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ABSTRACT: Starting from a brief historical retrospective on the bases of Capitalism, the
text discusses how artisanal production and industrial production have been related since
the Industrial Revolution through the perspective of two main moments: the Arts and
Crafts movement and Brazilian modernism. We can see similarities in the trajectories of
fundamental characters in the constitution of both scenarios, namely William Morris,
Mário de Andrade and Lina Bo Bardi. Their romantic and socialist tendencies approach
them in terms of identity and social roles. At the same time, their practices also bring them
closer, since the three, all from the highest social classes, turn to popular culture as a way
of substantiating their ideologies, in a kind of search for truth.
Keywords: Culture and Society. History of design. Arts and Crafts. Brazilian modernism.
Aproximações entre arte, design e artesanato nas experiências do Arts and Crafts e do modernismo brasileiro.
1 — Introdução
Uma vez que se instauram os processos de industrialização em um determinado contexto,
conferindo nova ordem ao capitalismo, inicia-se ali uma peleja entre o produto industrial e
o produto artesanal que, antes, reinava absoluto. Novas possibilidades de produzir,
associadas ao objetivo de acúmulo de capital, geram a produção em larga escala, os
excedentes e o mercado. E, assim, o produto artesanal fica para trás num processo que
demanda cada vez mais quantidade, uniformidade e rapidez, atributos totalmente opostos
ao seu modus operandi.
O presente texto tem como propósito investigar esta condição a partir do movimento Arts
& Crafts de William Morris na Inglaterra do século XIX e apontar possíveis pontos de
aproximação este movimento e o modernismo brasileiro. Com isso, esperamos contribuir
para elucidar questões relativas à história do design e ao papel do designer como elo
fundamental nas relações entre o artesanal e o industrial, entre a cultura e o mercado, a
partir do estabelecimento dos modelos de produção industrial.
Para dizer a verdade, não estamos falando da divisão de trabalho, mas da divisão de
homens, de sua divisão em segmentos de homens. Despedaçados em pequenos
fragmentos, o que restou de sua inteligência é incapaz de produzir um prego, pois
estas se esgotaram para fazer apenas a cabeça deste. Hoje, é algo bom e desejável fazer
o máximo de pregos por dia. Nós devemos pensar que pode ter havido alguma perda
nisto também. (RUSKIN, 1853).
Entretanto, antes de chegar, efetivamente, ao nosso ponto de discussão, o Arts and Crafts,
localizado na segunda metade do século XVIII, será necessária uma breve retrospectiva
histórica, para compreender as condições que o propiciaram.
Podemos identificar o século XVI como marco de uma nova era na história da humanidade:
o mundo moderno começa a se organizar a partir deste momento, com o crescimento da
produção gerando excedentes de produtos, capital e mão de obra.
O século seguinte traz uma fase de guerras e crises na Europa, mas, ao mesmo tempo, foi o
período onde se deu a Revolução Científica, trazendo importantes contribuições no campo
das ciências e, mais tarde, da indústria. Do ponto de vista econômico, a economia europeia
vive uma “crise generalizada” durante este século que seria a última fase da transição da
economia feudal para a economia capitalista (HOBSBAWN, 1954). No século XVII,
praticamente, todas as potências europeias eram governadas por monarquias absolutistas,
cujo modelo principal era o regime francês. Estes países haviam se tornado potências a
partir da Idade Média, com a formação dos Estados Nacionais Modernos, quando se
unificaram como nações. Este foi o caso da Inglaterra, assim como da França, Portugal e
Espanha, cada um com suas particularidades de percurso. Nestes países, a prática
mercantilista iniciada no século XVI gerava grande riqueza, seja pelo aumento de sua
produção interna s ou pela exploração das colônias. Mas, quanto maior o volume de
recurso gerado pelos reinos, mais insustentável se tornava a situação da monarquia frente
ao fortalecimento das burguesias. É possível pensar o século XVII como um período de
organização necessária para o capitalismo. Uma vez que já havia estabelecido suas bases
materiais, poderia, então, evoluir para um modelo mais complexo orquestrado por
sistemas econômicos e formas de governo que, necessariamente, deveriam ser mais
liberais.
Assim, o século XVII, também como quase todo o século XVIII, foram períodos onde a
Europa foi se estruturado para que, no século XIX, ocorresse a chamada Revolução
Industrial. Com a criação de novas tecnologias para o campo, e depois para a cidade, o
desenvolvimento das manufaturas, do sistema putting-out, e com as mudanças na
organização social e na divisão de trabalho, somando-se a isso o acúmulo de excedentes e
o grande volume de capital acumulado pelas burguesias, o processo de industrialização vai
se configurando do campo para a cidade. No caso particular da Inglaterra, onde se dará,
mais tarde, o movimento Arts and Crafts, o país já funcionava organizado em pequenas
cidades ao redor das quais todo o sistema industrial pôde ir se organizando. Estas cidades,
originadas nos feudos da Idade Média, chegaram ao século XIX dotadas de uma estrutura
própria, autóctones, suprindo suas próprias necessidades internas através da agricultura,
da criação, do manejo de recursos naturais e do beneficiamento de alimentos, que lhes
garantia a subsistência, e da produção de artefatos de madeira, ferro, metais, cerâmica,
vidro, couro, tecelagem, entre outros, que lhes garantia conforto e segurança. Também
vivenciaram os efeitos da Revolução Científica, da Revolução da Imprensa e da
Renascença, por exemplo. Ou seja, havia uma estrutura que vinha sendo montada desde o
século XV que propiciava o desenvolvimento do Capitalismo na Europa. No caso da
Inglaterra, a Revolução Industrial, o estopim da largada capitalista, também só foi possível
em decorrência da forma como evoluíram ali os processos de produção e organização
social, no campo e, depois, na cidade.
roupas, calçados, bainhas, mobiliário etc. Cada guild tem sua competência e aquele que ali
produz compromete-se também com essa especialização. Eram organizadas de forma
hierárquica onde o indivíduo ingressava como aprendiz e poderia atingir a posição de
oficial, artesão, caso mostrasse competência e, talvez, um dia poderia chegar ao grau
máximo, o de mestre.
Em paralelo, o século XIX é o século de grandes invenções tecnológicas, com destaque para
a incorporação do vapor à indústria, por volta de 1830. Havia um cenário bastante
promissor para nascente indústria. Além disso, desde os anos 1820, a Inglaterra contava já
com mais de vinte escolas de design e, embora seja verdade que muitos destes projetos
tenham falido, o processo de estruturação da educação em design foi retomado a partir
dos anos 1840. Isso nos leva a crer que havia ali um empenho na formação do profissional
que nascia com a indústria: o projetista, o designer.
Com a Revolução Industrial, o mundo não seria mais o mesmo, pois a industrialização
transformou todos os setores da sociedade. Ela afetou diretamente a esfera social, e
influenciando a produção cultural e artística. Enquanto isso, as belas artes, por sua vez,
encontravam seu caminho deixando as artes aplicadas, ou mechanical arts, restritas a
algumas escolas. Neste ponto da história, é possível perceber um racha entre o mundo
erudito da emergente burguesia intelectualizada e o mundo do saber técnico.
A Inglaterra vivia a Pax Britannica, período de paz e prosperidade para os ingleses sob a
regência da rainha Vitória. A Era Vitoriana, de 1837 a 1901, foi um tempo de riqueza e
tranquilidade para a Inglaterra, o que permitiu que uma grande e educada classe média se
desenvolvesse. Nas artes, isso se refletiu em um período de profundo r omantismo na
Inglaterra, onde pairava uma constante referência ao gótico, exaltado como estilo ideal. A
estética medieval e os assuntos idílicos dominavam o imaginário britânico na literatura e
nas artes, de maneira geral. Imerso nesta atmosfera, acrescido da influência dos heroicos
mitos medievais, o artista passa a tomar para si a missão de educar o gosto da plebe. As
elites acreditam ter o domínio do bom gosto e, consequentemente, o dever de disseminá-lo
como exemplo da verdadeira beleza, tomando para si a responsabilidade de educação
estética.
escolas de design, neste mesmo período, vêm confirmar este desejo. Elas formam os
profissionais necessários à prática projetual, capazes de projetar para uma ou qualquer
área, mas, sem dominar, efetivamente, os meios de produção técnica. Estes ficavam
delegados à máquina, à fábrica, pois este era o seu papel.
O mesmo ocorreu com a arquitetura, uma vez que se viu de frente a novas possibilidades
de fabrico e construção. O exemplo comumente apontado para este efeito da revolução da
indústria na arquitetura é a construção do Palácio de Cristal, para a Grande Exposição de
1851 (Great Exhibition of the Works of Industry of all Nations). Foi a primeira construção no
mundo onde a forma é a estrutura. A estrutura é um elemento estético que exalta a
capacidade da indústria. O Palácio é uma fabricação industrial.
Segundo os ideais românticos do Arts and Crafts, belas artes e artes aplicadas deveriam
fundir-se, abolindo qualquer distinção entre elas. E esta união das artes se dava na medida
em que artistas e artesãos se organizavam em torno do projeto e confecção do produto,
reunindo diferentes habilidades e, em alguns casos, até mesmo vivendo em conjunto em
casas nas zonas rurais, que reuniam o sentido de casa e o sentido de trabalho num mesmo
espaço, lembrando o início da estrutura manufatureira no campo. A ideia de reforma do
design implicava na produção de um bom produto, que trouxesse os ideais de simplicidade
e de verdade dos materiais em sua forma e essência. Como reação que era à modernidade
trazida pela revolução na indústria, o Arts & Crafs atrelava-se ao passado: tanto no que
tange às memórias quanto no que tange às formas de produção, reaproximando o homem
da natureza e do fazer artesanal. Entretanto, a ambiguidade não lhe escapa, uma vez que é
gerado dentro de um sistema de mercado e da lógica industrial, ou considerando que seus
mentores, mesmo que orientados por pensamentos socialistas, também eram, em origem,
aristocratas defensores dos ideais românticos, o que os conduzia a projetos refinados,
elaborados e nada populares, mas, justificados pela necessidade de educar o gosto público.
O Arts and Crafts promove a estetização da vida. Busca representar a beleza da vida no
campo em oposição à frieza industrial. Inspirado pelas cores e padrões orientais, cria um
estilo que ecoou por diferentes partes do mundo. A partir da virada do século, será
absorvido no Japão, influenciando profundamente as novas artes decorativas japonesas.
Na França, principalmente, o Arts and Crafts floresce com o movimento Art Noveau,
mantendo o princípio de união do saber artesanal e as possibilidades trazidas pela
indústria, além da temática comum, bucólica, floral. E, ainda, nas duas primeiras décadas
do século XX, se percebe uma certa continuidade entre a filosofia Arts and Crafts e a
Bauhaus. O grupo de Walter Gropius também tinha por princípio o ensino e a prática do
Assim, na figura de Morris e no movimento Arts and Crafts, vemos o momento onde a elite
toma para si o papel de formação do gosto e dos costumes, retomando o artesanal como
reação à produção industrial, e valorizando a arte como garantia da verdade do objeto. As
artes se associam contra a indústria, porém, sendo assimilada por ela como contraponto
necessário, uma vez que estipulava altos padrões estéticos e altos custos de produção e
venda, gerando capital simbólico e cultural para seus produtos, orientando o gosto, o
costume e o consumo.
4 — Londres-São Paulo
A Revolução Industrial ocorrida na Europa gerou, no território onde ela foi mais
fortemente concentrada, a Inglaterra, um movimento de reação que buscava resgatar
valores considerados essenciais ao bem viver e ao bem estar daquela nação. Este
movimento foi o Arts a nd Crafts e marcou o design na fase inicial de sua constituição
profissional. E, ao agir de forma a manter aberta a veia da produção artesanal, deu a ela
sua nova identidade, perante a ameaça da indústria. A partir deste momento, ao menos no
mundo ocidental, a chegada da indústria, na medida em que se legitima por seu potencial
de produção, confere ao artesanal o discurso da verdade dos materiais, da verdade do
artesão, da beleza, da unicidade, da imperfeição humana, redefinindo-o e requalificando-o.
O Arts and Crafts alcançou outros territórios, tendo forte influência nos Estados Unidos,
Japão, França e na Escandinávia, por exemplo, i nfluenciando as futuras gerações de
artistas e designers que ali se formavam e que viriam a compor o modernismo. Mas, não
chegou a ecoar no Brasil. A esta altura, em fins do século XIX, nosso processo de
industrialização ainda não havia sequer começado, portanto, não havia indústria contra a
qual se posicionar. Devido às conjunturas de nossa formação, aqui, historicamente,
valoriza-se o intelecto em detrimento ao ofício técnico, ao trabalho, pensamento que não
nos permitiu desenvolver nosso artesanato. Pela nossa configuração histórica de colônia,
estamos sempre, por assim dizer, um passo atrás no percurso que perseguimos, mirando a
metrópole como modelo ideal de civilização.
O movimento modernista brasileiro, em sua primeira fase, no início do século XX, nasce no
seio da intelectualidade burguesa de São Paulo e propõe uma arte que mostrasse ao
público o redescobrimento do Brasil da perspectiva do interior, rural, sertanejo, com a
verdade de suas pessoas e de sua natureza, para um melhor entendimento de si mesmo e
de sua origem.
A busca pela pureza e verdade do Brasil rural encontrou terreno fértil entre muitos
intelectuais e artistas brasileiros que, por essa altura, tanto já haviam estado em contato
com os movimentos europeus quanto também desenvolviam por aqui pesquisas sobre o
folclore desde o final do século XIX, como foi o caso de Silvio Romero, nosso primeiro
grande folclorista. Nos anos 20, as pesquisas de Mário de Andrade também o
encaminhavam nesta direção, estudando a cultura popular brasileira e suas relações com o
erudito, como parte do grande projeto antropofágico de “devorar” o Brasil e assim ser
capaz de compreendê-lo. Era um momento de ruptura com os antigos modelos que tinham
os olhos voltados, exclusivamente, pra fora. O modernismo queria olhar para o Brasil e
construir uma arte capaz de expressar sua essência.
Colocando-se como “o turista aprendiz”, realizou uma série de viagens pelo país,
catalogando manifestações da cultura popular, especialmente na música e na literatura
oral. Dessa maneira, empreendeu pesquisas que geraram documentos e que influenciaram
sua arte, aproximando popular e erudito, obtendo, finalmente, o que Silvio Romero e seus
seguidores tentaram por anos. O Brasil estava mudando, assim como todo o mundo, em
função do passo dado na Europa. A industrialização era um caminho sem volta. Como
prosseguir sem antes conhecer o que se tem? O homem urbano visitava ao sertão, para
compreender a si mesmo.
O interesse dos modernistas dos anos 20 pelo folclore brasileiro despertou questões que,
até então, eram alvo de pouca preocupação. Foi a primeira vez que a elite brasileira voltou
seus olhos para o povo em busca de conhecê-lo culturalmente. Não fazia mais sentido,
naquele momento, a mera reprodução dos valores e estéticas importados da Europa.
Todos estavam construindo suas identidades no Velho Mundo e nós, modernos que
éramos, não poderíamos agir de forma diferente.
Seria ainda um longo caminho até que a cultura popular fosse reconhecida pelas classes
dominantes, entretanto, abria-se um precedente e o folclore chegava aos salões. E Mário de
Andrade foi personagem fundamental para que esta mudança começasse a acontecer.
Provavelmente movido por sua paixão pelo folclore e inclinações socialistas, ele traz à tona
questões primordiais à essência brasileira como a oposição entre “atraso” e “progresso”, a
“civilização” e o “sertão”, o interior, e as identidades e relações sociais regidas pela lógica
racial do branco, do negro, do mestiço.
Assim, Mário de Andrade, que definia sua relação com o folclore como “quase amor”, dava
conta de questões próprias suas, de cunho até mesmo psicológico, na medida em que
incluía a cultura popular na cultura erudita elementos, termos, personagens, sons, jeitos
populares. E constrói uma obra grandiosa capaz de dar cara nova ao Brasil. A partir dele,
os estudos sobre folclore começam a ser considerados pela sociedade brasileira como
campo de saber original e capaz de dialogar muito bem com as linguagens eruditas. Essa
passa a ser uma saída para o Brasil, enquanto identidade nacional. Vemos nos anos 1940,
um desdobramento mais significativo deste processo de revisão da cultura popular pelas
vias da intelectualidade e da governança: o interesse das ciências sociais sobre o tema e as
políticas de Getúlio Vargas, que permitiram, por exemplo, a criação da Comissão Nacional
de Folclore em 1947.
Baseando-se nas evidências de que o Brasil não construiu, ao longo de sua formação,
estruturas manufatureiras e associações artesanais à altura do aprimoramento técnico
europeu, Lina Bo Bardi aponta que temos um pré-artesanato, apenas. Arquiteta italiana,
apaixonada pelo Brasil, enxergava na cultura popular as únicas bases ideológicas sobre as
quais o design e a arquitetura nacionais poderiam se desenvolver. Fundamentada em sua
ideologia socialista, Lina Bo Bardi acreditava na verdade contida na vida popular.
Rejeitava, inclusive, o termo folclore, assim como qualquer iniciativa potencialmente
romântica de lidar com a cultura popular. Concentrou sua atenção no nordeste brasileiro,
aprendendo com ele o fazer popular tal qual havia se constituído neste território.
Praticava, assim como Mário de Andrade, a associação entre popular e erudito,
Com Lina, o campo de design ganha uma oportunidade de reflexão, uma vez que estava
sendo instituído o ensino da profissão no Brasil e o processo de industrialização se
apresentava de forma imperativa. Era o momento de questionar quais rumos tomaríamos
e como nos definiríamos no contexto da produção industrial, da replicabilidade, da
máquina.
Mais tarde, contaríamos com Aloísio Magalhães como a voz do design brasileiro nas
relações que se estabeleciam entre arte, artesanato, indústria e identidade no Brasil. Ele
também um erudito que buscou na cultura popular a fundamentação de sua atuação
política, defendendo a identidade nacional frente à massificação cultural.
5 — Considerações Finais
O que procuramos aqui foi proceder a uma aproximação entre os ideais que nortearam o
Arts and Crafts e aqueles que germinaram, em terras brasileiras, movimentos modernistas
que optam pela estética da vida do povo do interior do país para que, através dela se
conhecesse a verdade, fazendo frente à massificação da indústria. Assim, todos os
personagens envolvidos nestes episódios desenvolvem este caminho dentro de seu campo
de saber, eruditos que são.
A elite, através de seu corpo intelectual, permeia a cultura popular como forma de
alimentar-se daquilo que, de alguma forma, é percebido como mais autêntico, humano,
vivo, original. As tendências românticas e socialistas percebidas nas trajetórias de Morris,
Mário de Andrade e Lina Bo Bardi os aproximam em termos de identidade e papéis sociais.
Suas práticas também os aproximam, já que se conectam ao fazer popular, artesanal ou
pré-artesanal, como forma de substanciar suas ideologias.
Iniciativas desta natureza, mesmo que possuam certa carga de ingenuidade romântica, são
fundamentais às discussões pertinentes ao design, pois garantem que a relação com a
indústria seja constantemente questionada. Isso não apenas protege, até certo ponto, as
identidades culturais que precedem e que sobrevivem à margem da industrialização, como
também promove o bem-estar social, aumenta a capacidade de inserção econômica e
altera o padrão de produção. O saber artesanal revisitado e revisto revela seu potencial de
produto, conferindo valor simbólico por traduzir em forma e/ou conteúdo um
determinado ethos.
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