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August Schenk, através das expressões presentes nesta pintura, sugere um sentimento de

desespero e determinação protetora por parte da ovelha mãe relativamente ao seu


cordeiro. Reconhecendo estes traços humanos, é expectável que alguém se identifique
com a situação representada e crie algum tipo de empatia para com os animais
presentes.
Uma pessoa com um historial de vida familiar dentro daquilo que é considerado
comum, compreenderia a forte coragem da ovelha de se impor frente aos corvos
oportunistas, simplesmente para impedir que o seu filho sirva de alimento aos mesmos.
No entanto, o espectador em questão pode ter uma diferente interpretação deste quadro
e esta depende precisamente das vivências de cada um e dos seus conhecimentos e
experiências enquanto indivíduo social. No caso de alguém não saber que o corvo é um
animal que se alimenta de qualquer coisa, incluindo animais mortos, pode não perceber
o significado por detrás da sua presença. Ainda assim, a maioria da população tem
conhecimento de que nem sempre a sociedade funciona da melhor forma. Apercebe-se
de que há certos grupos de indivíduos que se demonstram desumanos perante
determinadas situações sociais e Schenck traz essa interpretação através dos pássaros
negros. O pintor examina esta condição societária mais ampla.
Neste sentido, esta variedade de compreensões e a forma como estas são formadas pode
inserir-se na teoria da “Obra Aberta” de Umberto Eco. Começamos por mencionar as
principais teses, sendo elas a interpretação enquanto ato de compreender e o facto de o
sentido estar intrínseco à interpretação, isto é, sem interpretar, o signo permanece vazio.
A primeira tese verifica-se dado que o ato de interpretar é compreender, este só é
possível se formos capazes de compreender o que vemos e se formos capazes de o
associar àquilo que conhecemos. A pintura Anguish, do ponto de vista de Umberto Eco,
permite compreender então a diversidade de quadros interpretativos que podem surgir
com os diversos olhares que pousam nas expressões dos elementos visuais que a
compõem. Segundo o autor e a sua segunda tese, o desespero, a fome, as lágrimas e o
sentimento por detrás delas não existem até alguém lhes atribuir significado. Isto
levanta a ideia de que se Anguish nunca fosse visto, este não possuiria qualquer tipo de
significação, pois essa surge a partir daquilo que o espectador viu, sentiu, conheceu e
experienciou, diferenciando as possíveis narrativas. A emoção crua da maternidade e da
perda por vezes associada pode diferir de pessoa para pessoa e pode também ser
inexistente, se nunca for interpretada.
Contudo, a intenção do pintor não é desvalorizada. Umberto Eco considera a intenção
de um autor por detrás do seu signo, porém, considera também a visão por parte do
espectador. Acredita, portanto, que um signo pode estar aberto às especificidades de
cada indivíduo e desvaloriza a objetividade, que apenas consiste na diminuição do
ângulo de ambivalência de sentidos.

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