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Brasília, DF
2022
Autora: Cecília Salazar Ulacia
I. RESUMO ------------------------------------------------------ 04
V. DISCUSSÃO-------------------------------------------------- 12
III. METODOLOGIA
O ELY-C propõe ainda a utilização de pomadas coloides para auxílio da vedação de áreas
perineais perianais (além do plástico transparente iodoforado).
As trocas dos curativos foram feitas em centro cirúrgico, a cada 48 - 72 horas. Quando o
leito dessas feridas apresentou tecido de granulação em condições adequadas, esses pacientes
foram submetidos a fechamentos terciários envolvendo suturas ou rotação de retalhos. O
dispositivo de ELY- C também foi utilizado como gerenciador de feridas em pacientes
selecionados após o fechamento terciário, retirados após 5-7 dias.
Foram encontrados nos bancos de dados do HRL 16 pacientes com diagnóstico de GF,
maiores de 18 anos, em 5 anos de avaliação. A média de idade foi de 54 anos, sendo a mínima
de 29 e a máxima de 89 anos; 87,5% eram homens; 94% apresentavam algum tipo de
comorbidade pré-existente como; hipertensão (31%), Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(19%), tabagismo (19%), etilismo (12%), sendo a diabetes mais prevalente (44%). Todos os
pacientes apresentavam baixo nível socioeconômico.
A maior parte dos pacientes com GF fez uso do dispositivo de pressão subatmosférica
ELY-C (69%), com mortalidade de apenas 9%, sendo observadas maiores frequências de
morbimortalidade no grupo que realizou tratamento com curativos convencionais (40%),
(Figuras 1 e 2).
O tempo médio de internação dos pacientes que fizeram uso do ELY-C foi de 23 dias em
contraste com 25 dias no grupo com curativos convencionais. Não foi observada associação
estatisticamente significante na redução do tempo de internação comparativo quando em uso do
dispositivo ELY-C (p = 0,832).
O tempo médio de fechamento das feridas no grupo de pacientes que fez uso do ELY-C
desde o primeiro debridamento cirúrgico foi de 15 dias, sendo a média de 2 trocas por paciente.
As técnicas de reparação cutânea utilizadas no fechamento terciário foram eficientes e efetivas
em todos os casos, obtendo-se bons resultados estéticos, com declaração de satisfação dos
pacientes nos retornos ambulatoriais descritos nos prontuários. Foram observadas algumas
pequenas complicações que não comprometeram o resultado final em apenas 27% dos pacientes
incluindo seroma e pequenas deiscências de sutura secundária.
Tabela 1 – Perfil microbiológico e de antimicrobianos utilizados no tratamento da GF em
porcentagem
Tazocin 25,0%
Linezulida 18,75%
Bactrim 18,75%
Vancomicina 12,5%
Azitromicina 06,25%
Cefepime 06,25%
A B
Figura 2 – Em A; esponjas de poliuretano sendo aplicadas em ferida após debridamento; Em B,
ferida recoberta por filme de Ioban®, sendo possível visualização também de dreno
multiperfurado e uso da pomada colóide para melhor vedação perianal.
A B
Figura 3 – Em A,B e C; pré- operatório de reconstrução de bolsa escrotal após uso de ELY-C
A B C
Figura 4 – Em A e B – reconstrução de vulva com sutura direta de pele sobressalente após uso
de terapia por pressão negativa; C e D – reconstrução de bolsa escrotal com retalho fasciocutaneo
da face medial da coxa.
A B
C D
V. DISCUSSÃO
A Gangrena de Fournier (GF), embora considerada rara, tende a ser fatal se não
diagnosticada precocemente e tratada de maneira adequada8.
O diagnóstico deve ser idealmente clínico, podendo ser dificultado por sinais e sintomas
muitas vezes inespecíficos9. Dor na região genital ou perianal, sem alterações cutâneas visíveis,
é um dos sintomas mais precoces10. Sinais e sintomas mais evidentes aparecem à medida que a
infecção avança pelas fáscias profundas do períneo como o edema escrotal, odor fétido,
crepitação de subcutâneo, necrose e a gangrena propriamente. Em um estudo de revisão recente,
edema escrotal, febre, dor e necrose aparecem como os sintomas mais comuns9. Fadiga é
considerado um sintoma raro reportado apenas em casos severos11. Neste estudo, dor, edema e
sinais de necrose já estavam presentes em todos os pacientes já na avaliação inicial em nível de
atenção hospitalar terciário, o que pode ser atribuído à dificuldade de acesso a saúde
especializada durante a progressão da doença.
Uma vez demonstrada a eficácia deste tipo de dispositivo de baixo custo é importante
ressaltar que o ELY-C contrasta-se com CPNT-USP por empregar dreno multiperfurado e filme
de vedação diferentes, utilizar-se de frasco coletor de secreções antecedendo a ligação ao sistema
de aspiração hospitalar - não descrito pelo CPNT –USP17 e por não dispor da válvula reguladora
de pressão patenteada pela USP - Ventrix®17. O ELY-C conecta o seu sistema coletor de
secreções diretamente no vacuômetro hospitalar de parede em aspiração contínua, o que é capaz
de reduzir ainda mais os custos associados ao dispositivo de pressão subatmosférica – estimados
neste estudo em apenas 1% do custo do VAC.
O Vacuômetro utiliza a pressão negativa gerada pela rede para aspirar e coletar as
secreções em um frasco. A pressão de vácuo é controlada através da agulha. O Vácuo é fechado
pela boia quando a secreção dentro do frasco aciona a mesma, para evitar que a secreção vá para
a rede de vácuo do hospital. A correspondência de valores pressóricos para uso do ELY-C foi
gerada a partir de manômetros conectados diretamente às máquinas de vácuo mais comuns do
mercado obtendo-se os mesmos valores em todas elas – 120 mmhg correspondiam a pressão
subatmosférica entre 5 cmhg (escala interna) e 10 cmhg (escala externa) do vacuômetro. Embora
existam oscilações na pressão negativa gerada pela rede, tal fato não interfere no uso do
dispositivo de baixo custo pois, uma vez visualizando que a agulha está fora da faixa apontada -
5-10 cmhg - o seu ajuste é fácil e praticável até mesmo pelos acompanhantes dos pacientes após
orientação médica.
Um dos desafios da terapia por pressão subatmosférica no tratamento da GF se deve ao
envolvimento do orifício anal na ferida19. A proposta do ELY-C em acrescentar a pomada coloide
para vedação de áreas perianais advém da dificuldade do correto acoplamento do dispositivo na
região pelo constante contato com fezes e relevo irregular. Assim, ao realizar-se um orifício no
plástico de vedação no ânus, envolto pela pomada, permite-se a evacuação sem o contato das
fezes com a ferida, bem como melhor vedação. Não obstante, tal procedimento proposto por
ELY-C, permite a redução da realização de cirurgias de desvio de trânsito utilizadas com
frequência em casos de proximidade com o orifício anal para prevenir a contaminação da ferida
com fezes20, mas que aumentavam a mortalidade comparativamente à sua não realização 21. No
presente estudo, apenas 18,75% dos pacientes foram submetidos a colostomia, com 66% de
óbitos associados -sendo que destes, apenas um fez uso do dispositivo de ELY-C, instalado já
tardiamente.
A escolha da reparação cutânea final depende das características da ferida como tamanho,
localização e profundidade2. Caso a ferida não apresente a quantidade de pele necessária para o
fechamento terciário por sutura, retalhos e enxertos são necessários para preservação da
funcionalidade e estética, apresentando ainda baixos índices de complicações pós-operatórias e
morbimortalidade. De forma geral, para perdas acima de 50% de pele escrotal, há indicação de
enxertia ou retalhos locorregionais ou até mesmo à distância22. Neste estudo, além de suturas
secundárias, realizou-se reconstruções a partir de retalhos fasciocutâneos da face medial da coxa
obtendo-se bons resultados estéticos (Figuras 4,5 e 6).
A B
Figura 6 – Em A – ferida granulada após uso de ELY-C. Em B, fechamento terciário por sutura
secundária
A B
VI. CONCLUSÃO
Desde a sua introdução, a terapia por pressão subatmosférica tem se tornado um método
adjuvante bem estabelecido no tratamento da Gangrena de Fournier, entretanto, ainda pouco
acessível para grande maioria populacional brasileira que depende do Sistema Único de Saúde
devido aos altos custo associados. Nasce assim a importância de novos dispositivos de pressão
subatmosférica de baixo custo, como o ELY-C aqui apresentando, tornando possível um
tratamento de eficácia similar com redução da morbimortalidade deste grupo de pacientes.
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