O documento discute a convergência entre design e marketing, levantando a questão de como o design pode propor novos objetos, serviços e sistemas que mudem a relação do usuário com a sociedade. Também traça uma retrospectiva histórica do design e do marketing, desde as primeiras atividades de troca até a Revolução Industrial e a produção em massa.
O documento discute a convergência entre design e marketing, levantando a questão de como o design pode propor novos objetos, serviços e sistemas que mudem a relação do usuário com a sociedade. Também traça uma retrospectiva histórica do design e do marketing, desde as primeiras atividades de troca até a Revolução Industrial e a produção em massa.
O documento discute a convergência entre design e marketing, levantando a questão de como o design pode propor novos objetos, serviços e sistemas que mudem a relação do usuário com a sociedade. Também traça uma retrospectiva histórica do design e do marketing, desde as primeiras atividades de troca até a Revolução Industrial e a produção em massa.
Resumo: com a intenção de oferecer um melhor entendimento ao
que converge às áreas do design e marketing, o estudo levanta a discus- são sobre a proposição do design à uma nova direção de trabalho, onde não existem fronteiras e a participação de disciplinas de outros saberes se faz fundamental na hora de propor objetos, serviços e sistemas que mu- dam a relação do usuário com a sociedade: o designing do marketing.
Palavras-chave: Design, Marketing, convergência
A ETIMOLOGIA DA PALAVRA DESIGN
D esign é uma palavra da língua inglesa que com o apropriado sig-
nificado só vai possuir correspondência na língua espanhola – em diseño, que por sua vez, não corresponde a desenho em português, este mesmo em espanhol seria dibujo e em inglês draw, draft ou sketch –, con- trariando a mais rápida tradução, que, embora pareça óbvia e lógica, seria completamente equivocada para a língua portuguesa. Reis (apud MAKOWEICKY; OLIVEIRA, 2008, p. 100-1) afirma que: “As raízes do termo ‘ design’ provêm do latim designare, da preposição ‘ de’ mais ‘signum’ (marca-signo), que em português temos como mais próxima a palavra ‘ desígnio’: intento, intenção, plano, projeto, propósito”. Sendo assim, design – em inglês –, ou diseño - em espanhol -, não podem ser entendidos em português se não houver a composição dos con- ceitos de projeto, planejamento, desígnio ou concepção. Hoje discute-se amplamente o termo design. Seus estudos e práticas são utilizados e reconhecidos em todo Brasil. Porém, quando iniciado em
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1963, o primeiro curso de design em nível superior brasileiro foi batizado como desenho industrial, em uma rápida tradução de industrial design, em partes, um ocorrido que talvez seja a responsável por tantos desentendi- mentos na história do design em nosso país. Segundo o dicionário Aurélio (1986), design é: “1. Concepção de um projeto ou modelo; planejamento. 2. O produto desse planejamento. 3. Restr. Desenho industrial. 4. Restr. Desenho-de-produto. 5. Restr. Pro- gramação visual.” Assim sendo, pode-se entender que o termo design se restringe aos campos do conhecimento e atuação profissional. Desta forma destina-se ao termo design, quando adequado à língua portuguesa, um único significado para o qual a língua não possui outro correspondente, quando o que se pretenda seja definir a consciente ação de planejar, projetar, conceber e/ou designar, colocar em prática um plano intencional de prover os meios adequados para o alcance de uma interação humana, seja ela com produtos, serviços ou comunicações.
O PERCURSO DO DESIGN E DO MARKETING: AS ORIGENS
O primeiro registro da palavra design foi cunhado pelo Dicionário
Oxford em inglês em 1588. A referência citada o conceitua como: “um pla- no ou esboço concebido por um homem para algo que se deseja realizar” ou “o primeiro esboço desenhado para uma obra de arte” ou ainda como “um objeto de arte aplicada, necessário para a execução de uma obra”. É sabido que a humanidade propôs várias soluções conscientes para problemas de interação com o seu ambiente, seja na confecção de obje- tos diversos como ferramentas, vestimentas, utensílios diversos ou até or- namentos, mas somente no século XIX surgiu a necessidade do homem configurar seu ambiente de acordo com uma nova dinâmica social e eco- nômica: a industrialização. Muito mais do que a especialização de profis- sionais tornou-se necessária, bem como a conseqüente, reflexão quanto ao que fazer, o porquê e o como fazer. Eis então que surge o design, sendo estruturado de maneira sucessiva e alcançando o status atual de campo de conhecimento específico. De maneira geral, pode-se dizer também que essa foi uma das pri- meiras atividades do marketing, ou atividades comerciais, que remontam à época em que o homem começou a descobrir que tinha necessidades e possuía potencial para conseguir produtos, extraindo-os da natureza. Dentro desta linha, pode-se fazer uma retrospectiva histórica no sentido de situar os fatos que nos trazem à contemporaneidade.
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Sabe-se que até o século XVII a produção era caracterizada como de subsistência, e cada membro familiar trabalhava para produzir o que fosse necessário para o seu sustento, proporcionando a estabilidade e pros- peridade de sua família. Mais à frente, o excedente do que se obtinhas dessas atividades era trocado pelos produtos de famílias que se dedicavam a outras culturas. A partir de então foi estabelecido os primeiros processos comerciais, que Yanaze (2006) coloca como “simples troca”, de modo a satisfazer mu- tuamente as necessidades humanas. A simples troca de produtos da pesca, caça e agricultura foi a primeira atividade conhecida de marketing, que pode ser entendida como a identificação da necessidade de produtos que são obtidos e trocados, estabelecendo-se, dessa forma, relações “comerciais”. Como os percursos a serem percorridos eram quase sempre longos, corria-se o risco dos produtos deteriorarem pelo caminho ou serem desvia- dos por saqueadores. Para evitar isso, surgiram aqueles que pensaram em facilitar as trocas, estabelecendo-se em locais estratégicos entre produtores e consumidores, e montando pequenas infra-estruturas para possibilitar a exposição e a troca de produtos diversos. Ali, eles não produziam nada, mas ajudavam na troca. Surgiu, então, a figura do comerciante, do inter- mediário das trocas. Essa nova situação propiciou o aprimoramento dos meios de trans- portes e de técnicas de se apresentar e ofertar produtos. Algumas regiões, estrategicamente localizadas, começaram a se constituir em grandes pólos de distribuição e, principalmente, de troca de produtos. Frente a esse processo de trocas, o século XVIII é marcado pelo sur- gimento de pequenas cidades, época que distingue também as atividades de produção e consumo, ou seja, quem produzia não era necessariamente o mesmo indivíduo que consumiria o produto produzido. Para o design, esta nova relação produtiva bem como a disponibili- dade de determinados recursos, como a matéria-prima, proporcionou uma economia dos insumos utilizados, bem como as especializações laborais que levaram ao aumento dos volumes de produção, ainda que artesanais, surgindo então os mercados, seus segmentos e, por lógica correspondência, também a produção por encomenda. Os consumidores passaram a expres- sar suas necessidades, que eram convertidas em mercadorias e podiam ser comercializadas antes mesmo de serem produzidas. Foi uma época em que se comercializava o trabalho, a produção, e não o produto. Entretanto, a viabilização da troca gerou conflitos, em um âmbito social, relacionados essencialmente ao valor dos produtos, objeto das tro-
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cas. Para resolver o problema, o homem comerciante passou a adotar crité- rios que levavam em consideração o uso de uma medida de valor que fosse comum à sociedade, para que a troca fosse mais justa. Criou-se, portanto, o conceito de moeda, o conceito do padrão monetário. A circulação do que era conhecido como moeda aguçou a ganân- cia dos seres humanos. Comerciantes queriam vender seus produtos pelo maior valor possível e obter quantidades cada vez maiores de moedas. Por outro lado, os compradores desejavam adquirir os produtos pelo menor valor possível. Esse fato acabou caracterizando a intenção de acumular riquezas, de guardar dinheiro. A moeda adquiria um valor próprio que ex- cedia a necessidade original de se ter um equivalente comum para mediar as trocas de produtos e atender às necessidades de sobrevivência. Tem-se então que até meados do século XIX, uma nova fase da produção especulativa toma forma: a exploratória, que não se baseava em encomendas e que, por isso mesmo, era passiva ao risco – o fabrican- te antecipava-se na produção de mercadorias esperando que elas fossem procuradas pelos consumidores. Como este trabalho poderia ou não ser comercializado, surgiu a recompensa pelo risco, o lucro, maior ou menor segundo a dimensão assumida, decorrente também da escassez de oferta. A solução para essa problemática foi o aprimoramento e a racionali- zação da produção, mobilização que resultou na Revolução Industrial; que se difunde por todo o ocidente com a metade do século XIX. No que diz respeito aos processos de fabricação em massa de mercadorias, os efeitos foram mais imediatos, já que a produção em série tornou-se possível pelas novas máquinas e equipamentos, ao mesmo tempo em que favorecia a re- dução do lucro e o maior acesso a estas mercadorias por um maior número de consumidores. Essa fase caracterizou, basicamente, pela migração do homem do campo para as cidades, integrando-se às estruturas produtivas como ope- rários; pela melhoria dos processos produtivos, como o uso de meios me- cânicos no lugar do processo manual e artesanal; pela invenção de equi- pamentos movidos a vapor; pela formação de mão-de-obra especializada, para fazer frente às demandas produtivas; pela distinção clara entre classes sociais, compostas pela burguesia e pela classe operária; e pela organiza- ção das estruturas produtivas de um modo mais profissional, voltada para resultados. Com a dinamização do mercado e o crescimento da indústria, co- meçaram a surgir novos empreendedores, empresários interessados em
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produzir e vender para essa crescente massa de consumidores. Proliferou a concorrência, fazendo com que os industriais passassem a se preocupar não somente com a produção, mas também com outros fatores que pode- riam ajudá-los a se manterem à frente dos produtores emergentes. A concorrência fez com que os proprietários das estruturas produti- vas pensassem em criar um diferencial competitivo. Abre-se aqui um parêntese para colocar em questão a necessidade de industriais e comerciantes em se empenharem em tornar conhecidas as vantagens de seus produtos, bem como preço e distribuição. Isso também não quer dizer que a comunicação publicitária nasceu com a Revolução Industrial, ou que somente pode ser considerada como efetiva, de con- tornos definidos, a partir do momento em que passou a ser integrante do processo produtivo. Na verdade, ela esteve presente em todos os momentos da história da civilização, nos mais diversos procedimentos. No entanto, a Revolução Industrial e seus desdobramentos for- çaram as empresas a destinar parte de seu faturamento para custear as ações de divulgação, permitindo que gradativamente se profissionalizasse a atividade de comunicação. Se antigamente a publicidade era esporádi- ca e amadora, sem planejamento, a partir da Revolução Industrial ela se tornou cada vez mais indispensável. Então, a publicidade passou a ser pla- nejada e executada de maneira profissional e constante, pois as empresas tinham de fazer seus produtos ficarem mais conhecidos do que os de seus concorrentes. Porém não é este o foco desta pesquisa, muito menos o que se pre- tende discutir a fundo aqui. E para não fugir de nossa reflexão retornemos ao design e ao marketing fechando esses rápidos parênteses onde se encon- tram a publicidade. Esta fase de crescimento produtivo que visava atender a demanda de novos mercados vai se estender até o início do século XX, seguida da fase em que já não era mais a produção o item comercializável, quando então se funde com o surgimento - de fato - do design. Embora essa fusão tenha acontecido nesta época, já existia uma reflexão, durante o século XIX, quanto à necessidade de uma atividade especializada em dotar os produtos industrializados de características atrativas, que os tornassem comparáveis aos elegantes objetos produzidos artesanalmente. É bom ressaltar que acreditava-se que a feiúra seria típica dos pro- cessos industriais, tanto que é primordial mencionar aqui, até como fato histórico, a fundação por Henry Cole, em Londres, do Journal of Design, em 1849. O meio procurava promover a idéia de que o bom design equi-
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valeria ao good business, já que naqueles tempos a tecnologia produtiva industrializada engatinhava e a precariedade das máquinas permitia pro- dutos desprovidos de atenções estéticas. O modo de utilização do processo não era o centro das atenções, apenas o atendimento da utilidade prática, a economia de recursos e a disponibilidade de um grande número de pro- dutos para comercialização. Não foi por acaso que surgiram inúmeras manifestações que con- testavam a propriedade com que os produtos industrializados tomavam o lugar dos objetos, até então produzidos artesanalmente. Foi então que em 1919, com a fundação da Bauhaus, o design nas- ceu verdadeiramente como saber, tendo como um de seus postulados unir arte e técnica em uma nova unidade. Delineava-se um novo perfil pro- fissional para a atuação na indústria, desviando a prática profissional do tradicional artesão ao designer industrial como se entende atualmente na contemporaneidade. Sullivan (apud BÜRDEK, 1994) marcou a arquitetura e, poste- riormente, o design industrial com a doutrina do funcionalismo, durante várias décadas, ao enunciar que a forma segue a função. Ele reafirmou por outras palavras a teoria de William Morris, que propunha antes de tudo, unidade e praticidade do ambiente. De acordo com este princípio, a ação do designer deveria estar concentrada em analisar as necessidades sociais e, a partir daí, oferecer solução prioritariamente comprometida com o mais alto grau de funcionalidade. Entretanto, o conceito de função foi muito limitado, pois que se considerava apenas a função prática ou a técnica (usabilidade, viabilidade construtiva). Em 1953 é fundada a Escola Superior de Design de Ulm, sob a rigo- rosa orientação do modelo Bauhaus. Considerada como a mais importante entidade do design criada após a segunda guerra mundial, Ulm destaca-se por firmar a identidade acadêmica do design; um marco no amadureci- mento dos fundamentos teóricos do design e suas contribuições no campo da postura científica da área, que não teria sido possível sem os trabalhos desenvolvidos no campo da metodologia. Bürdek (2006, p. 51) ressalta a importância dessa instância metodológica: “O pensamento sistemático sobre a problematização, os métodos de análise e síntese, a justificativa e a escolha das alternativas de projeto – tudo isso junto, hoje em dia, se tornou repertório da profissão de design”. Durante os anos sessenta, a doutrina funcionalista perdia prestígio por seu radicalismo, passando a ser fortemente criticada, principalmen- te na Itália, país onde o design iniciava um período de reconhecimento
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internacional, tendo sido ele um dos principais fatores da reestruturação industrial italiana do pós-guerra. Inflexível e fiel ao funcionalismo apro- priado pela Bauhaus, de acordo com o mais puro racionalismo germânico, a HfG-Ulm sucumbiu às críticas àquela doutrina. A própria escola foi destinatária de muitos ataques por ser reconhecida, posicionando-se no mais elevado ponto de destaque entre as instituições acadêmicas do design, como a principal defensora do funcionalismo, tendo encerrado definitiva- mente as suas atividades em 1968. O Brasil foi um dos beneficiários diretos da Escola de Ulm, com a colaboração na implantação por alguns de seus ex-membros da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) no Rio de Janeiro, em 1963, a primeira escola de design da América Latina, assim como para a criação, em 1984, do Laboratório Brasileiro de Desenho Industrial (LBDI) em Florianópolis, onde Gui Bonsiepe, graduado em design pela HfG-Ulm, foi coordenador até 1987. Contudo, o maior marco desta escola foi a radical separação que estabeleceu entre o design, a arte, a arquitetura e o artesa- nato, fundamentalmente pela emancipação acadêmica que proporcionou a este campo do conhecimento. Paralelamente, o mundo conheceu não só o crescimento das empre- sas e o conseqüente aumento da produção, como também o surgimento de um novo tipo de consumidor, mais exigente, imediatista e com disposição de aproveitar melhor a vida por meio do consumo de produtos e serviços diferenciados. Esse consumidor emergiu das transformações do mundo provocadas pelo reconhecimento do poder destrutivo da guerra e pelo sen- timento de incerteza quanto ao futuro. Este novo homem passa a valorizar mais o conforto e o gozo ime- diato da vida, e encontra no progresso tecnológico e nos produtos dele decorrentes os suportes para sua realização no curto prazo. Diante desse consumidor emergente, as empresas passaram a se preocupar em conhecê-lo melhor, investigando mais profundamente seu comportamento e suas motivações de compra. Percebendo essa nova de- manda empresarial, universidades norte-americanas incorporaram em seus cursos de negócios, Business Administration, disciplinas que privile- giavam a pesquisa e a análise de clientes e consumidores, dando origem a disciplinas dedicadas ao estudo do mercado e congregando, no conjunto, uma nova especialidade, o Market Studies. Mais tarde, percebendo a limitação da expressão Market Studies, para significar todas as possibilidades de estudo e de interação com o mercado, os acadêmicos passaram a utilizar a expressão marketing, mais
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abrangente por usar a palavra market (mercado) com o sufixo ing, sinali- zando que tudo o que pudesse ser relacionado ao mercado estaria contido no marketing. Esse “tudo” incluía a pesquisa, o desenvolvimento de novos produtos, a gerência de produtos, a logística de vendas, a precificação, o controle de vendas, a propaganda e diversos outros aspectos. É a partir dos anos 70 que surge uma fase nova dentre o meio empresarial, em que o esforço produtivo passa então a se orientar ao consumidor, descobrir o que ele quer ou necessita, direcionando a ele uma produção mais racionalizada, uma das heranças deixadas pela Ulm. Pontua-se aqui a administração voltada para o mercado: o marketing. O marketing e o design foram alvos de várias críticas desconfiadas de que verdadeiramente eles se orientariam para uma suposta criação de neces- sidades, ao contrário de detectá-las, no caso do marketing, e atendê-las, no caso do design. Hoje, existem aqueles que atribuem ao design falsas afirmações de ser “uma arte vendida” ou até mesmo “uma arte a serviço do capital”. Tais convenções vêm dissimuladas de reflexões que buscam em nome do escla- recimento à análise e clarificação de suas próprias ideologias, ignorando reflexões necessárias e apropriadamente fecundas, particularmente, quan- to “ao que é” ou “qual é a função” do design. Por outro lado, a humanidade vive na contemporaneidade a era da informação. As mentes do século XXI, mais esclarecidas e conscientes, demonstram possuir um comportamento não mais desconfiado, porém crítico quanto aos seus anseios, necessidades e possibilidades. É sabido que ainda existem vários obstáculos a serem vencidos, po- rém, há de se lembrar que não há muito tempo os produtos não funciona- vam tão bem, a tecnologia disponível impunha à sociedade uma série de barreiras ao atendimento de um nível de qualidade minimamente satisfa- tório. Contudo, nos dias atuais, a qualidade dos produtos é um requisito tão básico que passa a ser subjetivo, a ponto de possuir concepções bem distintas entre as pessoas. Em fins do século XX, a qualidade atrelava-se ao preço maior; hoje já não há esta cultura, pois a qualidade, sendo a medida certa entre as características de um produto e o desempenho que dele se espera, pode estar acessível a preços muito baixos, relativamente. As empresas que possuem seus trabalhos focados no design praticam hoje este entendimento, sabem que o papel do design é estabelecer a direta ligação, até emocional, entre o que se disponibiliza e o que se procura, em termos de produtos ou serviços, pois que seu sucesso depende da plena satisfação dos seus clientes.
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CONCEITUANDO O DESIGN
Pode-se considerar imprudente a tentativa de descrever algo por
meio de uma definição, pois não se imagina, ao menos neste caso, que possa existir uma descrição que seja minimamente definitiva – ainda que não se busque a precisão ou uma pretensa verdade, ainda assim não che- garíamos a um consenso. Hoje, nem mesmo a mais cartesiana das ciências procura descrever algo como verdadeiro, seja lá o que for, entende-se todas as verdades como meramente provisórias. O que se faz, então, é buscar em meios diversos, algumas possibilidades para a tentativa de descrever mais ou menos adequadamente conceitos para o que o design “pode ser”; longe, portanto, da pretensão de uma certeza. As contribuições de diversos autores, pensadores, profissionais e so- ciedades, do design ou de outras áreas, colhidas em diversas publicações, serão aqui colocadas não com a intenção de se esgotar o tema, mas sim de estabelecer uma ligação entre as várias partes e discuti-las. Segundo o International Council of Societies of Industrial Design (IC- SID) , dentre as definições que temos para o design, propõe-se ao mesmo o 1
seguinte conceito: “é uma atividade criativa que objetiva estabelecer qualida-
des multifacetadas nos objetos, processos, serviços e seus sistemas em todos os seus ciclos de vida. Portanto, design é o fator central da inovadora humaniza- ção de tecnologias e fator crucial em aspectos econômicos e culturais”. Este conceito vem indicar a contribuição do design aos esforços de produção de bens e serviços à sociedade. As tecnologias existentes permi- tem que referências afetivas sejam incorporadas à produção humana, e o design vai destacar-se como especialidade para este fim. Existem aqueles que ainda não creditam ao design a competência em entender os anseios do ser humano e aplicar em novos projetos corres- pondentes soluções que sejam desejáveis pelos indivíduos. Kotler e Rath (1984) propõem a estes as competências do design, ao considerarem que, como processo, ele está intimamente ligado à satisfação das pessoas, pois aspectos como desempenho, qualidade, durabilidade, aparência e custos podem ser aplicados pelo design em produtos, ambientes, informações e imagens corporativas. E quando é elevada a satisfação dos consumidores e usuários, eleva-se por conseqüência a possibilidade de lucratividade das empresas, e apenas com a integridade econômica destas instituições é pos- sível disponibilizar à sociedade produtos e serviços superiores. Dentre estes elementos distintivos do design, a qualidade possui por si um conceito muito genérico, e até como já colocado anteriormente
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subjetivo, já que o nível de qualidade aceitável por alguém não é necessa- riamente o mesmo correspondido por outros, e vários são os fatores que influenciam um determinado padrão de qualidade. Neste sentido, um dos principais papéis do marketing é estratificar grupos de consumidores/ usuários que compartilhem os mesmos padrões de uso e comportamento; no design, cooperativamente, é o de compreender estes comportamentos, baseado em perfis sócio-culturais, e estabelecer vínculos entre eles e o que seus agentes procuram em produtos e serviços oferecidos, atividade de ex- trema complexidade dependente de enorme preparação formal. Há que se dizer que no processo de inovação o design desempenha uma ação crucial, atendendo às possibilidades técnicas e demandas, novas oportunidades de mercado, o que exige elevado grau de criatividade. É certo que a criatividade é uma habilidade característica do ser hu- mano, mas não pode ser entendida como uma mera inspiração ou um en- canto inovador – trata-se do resultado de uma consistente preparação, do adequado reconhecimento das limitações e possibilidades que envolvem um determinado problema. Dela tanto depende o design quanto as artes, mas é interessante também lembrar que dela depende toda ciência. Quanto à inovação e a criatividade, o design não pode ser colocado simplesmente como uma ferramenta, mas sim um processo inovador que usa a informação e o conhecimento a respeito da arte, ciência e compor- tamentos sócio-culturais. Tem-se como claro, portanto, a sua ação multi- disciplinar2, com efetivas possibilidades de prática comum a duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento, atuando em sinergia e focando um objetivo comum, como destaca Lorenz (apud REIS, 2008) ao considerar que o design contribui em diversos aspectos e atribuições próprias da en- genharia e do marketing, do planejamento de novos métodos de produção a novos métodos de análise mercadológica, condução e interpretação de pesquisas de mercado, pois além das atividades próprias e rotineiras de um designer estão aquelas que o tornam um valioso recurso, as suas multiface- tadas habilidades de contribuir para o trabalho de outras disciplinas. Sobre essa multidisciplinaridade e seus vários processos de cola- boração, Twemlow (2007) propõe que o design está a se tornar cada vez mais transdisciplinar3, geograficamente disperso e colaborador. Problemas complexos, como os que são colocados ao designer, requerem respostas sofisticadas provenientes dos saberes de várias áreas. Quando diversas disciplinas convergem e colidem, podem nascer todos os tipos de novos desafios: fatos como o de organizar grandes equipes de trabalho de todas as áreas de saber e de vários lugares; como essas irão se comunicar uma
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com as outras; como serão definidos os papéis de trabalho; como dar-se-á a comunicação entre as diversas tecnologias utilizadas; entre outros. Os designers e as empresas voltadas para o futuro estão despertando para os infinitos benefícios que este tipo de abordagem não convencional traz. É como diz Tyler Mallison (apud TWEMLOW, 2007, p. 29) “ao en- volver as pessoas que tem um entendimento alargado e empatia por várias áreas, juntamente com uma experiência profunda em uma ou duas áreas, podem-se conseguir novas perspectivas”. Ao design credita-se uma excepcional responsabilidade, dado que sua competência não se localiza exclusivamente em ações de ordem téc- nica, como lembra Dorfles (1984), apontando que, ao iniciar o processo, o designer deve ter consciência de suas capacidades e sua tarefa no todo da operação produtiva. Parte de seu trabalho é analisar sinteticamente as informações que lhe são transmitidas pelos diferentes especialistas, técni- cos, estatísticos, mercadólogos e peritos das técnicas operativas, de modo que possa concluir especificações para o tipo de produto que deva projetar, utilizando, para tal, ferramentas metodológicas adequadas. Ao afirmar que o design não está somente nos produtos acabados, mas no ato de fazê-los, que não está no resultado e sim no processo, Reis (2008) discorre que algo fundamental ao design é o método de sua pro- dução, sendo a metodologia em design considerada como uma das mais importantes etapas de seus conteúdos. Portanto, sendo metodológica, a atividade do design é científica, e todas as suas fases de desenvolvimento, desde o reconhecimento, delimitação e decomposição de um problema de projeto e as sistemáticas pesquisas iniciais - estatísticas -, caracterizam-se por uma lista de procedimentos baseados em princípios academicamente estabelecidos. Desta forma, na atualidade, sem um método a resultante não é o design, mas o acaso e, sendo assim, não poderá ser valorada quan- titativa ou qualitativamente, muito menos repetida ou aperfeiçoada. Deve-se apresentar também, além do caráter científico do design, o seu objetivo social, que vai além do atendimento das necessidades de interação do indivíduo com objetos ou comunicações, compreendendo-as como necessidades de interação social, como um bem cultural humano que se evidencia mais freqüentemente com o passar do tempo. Reis (2008) reforça este entendimento ao descrever o design como uma atividade que mescla a tecnologia com contextos sociais, de modo a promover satisfação e modificação do comportamento humano. Twemlow (2007) propõe que embora a maioria dos designers con- cordem que as pessoas que recebem e usam o seu trabalho são importan-
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tes, existe um número muito menor que sente a necessidade de pesquisar a audiência ou testar o trabalho antes de produzi-lo. O autor ainda ressalta que uma parte importante de ser designer é realmente estar aberto a estí- mulos externos, ser sensível e ouvir. O mais comum é ver designers que acabam centrando suas ativi- dades nos aspectos do projeto, parte que podem controlar, e raramente reservam tempo para o envolvimento da pesquisa da audiência que irá recebê-lo ou utilizá-lo. O profissional acaba colocando mais ênfase na pro- dução do design do que em seu consumo – no designer como um criador de forma e significado, e não no usuário como alguém que pode extrair um significado e depois agregar o seu. Selecionar uma direção ao design muitas vezes resulta em uma luta entre o designer e o cliente sobre o que será melhor para o usuário, que é muitas vezes pouco compreendido. Sem dúvida muitos designers valorizam a importância da investiga- ção e levam tempo para descobrir as pessoas para quem estão projetando soluções. A informação sobre o público ao qual se destina o projeto acaba chegando por via do cliente, quando chega. É aí que a figura do profissio- nal de marketing se faz importante e muitas vezes fundamental, este vêm para pesquisar esse público, mapear os perfis para entregar ao designer a pesquisa necessária para que este possa filtrar e pensar de acordo com a teia de informações que possui em mãos a melhor solução de design para a problemática apresentada. Em campos mais práticos, como o design de jogos, saber sobre o usuário é um elemento fundamental em qualquer cenário de design. Po- rém, no gráfico, por exemplo, é menos comum, mas a idéia de design participativo que desafia ou convida o público a desempenhar um papel no processo criativo é colocada por alguns profissionais com alguma re- gularidade. A idéia de criar um enquadramento que deixa elementos para serem completados pelo expectador é especialmente apelativo para aqueles designers que dão prioridade a sistemas e deixam os processos pré deter- minados ganharem forma. Grupos de atividades e pesquisa de mercado, que são comuns nas áreas de marketing e comunicação, parecem fornecer dados com avaliação objetiva de um produto ou serviço ou até mesmo uma promoção, mas não são usuais entre designers que tentam saber algo a mais sobre uma audiência. Nee (apud TWEMLOW, 2007) diz que se nos colocarmos do ou- tro lado, o dos clientes, e dizermos “nós estudamos a fundo as pessoas
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com quem vamos falar e pensamos realmente que esta solução funciona bem por causa destas dez razões”, iniciar-se-á uma conversa que resultará provavelmente em uma boa solução de design. No que cabe um esclarecimento, por modificar o comportamento humano, Reis (2008) refere-se à competência do design em procurar en- tender os reais anseios do homem, como usuário/consumidor, e atendê-lo no que é verdadeiramente necessário, nas funções de um objeto, sejam elas em instâncias práticas ou estéticas, e não nas bases pré-concebidas de como o produto deveria ser e, assim, levá-lo a uma postura mais crítica quanto ao que é realmente necessário, não apenas ao homem como indiví- duo, mas a toda sociedade à sua volta. Desta constatação, compreende-se a natureza do design como ciên- cia social, legítimo integrante das ciências sociais aplicadas, que está, por sua natureza, intimamente relacionado às questões subjetivas e abstratas que envolvem as interações humanas e os fenômenos sociais. Ainda pela identidade do design, Bonsiepe (1997) enfatiza que a interface entre o homem e os artefatos é o objeto central do design. A in- terface permite diferenciar design de engenharia. O design ocupa-se dos fenômenos de uso, interessa-se pela eficiência sociocultural, na integração dos objetos à cultura cotidiana. Já as engenharias atuam na eficiência física através de outros métodos, os das ciências exatas. De qualquer modo, tais distinções não negligenciam a ação con- junta destas áreas. Como já discutido, o design busca a promoção de ati- vidades interdisciplinares4, é o processo de desenvolvimento de objetos em um nível que vai abranger de navios a aviões, a folhetos e logotipos, envolvendo, de acordo com a complexidade do projeto, engenheiros, ad- ministradores, profissionais de marketing e comunicação; dentre outros especialistas que possam estar envolvidos com a empreitada e, não raro, cabe ao designer conciliar os interesses de todos. Como observa Zacai (apud REIS, 2008, p. 117-8):
A estratégica integração do design industrial é a chave do sucesso em
um mercado competitivo. O design industrial, quando habilmente praticado, é muitas vezes o elo perdido entre as disciplinas mais conhe- cidas de marketing e engenharia, em um processo de desenvolvimento de produto bem sucedido. O design industrial tem a singular habili- dade de observar o comportamento do consumidor, identificar as suas necessidades e anseios não atendidos, coisa que apenas um plano de marketing não consegue realizar. Uma vez descobertas essas oportu-
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nidades, o design industrial trabalhando em estreita colaboração com a engenharia pode rapidamente conceber e implementar soluções que satisfaçam essas necessidades que são únicas, funcionais e apropriada- mente elegantes para cativar a imaginação do consumidor.
Mesmo que as mais básicas necessidades humanas imponham sem-
pre desafios ao design, sempre serão possíveis projetos livres das implica- ções econômicas e produtivas, que satisfaçam as necessidades humanas menos evidentes, ou ainda não evidenciadas, momento este em que o de- signer antecipa-se ao que a sociedade aparenta ainda não saber o que sabe, ou procura. Sendo assim, não restam dúvidas que o maior compromisso ao qual um designer deve assumir é voltado ao seu público-alvo. Compromisso este, vale ressaltar, que o profissional de marketing também adota como filosofia de trabalho. Não fosse assim, também não atenderia ao objetivo do produtor, a outra parte desta relação. O profissional do design deve ser uma atividade ética, pois não há como atender aos interesses do produtor a não ser que o consumidor seja dirigido ao benefício do produto ou ser- viço, o que Jorge Frascara (apud REIS, 2008) confirma, ao afirmar que o design deve ser praticado integrado aos contextos da ética, ou constituirá um perigo cultural, social, ideológico e ambiental. A sustentabilidade é cada vez mais uma questão importante para o designer e para as pessoas para quem trabalham. Os designers não só são responsáveis (ou pelo menos cúmplices) pela criação de demasiado desper- dício, como o seu trabalho também é instrumental ao ajudar o movimento de sustentabilidade a representar-se de formas que estão mais ligadas às preocupações do consumidor contemporâneo Concluindo, a responsabilidade do profissional de design vai além da satisfação de seus receptores. Ela se estende a toda sociedade, pois os conceitos do design são universais, portanto todos devem ser beneficiá- rios destes. É com esta filosofia que as soluções propostas a um proble- ma de design devem estar comprometidas, algo que suplanta a função, produção e comercialização a que se propõe o produto, comunicação ou serviço. É sabido que existem referências específicas ao design industrial, porém todas as reflexões aqui colocadas servem às demais habilitações do design, sejam eles o design gráfico, design de interiores e design de moda, hoje muito bem representadas e praticadas de forma acadêmica e profis- sional no Brasil.
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A SOLUÇÃO COMO PROPOSTA: CONVERGÊNCIA DOS SABERES
Talvez seja interessante ilustrar a teoria de “núcleos duros” de Ma-
chado (2007) para esclarecermos sobre a convergência dos saberes que aqui se discute. Propõe-se que sejam colocadas as áreas do conhecimento, como o design, marketing e engenharias (é bom lembrar que as áreas po- dem se modificar de acordo com o projeto) em círculos que delimitam os campos de estudos, pesquisas e práticas desses universos. Esses campos tangenciam outras áreas em sua história e isso gera uma comunicação entre as mesmas. Neste primeiro momento a tangência das áreas não pres- supõe a aquisição de conhecimento e na geração de novas propostas. Aqui, neste estágio, existe apenas a intenção de trocas entre áreas que, ainda, são distintas. Porém, como áreas do conhecimento, a fronteira da circunferência não pode ser extensa para não tolher a expansão destes saberes. Logo, não se pode delimitar esses campos. O mais certo seria imaginar os mesmos como esferas “duras” em seu meio que, gradativamente, vão perdendo a densidade a partir que se distanciam do centro e nesse momento começam o intercâmbio com outras áreas. Esse “núcleo duro” definiria conceitos, práticas, modos de produção, tecnologias, economias e públicos especí- ficos de cada área do saber. É normal que ao longo da história exista um deslocamento das atenções e pensamentos ora para o “núcleo duro”, ora para as intersecções entre as bordas.
Figura 1: Transição entre a Fase de Círculos Delimitadores dos Saberes à Direção
dos “Núcleos Duros”
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Machado (2007) analisa que no interior de cada meio existe con- flito, surgimento de novas tendências, e algumas delas revolucionárias, ao ponto de redirecionar os rumos dos pensamentos e práticas, expandindo os núcleos “duros” geometricamente. Logo, nesse movimento, sua expan- são leva as zonas de intersecção e seus “núcleos duros” a expandirem e se misturar, tornando-se um só “elemento”. Rompendo com o pensamento separatista, em que o centro mais denso do núcleo (indicador de sua espe- cificidade) começa a se confundir com os outros em um novo patamar: o da convergência dos saberes, conhecimentos, produções e práticas.
Figura 2: Círculos e Núcleos Duros
Nota: tanto os Círculos como seus “Núcleos Duros” Vivem um Movimento Permanente de Expação.
É certo que o marketing contemporâneo já deixou de ser pós-for-
dista originado no Market Studies que compreendia a pesquisa, o desen- 5
volvimento e gerência de produtos, logística, precificação, controle, propa-
ganda e etc.; mas sim uma instância de novos valores que, se aproveitando da interdisciplinaridade, comungou com outras áreas do saber, como o design, para propor – juntos – algo novo que vai além de seus universos. Está na hora de se começar a falar no “designing do marketing”, uma atividade multifacetada que promove a análise do entendimento do homem como ser social na intenção de antecipar-se no oferecimento de algo (objeto, serviços, sistemas...) que esta mesma sociedade ainda não sabe
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que quer ou precisa. É um trabalho interdisciplinar que se compromete em projetar uma solução que respeita a sociedade, proporciona ambientes favoráveis e responsáveis de melhorias, ao mesmo tempo que é compro- missado com o usuário, focada em perfis que podem, após todo o processo modificar as instâncias do ambiente que estão inseridos para propor al- terações que se adequarão confortavelmente aos anseios do público a que se destina.
Notas
1 Disponível em <http://www.icsid.org/about/about/articles31.htm>. Acesso em: 14 de abril de
2009 às 15:45h. 2 Deve-se tomar aqui a definição do dicionário Aurélio para multidisciplinar: “Referente a, ou que abrange muitas disciplinas.” 3 Deve-se aqui adotar o que diz Moura (2003) sobre o design como teoria transdisciplinar. Segundo a autora, a atividade “compreende o estabelecimento de um campo variável de conhecimentos”, onde existe o trânsito de informações e saberes comuns a uma ou mais disciplinas (multidisciplinar) ou referente a algo novo que gerou-se a partir dos estudos e das trocas de informações das disciplinas envolvidas no processo, mas que ainda não pertence a nenhuma (interdisciplinar). A transdisciplinaridade é a ampliação dos estados multi- e interdisciplinares. É a aplicação efetiva das atividades deste profissional em um universo além da área do design, mas destinado a todas as ramificações da sociedade, em um sentido complexo. 4 Deve-se tomar aqui a definição de Moura (2003) para interdisciplinar: “diz respeito aquilo que é comum entre duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento, ocorre quando uma única disciplina, campo do conhecimento ou ciência não é capaz de esgotar um assunto.” 5 O modelo fordista foi proposto por Henry Ford em 1914 e apoiava-se em uma sociedade baseada no consumo de massa e, para isso, deveria haver condições para seu crescimento. Colocado em prática pela primeira vez na fábrica da Ford Motor Company, em Detroit-Michigan, no referido ano, a linha de montagem automática facilitaria o aumento da produtividade, do poder aquisitivo, do lazer e, conseqüentemente, do consumo. Ford acreditava que um poder corporativo poderia regulamentar a economia como um todo. Com todas essas características amplas, o fordismo proporcionou uma rápida elevação do investimento e do consumo per capita.
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Abstract: aiming to provide a better understanding which converges to areas of
design and marketing, the study raises the discussion of proposing design into a new direction of work, where there are no boundaries and the involvement of other disciplines of knowledge is essential to propose objects, systems and services that change the relationship of people with their environment: the designing of marketing.
Key words: Design, Marketing, Convergence
ÁLVARO DE MELO FILHO
Mestrando em Design pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM). Especialista em Publicidade e Audiovisual pela Universidade Estadual de Goiás (UEG/Ifiteg). Especialista em Formação de Professores para o Ensino Superior pela Universidade Paulista (UNIP).E-mail: professor@ alvarofilho.com.
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