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O Jardim

Bruno passava o aspirador na casa enquanto escutava as músicas do mais novo grupo, 'Urso e
as Baratas’, quando de repente se lembrou de que precisava buscar sua bicicleta, a qual
emprestou ao irmão viciado em pirulitos de abacaxi.

Quando foi afastar o sofá da parede para limpar por baixo, notou que havia uma tábua meio
solta em meio às outras. Bruno que sempre foi uma pessoa muito curiosa, resolveu olhar o que
era, talvez encontrasse algo escondido ali.

Assustou-se quando puxou a tábua e o chão começou a tremer, aparentemente aquilo era
uma alavanca. Foi quando finalmente conseguiu acalmar o coração acelerado que percebeu
um estranho buraco do outro lado da sala. Aproximou-se cuidadosamente e notou que havia
uma escada que parecia infinita, sem nenhuma iluminação.

Bruno não era idiota, então pegou seu celular, ligou a lanterna e entrou. Foi descendo,
descendo, e descendo. A escada não acabava nunca!

Finalmente chegou ao fim e ficou impressionado com o que encontrou. Era um lindo jardim de
inverno, com as flores mais brilhantes que já teve o prazer de ver. Foi aproximando-se, como
se atraído por um ímã. E quando tocou a ponta do dedo no dente-de-leão mais próximo,
sentiu como se todo o seu mundo estivesse sendo chacoalhado...E acordou.

Bruno se sentia atordoado, aquele sonho parecia tão real! Mas como já era acostado a ter
sonhos malucos, deixou o assunto de lado. Porém, o que não percebeu, foi o pequeno dente-
de-leão deitado ao lado de seu travesseiro.

Nos próximos dias, cada vez mais coisas estranhas aconteciam ao seu redor. Começou com
algo simples, visto pelo canto dos olhos, coisas facilmente descartadas como truques de luz.
Entretanto, quando Bruno começou a ver um papagaio em todos os lugares em que estava,
isso o assustou como nunca antes.

Pensou que poderia estar ficando louco, o que não seria tão improvável quanto alguns podem
pensar, sua tia-avó, por exemplo, morreu pensando que era um tubarão. Um dia ela foi
deixada sem supervisão por dois minutos e sumiu, só sendo encontrada várias horas depois, já
morta, aparentemente ela se jogou no mar e morreu afogada.

Mas voltando ao problema em mãos, Bruno realmente pensa que está enlouquecendo. A
Questão nem era mais ver o papagaio em todos os liga, o infortúnio era que a coisa começou a
chamar seu nome! Sempre nos momentos mais inconvenientes, ou quando finalmente
conseguiu um minuto de paz.

Enfim, cansado de ser atormentado por passarinho, resolveu acabar com aquilo de uma vez.
Então quando chegou em casa naquela noite, não perdeu tempo e arrastou o sofá da parede.
Sem dúvidas, lá estava a maldita tábua.

Puxou e o chão estava tremendo. Quando se acalmou, olhou para trás e, lá estava ela, a
escada que parecia não ter fim. Vendo que era real e que não estava realmente
enlouquecendo, foi buscar uma bolsa e a encheu de lanches e água, no caminho lembrou-se
de pegar uma lanterna e algumas pilhas, apenas no caso. Tomando uma respiração profunda,
Bruno pisou no primeiro degrau.

Depois do que pareceram horas, Bruno finalmente chegou à porta do jardim, hesitando por
alguns segundos antes de empurrar, abrindo-a, e mais uma vez se encontrar no jardim. Desta
vez reparando em coisas que não teve tempo de perceber da última vez. Como o estreito
caminho de pedras que levava direto para a entrada do que parecia ser um pequeno labirinto.

Ao começar a caminhar para dentro do labirinto, percebeu que algumas pedras do chão
pareciam diferentes e se iluminavam quase que imperceptivelmente à medida que avançava.
Sem nenhuma outra ideia do que fazer, Bruno seguiu as pedras, se sentindo a própria Mérida
da Disney.

Ao chegar ao centro do labirinto, encontrou uma grande estátua de um magnífico Grifo, que
parecia se elevar diante dele, passando uma aura de autoridade, mesmo não estando vivo. Tão
impressionado quanto estava, Bruno sem perceber deu um passo mais perto, fazendo com
que os olhos do Grifo se iluminassem, criando um holograma de uma senhora muito bonita,
com expressão suave, porém passava a impressão de alguém muito sábio e que devia ser
escutada.

— Bem vindo, enviado do Destino. — Disse a Senhora. — Há séculos espero por sua chegada, o
único que conseguiu passar por meus desafios e não enlouqueceu. Vejo em você honra e
dignidade, força e humildade. Esses são os atributos para receber os meus DONS.

— Isso é tudo legal, bacana, mas quem é você?! — Bruno respondeu assustado.

—Como assim, quem sou eu?! Ninguém te contou? — Exclamou indignada. — Eu sou a grande
Brígida, deusa da sabedoria e magia, concedo meus dons aos poucos escolhidos para que
possam defender este mundo de forças escuras.

— Forças escuras!? Como em demônios e monstros?! Porque se for, eu tô fora.

— Você não pode desistir sem tentar, jovem! — repreendeu — Sem contar que, agora que
conhece a verdade, eles virão atrás de você.

A deusa parecia culpada por Bruno não ter outra escolha a não ser aceitar, mas estava
determinada a salvar este mundo, mesmo que fosse contra seus princípios de liberdade de
escolha.

Bruno, por outro lado, estava indignado, mas no fundo de seu âmago sabia que esse era seu
destino, e resolveu aceitar a responsabilidade.

— Muito bem, já que é assim, eu aceito! Prefiro estar preparado e saber defender a mim e
aqueles com quem me importo. — Bruno responde decidido — Mas fique sabendo que eu não
gosto disso! — acusou.

Dando um sorriso de soslaio, a deusa esticou suas mãos e fez sinal para Bruno se aproximar.

— Aproxime – se da estátua, jovem.

Bruno se aproximou e a deusa começou a recitar o que parecia ser um feitiço

“Pelas bênçãos do Destino e pelo poder concedido a mim, …


Bruno não entendeu o resto, pois entrou em transe e seu corpo começou a formigar, era um
poder fora do normal.

Depois do que poderiam ser horas ou dias, ele despertou, se sentindo mais leve do que nunca,
e com uma vontade incomparável de correr, quicar pelas paredes, tão grande era o poder
agora em suas mãos

— Muito bem, criança, — disse a deusa carinhosamente — mas você ainda não está pronto.
Primeiro você deve aprender a controlar seus novos poderes, e estudar a história de nosso
conflito com os Escuros. Embaixo da pata direita do Grifo, você encontrará um livro contendo
tudo o que precisar.

Bruno encarou o livro enquanto ela falava, mas assim que ela terminou, ele se virou e a deusa
havia sumido. Ele sentia que aquele seria o começo de uma nova etapa em sua vida, que até
então era pacata até demais. Sabia que novos desafios o aguardavam, e que não seria nada
fácil.

Pegou então o livro e uma corrente de energia passou por seu corpo.

— É, esse realmente é meu destino. Mal posso esperar o que está por vir!

Bruno saiu do jardim com seu coração batendo forte e sua mente com mil pensamentos, mas
nenhum deles de desânimo. Ele sabia que seria para um bem muito maior. Salvar o mundo.

FIM. Ou só o começo.

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