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NOÇÕES DE

DIREITO
Aspectos Médico-Legais dos Crimes:
Liberdade Sexual, Aborto e Abandono-RN

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
NOÇÕES DE DIREITO
Aspectos Médico-Legais dos Crimes: Liberdade Sexual, Aborto e Abandono-RN
Dalbertom Caselato Junior

Sumário
Aspectos Médico-Legais dos Crimes: Liberdade Sexual, Aborto e Abandono-RN....................3
1. Aspectos Médico-Legais dos Crimes Contra a Liberdade Sexual....................................................3
2. Aspectos Médico-Legais do Aborto, Infanticídio e Abandono de Recém-Nascido...............8
2.1. Infanticídio: Aspectos Dogmáticos Penais e Médico-Legais..........................................................8
2.2. Aborto: Aspectos Dogmáticos Penais e Médico-Legais..................................................................9
2.3. Abandono de Recém-Nascido: Aspectos Médico-Legais. ............................................................. 24
Resumo................................................................................................................................................................................27
Mapas Mentais. . ..............................................................................................................................................................32
Questões de Concurso................................................................................................................................................36
Gabarito................................................................................................................................................................................41
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................42
Referências........................................................................................................................................................................52

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ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DOS CRIMES: LIBERDADE


SEXUAL, ABORTO E ABANDONO-RN
1. Aspectos Médico-Legais dos Crimes Contra a Liberdade Sexual
Acerca dos crimes contra liberdade sexual e suas perícias, convém situar-se, no Códi-
go Penal, quais sejam tais crimes. Note que tais crimes estão previstos no CAPÍTULO I (Dos
crimes contra a liberdade sexual) previstos nos artigos 213 (Estupro), 215 (Violação sexual
mediante fraude), 215-A (Importunação Sexual) e 216-A (Assédio sexual), dentro do TÍTULO
VI (Dos crimes contra a dignidade sexual) os quais compreendem dos artigos 213 a 226, CP.
Assim, seu edital deve ser específico sobre a exigência dos aspectos médico-legais refe-
rente somente aos crimes contra a liberdade sexual, conforme indicado.
Diante deste cenário, tais aspectos médico-legais são estudados no contexto da erotologia
forense. Os principais objetivos do ponto de vista pericial residem na descrição minuciosa das
lesões e as particularidade ali encontradas, ajudando a entender o que cada tipo de lesão diz
a respeito da prática delituosa caracterizadora de crime com conotação sexual; a partir desta
análise, será possível responder aos quesitos de forma adequada.
Dos crimes contra a liberdade sexual de maior incidência e importância para o seu edital de
concurso, destacam-se o crime de Estupro (artigo 213, CP):

Estupro (Incluído pela Lei n. 12.015, de 2009)


Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito)
ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

A lei n.. 12.015/2009 – no que se refere ao delito de Estupro, realizou uma atualização no
tipo penal, de forma a abarcar os conceitos de conjunção carnal e outro ato libidinoso em um
mesmo tipo penal, agora o atual artigo 213, CP.
Com esta mudança, fundamentada na doutrina de direito penal como a aplicação do prin-
cípio da continuidade normativo-típica, tanto homens como mulheres passaram a ser sujeitos
ativos do crime de Estupro, visto a lei n.. 12.015/2009 englobar as condutas de atos libidinosos
anteriormente previstos no revogado artigo 214, CP.
Do ponto de vista médico-legal, Genival França (2015) denomina ato libidinoso – compre-
endido no tipo penal de Estupro previsto no artigo 213, CP – como sendo:

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“toda prática que tem por fim satisfazer completa ou incompletamente o apetite sexual, o qual pode
traduzir-se, algumas vezes, em transtorno da preferência sexual [...] o ato libidinoso, além da con-
junção carnal, manifesta-se nas mais variadas situações: no coito ectópico, na masturbação, nos
toques e apalpadelas de mamas, coxas e vagina, na palpação de nádegas, etc”.

Do ponto de vista da dogmática do direito penal, cabe um esclarecimento do professor:


caso algumas destas ações libidinosas praticadas pelo autor tenha por finalidade específica a
satisfação da própria lascívia ou a de terceiro, a lei n.. 13.718/2018 determina a tipificação des-
tas condutas no crime de importunação sexual, com pena de reclusão de 01 a 05 anos, caso
não haja ocorrência e crime mais grave:

Importunação sexual (Incluído pela Lei n. 13.718, de 2018)


Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.

Caberá, deste modo, em relação aos atos caracterizadores do Estupro, faz-se necessário aten-
ção por parte do perito de utilizar seus conhecimentos técnico-científicos para discernir e identifi-
car elementos subjetivos e objetivos que precederam ao crime: desde a análise médico-legal das
lesões encontradas até a narrativa de aspectos informados pela vítima.
Feitas estas conceituações legais introdutórias, passa-se, agora, ao estudo das perícias
nos casos de conjunção carnal caracterizadoras do crime de Estupro, segundo a literatura de
Genival França (2015), dividindo-se em alguns quesitos básicos:
a) Histórico: a perícia deverá trabalhar com a finalidade precípua de localizar elementos
atinentes aos atos sexuais praticados, levando-se em conta aspectos relacionados sobre hora,
local etc. Informações específicas acerca do número de relações sexuais, aspectos em rela-
ção a terem sido cometidas no mesmo dia ou em dias alternados ou a posição em que a vítima
foi encontrada devem ser consideradas no estudo.
b) Exame subjetivo: devem ser consideradas as condições da vítima, além de todos os
sinais e sintomas e seu desenvolvimento mental antes e após o fato-crime.
c) Exame objetivo genérico: leva-se em consideração aspectos gerais da vítima (Ex.: peso,
altura, estado geral, lesões externas tais como equimoses, hematomas e escoriações);
d) Exame objetivo específico: coloca-se a paciente em posição ginecológica, examinando-
-se cuidadosamente o aspecto e a disposição dos elementos da genitália.
e) Exame em mulher virgem: será considerada, inicialmente, a perda da integridade do hí-
men, levando-se em conta os casos de hímen complacente.
f) Demais aspectos: caso a mulher tenha vida sexual ativa, se há ou houve gravidez, presen-
ça de esperma nas cavidades internas.

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O exame médico-legal pode vir a constatar a presença de doenças venéreas, bem como a
presença de elementos como a fosfatase ácida e glicoproteína P30, muito importantes no
diagnóstico de conjunção carnal. Ademais, alguns sinais clínicos podem trazer probabilidade
de certeza na realização de conjunção carnal na vítima, tais como:
a) Ruptura do hímen: no que se refere ao rompimento ou rotura do hímen (decorrentes da ação
traumática nos casos de conjunção carnal, consentida ou não), são classificadas como roturas
parciais (as quais não atingem a borda de inserção) e roturas totais (as quais atingem comple-
tamente a borda de inserção) (HÉRCULES, 2011);
b) Presença de esperma na cavidade vaginal;
c) Presença de gravidez;
d) Presença do elemento fosfatase ácida prostática em níveis acima de 300 Ul/ml no canal vagi-
nal (o que equivaleria a presença espermática no local);
e) Presença de cancro sifilítico no colo do útero;
f) Presença do elemento glicoproteína P30 de procedência exclusivamente prostática, que se
relaciona com o PSA (prostate-specific-antigen) que – para Roberto Blanco – caracteriza um
forte marcador para indicar maior ou menor probabilidade de câncer de próstata (lembrando
que tais achados possuem presunção relativa).

No que se refere a lesão himenal proveniente da conjunção carnal, Roberto Blanco nos afir-
ma que a orla himenal sofre o que chamamos de ruptura ou rotura, podendo-se perceber início
de hemorragia discreta, associada a equimose nas bordas da rotura, tumefação e dor (estes
últimos sinais de rotura himenal recente).
Se a lesão himenal for antiga, BLANCO nos ensina que a cicatrização geralmente não une
as bordas lesionadas, permanecendo-as separadas, porém com as margens cicatrizadas. Tal
cicatrização leva, em média, 7 dias dentre um período de 3 a 21 dias. Um método importante
para se visualizar a lesão himenal é a lâmpada de Wood, (muito utilizado na dermatologia)
onde o hímen roto fica róseo-violáceo com as cicatrizes branco-amareladas.
Outros dois exames himenológicos que podem pintar em sua prova de concurso são o
relógio himenológico de Lacassagne (consiste em dividir o hímen como se fosse um mostra-
dor de relógio, de modo que as lesões seriam apontadas no sentido do ponteiro, como se o
experto estivesse verificando as horas. É conhecido também como o método cronométrico de
Lacassagne e Capraro.
O segundo método denominado goniométrico é conhecido como quadrantes de Oscar
Freire, onde a identificação das lesões são feitas por quadrantes subdivididos em espaços de
0 a 90 graus, de dez em dez graus. As direções devem ser indicadas levando a esquerda e a
direita da vítima, não a do examinador.

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Importante! Em nenhum caso estará autorizado ao perito médico-legista o exame de toque


ginecológico!!!!

CROCE, Delton; CROCE JÚNIOR, Delton. Manual de Medicina Legal, 8ªed. Saraiva, 2017, p. 1254.
Se o hímen é complacente e a cópula não deixou vestígios, após descrever minuciosamente
a exiguidade da orla, a amplitude do óstio e a ausência de resquícios da conjunção carnal, só
resta aos peritos prudentemente informar no laudo sentirem-se tolhidos pela falta de sinais para
negar ou afirmar de sã consciência o aludido congresso sexual (CROCE; CROCE JÚNIOR, 2017).
Além dos exames himenológicos apresentados, outro indicativo importante na perícia
médico-legal em casos de crimes sexuais é a presença de esperma.

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Para Roberto Blanco, esperma é o conjunto de células e líquidos que integram a ejaculação
composta basicamente por espermatozoides, leucócitos, líquido prostático (que contém P.S.A
– fosfatase ácida prostática), vitaminas, enzimas, hormônios, glicídios, lipídios, proteínas, sais
minerais, dentre outros elementos. (FERREIRA, 2020).
Especialmente para os cargos de datiloscopista policial e técnico em necropsia, existem
algumas provas microcristalográficas que indicam somente provas de probabilidade e não de
certeza da presença de esperma:
a) Presença de espermina: reações de Barbério (cristais de leucomaínas espermáticas) ou
de Baecchi (aparecem após os cristais de Florence);
b) Presença de colina: cristais de colina liberados das lecitinas do espermatozoide, indican-
do a probabilidade de esperma humano (reação de Florence);
c) Reações de Bokarius, Niederland (micro cristais de sulfato de cálcio), Dominicis (micro
cristais vermelho granada em forma de cruz ou retangulares) e Marzo (micro cristais poligonais);
d) Presença de fosfatase ácida (reação de Walker): concentração em torno de 250 a 300
Ul por ml do material sob exame, feito com sucesso até 4 dias após a ejaculação intravaginal.
e) Outros métodos alternativos: lâmpada de Wood (esperma fica luminescente); teste
feito com antígenos ABO para confrontar com o grupo sanguíneo do suposto autor do crime
e reação de Corin Stokis (específica para esperma, apesar de não especificar se de espécie
humana ou não-humana).
No que se refere às lesões anais e perianais, indicativos de atos libidinosos diversos da
conjunção carnal, Wilson Ferreira (2020) indica a necessidade, em exame pericial médico-le-
gal, da identificação de outras duas lesões específicas:
a) Sinal de Wilson Johnston: toque retal doloroso, hemorragia e equimose nas margens do
reto; aspecto triangular, constipação e evacuação dolorosa;
b) Sinal de Alfredo Machado: cicatrização de Wilson Johnston.

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2. Aspectos Médico-Legais do Aborto, Infanticídio e Abandono de


Recém-Nascido
2.1. Infanticídio: Aspectos Dogmáticos Penais e Médico-Legais
Acerca do infanticídio, conceitua-se – segundo Rogério Sanches Cunha (2021), como uma
espécie de um homicídio praticado pela genitora contra o próprio filho, influenciada pelo cha-
mado estado puerperal durante ou logo após o parto. Justamente em razão destes sintomas
fisiopsicológicos da gestante é que a doutrina entende o infanticídio como uma espécie de
privilegiadora do homicídio, porém previsto em um tipo próprio (artigo 123, CP), com pena co-
minada de detenção de dois (02) a seis (06) anos:

Infanticídio. Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena – detenção de dois a seis anos.

Rogério Sanches Cunha, citando Julio Fabbrini Mirabete, define o estado puerperal como sendo

“os caos em que a mulher, mentalmente sã, mas abalada pela dor física do fenômeno obstétrico, fa-
tigada, enervada, sacudida pela emoção, vem a sofrer um colapso em seu senso moral [...] chegando
a matar seu próprio filho [...] sob o trauma da parturição e dominada por elementos psicológicos
peculiares, se defronta com o produto talvez não desejado e temido de suas entranhas”.

Ademais, CUNHA esclarece que a expressão sob influência prevista no tipo penal pode
compreender de 06 dias a 06 semanas. (CUNHA, 2021). O Brasil adotou, portanto, o critério
fisiopsicológico nestes casos.
Classificação do crime: trata-se de um crime próprio tanto para seu sujeito ativo (a ges-
tante) como para seu sujeito passivo (filho neonato), motivo pelo qual a doutrina o classifica
como crime bi próprio.
É possível haver infanticídio durante o parto? Segundo Wilson Luiz Palermo Ferreira (2020),
há casos raros na literatura médico-legal que relatam infanticídio “ao desapontar na abertura
vulvar” a criança, morta em decorrência de “contusão craniana, perfuração das fontanelas (re-
giões da cabeça de um recém-nascido que não são envolvidas pelos ossos do crânio) por
esgorjetamento ou decapitação”.
O termo legal logo após o parto assume uma conotação mais psicológica do que cronoló-
gica, visto que compreende o período desde a expulsão do feto até os primeiros cuidados ao
infante nascido (FERREIRA, 2020).

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O PULO DO GATO
Wilson Ferreira esclarece que o termo legal estado puerperal é uma verdadeira ficção jurídica,
visto que – na literatura médico-legal – tal distúrbio não existe como patologia própria nestes
tratados médicos:

Não há nenhum elemento psicofísico capaz de fornecer à perícia elementos consistentes e seguros
para se afirmar que uma mulher matou seu filho durante ou logo após o parto motivada por uma
alteração “estado puerperal”. (FERREIRA, apud FRANÇA, 2015).
O estado puerperal, expressão ambígua e entidade contestada pelos médicos, tem merecido, através
de todo esse tempo, severas críticas, sendo, inclusive, considerado por alguns como uma simples fic-
ção jurídica no sentido de justificar a benignidade e tratamento penal, quando a causa principal seria
a pressão social exercida sobre a mulher cuja gravidez compromete a sua imagem (FRANÇA, 2015).

A perturbação mental – segundo Hélio Gomes – entende advir de critérios psicológicos


relativos à tentativa de ocultar desonra própria de uma gravidez ilegítima (impetus honoris), e o
estado físico-psíquico (impetus doloris), gerado pelo desgaste físico causado pelo parto, como
dores, sangramentos, medo, fadiga e esgotamento nervoso.
Portanto, não se deve confundir o termo legal estado puerperal e o termo médico-legal
puerpério.

2.2. Aborto: Aspectos Dogmáticos Penais e Médico-Legais


O aborto é conceituado na medicina-legal como um dos crimes contra a vida que se carac-
teriza pela “morte do produto da concepção decorrente das lesões provocadas no interior do
útero materno” (FERREIRA, 2020), com previsão legal a partir do artigo 124 do Código Penal:
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena – detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena – reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de qua-
torze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência

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Forma qualificada
Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão cor-
poral de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Do ponto de vista da dogmática penal, o aborto”é a interrupção da gravidez com a destrui-
ção do produto da concepção” (CUNHA, 2021). Em que pese o CP falar no termo aborto, do
ponto de vista técnico-legal da medicina, é mais correto a utilização do termo abortamento.
Assim, enquanto o aborto é o produto da interrupção da gravidez, o abortamento é a con-
duta criminosa consistente na interrupção de uma gravidez regular.
Termo inicial da gravidez: se dá com a fecundação ou a nidação? Resposta: é com a nida-
ção, que consiste na implantação do óvulo fecundado no endométrio. Rogério Sanches escla-
rece, assim, que é por isso que a utilização da chamada pílula do dia seguinte (misoprostol) não
é considerada conduta criminosa de abortamento.
A seguir, segue um mapa mental abordando as modalidades de aborto do ponto de vista
legal e doutrinário, seguido de uma revisão da dogmática penal acerca do tema para melhor
compreensão do conteúdo:

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O STF, no ADPF 54, autorizou o chamado aborto de feto anencefálico, espécie de aborto eugê-
nico, relativizando sua criminalização.
Ainda, o STF, no HC 124.306/RJ, decidiu que a

“interrupção voluntária da gestação não deve ser criminalizada – pelo menos – durante o primeiro
trimestre da gestação (1ª até a 13ª semana de gestação, ainda compreendida dentro do conceito de
aborto embrionário) [...] onde o córtex cerebral – que permite ao feto desenvolver emoções e racio-
nalidade – ainda não foi formado, nem há qualquer potencialidade de vida fora do útero materno”.

Qual infração penal comete quem anuncia produtos ou métodos abortivos? Resposta: pra-
tica contravenção penal descrita no artigo 20 da LCP, com pena de multa.

2.2.1. Aborto Provocado pela Gestante ou com o seu Consentimento (Art. 124, CP)

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena – detenção, de um a três anos.

Sujeito ativo: a gestante.


Classificação quanto ao sujeito ativo: em que pese divergência doutrinária, posição de
Cézar Roberto Bittencourt prevalece no sentido de ser crime de mão própria; ou seja, praticado
somente pela gestante, admitindo participação, mas não coautoria. (O terceiro coexecutor res-
ponderá pelo crime previsto no artigo 126, CP).

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Sujeito passivo: prevalece o entendimento doutrinário de que o sujeito passivo é o feto. Em


razão desse entendimento é que o aborto criminoso praticado contra a gestação de gêmeos
ou mais aplica-se o concurso formal de delitos.
Condutas puníveis: pune-se a conduta de auto-aborto, valendo-se a gestante de qualquer
meio para tal, bem como a punição contra a gestante que consinta que outrem lho provoque o
abortamento; assim, a gestante apenas consente, respondendo pelas penas do artigo 124, CP,
enquanto terceiro executa as manobras abortivas e responde pelas penas do artigo 126, CP.
Voluntariedade e consumação: o crime é punido somente à título de dolo (seja direito ou
eventual); inadmite-se modalidade culposa. O crime é material, ou seja, se consuma com a
morte do feto. E a modalidade tentada? É possível, visto que o crime é plurissubsistente.
Vamos a um caso prático? ALMERINDA, 23 anos, gestante com 15 semanas, decide rea-
lizar manobras de abortivas, visto não desejar ser mãe. Após a realização de tais manobras,
utilizando-se de medicamento abortivo em sua casa, ainda sim o feto vem a nascer com vida.
Em seguida, ALMERINDA, visando concluir seu intento abortivo, renova seus atos executórios
sobre aquela vida, consumando o ato. Pergunta-se: qual crime praticou ALMERINDA? Res-
posta: se o feto nasceu com vida e morreu após a gestante renovar o ato de execução, agora
contra uma vida extrauterina, ALMERINDA praticou crime de Homicídio, visto não haver infor-
mação sobre possível estado puerperal que justificasse a imputação pelo crime de Infanticídio.

2.2.2. Aborto Provocado por Terceiro (Art. 125, CP)

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena – reclusão, de três a dez anos.

Sujeito ativo: trata-se de crime comum (praticado por qualquer pessoa).


Sujeito passivo: aqui tem-se o que a doutrina chama de dupla subjetividade passiva, onde
são sujeitos passivos necessários a gestante e o feto.
Conduta: pune-se o terceiro que provoca o abortamento, interrompendo o transcurso natu-
ral da gestação sem o consentimento da gestante.
Pena – reclusão de 03 a 10 anos.
Voluntariedade: punido à título de dolo, direto ou eventual.
Consumação: com a morte do feto (crime material).
Admite-se tentativa (crime plurissubsistente).
Caso prático: ALBERICO, após descobrir uma traição de sua esposa AMÉLIA, decide ma-
tá-la utilizando-se de uma dose excessiva de medicamento controlado de utilização diária
da vítima. Após ministrar o medicamento em excesso, ALBERICO, ciente de que AMÉLIA
gestava um filho de outrem, mata AMÉLIA e o feto de cerca de 3 meses de gestação. Per-
gunta: Qual crime cometeu ALBERICO? Resposta: Será crime de Homicídio ou Feminicídio,

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conforme ALBERICO execute a conduta por razões ou não da condição de gênero feminino.
Ademais, como tinha ciência da existência do feto em gestação, responderá pelo crime de
aborto provocado por terceiro. Dica: como ALBERICO possuía desígnios autônomos em rela-
ção aos bens jurídicos vida de AMÉLIA e vida intrauterina do FETO, responderá em concurso
formal impróprio, somando-se as penas.

2.2.3. Aborto provocado com o Consentimento da Gestante (Art. 126, CP)

Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é
alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência

Sujeito ativo: trata-se de crime comum (praticado por qualquer pessoa).


Sujeito passivo: o feto, pois a gestante responderá pelo crime do artigo 124, CP.
Conduta: pune-se o terceiro que provoca o abortamento, interrompendo o transcurso natu-
ral da gestação COM O consentimento da gestante.
Pena – reclusão de 01 a 04 anos.
Voluntariedade: punido à título de dolo, direto ou eventual.
Consumação: com a morte do feto (crime material).
Admite-se tentativa (crime plurissubsistente).
Artigo 126, parágrafo único, CP: aplica-se a pena de reclusão de 03 a 10 anos (penas do
artigo 125, CP) no caso da gestante:
• não ser maior de 14 anos;
• ser alienada ou débil mental;
• consentimento obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

Importante! Para se evitar a chamada responsabilidade penal objetiva, é necessário que o exe-
cutor do abortamento saiba das condições pessoais da gestante referidas no §único do artigo 126.
Caso prático: GIUSEPPA, desejando abortar filho indesejado, procura o médico JARBAS
e consente na prática do abortamento. Durante os procedimentos, GIUSEPPA se arrepende e
manda JARBAS interromper as manobras abortivas, mas JARBAS não obedece e executa a
morte do feto. Qual crime responde JARBAS? Resposta: crime de abortamento sem o consen-
timento da gestante (art. 126, CP). E qual crime responde GIUSEPPA? Resposta: responderá
pelo crime de concessão de aborto provocado por terceiro (art. 124, 2ª parte, CP), visto que
seu arrependimento foi ineficaz.

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2.2.4. Formas Qualificadas1 do Aborto (Art. 127, CP)

Forma qualificada
Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Caso prático: GIUSEPPA procura o médico JARBAS para realizar um aborto. JARBAS, mes-
mo ciente da ilegalidade, aceita realizá-lo. Durante os procedimentos, advém como consequência
do abortamento praticado por JARBAS, lesão corporal grave em GIUSEPPA (perda da função re-
produtora), todavia o feto sobrevive. Pergunta: qual crime responde JARBAS? Resposta: JARBAS
responde, na forma tentada, por provocar aborto com o consentimento da gestante (art. 126, CP,
reclusão de 01 a 04 anos), mais o agravamento pela causa de aumento de 1/3 do art. 127, CP). A
doutrina deixa claro que a morte do feto é requisito dispensável para a incidência da majorante, vis-
to que o art. 127 do CP traz as expressões se em consequência do aborto (onde há morte fetal) ou
dos meios para empregados para provocá-lo (depreende-se que não há morte fetal) (CUNHA, 2021).

2.2.5. Aborto Legal ou Permitido (Art. 128, CP)

Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quan-
do incapaz, de seu representante legal.

1
Rogério Sanches, em verdade, atribui ao artigo 127 do CP a natureza jurídica de causas de aumento, criticando o erro
técnico-jurídico do legislador.

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Observações importantes:
• Os casos previstos na lei de aborto permitido independem de consentimento da vítima
ou de autorização judicial;
• Se o aborto necessário ou terapêutico for praticado por terceiro que não seja médico? Es-
tará acobertado, não pela causa especial de excludente de ilicitude do art. 128, I mas sim
pela causa geral excludente de ilicitude do art. 23 do CP (estado de necessidade geral);
• Se o aborto sentimental, humanitário ou ético for praticado por terceiro que não o médico?
Responderá pelo crime de provocar aborto com o consentimento da gestante (art. 126,
CP), por ausência de descriminante que socorra o autor.

2.2.6. Aborto de Feto Anencéfalo (ADPF 54)

Conceito: feto anencéfalo é um embrião, feto ou recém-nascido que, por malformação con-
gênita, não possui uma parte do sistema nervoso central, faltando-lhes os hemisférios cere-
brais, possuindo uma parcela do tronco encefálico (Maria Helena Diniz). Trata-se de uma vida
extrauterina inviável.
Segundo a literatura médica, a anencefalia é uma má formação do tubo neural que ocorre
entre a vigésima primeira (21ª) a vigésima sexta (26ª) semana de gestação. Os defeitos do tubo
neural (NTDs, de neural tube defects) são decorrentes do fato de o tubo neural não se formar
completamente (ou seja, não se estrutura como um verdadeiro tubo, que ocorre entre 25 e 27
dias após a concepção). Se o tubo neural não se forma completamente na região cefálica, então
a maior parte do encéfalo deixa de se formar, e o defeito é denominado anencefalia, uma mal

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formação congênita. Se a estruturação como um verdadeiro tubo não se concretiza em algum


lugar da região cervical, então o defeito é denominado espinha bífida. O local mais frequente de
ocorrência da espinha bífida é a região lombossacral, o que sugere que o processo de estrutura-
ção do tubo nessa área pode ser mais suscetível a fatores genéticos e/ou ambientais. A anence-
falia é um defeito letal; a maior parte desses casos é diagnosticada ainda no pré-natal por meio
de exame de ultrassonografia (CASELATO JÚNIOR, 2021, apud SADLER & LANGMAN, 2010: 64).

O PULO DO GATO
Argumentos da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde (CNTS):
a) A CNTS ajuizou a ADPF 54 no STF argumentando que – diante da deformação irreversível do
feto – há de se lançar mão dos avanços médicos postos à disposição da humanidade, evitando
sentimentos mórbidos;
b) A CNTS arguiu que se deve permitir – com base nos princípios da dignidade da pessoa hu-
mana, legalidade, liberdade e autonomia da vontade, o direito de a gestante nestas condições
realizar o abortamento;
c) Por fim, reconheceu implicitamente a atipicidade da conduta, por ausência de viabilidade da
vida extrauterina.
Procedimentos médicos regulamentados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM, 2012):
a) Previsão de exames de ultrassonografia a partir da 12ª semana de gestação;
b) O laudo médico deverá ser assinado por dois médicos;
c) Deve haver o consentimento da gestante;
d) Deverá ser realizado em Hospital, público, privado ou em clínicas particulares;
e) Deverá haver assistência médica durante todo o período.

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2.2.7. Posição Jurisprudencial do STF acerca do Aborto Embrionário Permitido


até a 13ª Semana de Gestação (HC 124.306/RJ)

No HC 124.306/RJ, a 1ª Turma do STF concedeu ordem para revogar a prisão cautelar


decretada em processo que apura a prática de aborto consentido, fundamentando a decisão,
dentre outras, na tese de que a interrupção da gravidez no primeiro trimestre não deve ser cri-
minalizada, a exemplo do que ocorre em países como os Estados Unidos, Alemanha, França,
Reino Unido e Holanda (SANCHES, 2021).
Veja o trecho da decisão do Ministro Luis Roberto Barroso sobre o tema:

JURISPRUDÊNCIA
“[...] é dominante no mundo democrático e desenvolvido a percepção de que a criminaliza-
ção da interrupção voluntária da gestação atinge gravemente diversos direitos fundamen-
tais das mulheres, com reflexos inevitáveis sobre a dignidade humana. O pressuposto do
argumento aqui apresentado é que a mulher que se encontre diante desta decisão trágica –
ninguém em sã consciência suporá que se faça um aborto por prazer ou diletantismo – não
precisa que o Estado torne a sua vida ainda pior, processando-a criminalmente. Coerente-
mente, se a conduta da mulher é legítima, não há sentido em se incriminar o profissional de
saúde que a viabiliza [...] A criminalização viola, em primeiro lugar, a autonomia da mulher,
que corresponde ao núcleo essencial da liberdade individual, protegida pelo princípio da
dignidade humana (CF/1998, art. 1º, III). [...] Em segundo lugar, a criminalização afeta a
integridade física e psíquica da mulher. O direito à integridade psicofísica (CF/1998, art. 5º,
caput e III) protege os indivíduos contra interferências indevidas e lesões aos seus corpos
e mentes, relacionando-se, ainda, ao direito à saúde e à segurança. A integridade física é
abalada porque é o corpo da mulher que sofrerá suas transformações, riscos e consequ-
ências da gestação. [...] A criminalização viola, também, os direitos sexuais e reprodutivos
da mulher, que incluem o direito de toda mulher de decidir sobre se e quando deseja ter
filhos, sem discriminação, coerção e violência, bem como de obter o maior grau possível de
saúde sexual e reprodutiva. [...] Na medida em que é a mulher que suporta o ônus integral
da gravidez, e que o homem não engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for
reconhecido o direito de decidir acerca de sua manutenção ou não.[...] Por fim, a tipificação
penal produz também discriminação social, já que prejudica, de forma desproporcional, as
mulheres pobres, que não têm acesso à médicos e clínicas particulares, nem podem se
valer do sistema público de saúde para realizar o procedimento abortivo. Por meio da cri-
minalização, o Estado retira da mulher a possibilidade de submissão a um procedimento
médico seguro [...] O tratamento penal dado ao tema, no Brasil, pelo Código Penal de 1940,
afeta a capacidade de autodeterminação reprodutiva da mulher, ao retirar dela a possibili-
dade de decidir, sem coerção, sobre a maternidade, sendo obrigada pelo Estado a manter
uma gestação indesejada [...] Ter um filho por determinação do direito penal constitui grave
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violação à integridade física e psíquica de uma mulher.” (SUPREMO TRIBUBAL FEDERAL,


2017). GRIFFO NOSSO

Portanto, segundo entendimento atual do STF, é preciso conferir a chamada interpretação


conforme a Constituição no que se refere aos artigos 124 e 126 do CP, no sentido de excluir do
seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre.
Vale ressaltar que a presente decisão ainda não foi objeto de apreciação pelo plenário do STF,
sendo uma decisão oriunda da 1ª Turma do Colegiado.

2.2.8. Aspectos Médico-Legais do Aborto e os Meios Abortivos

A literatura médico-legal clássica de Tardieu conceitua aborto como

“a expulsão prematura e violentamente provocada do produto da concepção, independentemente de


todas as circunstâncias de idade, viabilidade e mesmo de formação regular”.

No que concerne ao abortamento terapêutico, legal ou necessário, previsto no artigo 128, I, CP,
Genival França (2018) apresenta alguns requisitos indispensáveis a realização do ato de aborto:
• Perigo vital para a gestante;
• Perigo diretamente ligado a gravidez;
• Interrupção da gravidez como imprescindível para cessar o estado de perigo de morte;
• Procedimento de abortamento como único meio necessário para salvar a vida da gestante;
• Sempre que possível com a confirmação ou concordância de outros dois médicos.

Outro ponto importante se trata da possibilidade ou não da realização do chamado abor-


to eugênico. A ideia central deste procedimento é garantir que apenas nasçam bebês sem
qualquer tipo de anormalidade, seja de origem física ou mental. O termo “eugênico”, segundo
Wilson Palermo (2020), significa “boa gênese”. Diante deste quadro, surgiram posicionamen-
tos no sentido de se tornar permitidos os atos de abortamento de fetos acometidos pelo Zika
Vírus, decorrentes da microcefalia. Um dos argumentos trazidos é que a gestante teria direito
ao abortamento e não poderia ser penalmente criminalizada por sua conduta em razão da
omissão estatal em promover o devido controle do mosquito transmissor da doença (aedes
aegypti). Todavia, diferentemente dos casos de anencefalia, devidamente permitidos confor-
me o julgamento da ADPF 54, o ato de abortamento devido a microcefalia provocada pelo
Zika Vírus ainda é proibida em nosso ordenamento jurídico penal.
Os meios abortivos são utilizados para que se leve as últimas consequências a morte do
produto da concepção, podendo ser realizados pelos seguintes meios:
a) Físicos/mecânicos: utilização de laminarias de algas marinhas, as quais possuem fun-
ção hidrostática, absorvendo água; outro método conhecido é do da curetagem;

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b) Químicos: vegetais como a sabina, apiol, chá de jornal; ergotina (extrato do esporão do
trigo); hormônios; prostaglandinas (anti-inflamatórios não esteróides que atuam na muscula-
tura uterina); misoprostrol (oriundo do CYTOTEC); gemeprost (oriundo do medicamento CER-
VAGEM); levonorgestrel, etc;
c) Físico-químicos: injeção de sódio conhecido como aborto salino, consistente na injeção de
uma solução salina no útero (geralmente cloreto de potássio, KCI, via intracordonal ou intracardíaca);
d) Por pressão hidrostática: por injeção de água, sem ação de tóxicos, deslocando a pla-
centa e provocando o aborto.
O diagnóstico do aborto é realizado com o objetivo médico-legal de identificar o agente
causador e traçar a cronotanatognose, realizando o exame na mãe, buscando identificar a
hipótese de aborto espontâneo ou traumático, buscando, ademais, verificar a ocorrência de
aborto recente ou antigo, na mulher viva ou morta.
A despeito de alguns destes vestígios, o mapa mental a seguir esclarece tais dúvidas mé-
dico-legais com a realização do exame pericial:

Professor? Deste enorme mapa mental, o que o CEBRASPE tem maior tendência em cobrar?

Na minha opinião, acredito que o mais interessante em cobrar na sua prova seriam os si-
nais de aborto recente em mulher viva, seguindo esta tríade:
• Exames semelhantes a mulher de gravidez recente, com o produto da concepção (concepto)
sem vida ou em sua ausência;

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• Exame dos seios: objetivando a busca de pigmentações areolares, rede venosa/vascular


de Haller (aumento da vascularização das mamas), tubérculos de Montgomery (glându-
las sebáceas da aréola e do entorno do mamilo) e secreções;

MACHADO, Cris. @plantão materno. Facebook.com. Acesso em: 29 jul. 2022.

• Exame da genitália: edemas nos pequenos e grandes lábios, lóquios serossanguinolen-


tos ou serosos, lesões no períneo e no colo do útero (lembrando que a utilização das
pinças de Pozzi para a fixação e manobras dentro do útero deixarão duas lesões de duas
garras, ao passo que as pinças de Museaux deixarão quatro garras).

Obs.: No caso de mulheres grávidas pela primeira vez, são conhecidas pela literatura
médico-legal como primigestas, primíparas ou nulíparas. Já as multíparas pressupõe
mulheres que já pariram (FERREIRA, 2020).

No caso de mulher que figure como sujeito ativo do crime de Aborto, o princípio da não-au-
toincriminação (nemo tenetur se detegere) garante a não obrigação de realização dos exames
periciais, já que estaria produzido provas contra si.

O PULO DO GATO
Você saberia dizer o significado de aborto retido ou litopédio? Segundo Wilson Ferreira (2020),
ocorre quando o concepto morre, porém não é eliminado do corpo da gestante. A partir daí,
surge a figura do litopédio, ou criança de pedra. O feto fica impregnado de sais minerais prove-
nientes do corpo materno e o líquido amniótico é reabsorvido e o embrião sofre mumificação.
Do contrário, haveria a denominada maceração.

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Fonte: hyperscience.com. Acesso em: 29 jul. 2022.

Foi um dos raríssimos casos como o da chinesa Huang Yijun que ficou grávida em 1948, quando
recebeu dos médicos a notícia que seu filho havia morrido na sua barriga. Como não tinha dinheiro
para realizar a cirurgia para extrair o feto morto, Yijun, talvez por ignorância, deixou ele lá dentro.
Décadas mais tarde, ao sentir uma dor na barriga, o feto, já idoso, foi identificado como a causa
do desconforto. Mas isso não é nada comum! Em casos em que o feto morre no corpo da mãe,
geralmente o tecido se desfaz e é absorvido pelo organismo da mulher, ou expulso. O feto de
Yijun foi calcificado, um fenômeno raro conhecido como litopédio.

2.2.9. Aspectos Médico-Legais do Aborto na Tanatologia Forense

Não há como falar em aspectos-médico legais referentes ao crime de aborto sem pontuar-
mos temas da tanatologia forense relacionados a maceração fetal. (Atenção! Imagens fortes!)
Em linhas gerais introdutórias, maceração é o processo pelo qual o cadáver tem destruído seus
tecidos moles pela ação prolongada de líquidos. Wilson Ferreira (2020) identifica alguns sinais ca-
racterísticos como o destacamento da epiderme da derme e o esbranquiçamento e enrugamento da
pele. Abaixo, fotos ilustrativas de uma maceração decorrente de retenção fetal intra-uterina:

Maceração em retenção fetal intra-uterina. Fonte: Malthus.com.br

São classificadas, ademais, na literatura médico-legal, conforme os casos abaixo:


a) Maceração séptica: é a exposição prolongada do cadáver em líquido contaminado por
micro-organismos, o que não impede de ocorrer a putrefação.
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b) Maceração asséptica: não há contaminação do líquido, ocorrendo em fetos que, mortos,


permanecem no interior do útero protegidos pelo líquido amniótico.
c) Maceração nos fetos: o estudo deste aspecto pode auxiliar na responsabilização penal, es-
pecialmente nas imputações penais por erro médico, fraudes no nascimento e na sucessão civil:
c.1) Maceração fetal de 1º grau: forma-se as flictenas no período de um a três dias da pri-
meira semana de morte;

c.2) Maceração fetal de 2º grau: há presença de líquido amniótico hemorrágico e epiderme


arroxeada, rompendo-se as bolhas. Representa a segunda semana de morte;

c.3) Maceração fetal de 3º grau: ocorre por volta da terceira semana, onde ocorre a deformi-
dade craniana e infiltração hemoglobínica das vísceras. O feto possui uma coloração marrom
escuro e córion friável.

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Importante
Existem sinais gerais e específicos de maceração nos fetos: os sinais gerais compreen-
dem: achatamento do abdômen; articulações com mobilidade anômala e exagerada e cordão
umbilical embebido por hemoglobina:

Fonte: Malthus.com.br

Os sinais específicos compreendem: sinal de Spalding onde se observa o achatamento


látero-lateral da cabeça, com cavalgamento dos ossos cranianos, soltos (mais comum de ser
cobrado em provas):

Sinal de Hartley: perda da configuração da coluna vertebral;


Sinal de Spangler: achatamento da abóbada craniana;
Sinal de Horner: assimetria craniana;
Sinal de Robert: presença de gases nos grandes vasos e vísceras;

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Sinal de Brakeman: queda do maxilar inferior, conhecido como “sinal da boca aberta”;
Sinal de Damel: halo pericraniano translúcido.

2.3. Abandono de Recém-Nascido: Aspectos Médico-Legais


Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 134 – Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º – Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – detenção, de um a três anos.
§ 2º – Se resulta a morte:
Pena – detenção, de dois a seis anos.

A literatura médico-legal se preocupa, nos casos de abandono de recém-nascido, identifi-


car alguns pontos básicos:
• Provas de vida que estabeleçam a condição de recém-nascido;
• Provas de vida extrauterina;
• Diagnóstico da causa da morte;
• Exame da puérpera.

Do ponto de vista da cronotanatognose, as provas de vida se dividem em provas intraparto,


provas de vida extrauterina e provas sobre a idade do concepto:
a) Provas intraparto: alguns sinais como a chamada bossa sanguínea ou tumor do parto
pode ser útil na constatação de vida do recém-nascido, ainda que não haja sinal aparente de
respiração. Com a bossa sanguínea (caput succedaneum), é possível comprovar que houve
circulação sanguínea ao se identificar a bossa na região da cabeça. A bossa nada mais é do
que o extravasamento do sangue ou do plasma decorrente do aumento da pressão venosa, de
ocorrência comum nas primíparas (“mães de primeira gestação”).
b) Provas de vida extrauterina: chamadas docimásias, estão classificadas na literatura mé-
dico-legais como:
b.1 – Docimásias pulmonares: subdivididas conforme o mapa mental a seguir:

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b.2 – Docimásias extrapulmonares: subdivididas conforme o mapa mental abaixo:

b.3 – Docimásias circulatórias: descritas pela análise dos batimentos do cordão umbilical,
do coração, do tumor do parto e da bossa serosa occipital.
c) provas sobre a idade do concepto: utiliza-se uma fórmula e alguns pontos específicos na
anatomia do recém-nascido para tal verificação. Tem importância médico-legal na medida em
que auxilia a saber a idade da gestante no momento do abandono (maior ou menor de 14 anos,
por exemplo), em casos em que a mulher foi vítima de Estupro, caracterizando-se, assim, crime
do artigo 213 ou 217-A do Código Penal, conforme o resultado. A fórmula utilizada é a fórmula de

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Hasse, onde se multiplica a altura do recém-nascido ao quadrado e divide-se por 5 ou 5,6. O pon-
to anatômico utilizado chama-se ponto de beclard, localizado na epífise distal do fêmur do feto.

Professor?! É docimásia “para dar e vender”, né? Muitos conceitos! Qual deles o CEBRAS-
PE geralmente gosta mais?

Então vamos lá. Pelo que pude perceber nas pesquisas na plataforma Gran questões, as
docimásias mais cobradas em prova são:
• Hidrostática de Galeno;
• Gastrointestinal de Breslau;
• Histológica de Fillipi-Puppe Balthazard (a que analisa, inclusive pulmões em estado de
putrefação!);
• Hidrostática de Icard (complementar a hidrostática de Galeno);
• Auricular/otológica de Wreden-Wendt-Gelé.

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RESUMO
Nesta aula 05, estudamos os itens “9” e “10” do seu edital referente aos cargos de agente
de polícia, escrivão, datiloscopista policial e técnico em necropsia. Na próxima aula, irei reali-
zar a famosa aula essencial 80/20 destes cargos, pontuando aquelas termos mais cobrados
nos temas de medicina legal relacionados para sua prova. Não percam!
Acerca dos crimes contra liberdade sexual e suas perícias, tais aspectos médico-legais são
estudados no contexto da erotologia forense. Os principais objetivos do ponto de vista pericial re-
sidem na descrição minuciosa das lesões e as particularidade ali encontradas, ajudando a enten-
der o que cada tipo de lesão diz a respeito da prática delituosa caracterizadora de crime com co-
notação sexual; a partir desta análise, será possível responder aos quesitos de forma adequada.
A lei n.. 12.015/2009 – no que se refere ao delito de Estupro, realizou uma atualização no
tipo penal, de forma a abarcar os conceitos de conjunção carnal e outro ato libidinoso em um
mesmo tipo penal, agora o atual artigo 213, CP.
Com esta mudança, fundamentada na doutrina de direito penal como a aplicação do prin-
cípio da continuidade normativo-típica, tanto homens como mulheres passaram a ser sujeitos
ativos do crime de Estupro, visto a lei n.. 12.015/2009 englobar as condutas de atos libidinosos
anteriormente previstos no revogado artigo 214, CP.
Do ponto de vista médico-legal, Genival França (2015) denomina ato libidinoso – compre-
endido no tipo penal de Estupro previsto no artigo 213, CP – como sendo:

“toda prática que tem por fim satisfazer completa ou incompletamente o apetite sexual, o qual pode
traduzir-se, algumas vezes, em transtorno da preferência sexual [...] o ato libidinoso, além da con-
junção carnal, manifesta-se nas mais variadas situações: no coito ectópico, na masturbação, nos
toques e apalpadelas de mamas, coxas e vagina, na palpação de nádegas, etc”.

Feitas estas conceituações legais introdutórias, passa-se, agora, ao estudo das perícias
nos casos de conjunção carnal caracterizadoras do crime de Estupro, segundo a literatura de
Genival França (2015), dividindo-se em alguns quesitos básicos:
a) Histórico: a perícia deverá trabalhar com a finalidade precípua de localizar elementos atinen-
tes aos atos sexuais praticados, levando-se em conta aspectos relacionados sobre hora, local etc;
b) Exame subjetivo: devem ser consideradas as condições da vítima, além de todos os
sinais e sintomas e seu desenvolvimento mental antes e após o fato-crime.
c) Exame objetivo genérico: leva-se em consideração aspectos gerais da vítima (Ex.: peso,
altura, estado geral, lesões externas tais como equimoses, hematomas e escoriações);
d) Exame objetivo específico: coloca-se a paciente em posição ginecológica, examinando-se
cuidadosamente o aspecto e a disposição dos elementos da genitália.
e) Exame em mulher virgem: será considerada, inicialmente, a perda da integridade do hí-
men, levando-se em conta os casos de hímen complacente.

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f) Demais aspectos: caso a mulher tenha vida sexual ativa, se há ou houve gravidez, presen-
ça de esperma nas cavidades internas.
Alguns sinais clínicos são de suma importância para o diagnóstico médico-legal de conjun-
ção carnal, sendo eles:
• Presença de doenças venéreas;
• Presença de fosfatase ácida e glicoproteína P30;
• Sinais de probabilidade de certeza, tais como: ruptura do hímen, presença de esperma
na cavidade vaginal, presença de gravidez, presença da fosfatase ácida prostática acima
de 300 UI/ml no canal vaginal, presença de cancro sifilítico no colo do útero, presença de
glicoproteína P30.

No que se refere a lesão himenal proveniente da conjunção carnal, Roberto Blanco nos afir-
ma que a orla himenal sofre o que chamamos de ruptura ou rotura, podendo-se perceber início
de hemorragia discreta, associada a equimose nas bordas da rotura, tumefação e dor (estes
últimos sinais de rotura himenal recente).
Além dos exames himenológicos apresentados, outro indicativo importante na perícia mé-
dico-legal em casos de crimes sexuais é a presença de esperma: “conjunto de células e líqui-
dos que integram a ejaculação composta basicamente por espermatozoides, leucócitos, líqui-
do prostático (que contém P.S.A – fosfatase ácida prostática), vitaminas, enzimas, hormônios,
glicídios, lipídios, proteínas, sais minerais, dentre outros elementos. (FERREIRA, 2020).
No que concerne às lesões anais e perianais, indicativos de atos libidinosos diversos da
conjunção carnal, Wilson Ferreira (2020) indica a necessidade, em exame pericial médico-le-
gal, da identificação de outras duas lesões específicas:
a) Sinal de Wilson Johnston: toque retal doloroso, hemorragia e equimose nas margens do
reto; aspecto triangular, constipação e evacuação dolorosa;
b) Sinal de Alfredo Machado: cicatrização de Wilson Johnston.
Seguindo-se ao item “10” do seu edital, mais especificamente aos aspectos médico-legais
dos crimes de infanticídio, deve-se ter em mente algumas elementares básicas do crime: esta-
do puerperal durante ou logo após o parto, a qual a mãe encontra-se sob influência em um pe-
ríodo de 06 dias a 06 semanas, sendo que o termo estado puerperal é visto na medicina-legal
como uma ficção jurídica, expressão ambígua e contestada pelos médicos.
A perturbação mental – segundo Hélio Gomes – entende advir de critérios psicológicos
relativos à tentativa de ocultar desonra própria de uma gravidez ilegítima (impetus honoris), e o
estado físico-psíquico (impetus doloris), gerado pelo desgaste físico causado pelo parto, como
dores, sangramentos, medo, fadiga e esgotamento nervoso.
Portanto, não se deve confundir o termo legal estado puerperal e o termo médico-legal
puerpério.

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Acerca dos aspectos médico-legais referentes ao aborto, é conceituado na medicina-legal


como um dos crimes contra a vida que se caracteriza pela “morte do produto da concepção
decorrente das lesões provocadas no interior do útero materno” (FERREIRA, 2020).
Importante revisitarmos nos mapas mentais os conceitos legais e médico-legais referen-
tes ao aborto:
• Aborto natural;
• Aborto acidental;
• Aborto criminoso;
• Aborto legal ou permitido;
• Aborto miserável ou econômico-social;
• Aborto eugênico ou eugenésico (ADPF 54);
• Aborto honoris causa
• Aborto ovular (até 8ª semana de gestação);
• Aborto embrionário (até 15ª semana de gestação);
• Aborto fetal (após a 15ª semana de gestação).

Lembrando que há uma decisão da 1ª Turma do STF, no julgamento do HC 124.306/RJ


onde o Ministro Luis Roberto Barroso entende ser possível o abortamento, independentemente
de qualquer motivo, até a 13ª semana de gestação; decisão, aliás, não submetida ao plenário
daquela egrégia Corte Constitucional.
Dentre as hipóteses legais dos abortos necessário/terapêutico e sentimental/humanitário,
previstos, respectivamente, nos incisos I e II do artigo 128, CP, algumas observações são im-
portantes revisitarmos:
• Os casos previstos na lei de aborto permitido independem de consentimento da vítima
ou de autorização judicial;
• Se o aborto necessário ou terapêutico for praticado por terceiro que não seja médico? Es-
tará acobertado, não pela causa especial de excludente de ilicitude do art. 128, I mas sim
pela causa geral excludente de ilicitude do art. 23 do CP (estado de necessidade geral);
• Se o aborto sentimental, humanitário ou ético for praticado por terceiro que não o médi-
co? Responderá pelo crime de provocar aborto com o consentimento da gestante (art.
126, CP), por ausência de descriminante que socorra o autor.

Acerca dos aspectos médico-legais e meios abortivos, Tardieu aborto como “a expulsão
prematura e violentamente provocada do produto da concepção, independentemente de todas
as circunstâncias de idade, viabilidade e mesmo de formação regular”.
No que concerne ao abortamento terapêutico, legal ou necessário, previsto no artigo 128, I, CP,
Genival França (2018) apresenta alguns requisitos indispensáveis a realização do ato de aborto:
• Perigo vital para a gestante;
• Perigo diretamente ligado a gravidez;

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• Interrupção da gravidez como imprescindível para cessar o estado de perigo de morte;


• Procedimento de abortamento como único meio necessário para salvar a vida da gestante;
• Sempre que possível com a confirmação ou concordância de outros dois médicos.

Acerca dos meios abortivos, seguem seus meios catalogados pela literatura médico-legal:
a) Físicos/mecânicos: utilização de laminarias de algas marinhas, as quais possuem fun-
ção hidrostática, absorvendo água; outro método conhecido é do da curetagem;
b) Químicos: vegetais como a sabina, apiol, chá de jornal; ergotina (extrato do esporão do
trigo); hormônios; prostaglandinas (anti-inflamatórios não esteróides que atuam na muscula-
tura uterina); misoprostrol (oriundo do CYTOTEC); gemeprost (oriundo do medicamento CER-
VAGEM); levonorgestrel, etc;
c) Físico-químicos: injeção de sódio conhecido como aborto salino, consistente na inje-
ção de uma solução salina no útero (geralmente cloreto de potássio, KCI, via intracordonal
ou intracardíaca);
d) Por pressão hidrostática: por injeção de água, sem ação de tóxicos, deslocando a pla-
centa e provocando o aborto.
O diagnóstico do aborto é realizado com o objetivo médico-legal de identificar o agente
causador e traçar a cronotanatognose, realizando o exame na mãe, buscando identificar a
hipótese de aborto espontâneo ou traumático, buscando, ademais, verificar a ocorrência de
aborto recente ou antigo, na mulher viva ou morta. A despeito de alguns destes vestígios, o
mapa mental referente ao diagnóstico de aborto recente ou antigo, em mulher viva ou morta é
de suma importância para seu estudo. Revisite-o!
A respeito dos sinais gerais e específicos de maceração fetal, compreendem: achatamento
do abdômen; articulações com mobilidade anômala e exagerada e cordão umbilical embebido
por hemoglobina; sinal de Spalding; Sinal de Hartley: perda da configuração da coluna vertebral;
Sinal de Spangler: achatamento da abóbada craniana; Sinal de Horner: assimetria craniana; Sinal
de Robert: presença de gases nos grandes vasos e vísceras; Sinal de Brakeman: queda do maxilar
inferior, conhecido como “sinal da boca aberta” e Sinal de Damel: halo pericraniano translúcido.
A literatura médico-legal se preocupa, nos casos de abandono de recém-nascido, identifi-
car alguns pontos básicos:
• Provas de vida que estabeleçam a condição de recém-nascido;
• Provas de vida extrauterina;
• Diagnóstico da causa da morte;

Exame da puérpera.
Por fim, a respeito dos aspectos médico-legais do abandono de recém-nascido, certamente
o estudo das docimásias, provas de vida extrauterinas pulmonares e extrapulmonares é o pon-
to importante que pode aparecer em sua prova. As docimásias mais cobradas em prova são:

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• Hidrostática de Galeno;
• Gastrointestinal de Breslau;
• Histológica de Fillipi-Puppe Balthazard (a que analisa, inclusive pulmões em estado de
putrefação!);
• Hidrostática de Icard (complementar a hidrostática de Galeno);
• Auricular/otológica de Wreden-Wendt-Gelé.

Com isso, fechamos os dez itens do seu edital e esperamos que consiga a tão sonhada
aprovação. Além do conteúdo teórico aqui proposto, imprescindível uma bateria de exercícios
na plataforma Gran questões para a fixação do conteúdo e do aprendizado de pontos não
abordados.
Além disso, muita atenção nas aulas teóricas em vídeo aulas dos professores de Medicina
Legal para que o estudo esteja completo nas três frentes: videoaulas online, estudo pelos PDFs
e bateria de exercícios.
Da minha parte, desejo a todos vocês uma excelente prova na certeza de que poderão
contar com o time do Grancursos para a resolução e comentários das questões de provas e
eventuais recursos.
Particularmente, estarei à disposição nas redes sociais (@professor.caselato) caso necessi-
tem de algum auxílio.
Grande abraço e muita sorte na sua prova!!!

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MAPAS MENTAIS

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QUESTÕES DE CONCURSO

Espero que vocês já tenham resolvido os exercícios das aulas anteriores, hein? Não me
desapontem, pessoal! Muita dedicação neste momento! Tô de olho em vocês!!
A ideia primordial do caderno de questões é trazer exercícios de todos os itens do edital e de
forma abrangente para fixação do conteúdo; para tanto, será apresentado ao final de cada aula,
caderno de questões correspondente aos itens estudados!
Por ora, iremos concluir esta abordagem teórica com uma lista de exercícios, onde os co-
mentários serão de suma importância para o complemento das aulas teóricas.
Inicialmente, as questões serão dispostas ao aluno para que seja solucionada sem gaba-
rito. Após, o professor comentará questão por questão, ok? Portanto, tentem solucionar as
questões para somente depois conferirem o gabarito comentado e fixar o conteúdo.
Então vamos nessa? Boa resolução de exercícios!
Caso necessite, não esqueça de sanar eventuais dúvidas no fórum.
Abraços e bons estudos!
@professor.caselato  

001. (2016/CESPE / CEBRASPE/POLÍCIA CIENTÍFICA – PE/CESPE/2016/POLÍCIA CIENTÍ-


FICA – PE/MÉDICO LEGISTA) Tendo em vista que o diagnóstico de gravidez é importante em
medicina legal para a obtenção dos elementos dos crimes de estupro e de aborto, assinale a
opção correta.
a) A ausência de gravidez impede que realizadores de manobras abortivas sejam condenados
por crime de aborto provocado.
b) Para que ocorra a gravidez, é necessária a ocorrência de conjunção carnal ou qualquer outro
ato libidinoso.
c) Para tipificação de crime de aborto culposo, é condição que haja diagnóstico de gravidez por
ultrassonografia ou com visualização de imagem.
d) A mulher é considerada grávida somente quando existe embrião implantado no útero.
e) Verificação de gonadotrofina coriônica humana positiva caracteriza gravidez.

002. (2018/CESPE / CEBRASPE/PC-MA/CESPE/2018/PC-MA/MÉDICO LEGISTA) Acerca de


exames laboratoriais de líquidos orgânicos e manchas na complementação de perícias realiza-
das em pessoas, cadáveres e objetos, e que podem ser fundamentais para o esclarecimento de
muitos crimes, assinale a opção correta.

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a) O teste de beta-HCG, quando positivo, é específico de gravidez e, portanto, não é utilizado


em outras situações.
b) O FTA-ABS (fluorescent treponemal antibody absorption test) é um teste de quimiolumines-
cência para confirmar o diagnóstico de sífilis mediante o uso de anticorpos específicos contra
a bactéria Treponema pallidum.
c) Os métodos da fosfatase ácida prostática, em altos teores, e do antígeno prostático espe-
cífico (PSA) não possuem aplicabilidade em sexologia forense, pois seus resultados não são
informativos.
d) A reação entre o luminol e o peróxido de hidrogênio é de quimioluminescência.
e) Devido ao seu alto grau de especificidade, a reação de Florence é o exame comumente utili-
zado para a identificação de esperma.

003. (2012/CESPE / CEBRASPE/PEFOCE/CESPE/2012/PEFOCE/MÉDICO/PERITO LEGIS-


TA) Com a promulgação da Lei n. 12.015/2009, deixou de existir, no Código Penal, a figura
jurídica típica do atentado violento ao pudor. O crime de estupro passou a abrangê-lo. A partir
dessas informações, julgue o item subsecutivo, referentes à sexualidade anômala e criminosa
e às lesões delas decorrentes.
As lesões contusas na vulva e no ânus podem ser de diversos tipos, tais como escoriações,
feridas, equimoses e hematomas. Um exemplo de lesão de ocorrência típica na mucosa do
ânus é a denominada rágade.

004. (2016/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE CEBRASPE/SDS – SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL DE PERNAMBUCO/MÉDICO LE-
GISTA) Acerca do crime de infanticídio, é correto afirmar que:
a) a legislação prevê que o infanticídio ocorre durante o puerpério e que o período limite para
enquadramento desse crime está entre trinta e seis e noventa e seis horas, após o parto.
b) o infanticídio é considerado crime idêntico ao homicídio, diferenciando apenas por ser a
vítima um recém-nascido.
c) só pode ser cometido por quem assiste ao parto ou tem a obrigação de zelar pelo bem estar
do recém-nascido.
d) quando tem o objetivo de ocultar a gravidez resultante de estupro, não é punível.
e) dores do parto, estresse do período expulsivo, solidão do parto causada pela gravidez de-
sonrosa ou indesejada, além da pouca irrigação cerebral associada à hemorragia no puerpério
são fatores que explicam a perturbação da afetividade no infanticídio.

005. (2013/CESPE / CEBRASPE/SEGESP-AL/CESPE / CEBRASPE/2013/SEGESP-AL/PERITO


MÉDICO LEGISTA) A maceração é um fenômeno transformativo conservador que pode ser obser-
vado nos submersos em meio líquido contaminado (maceração séptica) e nos fetos retidos a partir
do quinto mês de gestação.

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006. (2008/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC TO/MÉDICO/ÁREA LEGISTA / MÉDICO LEGISTA/2008) Recém-nas-
cido a termo foi trazido ao IML para necropsia. Constava no ofício de solicitação que os pais da
criança alegavam erro e negligência médica, porque os médicos não encaminharam o menino
para a UTI neonatal logo após o nascimento. Tratava-se de um hospital particular e a mãe fora
internada às pressas. Não houve tempo para preenchimento de fichas ou pagamento de caução
exigida, porque a parturiente já estava em período expulsivo. O cadáver estava com pele de as-
pecto bolhoso, a epiderme começava a se deslocar em certas áreas e, em outras áreas, já havia
franco deslocamento epidérmico. Nas cavidades serosas, havia efusões hemorrágicas.
Com relação ao problema exposto acima, julgue os próximos itens.
Nesse caso, a docimasia gastrointestinal de Breslau e a docimasia otológica de Wreden-Wendt
devem ser positivas.

007. (2018/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/DPF/PERITO CRIMINAL/ÁREA MEDICINA/2018) Uma mulher de vinte e
oito anos de idade foi presa acusada do crime de infanticídio, após ter jogado em uma centrífuga
o bebê que ela havia dado à luz. Segundo a ocorrência policial, um familiar da suspeita disse que
ela havia escondido a gravidez e que negava que houvesse praticado aborto.
A partir dessa situação hipotética, julgue os itens a seguir.
Caso a docimásia pulmonar hidrostática de Galeno evidencie franca flutuação desde a primeira
fase, excluindo-se as causas de falso-positivos, dever-se-á concluir que o nascituro não respirou.

008. (2022/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC RJ/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2022) O chamado tumor do parto
(caput succedaneum), encontrado em um nascituro, consiste em um dos mais importantes sinais de
a) esgorjamento acidental no canal do parto.
b) prova de vida durante o parto cefálico.
c) feto natimorto.
d) infecção pós-aborto.
e) aborto retido (intrauterino).

009. (2021/INSTITUTO AOCP/INSTITUTO AOCP/ITEP/AGENTE TÉCNICO FORENSE/2021)


Em relação às prerrogativas do aborto terapêutico, assinale a alternativa INCORRETA.
a) A mãe deve apresentar perigo vital.
b) O perigo deve estar sob a dependência direta da gravidez.
c) Os fetos devem ser defeituosos ou com possibilidades de o serem.
d) Esse procedimento deve ser o único meio capaz de salvar a vida da mãe.
e) A interrupção da gravidez deve cessar o perigo para a vida da gestante.

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010. (2021/INSTITUTO AOCP/INSTITUTO AOCP/SESED/PERITO CRIMINAL/ÁREA: COMPU-


TAÇÃO/2021) Para a Medicina Legal, o abortamento é a interrupção de uma gestação de forma
espontânea ou propositada que ocorre
a) somente até o primeiro trimestre da gestação.
b) somente até a 21ª semana de gestação.
c) somente após o primeiro trimestre.
d) somente após a 21ª semana de gestação.
e) em qualquer idade gestacional.

011. (2022/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC RJ/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2022) Suponha que traficantes te-
nham submetido uma adolescente a violência sexual, em uma comunidade carente do Rio de
Janeiro. Nesse contexto, na perícia de casos de conjunção carnal, para o exame objetivo, de
natureza específica, deve ser fornecida a informação de
a) peso e altura da vítima.
b) estado geral da vítima.
c) estado civil da vítima.
d) aspecto e disposição dos elementos da genitália da vítima.
e) lesões externas gerais na vítima (como equimoses, hematomas e escoriações).

012. (2016/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC PE/DELEGADO DE POLÍCIA/2016) Sexologia forense é o ramo da me-
dicina legal que trata dos exames referentes aos crimes contra a liberdade sexual, além de tratar
de aspectos relacionados à reprodução. Acerca do exame médico-legal e dos crimes nessa área,
assinale a opção correta.
a) Para a configuração do infanticídio, são necessários dois aspectos: o estado puerperal e a
mãe matar o próprio filho.
b) O crime de aborto configura-se com a expulsão prematura do feto, independentemente de
sua viabilidade e das causas da eliminação.
c) O crime de abandono de recém-nascidos, que consiste na ausência de cuidados mínimos
necessários à manutenção das condições de sobrevivência ou exposição à vulnerabilidade, só
estará caracterizado se for cometido pela mãe.
d) Para se determinar um estupro, é necessário que respostas aos quesitos sobre a ocorrência de
conjunção carnal ou ato libidinoso sejam afirmativas: essas ocorrências sempre deixam vestígios.
e) Para a resposta ao quesito sobre virgindade da paciente, a integridade do hímen pode não ser
necessária, desde que outros elementos indiquem que a periciada nunca manteve relação sexual.

013. (2009/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC PB/PERITO OFICIAL CRIMINAL/2009) Assinale a opção correta em

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relação ao exame genital do cadáver, quando no hímen for observada ruptura recente e no ânus
for observada rágade.
a) Não se tem elemento para estabelecer ocorrência de conjunção carnal.
b) Não se tem elemento compatível com ato libidinoso diverso de conjunção carnal.
c) Atualmente, os elementos descritos podem ser compatíveis com crime de sedução.
d) Os elementos descritos dão a certeza de tratar-se de cadáver adulto.
e) A ruptura himenal recente só pode ocorrer em cadáver feminino e a rágade, em cadáver de
ambos os sexos.

014. (2021/FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS/FGV/FGV/PC RJ/PERITO LEGISTA/2021) No cri-


me de infanticídio, previsto no Art. 123 do Código Penal brasileiro, o estudo do cadáver deve verifi-
car se houve respiração extrauterina.
Existem vários métodos para examinar os pulmões, dentre eles, um que observa macroscopi-
camente o desenho do mosaico alveolar denominado docimasia:
a) hidrostática;
b) diafragmática;
c) óptica;
d) plêurica;
e) ponderal.

015. (2022/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRAS-


PE/CESPE/CEBRASPE/DPE TO/DEFENSOR PÚBLICO/2022) Carla buscou a Defensoria Pú-
blica depois de sua cunhada ter registrado boletim de ocorrência na delegacia de polícia, refe-
rindo que Carla realizara abortamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o abortamento como a interrupção da gra-
videz antes de
a) 20 semanas de gestação, ou quando o feto tem até 600 g ou 16,5 cm.
b) 21 semanas de gestação, ou quando o feto tem até 550 g ou 16,5 cm.
c) 22 semanas de gestação, ou quando o feto tem menos de 500 g ou 16,5 cm.
d) 22 semanas de gestação, ou quando o feto tem até 600 g ou 15,5 cm.
e) 20 semanas de gestação, ou quando o feto tem menos de 500 g ou 15,5 cm.

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GABARITO
1. a
2. d
3. C
4. e
5. E
6. E
7. E
8. b
9. c
10. e
11. d
12. a
13. e
14. c
15. c

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GABARITO COMENTADO
001. (2016/CESPE / CEBRASPE/POLÍCIA CIENTÍFICA – PE/CESPE/2016/POLÍCIA CIENTÍ-
FICA – PE/MÉDICO LEGISTA) Tendo em vista que o diagnóstico de gravidez é importante em
medicina legal para a obtenção dos elementos dos crimes de estupro e de aborto, assinale a
opção correta.
a) A ausência de gravidez impede que realizadores de manobras abortivas sejam condenados
por crime de aborto provocado.
b) Para que ocorra a gravidez, é necessária a ocorrência de conjunção carnal ou qualquer outro
ato libidinoso.
c) Para tipificação de crime de aborto culposo, é condição que haja diagnóstico de gravidez por
ultrassonografia ou com visualização de imagem.
d) A mulher é considerada grávida somente quando existe embrião implantado no útero.
e) Verificação de gonadotrofina coriônica humana positiva caracteriza gravidez.

a) Certa. Traz o que chamamos de crime impossível por impropriedade absoluta do objeto, pre-
visto no artigo 17 do Código Penal, haja vista a visível ausência de materialidade para o crime
de aborto não haver vida intrauterina na vítima para o abortamento.
b) Errada. Esvazia as diversas formas de ocorrência de gravidez, por exemplo, a prática da re-
produção assistida por inseminação artificial.
c) Errada. O crime de aborto inadmite forma culposa.
d) Errada. Vai de encontro aos chamados fenômenos anômalos da gravidez, tais como casos
de superfecundação (onde no mesmo ciclo menstrual, dois ou mais óvulos – inclusive de pais
diferentes – podem ser fecundados); superfetação (fecundação de dois ou mais óvulos em
ciclos menstruais diferentes); gravidez ectópica (quando o embrião se aloja em localização
diversa da habitual); parto serôdio (que ocorre em data posterior à prevista); gravidez molar
(conhecido na literatura médica como patologia mola hidatiforme, caracterizado por um dis-
túrbio no processo de fertilização do óvulo, de modo que a placenta passa a ser gerada de
forma anormal, causando o falecimento fetal) e placenta embrionária (conhecida por gravidez
do ovo cego, é uma gestação rara onde se apresenta apenas o saco gestacional não havendo
desenvolvimento do embrião).
e) Errada. Segundo Genival França, o teste do hCG (hormônio gonadotrofina coriônica humana)
É um teste de resultado rápido que tem como finalidade detectar qualitativamente o hormônio
gonadotrofina coriônica humana (hCG) em amostras de soro ou urina. Este hormônio é secretado
durante a gravidez pela placenta. Não necessariamente um resultado positivo caracteriza gravidez,
pois poderá haver “falsos negativos” decorrentes do exame. Alguns tumores são produtores de

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gonadotrofina coriônica humana, como na doença trofoblástica gestacional, que engloba as se-
guintes patologias:
• Mola hidatiforme (parcial ou completa).
• Mola invasiva.
• Coriocarcinoma.
• Tumor trofoblástico de sítio placentário.
Letra a.

002. (2018/CESPE / CEBRASPE/PC-MA/CESPE/2018/PC-MA/MÉDICO LEGISTA) Acerca


de exames laboratoriais de líquidos orgânicos e manchas na complementação de perícias
realizadas em pessoas, cadáveres e objetos, e que podem ser fundamentais para o esclareci-
mento de muitos crimes, assinale a opção correta.
a) O teste de beta-HCG, quando positivo, é específico de gravidez e, portanto, não é utilizado
em outras situações.
b) O FTA-ABS (fluorescent treponemal antibody absorption test) é um teste de quimiolumines-
cência para confirmar o diagnóstico de sífilis mediante o uso de anticorpos específicos contra
a bactéria Treponema pallidum.
c) Os métodos da fosfatase ácida prostática, em altos teores, e do antígeno prostático es-
pecífico (PSA) não possuem aplicabilidade em sexologia forense, pois seus resultados não
são informativos.
d) A reação entre o luminol e o peróxido de hidrogênio é de quimioluminescência.
e) Devido ao seu alto grau de especificidade, a reação de Florence é o exame comumente utili-
zado para a identificação de esperma.

O teste de beta-HCG tem capacidade e larga utilização na detecção da quantidade de hormônio


HCG no sangue, o que pode indicar indício de gravidez, jamais certeza. O HCG, portanto, não é um
hormônio exclusivo da gravidez (ex.: taxas elevadas de Beta-HCG em casos de diagnósticos de
câncer de útero). Acerca do FTA-ABS, a sorologia treponêmica corresponde a testes específicos
para a confirmação diagnóstica de sífilis; todavia, trata-se de um teste de imunofluorescência. No
item “C”, os métodos de PSA são perfeitamente aplicáveis na sexologia forense. Considerando
o item “D” correto, no item “E” a reação de Florence é baseada na formação de cristais de iodeto
de colina, que se encontram presentes no esperma sob a forma de fosforil-colina e lecitina; a
solução de iodo, por sua vez, é posta em contato com o esperma, formado cristais de coloração
marrom, visíveis microscopicamente. A reação de Florence não tem capacidade de reagir a dife-
rentes tipos de esperma, humanos e não-humanos, podendo reagir até mesmo com outras maté-
rias, razão pela qual tem baixo grau de especificidade. O exame mais apropriado, nestes casos,
é o Sistema de Uhlenhut, indicativo de sangue humano no sémen.
Letra d.

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003. (2012/CESPE / CEBRASPE/PEFOCE/CESPE/2012/PEFOCE/MÉDICO/PERITO LEGISTA)


Com a promulgação da Lei n. 12.015/2009, deixou de existir, no Código Penal, a figura jurídica
típica do atentado violento ao pudor. O crime de estupro passou a abrangê-lo. A partir dessas in-
formações, julgue o item subsecutivo, referentes à sexualidade anômala e criminosa e às lesões
delas decorrentes.
As lesões contusas na vulva e no ânus podem ser de diversos tipos, tais como escoriações,
feridas, equimoses e hematomas. Um exemplo de lesão de ocorrência típica na mucosa do
ânus é a denominada rágade.

A rágade é a fissura na junção entre a pele e a mucosa nos orifícios oral, nasal vaginal e anal.
Pode ser encontrada em ambos os sexos. A presença de fissura anal ou rágades (um tipo
de lesão mais profunda, com aspecto triangular) no pregueamento anal podem surgir após a
evacuação de fezes ressecadas, produzindo lesões que guardam semelhança com aquelas
achadas em casos de violência sexual, assim como assaduras e hiperemia vaginal, causa-
das por higienização excessiva, podem induzir ao pensamento de que houve algum tipo de
abuso sexual (FRANÇA, 2017).
Certo.

004. (2016/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE CEBRASPE/SDS – SECRETARIA DE DEFESA SOCIAL DE PERNAMBUCO/MÉDICO LE-
GISTA) Acerca do crime de infanticídio, é correto afirmar que:
a) a legislação prevê que o infanticídio ocorre durante o puerpério e que o período limite para
enquadramento desse crime está entre trinta e seis e noventa e seis horas, após o parto.
b) o infanticídio é considerado crime idêntico ao homicídio, diferenciando apenas por ser a
vítima um recém-nascido.
c) só pode ser cometido por quem assiste ao parto ou tem a obrigação de zelar pelo bem estar
do recém-nascido.
d) quando tem o objetivo de ocultar a gravidez resultante de estupro, não é punível.
e) dores do parto, estresse do período expulsivo, solidão do parto causada pela gravidez de-
sonrosa ou indesejada, além da pouca irrigação cerebral associada à hemorragia no puerpério
são fatores que explicam a perturbação da afetividade no infanticídio.

No item “A”, discute-se justamente a diferenciação entre a ficção jurídica denominada estado
puerperal e o termo médico-legal puerpério. Para Roberto Blanco, o estado puerperal tem um
lapso temporal mais amplo, já que se inicia durante o parto, se estendendo para depois dele,
ou seja, “logo após”, conforme determina o art. 123, Código Penal. O puerpério só ocorrerá no
final do parto (dequitação). Wilson Palermo salienta que puerpério, “é um quadro fisiológico

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comum a todas as mulheres que dão à luz, com começo, meio e fim determinados, capaz de,
em alguns casos, causar alterações no organismo materno [...] Tem início com a dequitação
e se estende até a volta do organismo materno às condições pré-gravídicas.” Os demais itens
vão de encontro aos aspectos legais previstos no artigo 123 do Código Penal.
Letra e.

005. (2013/CESPE / CEBRASPE/SEGESP-AL/CESPE / CEBRASPE/2013/SEGESP-AL/PERITO


MÉDICO LEGISTA) A maceração é um fenômeno transformativo conservador que pode ser obser-
vado nos submersos em meio líquido contaminado (maceração séptica) e nos fetos retidos a partir
do quinto mês de gestação.

O CESPE/CEBRASPE e seus peguinhas sem graça! Veja que o erro da questão reside em clas-
sificar a maceração como um fenômeno transformativo conservador; todavia, em verdade, tra-
ta-se de um fenômeno transformativo destrutivo. Vamos recapitular?
Fenômenos transformativos destrutivos:
Grave “MAP” ( = mapa em português)
Maceração
Autólise
Putrefação
Fenômenos transformativos conservadores:
Grave “SAMUCO”
SAponificação
MUmificação
COrificação
Errado.

006. (2008/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC TO/MÉDICO/ÁREA LEGISTA / MÉDICO LEGISTA/2008) Recém-nas-
cido a termo foi trazido ao IML para necropsia. Constava no ofício de solicitação que os pais da
criança alegavam erro e negligência médica, porque os médicos não encaminharam o menino
para a UTI neonatal logo após o nascimento. Tratava-se de um hospital particular e a mãe fora
internada às pressas. Não houve tempo para preenchimento de fichas ou pagamento de caução
exigida, porque a parturiente já estava em período expulsivo. O cadáver estava com pele de as-
pecto bolhoso, a epiderme começava a se deslocar em certas áreas e, em outras áreas, já havia
franco deslocamento epidérmico. Nas cavidades serosas, havia efusões hemorrágicas.
Com relação ao problema exposto acima, julgue os próximos itens.
Nesse caso, a docimasia gastrointestinal de Breslau e a docimasia otológica de Wreden-Wendt
devem ser positivas.

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A questão sugere a utilização de duas técnicas para a prova de vida extrauterina denominadas
docimásias extrapulmonares gastrointestinal de Breslau (a qual secciona-se um chamado blo-
co de órgãos composto pelo esôfago, estômago e intestinos delgado e grosso em um recipien-
te com água e aguarda-se sua flutuação para sugerir vida extrauterina) e auricular/otológica de
Wreden-Wendt-Gelé (onde verifica-se a presença de ar no ouvido médio). Pelas características
apresentadas na questão (pele bolhosa, franco deslocamento epidérmico e efusões hemorrá-
gicas nas cavidades serosas) sugere-se a ocorrência de maceração por retenção fetal intra-u-
terina, sendo a utilização da docimásia hidrostática de Galeno a prova de vida mais adequada,
não descartando, porém, outras técnicas de docimásias pulmonares.
Errado.

007. (2018/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRAS-


PE/CESPE/CEBRASPE/DPF/PERITO CRIMINAL/ÁREA MEDICINA/2018) Uma mulher de
vinte e oito anos de idade foi presa acusada do crime de infanticídio, após ter jogado em uma
centrífuga o bebê que ela havia dado à luz. Segundo a ocorrência policial, um familiar da sus-
peita disse que ela havia escondido a gravidez e que negava que houvesse praticado aborto.
A partir dessa situação hipotética, julgue os itens a seguir.
Caso a docimásia pulmonar hidrostática de Galeno evidencie franca flutuação desde a primeira
fase, excluindo-se as causas de falso-positivos, dever-se-á concluir que o nascituro não respirou.

Revisitando nosso mapa mental da aula, podemos perceber que a docimásia hidrostática de
Galeno é dividida em quatro fases. Na primeira fase, realiza-se a abertura da cavidade toráci-
co-abdominal, seguindo-se a colocação em recipiente com água do órgão pulmonar que, caso
haja flutuação, constata-se que houvera a respiração do nascituro e, portanto, vida extrauterina.
Errado.

008. (2022/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC RJ/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2022) O chamado tumor do parto
(caput succedaneum), encontrado em um nascituro, consiste em um dos mais importantes sinais de
a) esgorjamento acidental no canal do parto.
b) prova de vida durante o parto cefálico.
c) feto natimorto.
d) infecção pós-aborto.
e) aborto retido (intrauterino).

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Classificado como uma prova de vida intraparto, alguns sinais como a chamada bossa sanguí-
nea ou tumor do parto pode ser útil na constatação de vida do recém-nascido, ainda que não
haja sinal aparente de respiração. Com a bossa sanguínea (caput succedaneum), é possível
comprovar que houve circulação sanguínea ao se identificar a bossa na região da cabeça. A
bossa nada mais é do que o extravasamento do sangue ou do plasma decorrente do aumento
da pressão venosa, de ocorrência comum nas primíparas (“mães de primeira gestação”).
Letra b.

009. (2021/INSTITUTO AOCP/INSTITUTO AOCP/ITEP/AGENTE TÉCNICO FORENSE/2021)


Em relação às prerrogativas do aborto terapêutico, assinale a alternativa INCORRETA.
a) A mãe deve apresentar perigo vital.
b) O perigo deve estar sob a dependência direta da gravidez.
c) Os fetos devem ser defeituosos ou com possibilidades de o serem.
d) Esse procedimento deve ser o único meio capaz de salvar a vida da mãe.
e) A interrupção da gravidez deve cessar o perigo para a vida da gestante.

No que concerne ao abortamento terapêutico, legal ou necessário, previsto no artigo 128, I, CP,
Genival França (2018) apresenta alguns requisitos indispensáveis a realização do ato de abor-
to: perigo vital para a gestante; perigo diretamente ligado a gravidez; interrupção da gravidez
como imprescindível para cessar o estado de perigo de morte; procedimento de abortamento
como único meio necessário para salvar a vida da gestante; sempre que possível com a con-
firmação ou concordância de outros dois médicos. Todos estes itens estão em consonância
com os previstos na questão, exceto a alternativa “c” que compreende hipóteses de aborto eu-
gênico, somente previstas nos casos de anencefalia (ADPF 54), não se estendendo, por exem-
plo, nos casos de microcefalia em razão da presença do Zika Vírus.
Letra c.

010. (2021/INSTITUTO AOCP/INSTITUTO AOCP/SESED/PERITO CRIMINAL/ÁREA: COMPU-


TAÇÃO/2021) Para a Medicina Legal, o abortamento é a interrupção de uma gestação de forma
espontânea ou propositada que ocorre
a) somente até o primeiro trimestre da gestação.
b) somente até a 21ª semana de gestação.
c) somente após o primeiro trimestre.
d) somente após a 21ª semana de gestação.
e) em qualquer idade gestacional.

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O aborto é conceituado na medicina-legal como um dos crimes contra a vida que se caracteriza
pela “morte do produto da concepção decorrente das lesões provocadas no interior do útero ma-
terno” (FERREIRA, 2020). Genival França (2018) esclarece que, para a Medicina Legal, no tocante
ao aborto, a idade do produto da concepção não tem interesse. Citando Tardieu, França (2018)
conceitua classicamente o aborto como a “expulsão prematura e violentamente provocada do
produto da concepção, independentemente de todas as circunstâncias de idade, viabilidade e
mesmo de formação regular”. Na medicina obstétrica, por exemplo, o parto prematuro é con-
ceituado quando sua ocorrência é verificada em gestações que tenham mais de 22 semanas e
menos de 37 semanas. Antes deste período, a obstetrícia classifica-se como aborto ovular (até a
8ª semana de gestação), embrionário (até a 15ª semana) ou fetal (após a 15ª semana).
Letra e.

011. (2022/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRAS-


PE/CESPE/CEBRASPE/PC RJ/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2022) Suponha que trafican-
tes tenham submetido uma adolescente a violência sexual, em uma comunidade carente do
Rio de Janeiro. Nesse contexto, na perícia de casos de conjunção carnal, para o exame objeti-
vo, de natureza específica, deve ser fornecida a informação de
a) peso e altura da vítima.
b) estado geral da vítima.
c) estado civil da vítima.
d) aspecto e disposição dos elementos da genitália da vítima.
e) lesões externas gerais na vítima (como equimoses, hematomas e escoriações).

Consultando nosso material em PDF, o estudo das perícias nos casos de conjunção carnal
caracterizadoras do crime de Estupro, segundo a literatura de Genival França (2015), são divi-
didas em alguns quesitos básicos:
1. Histórico: a perícia deverá trabalhar com a finalidade precípua de localizar elementos atinentes
aos atos sexuais praticados, levando-se em conta aspectos relacionados sobre hora, local etc;
2. Exame subjetivo: devem ser consideradas as condições da vítima, além de todos os sinais
e sintomas e seu desenvolvimento mental antes e após o fato-crime;
3. Exame objetivo genérico: leva-se em consideração aspectos gerais da vítima (Ex.: peso, al-
tura, estado geral, lesões externas tais como equimoses, hematomas e escoriações);
4. Exame objetivo específico: coloca-se a paciente em posição ginecológica, examinando-se cuida-
dosamente o aspecto e a disposição dos elementos da genitália; Inclusive, o gabarito da questão!!
5. Exame em mulher virgem: será considerada, inicialmente, a perda da integridade do hímen,
levando-se em conta os casos de hímen complacente.
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6. Demais aspectos: caso a mulher tenha vida sexual ativa, se há ou houve gravidez, presença
de esperma nas cavidades internas. Não englobando situações como o estado civil da vítima!
Letra d.

012. (2016/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRAS-


PE/CESPE/CEBRASPE/PC PE/DELEGADO DE POLÍCIA/2016) Sexologia forense é o ramo
da medicina legal que trata dos exames referentes aos crimes contra a liberdade sexual, além
de tratar de aspectos relacionados à reprodução. Acerca do exame médico-legal e dos crimes
nessa área, assinale a opção correta.
a) Para a configuração do infanticídio, são necessários dois aspectos: o estado puerperal e a
mãe matar o próprio filho.
b) O crime de aborto configura-se com a expulsão prematura do feto, independentemente de
sua viabilidade e das causas da eliminação.
c) O crime de abandono de recém-nascidos, que consiste na ausência de cuidados mínimos
necessários à manutenção das condições de sobrevivência ou exposição à vulnerabilidade, só
estará caracterizado se for cometido pela mãe.
d) Para se determinar um estupro, é necessário que respostas aos quesitos sobre a ocorrência de
conjunção carnal ou ato libidinoso sejam afirmativas: essas ocorrências sempre deixam vestígios.
e) Para a resposta ao quesito sobre virgindade da paciente, a integridade do hímen pode não ser
necessária, desde que outros elementos indiquem que a periciada nunca manteve relação sexual.

Tecemos breves comentários item por item: o item “A” é (parcialmente) correto: o sujeito ativo e
passivo, no infanticídio, são o que a doutrina chama de crime bi próprio; ou seja, somente a mãe,
em estado puerperal, poderá cometer o crime, tendo ou não a participação de terceiro. No caso
da vítima, somente o recém-nascido. Por exemplo, se a mãe, em estado puerperal, mata seu pró-
prio filho recém-nascido ainda na maternidade do Hospital e, em seguida, mata o recém-nascido
de outra mãe, estar-se-á falando, na segunda conduta, de crime de Homicídio. Além disso, três
são os aspectos elementares para a ocorrência deste crime e a questão falou somente em dois:
o terceiro é a elementar “durante o parto ou logo após”. O item “B” é incorreto: nem todo aborta-
mento é ilegal: tem-se, conforme estudado em aula, casos previstos nos incisos I e II do artigo
128 do CP, bem como a decisão no julgamento da ADPF 54 (fetos anencéfalo), o que, todavia, não
englobam casos de fetos acometidos de microcefalia. O item “C” é incorreto: o crime de abando-
no de recém-nascido, quanto ao sujeito ativo, pode ser praticado, por qualquer pessoa, desde que
detenha as elementares previstas em lei. O item “D” é incorreto: nem sempre um crime de Estu-
pro, seja decorrente de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso, deixa vestígios identificáveis
em um exame pericial. Muito cuidado para diferenciar, nestes casos, estupro cometido por ato
libidinoso diverso com o crime de importunação sexual. O item “E” está incorreto pois existem

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casos de himens complacentes que não se rompem com a conjunção carnal. Portanto, é possí-
vel haver conjunção carnal e ainda sim o exame pericial não identificar o rompimento do hímen.
Letra a.

013. (2009/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRASPE/


CESPE/CEBRASPE/PC PB/PERITO OFICIAL CRIMINAL/2009) Assinale a opção correta em
relação ao exame genital do cadáver, quando no hímen for observada ruptura recente e no ânus
for observada rágade.
a) Não se tem elemento para estabelecer ocorrência de conjunção carnal.
b) Não se tem elemento compatível com ato libidinoso diverso de conjunção carnal.
c) Atualmente, os elementos descritos podem ser compatíveis com crime de sedução.
d) Os elementos descritos dão a certeza de tratar-se de cadáver adulto.
e) A ruptura himenal recente só pode ocorrer em cadáver feminino e a rágade, em cadáver de
ambos os sexos.

Considerando absurdamente erradas os itens “A” até “D”, vamos ganhar tempo em analisar o
item “E”, correto. Primeiramente, vamos conceituar os dois pontos importantes:
1. Hímen: Genival França (2020) esclarece que o hímen é uma membrana dérmica que se en-
contra na entrada da vagina. Impermeável, de abertura anelar por onde se elimina secreções e
a menstruação. Possui uma orla e o óstio (orifício). Apresenta borda fixa ligada à vagina e uma
borda livre. Hygino Hércules (2011) define o hímen como um “pequeno diafragma localizado
na extremidade inferior da vagina, no limite anatômico dessa com a vulva”.
2. Rágade: na região retal, se apresenta como uma escoriação, ferida ou greta cutânea ou
mucosa, de causa inflamatória, formada à volta de orifícios naturais, podendo ser encontra-
das em pessoas de ambos os sexos. Na perícia anal, deve-se observar os seguintes pontos:
lesões anais e perianais (entre o ânus e o órgão genital), fístulas retovaginais e lesões locais
em forma de fenda ou triangulo, chamada rágade.
Letra e.

014. (2021/FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS/FGV/FGV/PC RJ/PERITO LEGISTA/2021) No cri-


me de infanticídio, previsto no Art. 123 do Código Penal brasileiro, o estudo do cadáver deve
verificar se houve respiração extrauterina.
Existem vários métodos para examinar os pulmões, dentre eles, um que observa macroscopi-
camente o desenho do mosaico alveolar denominado docimasia:
a) hidrostática;
b) diafragmática;
c) óptica;
d) plêurica;
e) ponderal.

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Dentre as provas de vida extrauterina chamadas docimásias, destaca-se, no gabarito da ques-


tão, a docimásia óptica ou visual de Bouchut-Casper, a qual observa-se um desenho do pulmão
em formato de mosaico alveolar. Isso ocorre em razão da ausência de respiração que ocasio-
na mudanças circulatórias que circunscrevem os lóbulos pulmonares.
Letra c.

015. (2022/CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB/CESPE CEBRAS-


PE/CESPE/CEBRASPE/DPE TO/DEFENSOR PÚBLICO/2022) Carla buscou a Defensoria Pú-
blica depois de sua cunhada ter registrado boletim de ocorrência na delegacia de polícia, refe-
rindo que Carla realizara abortamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o abortamento como a interrupção da gra-
videz antes de
a) 20 semanas de gestação, ou quando o feto tem até 600 g ou 16,5 cm.
b) 21 semanas de gestação, ou quando o feto tem até 550 g ou 16,5 cm.
c) 22 semanas de gestação, ou quando o feto tem menos de 500 g ou 16,5 cm.
d) 22 semanas de gestação, ou quando o feto tem até 600 g ou 15,5 cm.
e) 20 semanas de gestação, ou quando o feto tem menos de 500 g ou 15,5 cm.

Considerando que “eu odeio essa questão”, não me furtarei em comentá-la. Primeiramente,
vamos esclarecer alguns pontos básicos: o aborto e o abortamento não são sinônimos, apesar
de estarem ligados. No conceito obstétrico, o abortamento é a interrupção da gravidez com
tempo igual ou inferior a 20 a 22 semanas completas. Acaso não seja possível estabelecer tal
tempo, considerar-se-á aborto o produto da concepção que pese 500 gramas ou menos. Na
medicina legal, o aborto consiste em uma interrupção criminosa da gestação, independente-
mente da idade em que isso venha a ocorrer.
Já a Organização Mundial da Saúde entende abortamento em três hipóteses: ANTES de 22 se-
manas de gestação completas (o que equivale a 154 dias, denominado período perinatal) ou
quando o produto da concepção tiver peso menor de 500 gramas ou, ainda, quando o feto tiver
tamanho menor que 16,5 cm. Uma coisa digo a vocês: “esqueçam a prova da PCPB/2022 que
cobrou a mesma questão com o gabarito diverso!”. Esta orientação da prova da DPE/TO é mais
adequada. Àqueles que desejarem a fonte, acessem: https://www.who.int/pt/publications/i/
item/9789240045163 o qual se trata do site oficial da OMS e confiram no resumo de 8 de março
de 2022 acerca das diretrizes sobre cuidados no aborto (ISBN: 978 92 4 005144 7).
Letra c.

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NOÇÕES DE DIREITO
Aspectos Médico-Legais dos Crimes: Liberdade Sexual, Aborto e Abandono-RN
Dalbertom Caselato Junior

REFERÊNCIAS
BLANCO, Roberto. Site: estudo com Roberto Blanco. Disponível em: https://estudocomrober-
toblanco.com/. Acesso em: 01 jun. 2022 a 01 ago. 2022.

BRANDÃO NETO, Rodrigo Antônio. Intoxicação por Arsênico. Disponível em: https://www.medici-
nanet.com.br/conteudos/revisoes/7654/intoxicacao_por_arsenico.htm. Acesso em: 28 jul. 2022.

CROCE, Delton; CROCE JÚNIOR, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª edição: Ed. Saraiva, 2012.

Conselho Federal de Medicina. Resolução 1.989/2012. Disponível em: http://www.as.sau-


de.ms.gov.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolu%C3%A7%C3%A3º-1989_2012_CFM.pdf.
Acesso em: 29 jul. 2022.

FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 10ª edição, ed. Gen., 2015.

FRANKLIN, Reginaldo. Perguntas e respostas comentadas de Medicina Legal. 2ªed: Rubio, 2014.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal. Coleção sinopses para concursos, Ed.
Juspodvm, 2020.

GALVÃO, Malthus Fonseca. Site de apoio ao processo de ensino aprendizagem do LOAFMEL.


Faculdade de Medicina, Universidade de Brasília (UnB), 2020. Disponível em: www.malthus.
com.br. Acesso em: 27 set. a 05 nov. 2021.

HERCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal – texto e atlas. Ed. Atheneu, 2011.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. Volume único. 15ªed. Ed.
Juspodvm, 2022.

Dalbertom Caselato Junior


Policial Civil do DF. Bacharel em Relações Internacionais e Direito. Especialista em Direito Público, mestre
e doutorando em Direito Penal e Criminologia (CEUB-DF). Professor da Escola Superior da PCDF e de
cursinhos para concursos.

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