laboratorial, de âmbito nacional, regional)
Será a terapia interpessoal mais efetiva para depressão pós-parto que a terapia
cognitivo-comportamental?
População em estudo: mães em período peri-natal (até um ano após o parto)
Intervenção em estudo: terapia interpessoal
Comparador em causa: terapia cognitivo-comportamental (poder-se-ia também incluir
um comparator ‘inerte’, por exemplo, não tratamento)
Outcome (remissão de sintomas de depessão, com avaliação através de entrevista
clínica estruturada)
Desenho do estudo (poder-se-ia definir que se iria incluir apenas ensaios clínicos
controlados)
Tempo (até ano e meio após o parto)
Contexto (poder-se-iam considerar todos os estudos publicados sobre o tema ou, se
forem muitos, limitar a estudos publicados em país onde a prática de terapia
1Allen IE, Olkin I, Estimating time to conduct a meta-analysis from number of citations retrieved. JAMA. 1999 Aug
18;282(7):634-5.
Página 56 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
No entanto, muitas vezes é necessário começar com uma ou mais perguntas abertas:
“Como definir depressão? ”
“Que modelos de prevenção do suicídio existem? E como os implementar?
“Que inquéritos sobre estilos parentais existem na Europa? Como foram conduzidos?
A este tipo de revisão sistemática de literatura, que não responde a uma pergunta
fechada (de resposta potencialmente mais quantificável), mas sim a uma resposta
aberta, dá-se o nome de Scoping Review.
Página 57 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 58 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 59 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 60 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 61 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
(a) título do artigo, (b) nomes dos autores, (c) data de publicação.
A tabela deve também incluir informação sobre quem fez a extração dos dados (do
artigo).
Por norma, as RSL fazem-se sempre (em todas as fases do processo) com pelo
menos dois investigadores, que fazem a análise de forma separada ou de forma
controlada (um dos investigadores verifica a qualidade da extração dos dados do
outro, por exemplo). Convém existir um terceiro elemento (geralmente mais experiente
na área de investigação), para resolver os casos de divergência de opiniões.
As tabelas sinópticas representam assim um resumo de cada artigo selecionado.
Por norma, deve incluir três blocos de variáveis (“colunas”):
Página 62 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 63 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Neste capítulo, iremos abordar estes dois aspetos: validade interna e validade externa.
Vamos explorar a importância destes dois conceitos, bem como formas de otimizar
estas duas caraterísticas de investigação, nomeadamente em estudos sobre avaliação
de efetividade e custo-efetividade. Para isso, começaremos por definir o conceito de
validade no contexto da investigação e por abordar a diferença em relação ao conceito
de fiabilidade.
“ “Men judge things according to the disposition of their minds, and had rather
imagine things than understand them.”
- Baruch Spinoza, 1632-1677 -
Página 64 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Tipo de estratégia de análise estatística (por exemplo, para o caso dos estudos
de avaliação de efetividade ou custo-efetividade, optar por uma análise per
protocol ou intention-to-treat, como veremos no Capítulo 7)
Página 65 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Muitas vezes ouvimos e/ou usamos as palavras “fidelidade” (ou “fiabilidade”, mais
frequente em ciências biomédicas) e "validade”, tanto em situações do dia-a-dia como
no contexto de investigação. Em muitos casos, as pessoas utilizam os termos de
forma intermutável. Mas qual é a verdadeira diferença entre eles? Em situações
quotidianas, usamos habitualmente a palavra "fiabilidade" para nos referirmos a uma
máquina ("Eu tenho um carro de confiança") ou a uma fonte de notícias ("Eu usei uma
fonte de informação de confiança"). Em ambos os casos, queremos descrever algo
que é de boa qualidade e altamente desejável.
De forma semelhante, no contexto de investigação, a fidelidade/fiabilidade é definida
de acordo com a qualidade da medida que é utilizada para se caracterizar ou avaliar
um fenómeno em estudo. É uma maneira de avaliar a qualidade do procedimento de
medida que é usado para recolher dados. Por outras palavras, a fiabilidade é
considerada a "consistência" ou a "repetibilidade" dos resultados.
Já a validade refere-se à "credibilidade" dos resultados. Até que ponto o estudo, na
sua totalidade, mediu de forma correta o conceito em questão? E até que ponto
podemos acreditar que os dados recolhidos estão próximos do que se poderia
idealizar como a resposta correta (e universal) para o problema de investigação em
causa.
Página 66 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Por exemplo, se se diz que, com base num inquérito feito a uma amostra da
população portuguesa, a prevalência de perturbações psicológicas na população
Portuguesa é de cerca de 22%, até que ponto posso acreditar nesse valor? Este
“acreditar” implica, obviamente, que as escolhas metodológicas tenham sido bem
feitas. Se o estudo fosse repetido, seguindo à letra a descrição dos métodos,
deveríamos ter um valor muito próximo (repetição de resultados = resultados fiáveis).
E o que se observou para o grupo de pessoas que foram entrevistadas para se obter
esse valor de prevalência é generalizável à população portuguesa? Isso implica que a
amostra utilizada é representativa da população portuguesa. E que os instrumentos de
recolha de dados que foram utilizados sejam os mais adequados para avaliar a
presença ou ausência de perturbação mental. Neste caso, já estamos a falar de
“validade”.
Página 67 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 68 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
exemplo, grupo exposto a uma intervenção psicoterapêutica versus grupo não exposto
a essa intervenção) sejam semelhantes relativamente a uma série de variáveis
consideradas como relevantes (por exemplo, mesma percentagem de mulheres em
ambos os grupos, mesma percentagem de pessoas da mesma faixa etária, níveis
semelhantes da severidade de sintomas, etc.).
Página 69 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Viéses históricos
Este tipo de viés refere-se a qualquer tipo de evento não foi manipulado/controlado
pelo investigador e que, à altura da recolha de dados, tem influência nas variáveis
dependentes (se se tratar de um projeto de avaliação de efetividade ou custo-
efetividade, nos indicadores/outcomes em estudo).
Exemplo
Página 70 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplo
Imagine-se que, entretanto, vários médicos (ou mesmo todos os médicos) dessa
unidade de saúde eram convidado para participar num programa de treino de
entrevista motivacional, promovido por uma empresa da indústria farmacêutica. O
treino de entrevista motivacional (que inclui aspetos como treino de empatia seletiva,
não confronto com resistência e negociação de opções terapêuticas com os doentes)
era feito entre o final da intervenção do estudo e o momento de avaliação em follow-up
(dois meses após o último dia de intervenção).
Neste caso, seria difícil concluir quanto a possíveis diferenças (ou não diferenças)
estatisticamente significativas entre grupo de controlo e grupo de intervenção, devido
a um fator externo ao estudo (a ação de formação em entrevista motivacional), que
cria um viés (erro sistemático, por afetar todos os médicos em estudo).
Página 71 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Viés de maturação
Este tipo de viés refere-se a uma mudança na variável dependente em resultado da
passagem do tempo. Ocorre sobretudo em resultado das mudanças associadas ao
normal desenvolvimento, biológico, psicológicas, social, linguístico, moral, etc., que
ocorre no indivíduo, acabando tais mudanças por representar, em parte ou no todo, os
efeitos observados no estudo. É um tipo de viés especialmente relevante quando o
efeito observado (outcome do estudo) tem elevada probabilidade de ser alterado em
função da fase de vida dos indivíduos participantes.
Exemplo
Imagine-se que se pretende estudar o efeito de uma intervenção que dura seis meses
para aumentar a capacidade de atenção de crianças entre os 2 e os 5 anos. Sabe-se
que a capacidade de atenção depende em muito da maturação do sistema nervoso
(mais propriamente, da mielinização dos neurónios de algumas zonas do cérebro),
que ocorre de forma acelerada nesta fase da vida.
Assim sendo, se o estudo dos efeitos ao nível da atenção implicarem um tempo
relevante entre a primeira e última observações/avaliações de capacidade de atenção,
é provável que as diferenças encontradas tenham mais a ver com a maturação
estrutural, do sistema nervoso das crianças, do que com a intervenção em estudo.
Página 72 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Efeito de teste
Este tipo de viés pode ocorrer quando o próprio método de medição do resultado afeta
o que é observado. Este tipo de efeito é muito frequente em estudos nas área das
ciências sociais e da psicologia cognitiva.
Existem muitas variantes deste tipo de efeito:
1. Efeito aprendizagem: as mudanças nos resultados dos testes podem ser não o
resultado da intervenção (por exemplo, de um treino cognitivo para melhorar a
memória), mas simplesmente o resultado da aplicação frequente de testes (ou
repetida com pouco tempo de intervalo). É o caso quando testes pré- e pós-
intervenção idênticos são administrados aos mesmos indivíduos.
2. Efeito Hawthorne: o psicólogo Elton Mayo descreveu este efeito a propósito de um
estudo feito em 1927, numa fábrica situada no bairro de Hawthorne da cidade de
Chicago (EUA), sobre o impacto do tipo de iluminação na produtividade laboral.
Verificou que o simples facto de observar os trabalhadores e de estes saberem que
estavam a ser observados, fazia com que os trabalhadores aumentassem a
produtividade laboral, independentemente das condições de iluminação (grupo de
trabalhadores expostos a luz variável versus grupo de trabalhadores expostos a luz de
intensidade constante). Mesmo reduzindo a iluminação, verificou-se que a
produtividade aumentava. A conclusão foi que o facto de os trabalhadores se sentirem
observados promovia o aumento da produtividade e que esse facto (sentirem-se
observados) tinha mais efeito do que a variável independente (tipo de iluminação).
3. Efeito de desiderabilidade (ou desejabilidade): refere-se à tendência de o
participante responder em função do que entende serem as normas sociais adotadas
Página 73 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
pelo investigador que está a recolher os dados. Por exemplo, administrar uma escala
que carateriza ou avalia de consumo de álcool num contexto clínico (por exemplo,
num centro de saúde) pode resultar em subestimação de abuso ou dependência de
álcool porque os participantes podem sentir que estão a ser avaliados no que se refere
ao seu comportamento relacionado com álcool e que isso pode ter efeito na forma
como poderão vir a ser tratados como doentes, no futuro. Outro exemplo será o de
fazer perguntas sobre comportamento sexual através de entrevista face-a-face. Será
mais difícil (devido à desiderabilidade social) relatar alguns tipos de comportamento
sexual (por exemplo, sexo oral, sexo anal) ou algumas disfunções sexuais (disfunção
erétil, por exemplo) através de entrevista face-a-face do que através de preenchimento
de questionário anónimo.
4. Efeito halo (efeito descrito por Thorndike): refere-se à possibilidade de que a próprio
exercício de avaliação ou observação possa interferir no julgamento sobre outros
fatores, contaminando o resultado geral. Por exemplo, nos processos de avaliação de
desempenho, o efeito halo tem a ver com a simpatia que o avaliador tem pela pessoa
que está a ser avaliada. Portanto, neste caso o viés tem a ver com a subjetividade do
investigador no processo de recolha de dados (em contexto de recolha de dados
através de métodos de observação ou de entrevista).
Página 74 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
perguntas, sobre atividade física, tabagismo, consumo alimentar, etc. Outra forma de
minimizar este efeito é garantir o anonimato ou confidencialidade das respostas aos
participantes.
Viéses de instrumentação
A instrumentação pode tornar-se uma ameaça à validade interna nos casos em que os
resultados do estudo são devidos às mudanças na calibração do instrumento, no
procedimento de medição ou do/no observador.
Por outras palavras, as mudanças observadas entre os pontos de observação podem
ser devidas às mudanças do procedimento de recolha de dados e não ao efeito de
uma intervenção ou à mudança desenvolvimental dos indivíduos observados.
Exemplo
Se o teste administrado após a intervenção for mais fácil de responder do que teste
administrado antes da intervenção, os sujeitos evidenciarão uma melhoria ao longo do
tempo, sendo essa melhoria (mal) interpretada como sendo um efeito da intervenção.
Exemplo
Página 75 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplo
Página 76 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Viés de seleção
O viés de seleção diferencial pode ocorrer quando, em estudos de avaliação de
efetividade ou custo-efetividade, os indivíduos não podem por algum motivo ser
atribuídos aleatoriamente aos grupos de intervenção e de controlo, fazendo com que
(por algum motivo) os grupos não sejam iguais em algumas variáveis ou
características relevantes, logo desde o início da intervenção. Esta não aleatorização
entre grupos pode fazer com que as diferenças encontradas nos resultados pós-
intervenção sejam devidas a diferenças pré-existentes entre os grupos e não ao
impacto real da intervenção.
Outra forma de encontrar viés de seleção é quando queremos estudar, de forma
retrospetiva, determinantes de uma determinada doença. Para isso, podemos utilizar
um desenho de investigação denominado “Estudos de caso-controlo” (no Capítulo 6
veremos mais detalhes sobre este tipo de desenho de investigação).
Nestes casos, pode acontecer que as pessoas com a doença em estudo e que
recrutamos para o estudo sejam apenas as que sobreviveram ao final de, por
exemplo, 10 anos. E pode acontecer que essas pessoas sejam, por algum motivo,
diferentes de todas as outras que não sobreviveram (e, assim sendo, podemos estar a
introduzir um viés importante aquando da seleção das pessoas).
Ainda outra forma de viés de seleção diferencial é a que se encontra frequentemente
em estudos através de inquérito com resposta obtida por questionários
Página 77 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplo
Imagine-se que os doentes de uma clínica são alvo de uma intervenção educacional
(uma ação de sensibilização com a duração de 4 horas, por exemplo, dada pelo
psicólogo da clínica) sobre o uso responsável de medicamentos. E que os doentes de
outra clínica não são alvo desta intervenção de educação para a saúde, recebendo
apenas um folheto sobre uso responsável da medicação por correio. Ambos os
métodos são usados para promover a adesão à toma de antihipertensores.
Quando o resultado para os dois grupos é medido no final do estudo, pode ser
confundido com o facto de os grupos não serem iguais em relação a variáveis
relevantes (por exemplo, percentagem de homens e mulheres na amostra de cada
grupo, idade, gravidade de hipertensão, índice de massa corporal), logo à partida (no
início do estudo.
Página 78 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 79 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Exemplo
Página 80 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Efeito do investigador/inquiridor
O viés do investigador é bastante semelhante ao efeito de reatividade explicado
anteriormente. Refere-se a qualquer comportamento do investigador que impeça uma
observação dos dados a recolher ou teste imparcial da hipótese em estudo. A
ocorrência deste viés pode comprometer a qualidade de estudo, uma vez que os
resultados obtidos podem ser influenciados pelas expectativas do investigador.
Exemplo
Durante uma entrevista. o investigador pode reagir de forma mais positiva (sorriso,
aceno de concordância) perante determinada resposta do participante, levando-o a
reagir de uma forma específica, no sentido do confirmar as hipóteses ou pressupostos
iniciais do investigador.
Exemplo
Página 81 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 82 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
2 Beecher,HK. The powerful placebo. Journal of the American Medical Association. 1955; 159 (17): 1602–
06.
Página 83 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Expectativa: as pessoas agem da forma que julgam que deveriam. Por outras
palavras, pessoas que são tratadas sem que o saibam não experienciam diferença
em comparação com pessoas que sabem que estão a ser tratadas.
Página 84 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
empática, etc.).
Como é óbvio, não existe validade externa se a validade interna não estiver garantida.
Assim, entre os principais fatores que podem ameaçar a validade externa estão os
que foram referidos para a validade interna, e muito em particular:
1. Os viéses de seleção (caraterísticas da amostra)
2. O efeito de teste e, em particular, os efeitos de desiderabilidade social e de
reatividade (efeito Hawtorne)
3. Os viéses de instrumentação
4. Efeito do investigador
Página 85 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Tamanho da amostra
Mas para garantir que a seleção dos participantes no estudo torna a amostra
“equivalente” à população em termos das caraterísticas consideradas como mais
importantes para estudar adequadamente o fenómeno em questão, não basta
assegurar bons procedimentos de recrutamento (onde e como se convidam as
pessoas a participar) e de aleatorização.
Outro aspeto decisivo é o tamanho amostral. A quantidade de pessoas a incluir na
amostra deve ser capaz de assegurar dois aspetos fundamentais:
Página 86 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Níveis de estratificação dos resultados (por sexo, por idade, etc.). Mais níveis
implica maior tamanho amostral.
Página 87 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
clinicamente relevante).
Página 88 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 89 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Estes exemplos são apenas ilustrativos. Existem escalas e medidas para uma
extensíssima gama de fenómenos psicológicos (cognitivos, emocionais,
comportamentais, sociais, etc.), e as pontuações dessas escalas e medidas podem
ser usadas como indicadores de efetividade das intervenções.
Nem sempre é necessário ou possível recolhermos dados a nível individual. Por
exemplo, no caso de estudarmos efeitos comunitários de uma intervenção
desenvolvida para promoção de saúde, para prevenção de doença, ou para promoção
de sucesso educacional ou adoção de determinados hábitos de trabalho, é possível
recorrer a indicadores que são recolhidos de forma regular por entidades estatais ou
por organizações que se dedicam a este tipo de análise (ao nível do sistema de
saúde, sistema de educação, etc.).
Só a título de exemplo de instituições produtoras de indicadores comunitários que
podem ter relevância para estudar o efeito de intervenções comunitárias (a nível
nacional, regional ou mesmo de freguesia, por exemplo) destacam-se:
Direção-Geral da Saúde
Direção-Geral da Educação
Eurostat
Cada vez mais é mais fácil aceder a dados existentes para uma multiplicidade de
variáveis, através destas fontes de dados. Além disso, a política de acesso a dados
recolhidos por grupos de investigação afiliados a entidades académicas
(universidades, por exemplo) em contexto de estudos apoiados por programas de
financiamento público reforça cada vez mais o princípio da partilha dos dados para
efeitos de investigação.
Estatísticas vitais
Nascimentos
Página 90 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Óbitos
Casamentos
Divórcios
Estatísticas de morbilidade
Dados laboratoriais
Dados hospitalares
Grupos de Diagnóstico Homogéneos (GDH, reveladores de morbilidade em
contexto hospitalar)
Anomalias congénitas
Infeções nosocomiais (transmitidas em contexto de contacto com hospitais)
Página 91 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Taxas de morbilidade3
Taxa de incidência
Nº de casos novos de patologia/efeito num determinado período de tempo
População em risco no ponto médio do período temporal em causa
Taxa de prevalência
Nº de casos correntes de patologia/efeito num determinado período de tempo
População no ponto médio do período temporal em causa
Prevalência da doença
3
Por serem taxas populacionais, estas razões são habitualmente expressas em 10n habitantes
Página 92 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Taxas de mortalidade4
4
Por serem taxas populacionais, estas razões são habitualmente expressas em 10n habitantes
Página 93 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 94 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 95 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 96 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 97 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 98 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
Página 99 / 163
Manual – Métodos de Avaliação de Efetividade em Intervenção Psicológica
O que há de comum nestes exemplos é que o valor expresso nos mesmos vale por si
só. Não é necessário combinar entre eles para construir um indicador global ou mais
complexo. São indicadores “simples”.
Isso é diferente de, por exemplo, avaliarmos a presença ou ausência de gripe ou...
para usarmos exemplos na área da psicologia, literacia em saúde ou depressão. No
caso da gripe, teríamos de utilizar, de forma combinada, vários indicadores simples,
como por exemplo: temperatura corporal + dores de garganta + dores musculares+
arrepios + ... De forma similar, no caso da depressão, poderíamos combinar
indicadores ‘simples’ como: baixa autoestima + pessimismo relativamente ao futuro +
baixas expectativas relativamente ao apoio potencial de outros significativos + perda
de apetite + insónia + ...
Quando o valor de uma variável implica a combinação de várias variáveis, como no
caso da literacia em saúde ou da depressão, podemos considerar que a variável
composta consiste numa “variável latente”, que expressa um constructo com algum
grau de complexidade. Claro que a forma como consideramos cada variável
dependerá sempre da linha conceptual associada. Por exemplo, a variável depressão
pode ser avaliada como sintoma simples, através de uma única pergunta (por
exemplo, ”Nos últimos 7 dias até que ponto se tem sentido deprimido?”, com resposta
através de escala tipo Likert de ”1=Nada deprimido” a 5=Muito deprimido”), ou pode
ser avaliada de forma complexa (como variável latente), como vimos atrás.
No caso de termos um questionário que apenas mede variáveis ‘simples’ (conjunto de
itens sem relação conceptual que contribua para um valor global de uma variável
latente), o estudo de adequação do questionário “resume-se” à:
respondentes
Resposta a perguntas:
tarefas cognitivas
associadas
Adaptado de: Alice Bell, Families and Children Group National Centre for Social Research (NatCen), 2006
Para avaliar a forma de pensar as respostas a questionários online é cada vez mais
habitual recorrer-se ao método de eye tracking. Através deste método, é possível
perceber-se em que partes do ecrã é que o respondente dedicou mais atenção
(demorou o olhar mais tempo). Combinando esta técnica com entrevista sobre o
motivo do tempo de olhar diferencial em partes específicas do ecrã, é possível
compreender melhor as reações dos respondentes aos desafios cognitivos levantados
por diferentes perguntas.
Análise documental (como por exemplo, revisão de literatura – ver Capítulo 3),
para compreender adequadamente o fenómeno em estudo e para fazer um
levantamento de instrumentos de avaliação já existentes sobre o fenómeno
Geração de itens
Validade de conteúdo
Validade de constructo
Responde à pergunta geral: “Até que ponto o questionário mede aquilo que é suposto
medir?”.
A avaliação desta propriedade psicométrica implica necessariamente ter em conta os
aspetos teóricos associados ao fenómeno em estudo. Ou seja e a título de exemplo,
se a escala é construída para “medir” depressão à luz do modelo de Aaron Beck,
deverá incluir itens sobre a tríade cognitiva da depressão; se for construída à luz do
modelo interpessoal, deverá incluir outro tipo de itens. Nesse sentido, podemos
considerar que a validade de conteúdos já é uma componente da validade de
constructo.
Mas a validade de constructo também se pode avaliar através de fenómenos que
Validade de critério
A validade de critério pode ser entendida como um caso especial da validade de
constructo. Só é possível quando existe uma referência entendida pela comunidade
científica como sendo o “gold standard” para avaliar o fenómeno em questão.
Imagine-se que se pretende estudar a validade de critério de um questionário que
mede a perceção do estado febril em crianças. Poder-se-ia, nesse caso, utilizar a
temperatura corporal, medida através de termómetro analógico, como critério externo
e de referência (o gold standard, no caso). Para muitos fenómenos/constructos, na
área da psicologia, não existe um gold standard, pelo que não é possível estudar a
validade de critério. Nesse caso, a validade de constructo limita-se ao estudo de
validades convergente, divergente e discriminante.
Fiabilidade
O estudo da fiabilidade (ou fidelidade) consiste em averiguar até que ponto um
determinado instrumento mede o constructo de forma consistente. Quer no que se
refere aos seus diferentes itens (consistência interna) quer em pontos temporais
distintos (fiabilidade temporal).
Consistência interna
A consistência interna consiste numa medida do contributo de cada item para uma
pontuação global da escala. Se a escala for multidimensional, o mais adequado será
estudar a consistência interna para cada uma das dimensões.
Uma das formas mais habituais de avaliar a consistência interna é através do
coeficiente alfa (geralmente denominado de alfa de Cronbach, apesar de haver aqui
alguma injustiça histórica por se omitir o nome de um dos seus principais inventores:
Gutman). Como regra de polegar, os instrumentos com um coeficiente alfa a variar
entre 0.7 e 0.9 são considerados como tendo uma consistência interna ótima (sólida).
Contudo, escalas com poucos itens tendem a ter coeficientes mais pequenos sem que
isso se traduza necessariamente em má fiabilidade.
Fiabilidade temporal
A fiabilidade temporal consiste na consistência da pontuação de uma
escala/questionário entre dois momentos de utilização desse instrumento, sem que
seja expectável (do ponto de vista teórico) que tenha ocorrida alguma diferença
assinalável, relativamente ao constructo em causa. Ou seja, se se administrar uma
escala de depressão em determinado dia e se se repetir a administração, em
condições idênticas, uma semana depois, é expectável que o resultado (pontuação)
da escala seja similar. O teste estatístico que deve ser utilizado para avaliar a
fiabilidade temporal é a correlação intraclasse (e não a correlação simples).
Algumas escalas são construídas para terem valor ou ambição de diagnóstico. Para o
efeito, é definido um valor ou ponto de corte, que permite classificar os respondentes
em duas ou mais categorias: ter mais ou menos pontos (acima ou abaixo do ponto de
corte) traduz-se em ter características distintas. Por exemplo, ter mais ou menos do
que o valor de 50 traduz-se em ter patologia ou não ter patologia.
Nesses casos, é possível estudar as propriedades de sensibilidade, especificidade,
valor preditivo positivo e valor preditivo negativo, do instrumento de avaliação.
Sensibilidade
A sensibilidade de um instrumento diz respeito à sua capacidade de não falhar na
deteção de casos positivos (“com diagnóstico”), embora muitos dos casos detetados
como positivos não o sejam de facto.
Por exemplo, ainda no caso de uma escala de depressão, se é muito sensível,
significa que serão muitos os casos identificados como tendo depressão. Dito ainda de
outra forma, quando a escala dá negativo, é porque é (quase certamente) um caso
sem patologia.
Especificidade
A especificidade de um instrumento diz respeito à sua capacidade para detetar casos
positivos (“com diagnóstico”). Uma escala muito específica é uma escala que falha
muito no que se refere à identificação de casos verdadeiramente positivos.
Por exemplo, no exemplo de uma escala de depressão, se é muito específica, significa
que serão muito poucos os casos de falsos positivos. Quando a escala dá positivo, é
porque é (quase certamente) um caso com patologia.
Peso (burden)
Já abordámos o conceito de peso (burden) do questionário. Vimos que tem a ver com
o desconforto associado à interação com o instrumento de medição. Poderá ser pelo
tempo necessário para responder, pela dificuldade de interpretação ou pelo
desconforto emocional associado (nomeadamente por efeito de desejabilidade social).
Importa só explicitar que existe também o peso (burden) para quem insere os dados
para análise e o peso para quem analisa os dados. Muitas vezes, para diminuir o peso
para o respondente, aumenta-se o peso para o investigador (e vice-versa). É
importante ter em consideração os dois lados desta moeda, aquando da construção
de um bom questionário.
VI.1.1 Causalidade
Variáveis mediadoras: Variáveis que explicam/possibilitam a relação entre uma
variável independente/preditiva/causal e uma variável dependente (efeito). É condição
sine qua non.
Variáveis moderadoras: Variáveis que afectam a direção ou a força da relação entre
uma variável independente (ou preditiva ou causal) e uma variável dependente
(efeito).5
5
Baron & Kenny (1986). The moderator-mediator variable distinction in social psychological research: conceptual, strategic, and
statistical considerations. Journal of Personality and Social Psychology, 51, 1173-1182.
6
Nestes casos, diz-se estar perante um estudo ou ensaio aleatorizado controlado (em inglês: randomized controlled trial). Repare-
se que o “aleatorizado” (“randomized”, em inglês”), designa o facto de ser possível distribuir (alocar) os participantes de forma
aleatória em cada braço do estudo (grupo de intervenção versus grupo de controlo, por exemplo). Não tem a ver com a
aleatorização (randomization) das amostras relativamente à população ou universo (termo muito utilizado em estudo
observacionais transversais, como inquéritos, descritos mais à frente).
Estudos de caso
Entende-se por caso qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos que, por algum motivo,
tenha relevância estudar. Poderá ser um caso “típico”, escolhido por ser representativo
de uma determinada população. Ou pode, pelo contrário, ser um caso excecional cujo
estudo seja, por algum motivo, particularmente relevante (por exemplo, o famoso caso
HM com amnésia anterógrada). Importa dizer que o caso pode ser não o indivíduo
mas, por exemplo, uma empresa ou uma escola ou mesmo um país numa
determinada época.
Nota: para ver mais informação sobre o caso HM:
https://en.wikipedia.org/wiki/Henry_Molaison
Estudos de caso-controlo
A principal caraterística deste desenho de investigação é ser um estudo retrospetivo.
O recrutamento dos participantes (elementos amostrais) é definido com base em
critérios de inclusão que definem de forma muito clara em que consiste a condição
“caso”.
Por exemplo, um caso pode ser definido como uma pessoa entre os 20 e os 40 anos,
homem ou mulher, utilizador dos serviços de um centro de saúde X sem doença
crónica diagnosticada e que tem uma pontuação no Beck Depression Inventory (BDI)
igual ou superior a 26 (como indicador de depressão severa).
Nestas condições, um controlo adequado poderá ser uma pessoa em tudo similar
(entre os 20 e os 40 anos, homem ou mulher, utilizador dos serviços de mesmo centro
de saúde X, sem doença crónica diagnosticada) mas cuja pontuação no BDI seja
inferior a 26.
Os critérios de inclusão dos casos e dos controlos permitem assim garantir que os
casos diferem dos controlos quanto à condição em estudo e que não diferem entre si
relativamente a outras variáveis consideradas como relevantes (idade, morbilidades,
etc.) e que importe controlar. Nestas condições, existem dois grupos (casos versus
controlos) que podem ser comparados quanto a diferentes aspetos que possam ter
contribuído, ao longo de um determinado período temporal (por exemplo, últimos 12
meses ou últimos 5 anos), para que alguns dos participantes estejam (à altura da
recolha de dados) com uma pontuação que expressa depressão e outros não o
estejam.
A recolha dos dados é feita em apenas um momento (no presente), mas refere-se ao
passado e pode até “partir” o passado em diferentes períodos. Por exemplo,
perguntando por eventos negativos de vida ocorridos na infância (até aos 10 anos), na
pré-adolescência (11 e 12 anos), adolescência (dos 13 aos 17 anos), dos 18 aos 15,
etc. Pode, obviamente, ser recolhida informação sobre a situação atual (situação
familiar, situação financeira, situação profissional, rede social de apoio, etc.). Mas o
foco mais habitual neste tipo de estudo são as variáveis à condição do passado, mais
ou menos distante. Esse aspeto é importante para garantir o critério de temporalidade,
na construção de um modelo causal: perceber o que aconteceu antes que possa estar
relacionado com a atual depressão, no nosso exemplo.
Podem ser utilizadas diferentes ferramentas e modelos estatísticos para identificar
variáveis, do passado, que estão associadas aos casos do presente e que, por
oposição, não estão associadas aos controlos (os “não-casos”). A ferramenta
estatística mais frequentemente utilizada é a regressão logística, que permite
estabelecer o tamanho da associação entre as variáveis*: permite a estimativa dos
odds ratio (ou razão das probabilidades complementares).
Para compreendermos, de uma forma simples, em que consiste o odds ratio,
considere-se a figura seguinte, em que são apresentados casos (chapéus castanhos)
e controlos (chapéus azuis). Através de um questionário, foi possível ver quantos
casos (pessoas com obesidade, por exemplo) afirmaram estar expostos a (ter
consumido) fast food, álcool e doces de forma regular nos últimos, digamos, 12
meses, e quantos casos não estiveram expostos a estes alimentos potencialmente
menos saudáveis. Fez-se o mesmo para os controlos (pessoas sem obesidade):
quantos consumiram de forma regular alimentos “nocivos” e quantos não os
consumiram de forma regular.
* Repare-se que, como se trata de um estudo observacional transversal, apenas
podemos falar de associação, não de causalidade
Rácio exposição prévia nos casos: Nº casos com exposição / Nº de casos sem exposição
Rácio exposição prévia nos controlos: Nº controlos com exposição / Nº controlos sem exposição
De seguida, podemos ver como é que esta fórmula se aplica ao exemplo do estudo de
caso-controlo sobre consumo alimentar e obesidade.
Desvantagens/dificuldades
• Não apropriados quando o tipo de exposição em estudo é raro
• A escolha dos controlos é difícil (nem sempre fácil definir adequadamente
quem devem ser)
• Informação sobre exposição é sujeita a viéses (de memória, de registo, etc.) e
difícil de validar
• Por definição, estuda apenas uma patologia/evento
• Não permite informação sobre incidência da patologia/evento
Estudos de coorte
A principal caraterística deste desenho de investigação é ser um estudo longitudinal.
Ou seja, os participantes são observados em mais do que um momento no tempo. Ou
seja, a recolha de dados é repetida, em diferentes momentos, para as mesmas
pessoas e da mesma forma – idealmente com os mesmos procedimentos de recolha
de dados e os mesmos instrumentos de medição.
Repare-se que utilizando este critério como única característica, qualquer investigação
experimental (incluindo os ensaios clínicos ou comunitários) pode ser considerada
como sendo um coorte. Vamos aqui considerar apenas os desenhos que têm uma
natureza observacional. Ou seja, em que não é o investigador quem decide quem esta
numa ou noutra situação, nem que tipo de tarefa ou exposição cada participante deve
fazer, nem em que momento é que faz essa tarefa ou se expõe a determinada
situação. O investigador limita-se assim a observar.
Nas coortes, o recrutamento dos participantes (elementos amostrais) é, tal como nos
estudos de caso-controlo, definido com base em critérios de inclusão. Porém, se nos
estudos caso-controlo estes critérios permitiam indicar quem pertencia ao grupo “caso”
e quem pertencia ao grupo “controlo”, nos estudos de coorte os critérios de inclusão
são focados no conceito de exposição. Ou seja, quem está ”exposto” a uma
determinada situação, que pode designar características muito distintas, desde o local
de residência, até uma característica morfológica ou mesmo genética.
Alguns exemplos do que se entende aqui por “exposição”:
Expostos a antidepressivos
Etc.
Por exemplo, a exposição pode ser definida como “beber pelo menos 20 ml de
refrigerantes, pelo menos duas vezes por”. Ou “fumar pelo menos 5 cigarros por dia”.
Nestas condições, os grupos não expostos poderiam ser “respetivamente”: “não beber
refrigerantes” e “não fumar”.
De forma a permitir a comparação ao longo do tempo7 e a tirar ilações quanto à
associação8 entre a exposição e os efeitos observados (com base nos outcomes
considerados – doença, perceção de vitalidade, etc.) importa que os grupos (exposto
versus não expostos) sejam similares (por exemplo, indivíduos que no ano da
composição do coorte fazem 18 anos, homem ou mulher, alunos de uma determinada
universidade, sem doença crónica diagnosticada).
Os critérios de inclusão dos casos e dos controlos permitem assim garantir que os
participantes do grupo exposto não diferem dos participantes do grupo de controlo
relativamente a variáveis consideradas como relevantes (idade, morbilidades, etc.) e
que importa controlar. Por outro lado, importa ter muita atenção aos critérios de
exclusão no estudo. Isto porque é importante garantir que não existem variáveis que
possam ser fatores óbvios de confundimento ou viés. Por exemplo, pode ser relevante
não incluir jovens com história familiar de cancro pulmonar se um dos objetivos do
coorte for estudar o efeito da exposição (versus não exposição) ao tabaco durante 5
anos.
Ainda sobre critérios de inclusão! Como os coortes dependem da ocorrência de novos
casos ao longo do tempo para determinar a associação entre a exposição (ou não
exposição) e o outcome em estudo, é fundamental que os participantes não sejam já
casos em que o outcome já exista.
Por exemplo, se o objetivo é saber se um determinado método escolar é melhor ou
pior que outro para se aprender um determinado procedimento matemático, pode
7
É necessário definir a periodicidade dos momentos de recolha de dados bem como a duração total do acompanhamento do
coorte.
8
Repare-se que, como se trata de um estudo observacional, apenas podemos falar de associação, não de causalidade – apesar de
ser um desenho que permite inferir mais causalidade do que o dos estudos caso-controlo.
No esquema seguinte podemos ver como é que esta fórmula se aplica ao exemplo do
estudo sobre estilo alimentar e obesidade.
Desvantagens
• Não apropriado para estudo de patologias/eventos raros (porque isso requer
elevado número de participantes)
• Não apropriado quando o período de latência é grande (nestes casos, é
preferível recorrer a coortes históricos)
• Padrões de exposição podem mudar durante o curso do estudo (variáveis de
confundimento)
• Elevada “mortalidade experimental”
• Caros e difíceis de operacionalizar
• Os dados de baseline podem ser escassos (muitos participantes entrevistas
curtas)
Os estudos caso-controlo:
• A seleção de casos e de controlos
Os estudos de coorte:
• Perda do seguimento dos indivíduos
• Múltiplas exposições (difícil de controlar, mesmo estatisticamente)
O ensaio clínico:
• Contaminação entre grupos,
• Perda do seguimento dos indivíduos
• Capacidade de ocultação (simples, dupla, tripla)
Existem diferentes
métodos de avaliação da eficiência das intervenções:
Análise custo-efetividade
Este tipo de análise permite a comparação entre alternativas de intervenção, não
apenas em termos de custos mas também em termos de ganhos associados. Os
custos são expressos em unidades monetárias e os ganhos em termos de unidades
clínico-epidemiológicas (anos de vida, ganhos de saúde expressos por indicadores
fisiológicos, eventos clínicos evitados, etc.).
Comparar alternativas
Análise custo-beneficio
Trata-se de uma avaliação económica em que os custos da intervenção em estudo
análise bem como os efeitos da intervenção são valorizados em termos financeiros
(unidades monetárias).
Análise custo-utilidade
Trata-se de uma avaliação económica que permite a comparação entre diferentes
alternativas de intervenção, através de rácios entre custos (expressos em unidades
monetárias) e efeitos ou consequências, medidos (por exemplo) através de anos de
vida ajustados pela qualidade: os QALY (quality-adjusted life years).
Para além do tipo de indicadores utilizados, importa realçar algumas diferenças entre
análise custo-benefício e análise custo-utilidade:
• Análise custo-utilidade é usado quando existe uma valorização (da utilidade)
dos outcomes, usando para o efeito o conceito de QALYs. Ou seja, não se
pretende apenas ver o ganho „material‘ associado a uma intervenção; há
também uma leitura do valor (added-value) associado ao essa intervenção.
• As consequências (ou efeitos) das intervenções são ajustadas por níveis ou
graus de preferência por cada outcome (os “pesos de utilidade” - utility
weights). Por exemplo, qual a preferência (percepção de utilidade) entre treinar
1 hora por dia e em boa forma física e treinar 3 horas por dia e ficar em óptima
2. Criar, para cada pergunta, um código. O mesmo para cada opção de resposta. As
perguntas são geralmente codificadas de acordo com o seu número no questionário.
Exemplo:
2. Qual é o seu sexo? a. masculino b. feminino
3. Criar a base de dados: geralmente, é mais fácil inserir os dados em folha de Excel e
importá-la depois para o software estatístico desejado. A estrutura típica das bases de
dados é a seguinte: as colunas representam variáveis e as linhas representam os
casos (cada linha corresponde a uma pessoa).
sucesso tenderá a ser superior ao que seria encontrado pela abordagem ITT.
Variáveis quantitativas
Discretas Tomam um número (finito ou infinito), numerável, de valores
de razão
É possível quantificar as diferentes entre as medições
Variáveis qualitativas
Nominais Variáveis não passíveis de quantificação ou ordenação
Medidas de localização
Moda Observação mais frequente/prevalente da amostra.
empírico
Quantis com designações particulares:
de ordem p
‐ Q0.25, Q0.5 e Q0.75: 1º, 2º e 3º quartil, respetivamente
‐ Q0,1, Q0,2, …,Q0,8, Q0,9: decis
‐ Q0,01, Q0,02, …, Q0,98, Q0,99: percentis
Medidas de dispersão
Amplitude Amplitude do intervalo entre os valores máximo e mínimo
amostral
amostral ou
variação
‐ Elucidativa da ordem de grandeza do desvio-padrão face
dispersão)
Estimação
pontual
Testes de hipóteses
Incluir dados que resultem do estudo e que já tenham sido publicados noutros
artigos
Estilo de linguagem
Os resultados devem ser escritos de forma concisa e objetiva, sem qualquer
interpretação. Como vimos antes, a interpretação dos resultados, atendendo aos
méritos, virtudes e limites dos métodos e ao que se sabe de outros estudos, deve ser
feita apenas na secção da discussão.
Algumas sugestões práticas para a escrita dos resultados:
Group
Intervention Control Total
% de N % de N % de N % de N % de N % de N
válida da válida da válida da válida da válida da válida da
Group
Contagem coluna linha Contagem coluna linha Contagem coluna linha
Sexo Masculino 25 Intervention
38,5% 47,2% 28 Control
45,2% 52,8% 53 Total
41,7% 100,0%
% de N % de N % de N % de N % de N % de N
Feminino 40 61,5% 54,1% 34 54,8% 45,9% 74 58,3% 100,0%
válida da válida da válida da válida da válida da válida da
Total 65
Contagem 100,0%
linha 51,2%
coluna Contagem 62 100,0%
linha 48,8%
coluna Contagem127 100,0%
linha 100,0%
coluna
Qual o Solteiro/a 22 36,7% 33,8% 38 63,3% 61,3% 60 100,0% 47,2%
seu Casado/a 31 67,4% 47,7% 15 32,6% 24,2% 46 100,0% 36,2%
estado ou em
civil? união de
[baseline] facto
Divorciado 12 60,0% 18,5% 8 40,0% 12,9% 20 100,0% 15,7%
/a ou
separado/
a
Viúvo/a 0 0,0% 0,0% 1 100,0% 1,6% 1 100,0% 0,8%
Total 65 51,2% 100,0% 62 48,8% 100,0% 127 100,0% 100,0%
Tabelas e figuras
A forma como apresentamos os resultados sob a forma de tabelas e/ou figuras é muito
importante. A sua preparação deve ser feita assim que tenhamos todos os dados
analisados.
Algumas regras simples:
O título das tabelas deve ser apresentado no topo das mesmas, enquanto os
Relatórios de investigação
O que é? Durante a execução de um projeto, é necessário preparar relatórios de
progresso, com uma periodicidade regular (por exemplo, a cada seis meses ou no final
de cada trimestre), de acompanhamento da sua evolução. Além destes relatórios
intermédios, é ainda elaborado habitualmente um relatório final que resuma tudo o que
foi feito durante o período de implementação do projeto. Ainda que o conteúdo do
relatório dependa dos requisitos específicos da entidade financiadora, importa referir
que este tipo de documento serve sobretudo como um resumo do que foi feito, de
como foi feito, incluindo a apresentação dos resultados e das conclusões do estudo.
Secção Descrição
Período de reporte Período a que se refere o relatório apresentado
Identificação da entidade responsável pela elaboração
Entidade
do relatório e, se solicitado, dos parceiros envolvidos.
Artigos científicos
O que é? Como já referido, uma das formas mais usadas, e a mais creditada pela
comunidade científica, para divulgação dos resultados do estudo é a publicação em
revistas com revisão de pares (com ou sem fator de impacto). O objetivo deste tipo de
escrita é apresentar à comunidade científica o estudo com explicitação detalhada dos
métodos utilizados, expondo os resultados encontrados e as implicações para a
prática são consistentes.
Mas quais são os critérios que podemos usar para escolher uma revista científica?
1. Em primeiro lugar, devemos ponderar em que tipo de revista queremos publicar:
nacional ou internacional? Geral ou específica? Com ou sem revisão de pares? Em
open access?
2. Uma das métricas mais usadas para avaliação de uma revista a ser considerada no
processo de escolha da revista é o fator de impacto. O factor de impacto da Thomson
Scientific calcula para cada uma das revistas indexadas no Journal Citation Reports
(um recurso que reúne dados bibliométricos de publicações científicas a nível
Fonte: http://www.scimagojr.com
Fraquezas: O processo pode ser longo; revistas de elevado fator de impacto têm uma
taxa de rejeição de artigos muito alta (o British Medical Journal / BMJ rejeita cerca de
93% dos trabalhos submetidos).
Conferências
O que é? A apresentação dos resultados do estudo numa conferência, seja ela
nacional ou internacional, ajuda a divulgar a investigação que foi feita mais
rapidamente, em comparação com o tempo necessário para publicar artigos
científicos. As conferências também são uma oportunidade para os investigadores
com os mesmos interesses interagirem e partilharem ideias, bem como de apresentar
o seu trabalho a potenciais entidades financiadoras (se estas estiverem representadas
no congresso).
habitualmente pela submissão de um resumo que será depois avaliado por um comité
de seleção. O resumo exige a articulação, de forma clara e concisa, geralmente entre
250-300 palavras, a essência do projeto.
No caso dos pósteres, e sobretudo quando existem prémios para os melhores
trabalhos, a organização da conferência pode exigir que cada investigador faça uma
pequena apresentação do seu conteúdo (5-10 minutos). Para as comunicações orais,
estas têm uma duração aproximada de 15 minutos, com 5 minutos adicionais para
perguntas.
Fraquezas: As conferências de alto nível são mais competitivas; exigem uma boa
capacidade de síntese e de comunicação oral (em alguns casos, uma boa
apresentação e boas competências de comunicação oral podem aumentar a
atratividade do estudo).
Policy brief
O que é? Um policy brief é um documento curto que apresenta os resultados e as
recomendações de um projeto de investigação a um público especializado.
Geralmente, são usados para defender mudanças legislativas e políticas a nível local,
regional e nacional.
Público-alvo: Principais decisores políticos que, por falta de tempo e enorme
produção científica numa dada área, tendem a selecionar a evidência mais adequada
ao seu ponto de vista político.
Forças: Se elaborados com cuidado, os policy brief podem ser uma ferramenta
poderosa para comunicar os resultados da pesquisa ao público das políticas de
desenvolvimento.
Press release
O que é? Os meios de comunicação social são uma das audiências mais cruciais para
o investigador pois podem atuar como público-alvo e, ao mesmo tempo, como
disseminadores. Representam uma dos meios mais eficientes e eficazes de divulgar
resultados, na medida em que podem alcançar grupos populacionais que são
inacessíveis para a equipa de investigação. Além disso, podem aumentar a
consciencialização e tornar públicos ou mais visíveis para os decisores políticos
determinados problemas.
Conteúdo: O press release deve conter uma descrição do "quem, o quê, quando e
por quê" do estudo em palavras claras. Deve começar com a apresentação das
informações mais importantes (por que é importante publicar) e terminar com o menos
importante (ou seja, investigadores ou instituição responsável pelo estudo).
Social media
O que é? O recurso às plataformas de redes sociais, como blogs, Twitter, Facebook,
LinkedIn, etc., permite a partilha rápida de resultados com públicos mais amplos. A
participação ativa nas redes sociais permite a divulgação dos resultados de uma forma
rápida e eficaz.
estudo?
Canal: qual é a maneira mais efetiva de alcançar cada público-alvo?
Execução: Quando deve ter lugar cada etapa do plano de disseminação (por exemplo,
em que momentos durante a implementação do estudo e depois do fim do estudo)?
Quem será responsável pelas atividades de disseminação?
BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA
ANEXOS
CONSENTIMENTO INFORMADO
Este documento descreve o estudo para o qual o/a convidamos a participar. Por favor leia-o
atentamente. No fim, o(a) investigador(a) irá perguntar-lhe se concorda em participar. Se não se
sentir totalmente esclarecido, sinta-se à vontade para perguntar qualquer questão que tenha ao(à)
investigador(a). Não fique com dúvidas. Caso decida participar e se surgirem novas questões, poderá
contactar o(a) investigador(a) para esclarecê-las.
3. INTERVENÇÃO
Trata-se de uma formação que decorrerá ao longo de algumas sessões.
Informações relevantes:
• Cada sessão terá a duração de aproximadamente até duas horas;
• Não se pretende julgar o comportamento/ atitudes de cada participante, mas contribuir para que
possam regressar com qualidade ao trabalho, lidando eficazmente com as dificuldades que uma
situação laboral precária possa implicar;
• As informações recolhidas serão utilizadas única e exclusivamente para fins científicos;
• Será mantido o anonimato de cada participante e confidencialidade das respostas.
estará a contribuir para o conhecimento do impacto na saúde mental das situações de emprego
precárias e do desemprego.
CONSENTIMENTO INFORMADO
Para os devidos efeitos, declaro estar devidamente esclarecido/a sobre o estudo, aceitar participar
no estudo e dar o meu consentimento para que se faça a recolha da informação, que será utilizada
______________________________ ___________________________________
CONSENTIMENTO INFORMADO
Para os devidos efeitos, declaro estar devidamente esclarecido/a sobre o estudo, aceitar participar
no estudo e dar o meu consentimento para que se faça a recolha da informação, que será utilizada
______________________________ ___________________________________