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Princípios de Gestão Laboratorial
Princípios de Gestão Laboratorial
laboratorial
Ana Daniela Coutinho Vieira
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Os laboratórios clínicos apoiam um dos principais pilares da saúde: o diagnós-
tico. Por meio deles e do trabalho de profissionais dedicados à união entre
ciência e tecnologia, é possível diagnosticar doenças e condições clínicas com
maior rapidez e confiabilidade, trazendo melhorias na qualidade de vida dos
pacientes e na assistência à saúde.
Neste capítulo, vamos explicar como funciona um laboratório clínico, desta-
cando as principais etapas envolvidas no processo de um exame laboratorial,
desde a coleta até a liberação de um laudo. Também vamos apresentar as
principais regulamentações técnicas que fundamentam a elaboração de projetos
físicos e as condições de funcionamento de um laboratório, de forma que o
leitor seja capaz de identificar possíveis desvios e tomar decisões com respaldo
técnico e científico nos processos de gestão laboratorial. Além disso, vamos
analisar os processos gerenciais dentro de um laboratório de análises clínicas
e como eles se relacionam com os principais setores e ofícios envolvidos no
desenvolvimento da atividade laboratorial.
2 Princípios de gestão laboratorial
Conceitos fundamentais
O laboratório clínico é responsável pela obtenção e a divulgação de resultados
e laudos, a partir da manipulação e análise de amostras biológicas oriundas de
pacientes. Esse ofício traz consigo o peso da fundamentação de grande parte
das tomadas de decisões médicas em relação a diagnóstico e tratamento de
doenças, distúrbios e condições clínicas. Por isso, constitui, juntamente aos
profissionais envolvidos, um pilar fundamental para a saúde como um todo.
Assim, cada vez mais, há a necessidade de que esses profissionais saibam
vincular competências técnicas à capacidade de gestão administrativa e de
qualidade. Além disso, a participação em programas que certifiquem tais
competências deixa de ser vista como um diferencial atingível apenas por
empresas de grande porte e torna-se uma exigência do mercado para os
laboratórios que buscam alcançar e manter vantagem competitiva (BARCELOS;
AQUINO, 2018).
No entanto, para que um laboratório seja capaz de atingir seus objetivos e
prestar serviços de forma eficiente, segura, competitiva e lucrativa, é essencial
que todos os processos envolvidos em suas atividades sejam conhecidos e
monitorados, a fim de se obter uma visão ampla e completa dos procedimen-
tos e das oportunidades de melhoria no fluxo de trabalho. Nesse sentido,
é indispensável que o rastreamento de tais processos englobe o conhecimento
sobre os produtos, os fornecedores, os funcionários, os clientes, os setores,
os equipamentos e as legislações envolvidos. Por isso, a adoção de sistemas
de gestão da qualidade (SGQs) e de indicadores de desempenho torna-se uma
ferramenta essencial (MCPHERSON; PINCUS, 2012; BARCELOS; AQUINO, 2018).
De forma geral, a qualidade laboratorial pode ser definida por dois pontos
principais, simultaneamente (BARCELOS; AQUINO, 2018):
Desenvolvimento e estruturação de
um laboratório clínico
Inicialmente, é importante destacar que os serviços laboratoriais, hoje, podem
seguir diferentes modelos organizacionais, desde laboratórios mais complexos,
com estruturas que comportam um grande volume de amostras e testes por
dia, até laboratórios mais básicos, com pouca automação e uma quantidade
significativa de testes rápidos, ou até mesmo laboratórios vinculados à exe-
cução de testes laboratoriais remotos (TLR) (MCPHERSON; PINCUS, 2012).
A determinação de um modelo ou outro leva em consideração, sobretudo,
a demanda de exames. A Figura 1 demonstra como essa demanda varia no de-
correr do tempo, gerando períodos de pico de movimento, quando a demanda
excede a capacidade do laboratório. Tal fato deve ser levado em consideração
no planejamento da rotina e da infraestrutura laboratorial, visando comportar
e uniformizar a demanda, para que o laboratório não fique sobrecarregado.
Infraestrutura
Para a recepção do laboratório, não há uma metragem ou uma estrutura
predefinida, mas é razoável que a infraestrutura comporte a quantidade de
pacientes atendidos simultaneamente de forma confortável e organizada,
permitindo o atendimento individual sem interferência ou possível exposição
de dados dos pacientes. Já nos ambientes de coleta, é necessário que se obe-
deça a uma metragem mínima de 3,6 m² para salas de coleta sem divisórias
ou de 1,5 m² por box de coleta; nesse caso, recomenda-se um box para cada
15 coletas/hora. Também é necessário que haja pia para higienização das
mãos (BRASIL, 2002).
Nas salas de apoio técnico, como triagem, lavagem de materiais e preparo
de reagentes, recomenda-se uma metragem mínima de 3,0 m², e devem ser
rigorosamente levados em consideração os critérios de biossegurança e de
descartes de resíduos, de acordo com o Plano de Gerenciamento de Resíduos
em Serviços de Saúde (PGRSS) e as demais recomendações da Anvisa (BRASIL,
2002; 2005).
10 Princípios de gestão laboratorial
Nos setores técnicos, por sua vez, a estrutura pode ser implantada no
formato de uma sala única, sem subdivisões, com a distribuição dos setores
de acordo com a localização dos equipamentos ou das estações de traba-
lho, ou no formato de salas específicas, para setores como parasitologia,
microbiologia, microscopia, etc. É importante destacar que o setor de biologia
molecular deverá, obrigatoriamente, ser separado fisicamente dos demais,
devido às particularidades dos processos de extração e manipulação das
amostras. Já as salas administrativas, por sua vez, não possuem especificações
regulamentadas, mas, assim como os demais setores, devem ser projetadas
para atender à demanda do laboratório (BRASIL, 2002).
No Quadro 1, estão resumidas as principais recomendações métricas para
estrutura de laboratórios clínicos.
Dimensão
Setor Comentários
mínima
Referências
BARCELOS L. F.; AQUINO, J. L. (ed.). Tratado de análises clínicas. Rio de Janeiro: Atheneu,
2018.
BRASIL. Resolução nº 302, de 13 de outubro de 2005. Dispõe sobre Regulamento Téc-
nico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Diário Oficial da União, Brasília,
14 out. 2005. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2005/
res0302_13_10_2005.html. Acesso em: 11 jan. 2021.
BRASIL. Resolução-RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físi-
cos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 22
fev. 2002. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2002/
res0050_21_02_2002.html. Acesso em: 11 jan. 2021.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 9001:2015: quality mana-
gement systems — requirements. Geneva: ISO, 2015. (E-book).
MCPHERSON R. A.; PINCUS, M. R. Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos labo-
ratoriais de Henry. 21. ed. Barueri: Manole, 2012. (E-book).
XAVIER, R. M.; DORA, J. M.; BARROS, E. (org.). Laboratório na prática clínica: consulta
rápida. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Leitura recomendada
THOMPSON JR., A. A.; STRICKLAND III, A. J.; GAMBLE, J. E. Administração estratégica.
15. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. (E-book).
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