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The Beginning After The End – Capítulo 381

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Uma tosse seca me sobreveio, e eu acordei repentinamente num mar de dor.


Uma nuvem grossa de poeira obscurecia tudo além do chão manchado de
sangue que eu pensava ser meu leito de morte.

Meu último pensamento antes de ficar inconsciente voltou à minha mente.


Era assim que eu imaginava a sensação de morte. Cada parte de mim gritava
em agonia, e a dor de cada ferida lutava por atenção, uma sobrepondo a outra
em minha mente até que eu sentia como se meu corpo inteiro tivesse sido
cortado em pedaços pelo –

O asura!

Apesar de um desejo forte de nunca mais me mover, eu virei a minha cabeça,


movendo meus ossos quebrados e criando um coro renovado de agonias.

Eu não conseguia ver nada através da camada grossa de poeira. Mas também
não conseguia sentir a presença insuportável do asura.

Respirando profunda e calmamente, eu virei de lado e me esforcei pra


levantar, lutando até ficar de pé. Pedras e destroços caíram de mim, e o talho
em meu peito pulsava dolorosamente, parcialmente sedado pela poeira
coagulando na ferida.

Minhas pernas tremiam, e os pedaços esfarrapados da minha armadura


estavam tão frágeis como latas vazias de alumínio. Eu tentei empurrar mana
para meu corpo com o intuito de me fortalecer, mas apenas encontrei uma dor
apertada e embotada vinda de meu núcleo, que estava completamente vazio.

A reação fez meu estômago virar e bile subir até minha garganta.

Pedaços da batalha começaram a voltar à minha mente através das ondas de


náusea e dor, e minha respiração ficou presa em meus pulmões.

Varay, Mica, Aya…

Todas elas estavam –

Eu me virei quando ouvi pedras caindo das paredes ou tetos distantes. Meus
sentidos estavam entorpecidos, meus pensamentos se arrastavam como lesmas
em meu crânio, e havia um rugido baixo em meus ouvidos como se eu estivesse
debaixo d’agua. Apenas meu olfato ainda estava funcionando decentemente; a
caverna fedia a enxofre e solo queimado.

Uma luz fraca e sombria cortava a nuvem obscura em pequenos clarões e eu


senti mana movendo.

Minha boca se abriu sozinha, mas eu evitei gritar. Eu não sabia quem ou o quê
estava por lá. Poderia ser o asura, ou sobreviventes retornando dos túneis – ou
alacryanos, alertados pela perturbação que a nossa batalha sem dúvidas havia
causado no deserto acima. E eu não estava em condições de me defender caso
a presença fosse hostil.

A imagem de sangue jorrando de cristais negros estilhaçados se sobrepôs às


minhas últimas memórias de minha própria “morte”, e eu senti uma pontada
de esperança, mas rapidamente a selei.

Eu não deveria ter sobrevivido àquela batalha, e eu não conseguia encontrar


em mim nem um pingo de esperança de que as outras tivessem sobrevivido
também. Eu tinha visto o que Taci havia feito à Aya e Varay, e apesar da voz
que havia soado em minha cabeça nos últimos momentos de consciência, eu
sabia que nem mesmo uma Lança poderia sobreviver àqueles ferimentos.

Ainda assim, eu não poderia simplesmente ignorar a presença de outra pessoa


aqui, e comecei a mancar na direção da luz, me movendo tão rapidamente
quanto meu corpo quebrado e armadura arruinada me permitiam.

O chão da caverna estava arruinado. Os destroços das rochas, que tinha sido
alvo de raios ou despedaçadas como gelo, me forçava a tomar cuidado ao
andar, e eu tinha que navegar por várias fendas feitas pelos golpes de Taci.
Uma parede parcialmente intacta de um dos vários edifícios destruídos havia
sido lançada por vários metros e estava agora apoiada contra uma rocha
enorme que havia sido deslocada do teto.

Cuidadosamente, eu me esgueirei pela lateral da parede, e depois para um


pedaço de rocha que se curvava na direção de onde eu havia visto a luz. A
poeira foi abaixando enquanto eu me movia para a borda mais distante da
caverna, e eu apertei os olhos procurando por algum sinal de quem ou o que
havia usado mana.

Foi difícil acreditar no que eu estava vendo.

“M-Mica?” As palavras lutaram relutantes para sair de minha garganta e o


esforço pareceu acender um fogo em muitas outras feridas.

A Lança anã levantou os olhos para mim de onde ela estava ajoelhada ao lado
de uma segunda pessoa. O lado direto de seu rosto estava manchado com
trilhas de lágrimas no barro seco. Dúzias de marcas de cortes longas se
cruzavam no lado esquerdo de seu rosto, e um buraco preto e sangrento era
tudo o que restava do seu olho esquerdo. Todo o lado esquerdo estava
encharcado de sangue seco e algum tipo de lama molhada que ela havia
compactado sobre suas costelas.

Havia sangue pingando de suas palmas, onde ela tinha apertado as unhas, e
seu olhar normalmente brincalhão encontrou o meu com um vazio que me fazia
questionar se ela estava realmente viva ou era apenas um aspecto sombrio do
meu subconsciente.

Quando ela virou o olhar inquieto para a segunda figura, meus olhos seguiram,
relutantemente.

O rosto de Aya estava pálido, e seus olhos escuros sem visão encaravam o teto
da caverna. Seu abdômen estava em uma ruína sangrenta onde Taci havia
dado o golpe fatal.

“Eu…” Eu tive que parar para limpar minha garganta, e então continuei. “Eu
pensei ter ouvido ela, logo antes do fim. Ela… ela disse…”

Mas eu tive que parar novamente, incapaz de falar com o nó em minha


garganta.

Mica deixou cair os ombros, mas ela não respondeu.

Dolorosamente, me esforcei para descer pela elevação, e me movi até o outro


lado de Aya para poder me sentar com cuidado.

No passado, teria sido impossível me imaginar à beira de lágrimas pela morte


de outro soldado – especialmente outra Lança. Foi com uma pontada de culpa
que eu me lembrei da minha indiferença depois da morte inesperada da Lança
Alea. Ela merecia algo melhor, assim como Aya. Derramar lágrimas por uma
amiga levada cedo demais não era motivo para me envergonhar.

As seis Lanças haviam se tornado apenas duas, e – olhei para Mica – já não
restava muito de nós dois. Isso também era algo para se lamentar. Nós
deveríamos ter sido os maiores defensores de Dicathen, mas isso foi o que nos
tornamos.

O som de uma bota raspando contra a pedra rígida me fez pular. Minhas
pernas imediatamente fraquejaram, e eu cai dolorosamente em um joelho,
grunhindo com os dentes cerrados. Mica cambaleou quando se levantou, mas
se manteve de pé, e até mesmo conseguiu conjurar um pequeno martelo de
pedra enquanto seu olho remanescente penetrava a escuridão.
“Diga seu nome!” ela gritou, com a voz rouca.

Uma silhueta torta mancava na nossa direção, oculta pelo véu de poeira, com
uma mão pressionada na lateral do pescoço. Ela parecia um fantasma.

O fantasma de…

Varay coalesceu diante de nossos olhos, como se ela tivesse voltado direto da
terra dos mortos.

Seu braço esquerdo, que não estava mais lá, havia sido cortado no ombro, e a
ferida estava congelada. Um rastro de gelo escarlate marcava seu pescoço
abaixo de sua mão, mas o sangue estava correndo livremente por entre os
espaços.

Seus olhos estavam sem brilho, pulando entre Mica e eu de maneira desfocada.
Ela se apressou para nosso lado, com a perna direita se arrastando a cada
passo, mas quando chegou na borda da elevação, ela pisou em falso e caiu de
cara no chão, soltando um gemido abafado.

Mica correu para ajudá-la, virando-a de lado e arrastando para a apoiar em seu
colo.

O gelo em volta de seu pescoço havia se quebrado e derretido, revelando um


corte macabro que abria seu pescoço quase até a garganta. Sangue jorrava
como de uma fonte, encharcando Mica.

“Droga!”

Mica se apressou para pegar um punhado de terra solta. Ela se focou,


fechando seu olho, e a face dela se contorceu com o esforço enquanto eu via a
terra se transformar em uma lama grossa, que ela espalhou rapidamente sobre
a ferida. Quando terminou, houve um outro clarão de mana, e o solo argiloso
se endureceu, parando o sangramento.

Eu parei um momento, olhando para Varay.

Eu tinha visto ela morrer, tinha visto Taci golpear sua cabeça e arranca-la dos
ombros. “Uma ilusão,” eu murmurei, me virando para o corpo de Aya. Mas a
ferida dela definitivamente não era uma ilusão. “Ela… ela disse que as ilusões
não enganariam um asura mais de uma vez… e usou os últimos momentos de
sua vida para nos salvar. Sobrepondo ilusões de nossas mortes por cima de
nossos corpos.”

Eu estava chocado com sua demonstração final de força, e suas palavras de


repente fizeram sentido.

“Você fez o suficiente, Bairon. Não é a sua hora.”

Ela estava usando as últimas reservas de sua força, se sacrificando para salvar
o resto de nós, até mesmo me impedindo de usar a Fúria do Senhor Trovão e
queimar até a morte.

“Não se mova. Não importa o que você ver. Não se mova.”

Eu estava deitado aos pés de Taci, e sua lança estava preparada acima de mim.

Eu examinei uma ferida profunda em meu ombro direito, e depois tracei os


dedos até meu esterno. Apesar de dolorido e arroxeado, não havia nenhuma
ferida lá. Meu núcleo estava intacto.

Soltei um bufo incrédulo, o que atraiu um olhar irritado de Mica. “O quê?”

As pálpebras de Varay se abriram lentamente ao som da voz de Mica. Seu


olhar passou lentamente por mim antes de repousar em Aya. Seus lábios se
abriram, e sua garganta pulsava enquanto ela tentava falar, mas nada saía. Ela
apenas suspirou e afundou ainda mais no colo manchado de sangue de Mica.

Mica acariciou o cabelo e Varay, mas seu olhar se voltou para o corpo de Aya.
“Eu senti a mana sair do seu núcleo. Eu pensei… Eu pensei que ela havia
morrido instantaneamente, mas –” Um soluço sufocado interrompeu suas
palavras, e ela rangeu os dentes, frustrada.

Varay mudou de posição e tentou falar novamente. “Ela… esvaziou seu…


núcleo… de propósito.” Sua voz estava fraca e fina, saindo com dificuldade.
“Para… deixar… a ilusão… mais real.”

“Ela precisava que o asura acreditasse no que ele via e sentia,” eu comentei,
considerando cada uma de nossas feridas, e quão perto do limite do nosso
poder nós tínhamos chegado. Nossa assinatura de mana deve ter sumido até
virar quase nada naqueles momentos finais. “Era a única maneira dele não
perceber.”

“Mas foi o suficiente?” Mica perguntou, com a voz áspera. “Para as pessoas
nos túneis?”

“Aquelas vidas já não estão mais em nossas mãos…” Eu respondi. Nós não
tínhamos a força nem mesmo para caminhar, muito menos para ir atrás do
asura. “Mas a vida de Aya… Nós podemos nos lembrar e velar nossa amiga.
Enquanto esperamos por qualquer que seja o fim que nos espera.”
Mica irrompeu em soluços irregulares. Varay forçou as pálpebras a ficarem
abertas, deixando que lágrimas fluíssem pelas suas bochechas, mas sem tirar
os olhos de nossa companheira caída.

Me virando, eu estendi os dedos vacilantes até Aya e gentilmente fechei seus


olhos. “Sinto muito,” eu disse, com a voz como se fosse uma lixa grossa.
Normalmente, era Varay que lidaria com coisas como essa, mas eu sabia o que
eu gostaria de dizer. “E obrigado, Lança Aya Grephin de Elenoir. Sua longa
batalha chegou ao fim, mas aqueles que você deixa pra trás não vão parar de
lutar até que seja nossa hora de nos juntar a você. Descanse agora.”

Nota do Autor:

Bom, isso encerra o volume 9 de TBATE. Escrever isso durante o último ano foi
uma jornada incrível, mas eu não posso esperar pelo Volume 10. Como eu
anunciei há algum tempo atrás, a novel de TBATE vai estar em pausa por duas
semanas enquanto eu me preparo para o Volume 10. Para aqueles que
continuam apoiando pelo patreon apesar do breve hiato, obrigado pela sua
lealdade <3

Espero que vocês estejam ansiosos pelo Volume 10! Tenho muitas coisas
planejadas ^^

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