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Sebenta Bases Biológicas do Comportamento

FPCEUC 2014/2015

BASES BIOLÓGICAS DO COMPORTAMENTO


BIOLOGIA
Existem dois tipos de células:
o Células Procariotas
 Não têm núcleo
 São representadas pelas bactérias
 Estruturalmente mais simples que as células eucarióticas
o Células Eucarióticas
 Têm núcleo e vários organelos
 Cada organelo tem a sua função
 Organelos da Célula:
1. Membrana Plasmática
- Capaz de isolar proteínas e ácidos nucleicos do meio exterior.
- Tem permeabilidade seletiva, tendo duas regiões distintas: uma polar – carregada eletricamente – e outra apolar –
não apresenta nenhuma carga elétrica
- Seleciona o que entra e o que sai e ajuda a manter o formato celular
- Delimita o espaço ocupado pelos constituintes da célula
- Função: transporte membranar
2. Núcleo
- Delimitado por um sistema membranar – invólucro nuclear (membrana nuclear)
- É onde se encontra o património genético da célula, sob forma de moléculas de DNA
- É o administrador da célula, tudo o que ocorra numa célula tem como origem gerada no núcleo
- Função: divisão celular
3. Ribossomas
- Função: a síntese proteica pela união de aminoácidos, processo controlado pelo DNA; o RNA descreve a
sequência dos aminoácidos da proteína; realizam esta função estrando presos à membrana do retículo
endoplasmática
- Denominam-se de polissomas quando estes estão no hialoplasma, unidos pelo RNAm
4. Retículo Endoplasmático – actua como transportador e armazenador de substâncias
- Rugoso – parte das cisternas estão revestidas por ribossomas. É responsável pela produção, as quais são
transportadas para o Complexo de Golgi
- Liso – não se associa a ribossomas. É onde há produção de lípidos.
5. Complexo de Golgi
- Estruturas membranosas e achatadas
- Deste complexo destacam-se vesículas que acabam por se fundir com a membrana plasmática num processo
denominado exocitose
- Função: elaborar e armazenar proteínas vindas do retúculo endoplasmático
- Podem eliminar substâncias produzidas pela célula (ex: enzima)
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- Produzem os lisossomas
6. Lisossomas
- “Sacos” com suco digestivo celular
- Realiza a digestão intracelular
- Distribuição de componentes celulares. Autofagia – os organelos que atingiram o limite do seu tempo de vida ou
que deixaram de ser necessários à célula, são incorporados em vesículas que se fundem com os lisossomas.
- Participam na degradação de microrganismos ou partículas nocivas à célula através do mecanismo de fagocitose
– os corpos reconhecidos como estranhos são destruídos pela célula
7. Mitocôndrias
- Fornecem à célula energia necessária para todas as reacções de metabolismo. Possui duas membranas, interna e
externa, que delimitam dois compartimentos, o espaço intramembranar e a matriz mitocondrial
- É onde se realiza o processo de extração de energia dos alimentos (respiração celular) que é armazenada em
moléculas de ATP; é o ATP que fornece energia necessária, para as reações químicas celulares
- Possuem DNA, RNA e ribossomas próprios, tendo capacidade de automultiplicar-se. Quanto maior a actividade
da célula, maior será a quantidade de mitocôndrias no seu interior
8. Peroxissomas
- Função: proteger a célula contra altas concentrações de oxigénio, que poderiam destruir moléculas importantes
da célula
- Convertem gordura em glicose, para ser usada na produção de energia
9. Citoesqueleto
- Responsável pela plasticidade, flexibilidade e motilidade da célula eucariótica. Desempenha o papel de osso e
músculo da célula

Membrana
celular/plasmática

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Membranas Biológicas
- São todas as membranas das células: nuclear, plasmática/celular
- Definem compartimentos
- Determinam a comunicação entre o lado interno com o lado externo da célula (controle da passagem de iões e outras
moléculas)

Tipos de Transporte Membranar:


o Passivo – o processo executa-se de forma passiva, não havendo gasto de energia celular, no entanto a membrana atua com
alguma seletividade, não passando qualquer tipo de moléculas. O transporte passivo é sempre feito a favor do gradiente de
concentração – do meio mais concentrado para o meio menos concentrado. O fluxo de partículas é espontâneo, pois não
apresenta carácter selectivo, permitindo a livre passagem de substância. Exemplos de transporte passivo:
 Difusão simples – é o transporte de um soluto através da membrana a fim de alcançarem a mesma concentração
 Difusão facilitada – é o transporte de um soluto em que as substâncias atravessam a membrana com o auxílio de
proteínas transportadoras
o Activo – é um processo que consome energia e se efetua contra o gradiente de concentração., ou seja, as moléculas fluem da
região menos concentrada para a mais concentrada

Endocitose – entrada de substâncias do exterior para o interior da célula


o Pinocitose – engolamento do líquido pela célula
o Fagocitose – é o engolamento de partículas solidas pela célula

Exocitose – saída de substâncias do interior para o exterior da célula

PRINCIPAIS MOLÉCULAS
Lípidos
o Conhecido por gorduras
o Substâncias apolares (nenhuma carga elétrica), insolúveis na água
o Funções: reserva de energia, combustível celular, isolamento e proteção de órgãos, componente estrutural das membranas
biológicas
o Podem ser lípidos complexos – apresentam ácidos gordos – e lípidos simples – não apresentam ácidos gordos

Glúcidos (constituído por carbono, hidrogénio e oxigénio)


o Conhecidos por glícidos, açucares ou hidratos de carbono
o Funções: fonte de energia, reserva de energia, fornece energia à célula
o São substâncias polares (com carga elétrica)
o São as biomoléculas mais abundantes da natureza

Proteínas (constituídos por aminoácidos)


o As mais complexas moléculas biológicas e com um importante papel na célula
o Funções: transporte, crescimento, defesa, catálise de reações
o São formadas durante o processo de síntese de proteínas (tradução) nos ribossomas
o Podem apresentar estrutura primária, secundária, terciária ou quarternária

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Ácidos Nucleicos
o Estão nos núcleos das células, mas também fora delas
o Desempenham funções informativas: transmitem toda a informação genética, controlam o fluxo de informação genética de
uma geração para a outra, através de células sexuais
o Há 2 tipos de ácidos nucleicos:
 DNA
- O mais complexo e também o mais importante
- É o suporte universal da informação genética
- É a única molécula conhecida que se pode replicar directamente e para codificar proteínas.
- Para haver continuidade da vida tem de ocorrer duplicação do material genético, sendo por isso a molécula da
hereditariedade
- Tem 4 nucleótidos diferentes – A (adenina), T (timina), G (guanina) e C (citosina)
- As ligações entre A e T são mais fracas que as ligações entre C e G, devido às pontes de hidrogénio, por isso,
fragmentos com uma maior quantidade de ligações G–C são mais estáveis do que os fragmentos onde predominam
as ligações A–T.
- Um gene é um segmento de DNA e tem uma sequência nucleótida própria que contém determinada informação
- A ordem dos nucleótidos num gene possui um determinado significado e é a sequência de nucleótidos que
transporta a mensagem genética
- O número de nucleótidos, a sua natureza e sequência diferem de gene para gene, podendo falar-se em
universalidade e variabilidade da molécula de DNA.
- É formado por duas cadeias dos 4 nucleótidos enroladas em hélice.
 RNA
- As moléculas de RNA são mais pequenas que as de DNA, sendo então compostas apenas por uma hélice que vai ser
transcrita
- Têm na mesma 4 nucleótidos, mas em vez de T é U (uracilo) que vai ligar a A
- A sequência de base (nucleótidos) de DNA servem de molde para a síntese de RNA (transcrição)
- Existem 3 tipos de RNA:
1. RNAm – o RNA mensageiro é transcrito do DNA e é portador da mensagem genética. A ordem dos seus codões
assegura a sequência de aminoácidos para a síntese de uma proteína (tradução). As proteínas sintetizadas são o
produto final dos genes.
2. RNAr – o RNA ribossómico é também transcrito do DNA e desempenha o papel de transportador das moléculas
unitárias. Participa na constituição de ribossomas.
3. RNAt – O RNA de transferência assegura a correspondência entre os codões e os aminoácidos.
Enzimas
o São proteínas que aceleram a velocidade das transformações bioquímicas de modo determinante
o São unidades funcionais do metabolismo celular

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REPLICAÇÃO DO DNA
É o modo como a molécula da hereditariedade se duplica antes da divisão celular, sendo portanto a duplicação do genoma 1. As
células antes de se dividirem, duplicam o seu DNA, assegurando a conservação e a transmissão do património genético ao longo
das gerações.

Informação/Herança genética: conjunto de características transmitidas pelos progenitores aos seus descendentes.

Molécula de DNA: constituída por uma dupla hélice antiparalela, estando as duas cadeias ligadas entre si por pontes de
hidrogénio. O emparelhamento fazia-se sempre entre uma base purina e uma pirimidina, de tal modo que A emparelha sempre
com T e G com C. A sequência de base de uma cadeia pode ser sempre deduzida a partir da sequência complementar.

Mecanismo de replicação semi-conservativa: cada uma das duas cadeias da molécula de DNA parental seria utilizada como
modelo para a síntese de uma nova cadeia, dando assim origem à formação de uma hélice dupla idêntica à parental em cada
célula filha.

A replicação tem origem numa zona denominada origem de replicação e cada região do DNA replicada a partir de uma mesma
origem forma um replicação. Pelo menos, 1000 origens de replicação. Com a atuação da enzima helicase, a cadeia de dupla-
hélice divide-se, sendo que o ponto em que esta enzima actua se denomina de Forquilha de Replicação. Após este ponto, cada
uma das cadeias tem de ser complementada com A, T, C e G de forma a completar as cadeias. Desta forma passa-se de 2 cadeias
para 4.

Cadeia antiga do DNA

Replicação

Cadeia nova do DNA

A replicação tem 3 características básicas para a origem da replicação:


o São constituídas por múltiplas sequências repetitivas
o Estas unidades repetitivas são reconhecidas por complexos multiproteicos que, por sua vez, estão envolvidos no
recrutamento da maquinaria de replicação da célula para a zona de origem da replicação
o A origem de replicação é, em geral, flanqueada por sequências ricas em adeninas e timinas, o que deverá facilitar o
desenrolar da separação das duas cadeias que integram a molécula de DNA

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Genoma – Totalidade do complemento genético dum organismo presente numa célula com núcleo. O genoma humano é composto pelo
genoma nuclear (23 pares de cromossomas presentes no zigoto) e pelo genoma mitocondrial (mitocôndrias do ovo, sendo este genoma de origem
materna pois apenas o óvulo é que tem mitocôndrias  este DNA sofre mutações ao longo da vida, principalmente deleções e mutações
pontuais, associadas ao envelhecimento e a alterações degenerativas).

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DNA polimerase:
o Capaz de catalisar in vitro a reação de incorporação de nucleótidos numa cadeia de DNA, utilizando a sua cadeia
complementar como modelo.
o Todas sintetizam o DNA no sentido 5’ – 3’. E existem dois tipos de replicação:
 Contínua – na cadeia avançada na qual o sentido de replicação 5’ – 3’ coincide com a direcção de crescimento da
cadeia filha sintetizada de novo.
 Descontínua – na cadeia atrasada em que o sentido 5’ – 3’ é contrário à direcção de crescimento da cadeia filha em
formação.
o Nenhuma é capaz de iniciar a síntese de novo de uma cadeia de DNA

Do DNA à Proteína – TRANSCRIÇÃO e TRADUÇÃO


A transcrição dá-se em três fases:
o Iniciação – reconhecimento do sítio do DNA genómico que irá ser copiado em RNA, e condensação dos primeiros
nucleótidos constituintes da extremidade 5’ do RNA nascente.
o Elongação – polimerização orientada dos nucleótidos, reflectindo a sequência do DNA molde, e obedece à regra da
complementaridade de bases (T – A; A – U; G – C; C – G).
o Terminação – interrupção seletiva do processo de transcrição da cadeia molde do DNA, delimitada pelo último nucleótido
de cada gene activo, que corresponde, portanto, à extremidade 3’ da cadeia de RNA transcrito.

Transcrição – a informação contida no DNA


é transcrita/copiada para o RNA mensageiro.
Este sai do núcleo até ao ribossoma, onde se
dá o próximo passo – tradução. É então o
processo pelo qual a célula sintetiza RNA
a partir do modelo proporcionado pelo DNA

ribossoma
Tradução – a informação contida nas
moléculas de RNAm é traduzida em RNAr
proteína
sequência de aminoácidos (proteína). Ou
seja, a síntese de uma proteína a partir da
aminoácido
sequência de RNAm

A célula utiliza moléculas de RNA formadas no núcleo que migram para o citoplasma, transportando a mensagem que estava
contida num gene. Esse RNA funciona como mensageiro – RNAm – entre o DNA e os ribossomas, estes fazem a leitura da
mensagem para a síntese de proteínas. Os ribossomas podem encontrar-se livres no citoplasma ou estar associados a membranas
do retículo endoplasmático.

Ribossoma – é constituído por 2 subunidades de tamanhos diferentes em cuja constituição entram proteínas e um tipo de RNA,
chamado de RNA ribossómico – RNAr. É nos ribossomas que é lida a mensagem contida no RNAm.

Splicing – processo que remove os intrões depois da transcrição do RNA para formar RNAm. Pode ser splicing alternativo
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quando do mesmo RNA se podem fazer combinações de vários exões originando RNAm que codificam diferentes polipeptídeos.

CROMOSSOMAS
Veículos de informação genética. Estruturas com aparência linear que comportam os
genes. Formados por dois braços, um pequeno (p) e um longo (q), ligados pelo
centrómero (parte que une as cromátides e que divide o cromossoma nos braços).As suas telómero
extremidades chamam-se telómeros. Pela localização do centrómero podem-se s
denominar como metacêntricos – quando o centrómero se localiza no meio do
cromossoma –, submetacêntricos – quando o centrómero se encontra a meio do
cromossoma – ou acrocêntricos – quando o centrómero se localiza perto das extremidades. Podem ser autossomas (do par 1 ao
par 22) ou heterossomas (cromossomas sexuais X e Y). Cada banda do cromossoma tem grupos de genes, dispostos linearmente
nos cromossomas e não distribuídos ao acaso.

Cariótipo – organização de cromossomas em grupos. O cariótipo humano é


formado por 46 cromossomas agrupados em 23 pares, 22 pares de autossomas e 1
par de heterossomas. O cariótipo é então a indicação do número de cromossomas
e dos cromossomas sexuais e permite registar as aberrações cromossómicas
observadas.

Estudo do cariótipo para diagnóstico pré-natal faz-se quando há:


o Idade materna avançada (mais de 35 anos)
o Anomalias na ecografia
o Filho anterior com cromossomopatia
o Pais com alteração cromossómicas
o Ansiedade materna
o Indicação para estudos maternos
o Rastreio bioquímico

Estudo do cariótipo para diagnóstico pós-natal faz-se quando há:


o Crianças com problemas genéticos
o Amenorreia
o Infertilidade (não conseguir engravidar ou ter feito 3 abortos consecutivos)
o Casais com resultados inesperados no diagnóstico pré-natal
o Adulto com atraso mental
o Familiares com alterações cromossómicas estruturais
o Filhos anteriores com malformações
o Familiares com atraso mental que não foram estudados

CICLO CELULAR
O ciclo celular compreende os processos que ocorrem desde a formação de uma célula até sua própria divisão em duas células
filhas. O ciclo celular tem como principal função copiar e transferir a sua informação genética para a próxima geração de células,
de modo a produzir duas células filhas genéticas/idênticas.

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O estudo da divisão celular estabelece duas etapas no ciclo celular:
o Mitose – onde a célula se divide originando duas células descendentes e é caracterizada pela divisão do núcleo
o Citocinese – a divisão do citoplasma
A etapa seguinte, em que a célula não apresenta mudanças morfológicas, é compreendida no espaço entre duas divisões celulares
sucessivas e é denominada de interfase – fase em que a célula duplica o seu DNA e dobra o seu tamanho. A interfase é composta
por 3 fases: G1, S e G2. Na fase G1 são sintetizados os vários componentes celulares (membranas, organelos e ribossomas)
fazendo com que o tamanho da célula duplique. Também se verifica uma síntese de proteínas necessárias para a replicação do
DNA que vai ocorrer na fase seguinte. Na fase S ocorre, então, a replicação do DNA no núcleo da célula. No final da fase S a
quantidade de DNA presente na célula é o dobro do normal, sendo que as duas cópias de cada cromossoma ficam ligadas pelo
centrómero. A fase G2 é denominada pré-mitótica, e nela ocorre a síntese de RNA e de proteínas.

MITOSE
Processo de divisão celular, característico de todas as células que origina duas células-filhas idênticas à célula-mãe. Está na base
da proliferação celular, ou seja, no processo que conduz ao aumento do número de células. É um processo de divisão celular em
que o genoma humano se mantem inalterável ao longo das diferentes gerações pós-mitóticas.
É um processo contínuo que é dividido em 4 fases: prófase, metáfase, anafase e telófase. O desenvolvimento das sucessivas fases
da mitose é dependente dos componentes do aparelho mitótico, que é:
o É composto por centríolos, cromossomas, fusos e astéres
o Cada cromossoma é constituido por 2 cromatídeos, cada um deles contém uma única molécula de DNA
o Os cromatídeos estão ligados entre si através do centrómero, que é uma região do cromossoma que se liga ao fuso mitótico.

Fuso centríolo
mitótico
2 cinetocoros:
- 1 associado à cromatide
- 1 associado ao fuso
mitótico cromatidío centrómero
o

Fases da Mitose
o Prófase – Nesta fase, cada cromossoma é composto por 2 cromatídeos, resultantes da duplicação do DNA.
Estes cromatídios estão unidos pelos filamentos do centrómero. A prófase caracteriza-se pela contração dos
cromossomas, que tornam-se mais curtos e grossos, devido ao processo de enrolamento. Os nucléolos
desorganizam-se e os centríolos, que foram duplicados durante a interfase (fase S), migram um para cada
polo celular. O final da prófase também é denominado por pré-metáfase, sendo a principal característica desta fase o
desmembramento do involucro nuclear em pequenas vesiculas que se espalham pelo citoplasma. No fuso mitótico, os
cromossomas são alinhados num plano equatorial.
o Metáfase – Nesta fase, os cromossomas ocupam o plano equatorial do aparelho mitótico. Os cromossomas
adoptam uma orientação radial, formando a placa equatorial. Os cinetocoros estão voltados para os polos
opostos e ocorre um equilíbrio de forças. Nesta fase os cromossomas ligam-se aos microtúbulos do fuso pelo
centrómero. Esta é a fase mais propícia para realizar o estudo citogenético.

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o Anáfase – Inicia-se quando os centrómeros tornam-se funcionalmente duplos. Com a separação dos
centrómeros, os cromatídios separam-se e iniciam a sua migração em direção aos polos. Os cromossomas
são puxados pelas fibras do fuso e assumem um formato de V ou L, dependendo do tipo de cromossoma.
A anáfase caracteriza-se pela migração polar dos cromossomas. Se ocorrerem anomalias nesta fase o
número de cromossomas característico da espécie humana (46) pode não se verificar nas células-filhas.
o Telófase – Inicia-se quando os cromossomas-filhos alcançam os polos. Os cromossomas
começam-se a desenrolar num processo inverso à prófase. Estes cromossomas agrupam-se em
massas de cromatina e é formado um novo invólucro nuclear. Nesta fase tem lugar a citocinese.

Citocinese – é um processo de clivagem (divisão celular) e separação do citoplasma. A citocinese tem início na anáfase e termina
após a telófase com a formação das células-filhas.

MEIOSE
o Antes da junção do espermatozoide e do óvulo, cada um com 23 cromátides, é necessário reduzir o número de cromatídeos
das células que os vão originar.
o A reprodução sexual envolve a mistura de genomas de 2 indivíduos para produzir 1 individuo.
o A mistura de genomas é realizada pela fusão de células haploides que formam uma célula diplóide.
o Assim, no núcleo da célula diploide contém 2 versões de cada cromossoma autossomo (cromossomas que não estão ligados
ao sexo, ou seja, são todos os cromossomas menos o X e o Y), 1 paterno e 1 materno.
o Enquanto a mitose resulta em células com o mesmo número de cromossomas e ocorre a difusão dessas células, teríamos
como resultado células com o dobro de cromossomas e isso ocorreria em progressão, ou seja, se o homem possui 46
cromossomas, então a fusão resultaria numa célula com 92 cromossomas, o que não é possível. A meiose desenvolve-se para
evitar esta progressão.
o A meiose ocorre nas células produtoras de gâmetas, os gónadas, (os gâmetas masculinos – espermatozoides – e os femininos
– óvulos). Os gâmetas originam-se de células chamadas de espermatogónias e ovogónias. Estas, que são células diploides,
sofrem sucessivas divisões.
o As células-filhas desta célula desenvolvem o ciclo celular, e num determinado momento do ciclo celular, ocorrem alterações
que levam as células a entrar em meiose e darem origem a células haploides, ou seja, células que possuem metade do número
de cromatídios da espécie (23).
o Sendo assim, a meiose é o processo pelo qual o número de cromossomas é reduzido a metade.
o Na meiose, a célula produzida possui apenas metade do número de cromossomas, ou seja, somente 1 cromossoma no lugar
de um par de homólogos (1 cromossoma no lugar de 2 cromossomas).
o A meiose ocorre apenas nas células germinativas masculina e feminina.
o Na meiose verificam-se dois ciclos de divisão do material genético após uma replicação de DNA. A primeira divisão é
reducional porque reduz o número de cromossomas, e a segunda é equacional.
o No fim da primeira divisão as duas células são portadoras de 23 cromossomas, cada um constituído por duas cromátides. Na
segunda divisão ocorre a separação das duas cromátides e a formação de quatro células haplóides.

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46 cromossomas
92 cromatídios

Reduz o nº de
cromossomas

23 cromossomas
46 cromatídios Mantém o nº de
cromossomas

23 cromossomas/cromátides

Fases da Meiose
Interfase – antes do início da Meiose I, as células passam pelo processo de duplicar o seu DNA e o seu tamanho.
o Meiose I – esta é subdividida por 4 fases:
 Prófase I – É de longa duração e muito complexa. Os cromossomas homólogos associam-se formando pares,
ocorrendo permuta de material genético entre eles
 Crossing-over – Troca de material genético entre cromossomas homólogos. Ocorre quando os cromossomas se
juntam originando recombinações de alelos.

 Metáfase I – Há o aparecimento da membrana nuclear. Forma-se o fuso mitótico e os


cromossomas em pares alinham-se num plano equatorial da célula com seus centrómeros
orientados para polos diferentes.
 Anáfase I – Aqui é o contrário da prófase I, em que ocorre o emparelhamento dos cromossomas,
na anáfase I os emparelhamentos são desfeitos. Ocorre a separação dos pares homólogos
duplicados. Cada cromossoma, constituído pelas 2 cromatídeas-irmãs, migra para os polos.
 Telófase I – Nesta fase, os dois conjuntos de haploides de cromossomas, agrupam-se nos polos opostos da célula.
o Meiose II – tem início nas células resultantes da telófase I. Também está dividida em 4 fases, que ocorrem em ambas as
células:
 Prófase II – É bem simplificada, visto que os cromossomas não perdem a sua condensação durante a telófase I. Assim,
depois da formação do fuso mitótico e do desaparecimento da membrana nuclear, as células resultantes entram na fase
seguinte.
 Metáfase II – Os cromossomas subdivididos em cromatídios unidos por um centrómero prendem-se ao fuso mitótico.
 Anáfase II – Após a divisão dos centrómeros, os cromatídios de cada cromossoma migram para os polos opostos.
 Telófase II – Forma-se uma membrana nuclear ao redor de cada conjunto de cromatídeos.

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Consequências na Meiose

Não disjunção Meiose I


da Meiose I normal

Meiose II Meiose II Meiose II


normal normal anormal

Gâmetas nulissómicos Gâmetas dissómicos Gâmetas monossómicos Gâmeta Gâmeta


nulissómico dissómico
Nota – com 3 cromatídeos seriam gâmetas trimossómicos

Gametogénese – é um processo pelo qual os gâmetas são produzidos nos organismos dotados de reprodução sexual. O evento
fundamental da gametogénese é a meiose. A maturação dos gâmetas é acompanhada pela divisão celular da meiose.

Fertilização – é interveniente de duas células diferenciada, os gâmetas, que se unem numa única célula, que se denomina de ovo
ou zigoto.

ANOMALIAS NUMÉRICAS DOS CROMOSSOMAS


O estado normal, que corresponde a 46 cromossomas denomina-se de euploidia. Caso os 46 cromossomas provenham na
totalidade de um dos progenitores passa a chamar-se de diploidia.
Alterações numéricas em que exista um ou mais cromossomas em cada de cromossomas, denomina-se de poliploidia. Podem ser
triploidias (3) ou tetraploidias (4). Estas alterações numéricas são letais precocemente e ocorrem devido à fecundação de um
ovócito por dois espermatozóides ou ovócitos ou espermatozóides diplóides.
Se as alterações numéricas se deverem em apenas a mudança do número de cromossomas num par de cromossomas (ou em
vários, desde que não seja em todos) denominam-se de aneuploidia. Podem ser monossomias – quando apenas um representante
do par de cromossomas está presente –, trissomias – 3 cromossomas em vez de 2 – ou tetrassomias – 4 cromossomas em vez de 2.
Normalmente, é causa de idade materna avançada. O mais provável é o erro acontecer na mulher, pois os óvulos já estão feitos
desde o nascimento, no inicio de vida da mulher, ao contrário do homem, pois os espermatozoides são feitos constantemente e
também porque os espermatozoides anormais têm mais dificuldade a fecundar. As aneuploidias dos autossomas são mais severas
do que as dos cromossomas sexuais. Ocorre por não disjunção meiótica ou mitótica, ou ainda por atraso de migração de um
cromossoma durante a anafase (lagging). Também pode ocorrer aneuploidia de uma parte do cromossoma – aneuploidia parcial
– geralmente associados a reações cromossómicas estruturais.

ANOMALIAS ESTRUTURAIS DOS CROMOSSOMAS


São rearranjos nos cromossomas após uma quebra (esta quebra pode ocorrer a nível do centrómero ou dos braços do
cromossoma).
As quebras estruturais podem ser:
o Equilibrados – quando não há perda nem ganho do material a nível da quantidade ou qualidade
 Inversões (inv) – quando um único cromossoma sofre duas quebras
seguidas de uma rotação do fragmento o que leva a uma alteração na ordem
dos genes no cromossoma. É reconstituído com o segmento, entre as
quebras, invertido. As inversões podem ser pericêntricas e paracêntricas.
Nas paricêntricas as quebras ocorrem no mesmo braço do cromossoma o
que não implica alteração do local do centrómero nem na morfologia do

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cromossoma. Nas pericênctricas (as mais frequentes) as quebras ocorrem uma em cada braço do cromossoma ficando o
centrómero incluído no fragmento mudando assim a morfologia do cromossoma, bem como do centrómero. Geralmente
as inversões não causam um fenótipo anormal nos portadores a não ser que as quebras interfiram com as
sequências de um gene. No entanto, há um risco para a descendência que depende do tipo de inversão. Quanto maior
for a inversão, maior é a probabilidade de recombinação.
 Translocações (t) – quando há trocas e recombinações de segmentos entre cromossomas não homólogos. Normalmente
não implica perda de material cromossómico ou então a perda não afecta o fenótipo. Os pedaços trocados são os
segmentos translocados, o resto do cromossoma é o fragmento com o centrómero. Existem também as
translocações complexas raras que envolvem três ou mais cromossomas. As translocações podem ser:
– Recíprocas – troca recíproca de parte de um cromossoma para outro. Em
geral, apenas dois cromossomas estão envolvidos, e como a troca é recíproca,
o número total de cromossomas fica inalterado. Na translocação recíproca é a
pessoa que tem a doença.
– Robertsonianas – ocorre em cromossomas acrocêntricos, originando um
cromossoma submetracêntrico, normalmente ocorre a perda dos braços curtos
de dois cromossomas e a formação de um cromossoma com os braços longos
dos dois cromossomas originais. Na translocação robertsoiana, a pessoa é
normal, mas é bastante provável que a sua descendência tenha a doença.
 Inserção – tipo não recíproco de translocação. Mecanismo de formação: envolve três quebras, um segmento é
removido de um cromossoma e é inserido num cromossoma diferente na sua
orientação habitual ou invertida. São relativamente raras. Consequências: portador
normal ou uma prole com deleção ou com duplicação do segmento inserido. As duas
combinações desequilibradas dão origem a indivíduos com aneuploidia parcial, ou
seja, com trissomia parcial, ou com uma monossomia parcial (del). O risco de um portador (heterozigótico) ter
um filho normal depende do tamanho do segmento inserido que terá implicações no tamanho da trissomia ou
da del. São muito problemáticas, especialmente quando envolvem segmentos muito pequenos. Maiores riscos
reprodutivos.
o Desequilibrados – quando a quantidade do material é anormal
 Deleções (del) – perda total ou parcial de um fragmento de um cromossoma. O
portador tem um homólogo normal e um incompleto, sendo portanto
hemizigótico para as informações genéticas no segmento correspondente ao
homólogo normal. Isto dá origem a uma monossomia parcial. As deleções
podem ser terminais – quando ocorre apenas uma quebra no cromossoma e se
perde a parte final de um dos braços – ou intersticiais – quando ocorrem duas
quebras e se perde o fragmento localizado no meio dessas quebras. Após uma deleção um pedaço de gene perde-se
porque não tem centrómero onde se agarrar. Consequências: dependem do tamanho do segmento incompleto e
consequentemente do número e das funções dos genes que ele contém. Origem: 1) quebra cromossómica e perda de
segmento acêntrico; 2) crossing-over desigual entre cromossomas homólogos desalinhados; 3)
segregação anormal a partir de uma inversão ou translocação equilibrada.
 Duplicações (dup) – Existência de duas cópias de um segmento de um cromossoma. Isto provoca uma
trissomia parcial. São mais frequentes as de origem materna. Normalmente, produz anomalias
fenotípicas. As duplicações têm consequências menos graves que as delecções parciais

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 Cromossomas em anel (r) – Resulta da fusão das duas extremidades de um cromossoma após a perda
dos segmentos ditais. Formação: 1) um cromossoma sofre duas quebras e as extremidades
reúnem-se numa estrutura circular. Se o centrómero estiver dentro de um anel, os dois
fragmentos distais carentes de centrómero são perdidos. Portanto, o cromossoma em anel está
associado a deleção. 2) Fusão dos telómeros (as pontas dos cromossomas). Os cromossomas em
anel são bastante raros mas foram encontrados em todos os cromossomas dificuldades na mitose.
Pode ocorrer quebra no anel, seguido de fusão, sendo assim gerados anéis maiores e menores.

 Isocromossomas (i) – Quando ocorre uma quebra transversal do centrómero que separa
os dois braços curtos e os dois braços longos originando dois isocromossomas um só
com os braços curtos e outro só com os braços longos. Desta forma o material dos dois
braços tem uma constituição igual, é como se se coloca-se um espelho no lugar do
centrómero. Mecanismos de formação: 1) o mais provável é a divisão errónea através do
centrómero na meiose II, que ocorre transversalmente. 2) Devido à translocação de um
braço de um cromossoma para o seu homólogo pela região do centrómero. Praticamente
todos os casos de isocromossomas adicionais têm origem materna e são devidos à não disjunção na meiose II seguida de
uma falsa divisão centromérica.

 Cromossomas dicêntricos (dic) – são cromossomas com 2 centrómeros que se fundem. Devido a dois centrómeros, os
cromossomas dicêntricos tendem a quebrar-se se os centrómeros forem atraídos para pólos opostos. Esta situação é, de
certo modo, resolvida se um deles for inactivado e, portanto, só um ficar a funcionar.

Mosaicismo: Erro pós-zigótico que surge na presença de células de diferentes constituições. Acontece mais com o
envelhecimento. Pode ser numérico (mais comum) ou estrutural e ocorre na mitose (mais comum) ou na meiose. Pode
ser completo (quando surge no início do desenvolvimento) ou parcial (a meio do desenvolvimento).

46 46

45 47 46 46

45 45 47 47 46 46 45 47

Neomutação – acontece quando nem o pai nem a mãe apresentam a mutação. O problema é do gâmeta. O gâmeta veio mutado.
Neste caso, quando só há uma ocorrência, então o risco de recorrência é baixo.

Mosaicismo gonadal – quando há mais que um filho e ambos são doentes. O problema é do gonada – o que produz o
esperatozoide e ovulo – e não do gâmeta.

Consequências das mutações: A gravidade das consequências das mutações depende das alterações que provocam a nível da
capacidade funcional da proteína que codificam e do impacto dessa função no organismo. As mutações podem ser deletérias,
neutras (o portador não é afectado) ou benéficas (trazem vantagem para o seu portador).

Variante constitucional: Um ovo com mutação vai levar a que todas as células daquele indivíduo sejam portadoras de mutação.

Variante somática: Célula terminal que ganha mutação e não transmite às gerações futuras, pois não afecta as células que
originam as células germinais.

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Natureza das mutações: Podem ser dominantes, recessivas ou dominantes negativas. Nas mutações dominantes há expressão
fenotípica mesmo em heterozigotia, ao passo que nas recessivas apenas ocorre expressão do fenótipo em homozigotia. Nas
mutações dominantes existe um ganho ou aumento de uma função ou uma função tóxica. Nas mutações recessivas existe uma
perda de função ou não funciona. Na dominante negativa 50% da proteína funciona normalmente e 50% é uma proteína mutada.

Diversidade Humana: Deve-se ao efeito aditivo dos genes e das suas mutações, da interacção entre as alterações genéticas
devidas a mutações, da capacidade de adaptação ao meio e da selecção decorrente de doenças. As variações que ocorrem na
diversidade humana podem ser contínuas (associadas a vários genes e à acção do meio ambiente) ou descontínuas (associadas
apenas a um gene).

SISTEMA NERVOSO
O sistema nervoso está dividido em sistema nervoso central (SNC), onde ocorrem as funções superiores, várias funções em
resposta a estímulos externos (cérebro; espinal medula; retina) (eg. aprendizagem e memória) e periférico (SNP) que faz a
ligação do SNC ao membros e órgãos. Este divide-se em SN voluntário/somático motor que faz a coordenação dos movimentos
do corpo e recepção de estímulos externos (consciente), e em SN autónomo que por sua vez se divide em simpático, estimula
acções que necessitam de energia, excitando e activando os órgãos, e permite ao organismo responder a situações de stress
(adrenalina; resposta ao perigo; aumento do ritmo cardíaco) e parassimpático, actua na conservação das energias do corpo e nas
respostas necessárias a períodos de repouso e relaxamento, mantendo o equilíbrio homeostático (acetilcolina; resposta de
relaxamento; diminuição do ritmo cardíaco; estimulação do sistema digestivo e urinário e constrição da pupila).

Neurónios aferentes ou sensoriais: trazem impulsos até ao SNC


Neurónios eferentes ou motores: levam impulsos do SNC

Neurónio – célula tipicamente dotada de prolongamentos, ou processos, dos quais o


axónio, único, propaga os sinais eléctricos para fora do centro da célula, ou pericário,
enquanto as dendrites conduzem os sinais em direcção ao pericário (centro da célula).

Tipos de neurónios:
o Unipolares – são, no mamífero, muito raros.
o Bipolares – possuem uma só dendrite, que se estende em direcção oposta à do axónio. São comuns na retina.
o Multipolares – mais frequentes, as dendrites são múltiplas.

Pericário – parte do neurónio que contém o núcleo, de configuração arredondada ou pirimidal. Denomina-se ainda de corpo
celular ou soma.
Dendrites – prolongamentos relativamente curtos que emergem do pericário sob a forma de troncos primários.

Axónio – prolongamento único que emerge do pericário ou de um tronco dendrítico primário. A sua porção terminal é
constituída por um conjunto de ramificações e, tendo nestas (botões terminais) como ao longo dos axónios (botões de
passagem). Aí se estabelecem contactos sinápticos com espinhas dendríticas, hastes dendríticas ou pericários de outros
neurónios.

Mielina – ao isolar electricamente grande parte do axónio, a mielina permite que a despolarização que ocorre em cada nódulo de
Ranvier se propague a grande velocidade ao nódulo seguinte. Funções: Aumenta a velocidade de condução do sinal; Isola
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electricamente o axónio; Permite uma condução rápida e saltatória através dos nódulos de Ranvier. Existem várias doenças
devido à perda de mielina, por exemplo, esclerose múltipla.

Sinapses – uma característica dos neurónios é o estabelecimento de contactos


célula a célula para a propagação do impulso nervoso. As sinapses químicas
procedem da seguinte forma: oposições de duas membranas de prolongamentos
neuronais, um botão axonal pré-sináptico e uma espinha dendrítica pós-
sináptica. O terminal ou botão pré-sináptico contém vesículas de conteúdo
claro, em que a membrana pós-sináptica apresenta uma densificação do lado
citoplasmático, em que não existe espessamento ou densificação pós-sináptica. As vesículas pré-sinápticas acumulam de encontro
à fenda sináptica e contêm um mediador químico que, quando excretado para a fenda sináptica, vai provocar a despolarização da
membrana pós-sináptica. As sinapses descritas são químicas dada a intervenção de neurotransmissores. Porém, existem também
junções entre membranas neuronais, em que a propagação de célula a célula do potencial de acção não sofre retardamento. Trata-
se de contactos através dos quais a onda de despolarização se propaga livremente, como no axónio, que se denominam sinapses
eléctricas.

Há 2 tipos de potenciais eléctricos essenciais para a transmissão de informações:


o Potencial de membrana de repouso – é a diferença de potencial eléctrico através da membrana celular quando o neurónio
não está a transmitir informação. No seu estado “normal”, o neurónio encontra-se polarizado, ou seja, positivo no lado de
fora e negativo no lado de dentro. Este estado permite ao neurónio responder a estímulos.
o Potencial de acção – é uma onde de descarga electrica que percorre a membrana de uma célula; é um impulso nervoso,
sendo a alteração mais drástica do potencial de repouso; reverte a polaridade da membrana celular do axónio.

Os iões predominantes dos neurónios são o Sódio (Na+) e o Potássio (K+). Os iões deslocam-se através de canais proteicos e
bombas de iões (a bomba mais importante é chamada de bomba sódio–potássio). Em repouso, os canais de sódio encontram-se
fechados. A membrana é praticamente impermeável ao sódio, impedindo a sua difusão a favor do gradiente de concentração.
Como a saída de sódio não é acompanhada pela entrada de potássio na mesma proporção, estabelece-se uma diferença de cargas
electricas entre os meios intracelular e extracelular. No estado de repouso, tem que se manter as diferenças electricas para que o
neurónio seja excitável.

Há 3 fases do potencial de acção: despolarização, repolarização e hiperpolarização.


o Quando o neurónio é estimulado, o potencial muda e ocorre o que chamamos de
despolarização – aumenta a probabilidade do neurónio gerar um sinal electrico
transmissível (fase excitatória). Ao ser estimulado, uma pequena região da
membrana torna-se permeável ao sódio – abertura dos canais de sódio. O sódio
atravessa a membrana para o interior da célula, devido à elevada concentração
deste ião no meio extracelular e à carga electrica negativa do interior da célula que o atrai. O sódio, que estava do lado de
fora da célula, entra e o potássio, que estava do lado de dentro, sai. Esta inversão de cargas vai sendo transmitida ao longo do
axónio, sendo este processo denominado de onde de despolarização.
o Á medida que o potencial de ação avança pelo axónio, as partes percorridas vão
voltando ao normal. Após a onda de despolarização se ter propagado, o interior da
célula torna-se positivo, devido à entrada do sódio. Esta positividade determina a
paragem do fluxo de iões de sódio para o interior, fazendo novamente que a

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membrana seja impermeável ao sódio. Por outro lado, a membrana torna-se ainda mais permeável ao potássio. Isso cria
novamente negatividade no interior da membrana e positividade no exterior, processo chamado de repolarização,
reestabelecendo a polaridade normal da membrana.
o Após a repolarização, a bomba de sódio bombeia novamente os iões de sódio
para o exterior da membrana, criando um deficit extra de cargas positivas no
interior da membrana, que se torna temporariamente mais negativo do que o
normal, este processo chama-se hiperpolarização – este processo é muito
rápido, voltando ao estão de repouso, e serve para que o impulso não volte
para trás.

Moléculas extracelulares sinalizadoras


o Hormonas – são transportadas pela corrente sanguínea
 Testosterona
 Estrogénio
 Progesterona
 Cortisol
 Hormona da tiróide
 Insulina
o Neurotransmissores – têm que ter a capacidade de levar informação à célula; são sinais químicos libertados de terminais
nervosos pré-sinápticos na fenda sináptica
 Acetilcolina
 Glutamato
 Dopamina
 Noradrenalina
 Adrenalina
 Serotonina
 Histamina

GENÉTICA
CONCEITOS BASE
Factor dominante – na presença de dois factores, só um é que se manifesta

Factor recessivo – não se manifesta na presença de um dominante

Alelo – é uma forma alternativa de um gene. São os vários genes (que neste momento, por ainda não ocuparem um locus, se
chamam alelos) que podem ocorrer num mesmo locus de um par de cromossomas homólogos, sendo que um dos alelos é materno
e outro paterno. Estes alelos podem ser diferentes ou iguais. É a cópia da metade de um gene herdado (do pai e da mãe).

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Gene – Unidade de hereditariedade. Sequência da cadeia de nucleótidos capaz de transmitir informação e de a expressão por
codificação. É constituído por dois alelos.

Gene da mãe Gene do pai

metade do gene do pai


metade do gene da mãe
é herdado ao filho
é herdado ao filho
Gene do filho

cópia da metade cópia da metade


do gene da mãe junção das cópias das do gene do pai
metades do gene dos pais

Locus – Determinado local de um cromossoma em que se encontra um gene. Duas posições homólogas de um par de
cromossomas. Cada banda do cromossoma tem 1 gene, ou seja, 2 alelos.

locus 1 gene = 2 alelos

Polialelismo – Possibilidade de ocorrerem diversos genótipos graças às diversas formas alternativas de genes que concorrem para
o mesmo locus.

Genótipo – Combinação de alelos de um determinado locus. É a constituição genética de um indivíduo no que diz respeito aos
alelos de um locus. Pode ser heterozigótico ou homozigótico.

Genótipo constitucional ou germinal – é a informação genética que está presente no ovo/zigoto. Encontra-se em todas as células
do organismo, exepto aquelas que tenham sofrido mutação. Este genótipo é transmitido, de forma hereditária, através dos gâmetas.

Homozigotia – Quando dois alelos idênticos (aa ou AA) ocorrem num determinado locus de um par de cromossomas homólogos.

Heterozigotia – Quando dois alelos diferentes (Aa) ocorrem num determinado locus de um par de cromossomas homólogos.

Hemizigotia – Num par de cromossomas um locus só tem um alelo, ou seja só um dos cromossomas é que tem aquele gene, não
havendo gene correspondente no outro cromossoma. O mais comum é o par de cromossomas XY em que os alelos do
cromossoma X que, no caso das mulheres têm correspondência, se encontram sem correspondência no cromossoma Y. Isto
também pode ocorrer por deleções.

Fenótipo – Expressão de um determinado genótipo. Características físicas, bioquímicas e fisiológicas observadas num indivíduo
resultantes da interação do meio ambiente com os genes.

Fenocópia – Quando um fenótipo mimetiza a expressão de um genótipo por factores ambientais.

Lionização – Quando um dos cromossomas X da mulher é inativado para regular a dosagem génica em comparação com o
homem. Ocorre ao acaso em cada célula e todas as células-filhas vão manter inativas aquele cromossoma. De uma maneira geral,

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a mulher vai ter 50% de células da mãe desativadas e 50% das do pai. Ocorre por volta do 16º dia de vida do embrião e é um
mecanismo de dosagem génica.

Genético – pode ser hereditário ou não

Hereditário – é sempre genético e tem que ser familiar obrigatoriamente

Familiar – não tem que ter uma base genética; algo que se mantém nas famílias, mas não tem que ter uma relação com uma base
genética, pode estar relacionado com os hábitos familiares, causa ambientais

Congénito – é aquilo que nasce connosco

Variante genética somática ou adquirida – informação genética do locus de uma célula somática, diferente do que foi herdado.
Resulta de mutação adquirida. Transmite-se às células-filhas, através da mitose. A grande maioria dos cancros ocorre por
acumulação de várias mutações somáticas numa célula.

Penetrância – Frequência da expressão de um alelo mutado numa população de indivíduos com a doença. Ou seja, em quantos
caso de pessoas com a mutação é que se verificam sintomas. A penetrância pode ser influenciada pela presença de outros
genes e por fatores ambientais. Pode, por isso, variar entre diversas famílias.
o Penetrância completa – em 100% dos casos verificam-se sintomas
o Penetrância incompleta – só em alguns casos é que se verificam sintomas
o Penetrância penetrante – em nenhum caso se verificam sintomas
o Penetrância tardia – reduz a seleção natural conduzindo a um aumento da frequência da doença na população.
o Penetrância precoce – quando conduz à morte antes da puberdade ou inibe ou dificulta a reprodução, reduz a frequência
do alelo mutado na população.

Codão – Sequência de 3 bases consecutivas que codificam para um aminoácido. Existem aminoácidos que são codificados por
mais do que um codão. Existem também “codões stop” que determinam a paragem da síntese.

Grelha de leitura – Ordem dos codões num gene.

Exões – Região génica codificadora. Regiões do gene que são transcritas.

Intrões – Regiões génicas não codificadoras.

Expressividade – é a intensidade que uma mutação se expressa. Diferenças quantitativas na expressão de um gene. A expressão
de uma situação pode ser muito ou pouco acentuada, indo de grave a fruste (quando a expressão é muito discreta e se torna difícil
de distinguir da expressão normal).

Proteoma – todas as proteínas

Genótipo homozigótico para o alelo normal (saudável) – 2 alelos normais; 100% de proteína normal

Genótipo heterozigótico (saudável) – 1 alelo normal e 1 alelo mutado; 50% de proteína normal

Genótipo homozigótico para o alelo mutado (doente) – 2 alelos mutados; 0% de proteína normal

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Enzimas de restrição – São responsáveis por cortar o DNA através do reconhecimento de sequências específicas.

Polimerização – União de moléculas iguais para formar uma só molécula.

1º Lei de Mendel – Durante a meiose os alelos de cada par separam-se recebendo cada gâmeta um dos alelos.

Sujeito sem risco específico – quando 2 pessoas são saudáveis e têm um filho, a probabilidade de ser doente é a mesma que o
resto da população.

POLIMORFISMOS DE DNA
Forma alternativa de um gene com frequência superior a 1% numa população. É uma variação normal e que não afeta o portador,
ou seja, mantém a função do gene, logo não causa doença. Podem ser recursos para a sobrevivência de espécies ou permitir a
adaptação a alterações ambientais. Desta forma, concedem vantagens em determinadas condições ambientais. Podem traduzir-se
em diferenças no comprimento dos cromossomas.

Tipos de poliforfismos:
o RFLP – Erro no local de corte dos fragmentos de DNA por causa da enzima de restrição, o que origina fragmentos de DNA
de diferentes tamanhos.
o VNTR – Repetição de fragmentos de conjuntos de bases (ACTG–ACTG–ACTG–ACTG). O número de repetições varia de
indivíduo para individuo e a heterozigotia é muito frequente. As sequências de bases que se repetem podem ser:
minissatélites – repetições de 9 a 70 bases – ou microssatélites – repetições de 2 a 4 bases. São muito polimórficos, ou seja,
muito informativos.
o SNP – substituição de um único nucleótido, de grande densidade. Tipicamente com 2 alelos. São menos variáveis que os
STR’s, mas mais estáveis. Pouco informativos, mas muito frequentes. Fáceis de caracterizar pela técnica de microarrays.
o CNV – duplicações e deleções de longos segmentos do DNA, podendo incluir vários genes e regiões intergénicas.
o Haplótipos – blocos de SNP’s próximos que são herdados em conjunto. São fenómenos únicos. Havendo crossing-over na
meiose podem ficar separados se não estiverem tão juntos.
o Tag SNP – SNP alvo (snipes) corresponde à tentativa de identificação de quais são os polimorfismos que identificam um
conjunto (haplótipo).

MUTAÇÕES
Alterações permanentes na sequência de DNA que não permite a função do gene, logo originam doença. A sua frequência na
população é inferior a 1%. Podem ocorrer por alteração no número de cromossomas ou mudanças na estrutura do cromossoma,
ou seja substituição de bases ou quebras de bases (Ex. translocações, deleções ou inserções). Estas alterações podem advir de
erros de replicação das células. É algo que é transmitido às células-filhas. As mutações podem ocorrer apenas num nucleótido ou
em vários. Se a mutação ocorrer nos gâmetas é hereditária, se ocorrer nas células somáticas não é hereditária. As mutações
podem ocorrer no exões ou nos intrões. Quando ocorrem em exões alteram o RNAm levando, muitas vezes, a mudanças nos
aminoácidos e nas proteínas. As mutações podem ser: espontâneas, quando a probabilidade de ocorrência de uma mutação num
gene depende de fatores intrínsecos (constituído pelo número e extensão dos intrões), ou induzidas (mais frequentes) quando a
probabilidade de ocorrência de uma mutação num gene depende de factores extrínsecos – mutagéneos.

Tipos de mutações:
o Mutações pontuais – quando só está envolvida uma única base na mutação (substituição, inserção ou deleção). Ex.
substituir bases por outras. Se se substituir bases equivalentes – A por T ou C por G – é uma mutação de transição, se se

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substituir por bases diferentes – A ou T por C ou G – já é uma mutação de transversão. As mutações pontuais que resultam
da substituição de uma única base podem funcionar como mutações sinónimas, “missense” ou “nonsense”.
Normal: CAA TTC CGA CGA
Val Lys Ala Ala
o Mutação Sinónima – resultam da substituição de uma base, mas não altera a codificação mesmo alterando o codão. A
presenção de um codão alternativo para o mesmo aminoácido pode interferir com a precisão e velocidade da transcrição e
tradução
CAA TTT CGA CGA
Val Lys Ala Ala
o Mutação missense – substituição de uma base originando um codão que codifica um aminoácido diferente.
CAA CTC CGA CGA
Val Glu Ala Ala
o Mutação Nonsense – alterações pontuais do DNA que convertem um condão codificador para um codão STOP. A presença
deste codão STOP em lugar anormal leva a que os mecanismos de tradução considerem que a tradução da proteína já está
completa formando assim uma proteína truncada. Também pode ocorrer o inverso, transformar um codão STOP num codão
codificador o que leva a que a proteína seja mais longa do que o normal.
CAA ATC CGA CGA
Val
o Mutação por deleção ou inserção – se forem codões completos a serem eliminados ou adicionados a grelha de leitura do
RNAm não se altera, mas originam-se proteínas em que faltam ou estão a mais aminoácidos. Se forem deleções ou
inserções de bases que não sejam múltiplas de 3 a mutação origina uma alteração na grelha de leitura – mutação frameshift
– o que vai originar uma nova sequência de codões diferentes.
Delecção: CAA TCC GAC GA
Val Arg Leu … Stop
Inserção: CAA TTT CCG ACG A
Val Lys Gly Cys …
o Mutação frameshift – É uma alteração da grelha de leitura pela inserção ou deleção de uma base sendo que, a reorganização
da sequência de bases origina uma nova sequência de codões. Esta alteração frequentemente origina o aparecimento
prematuro de um codão STOP.
o Mutações dinâmicas – Expansão do número de codões repetitivos. Até um certo número de unidades repetitivas não é
patogénico nem há manifestação da doença. Ex. MEL COM COM COM COM COM PÃO.
o Mutação de novo – Mutação que aparece pela primeira vez na história de uma família por alteração ocorrida na célula
germinal de um dos progenitores.
o Mutação Somática – Alteração do material genético numa célula somática. Não é hereditário apesar de se transmitir a todos
as células-filhas.
o Mutação letal – Mutação que não permite a sobrevivência ou que não permite a reprodução.

Pleiotropismo – caracteriza-se pelo facto de uma mutação de um único gene tem reflexos na expressão de vários fenótipos
pelo facto de uma única proteína actuar em diversos órgãos do corpo humano.

Heterogeneidade alélica – pode acontecer que as diferentes mutações de um gene originem diversas patologias e não só
variações de intensidade de uma entidade nosológica.

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Heterogeneidade genética – Quando se observam fenótipos idênticos provocados pela expressão de genes diferentes.
As causas endógenas que podemos referir para a origem das variantes genéticas são: cromossómicas, por alterações
numéricas ou estruturais dos cromossomas, monogénicas – mutação de vários genes –, por mutação num gene ou
multifactoriais ou complexas, que são poligénicas e dependentes de factores ambientais.

“Splicing” alternativo – o “splicing” consiste na introdução de alterações da sequência original dos exões. Desta forma, a
célula pode gerar diferentes RNAm a partir de um único gene e, consequentemente, produzir diferentes proteínas. O
“splicing” alternativo veio demonstrar que o dogma “um gene, uma proteína” não é defensável como verdade absoluta. Ao
“splicing” alternativo pode-se associar o recurso pela célula a promotores alternativos.

HEREDITARIEDADE
As doenças podem ter causas ambientais ou genéticas. Desta forma podem ser monogénicas (ou mendeliana, causadas por um único
gene), poligénicas (causadas por vários genes) ou multifactoriais (causadas por diversos genes e por factores ambientais).

Natureza génica: Diz-se que uma situação é de natureza génica quando depende da expressão de um ou mais genes para se
manifestar. Pode ou não ser hereditário.

Natureza familiar: Uma situação que tem grande frequência numa família mas que não é genética. Ex. Uma família que de
dedique a uma profissão específica e que como consequência dessa profissão desenvolve uma patologia.

Natureza Congénita: Uma situação que está presente no momento do nascimento, que nasce connosco. Ex. Pouco espaço no útero
pode levar a más formações. Não tem de ser necessariamente hereditário bem genético.

Natureza Hereditária: Uma situação genética transmitida ao longo de várias gerações.

HEREDITARIEDADE MENDELIANA:
o Hereditariedade monogénica: Quando um único gene origina uma característica e é o único responsável por ela.
o Autossómica recessiva:
 Os doentes têm geralmente pais saudáveis, mas são portadores da mutação A a

 Afecta ambos os sexos A AA Aa

 Só se manifesta em homozigotia ou hemizigotia a Aa aa

 O risco de recorrência é de 25%


o Autossómica dominante:
 Os dois sexos são afectados e ambos transmitem a doença em igual proporção
 Geralmente, um doente tem um dos progenitores doente A a

 Os filhos saudáveis terão, por regra, todos os filhos saudáveis, se se casarem com um individuo a Aa aa

saudável a Aa aa

 Situação que se exprime mesmo em heterozigotia para o gene que a determina.


 Quase todos os doentes são heterozigotos
 A mutação exprime-se na presença de um alelo normal
 Risco de recorrência 50%

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o Autossómica dominante incompleta:
 Quanto a heterozigotia (Dd) origina uma situação intermédia entre a homozigotia da mutação dominante (DD) e a
homozigotia da forma normal do alelo (dd)
o Recessiva ligada ao X: Xm X
 Os homens são quase sempre os únicos afectados X XmX XX
 A transmissão do alelo mutado aos filhos de um casal verifica-se através de mulheres portadoras Y XmY XY
não afectadas
 No caso da transmissão a filhos rapazes este vão sempre manifestar a doença pois existe hemizigotia. Nestes casos não
importa se a doença é dominante ou recessiva.
o Dominante ligada ao X:
 Um homem doente transite a doença a todas as suas filhas, enquanto que os filhos serão todos
normais
 Uma mulher doente heterozigótica que case com um homem normal, transmite a doença a 50% da descendência,
independentemente do sexo
 Uma mulher homozigótica transmite a doença a todas os seus descendentes
o Ligada ao cromossoma Y:
 Só os homens portadores da mutação no cromossoma Y é que exprimem e transmitem o gene, que se manifesta sempre
 Nenhuma filha é portadora da doença, em condições normais
 Não existem doenças dominantes nem recessivas no caso do cromossoma Y pois existe apenas um alelo.

HEREDITARIEDADE NÃO MENDELIANA:


o Hereditariedade mitocondrial: Informação genética transmitida pelo DNA mitocondrial. É exclusivamente materna
porque apenas o óvulo é que tem mitocôndrias. No caso de haver doença, esta é sempre transmitida por via materna. O
homem afectado tem descendência saudável.
o Hereditariedade poligénica: Fenótipo resulta de múltiplos genes. É independente do meio ambiente. Nestes casos não há
nem dominância nem recessividade.
o Hereditariedade multifactorial: As características resultam de vários genes e de factores ambientais. Por isso existem
variantes fenotípica com diferentes frequências numa população.
o “Imprinting” genómico: Modificação epigénica da expressão genica, de natureza reversível, que inibe a expressão de
um alelo em gerações sucessivas, em função do sexo do progenitor que o transmite. Ocorre durante a gametogénese
e pode ser materno ou paterno. É imprinting materno quando a inactivação de um alelo resulta da sua passagem por
um progenitor do sexo feminino, e paterno quando a inactivação ocorre no progenitor masculino. O imprinting paterno
é transmitido aos filhos de ambos os sexos sendo que nos filhos se mantém inactivo mas nas filhas é activado. O contrário
ocorre no imprinting materno.

Dissomia uniparental: forma muito rara de hereditariedade. Pode ocorrer como heterodissomia ou como isodissomia. É
quando um par de cromossomas homólogos vem do mesmo progenitor.
o Heterodissomia uniparental: o complemento cromossómico diplóide é constituído por um par de cromossomas
homólogos que provém de um mesmo progenitor. A sua ocorrência dever-se-á à não disjunção na primeira divisão da
meiose.
o Isodissomia uniparental: o par cromossómico em causa tem igualmente origem num único progenitor, mas resulta
da duplicação de um dos cromossomas do par homólogo. A isodissomia dever-se-á à não disjunção na segunda divisão
da meiose. É ainda necessário, para que não ocorra trissomia, que haja perda do cromossoma oriundo do progenitor que

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contribuiria apenas com um cromossoma.

Estudos de gémeos
Devem ser considerados em separado os gémeos verdadeiros e os falsos gémeos. O efeito do ambiente e dos genes sobre o
fenótipo, após o nascimento, pode ser analisado quando os gémeos são separados e criados em ambientes diferentes. É assim
possível definir o grau de concordância para um determinado traço ou doença, pela proporção de pares de gémeos em que há
coincidência na expressão fenotípica nos dois gémeos, em relação ao total de pares de gémeos observados. Há
concordância quando um carácter ou doença é ou não partilhado pelo par de gémeos e discordância quando um dos
membros do par de gémeos exprime o fenótipo em causa e o outro não o exprime.
Entre gémeos monozigóticos: a concordância é de 100% para condições monogénicas de penetrância completa, em que o
ambiente não interfira na expressão, sejam elas dominantes ou recessivas. Mesmo que os gémeos tenham sido separados e
vivam em ambientes diferentes, tal facto não afecta a concordância. Para falsos gémeos e para condições de penetrância
completa, a concordância será de 50% nos casos autossómicos dominantes e de 25% nos casos autossómicos recessivos.
Para condições multifactoriais, a concordância entre gémeos monozigóticos será menor que os 100% antes referidos, dada a
confluência de factores ambientais com factores genéticos, na determinação do fenótipo. Ainda assim, haverá maior
concordância entre gémeos monozigóticos do que entre gémeos dizigóticos, se os factores genéticos forem preponderantes. A
concordância será aproximada para gémeos monozigóticos e para gémeos dizigóticos se os factores preponderantes forem
ambientais e fossem partilhados, e for muito reduzida ou nula a influência dos factores genéticos.

ÉTICA E PRINCÍPIOS ÉTICOS


É a área do saber que investiga sobre o que é bem no agir do homem na busca de comportamento que conduza à plena realização
da pessoa, no âmbito de uma solidariedade com os outros que seja globalmente justa. É a ciência da moral e a arte de distinguir a
conduta.

Princípios Éticos
o Autonomia e Vulnerabilidade – É a liberdade de decidir sem qualquer tipo de interferência ou coacção. A vulnerabilidade
está associada à autonomia pois aplica-se a pessoas com incapacidade para decidir de forma autónoma (crianças, doentes
em coma). Nestes casos, não se podendo aplicar o princípio de autonomia aplica-se o princípio da beneficência.
o Beneficiência – As intervenções médicas devem contribuir para o bem-estar e dignidade pessoal, escolhendo sempre os
actos que são entendidos como os melhores.
o Não-maleficência – Relacionado com o princípio de Hipócrates, indica que a intervenção não deve causar dano intencional
ou por negligência. Aqui pode-se incluir o consentimento informado.
o Justiça – Plano de igualdade de acesso aos cuidados de saúde, podendo haver discriminação positiva de forma a garantir
que pessoas com problemas monetários recebam ajuda a pagar tratamentos, por exemplo.
o Confidencialidade – Este princípio engloba os de autonomias, beneficência e não-maleficência

CÁLCULOS
Frequência alélica
Ex. Numa população com 400 indivíduos, 105 são homozigóticos A, 200 são homozigóticos a e 95 são heterozigóticos Aa. Qual
a frequência para cada alelo?
Para se fazer os cálculos vai-se somar a frequência dos homozigóticos com os heterozigóticos em que cada alelo está presente,
sendo que a frequência dos homozigóticos se vai multiplicar por 2 pois existem 2 alelos iguais.

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2 + 95 = 495
O cálculo anterior deu os valores brutos do número de alelos presentes na população, mas a frequência expressa-se em % por
isso vai-se dividir os valores brutos pelo número total de alelos na população. Como a população é de 400 indivíduos e cada
indivíduo tem 2 alelos, então:

Frequência genotípica
Numa população com mil indivíduos sabe-se que a frequência do alelo A é de 0,9 e do alelo a é de 0,1. Qual a frequência de
cada genótipo? Faz-se a tabela considerando dois progenitores heterozigóticos e multiplica-se os valores.
A (0,9) a (0,1)
A (0,9) AA (0,9 x 0,9 = 0,81) Aa (0,9 x 0,1 = 0,09)
a (0,1) Aa (0,9 x 0,1 = 0,09) aa (0,1 x 0,1 = 0,01)
Para saber o número de indivíduos com cada genótipo obtém-se multiplicando as frequências obtidas pela tabela pelo número
total de indivíduos da população.
Aa  Como este genótipo aparece duas vezes na tabela tem que multiplicar o valor obtido na tabela por 2, ou seja 0,09 x 2 =
0,18 e é este valor que se vai multiplicar pelo número total de indivíduos da população. 0,18 x 1000 = 180.
AA  0,81 x 000 = 810
aa  0,01 x 1000 = 10

Cálculo da probabilidade de ocorrer uma doença


1) No caso dos dois progenitores serem heterozigóticos para uma mutação recessiva
A a
A AA Aa
a Aa aa
Existe apenas o risco de ¼ filho ter a doença (aa) e de ¾ de não ter (AA, Aa, Aa)
2) No caso de um dos progenitores ser heterozigótico para uma mutação dominante e o outro homozigótico sem mutação
A (mutação) a
a Aa aa
a Aa aa
Existe o risco de 2/4 do filho ter a doença (Aa e Aa) e 2/4 de não ter (aa e aa).
3) Tendo como exemplo os valores do exemplo anterior. Se esse casal engravidar duas vezes o risco dos filhos terem a
mutação é a mesma para cada gravide, ou seja 2/4. Mas a probabilidade de ter os dois filhos mutados é igual à
multiplicação do risco presente em cada uma das gravidezes. No exemplo, 2/4 x 2/4 = ¼.

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